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SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NA EMPRESA E CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL Apresentação Olá, prezado(a) aluno(a). É um imenso prazer estar junto com você. Quero parabenizá-lo(a) pela escolha deste estudo. Sistema de gestão, empresarialmente falando, significa o modus operandi que uma organização assume em sua gestão, não importando o seu segmento produtivo. É a forma pela qual uma empresa organiza as partes inter-relacionadas de seus negócios para alcançar suas metas e seus objetivos, que podem estar relacionados a tópicos variados, como qualidade de um serviço ou produto, aptidão operacional, desempenho ambiental e muito mais. Um sistema pode apresentar um nível de complexidade diferente daquele observado em outra organização. Empresas mais complexas, que operam, por exemplo, em setores altamente regulamentados, podem precisar de ampla documentação e controles para cumprir suas obrigações legais e seus objetivos organizacionais. No mundo todo, há inúmeros métodos para a ampliação de um sistema de gestão. Entre eles, está o PDCA (plan, do, check, act). Mais do que um método, ele é um conceito de ciclo para implementar alterações que, quando seguido e repetido, levaria a repetidas melhorias no processo em que é aplicado. É dentro desse contexto que se compreende o sistema de gestão ambiental (SGA), que se preocupa com a compreensão da estrutura e função do sistema terrestre, bem como das maneiras pelas quais os humanos se relacionam com seu meio ambiente. A gestão ambiental, então, está voltada à descrição e monitoramento das mudanças ambientais, previsão de mudanças futuras e tentativas de maximizar o benefício humano, minimizando a degradação ambiental resultante das atividades humanas. Discutir a questão das políticas ambientais, assim, é muito importante para o reconhecimento dos recursos naturais como bens a serem protegidos pela Constituição Federal e demais diplomas legais, pelo governo e pela coletividade. Nesse sentido, a gestão ambiental é um importante elemento de proteção dos recursos, aumento da produtividade e inserção no mercado mundial, sobretudo europeu. As mudanças causadas pelo homem na natureza, de forma absurdamente rápida e desenfreada, lembram ao ser humano o quão frágil ele é diante das consequências ambientais de suas ações. Gestão ambiental, portanto, é o instrumento administrativo que coloca o homem diante de suas responsabilidades e possibilita que ele possa utilizar sua criatividade na reparação dos danos causados à natureza, freando a extração dos recursos naturais e mantendo o desenvolvimento econômico por meio de uma atitude sustentável. Trata-se de um assunto atual e carente de profissionais qualificados. Sua escolha em estudar esse tema será repleta de benefícios, principalmente em relação ao aumento do mercado de trabalho e das oportunidades que certamente estão à espera na organização em que você trabalha. Por fim, desejo-lhe boas-vindas e sucesso neste seu novo desafio. Professora Debora Rodrigues Barbosa Unidade 1 – Histórico, legislação e sistemas de gestão ambiental Rio 92 (vídeo) 1 Histórico ambiental internacional A Primeira Revolução Industrial teve o seu pontapé inicial no século XVIII, na Inglaterra, e é considerada um marco na transformação tanto das relações sociais quanto das bases técnicas das atividades humanas. Entre essas transformações, destacam-se aquelas ocorridas no cenário trabalhista e também as que dizem respeito à posse dos meios de produção e ao produto da labuta, as mercadorias. As novas fontes de energia também foram importantíssimas para a Primeira Revolução Industrial. Antes desse importante fenômeno, as sociedades se apropriavam, principalmente, das formas animais e humanas, a exemplo das carroças puxadas a cavalo. Nesse sentido, Franco e Druck (1998, p. 63-64) afirmam ainda que, com a Revolução Industrial, as sociedades “[...] passaram a empregar o vapor, a combustão de recursos renováveis e não renováveis – como carvão e petróleo –, chegando-se, no século XX, ao uso da energia nuclear para fins produtivos e/ou destrutivos” (Figura 1). Figura 1 - Evolução dos tipos de energia utilizadas nos processos produtivos Fonte: Elaborado pela autora (2021). De acordo com os mesmos autores, as máquinas, equipamentos e instalações foram substituindo as atividades das sociedades pré-revolucionárias. As máquinas, assim, substituíram os homens no campo, nas cidades, nas indústrias e até mesmo nas atividades domésticas. Ao longo do tempo, temos assistido ao aumento da capacidade produtiva em uma escala não observada até então, resultando na apropriação exponencial dos recursos naturais. Com a Segunda Guerra Mundial, houve bastante incentivo às indústrias químicas e petroquímicas, o que resultou na geração crescente de rejeitos industriais, com forte impacto na saúde humana e na degradação ambiental. Quando o assunto são as atividades produtivas, os recursos naturais vão estar sempre relacionados a polêmicas e discussões. Deve-se aumentar a exploração ou não? A verdade é que, até o século XX, a sociedade, governos e empresas preocupavam-se muito mais com o crescimento do capitalismo e não davam importância ao fato de que os recursos naturais são finitos. As inquietações com a degradação ambiental tornaram-se crescentes em razão da exploração indiscriminada dos recursos naturais e dos impactos dessa prática, principalmente na saúde e qualidade de vida do homem urbano. A década de 1960 marcou a sociedade internacional com o crescimento do movimento ambiental, resultante dos efeitos negativos da industrialização nos países centrais (por exemplo, na Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido) como poluição atmosférica, trânsito conturbado e barulho, entre outros. Grande parte da população desses países, que já tinha preenchido suas necessidades mais básicas como saúde, educação e habitação, começou a revelar suas inquietações e insatisfações com os produtos do avanço do desenvolvimento. As bombas atômicas de Nagasaki e Hiroshima, lançadas pelos Estados Unidos nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, também causaram intensa e ampla degradação ambiental no continente asiático. Na década de 1970, foi novamente o Japão a ser mais uma vítima dos impactos das ações industriais na saúde humana e no meio ambiente, com a intoxicação por mercúrio de pescadores e suas famílias, em Minamata. Outro importante evento ocorreu três anos antes, quando o petroleiro Torrey Canyon naufragou, provocando o derramamento de óleo inflamável no Oceano Atlântico (no Mar do Norte). As preocupações ambientais iniciaram-se com as manifestações do Clube de Roma, nos anos 1960. Entretanto, em 1972, as Nações Unidas promoveram a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, na Suécia, que resultou em uma propulsão do relacionamento entre “meio ambiente” e “proteção”. A partir desse evento, muitas obrigações e normas foram impostas ou reclamadas pela sociedade, o que provocou uma maior fiscalização e regulamentação governamental. Na verdade, o evento de 1972 foi o pontapé inicial de uma importante evolução comportamental que avançou em direção ao século XXI. É bom ter em mente que esse evento foi um grande divisor de águas entre o período em que a sociedade e governos não se preocupavam muito com o meio ambiente e o período em que as ações de regulamentação e proteção ambiental tornaram-se efetivas. Saiba mais: A grande virtude da Declaração de 1972 foi ter reconhecido que os problemas ambientais dos países centrais (ricos) eram diferentes dos países periféricos (pobres), e, portanto, deveriam ser tratados de formas diferentes, por meio de regras distintas e menos rígidas. Conheça os itens principais presentes na Declaração de Estocolmo, publicada em 1972: www.apambiente.pt. Rio +20(vídeo) A partir da Conferência de Estocolmo, o gerenciamento de empresas, utilizando os conceitos e preocupações socioambientais, começou a ser exigido e praticado pelas corporações. Muitos eventos com essa temática foram elaborados, organizados e efetivamente realizados ao longo dos anos,Credenciado) são acreditados pela Divisão de Acreditação de Organismos de Certificação (Dicor), que o faz com base na execução dos requisitos estabelecidos nas seguintes normas internacionais: · ABNT NBR ISO/IEC 17065: para organismos de certificação de produtos. · ABNT NBR ISO/IEC 17021: para organismos de certificação de sistemas de gestão. · ABNT NBR ISO/IEC 17024: para organismos de certificação de pessoas. Figura 16 - ISO Fonte: International Organization for Standardization, Public domain, via Wikimedia Commons. Em seu cadastro, o Inmetro tem poucas dezenas de entidades certificadoras para SGA em atividade. Em consulta realizada no final de 2020, havia 32 OCA, a maioria, apontadas a seguir, na cidade de São Paulo: · Instituto Falcão Bauer de Qualidade – IFBQ · IQA – Instituto da Qualidade Automotiva · MSC – Management Systems Certificações Ltda. · ABS Group Services do Brasil Ltda. · DNV GL Business Assurance Avaliações e Certificações Brasil Ltda. · APCER Brasil Certificação Ltda. · FCAV – Fundação Carlos Alberto Vanzolini · DQS do Brasil Ltda. · ACRIQ – Acreditação Integrada Quality Gestão Ltda. · BVQI do Brasil Sociedade Certificadora Ltda. · BSI Brasil Sistemas de Gestão Ltda. · TÜV Rheinland do Brasil Ltda. O Brasil ocupa uma boa posição no ranking das nações com o maior número de certificados emitidos. As corporações têm buscado certificações à medida que observam os resultados financeiros adquiridos com proatividade em relação ao meio ambiente, sobretudo no que se refere à competitividade no mercado internacional. A evolução do número de certificações foi bastante intensa nos últimos anos, embora a situação tenha sido de declínio a partir de 2015. O cenário tende a estabilizar quando há uma melhora na situação econômica do país. Figura 17 - Evolução das certificações no Brasil (ISO 14001) Fonte: certifiq.inmetro.gov.br. Os setores que mais têm se destacado na questão das certificações de sistemas de gestão ambiental do Brasil são indústrias de transformação, produção e geração de eletricidade, gás, vapor e ar frio, construção, transportes e armazenagem e atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares (Figura 18). Figura 18 - Certificações válidas concedidas Fonte: certifiq.inmetro.gov.br. As indústrias transformadoras são maioria no Brasil, fabricando produtos finais, como cadeiras e bancos, a partir de produtos primários, como tocos de árvores. Existem várias indústrias de manufatura massivas no Brasil, como as indústrias de alimentos, bebidas, tabaco, têxteis, vestuário, couro, papel, petróleo e carvão, plásticos e borrachas, metal, maquinário, computadores e eletrônicos, transporte, móveis e outras. As indústrias transformadoras, portanto, são aquelas que mais buscam certificação no Brasil. Contudo, tem ocorrido ligeiro aumento da certificação de agronegócios, exatamente para que esses empreendedores possam atingir o mercado europeu, muito exigente quanto à origem da carne, por exemplo. Recapitulando a Unidade 3 A evolução metodológica e participativa das certificações ambientais é resultante das próprias conferências da ONU, como aquela realizada em Estocolmo e as duas que aconteceram no Rio de Janeiro. No Brasil, o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) é responsável pela gestão do Sistema Brasileiro de Certificação. No país, para que a sua empresa seja certificada, ela precisa passar pela avaliação de um Organismo de Certificação Credenciado (OCC). O Brasil vem passando por um processo de crescimento das certificações, mas que foi prejudicado com a crise econômica internacional (a partir de 2015) e o problema da crise sanitária associada ao covid-19. Unidade 4 – Responsabilidade socioambiental 7 Responsabilidade socioambiental das empresas A responsabilidade social corporativa (RSC) é o compromisso contínuo das empresas de se comportarem de forma ética e contribuírem para o desenvolvimento econômico, melhorando a qualidade de vida da força de