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DIREITO DAS SUCESSÕES - HERANÇA CONCEITO Disciplina a transmissão dos bens, valores, direitos e dívidas deixados pela pessoa física aos seus sucessores, quando falece. Para que haja a sucessão hereditária são necessários dois requisitos: primeiro, o falecimento da pessoa física (de cujus); segundo, a sobrevivência do beneficiário, herdeiro ou legatário (princípio da coexistência – CC, art. 1.798). OBS: Em relação às dívidas, não pode haver sucessão danosa, não pode alcançar o patrimônio pessoal de seus sucessores. BENS Os bens jurídicos de natureza não patrimonial extinguem-se com a morte de seu titular. Há bens patrimoniais que se extinguem com a morte do titular, como os direitos reais de uso, usufruto e habitação (CC, arts. 1.410, 1.413 e 1.416) ou o direito de preferência (CC, art. 520). Há bens patrimoniais que não se transferem em sua integralidade, a exemplo dos herdeiros de sócio de sociedade empresária, pois a respectiva quota deve ser liquidada, transferindo- se o valor, mas não a titularidade (CC, art. 1.028), salvo se, por acordo com todos os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido. ABERTURA DA SUCESSÃO/SAISINE -> Art. 1.784 e 1.785 CC Abre-se com o momento da morte do seu autor e no lugar do último domicílio dele (Art.º 2031 CC) Apenas herdam os que sobreviveram (nascidos ou concebidos) e não os que faleceram antes dele ou foram concebidos após, com o uso de técnicas de reprodução assistida (princípio da coexistência). Adquire-se a herança, automaticamente, com a abertura da sucessão. (saisine) Ainda que o herdeiro não tenha conhecimento da abertura da sucessão, a transmissão dá-se a seu favor, desde o preciso momento da morte do autor da herança. A saisine é o mecanismo jurídico de investidura automática e legal na titularidade da herança. MORTE A morte pode ser real ou presumida. Morte Real - é a que se constata efetivamente no corpo da pessoa, com a extinção da vida. - art. 3º da Lei 9.434 de 1997 Morte Presumida - Pode ocorrer que termos a certeza do falecimento de alguém, sem, porém, ter sido possível encontrar o corpo do de cujus. - É necessário realizar o procedimento de justificação de óbito. - Art 7º CC A comoriência é a simultaneidade das mortes de duas ou mais pessoas. Nos casos de comoriência entre ascendentes e descendentes, ou entre irmãos, reconhece-se o direito de representação aos descendentes e aos filhos dos irmãos. O direito brasileiro também admite a presunção definitiva da morte da pessoa desaparecida. ATENÇÃO!!!!! Morte da pessoa desaparecida A data provável do falecimento deve ser preferencialmente a da ocorrência do fato ou da tragédia e não do encerramento das buscas. A sentença judicial tem o mesmo efeito da certidão de óbito, inclusive para os fins de inventário e partilha dos bens deixados. SUCESSÃO PROVISÓRIA -> Art 26 CC A morte pode ser presumida em virtude de ausência, tendo por efeito a abertura da sucessão. A ausência é o desconhecimento, por longo período de tempo, do paradeiro de uma pessoa, por seus parentes e conhecidos. Quando a ausência for configurada em juízo, a sucessão hereditária da pessoa será aberta em caráter provisório e, também, definitivo, ainda que seus efeitos possam ser alterados, se a pessoa reaparecer. A ausência deverá ser declarada judicialmente, em processo promovido por interessados (herdeiros, legatários, credores) ou pelo Ministério Público. A sucessão definitiva ocorre após o cumprimento do prazo de dez anos da sucessão provisória. (Art. 37 CC) OBS: O prazo de dez anos será dispensado se o ausente tiver desaparecido quando já contava setenta e cinco anos. Nesse caso, a sucessão será definitiva, sem necessidade da sucessão provisória, passados cinco anos do desaparecimento, ou seja, quando tiver atingido a idade de oitenta anos. (Art. 38 CC) TIPOS DE HERDEIROS Pessoas nascidas, bem como aquelas já concebidas no momento da abertura da sucessão. Herdeiros legítimos: Art. 1798 São os herdeiros