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COACHING CANAL CARREIRAS POLICIAIS DIREITO ADMINISTRATIVO RESPONSABILIDADE CIVIL 1 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 DIREITO ADMINISTRATIVO RESPONSABILIDADE CIVIL Leitura recomendada: Fernanda Marinela – Direito Administrativo – Capítulo 12. José dos Santos Carvalho Filho – Manual de Direito Administrativo – Capítulo 10. Alexandre Mazza – Manual de Direito Administrativo – Capítulo 6. Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo – Direito Administrativo Descomplicado – Capítulos 12. Maria Sylvia Zanella Di Pietro – Direito Administrativo – Capítulo 15. INTRODUÇÃO: A responsabilidade civil do Estado já recebeu diversos tratamentos ao longo da evolução da sociedade, conhecendo-se diversas teorias. Tivemos várias fases e, cada uma delas, representando importantes mudanças de pensamento e atuação estatal. EVOLUÇÃO HISTÓRICA: A responsabilidade civil do Estado passou por longo período de evolução e até hoje ganha elementos de adaptação ao desenvolvimento social, conciliando com a proteção sempre necessária ao administrado. Irresponsabilidade do Estado - A regra adotada por muito tempo foi a da Irresponsabilidade do Estado. Era uma teoria adotada pelos Estados Absolutistas e tinha como fundamento a soberania estatal. A ideia que prevalecia era que o Estado não possuía qualquer responsabilidade pelos atos praticados por seus agentes. Essa situação foi superada no século XIX. Essa teoria foi substituída quando o Estado Liberal, que raramente intervia nas relações entre particulares, foi substituído pelo Estado de Direito, segundo o qual deveria ser atribuído a esse, direitos e deveres comuns às pessoas jurídicas. Teoria da Responsabilidade com Culpa - A irresponsabilidade estatal fora substituída pela responsabilização em situações específicas, ou seja, no caso de atuação culposa do agente. Essa teoria também é conhecida como Teoria Civilista da Culpa, no qual o Estado se equipara ao particular, sendo obrigado a indenizar somente pelos danos causados aos particulares nas mesmas hipóteses em que tal obrigação existe para os indivíduos. 2 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 Teoria da Culpa Administrativa (Faute Du service) - Por essa teoria ficou estabelecido que o Estado também responderia pelos atos que decorressem do exercício de atos de império, e não somente por atos de gestão. O lesado não precisava identificar o agente estatal causador do dano. Era necessário, somente, comprovar o mau funcionamento do serviço público. Com isso, a doutrina passou a chamar essa situação como Culpa anônima ou falta do serviço. A ausência do serviço implicaria no reconhecimento da existência de culpa, se fazia imperativo a comprovação que o fato danoso se originada do mau funcionamento do serviço. Teoria da Responsabilidade Objetiva - Também chamada de Teoria do Risco, parte da ideia de que a atuação do Estado envolve um risco de dano, que lhe é inerente. Ela foi reconhecida no Brasil a partir da Constituição Federal de 1946 e é adotada até os dias atuais. A sua caracterização fica condicionada a conduta estatal, o dano e o nexo de causalidade entre conduta e dano. Nela não se fala em culpa ou dolo. Nela, a responsabilização do Estado se dá em razão de um procedimento lícito ou ilícito capaz de produzir a lesão a outrem. Basta a relação entre um acontecimento e o efeito que produz, ou seja, o resultado. CONCEITO: A Constituição Federal em seu artigo 37, § 6º, define que as pessoas jurídicas de Direito Público e as pessoas jurídicas de Direito Privado, quando essas forem prestadores de serviços públicos, deverão responder pelos danos causados que seus agentes causarem a terceiros. As empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica não se incluem nesse artigo. Esse dispositivo, como se vê, regula a responsabilidade objetiva da Administração, na modalidade Risco Administrativo. Inclua-se nesse item, as pessoas privadas delegatárias de serviços públicos (concessionárias, permissionárias e autorizadas), conforme entendimento do STF no RE 591.874/MS: EMENTA: CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO. I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários do 3 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. II - A inequívoca presença do nexo de causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não-usuário