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AULA 1 PROJETOSINTERDISCIPLINARES E EXPERIÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INFANTIL Profª Luciana da Silva Rodrigues A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 2 INTRODUÇÃO Olá, estudante! Nesta aula, vamos ampliar nosso conhecimento e compreender alguns conceitos relevantes à prática com projetos interdisciplinares na Educação Infantil. Vamos compreender o conceito de interdisciplinaridade a partir da diferença de outros termos comuns nos ambientes educacionais: pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, além de como estruturá-los na relação ensino-aprendizagem. Iremos ainda dialogar sobre a ludicidade no contexto da Educação Infantil, que quando integrada aos projetos interdisciplinares favorece a ampliação do repertório cognitivo e sociocultural das crianças. Na sequência, vamos relacionar a prática pedagógica a partir do aspecto interdisciplinar com o intuito de provocar uma reflexão crítica sobre nosso cotidiano. Por fim, trabalharemos a ideia de aprendizagem viva por meio dos projetos interdisciplinares e os eixos estruturantes que orientam a construção do planejamento pedagógico na Educação Infantil. Bons estudos! TEMA 1 – AFINAL, O QUE É INTERDISCIPLINARIDADE? Etimologicamente, a palavra interdisciplinar pode ser compreendida a partir da intenção de troca entre áreas de diferentes conhecimentos, como um processo contínuo que interage entre duas ou mais ideias. Entretanto, na prática, a proposta da interdisciplinaridade é uma tarefa um pouco mais complexa de ser compreendida, uma vez que essa palavra reúne em si diversas possibilidades, e em alguns casos, muitos enganos sobre seu real sentido. Para tanto, vale começarmos a compreender os enganos de interpretação que se dão em decorrência de outros termos também utilizados como forma de articular as interações entre as disciplinas em busca de caminhos diferenciados para o avanço e a construção do conhecimento científico. Portanto, para elucidarmos essa diferença entre os termos multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade, vamos nos basear no modelo organizado por Erich Jantsch (1972). Quando falamos em multidisciplinaridade, nos referimos a um conjunto de disciplinas, ou seja, duas ou mais disciplinas que, aparentemente, não possuem A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 3 uma relação ou ligação, cada uma delas se mantém em sua própria trajetória sem que haja um resultado integrado. Podemos, ainda, compreender a multidisciplinaridade como uma abordagem possível quando há a necessidade de se obter informações de diferentes áreas do conhecimento de um único objeto, ou seja, a observação é realizada por disciplinas isoladas. Por sua vez, a pluridisciplinaridade propõe o estudo de um mesmo objeto por diferentes áreas de conhecimento ao mesmo tempo. Embora haja uma troca entre as áreas, esta relação não é organizada e não possui um único objetivo a ser atingido. Podemos afirmar que a pluridisciplinaridade se difere da multidisciplinaridade em razão de que, para a primeira situação, o objeto de análise é correlato entre as áreas, enquanto que na segunda, ou seja, na multidisciplinaridade, se estabelece uma superposição de disciplinas sem uma conexão aparente. A interdisciplinaridade, foco dos nossos estudos nesta aula, apresenta-se por um formato estruturado, que permite a reciprocidade e a troca de conhecimento entre as disciplinas envolvidas. De acordo com o trabalho interdisciplinar, abre-se a possibilidade de diálogo entre as disciplinas, dando sentido e integrando os conteúdos intencionalmente para o alcance de objetivos estabelecidos no processo. Com isso, automaticamente, temos o esvaziamento de uma prática educativa guiada, em alguns casos, pela fragmentação do saber. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 4 Já a transdisciplinaridade ocorre quando há a interseção dos conhecimentos das diferentes disciplinas. Segundo Nicolescu (2000), Piaget considera a transdisciplinaridade “uma etapa superior das relações interdisciplinares […] que não estará limitada ao alcance de interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas que situará estas ligações no interior de um sistema total, sem fronteiras estáveis entre as disciplinas”. (Nicolescu, 2000, p. 1) De acordo com a Carta da Transdisciplinaridade (1994), em seu art. 5º, destaca-se a prerrogativa de que “a visão da transdisciplinaridade é aberta, ultrapassando o domínio das ciências exatas dialogando com as ciências humanas, a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual”. Pensar