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Aula 1. homicidio

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PROFESSORA SHELLEY PRIMO� 
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
A Parte Especial do CP inicia com a regulação dos crimes contra a pessoa - Título I, que se subdivide nos seguintes capítulos: I – dos crimes contra a vida; II – das lesões corporais; III – da periclitação da vida e da saúde; IV – da rixa; V – dos crimes contra a honra; VI – dos crimes contra a liberdade individual. O último capítulo se subdivide nas seguintes seções: I – dos crimes contra a liberdade pessoal; II – dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio; III – dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência; IV – dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos.
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- A proteção da vida pela norma penal inaugura a Parte Especial.
• DIREITO À VIDA: art. 5º, caput, da CF – deve ser entendido como direito a uma vida digna. Deve ser conjugado com o art. 1º, caput, da CF. Para uma 1ª teoria, o direito à vida começa com a concepção (com a fecundação) – é o que diz o “Pacto de San José da Costa Rica”. Para uma 2ª teoria, a vida só começaria a ser protegida a partir da formação do sistema nervoso, por volta do 14º dia. É o entendimento na Alemanha. O direito à vida não é absoluto, pois não há direitos absolutos. Todos são relativos. O art. 5º, XLVII, da CF admite a pena de morte, em caso de guerra declarada. Esta é uma nítida hipótese de relativização. Outra hipótese é o aborto (o sentimental e o necessário). 
- Os crimes desse gênero são os seguintes: a) homicídio; b) induzimento, instigação ou auxílio a suicídio; c) infanticídio; e d) aborto.
- A vida protegida no capítulo I em epígrafe é tanto na sua forma intra-uterina (considerando que o nascituro é protegido pela norma penal, visto a previsão legal do crime de aborto) quanto extra-uterina (existente a partir do parto).  
- O objeto mais relevante da tutela penal deve ser a vida.
- A morte, no ramo das ciências, é estudada pela tanatologia. Nesse sentido são estudados causas, circunstâncias, fenômenos e repercussões jurídico-sociais, sendo amplamente utilizados na medicina legal.
- Conceito de morte: é a cessação da atividade encefálica (Lei n.º 9.434/97). A morte cerebral consiste na parada das funções neurológicas segundo critérios da inconsciência profunda sem reação a estímulos dolorosos, ausência de respiração espontânea, pupilas rígidas, pronunciada hipotermia espontânea e abolição dos reflexos (morte encefálica).
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Classificação Científica da morte: 
- morte anatômica, ocorre o cessamento total e permanente de todas as funções principais do organismo e sua interação com o meio ambiente. 
- morte histológica igual à anterior, porém com extinção gradativa de todos os tecidos e células orgânicas.
 
- morte aparente na vigência da persistência da atividade circulatória do sangue, o indivíduo está aparentemente morto, como costuma ocorrer nos casos de afogamento e nos recém-nascidos com índice de Apgar baixo, razão pela qual a lei exige um período de 24 horas antes da inumação (sepultamento) do corpo. 
- morte relativa seria a parada cardiocirculatória antes das manobras de reanimação cardiorespiratória que são rotineiramente empregadas, por exemplo, durante cirurgias, anestesias ou após um evento cardíaco agudo (infarto do miocárdio). 
- morte real é a verdadeira morte, quando cessa totalmente a personalidade e qualquer tipo de energia vital, passando a se processar a decomposição da matéria orgânica do corpo em água, gazes e sais minerais.
Fenômenos Cadavéricos:
Fenômenos Abióticos Imediatos:
parada cardio-respiratória, 
inconsciência, 
imobilidade; 
insensensibilidade; 
palidez;
midríase ou dilatação pupilar; 
abolição do tônus muscular. 
Fenômenos Abióticos Mediatos (Consecutivos):
Desidratação Cadavérica;
Esfriamento do Cadáver;
Livores Hipostáticos;
Rigidez Cadavérica.
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Fim da Personalidade da Pessoa Natural: Como consta no art. 6° do Código Civil brasileiro, o marco da extinção da personalidade é a morte, ou seja, a personalidade da pessoa natural termina com a sua morte.
Quanto aos ausentes, presume-se a morte, nos casos autorizados pela lei, abrindo-se, inclusive, a sucessão definitiva.
Morte real, quando há cessação da atividade cerebral, atestada por profissional médico, como consta no art. 3° da Lei 9.434/97 (a prova direta da morte é o atestado de óbito).
Morte presumida, sem declaracão de ausência, nos termos do art. 7º do Código Civil brasileiro, nas seguintes hipóteses: 
Morte Presumida: o término da personalidade dá-se também pela morte ficta, reconhecida em processo judicial de ausência no qual se verifica a decretação da sucessão definitiva, conforme prescrito na parte final do art. 6º do Código Civil. Conceitua-se ausência como o desaparecimento da pessoa do seu domicílio, sem qualquer notícia, por um longo período de tempo. Admite-se, ainda, a morte presumida do ausente que, na data do seu desaparecimento, contava oitenta anos de idade e que há pelo menos cinco não envia notícias suas. 