trabalho e de suas famílias, bem como da comunidade local e da sociedade em geral. Nos últimos anos, a dimensão socioambiental tornou-se um elemento estrutural e estratégico de empresas de sucesso, sendo normalmente abordada por meio do conceito de responsabilidade social empresarial. A responsabilidade social foi considerada no contexto da rentabilidade para as organizações que empreendem atividades socialmente responsáveis. O desafio para os negócios é traçar novos paradigmas de procedimentos operacionais e melhorar as condições do negócio no que se refere à responsabilidade socioambiental. As empresas concentram-se em inovações ecológicas e na produção de “produtos verdes”. Inovações ou tecnologias verdes podem ser usadas por empresas de todos os tamanhos, e organizações têm vários motivos para implementar uma estratégia ou processos amigáveis ao meio ambiente. Além disso, os consumidores tendem a se voltar mais para produtos verdes, que lhes dão a sensação de proteger o meio ambiente. A responsabilidade social corporativa pode reduzir o risco do negócio, melhorar a reputação da empresa e gerar oportunidades de economia de custos. Nesse sentido, mesmo as medidas mais simples de eficiência energética podem gerar economia e fazer diferença para o seu negócio. Por exemplo: · Desligar luzes e equipamentos quando não estiverem em uso. · Reduzir o uso de água. · Reduzir a quantidade de papel que você desperdiça. Cuidar do meio ambiente também pode aumentar a receita, sendo bom lembrar de que muitos clientes preferem comprar de empresas responsáveis. Segundo a Fundação Nacional da Qualidade (2013 apud STRAUB, 2013), as organizações socialmente responsáveis podem ir, paulatinamente, desenvolvendo sua responsabilização ambiental ao passarem por diferentes fases, que vão desde o estágio mais embrionário até o mais avançado (Figura 19). Figura 19 - Os cinco estágios da responsabilidade social Fonte: adaptado de Fundação Nacional da Qualidade (2013 apud STRAUB, 2013). Como você deve ter percebido, o estágio 5 é o mais avançado e deve ser considerado como o futuro para a empresa. Um exemplo de uma estrutura madura de responsabilidade ambiental é não só atender à legislação, mas ter posturas proativas em relação à comunidade do entorno da organização. O envolvimento com a comunidade pode assumir muitas formas. Algumas empresas optam, entre outras coisas, por: · apoiar uma instituição de caridade local com contribuições financeiras. · patrocinar um evento local. · organizar eventos de limpeza. · realizar trabalho voluntário em escolas locais ou projetos comunitários. Para a maioria das empresas, faz sentido comercial envolver-se em RSC com base na comunidade relacionada ao seu produto ou serviço. Isso permite que você use sua experiência e, ao mesmo tempo, mostre a face humana de seu negócio. Por exemplo, alguns restaurantes fornecem comida para grupos de sem-teto locais, ao passo que alguns construtores fornecem mão de obra e materiais gratuitos para projetos comunitários. Outra norma muito importante nesse setor é aquela associada ao sistema de gestão da responsabilidade social. A ABNT NBR 16.001:2012 é a Norma Brasileira de Gestão da Responsabilidade Social e cria regras para o estabelecimento de uma estrutura de exigências relativas ao sistema da gestão da responsabilidade social, baseadas no incentivo à cidadania, no desenvolvimento sustentável e na clareza das atividades das organizações. Saiba mais: A NBR 16.001 teve a sua primeira versão em 2004, mas, desde 2012, tem uma nova estrutura, também contando com o voluntariado das empresas. Saiba mais em: www.aedb.br. De acordo com Soratto et al. (2006), a ABNT NBR 16.001, assim como as demais ISOs atuais, trabalha com objetivos, metas e programas que a empresa precisa considerar na área de responsabilidade social. Esses procedimentos devem ter registro documentado, implementado e mantido tanto na organização quanto em relação aos stakeholders. Os autores ainda informam que as metas e objetivos precisam ser quantificadosna medida do possível, no sentido de tornar a gestão mais eficaz, contemplando atitudes associadas às temáticas apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 - Ações vinculadas à responsabilização socioambiental Boas práticas de governança Combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção Práticas leais de concorrência Direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho infantil Direitos do trabalho, incluindo o de livre associação, de negociação Remuneração justa e benefícios básicos, bem como o combate ao trabalho forçado Promoção da diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de gênero, de raça/etnia, idade, pessoa com deficiência) Promoção da saúde e segurança Proteção ao meio ambiente e aos direitos das gerações futuras Ações sociais de interesse público Fonte: Inmetro (2018). Para Soratto et al. (2006), as boas práticas de governança estão associadas à forma como as empresas são coordenadas e controladas, resultando na relação entre cotistas e acionistas, na criação e permanência de conselhos fiscais, em uma administração coerente e na prática de auditorias independentes. É preciso ter transparência e equilíbrio na organização da empresa e na prestação de contas. O combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção é uma prática importante para qualquer organização, mas também é de difícil constatação, até mesmo para auditores. Inicialmente, é importante que a empresa não adote essas práticas, sendo um bom começo verificar se os softwares são gratuitos ou têm licença de funcionamento, bem como conscientizar os colaboradores e criar um sistema de denúncia anônima para casos de fraude, corrupção e falta de ética, por exemplo. O cultivo de práticas leais de concorrência baseia-se em concepções organizacionais referentes à prática de preços e concorrência, ou seja, evitar o cartel ou práticas estruturais ilegais. A alta administração pode verificar, junto ao Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade), denúncias dessa natureza. Os direitos da criança e do adolescente, englobando a luta contra trabalho infantil, podem ser concebidos pela empresa mediante a legalização de jovens aprendizes e a verificação de que seus stakeholders sofreram denúncias relacionadas ao tema. Os direitos do trabalhador precisam ser respeitados pela organização, e, nesse sentido, é importante a prática da remuneração justa e benefícios básicos. No Brasil, além da assinatura da carteira, podem ser praticados o cooperativismo e os contratos de terceiros. É importante, porém, que não haja trabalho forçado, mesmo que seja por meio de insistência e trabalho fora do horário normal sem o colaborador desejar. A promoção da diversidade e do combate à discriminação pode se traduzir no respeito à diversidade de seus colaboradores, considerando cultura, gênero, raça, necessidades especiais ou idade, por exemplo. As promoções precisam ser justas, considerando habilidades, e não a cor de pele, entre outros fatores. É importante a criação de planos de carreira, publicitando claramente as estratégias de promoção e indicadores da real situação do quadro funcional da corporação. Figura 20 - Promoção da diversidade O compromisso com o desenvolvimento profissional de seus colaboradores não atende apenas aos requisitos de uma responsabilidade social, mas também aos próprios interesses corporativos. Um funcionário analfabeto ou sem um mínimo educacional pode cometer equívocos de interpretação de uma ordem escrita, por exemplo. Por isso, é importante o comprometimento da erradicação do analfabetismo. E mais: a empresa pode oferecer cursos para especialização de profissionais técnicos e graduados e incentivar o desenvolvimento profissional de aprendizes e estagiários. A promoção da saúde e segurança está associada à obediência das obrigações legais vigentes, como as normas regulamentadoras (NRs), estabelecidas pelas leis trabalhistas, e a adesão a programas que objetivam melhorar a saúde dos trabalhadores, como a certificação da ISO 45001, por exemplo. A proteção ao meio ambiente e aos direitos das gerações futuras respeita os parâmetros básicos da sustentabilidade no que se refere a produtos, serviços e processos em seus ciclos de vida. É importante que a empresa desenvolva campanhas educativas e faça adesão às certificações com base na sustentabilidade ambiental. Por fim, temos as ações sociais de interesse público, que podem ser dirigidas às comunidades do entorno ou a públicos específicos (como analfabetos, moradores de rua ou fornecedores de menor poder aquisitivo). Um bom exemplo é contribuir com campanhas para reflorestamento de uma área próxima ou para incentivar os jovens à prática de esportes. Segundo Tinoco (2010), o conceito de responsabilidade social corporativa deve incorporar stakeholders, mas há dificuldades para se alcançar a efetividade da ideia. Uma delas diz respeito à mensuração dos resultados por meio de um balanço social. Já pensou em como operacionalizar o processo contábil de tais práticas socioambientais? Será que você vai pensar apenas no dinheiro que sai da empresa? Ou também vai pensar nos resultados do investimento social? É dentro desse contexto que se compreende a elaboração e a evolução de alguns modelos de avaliação de sustentabilidade ambiental e social, o que contribui para que as organizações possam evidenciar para o público em geral as suas posturas em relação ao meio ambiente. O caso unillever(vídeo) Amanco e comunidade do entorno 7.1 Ibase O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) é uma instituição sem fins lucrativos criada no início da década de 1980. Seu primeiro modelo de análise de responsabilidade social data de 1997 e vem evoluindo desde então. Atualmente, o modelo é constituído por 43 indicadores quantitativos e oito indicadores qualitativos, organizados em sete categorias ou partes, descritas no Quadro 3. Quadro 3 - Categorias de indicadores qualitativos e quantitativos do Ibase 1. Base de cálculo Apresentação de três informações financeiras – receita líquida, resultado operacional e folha de pagamento bruta – que servem de base de cálculo percentual para grande parte das informações e dos dados apresentados, informando o impacto dos investimentos nas contas da empresa, além de permitirem a comparação entre empresas e setores ao longo dos anos. 2. Indicadores sociais internos Todos os investimentos internos, obrigatórios e voluntários que a empresa realiza para beneficiar e/ou atender ao corpo funcional (alimentação, encargos sociais compulsórios, previdência privada, saúde, segurança e medicina no trabalho, educação, cultura, capacitação e desenvolvimento profissional, creches ou auxílio-creche, participação nos lucros ou resultados e outros). 3. Indicadores sociais externos Todos os investimentos voluntários da empresa, cujo público-alvo é a sociedade em geral (projetos e iniciativas nas áreas de educação, cultura, saúde e saneamento, esporte, combate à fome e segurança alimentar, pagamentos tributos e outros). São as ações sociais privadas realizadas por empresas visando à sociedade ou a alguma comunidade externa relacionada, direta ou indiretamente, aos objetivos ou interesses das corporações. 4. Indicadores ambientais Todos os investimentos da empresa para mitigar ou compensar seus impactos ambientais e também aqueles que têm o objetivo de melhorar a qualidade ambiental da produção/operação da empresa, seja por meio de inovação tecnológica, seja por programas internos de educação ambiental. Também são solicitados investimentos em projetos e ações que não são relacionados à operação da companhia e um indicador qualitativo sobre o estabelecimento e cumprimento de metas anuais de ecoeficiência. 5. Indicadores de corpo funcional Informações que identifiquem de qual forma se dá o relacionamento da empresa com seu público interno no que concerne à criação de postos de trabalho terceirizado, número de estagiários, valorização da diversidade – negros, mulheres, idosos, pessoas com deficiênciae participação de grupos historicamente discriminados no país em cargos de chefia e gerenciamento da empresa. 