a interdisciplinaridade requer uma mudança de postura e atitudes em relação à vivência no processo de aprendizagem, sobretudo, na Educação Infantil. É preciso redimensionar a concepção do currículo na relação entre o novo A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 5 e a tradição, criando novas experiências por meio de atividades lúdicas que auxiliem o processo de aprendizagem, promovendo momentos agradáveis, instigando a curiosidade, incentivando a criatividade e, dessa forma, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da criança. TEMA 2 – O LÚDICO E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sabemos que a ludicidade é um elemento favorável ao desenvolvimento da criança e deve ser utilizada como um recurso pedagógico na promoção da aprendizagem. O conceito de ludicidade está atrelado ao contexto da Educação Infantil por representar uma prática docente que envolve jogos, brincadeiras, atividades criativas, músicas, contação de histórias e danças, com a intenção de promover um ambiente prazeroso, estimulando a construção da autonomia e o aprendizado. Os benefícios do lúdico perpassam todos os estágios da vida, desde a infância até a fase adulta, e não se restringem ao ambiente escolar. Teóricos e pesquisadores como Vygotsky, Piaget, Kishimoto, entre outros reconheceram em suas pesquisas que o ato de brincar estimula e facilita o desenvolvimento social, intelectual, físico e emocional dos estudantes. Podemos elencar alguns destes benefícios: • desenvolvimento cognitivo, motor e da psicomotricidade da criança; • estímulo ao pensamento criativo, fantasioso e imaginativo; • desenvolvimento da autoestima, autonomia, oralidade, expressão corporal e outras habilidades; • favorecimento da socialização; • estímulo ao pensamento lógico e à solução de problemas. Na Educação Infantil, a ludicidade integrada a projetos interdisciplinares torna-se uma estratégia capaz de potencializar e promover a aprendizagem mediada por uma prática educativa intencional, visando a apropriação de conhecimentos por meio de ações que envolvem estudantes, professores e família. A relação que se estabelece entre os diferentes saberes substitui a concepção fragmentada do conhecimento, oferecendo ao educando a oportunidade de articular e ampliar seu repertório cognitivo e sociocultural. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 6 A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. (Brasil, 2018) Ainda conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a criança deve ser compreendida como um ser que observa, questiona, sugere soluções, (re)cria, assimila valores e constrói conhecimentos ao apropriar-se do conhecimento sistematizadoe acessível nas suas relações e interações estabelecidas com base em uma proposta pedagógica intencional, tanto na creche quanto na pré-escola (BNCC, 2018). Vimos, portanto, que a ludicidade é um recurso indispensável nas atividades pedagógicas da Educação Infantil, em razão, sobretudo, de ser um dos fatores que favorecem o desenvolvimento integral da criança. Créditos: Krakenimages.com/Adobe Stock. É preciso entendermos que o lúdico está presente tanto no ato de brincar livre como nas brincadeiras guiadas. As atividades ou brincadeiras livres são aquelas em que a criança deixa fluir sua imaginação, representando e assumindo um determinado papel, ditando as regras e organizando o espaço ao seu redor, seja com brinquedos ou não. Neste momento, a criança exercita sua autonomia e A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 7 recria momentos e acontecimentos já vivenciados por ela, seja na escola, na família ou até mesmo em desenhos e histórias contadas. Essas experiências oportunizam a experimentação do mundo, do reconhecimento de si e do outro, além de internalizar sentimentos e emoções. Embora os momentos reservados às atividades livres devam ocorrer sem – ou com poucas – intervenções, vale reforçar que não são momentos em que a criança deva ficar sozinha ou solta, pois trata-se de momentos ricos em possibilidades para exploração posterior e, portanto, devem ser acompanhadas pelo olhar e observação docente. Créditos: New Africa/Adobe Stock. Em contrapartida, as atividades guiadas são aquelas em que há a intervenção frequente do docente, estipulando-se regras e objetivos previamente definidos a serem atingidos. Sugere-se que as atividades guiadas podem ser elaboradas a partir da observação das atividades livres, como apontado por Fazenda (1987), ao considerar que a sala de aula seja um ambiente em que o autoritarismo é substituído pela livre expressão da atitude interdisciplinar. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 8 TEMA 3 – A APRENDIZAGEM HUMANA E OS SENTIDOS DA ATITUDE INTERDISCIPLINAR Interdisciplinaridade não se ensina, não se aprende, apenas vive-se, exerce-se e por isso exige uma nova Pedagogia, a da Comunicação. (Fazenda, 1979, p. 108) Há muito tempo, estudiosos de diferentes áreas buscam compreender como ocorrem os processos da aprendizagem humana e os elementos que interferem produzindo mais e novos conhecimentos. Recorrendo às Teorias de Aprendizagem, podemos destacar os estudos de Jean Piaget, um dos principais pensadores do século XX e representante da Psicologia da Aprendizagem, responsável pela formulação da teoria sobre a Epistemologia Genética com foco nas estruturas cognitivas. Vale lembrar que muitas investigações realizadas por ele deram origem à linha de pensamento construtivista. Destaca-se ainda, o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), definido por Vygotsky, outro importante teórico dedicado a investigar o desenvolvimento intelectual a partir das interações sociais. Suas pesquisas deram início ao socioconstrutivismo, que defende a importância da interação social mediada como uma intervenção na formação e desenvolvimento do sujeito. Para ele, a criança possui um papel ativo no processo de aprendizagem, embora ela não atue sozinha. De acordo com Präss (2012, p. 19), a criança aprende a pensar criando com a ajuda de alguém e interiorizando progressivamente versões mais adequadas das ferramentas intelectuais apresentadas e ensinadas ativamente por adultos que estão à sua volta. As diferentes correntes teóricas nos mostram que não só na escola, mas também a aprendizagem acontece em diferentes espaços sociais, desde que haja estímulos e experiências reais que possam se conectar com a realidade do mundo em uma constante troca de percepções e significância com tudo aquilo que faz parte da vida coletiva e individual dos sujeitos. Portanto, outros pesquisadores reforçam que a aprendizagem parte da ação e contribuição ativa de outras pessoas e do meio em que se está inserido, por entenderem que a criança é parte ativa no processo de construção do seu próprio conhecimento. Nesse sentido, partindo da perspectiva interdisciplinar entre os saberes, vale citarmos outros teóricos e suas contribuições, que buscam compreender nas dinâmicas e experiências vividas as inter-relações entre diferentes conhecimentos essenciais para darmos sentido à vida. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 9 Quadro 1 – Teóricos Teórico(a) Teoria Síntese Jerome Bruner Aprendizagem por descoberta Enfatiza a aprendizagem pela descoberta ou exploração dirigida visando estimular a participação ativa das crianças. Essa proposta se distancia do ensino por memorização e repetição. Henri Wallon Afetividade na aprendizagem Entende que o desenvolvimento cognitivo é ampliado e sofre influências afetivas e da capacidade de expressar os sentimentos. Essa manifestação afeta tanto crianças como professores em uma troca mútua e constante. Barbara Rogoff Participação guiada Envolve a ação comunicativa e as interações guiadas a partir de valores sociais e culturais. David Ausubel e Joseph Novak Aprendizagem significativa Ambientes estimulantes promovem a aprendizagem significativa. Paulo Freire Dialogicidade Pedagogia da dialogicidade, professores e estudantes aprendem e ensinam em uma relação de respeito e diálogo em busca de uma educação que seja libertadora e emancipadora. Fonte: Rodrigues, 2022. A atitude interdisciplinar é reflexiva, dialógica, cooperativa e alinhada a uma postura de reciprocidade entre os atores da escola, família e comunidade, no sentido de privilegiar a ação e o trabalho coletivo na busca por soluções criativas e novos conhecimentos. Mudar exige coragem e requer uma postura que permita ao docente livrar-se de pensamentos limitantes, sem preconceitos e de insegurança, para então abrir-se ao novo, à troca de experiências e saberes com seus pares. Aprender está relacionado com a elaboração de uma conversação cultural, em que se trata, sobretudo, de aprender a dar sentido, conectando com as perguntas que deram origem aos problemas que abordamos e com as perguntas que os sujeitos se fazem a si mesmos e o mundo, para poder, a posteriori, transferir esse sentido a outras situações. (Hernández, 2004, p. 50) Assim, torna-se possível desmistificar uma das questões mais complexas da atitude interdisciplinar, que resume-se ao fato de que os educadores devem dominar o conhecimento específico das diferentes disciplinas, quando na verdade a ação interdisciplinar revela-se na união dos esforços de professores que desejam romper com o pensamento e a prática (re)produtora da educação compartimentalizada e substituir estes espaços com ações de entrosamento e diálogo, que reflitam em novas posturas de convivência dentro e fora da escola. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 10 Deu-se oportunidade à consciência crítica, e esta não pôde ser mais dominada. A educação libertadora, ao contrário, questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens visando a uma transformação — daí ser uma educação crítica. (Libâneo, 1986 citado por Fazenda, 2013, p. 73) Portanto, para uma aprendizagem real e significativa, é importante a presença do outro, projetando uma verdadeira relação de coconstrução. Por esta razão, as autoras Barbosa e Horn (2012, p. 31) orientam que desenvolver uma pedagogia baseada em projetos possibilita momentos de autonomia e de dependência do grupo; momentos de cooperação do grupo sob uma autoridade mais experiente e também de liberdade; momentos de individualidade e de sociabilidade;momentos de interesse e de esforço; momentos de jogo e de trabalho. Assim, dentro da perspectiva da Educação Infantil, o trabalho docente por meio de projetos não só instiga o protagonismo dos estudantes em suas vivências, como também incentiva as experiências afetivas, sociais, cognitivas, corporais e o entendimento de si e do mundo que os cerca a partir de diferentes linguagens. TEMA 4 – APRENDIZAGEM VIVA POR MEIO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS A palavra projeto nos remete a uma ação intencional, que se propõe a integrar pessoas e significados. As autoras Barbosa e Horn (2012) consideram projeto como um plano de trabalho, ordenado e particularizado alinhados a uma ideia ou objetivo, mesmo que vago. Contudo, sabemos que a prática pedagógica por meio de projetos requer a definição prévia dos objetivos que se pretende com a ação da sistematização e organização da forma de abordagem, dos recursos que serão utilizados, e, sobretudo, definir o ponto de partida, ou seja, o tema gerador ou central, que irá movimentar todos os envolvidos no projeto na busca por respostas à questão suscitada ou novas descobertas. Cabe a nós recordarmos aqui, mesmo que brevemente, as vias pelas quais o termo projeto foi incorporado no meio educacional. No século XIX, o sistema educacional instituía-se pela lógica do modelo tradicional de ensino, caracterizado, sobretudo, pela representação do professor como figura central do processo educativo, detentor de poderes e responsável pelas tomadas das decisões. O ensino era rígido e ritualístico, os estudantes eram receptores dos conteúdos transmitidos sem o direito ao questionamento, a metodologia baseava- se em aulas expositivas e o aprendizado ocorria, principalmente, por meio da repetição e memorização. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 11 Essa realidade era limitante e indignava educadores que ansiavam por mudanças no ambiente educacional, até que ao final do século XIX e no início do XX, foi constituído o movimento denominado Escola Nova. As propostas teóricas e metodológicas emanadas da Escola Nova não eram certamente unas em termos de alternativas pedagógicas, mas em todos os lugares onde se constituiu tinha como objetivo a crítica e a construção de uma visão crítica à escola convencional. Alguns de seus fundadores e principais representantes foram Ovide Decroly (1871 – 1932), Maria Montessori (1870 – 1952) e John Dewey (1859 – 1952), os quais se agruparam em torno de ideias reformistas. No Brasil, por meio da escrita de um documento denominado Manifesto dos Pioneiros da Educação (1932), educadores como Lourenço Filho, Paschoal Lemme, Cecília Meireles e Anísio Teixeira, entre outros, deixando de lado diferenças ideológicas e crenças políticas, agruparam-se em torno de um grande movimento de democratização da educação, uma causa que em seu entendimento beneficiária as crianças brasileiras. (Barbosa; Horn, 2012, p. 16) Este movimento, representado pelos escolanovistas, também conhecido por Escola Ativa ou Escola Progressiva, defendia a ideia de uma educação baseada nos interesses e necessidades dos estudantes, pois entendiam que a educação precisava ser significativa, concreta e conectada ao meio social. Entretanto, no percurso da história, nem tudo ocorreu como esperavam, e alguns obstáculos mudaram os interesses primordiais do que se deseja para o ambiente escolar e, conforme Lourenço Filho (1929), transformaram a proposta pedagógica