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TEXTO DE APOIO Nº 2 GERONTOBIOLOGIA - INTRODUÇÃO À BIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO William S. Smethurst Escola Superior de Educação Física Universidade de Pernambuco APRESENTAÇÃO O declínio fisiológico com o avanço da idade é universal entre os seres humanos, embora haja consideráveis diferenças entre indivíduos com respeito à taxa e à extensão desse declínio. Mesmo tratando-se de um fenômeno eminentemente biológico, sofre influência da cultura em que está inserido, como também tem efeitos importantes sobre a mesma. Aqui, faz-se uma abordagem exclusivamente biológica do tema, sem desconhecer que todas as abordagens são complementares e necessárias para a correta compreensão do tema. Este texto trata dos processos subjacentes responsáveis pelo declínio estrutural e funcional com o avanço da idade e suas repercussões orgânicas. O mesmo não pretende ser uma revisão completa sobre o tema, mas uma introdução às bases biológicas sobre as quais a ciência tem construído seu conhecimento acerca do assunto. Abaixo, estão as principais questões que nortearam o seu desenvolvimento: (a) O que é envelhecimento? (b) Por que envelhecemos? (c) Quais são as conseqüências do envelhecimento? A despeito da simplicidade das perguntas, ainda não se tem respostas definitivas para as mesmas. Porém, já se sabe que o envelhecimento, como o conhecemos, poderá mudar radicalmente num futuro talvez não tão distante, graças ao enorme esforço para melhor compreendê-lo e aos muitos avanços científicos em curso. O QUE É ENVELHECIMENTO? Claramente, entre o começo e o fim da vida de um ser se distinguem dois períodos distintos: no primeiro, se observa uma vitalidade ascendente até que seja alcanço o apogeu biológico. Tem como finalidade a perpetuação da espécie através da otimização reprodutiva. O segundo período inicia-se na finalização do crescimento e diferenciação, ou seja, no referido apogeu biológico e finda com a morte. Esse período identifica-se, na maioria dos seres vivos, como o processo de envelhecimento. Assim, é razoável afirmar que o envelhecimento humano é o processo que sucede o teórico cumprimento da finalidade reprodutiva. Nesses períodos destacam-se algumas fases que são francamente identificáveis. Um ser humano que se tornar idoso terá vivenciado todas elas. De uma maneira geral reconhecem-se três fases distintas, são elas: a infância, que vai do nascimento até o início da puberdade, a adolescência, que se estende da puberdade até o completo desenvolvimento dos sistemas orgânicos e a adultícia. Esta última dividindo-se em duas subfases, a adultícia jovem, que corresponde ao apogeu biológico, período de transição entre o fim da adolescência e o início do declínio fisiológico, declínio esse que caracteriza a derradeira etapa da vida, a adultícia envelhecente ou envelhecência. Os três primeiros segmentos da vida, ou seja, a infância, a adolescência e a adultícia jovem, duram em torno de uma década cada e são relativos ao crescimento e desenvolvimento do organismo. O último e mais longo, prolonga-se por várias décadas, se dada a oportunidade. Popularmente, utiliza-se como medida do envelhecimento a extensão do tempo vivido contado por anos, meses e dias, a partir do nascimento - é a idade cronológica. É um conceito independente dos fatores biológicos, sociais e/ou psicológicos. Não é uma medida suficientemente sensível para distinguir as grandes diferenças na funcionalidade entre indivíduos coetâneos (que compartilham a mesma idade), mas que podem ser marcadamente diferentes entre si na idade fisiológica e psicológica. Com a intenção de expandirem o conhecimento sobre os fatores que provocam as mudanças ocorridas com o envelhecimento, os gerontólogos vêm tentando desenvolver medidas mais coerentes e confiáveis para identificar marcadores e assim estabelecer índices de idade funcional e biológica. Esses serviriam de medida da velocidade e da intensidade do processo, ou seja, um meio para avaliar a chamada idade relativa, que seria a comparação dos índices do indivíduo a valores referenciais para a sua idade cronológica. A despeito dos muitos anos dedicados a essa busca, ainda não há consenso em torno de uma medida isolada. Embora pareça obviou que a idade cronológica seja uma medida inadequada para o envelhecimento e que outras sejam necessárias, não existe uma definição unificada para o envelhecimento biológico, o