6. Informações relevantes quanto ao exercício da cidadania empresarial “Cidadania empresarial” refere-se a uma série de ações relacionadas aos públicos que interagem com a empresa, com grande ênfase no público interno. São indicadores qualitativos que mostram como está a participação interna e a distribuição dos benefícios, bem como algumas das diretrizes e dos processos desenvolvidos na empresa, que estão relacionados às políticas e práticas de gestão da responsabilidade social corporativa. 7. Outras informações Informações que sejam relevantes para a compreensão de suas práticas sociais e ambientais. Declarações de não utilização de mão de obra infantil ou de trabalho análogo ao escravo ou degradante, não envolvimento da empresa com a prostituição ou exploração sexual infantil ou adolescente, não envolvimento da empresa com corrupção e compromisso da empresa com a valorização e o respeito à diversidade. Dados cadastrais, como razão social, CNPJ, além de nome, telefone e correio eletrônico da pessoa responsável pelas informações. Fonte: Ibase (2008, p. 27). Como nos diz Lins (2015), o modelo do Ibase tem como sustentação o formato dos balanços patrimoniais publicados nas demonstrações contábeis. Visa apresentar dados e informações referentes à organização como um todo, dando destaque aos aspectos relacionados à responsabilidade socioambiental, como número de funcionários registrados, encargos sociais pagos, investimentos em saúde, educação, segurança e creches para funcionários e dependentes, participação dos funcionários nos resultados da empresa e investimentos em meio ambiente, tanto interna quanto externamente à empresa, entre outros. Como meio de assegurar a ampla divulgação das informações e estimular a verificação dos dados por parte da sociedade, desde 1998 o Ibase oferece às médias e grandes empresas que publicam balanço social no seu modelo a possibilidade de receber o “Selo Balanço Social Ibase/Betinho” (IBASE, 2008). Saiba mais: A realização do balanço social por uma empresa pode representar uma importante concretização de uma sociedade efetivamente democrática. Leia o material produzido pelo Ibase com o título Balanço social 10 anos: o desafio da transparência, em: ibase.br. 7.2 GRI A Global Reporting Initiative (Iniciativa Global para a Apresentação de Relatórios) originou-se a partir de uma parceria do Programa Ambiental das Nações Unidas (Unep – United Nations Environmental Programme) com a ONG estadunidense Coalition for Environmentally Responsible Economies (Ceres), na década de 1990. A GRI é uma instituição de nível mundial que busca auxiliar as corporações, governos e até mesmo outras instituições a entender e a comunicar o impacto dos negócios em questões críticas de sustentabilidade (LIMA FILHO, 2020). Mudanças climáticas, direitos humanos e problemas de corrupção são algumas dessas questões. Os padrões GRI estabelecem uma linguagem coletiva que serve às diferentes empresas (grandes ou pequenas, privadas ou públicas), para que elas possam relatar seus impactos na sustentabilidade de forma consistente e confiável. Essa prática resulta em opções para a comparação de dados de diferentes instituições, permitindo que as organizações sejam transparentes e responsáveis (SCIENCE TECH NEW, 2021). O modelo GRI conta com diferentes indicadores que constituem modelos de diretrizes, sendo distribuídos em seis categorias. Indicadores de desempenho do gri Programa coalização para economia ambientalmente responsável + programa ambiental das nações unida (pnuma) 7.3 Instituto Ethos Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos de empresas privadas, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma instituição da sociedade civil sem fins lucrativos de interesse público que busca estimular, mobilizar e auxiliar empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa (CALDAS; GARDUCCIE; DAVOGLIO, 2015). O modelo de relatório criado pelo Instituto Ethos é baseado na Ibase e no GRI, com atualizações importantes e acrescentando suas ações e princípios. A proposta do instituto é consolidar a consistência e credibilidade dos relatórios e balanços financeiros. Saiba mais: A ferramenta disponibilizada pelo Instituto Ethos é composta por um questionário, que viabiliza o autodiagnóstico gerencial da corporação, e um sistema de preenchimento online, que permite a obtenção de relatórios: www3.ethos.org.br. De acordo com Caldas, Garduccie e Davoglio (2015), os indicadores Ethos estão organizados, no questionário, em sete temas: · Valores, transparência e governança · Trabalhadores · Meio ambiente · Fornecedores · Consumidores e clientes · Comunidade · Governo e sociedade Cada tema é dividido em um conjunto de indicadores cujo objetivo é explorar, de diferentes perspectivas, como a empresa pode melhorar seu desempenho naquele tema específico. Os indicadores de desempenho podem ser quantitativos e qualitativos e devem ser monitorados. Vamos ver todos esses itens reunidos no Quadro 4. Quadro 4 - Indicadores de desempenho econômico e social Indicadores de desempenho econômico Indicadores de desempenho social Impactos a partir da geração e distribuição de riqueza Dados resultantes da produtividade Participação e diálogo Respeito aos cidadãos Métodos/técnicas, critérios e feedback a partir dos investimentos aplicados na própria empresa e na comunidade Geração e distribuição de riqueza Trabalho decente Responsabilidade diante das gerações futuras Produtividade Investimentos Gerenciamento do impacto ambiental Seleção, avaliação e parceria com fornecedores Dimensão social do consumo Relações com a comunidade local Ação social Transparência política Liderança social Influência social Fonte: Adaptado de Instituto Ethos (CALDAS, GARDUCCIE; DAVOGLIO, 2015). O modelo do Instituto Ethos considera, ainda, a apresentação do modelo de relatório sugerido pelo Ibase (descrição dos projetos sociais e detalhamento de programas ou parcerias). 7.4 Índice de Sustentabilidade Empresarial O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi construído a partir de uma parceria entre a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2005. O índice foi financiado, inicialmente, pelo Banco Mundial, e seus princípios metodológicos foram desenhados pela FGVCes (Centro de Estudos em Sustentabilidade) e B3 (empresa pioneira em sustentabilidade). Hoje, o termo ISEB3 também é utilizado para falar desse índice. A proposta é construir uma carteira de ações de empresas que têm compromisso com a questão da sustentabilidade. Assim, estar no ISE faz com que as empresas ganhem prestígio e reputação. Na verdade, o ISE faz uma comparação do desempenho socioambiental das empresas listadas na Bovespa e as classifica, considerando a equidade, qualidade, nível de compromisso com o desenvolvimento sustentável, transparência e natureza de seus produtos, fazendo um ranking das empresas mais sustentáveis. Para compor o raio X de sustentabilidade das empresas, é aplicado um questionário (a partir de uma construção coletiva) que incorpora sete dimensões e envio de evidências, como mostra a Figura 21. Figura 21 - Dimensões, critérios e indicadores do ISEB3 Fonte: Elaborado pela autora (2021). Após a devolução do questionário pela empresa, as respostas das corporações são encaminhadas às companhias emissoras das 150 ações mais líquidas da Bovespa, com o objetivo de selecionar, entre elas, o grupo de até 40 empresas que vão compor a carteira do índice. Curiosidade: Para entender as propostas de cada uma das dimensões do questionário ISEB3, acesse: iseb3.com.br. Recapitulando a Unidade 4 Podemos dizer que a responsabilidade socioambiental é um elemento fundamental para a melhoria do desempenho ambiental de uma corporação. Cada uma das empresaspode desenvolver seu próprio processo e ir avançando, de acordo com as suas necessidades ou interesses, na relação entre proteção ambiental e competitividade no mercado mundial. Considerações finais Um sistema de gestão ambiental é formado por uma constelação de procedimentos, políticas e práticas técnicas, procedimentais e administrativas de uma empresa que precisam ser inter-relacionadas. Esse grande sistema visa potencializar o desempenho ambiental, bem como ao controle e redução dos impactos ambientais. É inevitável perceber que a proposta do SGA, que tem suas bases no Ciclo de Shewhart e nos princípios de Deming, compartilha dos objetivos e das diretrizes comuns das séries ISO 9000 – conjunto de regras e procedimentos que designa as práticas da gestão da qualidade. O objetivo primeiro da ISO 14001 permeia a conciliação entre as estratégias de prevenção da poluição ambiental e as metas e objetivos econômicos das organizações, garantindo a sustentabilidade do negócio. É importante contemplar as questões de preparo dos países, principalmente os emergentes e do terceiro mundo, para lidar com as questões de planejamento estratégico necessárias à compreensão e à execução do SGA. No caso específico do Brasil e da grande maioria de suas empresas, é senso comum a observação de que, no mundo organizacional, a cultura brasileira de certo modo negligencia essa prática administrativa. As organizações são imediatistas na resolução dos problemas e nada propensas a alterar o presente visando a uma mudança futura do estado atual das coisas. Além dessa condição, muitas empresas têm dificuldade para implantar de forma eficaz o Programa 5S, compreender os princípios de Deming e até mesmo praticar o PDCA. Enfim, o que você pôde observar é que, embora muitos problemas ambientais pareçam complicados nas empresas, na verdade, podem ser de simples solução, desde que haja algum investimento em educação ambiental. É bom deixar claro, porém, que o objetivo deve ser alcançar uma transformação profunda dos funcionários dentro da organização, desde presidentes e diretores até o “chão de fábrica”, como funcionários que fazem serviços gerais. image2.jpeg image3.png image4.jpeg image5.jpeg image6.png image7.png image8.png image9.png image10.png image11.png image12.png image13.jpeg image14.jpeg image15.jpeg image16.jpeg image17.png image18.png image19.png image20.png image21.jpeg image22.jpeg image23.jpeg image24.png image25.png image26.png image27.png image28.png image29.png image30.png image31.png image1.png image32.png image33.png image34.png image35.png image36.png image37.png image38.png image39.png image40.png image41.pngmas alguns fundamentais se destacam, como é o caso do Nosso Futuro Comum, em 1987. A década de 1980 foi sublinhada pela criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Comissão Brundtland, por parte da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1983. Essa comissão foi presidida pela primeira-ministra norueguesa, Gro Harlem Brundtland (Figura 2), que divulgou o relatório Nosso futuro comum, em 1987, no qual defendia o conceito de desenvolvimento sustentável, além de apontar a pobreza como uma das principais causas dos problemas ambientais no mundo (GOMES; GARCIA, 2013). Desenvolvimento sustentável “O desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.” Gro Harlem Brundtland Figura 2 - Gro Harlem Brundtland Fonte: Fronteiras do Pensamento, CC BY-SA 2.0. Com a publicação do conceito de desenvolvimento sustentável, muitas corporações passaram a melhor incorporar a ideia de produção, empreendimento e proteção ambiental (tudo no mesmo pacote). A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (também chamada de Rio 92, Eco 92 ou Cúpula da Terra) foi um marco significativo para o crescimento dos debates e o advento de acordos ambientais. Esse evento incorporou diferentes representantes da sociedade civil e inúmeros chefes de Estado, objetivando, principalmente, fazer um amplo debate sobre a implementação efetiva do desenvolvimento sustentável. Nesse encontro foram produzidos vários documentos, como a Agenda 21, a Carta da Terra, três convenções (da Desertificação, da Biodiversidade e das Mudanças Climáticas) e duas declarações (de Princípios sobre Florestas e do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento). O que se percebeu, em suma, é que o objetivo