	O Novo Código Civil (Lei n.º 10.406/02), em seu art. 7º, previu, de forma inovadora, a decretação da morte presumida, independentemente do reconhecimento da ausência, nos seguintes casos: for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2 anos após o término de guerra.
O art. 7º do Novo Código Civil está em consonância com o art. 88 da Lei n.º 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), que admite o registro do óbito, mediante decisão judicial, nos casos "... de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar o cadáver para exame", e do desaparecimento em campanha...". 
Nessas duas hipóteses, a lei dispõe que a declaração da morte presumida deve ser requerida somente depois de esgotadas buscas e averiguações, cabendo à sentença estabelecer a data provável do falecimento. Aqui, tem-se a prova indireta da morte. 
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CRIMES CONTRA A VIDA: São quatro:
a) Homicídio;
b) Auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio;
c) Infanticídio;
d) Aborto.
I – HOMICÍDIO: 
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- Está previsto no art. 121 do CP. Pode ser: a) doloso simples (caput); b) doloso privilegiado (§ 1º); c) doloso qualificado (§ 2º); ou d) culposo (§ 3º).
                        “Homicídio é a morte de um homem provocada por outro homem. É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra” (CAPEZ, 2010).
 - Fala-se aqui, por evidente, da vida extra-uterina.
- A conduta que se encerra no tipo legal do homicídio vem contida no preceito primário do art. 121, caput do Código Penal, na proposição seguinte: matar alguém. De maneira assim tão simples e sintética encontra-se descrita infração penal tão grave, porque múltiplas são as formas de conduta de que pode revestir-se o homicídio, e variados os meios admissíveis para a sua prática e realização.
- Existem várias definições, embora não contempladas na legislação e nem no Código Penal:
- Feticídio: é a morte do feto, considerado como ser humano, embora não nascido, em conseqüência de aborto criminoso. 
- Fratricídio: morte de um irmão por outro irmão. Quando se trata de morte de irmã, diz-se sororicídio. 
- Infanticídio: morte de uma criança recém-nascida, por sua própria mãe, durante o parto ou logo depois. 
- Matricídio:morte da mãe pelo próprio filho. 
- Parricídio: morte do pai pelo filho. 
- Suicídio: a auto-eliminação, ou seja, a morte que o próprio homem dá a si. 
- Uxoricídio: morte de um dos cônjuges provocada pelo outro. 
- Homicídio consumado: é expressão usada para indicar já ter sido concluído o ato de destruição pretendido pelo agente, ou que os meios por ele empregados realizaram a sua intenção criminosa de matar a pessoa por ele visada. 
- Homicídio tentado: é o que não se cumpriu ou que não se consumou, em face de atos ou circunstâncias estas alheias à vontade do agente.
- Homicídio preterintencional: é a denominação que se dá ao homicídio que não foi intencionalmente querido, mas resultou de ofensa ou lesão causada à vítima.
- Homicídio doloso: assim se diz do homicídio quando há a vontade homicida do agente, manifestada na deliberação de matar ou na intenção indeterminada de matar. Basta a intenção de ter querido o resultado (dolo direto) ou de ter querido assumir o risco de produzi-lo (dolo eventual).
- Homicídio culposo: não intencional, resultante da conduta imprudente, negligente ou imperita.
- O homicídio pode ser praticado por ação (comissão): disparos, golpes com barra de ferro, etc., ou omissão (mãe que não alimenta o filho de tenra idade, médico que não ministra o antídoto ao envenenado). Nestes casos é indispensável que exista o dever jurídico do agente de impedir o resultado morte.
- Tratando-se de crime de ação livre, pode o homicídio ser praticado por meio de qualquer meio direto ou indireto, idôneo a extinguir a vida.
a)     HOMICÍDIO SIMPLES - art. 121 CP:
- Descreve o artigo 121, caput, do CP o seguinte comportamento proibido:
     
Art. 121. Matar alguém:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
- A forma simples é o ponto de partida para compreensão das formas privilegiadas, qualificadas e culposas de um determinado crime.
 - O núcleo do tipo, que é o verbo descreve a conduta, no presente caso é matar. 
- Objeto jurídico (objetividade jurídica – bem jurídico protegido) do tipo penal é a proteção do direito à vida, ou seja, o bem jurídico tutelado é a vida humana extra-uterina.
- Objeto material (onde recai a conduta): a vítima (ser humano: crime contra a pessoa). As ações tendentes a eliminar a vida de quem não mais a tem (e por tal razão não é mais pessoa, mas sim cadáver) caracterizam hipótese de crime impossível (art. 17 do CP) por absoluta impropriedade do objeto material.
 
- O sujeito ativo, ou seja, aquele que pode praticar o delito, nesse caso pode ser qualquer pessoa.  Por esse motivo classifica-se de crime comum. 
- Admite-se a co-autoria e participação.
- O sujeito passivo, ou seja, a vítima pode ser qualquer pessoa também, desde que viva. 
- A lei 9434/97- Lei transplante de órgãos- estabeleceu o conceito de morte como sendo o momento em que cessa atividade encefálica. 