que só confirma a complexidade do fenômeno. POR QUE ENVELHECEMOS? Embora tenha havido nos últimos 30 anos tremendos avanços na compreensão dos mecanismos responsáveis pelo envelhecimento, pouco progresso se fez na formulação de uma teoria única que possa explicar a sua causa. Na verdade, pelas pesquisas mais atuais, não parece tratar-se de um processo biológico singular. A rigor, talvez seja mais apropriado considerar envelhecimento um termo genérico ou guarda-chuva, que cobriria uma ampla variedade de mudanças que ocorrem à nível molecular, celular, tissular e orgânico que, no conjunto, provocam o declínio da capacidade de resposta do organismo às 2 perturbações do equilíbrio homeostático (homeostenose) e por fim a morte. As observações registradas sobre como os seres vivos mudam com a idade são tão numerosas que deram origem a diversas teorias, muitas confirmadas à medida que novos resultados experimentais são relatados. Tais teorias podem ser divididas em dois grandes grupos: as baseadas em eventos propositais, que presumem um plano mestre pré-existente ou a existência de um “relógio Biológico”. Há também aquelas que se baseiam em eventos aleatórios e fortuitos, as chamadas teorias estocásticas. Devido à profusão de teorias e num esforço para se eliminar aquelas cientificamente mais fracas, Bernard Strehler propôs um conjunto de exigências, conhecidas como “Diretrizes de Strehler”, a serem satisfeitas para que uma teoria possa ser considerada sustentável. Para tal, a mesma deve explicar porque o fenômeno é (a) deletério, ou seja, porque ocorrem as perdas funcionais, (b) progressivo, por que as mudanças são graduais, (c) intrínseco, por que as perdas são inevitáveis e (d) universal, por que as perdas ocorrem em todos os membros da espécie. A natureza multifacetada do envelhecimento reflete-se nessa diversidade de teorias propostas. Normalmente, elas não são mutuamente excludentes e muitos dos mecanismos identificados por cada uma delas provavelmente ocorrem sincrônica e simultaneamente a outros mecanismos citados por outras teorias. Para uma melhor percepção do conjunto, pode-se subdividi-las em três classes ou níveis: teorias celulares, teorias genéticas e teorias de controle ou de sistema, como visto a seguir: -Teorias celulares Um dos mais reconhecidos mecanismos proposto para o envelhecimento celular é a oxidação das células por radicais livres, teoria postulada pioneiramente por Harman, em 1956. A Teoria dos Radicais Livres, como é popularmente conhecida, baseia-se na ação de moléculas, especialmente as do oxigênio, com um número desemparelhado de elétrons na sua órbita externa. Essa condição deixa o radical altamente instável, conferindo-lhe reatividade química. Para alcançar estabilidade, o radical livre liga-se a uma outra molécula qualquer, roubando o elétron que lhe falta, o que gera um outro radical livre que dá início a uma cadeia destrutiva de reações oxidativas. Em um organismo jovem e saudável, esse fenômeno coexiste em equilíbrio com mecanismos anti-oxidantes (oxidases de função mista) que neutralizam seu efeito danoso. Tal equilíbrio tanto pode ser rompidopor uma ampla variedade de processos biológicos intrínsecos, quanto pela exposição a fatores ambientais, como agentes tóxicos ou radiações carcinogênicas. Também, existem evidências que o próprio processo de envelhecimento causa declínio na expressão das oxidases, o que permite progressivo aumento do ataque de radicais livres. Entre os danos atribuídos a esses, estão alterações na estrutura do colágeno e da elastina, a destruição de DNA e o progressivo desarranjo do sistema imunológico. 3 Em uma teoria relacionada, Bjorksten propôs, em 1968, que o envelhecimento a nível celular seria causado pela formação de ligações cruzadas de covalentes de hidrogênio entre moléculas adjacentes. A aglutinação de moléculas adjacentes altera suas configurações, o que geralmente tem conseqüências funcionais significativas para a célula. A ligação cruzada agride sua estrutura, promovendo agregação macromolecular, que por sua vez promove estragos no DNA, mutações e morte celular. A teoria sugere que a formação de ligações cruzadas seja o fato precursor da maioria das modificações relacionadas ao envelhecimento. Já que os radicais livres são agentes efetivos de formação de ligações cruzadas, a oxidação por eles gerada pode ser considerada uma manifestação particular dessa teoria. Ambas as teorias, dos radicais livres e