da Rio-92 foi buscar meios de harmonizar a conservação dos recursos naturais (e do meio ambiente) e o desenvolvimento socioeconômico das sociedades, governos e corporações. Não podemos nos esquecer de que o ano de 1997 também teve grande relevância ambiental com o lançamento do Protocolo de Quioto, que operacionaliza a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ao propor aos países industrializados e às economias em transição que assumissem compromissos para limitar e restringir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de acordo com as metas individuais acordadas. A Convenção pede a esses países que adotem políticas e medidas de mitigação e apresentem relatórios periódicos. O objetivo é desacelerar o aquecimento global, com a diminuição da emissão de GEE em 5% (FAWZY et al., 2020). Em 1997, o evento de assinatura do Protocolo, na verdade, foi mais uma Conferência das Partes (COP). Você sabe o que é isso? A Conferência das Partes é o órgão supremo de tomada de decisão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que se reúne anualmente e mobiliza as Partes da Convenção na tomada de medidas para restringir as emissões de gases de efeito estufa. Nos anos seguintes à Rio-92, ocorreram COPs em vários lugares, e, em cada uma delas, notou-se um novo desenho nas propostas de acordos ambientais: Cancún (México), Durban (África do Sul), Doha (Catar), Varsóvia (Polônia), Lima (Peru), Paris (França), Marrakech (Marrocos), Bonn (Alemanha) e muito mais. E não podemos nos esquecer da Rio+20. A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável aconteceu no Brasil, em 2012, sendo uma forma de marcar e ressignificar o vigésimo aniversário da Rio-92. A Conferência resultou em um documento político cujos dois temas centrais foram: o marco institucional para o desenvolvimento sustentável e a economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável e da completa eliminação da pobreza (FAWZY et al., 2020). Em 2015, na França, aconteceu uma das COPs mais importantes para o avanço histórico do combate ao aquecimento global, o Acordo de Paris, que reuniu quase todos os países reconhecidos pela ONU em um objetivo comum: reunir esforços para a luta contra as flutuações climáticas, buscando adaptações necessárias para interromper suas consequências, até mesmo por meios de ajudar os países periféricos a combater seus efeitos na economia. Na COP-21, as nações alcançaram um compromisso único para enfatizar o combate às flutuações climáticas, buscando acelerar e intensificar práticas e investimentos necessários para um futuro sustentável de baixo carbono. O Acordo de Paris busca consolidar uma resposta única e global aos indícios ameaçadores das flutuações climáticas. A proposta é reunir esforços para limitar o incremento térmico em no máximo 1,5 ºC. E, se isso não for possível, que seja bem inferior a 2 ºC, acima dos níveis pré-industriais (FAWZY et al., 2020). As polêmicas sobre uma coalescência de interesses das nações mundiais sobre o planeta é contínua. A busca de uma solução que atenda às imposições das nações ricas e pobres, mantendo a própria soberania, tem muitos obstáculos. É premente que as lideranças políticas e a sociedade como um todo deixem de lado os interesses individuais em prol de soluções que visem ao bem-estar coletivo. Acordo de paris ( vídeo) 2 Legislação ambiental brasileira De acordo com Sanchez (2006), o Brasil tem um intricado sistema normalizador de gestão ambiental que é controlado por um vasto aparelho legal. A legislação vigente foi sendo desenvolvida ao longo do tempo, considerando as demandas e obrigações institucionais, bem como as orientações normativas de acordos e leis internacionais. A Figura 3 apresenta os principais marcos desse processo evolutivo e alguns diplomas legais. Figura 3 - Principais leis sobre meio ambiente Fonte: Elaborado pela autora (2021). No Brasil, a Política Nacional de Meio Ambiente foi elaborada à luz do que foi discutido na Conferência de Estocolmo, com base na necessidade de legislar sobre meio ambiente em um contexto no qual os organismos de empréstimos internacionais estavam pressionando Estados e corporações a mudar suas estratégias construtivas. Esse diploma legal apresenta um conjunto de instrumentos, sendo os mais destacados a avaliação de impactos ambientais, o licenciamento ambiental, o estabelecimento de padrões de qualidade do ambiente, o zoneamento ambiental, o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente e as penalidades disciplinares ou compensatórias para o criminoso ambiental. A lei mais importante de um país costuma ser a sua Constituição Federal. No Brasil, a versão de 1988 dedica um capítulo completo ao meio ambiente. A constitucionalização da proteção ambiental tem um direcionamento resultante dos acordos e protocolos internacionais, com a consolidação do Direito Ambiental. Veja o que diz o artigo 25: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Repare que o Estado brasileiro considera que todos nós, brasileiros, temos direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, porém, atente ao fato de que não é qualquer meio ambiente, mas aquele que apresenta qualidade. E mais: esse tal de meio ambiente com qualidade deve estar disponível para gerações atuais e futuras, por isso, é importante preservá-lo – conceito fundamental do desenvolvimento sustentável. Além disso, quando o artigo pontua que o meio ambiente é “essencial à sadia qualidade de vida”, quis o legislador associar o meio ambiente com qualidade à vida saudável do cidadão, ou seja, sendo condição importante para o acesso à saúde. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulaçãode material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. É importante destacar que o artigo 225 da Carta Magna chama a atenção para um fato muito relevante. Qualquer pessoa (física ou jurídica) que tiver uma conduta lesiva ao meio ambiente poderá estar sujeita a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Atenção: Assista a um vídeo, elaborado pelo professor Emerson Bruno, que explica as questões ambientais propostas pelo artigo 225 da Constituição Federal: www.youtube.com. Nesse sentido, as corporações têm, cada vez, canalizado sua atenção para atingir e apresentar um desempenho ambiental, levando-as a “análises” ou “auditorias” ambientais como forma de avaliar seus desempenhos ambientais para posterior certificação temática. No entanto, para que esses procedimentos sejam efetivos, é fundamental estabelecer um sistema de gestão estruturado e integrado, que as normas internacionais de gestão ambiental têm por finalidade prover (SM ENGENHARIA, 2015). Politica nacional do meio ambiente(vídeo) 3 Sistema de gestão ambiental Você acha que a expressão “gestão ambiental” é muito ampla? O termo pode ser usado em diferentes situações, como gestão ambiental de território ou gestão de unidades de conservação. QUAL O CONCEITO DE GESTÃO EMPRESARIAL? A gestão empresarial significa coordenar todas as fases da operação corporativa por meio do planejamento. O QUE É GESTÃO AMBIENTAL? É um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e operacionais que levam em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente, por meio da eliminação ou minimização de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida de um produto (BARBIERI, 2016). 3.1Tipos de abordagem para lidar com os problemas ambientais empresariais De acordo com Barbieri (2016), existem três diferentes abordagens em que as empresas podem se apoiar para lidar com os problemas ambientais relacionados às suas atividades: controle da poluição, prevenção da poluição e abordagem estratégica. A abordagem conhecida como controle da poluição é constituída pelas práticas administrativas e operacionais que buscam reprovar os efeitos da poluição gerada por algum processo produtivo. É o caso do lançamento de resíduos coloridos em cursos d’água após uma fábrica têxtil tingir seus tecidos de diversas cores. É uma consequência da postura reativa da empresa, que tenta seguir a legislação ambiental vigente. O dono da empresa está apenas buscando soluções para os efeitos maléficos de seus produtos e processos mediante soluções pontuais. Os empresários que utilizam essa prática acreditam que cuidar da poluição do seu processo produtivo é um custo adicional e, muitas vezes, donos e diretores nem se envolvem com a prática de contenção. Por sua vez, a abordagem chamada de prevenção da poluição é realizada quando os administradores procuram não só evitar a geração da poluição, mas também restringir a sua quantidade, buscando uma produção mais eficiente que poupe as matérias-primas e a energia necessárias no processo produtivo. Essa prática tende a aumentar a produtividade empresarial e restringir custos e rejeitos. A prevenção da poluição pleiteia atualizações em processos produtivos (considerando o ciclo de vida do produto), no sentido de restringir ou eliminar os rejeitos na fonte, ou seja, antes que ocorra a efetivação da degradação ambiental. É bom destacar que, em qualquer processo produtivo, inclusive manual, haverá sobra de rejeitos. O importante, no entanto, é que eles sejam recolhidos, tratados e dispostos em ambientes adequados por meio de tecnologias de controle da poluição. Curiosidade: Veja o caso da empresa de moda têxtil Malwee, que está produzindo um jeans com uma diminuição de, no mínimo, 80% do uso de água no processo fabril: mercadoeconsumo.com.br. Por fim, cabe destacar a abordagem estratégica, cujo nome já auxilia no entendimento de sua proposta. Nesse caso, os problemas ambientais são abordados como uma das questões estratégicas da corporação e, portanto, relacionadas à busca de uma situação vantajosa em uma transação comercial atual ou futura, considerando itens como lucratividade, participação em mercados, domínio de tecnologias relevantes, acesso a capitais, reputação, entre outras. Há uma busca por vantagens competitivas para a empresa à medida em que ela consegue proporcionar maior valor econômico aos seus clientes em comparação com as empresas concorrentes, consequentemente, oferecendo maiores benefícios aos seus proprietários ou acionistas, investidores, trabalhadores, comunidade vizinha dos seus empreendimentos, entre outras partes interessadas. Qual a principal diferença dessa abordagem em relação às demais? As primeiras tratam a poluição como uma questão interna pontual, ao passo que essa nova abordagem busca analisar as questões que afetam a empresa como um todo, nos setores econômicos em que atua ou pretende atuar. A empresa que toma a iniciativa na busca pelo atendimento das novas exigências ambientais, mediante ações legítimas, tem como resultado a criação de um importante diferencial estratégico. De acordo com Valle (2002), a gestão ambiental possibilita a redução e o controle dos impactos ambientais produzidos pelos diferentes processos produtivos. Por isso, acompanhe, no Quadro 1, alguns exemplos de benefícios adquiridos com o estabelecimento de metas claras. Quadro 1 - Objetivos e metas ambientais Objetivos Metas Benefícios Diminuir o uso de água industrial. Conseguir uma redução de 10% em relação ao ano anterior. Diminuir as despesas. Prorrogar a vida útil do aterro sanitário. Duplicar a capacidade de deposição. Não fazer novos investimentos. Comutar o uso de solventes químicos importados. Usar solventes biodegradáveis nacionais. Incentivar a economia local. Reflorestar áreas degradadas. Reflorestar para evitar novas sanções ambientais (multas ou suspensão operativa). Evitar a suspensão da licença de operação e mais multas. Fonte: Ambiente Brasil (2020). Nesse sentido, a gestão ambiental tem se configurado como uma das mais importantes ferramentas relacionadas a qualquer empreendimento. 