baseada em projetos em uma unidade didática controlada por temas (controle de temas), tempo de realização, além de guiada por adultos que estipulavam o que serviria ou não como atividade. Por esta razão, falar hoje em implementação de projetos na escola significa não só retomar a ideia inicial, que privilegia o desenvolvimento social, cognitivo, físico e emocional do estudante, mas também considerar que o trabalho com projetos, considerando os elementos representativos aos sujeitos presentes em seu contexto histórico, cultural e social, promove uma aprendizagem significativa pertencente ao mundo real dos estudantes. TEMA 5 – PROJETOS INTERDISCIPLINARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL A partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n. 9394/1996, considera-se a Educação Infantil como parte constituinte da Educação Básica e a fase que compreende às crianças com idade de 0 a 5 anos. No entanto, conforme descrito na BNCC (2018, p. 36), apesar de reconhecida como direito garantido e dever do A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 12 Estado, a Educação Infantil passa a ser obrigatória somente para as crianças nas idades de 4 e 5 anos. É notória a relevância do período referente a toda a fase da Educação Infantil no desenvolvimento e vida das crianças. Nesta fase, a criança tem seu primeiro contato social fora do círculo familiar. É o período em que ocorrem muitas descobertas e experiências que são assimiladas e se perpetuam ao longo de toda a vida. Muitas dessas experiências vividas pelas crianças, quando positivas, são reafirmadas em atitudes que denotam uma postura de autoconfiança, cooperação, respeito, solidariedade e responsabilidade; por outro lado, quando negativas, tendem a reforçar atitudes que indicam insegurança, agressividade, intolerância, indisciplina, medo e outras. Assim, independentemente se positivas ou negativas, as experiências ocorridas durante a infância representam um momento único e de grande significação para a formação integral de cada uma. Desse modo, o ambiente escolar deve estar preparado para dar condições ao desenvolvimento social, cognitivo, emocional e físico dessas crianças por meio de uma prática pedagógica intencional que as estimule quanto à realização de atividades envolvendo a resolução de problemas, o incentivo ao enfrentamento de desafios e a construção de novos significados para a concretização da aprendizagem. Alinhada às expectativas de aprendizagem na Educação Infantil, conforme orientado na BNCC, para que haja intencionalidade educativa, deve-se considerar os seis Direitos de Aprendizagem e desenvolvimento, a saber (BNCC, 2018): 1. Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. 2. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. 3. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 13 4. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. 5. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. 6. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações,brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Para tanto, o trabalho docente por projetos abre-se a infinitas possibilidades de enriquecimento e estímulo ao aprendizado de diferentes conhecimentos construídos na história da humanidade, e oportuniza, por não ser algo linear e fragmentado, a relação do que se está aprendendo por múltiplas linguagens, simultaneamente (re)construindo o aprendizado ocorrido anteriormente. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 14 REFERÊNCIAS BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Projetos Pedagógicos na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular, BNCC. Brasília, 2018. BRASIL. LDB n. 9394/1996. Lei de Diretrizes e Bases. CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE. In: CONGRESSO MUNDIAL DA TRANSDISCIPLINARIDADE, 1, Portugal, 1994. Disponível em: . Acesso em: 4 mar. 2022. FAZENDA, I. C. A. A questão da interdisciplinaridade no ensino. Educação & Sociedade, São Paulo, Cortez/Cedes, n. 27, 1987. _____. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979. _____. Práticas Interdisciplinares na Escola. São Paulo: Cortez, 2013. HERNÁNDEZ, F. Pasion em el processo de conocer. Cuadernos de Pedagogia, n. 332, fev. 2004. LOURENÇO. F. M. B. Introdução ao estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos, 1929. NICOLESCU, B. et al. Educação e Transidisciplinaridade. Brasília: Unesco, 2000. (Edições Unesco). PRÄSS, A. R. Teorias de aprendizagem. (n. l.): ScriniaLibris.com, 2012. Disponível em: . Acesso em: 4 mar. 2022. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com