Prova da morte: a morte da vítima é provada processualmente pelo laudo de exame necroscópico, também chamado de laudo cadavérico.
- O elemento subjetivo (a vontade que está dentro da cabeça do agente) no crime de homicídio é a intenção de matar, o dolo, conhecido como “animus necandi.
- Qualificação Doutrinária:
Crime Comum;
Simples;
De dano;
De ação livre;
Instantâneo;
Material.
“Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na morte da vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (‘matar’ implica em ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, §2º, do Código Penal); instantâneo (cujo resultado ‘morte’ se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); progressivo (trata-se de um tipo penal que contém, implicitamente, outro, no caso a lesão corporal); plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta de matar); admite tentativa.” (NUCCI, 2011).
- Consumação: com o resultado morte (resultado naturalístico).
- Crime consumado: quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal (Inter Criminis).
- Tentativa de homicídio ≠ Lesão corporal (observar o elemento subjetivo: dolo e culpa).
- O homicídio simples pode ser considerado hediondo (art. 1º, I, da Lei nº. 8072/90), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só executor.
 
- A competência para julgar os crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri.
b) HOMICÍDIO PRIVILEGIADO (causa de diminuição de pena):
 Art. 121-(...)
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
- Na realidade, tecnicamente, a previsão legal em epígrafe é de uma causa de diminuição de pena (a ser considerada na terceira fase da dosimetria da pena) e não, exatamente, de um crime privilegiado (GRECO, 2011).
- São três as figuras alternativas previstas no § 1º:
- Relevante valor social: relevante valor é um valor importante para a vida em sociedade. O relevante valor social é aquele que leva em consideração interesses não individuais. Ex: o cidadão que mata o traficante da localidade em que mora, para evitar que ele faça mais viciados; o homicídio praticado contra um traidor da pátria.  
- Relevante valor moral: Nesse caso diz respeito a interesses particulares, individual do agente. Ex: Eutanásia, que é o homicídio misericordioso ou piedoso. (elimina o agente a vida da vítima com o intuito de poupá-la de intenso sofrimento, abreviando-lhe sua existência).
- Agir sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima: estar sob o domínio de violenta emoção é estar sob emoção intensa, absorvente, atuando o agente em verdadeiro choque emocional. Costuma-se dizer que o agente fica “cego” de emoção no momento da ação. É necessário que a reação seja logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou seja, não podendo existir espaço de tempo entre a provocação e o crime. Ex: duas pessoas conversam tranquilamente, em determinado momento a vítima desfere um soco no rosto do agente, este esfaqueia a vítima “cego” de raiva. O homicídio é reação desproporcional ao soco, porém provocada injustamente pela vítima. Presente assim, a causa de diminuição.
Emoção e Paixão: A emoção é um estado de ânimo ou de consciência caracterizado por uma viva excitação de sentimento, sendo passageira. Já a paixão, é emoção em estado crônico, perdurado por um sentimento profundo e monopolizante, sendo duradoura. Ambas, não excluem a culpabilidade, porém, caso seja de cunho patológico, aplica-se o caput do art.26 e parágrafo único. Possuem atuação como circunstância genérica atenuante (art.65, III, “c”), todas as vezes que influenciarem na prática de um crime. Não confundir com a causa de diminuição de pena do § 1º do art. 121 que possui três requisitos (emoção intensa; injusta provocação da vítima e reação imediata).
- O privilégio exige reação imediata, a atenuante não.
- As hipóteses acima descritas não são cumulativas, ou seja, para ser reconhecido o privilégio basta a ocorrência de uma delas.
- Todas as formas de privilégio são de caráter subjetivo, não se comunicam aos co-autores ou partícipes. 
- Se a provocação for em forma de agressão, poderá o agredido agir em legítima defesa (Art. 25, CP).
Legítima defesa: nos termos do art. 25 do CP, entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente os meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
1) São requisitos para a existência da legítima defesa:
1.1) a reação a uma agressão atual ou iminente e injusta; 
1.2) a defesa de um direito próprio ou alheio; 
1.3) a moderação no emprego dos meios necessários à repulsa;1.4) o elemento subjetivo. 
Importante: No que pese a expressão “o juiz pode reduzir” é direito subjetivo do agente a referida redução prevista. Assim reconhecido o privilégio pelos jurados, o juiz ao aplicar a pena deverá reduzi-la de 1/6 a 1/3. 
OBS: A questão da eutanásia: Hoje, no Brasil a eutanásia é crime, podendo caracterizar o ilícito penal de várias formas.
- O delito disposto no art. 121 do Código Penal pode ser qualificado e privilegiado ao mesmo tempo?
Sim, desde que as qualificadoras sejam objetivas, pois as hipóteses que tratam do privilégio são todas de natureza subjetiva – tornando-se inconciliáveis com as qualificadoras subjetivas.
- No momento da quesitação, quando do julgamento pelo Júri, o privilégio é votado antes das qualificadoras (Súmula n. 162 do STF). Assim, se os jurados o reconhecerem, o juiz coloca em votação apenas as qualificadoras objetivas, já que as subjetivas ficam prejudicadas.