3.2 Modelos de gestão ambiental Segundo Barbieri (2016), é interessante que a corporação escolha uma abordagem que atenda às suas necessidades e interesses, no sentido de favorecer uma harmonização na execução de atividades implantadas por diferentes colaboradores em distintos momentos e locais e sob dessemelhantes modos de ver as mesmas questões. Nesse sentido, os principais modelos de gestão ambiental são: · Administração da qualidade ambiental · Produção mais limpa · Ecoeficiência · Projeto para o meio ambiente · Combinando modelos Figura 4 - Gestão ambiental Fonte: Boonyachoat/istockphoto.com. O argumento principal da gestão da qualidade total (TQM – do inglês, total quality management) é que o sucesso de uma empresa resulta da qualidade que ela oferece a seus clientese consumidores. Por sua vez, o argumento básico da administração da qualidade ambiental total (TQEM – do inglês, total quality environmental management) também é o mesmo, mas com preocupações associadas ao meio ambiente (BARBIERI, 2016). O modelo da produção mais limpa (P+L) (cleaner production) foi concebido em consonância com os pactos multilaterais idealizados na Rio-92. E o que isso significa? O estabelecimento continuado de uma estratégia ambiental que vise à prevenção integrada aos produtos, processos e serviços com o objetivo de aumentar a ecoeficiência e restringir os riscos à saúde e ao meio ambiente (PEREIRA; SANT’ANNA, 2012). Por meio metodologias e tecnologias de P+L, é plausível dar atenção ao modo como cada processo produtivo pode se tornar mais eficiente e limpo, quer seja na restrição do uso de energia, água ou matéria-prima ou até mesmo na geração intermediária ou final de resíduos (BARBIERI, 2016). Essa abordagem é considerada preventiva, por procurar evitar o uso excessivo de determinado recurso natural ou torná-lo mais eficiente, em vez de adotar uma ênfase focada no controle do resíduo/efluente/emissão gerado. Uma empresa alcança a ecoeficiência quando se esforça para atender às demandas de seus clientes, minimizando os impactos negativos ao meio ambiente de seu negócio. Na prática, uma empresa ecoeficiente é a que consegue fazer mais com menos. Mas veja que não importa se uma empresa é grande ou pequena. Por meio de seu posicionamento, é possível influenciar toda a cadeia com a qual trabalha. O projeto para o meio ambiente (design for the environment – DfE) é um procedimento da ecologia industrial que busca observar todo o ciclo de vida do produto, no sentido de propor transformações no projeto. Qual o objetivo disso? Reduzir o impacto ambiental do produto, considerando desde seu início/fabricação até seu descarte (FRANCISCO JÚNIOR.; GIANNETI; ALMEIDA, 2003). A verdade é que todos esses modelos podem ser utilizados pelas corporações ou empresas de forma isolada, não importando se atuam no setor de transporte ou de produção de sabonetes, se são grandes ou pequenas. E se cada um tem seus pontos fortes e fracos, por que não os combinar para a obtenção de melhor proveito produtivo, utilizando meios de proteção ambiental? Portanto, para a realização da gestão ambiental nas empresas, é imprescindível o planejamento. E, como qualquer atividade de planejamento, alguns cuidados básicos são necessários para que as intenções possam ser efetivas, ou seja, transformadas em ações concretas. Por isso, as empresas devem criar um plano para executar a sua política ambiental. Figura 5 - Ferramentas de gestão ambiental Fonte: Blue Planet Studio/istockphoto.com. De acordo com Barbieri (2016), logo no início do planejamento, a empresa deve buscar idealizar, organizar e manter processos que permitam uma avaliação apropriada, um controle e contínuas melhorias de aspectos ambientais, principalmente no que se refere à obediência da legislação, ao uso racional de matérias-primas e insumos, às normas de saúde e segurança dos trabalhadores e à redução de danos ambientais, entre outros aspectos. A grande questão é saber quais são as ferramentas mais úteis para a gestão ambiental de cada uma das empresas. Nesse caso, não há respostas prontas. Cada segmento produtivo pode ter inúmeras ferramentas e atender a um objetivo específico. De acordo com Vilela Junior e Demajorovic (2006), é interessante notar que a avaliação de impactos ambientais tem sido considerada uma ferramenta pioneira, que deu o pontapé inicial para o estabelecimento dos fundamentos da gestão ambiental. Você acha que o gestor ambiental deveria ter importantes conhecimentos sobre métodos e técnicas para reduzir impactos ambientais? Certamente que sim. Mas, é importante entender que são poucas as empresas onde é possível aplicar todas as ferramentas disponíveis. É preciso escolher, considerando o tamanho da organização, o seu segmento mercadológico, a natureza e a complexidade das operações (produtos, atividades e serviços). E mais: é importante considerar as demandas e expectativas dos stakeholders. Como começar a gestão ambiental na sua empresa? Acredita-se que a primeira coisa é buscar algum padrão. Procurar, na literatura disponível, quais as “regras” que a empresa precisa seguir para estar de acordo com as legislações ambientais locais e nacionais. Recapitulando a Unidade 1 Podemos dizer que as maiores preocupações ambientais das populações dos países centrais já foram atendidas quanto a requisitos básicos de cidadania como habitação, educação e saúde. Nesse sentido, ao longo do século XX, foi a vez dos países periféricos integrarem o grupo de nações com genuínas inquietações ambientais. É dentro desse contexto que se compreende o avanço proporcionado pela Conferência de Estocolmo, assim como pelo Relatório Brundtland, Rio-92 e Rio+20, que desembocaram no importante Acordo de Paris, em 2015. No Brasil, a legislação ambiental foi fundamentalmente constituída a partir da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), em 1981, e da Constituição Federal, de 1988. Pode-se considerar que o sistema de gestão ambiental tem diferentes tipos de abordagens, sendo as principais o controle da poluição, a prevenção da poluição e a abordagem estratégica. Os principais modelos de gestão ambiental são: administração da qualidade ambiental total, produção mais limpa, ecoeficiência, projeto para o meio ambiente e modelos combinados. Ecoeficiência:É um conceito-chave para as empresas alcançarem um desenvolvimento mais sustentável, considerando não só o aspecto do valor agregado de suas atividades, mas também os impactos ambientais. Fonte: www.sciencedirect.com Unidade 2 – ISO 14001 4 Família ISO 14000 A International Organization for Standardization (ISO) é uma organização internacional que visa à padronização de processos, tendo sido fundada em Genebra, em 1947, e estendendo-se para mais de 160 países. Nos países industriais ocidentais, geralmente, é uma organização privada, como o American National Standards Institute (ANSI) e a British Standards Institution (BSI), mas na maioria dos outros países é uma organização governamental (OLIVEIRA, 2005). Os padrões ISO cobrem uma variedade de setores, desde a segurança alimentar à fabricação de tecnologias. Esses padrões ajudam a facilitar o comércio internacional, estabelecendo critérios de qualidade entre os países, protegendo os consumidores e garantindo que os produtos e serviços sejam certificados para atender a requisitos mínimos internacionais. Governos, corporações, setores industriais e stakeholders enviam informações para a ISO e contribuem para o planejamento e promulgação das normas. Quando uma ISO produz uma norma, uma versão preliminar é produzida e enviada para os países-membros para apreciação e votação, antes de receber uma versão final e ser efetivamente publicada. Atenção: A ISO recebeu forte incentivo com a publicação de uma série de normas relacionadas à gestão e à garantia da qualidade. A família ISO 9.000 foi elaborada pelo ISO Technical Comitee 176 (ISO TC 176). Em 1992, a British Standards Institution desenvolveu o BS 7750, um padrão usado para controle ambiental em empresas de manufatura e serviços. Ao implementar a BS 7750, as organizações podem demonstrar que cumprem os regulamentos de saúde e segurança, outros requisitos ambientais locais e nacionais e códigos de prática em seus setores da indústria. Ao mesmo tempo, as normas do sistema de gestão ambiental foram publicadas em outros países, como Espanha e Irlanda, e a Comissão Europeia desenvolveu o esquema de ecogestão e auditoria (Emas), semelhante ao BS 7750, mas com requisitos extras, como relatórios públicos. A primeira revisão da norma veio oito anos depois, em 2004, e introduziu algumas pequenas alterações na ISO 14001, principalmente com o objetivo de tornar seus requisitos mais compreensíveis, mas também para facilitar a integração com outras normas, como a ISO 9001 (ASME, 2014). A FAMÍLIA ISO14.0005 ISO 14001 A organização criou a ISO 14001 com a finalidade de criar um parâmetro consensual para a gestão ambiental. Mas qual é a sua importância? A ISO 14001 não foi usada apenas como uma estrutura para minimizar os impactos negativos que afetam o meio ambiente (por exemplo, ar, água, solo). A norma também ajudou as empresas a cumprirem as leis e regulamentos aplicáveis e a melhorar continuamente suas gestões ambientais. É importante destacar sempre que o escopo da ISO 14001 precisa ser determinado pela própria corporação, que tem a liberdade de definir o nível de detalhe e complexidade de seu sistema. E mais: é a própria empresa que escolhe de quais processos, produtos ou atividades vai fazer a certificação ambiental. A norma é apoiada no ciclo PDCA (do inglês “plan-do-check-act”, planejar, fazer, checar e agir) e, portanto, o modelo básico de orientação da ISO 14001 é montar um processo de cinco etapas, como pode ser visto na Figura 6. Figura 6 - PDCA Fonte: adaptado de Barbieri (2016). De acordo com Bertolino e Couto (2019), o sucesso de um sistema de gestão ambiental está diretamente associado à eficiência do engajamento de todos os setores empresariais, bem como ao direcionamento de cada uma das suas fases. Recentemente, a norma ISO 14001, que trata dos SGA, passou pelo seu terceiro ciclo de revisão, e o resultado foi uma nova versão lançada no final de 2015, para a qual as organizações já certificadas deveriam migrar até o final de 2018, conforme determinam as exigências normativas. Essa nova versão trouxe uma novidade importante, com a adoção de uma estrutura de alto nível, o que significa dizer que cada uma das normas de sistema de gestão é obrigada a obedecer e compartilhar uma base condensada comum. A ISO criou uma estrutura principal que deve ser compartilhada por diferentes normas, o que pode ser observado na Figura 7. Figura 7 - Etapas da SGA Fonte: elaborado pela autora (2021) com base em ABNT (2015). É interessante conhecermos cada uma dessas etapas e entender a sua importância. O escopo refere-se aos objetivos e requisitos combinados necessários para concluir um projeto. O termo é frequentemente usado em gerenciamento de projetos. Por sua vez, as referências normativas significam a base de apoio legal que estrutura todo o sistema de gestão, considerando os diplomas legais internacionais, nacionais e até mesmo regionais ou locais. Como qualquer lei importante, há espaço para se determinar os principais conceitos a serem trabalhados naquele documento, por isso, há o item "termos e definições". Considerando a estrutura que deve ter um sistema de gestão, vamos conhecer essas etapas e entender a importância de cada uma. 5.1 O contexto da organização A nova estrutura inseriu um item inédito, que é o contexto da organização. Entender o contexto da organização é reunir as questões ambientais internas e externas de uma organização e as partes interessadas que compõem o ambiente de negócios da empresa. A cláusula “Contexto da Organização” tem quatro subcláusulas: 1. Compreensão da organização e seu contexto 2. Compreensão das necessidades e expectativas das partes interessadas 3. Determinação do escopo do sistema de gestão ambiental ou de qualidade 4. Sistema de gestão ambiental ou de qualidade A compreensão sobre a organização e o seu contexto é muito importante para a definição de qualquer sistema de gestão. A quais itens estamos nos referindo? À identificação do ambiente em que a empresa opera e ao contexto empresarial do setor no qual atua, considerando até mesmo a disponibilidade de recursos. Também é importante buscar saber sobre os interesses e características das partes interessadas (ou stakeholders), como