das ligações cruzadas, prevêem o acúmulo intercelular de material residual biologicamente inerte. Já em 1911, Stubel identificou a presença de um pigmento, atualmente conhecido como lipofuscina, encontrado em uma grande variedade de tecidos e que se acumula progressivamente com o avanço da idade. Como não está claro se os grânulos de lipofuscina realmente danificam as células impedindo seu funcionamento, o acúmulo desse resíduo talvez seja mais apropriadamente considerado uma conseqüência do envelhecimento celular, não uma causa em si. - Teorias genéticas Em 1981, Medvedev propôs que o envelhecimento ocorreria devido a uma progressiva destruição da seqüência do nucleotídeo do DNA, pela ocorrência randômica de mutações. Esta perda de seqüências únicas (não repetidas) do DNA alteraria a habilidade da célula reproduzir-se e perpetuar sua linhagem ao longo do ciclo de vida. Em contraste com a teoria de Medvedev, Hayflick propôs, já em 1961, que o controle genético do envelhecimento não seria regulado por mutações de ocorrência fortuita, mas ao contrário, a morte celular ocorreria devido a uma seqüência de eventos propositais programados e inscritos no código genético da célula. Ele demonstrou que células cultivadas, humanas e de outros animais, apresentam um limite finito no número de reproduções, o que ficou conhecido como “Limite Hayflick”. Embora seu estudo tenha dado poderosas evidências de que as células envelhecem de maneira ordenada e programada, na época não foi capaz de apresentar o mecanismo que finalmente causaria o dano e a morte celular. Apenas compreendido mais de duas décadas depois, o mecanismo biológico para o limite de Hayflick está na ação dos telômeros, que são extensões de DNA ao término dos cromossomos, que servem como manivelas pelas quais esses são movidos durante a telófase. Eles são encurtados progressiva e irreversivelmente cada vez que a célula se divide. O processo é regulado por uma enzima chamada telomerase, que aos poucos vai perdendo a capacidade de recompor o telômero. Quando os telômeros ficam muito curtos, a célula não pode mais se dividir. Esse mecanismo parece não atuar nas células pós-mitóticas, que possuem pouquíssima quantidade dessa enzima (com exceção das células germinais), o que 4 provavelmente seja a razão para as mesmas não sofrerem o processo de divisão celular. Já em células cancerosas, a telomerase recupera infinitamente o tamanho dos telômeros após a telófase, tornando-as virtualmente imortais. -Teorias de controle ou dos sistemas Uma terceira classe de teorias tenta explicar o envelhecimento através da função de sistemas fisiológicos específicos, reconhecidamente vitais para a manutenção do equilíbrio homeostásico. Um bom exemplo disso é o sistema imunológico. São incontestáveis as evidências que tanto a quantidade como a qualidade das respostas a antígenos danosos declina sistematicamente com o avanço da idade. O principal controle genético do sistema imunológico ocorre numa complexa série de genes conhecidos como Complexo Maior de Histocompatibilidade (MHC). Acredita-se o MHC comanda a identificação de antígenos, ou marcadores químicos que desencadeiam as reações imunes, que identificam cada uma das nossas células e fazem com que o sistema localize e rejeite tecidos estranhos ou micro- organismos invasores. Além de controlar o sistema imunológico, outra função reconhecida no MHC é o controle da expressão genética das oxidases, que, como já visto, protegem as células dos ataques dos radicais livres. E, infelizmente, a integridade do MHC deteriora irremediavelmente com o avanço da idade, Embora o MHC seja um importante sistema regulador que integra as teorias celulares, genéticas e as baseadas no controle de sistemas, o sistema imunológico não é o único sistema regulador implicado no controle do processo de envelhecimento. Mais recentemente tem se dado crescente importância ao sistema neuroendócrino na regulação das alterações degenerativas do envelhecimento. Provavelmente todas as espécies animais envelhecem e sofrem alterações desde o nascimento até a morte. Os cientistas desenvolveram as teorias na intenção de explicar os mecanismos fisiológicos subjacentes a esse fenômeno, na esperança de que também pudessem entender o motivo pelo qual as pessoas envelhecem, no que não se logrou sucesso ainda. Dito de outra maneira, podem ser extraídas de cada teoria explicações sobre como as pessoas envelhecem e morrem. Todas, porém, falham