- Atualmente, o homicídio qualificado é crime hediondo.
c) HOMICÍDIO QUALIFICADO:
- Art. 121-(...)
- § 2º Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga (prévia) ou promessa de recompensa (posterior), ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena -. reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
- Tem-se o homicídio qualificado naqueles casos em que os motivos que o determinarem, os meios ou os recursos empregados pelo agente tornam o crime mais grave que o simples e demonstram maior periculosidade do agente, fazendo com que a vítima tenha menor possibilidade de se defender. O homicídio qualificado é crime hediondo, conforme art. 1º, I da Lei 8072/90.
OBS: A premeditação não é circunstância qualificadora do homicídio.
- Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe: No inciso I temos na 1ª parte o homicídio mercenário (crime de encomenda). 
- A paga é o valor ou qualquer outra vantagem, tenha ou não natureza patrimonial, recebida antecipadamente, para que o agente leve a efeito a empreitada criminosa. Já na promessa de recompensa, como a própria expressão está a demonstrar, o agente não recebe antecipadamente, mas sim existe uma promessa de pagamento futuro.  
- Duas teorias:
a) responderá pelo crime qualificado tanto aquele que pagou ou prometeu a recompensa quanto aquele que executou o crime, ou intermediou pela vantagem. 
b) somente o executor do crime necessariamente responderá pela figura majorada ora ilustrada, devendo-se analisar em separado o motivo do mandante; ou seja, a motivação sob foco trata-se de circunstância incomunicável.
- Essa vantagem não precisa necessariamente ser econômica. 
- Mesmo não cumprida a promessa, incide a qualificadora.
- Trata-se de concurso necessário de agentes, que pressupõe o envolvimento de no mínimo duas pessoas: o mandante e o executor.
- A 2ª parte do inciso elenca qualquer outro motivo torpe, esse motivo é aquele repugnante, inaceitável socialmente, imoral, desprezível, vil. Como melhores exemplos são citados os homicídios praticados por cupidez, para receber uma herança, por rivalidade profissional; o agente mata a vítima por causa de uma dívida de drogas... Motivo torpe: demonstra a maldade do sujeito em relação ao motivo do delito. O ciúme não é considerado motivo torpe. A vingança será considerada, ou não, motivo torpe ou fútil dependendo do que a tenha originado.
- Motivo fútil: No inciso II há previsão da qualificação pelo motivo fútil. O motivo fútil é aquele desproporcional ao crime praticado, é matar por motivo de pequena importância. Ex: O agente mata a vítima porque esta pisou em seu pé. Percebe-se a desproporcionalidade entre a ação da vítima e a reação do agente.
- Para incidir essa qualificadora é necessário que haja prova do motivo fútil, pois a ausência de um motivo não equivale a motivo fútil. Entretanto, se o agente alegar que matou sem nenhum motivo, se enquadrará no motivo torpe.
- Ciúme não caracteriza motivo fútil. A existência de uma discussão “forte”, precedente ao crime, afasta o motivo fútil, ainda que a discussão tenha se iniciado por motivo de pequena importância, pois entende-se que a causa do homicídio foi a discussão e não o motivo anterior que a havia originado.
- Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum: No inciso III temos os meios empregados para a execução do crime de homicídio. Vale esclarecer cada um deles: 
- Veneno - é a substância que, introduzida no organismo, altera momentaneamente ou suprime definitivamente o metabolismo humano. O homicídio praticado com esse meio é chamado de venefício. A substância pode ser química ou biológica. Essa qualificadora somente se aplica se o veneno for inoculado sem que a vítima perceba, pois, caso haja violência ou ameaça, incidirá a qualificadora de meio cruel. 
- Certas substâncias que são inofensivas para a população em geral, poderão ser consideradas como veneno em razão de condições de saúde peculiares da vítima, como no caso do açúcar para o diabético.
- Fogo / explosivo - matar com fogo ou explosivo, pela intensa dor que causa a vítima e pela demonstração de crueldade do agente qualifica o homicídio. Não confundir com o crime do art. 163, Parágrafo Único, inciso II, do CP (dano com emprego de substância inflamável ou explosivo), que fica absorvido pelo crime mais grave. 
- Deve-se ter muito cuidado não se confundir com o crime de perigo, Art. 250, pois este tem como os objetos material e jurídico diferentes: Objeto Material é a substância ou objeto incêndio. O objeto jurídico é a incolumidade pública.
- Asfixia - é a supressão da respiração humana. Pode ser originado por processo mecânico ou tóxico.
- Impedimento da função respiratória:
 Mecânica:
 - esganadura
 - estrangulamento
 - enforcamento
 - sufocação
 - afogamento / soterramento
 
 tóxica:
 - uso de gás
 - confinamento 
- Tortura – quando o agente sujeita a vítima a graves e inúteis sofrimentos físicos ou mentais.
- Homicídio qualificado pela tortura = tortura como meio de causar a morte;
- Crime de tortura (Lei 9.455/97) = tortura para outra finalidade que não a morte.