governo, fornecedores, empregados e clientes, buscando identificar aquelas que são determinantes e relevantes para a empresa. A intenção aqui é fornecer um entendimento conceitual de alto nível das questões importantes que podem afetar, positiva ou negativamente, a maneira como a organização gerencia suas responsabilidades ambientais. A determinação completa do contexto organizacional ajuda a resolver isso. Ao identificar questões internas e externas, conhecidas como riscos e oportunidades, as corporações podem ser usadas para orientar a direção estratégica e o propósito do negócio. O sistema de gestão torna-se uma parte útil nas situações diárias e um elemento básico para que os funcionários acompanhem seu próprio desempenho. A organização deve estabelecer os limites e a aplicabilidade do sistema de gestão ambiental para “desenhar” o seu escopo, considerando suas funções, unidades organizacionais, produtos, atividades, serviços, limites físicos, autoridade e capacidade de exercer controle e influência. Por isso é tão fundamental definir o escopo, que não tem um limite de tamanho e deve incluir informações suficientes para determinar o que é coberto pelos processos do sistema de gestão. Deve-se detectar as localizações físicas, produtos ou serviços que são criados dentro dos processos de sistema e os setores em que são aplicáveis, se forem relevantes. Isso deve ser claro o suficiente para identificar o que seu negócio faz, e se nem todas as partes do negócio são aplicáveis, devem ser facilmente identificáveis. Vamos ver alguns exemplos? O escopo seria “XYZ Manufacturing, localizada em Londres, Inglaterra, produzindo componentes usinados na indústria aeroespacial e automotiva na Europa”. Agora, vejamos o exemplo de um escopo bem detalhado: Escopo determinado: · Produção, instalação e serviço gerenciado no local de cabeamento de fibra óptica, para conectividade de tecnologia da informação (TI). · Instalação e serviço gerenciado no local de cabeamento de cobre e gabinetes de TI. Locais de fabricação: · Índia · Alemanha · Espanha Figura 8 - Exemplo de escopo: cabeamento de fibra óptica Fonte: Daniel Chetroni/istockphoto.com. Atenção: A empresa tem possibilidades flexíveis e livres para a determinação do seu escopo de SGA, mas é bom que seus administradores não utilizem essa “boa-fé” da norma para evitar o enfrentamento de problemas ambientais significativos decorrentes da atuação da companhia, acomodando-se em uma zona de conforto. 5.2 Liderança Se tivermos que simplificar, pode-se dizer que liderança é a capacidade de uma pessoa ou empresa em conduzir um grupo de indivíduos ou corporações, transformando-os em uma equipe que gera resultados. A qualidade começa com uma visão: alguém em algum lugar decidiu criar e vender um produto ou serviço com a expectativa de que ele tenha valor para um mercado específico. Essa visão começa com um líder no topo e estende-se a todos os colaboradores da empresa. Para alcançar essa visão, é importante que os líderes incorporem as quatro estruturas a seguir em sua organização: · Estrutural: defina metas, políticas e procedimentos para estabelecer limites. · Simbólico: defina o tom cultural e inspire os funcionários. · Recursos humanos: identifique as necessidades, habilidades e relacionamentos dos funcionários. · Político: use seu poder para defender mudanças e melhorias. A cláusula “Liderança” tem três subcláusulas: 1. Liderança e compromisso 2. Política ambiental ou de qualidade 3. Funções, responsabilidades e autoridades organizacionais Segundo a Fiesp (2015), em termos práticos, isso significa que a alta cúpula da empresa (proprietários e diretores) deve se responsabilizar pela eficácia do sistema de gestão. Nesse sentido, a alta administração deve demonstrar sua liderança e compromisso com o SGA. E mais: é fundamental garantir que a política da organização e os objetivos da proteção ambiental sejam implantados e que tenham compatibilidade com a direção estratégica geral da organização, assim como com o contexto da organização. O que fazer primeiro? Definir uma política ambiental e certificar-se de seu compromisso com ela. Na verdade, é uma declaração de princípios e intenções pela empresa/organização, em relação ao desempenho ambiental geral. Segundo a Fiesp (2015, p. 2), A nova versão especifica três compromissos básicosque devem estar contemplados na política ambiental da organização: proteção ao meio ambiente, atendimento aos requisitos legais e outros requisitos (compliance obligations) e fortalecimento do seu desempenho ambiental. Compliance: É estar em conformidade com leis e regulamentos. Fonte: www.siteware.com.br Curiosidade: Você quer ver um exemplo de política ambiental? Conheça a proposta da Ford, produtora de veículos automotores: www.ford.com.br. Como já tratado anteriormente, a política ambiental deve ser aplicada dentro da organização, garantindo que seja comunicada e compreendida. Obviamente que a política deve ser transparente e precisa também ser reavaliada e revisada regularmente, para retratar as condições de mudança. O item “liderança”, nas ISOs atuais, são uma inovação importante para a estrutura dos sistemas de gestão, mas é importante que seja observada como uma “provocação positiva” para as empresas e um benefício para reforçar o papel do sistema de gestão ambiental, colocando-o no centro do negócio (DNV GL, 2015). A nova versão da lei inclui, ainda, um elemento importante: a necessidade de se implementar papéis, responsabilidades e autoridades organizacionais na empresa. Na prática, isso significa imputar funções e dar nome àquele que vai cumprir cada uma dessas atribuições. Afinal, para que um sistema funcione com eficácia, os envolvidos devem ter plena consciência do seu papel. Atenção: Formas de definir responsabilidades Organogramas, descrições de cargos, procedimentos operacionais padrão, instruções de trabalho, entre outros, são algumas das muitas maneiras que a alta administração pode usar para definir e documentar responsabilidades. 5.3 Planejamento Após a organização definir a política ambiental e seu objetivo, está na hora de elaborar uma constelação de métodos/técnicas para o estabelecimento e operação do sistema de gestão ambiental, que integraliza a política ambiental da empresa (SENAI, 2003). O planejamento requer que o empreendimento se prepare ou planeje, porque precisa pensar nos requisitos legais da sua atividade, bem como nos riscos e oportunidades. A cláusula “Planejamento” tem duas subcláusulas: 1. Ações para abordar riscos e oportunidades 2. Objetivos e planejamento para alcançá-los O planejamento garante que a organização tenha blocos de construção em vigor para determinar que suas etapas contribuam para atingir os resultados pretendidos, por meio da inclusão de requisitos específicos em torno da identificação e investigação de riscos. O que se observa, então, é que uma das subcláusulas do item planejamento orienta a corporação a considerar as possibilidades tecnológicas existentes no mercado (e no seu orçamento). Nesse sentido, a organização precisa planejar ações para tratar os riscos e oportunidades. Como assim? O gerenciamento de riscos é vital para todas as organizações em todos os setores. É intrínseco à conformidade, reputação, crescimento e lucratividade, e seu manuseio adequado nas áreas de saúde, segurança e meio ambiente pode contribuir muito para o sucesso geral. De acordo com Barbieri (2016), no caso da ISO 14001, a empresa deve buscar os aspectos ambientais de seus produtos, serviços e atividades, no sentido de controlá-los. Por isso, a norma identifica três fontes possíveis que apresentam riscos e oportunidades para o negócio: 1) aspectos ambientais, 2) obrigações de conformidade e 3) requisitos da revisão de contexto. Por fim, temos os objetivos ambientais, que a empresa deve imputar nas atividades e níveis fundamentais, buscando considerar os seus aspectos ambientais significativos e suas as obrigações de conformidade associadas, considerando seus riscos e oportunidades (BARBIERI, 2016). Atenção: Exemplos de objetivos ambientais · Reduzir o uso de eletricidade em 18% até 03/2023. · Reduzir o uso de gás natural em 23% até 12/2025. · Eliminar o uso de CFCs até 06/2022. · Reduzir os resíduos de cromo na área de galvanização em 28% até 05/2024. Ao planejar como atingir seus objetivos, a empresa deve definir o que será feito, quais mecanismos serão necessários, quem será o encarregado, um prazo e como os resultados serão avaliados, incluindo indicadores para acompanhar o progresso, no que se refere aos objetivos mensuráveis. A elaboração da lista de objetivos deve levar em consideração os requisitos legais e outros associados, considerando riscos e oportunidades. Além de coerentes com a política ambiental, os objetivos devem ser determináveis, acompanhados, comunicados e atualizados, devendo ainda serem mantidas informações documentadas sobre eles (Barbieri, 2016). Gerenciamento de riscos (vídeo) Aspectos e impactos ambientais (vídeo) 5.4 Apoio ou suporte O suporte diz respeito à execução dos planos e processos que permitem a uma organização cumprir seu sistema de gestão. Simplificando, é um requisito muito importante que dá significado a todas as necessidades de recursos do sistema. As organizações precisarão determinar a competência necessária das pessoas ao realizarem trabalhos que afetem o desempenho da empresa, assim como sua capacidade de cumprir obrigações de conformidade e garantir que os funcionários recebam um treinamento adequado. Além disso, as organizações precisam garantir que todos os seus colaboradores estejam cientes da política ambiental da empresa, de como cada uma de suas funções enquanto colaborador pode impactar nisso e das implicações de não estar em conformidade. A cláusula “Apoio” tem cinco subcláusulas: · Recursos · Competência · Conscientização · Comunicação · Informação documentada Figura 10 - Apoio Nessa etapa, é importante reunir recursos físicos, financeiros e humanos para atender aos objetivos e metas da organização. Um sistema eficaz de gestão ambiental de qualidade não pode ser mantido ou melhorado sem recursos adequados. Mas a que tipo de recursos podemos estar nos referindo? Um bom exemplo são habilidades e conhecimentos especializados. Entretanto, fazem parte dos recursos, também, as edificações, equipamentos, recursos humanos, recursos naturais, infraestrutura, tecnologia e recursos financeiros. A empresa precisa desenvolver habilidades necessárias em seus colaboradores ao realizarem trabalhos que podem afetar o desempenho da empresa e sua eficácia em obedecer a obrigações de conformidade. Dessa forma, a organização assegura que seus colaboradores sejam habilitados, considerando a educação prévia, treinamento e experiência apropriados. Os requisitos de competência da norma ISO 14001 aplicam-se às pessoas que, trabalhando para uma organização, afetam seu desempenho ambiental, incluindo: · aqueles cujo trabalho tem potencial para causar um impacto ambiental significativo; · aqueles a quem são atribuídas responsabilidades pelo sistema de gestão ambiental, incluindo: · responder a situações de emergência; · realizar auditorias internas; · determinar e avaliar os impactos ambientais ou obrigações de conformidade; · contribuir para a realização de um objetivo ambiental; · realizar avaliações de conformidade. O treinamento exigido das pessoas é definido pelas regulamentações federais, estaduais (ou provinciais) e locais. Por exemplo, muitos países têm requisitos específicos de treinamento para funcionários que manuseiam, usam ou armazenam materiais perigosos. A educação ambiental é um elemento importante que precisa ser inserido nos programas de treinamento, pois é um requisito legal no Brasil. De fato, a Lei nº 9.795, de 1999, tornou a educação ambiental um elemento importante em um processo educacional mais geral, precisando fazer parte do sistema educativo de todos os níveis e modalidades de ensino, quer seja formal e/ou não formal (Barbieri, 2016). O treinamento, porém, é muito mais do que ensinar pessoas. É promover o engajamento de toda a comunidade dentro da empresa. É