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DIREITO PENAL CONCEITO, FONTES e PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL Conceito: Ramo do Direito Público cuja função é selecionar os bens jurídicos mais importantes para a sociedade e buscar protegê-los, por meio da criação de normas de conduta. Fontes materiais (substanciais) são os órgãos encarregados de produzir o Direito Penal. Fontes formais (também chamadas de cognitivas ou fontes de conhecimento), por sua vez, são os meios pelos quais o Direito Penal se exterioriza, ou seja, os meios pelos quais ele se apresenta ao mundo jurídico fontes materiais (substanciais) são os órgãos encarregados de produzir o Direito Penal. · A única fonte formal imediata do Direito Penal é a LEI, Lei em sentido estrito, como sinônimo de diploma normativo oriundo do Poder Legislativo Federal, mais especificamente a LEI ORDINÁRIA. · As fontes formais mediatas (também chamadas de secundárias) são aquelas que ajudam a formar o Direito Penal, de forma periférica, como os costumes, os atos administrativos e os princípios gerais do Direito. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: (Nullum crimen sine praevia lege), uma conduta não pode ser considerada criminosa se antes de sua prática não havia lei nesse sentido. Trata-se de uma exigência de segurança jurídica. 1.1 PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL: SOMENTE LEI (EM SENTIDO ESTRITO, editada pelo Poder Legislativo) pode definir condutas criminosas e estabelecer sanções penais (penas e medidas de segurança). Em razão da reserva legal, em Direito Penal é proibida a analogia in malam partem. A Doutrina divide as normas penais em branco em: · Homogêneas (norma penal em branco em sentido amplo) – Complementação por uma fonte homóloga, ou seja, pelo mesmo órgão que produziu a norma penal em branco. · Heterogêneas (norma penal em branco em sentido estrito) – Complementação por fonte heteróloga, ou seja, por órgão diverso daquele que produziu a norma penal em branco. Em razão da reserva legal, em Direito Penal é proibida a analogia in malam partem. Com relação à interpretação extensiva, apesar da divergência doutrinária, prevalece no STF (embora não seja pacífico o tema) o entendimento de que é possível a interpretação extensiva, mesmo que prejudicial ao réu. O intérprete apenas extrai a vontade da lei, que acabou dizendo menos do que pretendia dizer (A Lei diz “X”, mas sua intenção foi dizer “XYZ”). 1.2 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI PENAL: não basta que a criminalização de uma conduta se dê por meio de Lei em sentido estrito, mas que esta lei seja anterior ao fato, à prática da conduta. O princípio da anterioridade da lei penal culmina no princípio da irretroatividade da lei penal, já que a lei penal, como regra, não se aplica aos fatos praticados antes de sua entrada em vigor. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: é utilizado para resolver conflito aparente de leis penais. Quando o crime não importa algo mais grave, aplica-se a norma genérica, subsidiária. Exemplo: em caso de duas leis igualmente aplicáveis, APLICA-SE O CRIME MAIS GRAVE. Caso o agente não consumou o crime-fim, por qualquer motivo, então responde pela forma tentada. O homicídio está no centro da norma genérica. Ex.: Ao disparar arma de fogo, observa-se se não houve dolo em atingir alguém. Se não houver essa intenção, encaixa-se no “disparo de arma de fogo em via pública. Se houve esse intuito, em tentativa de homicídio. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: A individualização da pena é feita em três fases distintas: Legislativa (cominação de punições proporcionais à gravidade dos crimes, e com o estabelecimento de penas mínimas e máximas), judicial (Juiz fixar a pena de acordo com as peculiaridades do caso, circunstâncias do crime, dos antecedentes do réu) e administrativa (execução da pena - questões como progressão de regime, concessão de saídas eventuais do local de cumprimento da pena e outras). PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: É o contrário da Subsidiariedade. A normal específica é aplicada no lugar da genérica. Ex.: Entrar com mercadoria ilegal no país é contrabando, porém, se for droga, será o crime da lei específica, tráfico de drogas. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO (ABSORÇÃO): Crime fim absorve o crime meio, ou crime mais grave absorve o crime menos grave. Ex.: Matar alguém a facadas. Responde por homicídio e não pela lesão corporal. · Crime progressivo; querendo praticar determinado crime, necessariamente tem que praticar um crime menos grave. · Progressão criminosa; altera seu dolo, ou seja, durante a empreitada criminosa o agente altera sua intenção. · Antefato impunível (antefactum impunível); agente pratica fatos que estão na mesma linha causal do crime principal, mas responde apenas pelo crime principal. · Pós-fato impunível (postfactum impunível): Aqui o agente pratica fatos que, isoladamente considerados, são considerados criminosos. Todavia, por serem considerados como desdobramento natural ou exaurimento do crime praticado, não são puníveis. (EX: Quebrar o celular (crime de dano) dias depois de furtá-lo (Furto). PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE: Quando o tipo penal prevê mais de uma conduta, basta uma delas para consumar o crime. Ex.: O crime de drogas prevê: “adquirir, receber, portar... substância entorpecente”. Basta uma delas para consumar o crime. Esse foi o que a questão acima citou em seu conteúdo. Não se trata de subsidiariedade e sim alternatividade. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE (OU LESIVIDADE): O princípio da ofensividade estabelece que não basta que o fato seja formalmente típico, é necessário que este fato seja capaz de ofender (por meio de uma lesão ou exposição a risco de lesão), de maneira grave, um bem jurídico relevante para a sociedade. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE: Preconiza que o fato, para ser MATERIALMENTE crime, ou seja, para que possa ser considerado crime em sua essência, deve causar lesão a um bem jurídico de terceiro. Desse princípio decorre que o Direito penal não pune a autolesão. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE DO DIREITO PENAL: Estabelece que nem todos os fatos considerados ilícitos pelo Direito devam ser considerados como infração penal, mas somente aqueles que atentem contra bens jurídicos EXTREMAMENTE RELEVANTES. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA (OU ULTIMA RATIO): Decorre do caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal para a proteção de bens jurídicos ou à defesa de interesses cuja proteção, pelo Direito Penal, seja absolutamente indispensável à coexistência harmônica e pacífica da sociedade. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: As penas devem ser aplicadas de maneira proporcional à gravidade do fato. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM: Uma pessoa não pode ser punida duplamente pelo mesmo fato e nem sequer processada duas vezes pelo mesmo fato. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA: todos possuem o direito de atuar acreditando que as demais pessoas irão agir de acordo com as normas que disciplinam a vida em sociedade. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DA PENA: Esse princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do infrator. Com a morte do infrator, extingue-se a punibilidade, não podendo ser executada a pena de multa. Entretanto, isso não impede que os sucessores do condenado falecido sejam obrigados a reparar os danos civis causados pelo fato. PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS OU DA HUMANIDADE: Art. 5º (...) XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada (ÚNICA EXCEÇÃO), nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; A prisão perpétua também é inadmissível no Direito brasileiro. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE: enquanto não houver uma sentença criminal condenatória irrecorrível (trânsito em julgado de sentença penal condenatória), o acusado não pode ser considerado culpado. · Dimensão externa (fora do processo) e interna (dentro do processo). O STF retomou seu entendimento clássico: a presunção de inocência deve ser compreendida nos exatos termos da CF/88, ou seja, até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, de forma que é vedada a execução provisória de penacriminal. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (OU BAGATELA): A conduta especificamente não ofende significativamente o patrimônio da vítima, motivo pelo qual não há tipicidade material. Portanto, o agente deverá ser absolvido, pela atipicidade material do fato. REQUITOS: · Mínima ofensividade da conduta · Ausência de periculosidade social da ação · Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento · Inexpressividade da lesão jurídica * A reincidência do agente, por si só, não impede a aplicação do princípio da insignificância, excerto quando não se tratar de habitualidade delitiva (se dedica à prática de atividades criminosas reiteradamente (STJ). NÃO APLICÁVEL: · Moeda falsa · Tráfico de drogas · Crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher · Contrabando (há decisões autorizando a aplicação no caso de importação ilegal de pouca quantidade de medicamento para uso próprio) * Descaminho (art. 334 do CP) até R$20.000,00 pode ser aplicado. CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO Atualmente o prazo máximo é 40 anos pela modificação realizada pela Lei 13.964/19. Antes era de 30 anos. No PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DAS LEIS: Temos a revogação total (ab-rogação) e parcial (derrogação). A revogação tácita ocorre quando a lei nova, embora não diga nada com relação à revogação da lei antiga, trata da mesma matéria, só que de forma diferente. Constituição Federal de 1988 (CF), garante-se a RETROATIVIDADE (e não a ultratividade) da lei penal mais benéfica. A lei penal NASCE, fica ATIVA, passa a ter ATIVIDADE. Ultratividade é construção doutrinária! PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL: A lei nova mais benéfica ao autor do crime terá efeitos (ATIVIDADE) no passado (RETRO), ou seja, aplica-se, inclusive, a fatos ocorridos antes de seu nascimento, antes de sua ATIVIDADE, logo, será RETROATIVA. (Não é Princípio Da Irretroatividade) Art. 5º (...) XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; STF Súmula 711: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. EXTRA-ATIVIDADE da lei penal benéfica: exceção da lei penal pode produzir efeitos e atingir fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor e, até mesmo, continuar produzindo efeitos mesmo após sua revogação. Retroatividade (aplicação a fatos passados) Ultra-atividade (continua sendo aplicável aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo não estando mais em vigor NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA – A nova lei passa a criminalizar conduta até então atípica (não há retroatividade). Só produz efeitos em relação aos fatos futuros, pelo princípio da anterioridade da lei penal. NOVATIO LEGIS IN PEJUS – A nova lei é mais grave que a atual (não há retroatividade). Só produz efeitos em relação aos fatos futuros. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS – A nova lei é mais benéfica que a atual. Terá eficácia retroativa, aplicando-se aos fatos praticados antes de sua entrada em vigor. ABOLITIO CRIMINIS: retroage e extingue a punibilidade do agente, mas permanecem os efeitos civis. Não é possível combinar as leis penais para se extrair os pontos favoráveis de cada uma delas. Trata-se teoria da ponderação unitária ou global. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA: A lei temporária é aquela com prazo de vigência prefixado, ou seja, a própria lei já impõe seu “prazo de validade”. (Não ocorre à abolitio criminis, OK!) A lei excepcional ou temporária possuem duas características essenciais: - Autorrevogabilidade e Ultratividade Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. TEMPO E LUGAR DO CRIME TEMPO DO CRIME Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. TEORIA DA ATIVIDADE LUGAR DO CRIME Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. TEORIA DA UBIQUIDADE/UNIDADE/MISTA Lu|Ta (Lugar do crime = Ubiquidade/Tempo do crime=Atividade TERRITORIALIDADE: Territorialidade Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. EXTRATERRITORIALIDADE: Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I (INCONDICIONADA)- os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (P. Defesa ou Real); b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público (P. Defesa ou Real); c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço (P. Defesa ou Real); d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil (P. Justiça Universal); II ( CONDICIONADA) - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir (P. Justiça Universal); b) praticados por brasileiro (P. Nacionalidade Ativa); c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados (P. Representação). § 1º - Nos casos do inciso I (INCONDICIONADA), o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro (possibilidade de dupla condenação pelo mesmo fato) § 2º - Nos casos do inciso II (CONDICIONADA), a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (HIPERCONDICIONADA) a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Pena cumprida no estrangeiro Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Eficácia de sentença estrangeira Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis (depende de pedido da parte interessada) II - sujeitá-lo a medida de segurança. (Depende da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do ministro da justiça). *** Além dos previstos no dispositivo, a sentença penal estrangeira produz outros efeitos, com referência a reincidência, sursis e livramento condicional. O reconhecimento da reincidência NÃO depende de homologação. APLICAÇÃO DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Responsabilidade penal da Pessoa Jurídica: STF eSTJ admitem a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais. Com relação aos demais