do serviço público, é condição suficiente para estabelecer a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito privado. III - Recurso extraordinário desprovido. (RE 591874, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-10 PP-01820) Além da Constituição Federal, encontramos previsão da responsabilidade civil estatal no Código Civil, em seu art. 43: “As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo”. A culpa do agente somente é averiguada para estabelecer o direito de regresso do Estado contra o responsável direto pelo evento. * Princípio da repartição dos encargos – a coletividade que se beneficia com a atividade administrativa, deve ressarcir aquele que sofreram danos em razão da mesma atividade. O ressarcimento dos prejuízos é efetivado pelo Estado com os recursos públicos, ou seja, oriundos das obrigações tributárias e não tributárias suportadas pelos cidadãos. * Teoria do risco integral - o Estado assumiria integralmente o risco de potenciais danos oriundos de atividades desenvolvidas ou fiscalizadas por ele. Essa teoria afasta alegação de causas excludentes. Assim, de acordo com essa teoria, o Estado seria responsabilizado mesmo na hipótese de caso fortuito e força maior. O ordenamento jurídico brasileiro adotou, como regra, a teoria do risco administrativo, contudo parte da doutrina e da jurisprudência defende a adoção do risco integral em situações excepcionais (ex.: responsabilidade por danos ambientais ou ecológicos, responsabilidade por danos nucleares). CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE - Pala teoria da responsabilidade objetiva o Estado só se exime da obrigação de indenizar caso ausente o nexo causal entre sua atuação e o dano ocorrido. Contudo, 4 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 existem hipóteses em que a responsabilidade do Estado poderá ser excluída total ou parcialmente. Encontramos na doutrina três causas excludentes, que são: força maior, caso fortuito e culpa exclusiva da vítima. Alguns doutrinadores ainda incluem como causa excludente a culpa de terceiros. Forçamaior e caso fortuito - Pela legislação, doutrina e jurisprudência, dificilmente encontramos uma conceituação específica para o caso fortuito e a força maior, isso ocorre pela semelhança desses. Por essa similitude, é possível encontrar inúmeros julgados do STJ que evitam a conceituação, mas colocam esses institutos em paridade. CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ACIDENTE EM COLETIVO PROVOCADO POR COMBUSTÃO DE MATERIAL EXPLOSIVO (FOGOS DE ARTIFÍCIO) PORTADOS POR PASSAGEIRA. LESÕES CAUSADAS EM OUTROS PASSAGEIROS. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA PERMISSIONÁRIA DO TRANSPORTE PÚBLICO. NEGLIGÊNCIA DO PREPOSTO. ATO ILÍCITO. CONFIGURAÇÃO. RISCO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. CASO FORTUITO NÃO CARACTERIZADO. CC, ART. 1.521. CDC, ART. 22. I. As empresas permissionárias de transporte público são obrigadas a conduzir, com segurança, os passageiros aos locais de destino da linha que explora, o que resulta na sua responsabilidade pela ocorrência de incêndio ocorrido no interior do coletivo derivado da combustão de material explosivo carregado por passageira que adentrou o ônibus conduzindo pacote de volume expressivo, cujo ingresso se deu, excepcionalmente, pela porta da frente, mediante prévia autorização do motorista. II. Fato previsível e inerente à atividade empresarial, que deve ser avaliado caso a caso, não se limitando a responsabilidade do transportador exclusivamente àqueles eventos comumente verificados, mas a todos aqueles que se possa esperar como possíveis ou previsíveis de acontecer, dentro do amplo leque de variáveis inerentes ao meio, interno ou externo, em que trafega o coletivo, resultando no afastamento da hipótese de caso fortuito. III. Recurso especial conhecido e parcialmente provido, para restabelecer a 5 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 condenação imposta pelo Tribunal a quo no grau de apelação, reformando-se a decisão tomada pela Corte nos embargos infringentes. Preclusão da pretensão das autoras de revigoramento da sentença, eis que não interpuseram, na época própria, recurso especial especificamente impugnando a redução das verbas condenatórias. (REsp 168985/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 23/05/2000, DJ 21/08/2000, p. 139) Assim, analisaremos essas duas hipóteses