em explicar o porquê do envelhecimento, ou seja, qual é o propósito do envelhecimento e porque ele é inevitável. Para essas questões, a absoluta maioria das teorias não oferece a mais pálida resposta. Em 1977, o então ainda jovem gerontobiólogo Tom Kirkwood surpreendeu o meio científico com a publicação de sua Teoria do Soma Descartável, que viria jogar uma nova luz sobre o tema. A mesma trás uma explicação perturbadora sobre o porquê do envelhecimento. Ela afirma que o único sentido da existência orgânica está na perpetuação da espécie através da reprodução. Depois de cumprida a tarefa magna de todo ser vivo e garantida a perpetuação da sua linha germinal (linhagem genética) o organismo não precisaria mais continuar vivo. Em outras palavras, o corpo (soma, em grego) seria descartável. Somos abandonados à própria sorte pela natureza. Embora sua teoria seja reconhecida como um marco teórico consistente e 5 dificilmente contestável, ainda carece de mais comprovações, como as outras teorias. Resumidamente, pelo nível de conhecimento atual pode-se afirmar que o envelhecimento é um processo complexo no qual múltiplos mecanismos biológicos atuam sincronicamente levando a um progressivo e inevitável declínio na habilidade do organismo responder satisfatoriamente a perturbações no equilíbrio homeostático, culminando com sua morte. Diante de tal complexidade, é razoável pensar que seja pouco provável que a ciência nos proporcione uma “cura” milagrosa para o envelhecimento, ao menos em um futuro próximo. QUAIS SÃO AS CONSEQÜÊNCIAS ORGÂNICAS DO ENVELHECIMENTO? É importante que se compreenda que envelhecimento é um fenômeno natural, e não uma doença, embora suas manifestações possam, muitas vezes, serem confundidas com sintomas de diversas patologias. Quando apresenta um padrão desejável é chamado de senescência ou envelhecimento eugérico, quando se dá de forma desastrosa, chama-se senilidade ou envelhecimento patogérico.Dentro do primeiro padrão, podem-se distinguir dois subtipos. Um deles é o envelhecimento comum, no qual estão minimizados os seus efeitos danosos e preservada satisfatoriamente a função, não sendo acompanhado de doenças debilitantes ou inaptidões. É o que ocorre com grande parcela da população. O outro subtipo, claramente identificável, é o chamado envelhecimento bem-sucedido. Caracterizado pela manutenção de um estilo de vida equilibrado e ativo até a morte, com a plena manutenção das funções orgânicas em níveis satisfatórios. No extremo oposto, a senilidade caracteriza-se pela forte interação entre as perdas intrínsecas do envelhecimento com doenças, o que precipita e intensifica seus efeitos deletérios. Embora pareça claro conceitualmente, o limite entre um tipo e outro é de difícil identificação. Os dois tipos fazem parte de um continuum, ao longo do qual é possível se encontrar uma infinidade de combinações de fatores intrínsecos e extrínsecos que modulam a qualidade do envelhecimento. Independentemente da forma como se dê, o envelhecimento acarreta alterações orgânicas que são universais. À medida que as células sofrem danos não reparados e morrem, os órgãos começam a apresentar um mau funcionamento e, finalmente, não conseguem manter as funções biológicas necessárias para a continuação da vida. A maioria das funções orgânicas se altera ao longo do tempo. Em geral, elas atingem seu ápice um pouco antes dos 30 anos e, em seguida, sofrem um declínio gradual e contínuo. Um dos sintomas mais precoces e evidentes de envelhecimento talvez seja a presbiopia, quando o olho não consegue mais ajustar o foco com facilidade sobre objetos próximos. Freqüentemente se inicia-se em torno dos 40 anos de idade. Entretanto, mesmo sofrendo declínio, a maioria das funções permanece satisfatória por toda a vida, pois quase todos os órgãos possuem uma capacidade funcional consideravelmente superior às necessidades normais do organismo, é a assim chamada reserva fisiológica. Quando ocorre perda absoluta de 6 função é porque o processo foi agravado por alguma doença. Morfologicamente, as mudanças também são bastante perceptíveis, porém são apenas o aspecto mais visível das mudanças funcionais das células, dos órgãos e dos sistemas. No passado, com a intenção de descreverem as mudanças ocorridas no processo de envelhecimento, muitas pesquisas que se basearam em dados de serviços de saúde mostraram-se equivocadas, pois os idosos de suas amostras eram pessoas doentes. Isso levou