- A Convenção da Organização das Nações Unidas, Nova York, aprovada pelo Decreto 40/91, em seu art. 1º define o termo tortura como sendo “o ato pelo qual dores e sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela, ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões, de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; (...)”. Assim o agente deve ter a intenção ou que assuma o risco de matar a vítima, mediante tortura, pois se a intenção for apenas de torturar e ocorrer por culpa estrito senso a morte, o agente responderá pelo crime de tortura seguida de morte, constante na Lei n.º 9.455/97, art. 1º, § 3º.
- Concluindo o raciocínio, no art. 121, a tortura é um meio cruel, utilizado pelo agente na prática do homicídio; na Lei nº 9.455/97, ela é um fim em si mesmo e, caso ocorra a morte da vítima, terá o condão de qualificar o delito, que possui o status de crime preterdoloso.
- É também perfeitamente possível a ocorrência de homicídio em concurso material com o crime de tortura
- A referência ao veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura oferece apenas exemplos do gênero de meios que o dispositivo pretende reprimir. O legislador, nesse particular, mais uma vez permitiu a chamada interpretação analógica, autorizando que o intérprete, diante de uma situaçãoconcreta, em que não haja o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia nem tortura, mas que perceba a presença de outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum, identifique a presença de circunstância qualificadora.
- Outro meio insidioso (uso de armadilha) ou cruel - o meio insidioso é aquele meio dissimulado que o agente utiliza sem que a vítima possa perceber a tempo de se defender. Ex: sabotar o freio do carro da vítima. O meio cruel é aquele que aumenta o sofrimento da vítima além do necessário para a perpetuação do crime. Ex: o agente pretende matar a vítima e com uma cadeira desfere 50 golpes, sendo a maioria deles após a vítima estar caída ao chão.
- Ou possa resultar perigo comum - nesse caso, além de causar a morte da vítima, o meio usado tem o potencial de causar situação de risco à vida ou integridade física de número elevado e indeterminado de pessoas. Ex: provocar um desabamento para causar a morte da vitima. A qualificadora se aperfeiçoa com a mera possibilidade de causar risco a outras pessoas.
- O CP tipifica especificamente crimes de perigo comum (arts. 250-259), prevendo também como forma qualificada destes o fato de produzirem o efeito morte. É importante fazer a distinção entre o homicídio qualificado, cujo meio para a sua prática é um crime de perigo comum, e o delito de crime de perigo comum qualificado pelo evento morte (CP, art. 258). A diferença reside no elemento subjetivo.
- Concurso formal com o crime do art. 250; divergência doutrinária (bis in idem).
- Homicídio à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: No inciso IV está prevista outra qualificadora que descreve meios utilizados, em todas as formas previstas, o agente diminuía a capacidade de defesa da vítima, senão vejamos:
- Traição - é a deslealdade, ou seja, existe uma relação prévia de confiança da vítima para com o agente (amizade, parentesco, casamento...), e este aproveita dessa confiança (que diminuí a capacidade de defesa) para executar o homicídio. Ex: matar a esposa que está dormindo ao seu lado. OBS: a relação de confiança já existe e o agente dela se aproveita para matar a vítima.
- Emboscada - é a conhecida tocaia. O agente espera a vítima em local dissimulado, onde possa diminuir a sua capacidade de defesa. A emboscada pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com surpresa. Denota essa circunstância maior covardia e perversidade por parte do delinqüente.
- Dissimulação - é a utilização de um recurso qualquer pelo agente para aproximar-se da vítima, e com mais facilidade perpetrar o homicídio. Ex: agente que finge ser amigo da vítima para matá-la desprevenida.
- Diferencia-se da traição pelo fato de ainda inexistir uma relação de confiança. O agente utiliza-se de um recurso qualquer para enganar a vítima, visando uma aproximação para executá-la. 
- A dissimulação pode ser: - material: ex: uso de disfarce;
 - moral: ex: falsa demonstração de interesse ou amizade.
- Ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido – trata-se de uma fórmula genérica aplicável quando não verificada as outras hipóteses do inciso IV. Esse outro meio deve ser apto a dificultar ou tornar impossível a defesa da vítima. Ex: a surpresa quando o agente efetua disparo pelas costas da vítima.
  
- Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Por fim, o inciso V descreve uma qualificadora relacionada à conexão de crimes, ou seja, vínculo entre dois ou mais delitos. Essa conexão pode ser: teleológica – para assegurar a execução de outro crime, ex: matar o marido para estuprar a esposa; conseqüencial - para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime, ex: agente mata testemunha que sabia que este vinha furtando o patrão.
- O homicídio, nesse caso, aparece em um plano secundário, pois somente é levado a efeito em razão de outro delito.
 Conexão Teleológica: Quando a morte visa assegurar a execução de outro crime.
- assegurar a execução de outro crime: aqui o objetivo primordial do agente é propiciar a execução de outro crime qualquer e apenas pratica o homicídio como meio para atingir seu intento.
b) Conexão Conseqüencial: Na conseqüencial, primeiro comete o outro crime, depois mata.