conjuntamente, tendo em vista a similaridade entre elas, já que em ambas o terem resultado inevitável. Na ocorrência de tais situações não há responsabilização, em regra. Entretanto, o Poder Público será responsável quando comprovada a sua contribuição para o evento danoso (por exemplo: a ausência de desentupimento dos bueiros de águas pluviais da cidade). A caracterização do caso fortuito como causa excludente do nexo causal tem sido relativizada pela doutrina e jurisprudência (Maria Sylvia Zanella Di Pietro, por exemplo, não admite o caso fortuito como causa excludente, por entender decorrer de ato humano ou falha da Administração). A partir da distinção entre “fortuito externo” (risco estranho à atividade desenvolvida) e “fortuito interno” (risco inerente ao exercício da própria atividade), afirma-se que apenas o primeiro rompe o nexo causal. Portanto, nos casos de fortuito interno, o Estado será responsabilizado. Culpa exclusiva da vítima - Nesse caso, a culpa é causada única e originariamente pela ocorrência do dano alegado é a vítima, ou seja, o particular. Para que se configure a ausência do dever indenizatório estatal, se faz necessário demonstrar que o causador do dano foi a suposta vítima e não o Estado, inexistindo o comportamento causador da lesão por parte desse último. Restando, dessa forma, afastada a responsabilidade objetiva do Estado. Esse é o entendimento adotado pelos tribunais, senão vejamos: EMENTA: - Responsabilidade objetiva do Estado. Ocorrência de culpa exclusiva da vítima. - Esta Corte tem admitido que a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito público seja reduzida ou excluída conforme haja culpa concorrente do particular ou tenha sido este o exclusivo culpado (Ag. 113.722-3-AgRg e RE 6 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 113.587). - No caso, tendo o acórdão recorrido, com base na analise dos elementos probatórios cujo reexame não e admissível em recurso extraordinário, decidido que ocorreu culpa exclusiva da vítima, inexistente a responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito público, pois foi a vítima que deu causa ao infortúnio, o que afasta, sem duvida, o nexo de causalidade entre a ação e a omissão e o dano, no tocante ao ora recorrido. Recurso extraordinário não conhecido. (RE 120924, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 25/05/1993, DJ 27-08-1993 PP-17023 EMENT VOL-01714- 04 PP-00618) Importante destacar, que em caso de suicídio do preso no interior de uma penitenciária, o Estado pode ser responsabilizado, desde que, no caso concreto, poderia prever e evitar a ocorrência do dano. Culpa de terceiros: Aqui, a ação de um terceiro pode ser apontada como excludente de responsabilidade, contudo esse entendimento não é uníssono, por isso muitos autores chegam a não considerar essa hipótese como causa de excludente. Nessa situação, alguém diverso da vítima causa um dano, eximindo o Estado da responsabilidade, mas não excluindo esse terceiro de responder por esses danos. * Tese da “reserva do possível” – teoria alemã utilizada para justificar a omissão estatal, baseada na “limitação orçamentária”. É uma tese utilizada como causa excludente pela Fazenda Pública, contudo não é aceita pela doutrina. Tese admitida pelo STF excepcionalmente, mediante comprovação do Estado da impossibilidade de concretização da pretensão solicitada. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO: Não é qualquer situação que se aplica a Teoria da Responsabilidade Objetiva, isso se afirma tendo em vista a existência de situações em que o dano ocorre por conta de omissões, onde não se pode presumir a culpa estatal. Nos casos de omissão os danos não são causados por agentes públicos, e sim, por fatos da natureza ou fatos de terceiros, todavia, os danos causados poderiam ter sido amenizados ou evitados se não houvesse ocorrida omissão estatal. 