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1 O Plano Marshall e a Fase de Escassez do Dólar: Os Problemas Iniciais do FMI Período de 1.945/1.947 por um lado marcado pela reconstrução do SMI e por outro por uma crise econômica e instabilidade política nos principais países capitalistas. “Os sinais de grave crise econômica pela qual passaram essas economias materializavam- se na escassez de produtos para consumo interno, no recrudescimento do processo inflacionário e no comportamento adverso de suas contas externas, evidenciados pelos desequilíbrios em seus B.Ps.. A incapacidade dos outros países em gerar divisas conversíveis se associava à necessidade de importar alimentos e bens de capital para a reconstrução de seus parques industriais. A solução foi recorrer aos EUA, aumentando a dependência comercial em relação a este país e, concomitantemente, criando um período de escassez do dólar”. Escassez de dólares/Dollar shortage - Volcker: “No início do período pós-guerra, havia inúmeras teorias de que os Estados Unidos iriam experimentar um superávit comercial crônico, despojando outros países de dólares para financiar suas importações e reconstrução econômica. A escassez de dólares era vista como o resultado de um nível de poupança cronicamente alto e do aumento de produtividade dos Estados Unidos. Os trabalhos de economistas sobre a escassez de dólares testemunhavam, nos anos cinqüenta, a visão predominante de que esse país continuaria a ser, de longe, a economia mais produtiva e um exportador final de mercadorias”. (Volcker, 1993) Um dos principais problemas a ser enfrentado nesse período, foi, portanto, a necessidade de aumentar a liquidez do dólar, uma vez que a sua escassez e a falta de outras moedas conversíveis em ouro eram um fator fundamental de inibição para o funcionamento do sistema arquitetado em Bretton Woods. Primeiras tentativas, por parte dos EUA, para reverter esse quadro ações de ajudas desarticuladas, que não conseguem mudar a situação. A ação decisiva: implementação do Programa de Recuperação Européia (ERP), também chamada de Plano Marshall, iniciado em 1.948, como forma de reverter a incapacidade dos mecanismos de B.W de eliminar a escassez de dólares, que começava a comprometer o próprio acordo P. Marshall: - complemento econômico da Doutrina Truman, buscando deter o avanço do socialismo na Europa; - complemento fundamental do projeto de hegemonia norte- americana, contribuindo para eliminar a escassez de dólares, então um fator inibidor para o funcionamento do aparato institucional estruturado em Bretton Woods. As duas faces do P. Marshall e a fase do “desequilíbrio benéfico” (1949/58) 2 P. Marshall Ajuda econômica mundial Consolidação do dólar como moeda internacional Penetração do K norte-americano na Europa No longo prazo, o custo da manutenção do dólar como moeda mundial foi o de inibir ajustes dinâmicos na economia norte-americana, com graves conseqüências no longo prazo. A Europa, sem condições, se submete à dominação norte-americana, mantendo, entretanto uma posição potencial de conflito, que irá vir à tona com o fim da fase de escassez do dólar. A criação de instituições regionais: a União Européia de Pagamentos (1950) e o Acordo Monetário Europeu (1955) e a conversibilidade das moedas européias (1958) - Instituições regionais; mecanismos complementares ou divergentes de Bretton Woods? O Plano Marshall e o chamado “desequilíbrio benéfico” 1946/49 grande superávit norte-americano, US$32 bilhões. Resultando em uma situação de grande assimetria; é importante lembrar que B.W beneficiava os países superavitários. Essa posição de destaque reforça a superioridade econômica norte-americana e com ela a crença de que essa posição era irreversível, levando os EUA a: 1. Colocar em marcha o Plano Marshall, que distribui cerca de US$26 bilhões entre 46/49, sem nenhum reconhecimento de dívida, que não tinha maiores conseqüências na época, mas que poderia no futuro trazer instabilidades para o SMI; 2. Fechar os olhos e mesmo incentivar desvalorizações de outras moedas em margens bem superiores às previstas nas regras de B.W; 3. Incentivar medidas restritivas às suas exportações. O resultado é que os países europeus começam a se recuperarem e, já na década de 50 apresentam superávit em suas Balanças Comerciais, enquanto os EUA registram quedas em seu superávit comercial (US$10,1 bilhões em 47 para US$3,6 bilhões em 52). Seus gastos com subvenções mais os investimentos em capitais ultrapassam os excedentes comerciais, tendo como conseqüência déficit em seu Balanço de Pagamentos. 3 Países do PRE passam a acumularem divisas, resultantes de: - melhoria de suas Balanças Comerciais; - investimentos norte-americanos. O curso dos eventos havia mostrado a inadequação das medidas fixadas por Bretton Woods, sendo que o Plano Marshall de certa forma estimula a criação de acordos e políticas com o objetivo de complementar as ações das instituições multilaterais criadas em Bretton Woods. Desta forma, conforme Eichengreen (2000: 142), (...) os países industrializados criaram a EPU (União Européia de Pagamentos) para coordenar a eliminação das restrições às contas correntes. Eles haviam passado por uma série de dificuldades, especialmente a Grã-Bretanha com sua crise de conversibilidade em 1947 e as desvalorizações em 1949. A crise da libra em 1947 e as desvalorizações e 1949 vieram mostrar que a restauração da conversibilidade das moedas européias era impraticável se adotadas individualmente. Assim, o realinhamento das moedas européias era uma condição necessária e a mesma somente seria alcançada através da cooperação mutua entre os países europeus. Neste contexto é que o Plano Marshall admite e mesmo incentiva a criação de uma entidade regional para complementar as ações do FMI: a União Européia de Pagamentos Buscando aliviar as dificuldades, os elaboradores do Plano Marshall viam em principio que um código de liberalização que complementasse as ações do FMI, ao final iria favorecer os objetivos principais do modelo concebido em Bretton Woods. Entretanto, os fatos mostraram que tais mecanismos serviram mais para afastar a Europa do Acordo de Bretton Woods, em função dos aspectos levantados a seguir: - Os europeus mostravam explicitamente o irrealismo do cronograma proposto em Bretton Woods para o restabelecimento da conversibilidade nas consolidações dos resultados em transações correntes, seja pela situação das reservas européias seja pela escassez de dólares; - Ao contribuir com créditos suplementares, os EUA admitiam a inadequação das quotas previstas nos artigos do Acordo; - A EPU era uma instituição que defendia políticas discriminatórias, e assim admitiam o que não havia sido dito em Bretton Woods. A UEP será o embrião do Acordo Monetário Europeu (1955) que coordenará o processo de realinhamento e conversibilidade das moedas européias em 1958. Será também a semente da criação do Mercado Comum Europeu (Tratado de Roma 1959). Finais de 50 apresenta um quadro no qual o desequilíbrio benéfico fora capaz de superar a fase de escassez do dólar e revigorar a economia mundial, mas com um custo muito alto para os EUA: 4 1. Tendência crônica de déficit em seu B.P.; 2. Ameaça à conversibilidade do dólar e, consequentemente, perda de reservas cambiais; 3. Início de um processo de desindustrialização relativa, decorrente de uma moeda valorizada e do aumento da competitividade externa; 4. Criação de áreas de restrições às exportações norte-americanas. Para os outros países o desequilíbrionorte americano foi realmente benéfico, possibilitando aos mesmos organizarem suas economias e assim conviverem com expressivos crescimentos. No final da década de 50, declaram conjuntamente a conversibilidade de suas moedas e passam a questionarem a conversibilidade do dólar, criando as primeiras instabilidades graves no SMI conhecidas como o “Paradoxo de Triffin”. ECM Aula 6A
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