conscientização! Assim, o gestor precisa apresentar opções de curso de qualificação e meio ambiente. Hoje, muitos profissionais já falam sobre o efeito estufa, aquecimento global e seus resultados para a sociedade. Em todo caso,pergunte aos funcionários de sua empresa se eles sabem quais são os gases que contribuem para o efeito estufa e quais os impactos desse fenômeno em suas vidas pessoais. Os trabalhadores devem estar cientes de sua contribuição para que o SGA funcione de forma eficaz. Isso significa dizer que ele tem que conhecer o impacto de suas tarefas no desempenho ambiental da corporação, assim como deve saber sobre as consequências da não conformidade com os requisitos do SGA. Não adianta, contudo, que o gerente se organize para oferecer um excelente curso sobre as formas de manipulação da água quente de uma caldeira e não divulgue a informação aos interessados. A comunicação efetiva é importantíssima para um sistema de gestão. Cabe ao pessoal de SGA definir como será feita a comunicação adequada. As comunicações serão verbais, escritas ou eletrônicas? Quais os recursos disponíveis na empresa para atender a esse requisito? O gerente também poderá lançar mão de ferramentas como e-mails, boletins informativos, quadros de avisos e até mensagens televisionadas. O sistema de gestão ambiental da organização deve incluir informações documentadas, exigidas pela norma ISO 14001 e também determinadas pela organização como necessárias para a eficácia de seu sistema de gestão ambiental. Ao criar e atualizar as informações documentadas, a organização deve garantir a identificação e descrição adequadas (por exemplo, data, autor, número de referência e título), formato (como versão do software, idioma e gráficos) e mídia (por exemplo, papel ou digital). Ela também deve garantir que ocorra revisão e aprovação apropriadas para essas adequações. Como fazer isso? É simples: é o que você já faz em seu dia a dia, em casa ou no trabalho. Crie procedimentos para criar e modificar documentos. A informação deve ser documentada “por uma organização”, e não “pela organização” à qual o sistema se refere. O que isso quer dizer? Que a empresa pode utilizar um servidor externo, como uma nuvem. E mais: isso pode ser feito em vários formatos, como papel, eletrônico, amostras, fotos, vídeos etc. Na nova versão da norma, a empresa deve entender que a documentação, seu manuseio e organização devem ser itens necessários para a eficácia do sistema. Comunicações(vídeo) 5.5 Operação A operação trata da efetivação do planejamento e dos processos que permitem à organização cumprir seus objetivos, quer sejam ambientais ou de qualidade. A partir dessa etapa, os requisitos de planejamento e controle operacional dos processos são explicitados. Existem requisitos específicos relacionados ao controle ou influência exercida sobre os processos terceirizados e ao requisito de considerar certos aspectos operacionais “consistentes com uma perspectiva de ciclo de vida”. Na ISO 14001, a cláusula “Operação” tem duas subcláusulas: · Planejamento e controle operacional · Preparação e resposta a emergências Depois que você pensou em quem vai trabalhar em qual área fazendo o quê, definiu como será a comunicação das atividades e organizou a documentação, resta colocar suas ideias em prática, não é mesmo? Como será o controle das atividades, para que elas não gerem impactos ambientais? Cada empresa tem que desenvolver a sua própria fórmula. Figura 11 - Operação Fonte: Daria Shevtsova/pexels.com. A primeira seção da ISO 14001 representa basicamente as partes de controle operacional e planejamento de emergências da norma atual – a “casa de máquinas” de produção e controle (DNV GL, 2015). Portanto, o objetivo do controle operacional é o estabelecimento, implementação, controle e manutenção dos processos necessários para atender aos requisitos do SGA. A empresa deve controlar as alterações planejadas e examinar criticamente os resultados daquelas que não foram planejadas, buscando tomar atitudes para mitigar quaisquer efeitos negativos, caso sejam necessárias. Como nos diz Barbieri (2016), o tipo e a extensão dos controles operacionais dependem da natureza e escala das operações, dos aspectos e impactos determinados como significativos, dos requisitos legais e dos voluntariamente adotados, visando atender a necessidades e expectativas dos stakeholders. Atenção: Ao decidir quais atividades precisam ser controladas, olhe além da produção de rotina no chão de fábrica. Atividades como manutenção, gerenciamento de contratados no local e relacionamentos com fornecedores ou vendedores podem afetar significativamente o desempenho ambiental de sua organização. Você sabia que a versão de 2015 da ISO 14001 trabalha com o conceito de ciclo de vida do produto? Você sabe o que isso significa? O ciclo de vida é o processo pelo qual um produto passa desde quando é introduzido no mercado até seu declínio ou retirada de circulação. O ciclo de vida tem quatro estágios: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Mas atenção: o novo padrão não está dizendo que você tem de fazer uma análise formal do ciclo de vida; apenas sugere que as organizações olhem a montante e a jusante dos processos e tentem restringir os impactos ambientais. Nesse sentido, é importante dar uma consideração cuidadosa aos estágios do ciclo de vida, já que a organização pode controlá-lo ou influenciá-lo, incluindo a aquisição de matérias-primas, produção e transporte, uso e manutenção e reciclagem ou descarte. Por fim, dentro do item implementação e operação, é fundamental encontrar maneiras de oferecer resposta às emergências pontuais, pois mesmo que se estabeleçam critérios de controle e organize-se treinamento para os funcionários, sempre há risco de acontecer uma emergência, e toda a equipe tem de estar preparada para resolver a situação rapidamente. Para Barbieri (2016), emergências podem acontecer mesmo quando a empresa tem o seu licenciamento ambiental em dia e todas as autorizações legalmente necessárias, tendo buscado tomar todos os cuidados necessários para a proteção de sua infraestrutura, funcionários, população e ambiente do entorno. Por isso, é aconselhável que uma organização elabore um “plano de emergência” e considere os diferentes níveis de desastre – incluindo o pior cenário. Por exemplo: vale a pena observar que, mesmo se uma situação de incêndio for tratada corretamente pelo serviço de bombeiros, podem ser causados problemas ambientais por causa da água utilizada. Essa água, contaminada por produtos de combustão, pode entrar em canais, córregos e drenos, e os planos de emergência devem levar isso em consideração. Desse modo, é fundamental que seja feita a análise e revisão da importância de aprender com os incidentes enfrentados, procurando testar regularmente as ações de resposta planejadas. No caso de quase acidentes, é importante que tais eventos potenciais sejam registrados e revisados e não ocultados ou simplesmente esquecidos. Tais incidentes indicam áreas de risco que, em outras ocasiões, podem se transformar em acidentes ambientais. Pode haver situações em que o teste em escala real não seja prático, e, portanto, devem ser considerados exercícios menores. Aqui, coloco algumas perguntas que é importante se fazer: · As pessoas-chave podem ser contatadas fora do expediente? · Se o pessoal estiver ferido, os parentes podem ser contatados? · As chaves para certas áreas (por exemplo, depósitos de solventes) estão disponíveis fora do horário? · As férias ou ausências por motivo de doença são cobertas por pessoal alternativo? · Os serviços de emergência podem acessar o site – dia ou noite? · Os hidrantes da organização funcionam corretamente? Eles são mantidos e testados? O encaixe do hidrante é adequado para as mangueiras dos bombeiros? · Gases tóxicos podem ser desprendidos durante um incêndio. Se sim, quais são esses gases? Em que direção está o vento predominante? Qual é a área provável que precisará ser evacuada por razões de segurança e ambientais? Que informações serão fornecidas à polícia local em tal evento? Saiba mais: É interessante assistir ao vídeo da Petrobrás com a simulação de um caso de emergência: www.youtube.com. 5.6 Avaliação do desempenho A avaliaçãodo desempenho é um item que, embora novo, agrega inúmeros itens separados na versão anterior, como monitoramento, medição, auditoria interna e análise crítica, de forma que não há diferenças significativas entre as versões. A cláusula “Avaliação de desempenho” tem três subcláusulas: · Monitoramento, medição, análise e avaliação · Auditoria interna · Análise de gestão Figura 12 - Avaliação de desempenho Fonte: Anna Shvets/pexels.com. Segundo Barbieri (2016), após implantar o sistema de gestão, é importante que se proceda com o monitoramento, no sentido de se identificar problemas e elaborar propostas para sua melhoria. A avaliação do desempenho faz parte do processo de controle, que corresponde ao C (de checar, verificar) do ciclo PDCA. Então, para início de conversa, é fundamental saber que a organização deve medir, monitorar, avaliar e controlar o seu desempenho ambiental. Mas o que, exatamente, deve ser monitorado? Depende do tipo de atividade da empresa. A corporação também deve determinar os métodos de monitoramento, medição, análise e avaliação para garantir resultados válidos. Nesse sentido, a organização deve asseverar que equipamentos que visam a medição e o monitoramento estejam bem calibrados ou verificados (FIESP, 2015). Uma vez que o sistema é implementado, a ISO requer seu monitoramento permanente, bem como revisões periódicas para: · avaliar a eficácia do SGA implementado. · avaliar objetivamente o quão bem os requisitos mínimos da norma são cumpridos. · verificar até que ponto os requisitos organizacionais, das partes interessadas e legais, foram atendidos. · revisar a adequação, eficácia e eficiência do SGA. · comprovar que o planejamento foi executado com sucesso. · aferir o desempenho dos processos. · identificar as oportunidades ou necessidades de melhorias no sistema de gestão. E mais! Qualquer forma de monitoramento precisa ser registrada, em relatórios, planilhas e documentos gerenciais. Uma forma de registrar é através de fotografias dos treinamentos, nos quadros de avisos da empresa, ou até mesmo o gerente pode criar um blog para a discussão dos resultados das atividades do sistema de gestão. Como bem deixa clara a norma, os registros são indicadores/evidências de operação contínua do sistema de gestão. Mas é preciso inventariar tudo! Deve-se criar e conservar registros que corroboram a efetiva execução dos procedimentos. É bem verdade que a norma ISO 14001 não diz como o monitoramento precisa ser realizado, nem quais os parâmetros que podem ser analisados, mas recomenda o uso da norma ISO 14031. É bom deixar claro que o uso da norma ISO 14031 não é obrigatório, mas a mesma apresenta diretrizes e recomendações que facilitam a determinação de indicadores para fins do SGA. Segundo a própria norma (ABNT NBR ISO 14001), a metodologia que a empresa vai utilizar para medir, monitorar, avaliar ou analisar deve ser definida no SGA. Atenção: Qual a diferença entre controle operacional e monitoramento? Monitorar um processo significa acompanhar a evolução dos dados, ao passo que controlar um processo quer dizer mantê-lo dentro dos limites preestabelecidos (Bertolino; Couto, 2019). Vamos ver um exemplo? Quando uma empresa recebe a licença prévia para a instalação de uma hidrelétrica, é fundamental que faça um levantamento dos parâmetros de qualidade da água do rio, tanto a jusante quanto a montante da barragem, durante a instalação e operação do empreendimento. Há, ainda, a necessidade de um controle da qualidade da água. Será que o oxigênio dissolvido na água será adequado para os peixes após a implantação do empreendimento? Essa pergunta somente pode ser respondida com a análise química da água do rio (o monitoramento). A organização deve realizar auditorias internas, com periodicidade planejada, no sentido de apresentar dados e informações para avaliar se o SGA está em conformidade com os