7 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 Nessas hipóteses, a responsabilidade do Estado é subjetiva, aplicando-se a Teoria da Culpa do Serviço Público ou Culpa Anônima ou Falta do Serviço (Faute Du service) ou, ainda, Culpa Administrativa. De acordo com essa teoria, o Estado responderá pelo dano desde que o serviço público não funcione quando deveria funcionar, funcione atrasado ou funcione mal, sendo configurada a omissão nas duas primeiras hipóteses. Para se dizer que há responsabilidade por omissão, deve-se demonstrar o dever e possibilidade de agir por parte do Estado para evitar o dano. Vale frisar, que o entendimento acima exposto não é unânime pela doutrina, entendendo, parcela da dela, que até em casos de omissão, seria aplicável a teoria do Risco Administrativo (Professor Hely Lopes Meirelles). Contudo, a Culpa Anônima, momentaneamente, mostra-se uníssono nos tribunais superiores, senão vejamos: EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MATÉRIA FÁTICA. Súmula 279-STF. I. - A análise da questão em apreço demanda o reexame de matéria de fato,o que, por si só, seria suficiente para impedir o processamento do recurso extraordinário (Súmula 279-STF). II. - Morte de detento ocasionada por outro detento: responsabilidade civil do Estado: ocorrência da falta do serviço, com a culpa genérica do serviço público, por isso que o Estado deve zelar pela integridade física do preso. III. - Agravo não provido. (AI 512698 AgR, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 13/12/2005, DJ 24- 02-2006 PP-00036 EMENT VOL-02222-07 PP-01350) Existe outro entendimento, que nos casos de omissão genérica, relacionadas ao descumprimento do dever genérico de ação, a responsabilidade é subjetiva. Por outro lado, nas hipóteses de omissão específica, quando o Estado descumpre o dever jurídico específico, a responsabilidade é objetiva. Essa corrente é minoritária, não sendo considerada aplicável. RESPONSABILIDADE CIVIL, ADMINISTRATIVA E PENAL DO AGENTE PÚBLICO: Um único ato lesivo cometido por um agente público pode resultar em responsabilização cumulativa nas esferas civil, penal e administrativa. No caso, o agente ao cometer a conduta ilícita, poderá: sofrer processo disciplinar, conforme regras impostas pela legislação administrativa; 8 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 responder na esfera cível, em ação regressiva (casos de culpa ou dolo) e, ainda, responder criminalmente, se essa conduta for tipificada como ilícita. A decisão na esfera penal absolvendo o agente público, não interfere nas demais esferas. Por fim, convém mencionar o art. 935, do Código Civil, que reforça a regra da independência da responsabilidade civil perante a criminal: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”. RESPONSABILIDADE POR ATO LEGISLATIVO: Em regra, não há responsabilidade do Estado pela edição de leis que prejudiquem terceiros. Mas existem três situações trazidas pela doutrina e jurisprudência: a) Lei declarada inconstitucional pelo STF - a atuação legislativa extrapola os limites formais e/ou materiais fixados pelo texto constitucional, configurando ato ilícito. b) Lei de efeito concreto - é uma lei em sentido formal, uma vez que a sua produção pelo Poder Legislativo observa o processo de criação de normas jurídicas, mas é um ato administrativo em sentido material, em virtude dos efeitos individualizados. Ela pode acarretar prejuízos às pessoas determinadas, gerando, assim, responsabilidade civil do Estado. c) Omissão legislativa - é possível, ainda, responsabilizar o Estado legislativo em caso de omissão, quando configurada a mora legislativa desproporcional. São leis que não possuem caráter normativo, mas não são dotadas de generalidade, impessoalidade e abstração, mas são leis em sentido formal, com destinatário certo. RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS: A regra não é a responsabilização do Estado, por atos jurisdicionais, contudo a CR/88, em seu art. 5º, LXXV, determina que “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença”. Pode ocorrer em três hipóteses: a) erro judiciário. b) prisão além do tempo fixado na sentença. c) demora na prestação jurisdicional. Nesse caso, a autoridade judicial não possui responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais praticados, devendo a ação ser proposta contra o Estado, o 9 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 qual tem direito de regresso contra o magistrado responsável, nas hipóteses de dolo ou culpa. * Responsabilidade pessoal do juiz: Os magistrados submetem-se ao tratamento especial conferido pelo art. 133 do CPC e pelo art. 49 da LC 75/1993 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), que admitem a responsabilidade pessoal dos juízes apenas em duas hipóteses: a) dolo ou fraude; b) recusa, omissão ou retardamento, sem justo motivo, de providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte. RESPONSABILIDADE DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES: A doutrina diverge em relação à responsabilização dos notários. Os titulares de serventias extrajudiciais (notários e registradores) são agentes públicos que recebem delegação do Poder Público, após aprovação em concurso público de provas e títulos (art. 236 da CR/88). Os cartórios e ofícios em si são delegações sem personalidade jurídica própria, razão pela qual, havendo qualquer prejuízo ao usuário, a responsabilidade é objetiva e direta do titular, assegurada ação regressiva deste contra o preposto ou funcionário nos casos de dolo ou culpa (art. 22 da Lei n. 8.935/94). RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS CAUSADOS POR OBRAS PÚBLICAS: Existe controvérsia doutrinária em relação ao tema. Alguns defendem que o Estado responde diretamente pelos danos causados por empresas por ele contratadas, uma vez que a obra pública, em última análise, é de sua responsabilidade e a empresa privada, no caso, seria considerada “agente público”. Outra parte da doutrina defende que deve ser feita a distinção entre dano causado pelo simples fato da obra e danos oriundos da má execução da obra. Na primeira hipótese, o Estado responde diretamente e de maneira objetiva, inexistindo responsabilidade da empreiteira (ex.: obra que acarreta o fechamento de via pública por longo período, prejudicando comerciantes). Na segunda circunstância, a empreiteira responde primariamente e de maneira subjetiva, havendo, no entanto, responsabilidade subsidiária do Estado (ex.: ausência de sinalização no canteiro de obra que gera queda de pedestre). Esse é o entendimento majoritário. 10 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATOS DE MULTIDÕES: Em regra, os danos causados por atos de multidões não geram responsabilidade civil do Estado, tendo em vista a inexistência do nexo de causalidade, vez que tais eventos são praticados por terceiros (fato de terceiro) e de maneira imprevisível ou inevitável (caso fortuito/força maior). Assim, não há ação ou omissão estatal causadora do dano. Contudo, em caráter de excepcionalidade, o Estado será responsável quando comprovadas a ciência prévia da manifestação coletiva (previsibilidade) e a possibilidade de evitar a ocorrência de danos (evitabilidade). RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS: como já informado, a tese de que a responsabilidade do Estado por danos ambientais é objetiva com fundamento na teoria do risco integral é o que atualmente prevalece. PRESCRIÇÃO: Nos termos do disposto no art. 1º-C, da Lei n. 9.494, de 10-9- 1997, o particular tem cinco anos para ingressar contra o Estado, atingindo não somente a Administração Pública direta ou centralizada, como também as pessoas jurídicas de direito público criadas pelo Estado e integrantes da Administração Pública indireta ou descentralizada, como as autarquias e fundações públicas, além das pessoas jurídicas de direito privado que sejam prestadoras de serviços públicos, na qualidade de concessionárias ou permissionárias. Deve-se ainda mencionar o Decreto n. 20.910, de 6-1-1932, regulador da prescrição quinquenal contra a Administração Pública, que estabelece, em seu art. 1º, que as dívidas passivas da União, dos Estadose dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem. Não obstante, há divergência jurisprudencial a respeito do prazo para a propositura de ação indenizatória contra a Administração Pública, inclusive no próprio Superior Tribunal de Justiça, pois, enquanto a corrente mais tradicional considera o prazo de cinco anos, uma outra vertente da jurisprudência entende que, com o advento do atual Código Civil, o prazo prescricional para referida pretensão indenizatória teria passado a ser regulado pelo art. 206, § 3º, V, do diploma civil, que estabelece o prazo de três anos para prescrição da pretensão de reparação civil, visto que o 11 D IR E IT O A D M IN IS T R A T IV O | 0 1 / 0 1 / 2 0 1 5 próprio Decreto n. 20.910, de 6-1-1932, em seu art. 10, não veda a aplicação de prazos menores fixados em outras normas jurídicas. Aconselha-se acompanhar o enunciado da prova, caso o tema seja cobrado, averiguando qual linha de raciocínio dada no enunciado. O importante é fundamentar a posição que for adotar. O direito de regresso da Administração Pública é imprescritível.
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