- assegurar a ocultação de outro crime: nesse particular o agente quer esconder um crime por ele ou por outrem cometido[. Ex: um funcionário público, que acompanhado de outra pessoa furta bens da repartição em que trabalha, resolve matar o comparsa para evitar que o mesmo comente com alguém o ocorrido, pois entende ser esta a única forma de ser descoberta a subtração;
- assegurar a impunidade em relação a outro crime: aqui o agente busca, com o homicídio, evitar que seja punido um outro crime cuja existência já é conhecida, mas ainda desconhecida a sua autoria, ao contrário do que ocorre na hipótese anterior (matar para ocultar um outro crime indica que ainda não se sabe que este outro delito ocorreu, buscando o agente com o homicídio garantir a permanência dessa situação);
- assegurar vantagem de outro crime: aqui o agente antevê um risco da vantagem (econômica ou não) de outro crime, e para assegurar o proveito vem a cometer um homicídio. Ex: dois ladrões praticam um roubo; depois isso, um deles, desconfiando que o outro vai fugir com todo o produto do delito, resolve matá-lo para garantir seu proveito na empreitada criminosa.
- Por fim, importante notar que a ligação entre o homicídio e outro crime, pressuposto da qualificadora sob foco, em algumas vezes pode levar à formação de um único delito complexo. É o caso, por exemplo, do sujeito que mata um vigilante para garantir o ilícito apossamento da coisa subtraída de outras vítimas. Nessa hipótese responderá por latrocínio (art. 157, §3º - parte final, do CP) e não por roubo em concurso com homicídio qualificado.
OBS: Comunicabilidade das circunstâncias qualificadoras entre os agentes: Havendo o concurso em evidência, ou seja, quando duas ou mais pessoas concorrem para o homicídio, surgirá o questionamento se a circunstância qualificadora identificada se aplica a todas elas. A solução para essa dúvida está no estudo da comunicabilidade das circunstâncias, genericamente prevista no art. 30 do CP.
                        
- As circunstâncias qualificadoras, que são dados acessórios agregados ao crime para agravar a pena, quando tiverem caráter subjetivo (motivos determinantes do crime, p. ex., motivo fútil) não se comunicam jamais ao partícipe. No entanto, se tiverem caráter objetivo, por exemplo, homicídio cometido mediante emboscada, haverá a comunicação se for do conhecimento do partícipe a presença da circunstância material, ou seja, se com relação a ela tiver agido com dolo ou culpa. Se desconhecida a presença da mesma, não poderá responder pela figura qualificada do homicídio.
- Havendo a pluralidade de circunstâncias qualificadoras, apenas uma será utilizada para qualificar o delito e as demais devem ser utilizadas na dosimetria da pena.
- Homicídio doloso – causa especial de aumento de pena (art. 121, §4º, parte final): 
                        Dispõe o dispositivo em epígrafe que: “(...) Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) ou maior de 60 (sessenta) anos”. 
- Trata-se de causa de aumento de pena a ser considerada, por evidente, na terceira fase da dosimetria da pena. Não é uma qualificadora.
- A norma traz uma severidade adicional quando o homicídio doloso, seja ele simples, privilegiado ou qualificado tem como vítima criança ou idoso nas condições que especifica.   
HOMICÍDIO CULPOSO:
- Art. 121-(...)
  - § 3º Se o homicídio é culposo:
Pena -. detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
- O § 3º trata do homicídio culposo, aquele que o agente não tem a intenção de matar e nem assume o risco de produzir o resultado morte. A culpa em sentidoestrito, para o direito penal, é aquela que o agente age ou deixa de agir sem a devida atenção ao dever de cuidado objetivo. São as regras sociais e morais mínimas que são adotadas pelas pessoas para evitar que os crimes aconteçam.
- CRIME CULPOSO: At. 18, II:
- Elementos do fato típico culposo:
a conduta humana e voluntária, de fazer ou não fazer;
a inobservância do cuidado objetivo (imprudência, negligência ou imperícia);
resultado lesivo involuntário;
relação de causalidade;
previsibilidade objetiva do resultado;
tipicidade. 
Culpa própria e imprópria: culpa própria é a comum, em que o resultado não é previsto, embora seja previsível; nela o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo; na imprópria, o resultado é previsto e querido pelo agente, que labora em erro de tipo inescusável ou vencível, vem tratado no art. 20 § 1o CP;
Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera sinceramente que isso não ocorra;
Culpa inconsciente: ele não prevê o resultado, que se manifesta através da:
a) Imprudência: é a prática de um fato perigoso; 
b) Negligência: é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; 
c) Imperícia: é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. 
- Noção: quando se diz que a culpa é elemento do tipo, faz-se referência à inobservância do dever de diligência; a todos no convívio social, é determinada a obrigação de realizar condutas de forma a não produzir danos a terceiros; é o denominado cuidado objetivo; a conduta torna-se típica a partir do instante em que não se tenha manifestado o cuidado necessário nas relações com outrem, ou seja, a partir do instante em que não corresponda ao comportamento que teria adotado uma pessoa dotada de discernimento e prudência, colocada nas mesmas circunstâncias que o agente; a inobservância do cuidado necessário objetivo é o elemento do tipo.