seus pesquisadores a atribuírem erroneamente ao envelhecimento mudanças causadas por doenças. Para corrigir esses e outros vieses, foi iniciado em 1958, no Centro de Pesquisa em Gerontologia do Instituto Nacional de Envelhecimento, dos Estados Unidos da América, o estudo longitudinal mais abrangente e ambicioso tentado até então. Conhecido pela sigla BLSA (Baltimore Longitudinal Study on Aging), esse estudo vem proporcionado até hoje resultados surpreendentes que tem mudado nossa compreensão acerca do envelhecimento. Embora não seja o único estudo do gênero, é o que mais forneceu informações sobre mudanças biológicas e é o que está sendo realizado há mais tempo. A seguir estão relacionadas as principais mudanças ocorridas reconhecidamente em função do envelhecimento eugérico: - No sistema cardiovascular: A idade não tem qualquer efeito previsível sobre o rendimento cardíaco, embora sofra declínio, a sua intensidade se deve ao padrão de atividade física adotado pelo indivíduo na envelhecência. Mesmo em indivíduos saudáveis, a pressão sistólica sofre algum aumento, o que não ocorre com a diastólica. Também aqui parece existir relação com o padrão de atividade física adotado. Em corações saudáveis, a função cardíaca não declina inevitavelmente com a idade, como se pensava. Embora, a freqüência cardíaca máxima diminua, sem prejuízo para a saúde. A idade não provoca aterosclerose, apenas aumenta a suscetibilidade através do espessamento da íntima nos vasos arteriais, para indivíduos geneticamente predispostos e submetidos a influências ambientais nocivas. - No sistema imunológico: Aumenta a probabilidade de se desenvolver doenças auto-imunes. Os níveis de hormônios produzidos pelo timo começam a declinar a partir dos 25 anos, mudando as proporções de várias sub-populações de linfócitos. 7 - No sistema endócrino: A secreção de vários hormônios - do crescimento, da tireóide, testosterona, insulina e aldosterona, diminuem. Também o número de seus receptores diminui com a idade. A capacidade de regular a glicose sanguínea diminui ligeiramente. A mulher, após a menopausa, apresenta rápida redução dos níveis de vários hormônios circulantes, como o estradiol; porém outros declinam mais lentamente, como a testosterona. A secreção das glândulas vaginais diminui após a menopausa. O tecido glandular mamário também sofre involução. As alterações nos hormônios que regulam a função reprodutiva também provocam redução na atividade sexual com o avanço da idade. Há uma crescente incidência de hiperplasia prostática, de 10% aos 40 anos até 80% aos 80 anos. Porém, na maioria vazes é benigna. - No sistema esquelético: O envelhecimento normal produz perda de tecido ósseo em todos e de ambos os gêneros. Contudo, a taxa varia entre indivíduos do mesmo sexo e é mais acentuada nas mulheres, especialmente após a menopausa. As articulações móveis sofrem desgaste, especialmente aquelas que suportam carga. Aparecem formações osteofitárias já aos 40 anos, particularmente nos corpos vertebrais. - No sistema nervoso: O cérebro diminui seu peso em cerca de 10% até os 90 anos. A plasticidade é mantida no cérebro idoso. No cérebro idoso normal também são encontrados neurofilamentos e placas neuríticas, presentes nas vítimas de Alzheimer, embora em menor quantidade. A memória de curto prazo diminui com a idade. O declínio da capacidade mental decorrente do envelhecimento não é inevitável. O tempo de reação declina em cerca de 20% entre os vinte e os 70 anos. Habilidades mentais tais como: raciocínio lógico, retenção de informações orais e memória visual reduzem bastante após os 70 anos. Embora sejam encontrados indivíduos com alto desempenho em todas as faixas etárias, o que confirma a conservação da treinabilidade das faculdades mentais mesmo entre os muito velhos. - Na personalidade: Na ausência de doenças, os traços de personalidade permanecem basicamente iguais ao longo da vida. 8 - Na atividade sexual: Mesmo com a manutenção de níveis normais de hormônios sexuais, essa atividade diminui com a idade para ambos os sexos. Nos homens, normalmente não há mudanças na freqüência relativa. - Nas medidas corporais: Nos homens, a redução na estatura inicia-se em torno dos 40 anos e nas mulheres, em torno dos 43 anos. Ambos os sexos apresenta uma redução gradual de aproximadamente 0,15 mm por ano. O processo de perda acelera-se entorno dos 70 anos, mais marcadamente entre as mulheres. O peso aumenta na meia-idade por