resguardados por lei, conhecidos como herdeiros legais, os quais compreendem descendentes diretos, cônjuge/companheiro, ascendentes e colaterais. (Art 1788 e 1.829 CC) Requisitos: Pessoa viva ou nascituro Capacidade especifica Não ser indigna (excluídos da sucessão) Podem ser: necessários ou facultativo/colaterais Herdeiro necessário -> São os herdeiros, os descendentes, os ascendentes e cônjuge/companheiro, aos quais são reservados 50% da herança do falecido. (Art. 1789, 1.845 a 1847 CC) Herdeiro facultativo/colateral -> São os irmãos, primos, sobrinhos e tios. A herança deles pode ser afastada sem que haja uma especificação ou justificativa. (Art 1850 CC) Herdeiro testamentário: São os herdeiros que estão presentes no testamento do falecido, podendo ser qualquer pessoa desde que prevista no testamento. (Art. 1.786 e 1857 CC) Podem ser: intituidos ou legatários Herdeiro legatário -> Sucede de forma singular. São os herdeiros que recebem um bem específico, onde antes da morte o autor deseja dar como herança a determinado herdeiro, o qual independe de ascendência ou descendência. Herdeiro instituído -> Sucede de forma universal, ou seja, o herdeiro irá receber todos os bens. ATENÇÃO!!!! Ninguém representa o de cujus. A morte faz desaparecer a pessoa física, o que impede a representação. OBS.: Além disso, podem ainda ser chamados a suceder, em relação à sucessão testamentária (Art. 1799 CC): ● os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; ● as pessoas jurídicas; Em relação aos filhos ainda não concebidos citados acima, os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, ao curador nomeado pelo juiz, que será, em regra, a pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro. A adoção também entra como concepturo. Contudo, caso decorridos 2 anos após a abertura da sucessão, não seja concebido o herdeiro esperado, os bens reservados caberão aos herdeiros legítimos, salvo disposição em contrário do testador. O testador pode nomear um herdeiro substituto para caso passe o prazo de dois anos, ou para caso, o bebe nasça sem vida. Essa nomeação pode ser individual ou coletiva. Caso não tenha um substituto, o quinhão será dividido pelos herdeiros. ACEITAÇÃO DA HERANÇA -> Art. 1.804 a 1.812 CC O herdeiro sucessível, na ordem de vocação hereditária, pode aceitar ou não a herança. A aceitação prévia é tida como juridicamente inexistente e não apenas como inválida ou ineficaz. Diferentemente da renúncia, a aceitação do herdeiro não produz efeitos retroativos. Se o herdeiro não renuncia é porque confirma a definitividade da transmissão, o Código Civil não exige manifestação expressa para a aceitação. Se o herdeiro ou o legatário renuncia, o valor correspondente é acrescido à herança dos herdeiros legítimos. quando é aceita: ● pode ser tácita ou expressa ● efeito ex tunc ● irrevogável ● não parcial ● atos unilaterais ● silêncio aplica aceitação ● o herdeiro não pode colocar condições para aceitar ● não recepticius ● Art 1804 e 1812 CC quando há renúncia: ● formal/expressa ● através de escritura ou termo nos autos ● irrevogável ● não há retratação ● efeito ex tunc ● não recepticius ● unilateral ● translativa ou abdicativa ● Art 1806,1808,1812 e 1813 CC ATENÇÃO!!! Se o herdeiro for menor absolutamente incapaz, a aceitação expressa ou tácita será ato de seu representante legal. Se for relativamente incapaz, será assistido por seu assistente. Caso o herdeiro ocupe duas posições (ex.: necessário + legatário), existe a possibilidade de renunciar a apenas uma dessas heranças. RENÚNCIA TRANSLATIVA -> art 1793 a 1795 CC Transfere o quinhão a outrem, pode ser de forma onerosa ou gratuita ● onerosa (contrato tipo compra e venda) ou gratuita(não pressupõe aceitação, contrato tipo doação) ● a renuncia translativa ocorre antes da partilha e depois da abertura da sucessão ● dois fatos geradores (transmissão entre mortos e outra entre os vivos) ● precisa ser feito através de escritura pública ● necessário especificar para quem será transmitido ● serão duas declarações de vontade, a aceitação da herança e a transferência dela (desse modo, serão dois impostos) ● sendo ONEROSO os co-herdeiros têm preferência ● ATENÇÃO! Outorga conjugal quando o cedente for casado EXCLUIDOS DA SUCESSÃO (INDIGNIDADE) -> Art. 1.814 à 1.818 CC Priva uma pessoa de receber a herança. A exclusão é declarada por sentença. São pessoais os efeitos da exclusão; São excluídos por indignidade os herdeiros ou legatários que: ● houverem sido autores, co-autores ou partícipes em crime de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar (seu cônjuge, ascendente ou descendente) ● houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança, ou incorrerem em crime contra a sua honra (ou de seu cônjuge) ● por violência ou fraude, a inibirem ou obstarem o autor da herança de livremente dispor dos seus bens por ato de última vontade. Deserdação Consiste na perda da herança, por ato de vontade do autor manifestada em testamento. Apenas o herdeiro necessário pode ser deserdado. ATENÇÃO!!! Reabilitação – O art. 1.818 CC permite ao ofendido reabilitar o indigno, desde que o faça de forma expressa em testamento ou outro ato autêntico (ex.: escritura pública). É o perdão do indigno. SUCEDER / REPRESENTAR / ACRESCER: Direito de suceder: Transmissário adquire o direito de suceder relativo à sucessão do primeiro de cuius através da herança do transmitente. Direito de representação: Dá-se o direito de representação quando a lei chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse. Direito de acrescer: Ocorre quando um ou mais herdeiros chamados à herança não a aceitam ou não podem, e existirem outros na mesma classe sucessória. ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA -> Art. 1829 CC Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais. A preferencia é dos descendentes e do cônjuge sobrevivente. Foi adotada pelo STF a tese firmada foi de inclusão do companheiro na ordem do art. 1.829 do Código Civil, equiparado ao cônjuge. Regras: a classe mais próxima afasta a mais remota a admissibilidade de concorrência irá depender do regime de bens cônjuge e companheiro sempre irão concorrer com os ascendentes, independente do regime de bens inconstitucionalidade do art 1790, assim há concorrência entre cônjuge e também ao companheiro liberdade limitada em testar (50%) Regimes em que o cônjuge ou companheiro herda em concorrência Regimes em que o cônjuge ou companheiro não herda em concorrência Regime da comunhão parcial de bens, havendo bens particulares do falecido. Regime da participação final nos aquestos. Regime da separação convencional de bens, decorrente de pacto antenupcial. Regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido. Regime da comunhão universal de bens. Regime da separação legal ou obrigatória de bens. Quando o cônjuge/companheiro é meeiro, não é herdeiro. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO -> Art. 1831 CC O cônjuge/companheiro sobrevivente tem direito de permanecer morando onde já residia o casal. Sendo o imóvel único e residencial. O direito real de habitação é vitalício, inalienável e impenhorável. Independe do regime de bens adotado pelo casal. HERANÇA JACENTE X HERANÇA VACANTE -> Art. 1.819 a 1.823 CC - “Herança jacente" ocorre quando alguém falece não deixando testamento, nem cônjuge sobrevivente e nem parente conhecido para sucedê-lo. - Herança vacante é aquela declarada de ninguém. Como nenhum herdeiro compareceu para reclamar seus direitos, a herança será entregue ao poder público. O pedido para declaração da herança jacente deverá ser formulado pela Fazenda Pública, Ministério Público e/ou interessado por meio de advogado, instruído com a certidão de óbito. A herança jacente ficará sob guarda, conservação e administração de um curador (pessoa responsável pelos bens) até a respectiva entrega ao sucessor legalmente habilitado, ou até a declaração de vacância. Sendo declarada vacância os bens serão incorporados ao domínio da União, do Estado ou Município.