- O preceito incriminador do crime culposo configura-se um tipo penal aberto
- A culpa em sentido estrito se manifesta de três formas:
- Imprudência: O agente limpa uma arma carregada, e ela vem a disparar e matar alguém. O agente responde por homicídio culposo.
- Negligência: é o não fazer algo que deveria ser feito em observância do dever de cuidado, com ausência de precaução. É uma omissão cujo resultado não é intencional. Ex: deixar uma arma de fogo ao alcance de uma criança. O agente não a guardou em lugar seguro, deixando de observar o cuidado objetivo. Essa arma dispara e mata a criança. Aquele que descuidou de sua arma responderá por homicídio culposo.
- Imperícia: Ex: o médico que mata durante uma cirurgia o paciente por não ser apto para a realização desta.
- Importante: A competência para processar e julgar o homicídio culposo é do juiz criminal comum e não do Tribunal do Júri. 
OBS: O erro profissional não se confunde com imperícia. No erro profissional, o sujeito tem condições de exercer determinadas atividades, mas causa um resultado de dano. Aqui, a falibilidade é da ciência, da técnica, não do profissional.
OBS: No direito penal não existe compensação de culpas, de modo que se o agente e a vítima atuam com imprudência e esta vem a morrer, o fato da vítima ter agido com culpa não exclui a responsabilidade do primeiro. Só será excluída a responsabilidade se a culpa for exclusiva da vítima.
- Havendo culpa recíproca, contudo, a culpa da vítima poderá ser utilizada positivamente na valoração das circunstâncias judiciais (art. 59 do CP) no momento da fixação da pena do autor do crime.
- Art. 121 (...)Aumento de pena:
§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
- Nesse caso o agente conhece a técnica, mas não a aplica por culpa. Ex: o dentista que mata o paciente de infecção generalizada por falta de esterilização dos instrumentos.
- É diferente da imperícia porque nesta o sujeito não tem aptidão para uma determinada função.
- Ainda na 1ª parte há aumento de pena quando o agente não socorre a vítima de imediato, nesse caso o agente tem dever legal de prontamente prestar assistência à vítima; se ele não agiu culposamente e não presta o socorro, responde pelo crime do art. 135, Parágrafo Único; se a vítima é socorrida por terceiro, não incide o aumento; se o agente não tem condições de prestar o socorro, não incide o aumento.
- Se o agente não procura minorar os efeitos do crime culposo;
- Quando o agente foge para não ser preso em flagrante, hipótese normalmente aplicada juntamente com a primeira (ausência de socorro). 
- A doutrina contemporânea questiona a constitucionalidade dessa majorante
- No concurso de causas de aumento de pena, o juiz se limitará a um só aumento (art. 68, Parágrafo Único).
- Art. 121 (...) Perdão Judicial:
- § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
- O perdão judicial é causa de extinção de punibilidade, e poderá ser reconhecido pelo juiz quando a lei permitir. É o caso desse parágrafo. O exemplo clássico é o pai que em acidente de trânsito mata sua família. Não é necessário o vínculo de parentesco, pode ser, por exemplo, um amigo muito querido que morre e vem a causar profunda depressão no agente. A pena nesse caso perde sua função de retribuição, visto que o agente sofreu mal interno maior que a aplicação de qualquer pena.
- O perdão judicial só pode ser aplicado por ocasião da sentença, tendo em vista a necessidade de análise do mérito da causa.
- O dispositivo em exame (§5º) diz que o juiz poderá conceder o perdão (ou seja, deixa de aplicar a pena). Nesse ponto discute a doutrina se esse “poderá” é ou não uma faculdade do magistrado; sendo posição dominante que há, na realidade, um direito público subjetivo do réu de não lhe ser aplicada a sanção, se presentes no seu caso concreto as condicionantes abstratamente posicionadas no dispositivo permissivo. Quer dizer: se houverem provas que, no caso do homicídio culposo, as conseqüências do crime atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se tornou desnecessária, o juiz deverá, obrigatoriamente, conceder o perdão judicial. 
- A ação penal pertinente ao crime de homicídio (seja ele doloso ou culposo) é pública incondicionada.
EXERCÍCIO:
1. (OAB/RS-2006-3) Jerônimo paga o pistoleiro Odivan para que este mate Juan, um desafeto de longa data. Preparada a emboscada, o pistoleiro, depois de efetuar o primeiro tiro, que produz lesões leves em Juan, resolve, atendendo à súplica deste pela própria vida, abandonar a execução e fugir com o dinheiro de Jerônimo. Qual crime praticou Jerônimo? Qual crime praticou Odivan?
2. Um indivíduo está sendo processado por ter participado de jogo do bicho, que é uma contravenção, e mata uma testemunha que ia depor contra ele no processo. Qual crime ele praticou ao matar a vítima?