requisitos da ISO, seus próprios requisitos (estabelecidos na política ambiental) e até mesmo se o SGA está efetivamente implementado e mantido. Outra cláusula presente no item monitoramento é a questão da análise crítica pela direção, que visa garantir a adequação, a suficiência e a eficácia do SGA. É importante que a alta administração da empresa revise seu próprio sistema de gestão, periodicamente, para assegurar sua contínua adequação e eficácia (ABNT NBR ISO 14001). Cabe à alta cúpula corporativa envolver-se no projeto ambiental da empresa e buscar oportunidades para identificar melhorias que podem ser feitas e/ou quaisquer alterações importantes, incluindo os recursos necessários. Você sabia que a análise crítica feita pela liderança corporativa deve levar em consideração a adequação de recursos e a comunicação relevante das partes interessadas, incluindo queixas de seus stakeholders? A análise crítica da gestão deve, então, incluir informações sobre o desempenho ambiental da organização no que se refere a: · não conformidade e ações para correção; · resultados de medição e monitoramento; · execução de suas obrigações de compliance; · resultados da auditoria. Compliance: É estar em conformidade com leis e regulamentos. Fonte: www.siteware.com.br Atenção: Não existe uma maneira correta de realizar uma revisão da gestão, ou seja, ela deve se adequar à cultura e aos recursos da organização. Etapas de uma auditoria 5.7 Melhorias Após o estabelecimento de monitoramento, análises da alta cúpula e identificação de avanços ou retrocessos, está na hora de buscar oportunidades de melhoria e estabelecer as ações essenciais para alcançar os resultados planejados. Depois da alta cúpula ter feito suas análises, podem ter sido identificados equívocos na construção de objetivos ou processos produtivos que causaram impactos ao ambiente ou, ainda, alguma meta que não foi alcançada. A cláusula “Melhorias” tem três subcláusulas: · Geral · Não conformidade e ação corretiva · Melhoria contínua Figura 13 - Melhorias Fonte: Andrea Piacquadio/pexels.com. É fundamental que a empresa considere os resultados da análise e avaliação do desempenho, avaliação da conformidade, auditorias internas e análise crítica da administração ao tomar medidas para melhorar. Mas e quando ocorre uma não conformidade? Nesse caso, a organização deve enfrentar a situação, tomando medidas para controlá-la e corrigi-la. Deve lidar com as consequências, incluindo a mitigação de impactos adversos. De acordo com Donaire e Oliveira (2018), a ideia de não conformidade está associada à identificação de culpa, mas é mais correto dizer que o controle falhou ou não foi eficaz. De qualquer forma, a identificação do problema pode surgir tanto durante o monitoramento quanto na medição ou na auditoria. Qualquer tipo de não conformidade pode ter um impacto ambiental maior em uma usina nuclear do que em uma instalação de varejo de peças de automóveis; no entanto, se você receber uma não conformidade, poderá ser reprovado na auditoria 14001 de qualquer maneira. Portanto, é de vital importância que você busque operar de forma correta em sua organização. Uma novidade da nova estrutura é a cláusula da melhoria contínua, que resume adequadamente o objetivo principal de SGA: melhorar incessantemente a suficiência, a pertinência e a eficácia do SGA para melhorar o seu desempenho. Mas fique atento: não espere conseguir melhorias em todas as áreas da corporação ao mesmo tempo. É importante estabelecer prioridades! A expressão “melhoria contínua” é usada para identificar a necessidade de melhorar sistematicamente diferentes processos dentro do SGA, a fim de alcançar melhorias gerais. EXEMPLO: Uma organização pode ter como objetivo reduzir sua quantidade de resíduos para aterro. Uma meta de redução de 50% pode ter sido alcançada em um período de cerca de três anos, sendo essa uma conquista ambiental louvável. Entretanto, pode ser que reduzir ainda mais essa quantidade não seja adequado, considerando o custo-efetivo. A organização pode muito bem sofrer financeiramente para continuar nessa direção. A intenção da ISO 14001 é reconhecer isso, buscandoque a organização se concentre em áreas diferentes para, assim, promover uma melhoria contínua. Recapitulando a Unidade 2 Um sistema de gestão é formado por processos sistemáticos projetados para gerenciar as políticas, procedimentos e processos de uma organização e promover a melhoria contínua dentro dela. Um sistema de gestão ambiental pode ser desenvolvido em conformidade com o padrão ISO 14001 como parte da estratégia de uma organização para implementar sua política ambiental e atender às regulamentações governamentais. Um SGA concentra os recursos no cumprimento dos compromissos identificados na política da organização, por exemplo, reduzir ou eliminar os impactos ambientais negativos de seus produtos, serviços e atividades e/ou aumentar seus efeitos positivos. Unidade 3 – Certificações ambientais 6 Panorama das certificações ambientais no Brasil Desde a Conferência de Estocolmo, a apresentação do relatório Nosso Futuro Comum, a realização da Rio-92 e da Rio+20, o mundo tem buscado uma melhor relação entre desenvolvimento e proteção ambiental. É dentro desse contexto que se compreende o crescimento das normas técnicas para a certificação ambiental, que foram, no início, mais efetivas nos países centrais, mas que tem avançado nos países periféricos, onde as organizações buscam o mercado consumidor da Europa e Estados Unidos. A autodeclaração de conformidade é realizada por meio de avaliações conduzidas pela própria organização que gerou o SGA ou por uma organização externa em seu nome. Vejamos, agora, os conceitos que envolvem essa autodeclaração: · Certificação: modo pelo qual uma terceira parte garante que a empresa em um SGA em conformidade com os requisitos especificados. · Terceira parte: organismo ou pessoa reconhecido/identificado como independente das partes envolvidas no que se declara a um dado assunto. · Registro: procedimento pelo qual um organismo indica as características pertinentes de um produto, processo ou serviço. Figura 14 - Certificações ambientais Fonte: anyaberkut/istockphoto.com. As certificações formais concretizam-se por meio da concepção e desenvolvimento de um SGA voltado a orientar as corporações a se adequarem às normas de aceitação e reconhecimento internacional. Esses mecanismos de certificação podem servir aos interesses e estratégias empresariais, como no caso de publicar seu comprometimento ambiental para atingir determinado mercado consumidor. Em 1992, o British Standards Institution publicou a primeira norma de sistemas de gestão ambiental do mundo, a BS 7750, no Reino Unido, transformando a Europa no primeiro continente a buscar formas efetivas de cumprir os acordos estabelecidos na Rio-92. Atenção: A BS 7750 contém especificações para a implementação, desenvolvimento e manutenção de SGA, a fim de proteger e demonstrar conformidade com as preocupações das empresas em relação às suas políticas e objetivos ambientais. É importante destacar que, já no início de sua concepção, a BS 7.750 não busca estabelecer critérios de desempenho ambiental específicos, mas busca exigir que as empresas criem uma política ambiental que leva em consideração efeitos ambientais significativos. Em 1993, a Comissão Europeia produziu um regulamento sobre gestão ambiental e auditoria, o Regulamento de Ecogestão e Auditoria, que incluía um sistema de gestão ambiental. Era o Eco-Management and Audit Scheme, mais conhecido como Emas, que começou a operar um ano depois. A sua proposta era estabelecer especificações para sistemas voluntários de gestão ambiental nas empresas que operavam na União Europeia. Eco-Management and Audit Scheme É uma ferramenta comunitária de gestão para empresas, que tem como objetivo avaliar, planificar e melhorar a performance ambiental dessas mesmas empresas. Inicialmente, regulamentava o setor industrial, mas alargou-se sucessivamente e hoje incorpora outros setores de atividades, dentro dos setores públicos e privados. O Emas é um dispositivo de gestão de prêmios para empresas que busca analisar e melhorar o comportamento ambiental da organização, tendo aplicabilidade global e envolvendo vários setores produtivos e de serviços. A oferta de informações sobre o desempenho ambiental de uma organização é um aspecto importante do Emas. As organizações, assim, obtêm maior transparência tanto externamente, por meio da declaração ambiental, quanto internamente, por meio do envolvimento ativo dos funcionários. Figura 15 - Eco-Management and Audit Scheme Fonte: Commission européenne - European commission - web: ec.europa.eu - ec.europa.eu/info/legal-notice_fr, CC BY 4.0. Saiba mais: Sua empresa tem a proposta de exportar para a União Europeia? Então, fazer parte do Emas pode ser uma porta de entrada importante. Saiba mais em: ec.europa.eu. Na mesma época da criação da Emas, a Organização Internacional de Padronização criou um novo comitê técnico, conhecido como TC 207, para desenvolver um padrão SGA internacional junto com outros padrões sobre ferramentas e técnicas de gestão ambiental. Mas e o Brasil? Há um conjunto de empresas que vêm desenvolvendo procedimentos para se adequar à ISO 14001, mas alguém ainda precisa dizer se elas estão atendendo a esses requisitos ou não. Por isso, foi desenvolvido um Sistema Brasileiro de Certificação Ambiental, criado pela Resolução Conmetro nº 07, de 24 de agosto de 1992. O Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) é responsável pela gestão do Sistema Brasileiro de Certificação (SBC) e pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). É bom não confundir esses órgãos. O SBC é constituído por diferentes organismos: · Comitê Brasileiro de Certificação (CBAC), com a função de criar e avaliar os programas de certificação de conformidade. · Inmetro, que é responsável pelo reconhecimento internacional do sistema brasileiro. · Organismos de Certificação Credenciado (OCC), reunindo entidades que concedem as certificações de conformidade. · Organismos de Treinamento Credenciado, reunindo organismos que treinam colaboradores no âmbito do SBC. O que é preciso para obter uma certificação no Brasil? Que um Organismo de Certificação Credenciado certifique sua empresa. A certificação pode ser de um produto, de pessoa ou de um SGA. Caso você deseje a certificação do seu SGA, deve procurar um Organismo de Certificação Ambiental (OCA). Mas você já parou para pensar em quem certifica um OCC? É o Inmetro. Para ser um OCC, é preciso passar também pela acreditação, que é a formal constatação, realizada por um órgão governamental competente, de que uma pessoa, organismo ou organização está atendendo aos requisitos previamente definidos por regulamentos e leis para realizar atividades específicas de modo confiável. Um desses requisitos é a independência dos organismos acreditados, impedindo que eles sejam contratados para auxiliar a organização em relação ao objeto da certificação, visando facilitar a avaliação da conformidade (BARBIERI, 2016). Um OCC tem de atender a critérios previamente estabelecidos em documentos normativos pelo órgão governamental competente. Cada país tem procedimentos próprios para acreditar e controlar as ações de certificação de terceira parte, embora haja um amplo esforço internacional para conciliar critérios e procedimentos provenientes da ISO, da International Eletrotechnical Commission (IEC) e do International Accreditation Forum (IAF). Uma certificadora pode emitir certificados de conformidade válidos no Brasil, mas perceba que uma OCA é bem mais autopromocional quando tem voz de certificação em vários países. Por isso, as OCAs têm como prática obter acreditação em vários países, para que seus certificados emitidos tenham uma aceitação mais ampla. Uma OCA acreditada apenas pelo Inmetro terá menos apelo promocional do que outra que ostente, em seu portfólio, acreditação pelo RAB norte-americano, DAR alemão, JAB japonês e outros órgãos credenciadores de importância reconhecida mundialmente (BARBIERI, 2016). OCC (Organismos de Certificação