engordamento e diminui na velhice, para homens e mulheres, em função da redução da massa magra. Ao contrário da crença popular, a expectativa de vida não é maior para os mais magros, vive mais quem está até 20% acima do peso desejável. O diâmetro ântero-posterior do tórax aumentam com a idade. A envergadura diminui menos que a estatura. A orelha e o nariz aumentam. O tamanho da cabeça aumenta em ambos os gêneros. O diâmetro bi-ilíaco aumenta. A palma da mão se alarga. - Na composição corporal: Reduz a água intracelular. A gordura corporal total aumenta discretamente até os 60 anos, quando tende a se estabilizar, porémmuda acentuadamente a sua distribuição, da periferia para o centro. Nos homens começa aos 30 anos e nas mulheres, após a menopausa. Diminui a massa muscular e óssea e aumenta a de gordura e do tecido conjuntivo. - No metabolismo: A partir dos 30 anos, a necessidade calórica diária reduz cerca de 10 calorias, a cada ano, em grande parte devido à diminuição de atividade física. A diminuição da taxa metabólica basal diminui ligeiramente após a terceira década de vida e parece estar mais associada à redução do padrão de atividade física cotidiana do que à idade. - Na pele: Dois terços das pessoas com mais de 70 anos têm distúrbios suficientemente sérios para fazê-las procurar um médico. A maioria das lesões cutâneas pode ser prevenida. Com exceções, não são resultado do envelhecimento normal, e sim um acúmulo de agressões ambientais. 9 Os idosos suam menos porque muitas das glândulas sudoríparas desaparecem ou perdem a funcionalidade. Com a drástica redução da camada subcutânea, que além de depósito de gordura serve para absorver choques e controlar a perda de calor corporal, os idosos sentem mais frio e aumenta o trauma na sola dos pés ao caminhar. A redução da densidade do sistema circulatório da pele aumenta o risco de hipotermia mesmo em temperaturas toleráveis para um jovem. As células nervosas da pele parecem diminuir sua eficiência com a idade, reduzindo a sensibilidade ao calor e à dor, expondo a lesões mais graves pela lentificação do tempo de reação às agressões. A cicatrização de ferimentos é mais lenta, embora a qualidade dos reparos sejam igualmente bons. - Nos sentidos: A acuidade visual diminui. Há uma progressiva perda da audição. O paladar para substâncias doces e ácidas não se altera muito, fica menos sensível para substâncias salgadas ou amargas. Há uma queda gradual na habilidade de detectar odores e começa já aos 20 anos. - Nos pulmões: A função pulmonar diminui, embora mantenha uma reserva fisiológica bastante satisfatória. - No sono: A profundidade do sono diminui progressivamente à medida que envelhecemos. O idoso permanece mais tempo nos estágios NREM e diminui o tempo nos estágios REM. O limiar de despertar diminui com a idade. Os distúrbios respiratórios durante o sono, como apnéia e ronco aumentam enormemente com o envelhecimento. Podem ser a causa do padrão fragmentado de sono do idoso, como também se tornar graves, trazendo riscos à vida. A QUE CONCLUSÃO CHEGAMOS? O BSLA e outros estudos do gênero nos revelam que não existe um padrão único de envelhecimento. A velocidade de envelhecimento tanto varia entre indivíduos como entre órgãos e sistemas do próprio indivíduo. O envelhecimento resulta da interação de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida, por isso as mudanças são altamente individualizadas. O envelhecimento não causa perdas 10 11 funcionais absolutas (com exceção dos ovários e do timo), essas, quando ocorrem, devem-se à associações dos mecanismos de envelhecimento com processos patológicos. Face ao conhecimento até aqui acumulado, pode-se perceber que ainda estamos um tanto longe de encontrar soluções definitivas para a plêiade de conseqüências indesejáveis da velhice. Com o progressivo acúmulo de evidências de que a qualidade do envelhecimento é fortemente modulada por fatores do estilo de vida, talvez o grande desafio para a gerontologia experimental seja aumentar o conhecimento sobre a natureza da interação entre os fatores genéticos e ambientais que influenciam o seu curso. Tornar essa fase da vida mais tolerável, suavizando-a, parece ser tudo que pode ser feito no atual estágio de desenvolvimento da ciência. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CHODZKO-ZAJKO, W. J. The physiology of aging: structural changes and functional consequences. 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