3. Qual a diferença, portanto, entre a tortura prevista como qualificadora do delito de homicídio e a tortura com resultado morte prevista pela Lei nº 9.455/97? A diferença reside no fato de que a tortura, no art. 121, é tão-somente um meio para o cometimento do homicídio. É um meio cruel de que se utiliza o agente, com o fim de causar a morte da vítima. Já na Lei nº 9.455/97, a tortura é um fim em si mesmo. Se vier a ocorrer o resultado morte, este somente poderá qualificar a tortura a título de culpa. Isso significa que a tortura qualificada pelo resultado morte é um delito eminentemente preterdoloso. O agente não pode, dessa forma, para que se aplique a lei de tortura, pretender a morte do agente, pois, caso contrário, responderá pelo crime de homicídio tipificadopelo Código Penal.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal - Parte Especial . Vol. 2. 12ª. ed.. São Paulo: Saraiva, 2012.
ESTEFAM, André. Direito Penal: Parte especial. Vol. 2. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
GRECO, Rogério. Curso de direito penal. parte especial. Vol. II. 9ª ed. Niteroi/RJ: Impetus, 2012.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Vol. II. 28ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. Parte geral / parte especial. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
PRADO, Luiz Regis. Elementos de Direito Penal: Parte especial. Vol. 2. São Paulo: RT, 2011.
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CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL III
UNIDADE I – CRIMES CONTRA A PESSOA. 
1.1. Dos crimes contra a vida 
 Data: 07/08/2013.
 Texto 01
Rogério Greco
Capítulo 1 – Introdução à Teoria Geral da Parte Especial
Ao iniciarmos o estudo da Parte Especial do Código Penal, podemos perceber a preocupação do legislador no que diz respeito à proteção de diversos bens jurídicos. São onze os títulos existentes que traduzem os bens que foram objeto de tutela pela lei penal. 
Embora sendo datada de 1940, a Parte Especial do Código Penal foi sendo, ao longo dos anos, modificada por meio de reformas pontuais. Novos artigos foram criados, outros modificados, enfim, embora idosa, a Parte Especial do CP sofreu profundas modificações que tiveram o condão de, em algumas situações, fornecer-lhe uma aparência de jovialidade, cuidando de temas que não mereceram a atenção do legislador original, a exemplo da inserção do capítulo correspondente aos crimes contra as finanças públicas, inserido no Título XI, relativo aos crimes contra a Administração Pública, feita pela Lei n. 10.028/00, ou, ainda mais recentemente, a modificação do art. 149, por intermédio da Lei n. 10.803/03, que prevê o delito de redução à condição análoga a de escravo, sem falar na Lei n. 10.886/04, que criou o delito de violência doméstica, inserindo dois parágrafos (9º e 10) ao art. 129 do CP. 
O projeto original que culminou com o Código Penal de 1940 foi elaborado, inicialmente, pelo Dr. Alcântara Machado, professor da Faculdade de Direito de São Paulo, tendo sido entregue ao Governo Federal em 1938. O Ministro da Justiça, Dr. Francisco Campos, ao receber o aludido projeto, entendeu por bem submetê-lo a revisão, convocando para isso técnicos, que se houvessem distinguido não somente na teoria do delito, como também na prática da aplicação da lei penal. Assim, foi constituída a Comissão Revisora com os ilustres magistrados Vieira Braga, Nelson Hungria e Narcélio de Queiroz e com um ilustre representante do MP, o Dr. Roberto Lira. Embora da revisão houvessem advindo modificações à estrutura e ao plano sistemático, não há dúvida que o projeto Alcântara Machado representou, em relação aos anteriores, um grande passo no sentido da reforma da nossa legislação penal. 
A Parte Especial do Código Penal está dividida em títulos, capítulos e seções, ordenadas sistematicamente levando em consideração o bem juridicamente protegido. 
Foi somente a partir do Código Penal de 1940 que a Parte Especial teve início com os chamados Crimes Contra a Pessoa, ressaltando, dessa forma, a sua importância. Os Códigos que o antecederam, vale dizer, o Código Criminal do Império do Brasil (1830) e o primeiro Código Penal publicado durante o período republicano, denominado Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (1890), iniciavam, respectivamente, sua Parte Especial, com os crimes contra a existência política do Império e os crimes contra a existência política da república, demonstrando, com isso, a preponderância do Estado sobre o cidadão. 
O Código Penal de 1940 rompeu com essa regra, iniciando sua Parte Especial com o Título I, relativo aos Crimes contra a Pessoa.
� Doutoranda em Direito Penal pela UBA-AR;
Mestra em Direito do Estado: Constituição, Direitos Humanos e Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia - PA;
Pós Graduada em Direito Penal e Processual Penal pela UES – RJ;
Pós Graduada em Direito do Estado pela UES – RJ;
Especialista em Balística Forense pela Academia Paraense do Júri – APJ;
Bacharela em Direito (Unama-PA);
Professora de Direito Penal da Graduação e da Pós Graduação da Faculdade Integrada Brasil Amazônia – FIBRA;
Professora de Direito Penal e de Direito da Criança e do Adolescente da Faculdade Ideal – FACI;
Professora de Direito Penal da Faculdade Metropolitana da Amazônia – FAMAZ;
Assessora da Presidência do TJE/PA.
Prof(a). Ms. Shelley Primo |�� PAGE \* MERGEFORMAT �1���

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