crimes, em tese, atribuíveis à pessoa jurídica (crimes contra o sistema financeiro, economia popular, etc.), como não houve regulamentação da responsabilidade penal da pessoa jurídica, esta fica afastada, conforme entendimento do STF e do STJ. · Mais recentemente o STF e o STJ passaram a dispensar o requisito da dupla imputação. Ou seja, atualmente não mais se exige a chamada “dupla imputação”. As imunidades diplomáticas se baseiam no princípio da reciprocidade, ou seja, o Brasil concede imunidade a estas pessoas, enquanto os Países que representam conferem imunidades aos nossos representantes. · São irrenunciáveis, exatamente por não pertencerem à pessoa, mas ao cargo. As imunidades parlamentares estão previstas na Constituição Federal, motivo pelo qual geralmente são mais bem estudadas naquela disciplina. · A imunidade material, que nos interessa no campo penal (e não processual) se refere à inviolabilidade por opiniões, palavras e votos (art. 53 da CF/88) · Não é necessário que o parlamentar tenha proferido as palavras dentro do recinto (Congresso, Assembleia Legislativa, etc.), bastando que tenha relação com sua função (Pode ser numa entrevista a um jornal local, etc.) Sujeito passivo mediato ou formal – É o Estado. Sujeito passivo imediato ou material – É o titular do bem jurídico efetivamente lesado. FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS · Sob o prisma formal, crime corresponde à concepção do direito acerca do delito, em uma visão legislativa do fenômeno. Se a lei comina pena de reclusão ou detenção, cumulada ou alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime. Se a lei cominar a apenas prisão simples ou multa, alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contravenção penal. · Sob o prisma material, o conceito de crime é pré-jurídico, ou seja, é a concepção da sociedade a respeito do que pode e deve ser proibido. O conceito MATERIAL de crime é aquele que nasce do SENTIMENTO da sociedade. · Aspecto analítico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu conceito: FATO TÍPICO + ILICITUDE + CULPABILIDADE. FATO TÍPICO CONDUTA HUMANA: teoria finalista (adotada no Brasil), que foi idealizada por Hans Welzel. Conjugação do aspecto objetivo (ação ou omissão) e do aspecto subjetivo (vontade). CONDUTA = VONTADE + AÇÃO OU OMISSÃO A conduta humana pode ser uma ação ou uma omissão. Na omissão, podemos ter: · Crime omissivo puro (ou próprio): criminaliza-se no tipo penal um “não fazer”. Ex. art. 135. Omissão de socorro (Descumpre a norma penal). Não poderia evitar, mas poderia fazer algo pela vítima. · Crime omissivo impuro (impróprio): o agente é responsabilizado por um determinado resultado lesivo, por ter se omitido quando tinha o dever legal de agir em específica situação. Pela teoria naturalístico-normativa, o resultado será imputado à mãe, em razão do seu descumprimento do dever de vigilância e cuidado. Adota-se no Brasil a TEORIA FINALISTA. FINALISTA vem de FINALIDADE. Nesse caso, só haverá FATO TÍPICO se a ação tiver a “FINALIDADE” de produzir uma alteração no mundo. Veja a diferença, não é uma simples causa, é um comportamento com FINALIDADE. O dolo será analisado no âmbito do FATO TÍPICO, só haverá crime se houver dolo/culpa. A teoria CAUSALISTA adota o conceito clássico de ação, é entendida como mero impulso mecânico, dissociado de qualquer conteúdo da vontade. Houve épocas em que uma simples AÇÃO que CAUSASSE um resultado já serviria para caracterizar um FATO TÍPICO. É a chama TEORIA CAUSALISTA. Nesta teoria, não há um questionamento sobre o dolo/culpa do agente em cometer o crime, ou seja, o dolo/culpa não integram o tipo penal. RESULTADO NATURALÍSTICO: apenas nos crimes chamados materiais se exige um resultado naturalístico. · Crime material – Homicídio. Óbito. · Crime formal – Extorsão (art. 158 do CP). Não é necessário que o agente obtenha a vantagem ilícita, bastando o constrangimento à vítima. · Crime de mera conduta – Invasão de domicílio. A mera presença do agente, indevidamente, no domicílio da vítima caracteriza o crime. Qualquer outra conduta praticada a partir daí configura crime autônomo (furto, roubo, homicídio, etc.) · Resultado jurídico (ou normativo) = ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Esse sempre estará presente! NEXO DE CAUSALIDADE: vínculo que une a conduta do agente ao resultado naturalístico. REGRA: Teoria da equivalência dos antecedentes causais. Devemos ver os acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria (chamado processo hipotético de eliminação de Thyrén). EXCEÇÃO: Teoria da causalidade adequada. Hipótese de concausa superveniente relativamente independente que, por si só, produz o resultado. · CONCAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE: não se juntam à conduta do agente para produzir o resultado. Estamos diante de uma quebra no nexo de causalidade. O agente não responderá pelo resultado, pois sua conduta não foi a causa do dele. Podem ser preexistentes, concomitantes e supervenientes. (José responderá apenas por homicídio tentado) Comment by Elaine: EXEMPLO: José coloca veneno na bebida de Maria. Maria ingere a bebida e nada sente, pois, o veneno tem efeito retardado, demorando horas para provocar sintomas. Antes de sentir qualquer coisa, Maria acaba falecendo em razão de uma bala perdida enquanto estava no ônibus indo para casa. A “bala perdida” foi uma concausa (outro evento diferente da conduta de José) superveniente (vem depois) absolutamente independente (não tem nenhuma relação com a conduta de José). · CONCAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES (PREEXISTENTES¹ E CONCOMITANTES²) – Em todos os casos a conduta do agente contribuiu para o resultado. Logo, pelo juízo hipotético de eliminação, a conduta do agente foi causa. Comment by Elaine: EXEMPLO (1) Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de facão, causando-lhe a morte. Entretanto, Maria era hemofílica (condição conhecida por Caio), tendo a doença contribuído em grande parte para seu óbito. Nesse caso, embora a doença (concausa preexistente) tenha contribuído para o óbito, Caio responde por homicídio consumado. Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a própria e já falada teoria da equivalência dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Caio, o resultado teria ocorrido? Não. Caio teve a intenção de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado (homicídio consumado). EXEMPLO (2) Pedro resolve matar João, e coloca em seu drink determinada dose de veneno. Ao mesmo tempo, Ricardo faz a mesma coisa. Pedro e Ricardo querem a mesma coisa, mas não se conhecem nem sabem da conduta um do outro. João ingere a bebida e acaba falecendo. A perícia comprova que qualquer das doses de veneno, isoladamente, não seria capaz de produzir o resultado. Porém, a soma de esforços de ambas (a soma das quantidades de veneno) produziu o resultado. Assim, Pedro responde por homicídio consumado (Ricardo também responde, mas estamos analisando a conduta de Pedro!). Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a própria e já falada teoria da equivalência dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? Não. Pedro teve a intenção de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado (homicídio consumado). Portanto, responde pelo resultado (homicídio consumado). · SUPERVENIENTE: EXEMPLO (1) - Pedro resolve matar João, e dispara 25 tiros contra ele, usando seu fuzil calibre 7.62. João fica estirado no chão, é socorrido por uma ambulância e, no caminho para o Hospital, sofre um acidente de carro (a ambulância bate de frente com uma carreta) e vem a morrer em razão do acidente, não dos ferimentos causados por Pedro. Pedro responde apenas por tentativa de homicídio. Por qual motivo? Sua conduta não foi a causa da morte. Mas, se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? Não. Pedro teve a intenção de produzir o resultado? Sim. Aqui o CP adotou a teoria dacausalidade adequada. A causa superveniente (acidente de trânsito) produziu por si só o resultado. EXEMPLO (2) - No mesmo exemplo anterior, João é socorrido e chegando ao Hospital, é submetido a uma cirurgia. Durante a cirurgia, o ferimento infecciona e João morre por infecção. Nesse caso, a causa superveniente (infecção hospitalar) não produziu por si só o resultado, tendo se agregado aos ferimentos para causar a morte de João. Pedro responde pelo resultado (homicídio consumado). Há, ainda, a teoria da imputação objetiva, que foi melhor desenvolvida por Roxin5, mas que não foi adotada expressamente pelo CP. A imputação só poderia ocorrer quando o agente tivesse dado causa ao fato (causalidade física) mas, ao mesmo tempo, houvesse uma relação de causalidade NORMATIVA. Criação de um risco não permitido para o bem jurídico que se pretende tutelar. a. Criar ou aumentar um risco; b. Risco deve ser proibido pelo Direito; c. Risco deve ser criado no resultado. * Crimes omissivos puros: o agente se omite quando o tipo penal estabelece que a omissão, naquelas circunstâncias, tipifica o delito. O agente simplesmente descumpre a norma penal, que impunha o dever de agir. Neste caso, é irrelevante avaliar se houve qualquer resultado (no exemplo, é irrelevante saber se houve dano à vítima), pois o agente responde criminalmente pelo simples fato de ter violado a norma penal, descumprindo o mandamento. Ex: Omissão de socorro. Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal... * Crimes omissivos impuros, ou impróprios, também chamados de crimes comissivos por omissão: não há um tipo penal que estabeleça como crime uma conduta omissiva. Em tais crimes o agente é responsabilizado por um determinado resultado lesivo, por ter se omitido quando tinha o dever legal de agir, não imposto às pessoas em geral. A análise do resultado é penalmente relevante, pois o próprio resultado será imputado àquele que se omitiu. Conduta do agente (uma omissão) ao resultado NÃO É FÍSICA (pois a omissão não dá causa ao resultado), mas NORMATIVA. Ex: Maria descobre que José está tendo relações sexuais com sua filha. Com receio de que José se separe dela, Maria não adota nenhuma providência. TIPICIDADE: A tipicidade pode ser de duas ordens: · Tipicidade formal: adequação da conduta do agente a uma previsão típica. · Imediata (direta) – Conduta do agente é exatamente aquela descrita na norma penal incriminadora. · Mediata (indireta) – A conduta do agente não corresponde exatamente ao que diz o tipo penal, sendo necessária uma norma de extensão. Ex: art. 121 + art. 29 do CP (que estabelece que os partícipes respondem pelo crime). · Tipicidade material: é a ocorrência de uma ofensa (lesão ou exposição a risco de lesão) significativa ao bem jurídico. Não haverá tipicidade material quando a conduta, apesar de formalmente típica (prevista na Lei como crime), não for capaz de afetar significativamente o bem jurídico protegido pela norma. Princípio da Insignificância*** CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO Art. 18 – Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; O DOLO é o elemento subjetivo do tipo. Dolo DIRETO: · 1º GRAU: eu QUERO matar fulano. · 2º GRAU: consequências necessárias - QUERO MATAR FULANO, MAS O MOTORISTA MORRE TAMBÉM. Dolo INDIRETO · EVENTUAL: sabe que este resultado pode ocorrer e não se importa – FODA-SE! Vou beber! · ALTERNATIVO: qualquer dos resultados possíveis é válido - JOSÉ ATIRA UMA PEDRA EM MARIA, QUERENDO MATÁ-LA OU LESIONÁ-LA, TANTO FAZ. JOSÉ, PRETENDE, APENAS, É CAUSAR DANO A MARIA. Veja que o crime é DOLOSO em dois casos: Comment by Elaine: O dolo pode ser, ainda: ⇒ Dolo genérico; ⇒ Dolo específico, ou especial fim de agir; ⇒ Dolo direto de primeiro grau; ⇒ Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae; ⇒ Dolo antecedente, atual e subsequente; · Quando o agente quis o resultado – é o DOLO DIRETO que representa a TEORIA DA VONTADE, o agente quer o resultado. · Quando o agente assumiu o risco de produzir o resultado – é o DOLO EVENTUAL que representa a TEORIA DO ASSENTIMENTO, o agente CONSENTE (aceita) o resultado. O CRIME CULPOSO advém de uma CONDUTA VOLUNTÁRIA. Entretanto, o RESULTADO É INVOLUNTÁRIO. Os elementos do crime culposo são: · Conduta voluntária: embora o resultado causado não tenha sido desejado · Violação a um dever objetivo de cuidado: negligência, imprudência ou imperícia*** · Resultado naturalístico involuntário: resultado produzido não foi querido pelo agente (salvo na culpa imprópria) · Nexo causal: Relação de causa e efeito entre a conduta do agente (voluntária) e o resultado · Tipicidade: previsto como crime · Previsibilidade objetiva: previsível mediante um esforço intelectual razoável A violação ao dever objetivo de cuidado pode se dar de três maneiras: Negligência -> relaxado; Imprudência -> apressado; Imperícia-> descuidado (perito) Segundo a teoria causal, o dolo causalista é conhecido como dolo normativo, pelo fato de existir, nesse dolo, juntamente com os elementos volitivos e cognitivos, considerados psicológicos, elemento de natureza normativa (real ou potencial consciência sobre a ilicitude do fato). * A culpa inconsciente distingue-se da culpa consciente no que diz respeito à previsão do resultado: · Culpa consciente: o agente prevê o resultado como possível, mas acredita que este não irá ocorrer. · Culpa inconsciente: o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente. · Culpa própria: o agente NÃO QUER O RESULTADO criminoso. · Culpa Imprópria: o agente quer o resultado, mas só quer porque incorre em erro evitável sobre as circunstâncias fáticas. Ex: Filho chegando de madrugada da balada e o taco de baseball. Aí entra a legítima defesa putativa. Para a caracterização do crime culposo, a culpa consciente se equipara à culpa inconsciente ou comum. * As duas modalidades de culpa se equiparam para a condenação no crime culposo, MAS se diferenciam quando da aplicação da pena. Teoria do perigo desprotegido: atua no chamado perigo protegido, configura imprudência consciente, ou seja, CULPA, ou seja, homicídio CULPOSO. CRIME PRETERDOLOSO: quando o agente, com vontade de praticar determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, não com dolo, mas por culpa (dolo na conduta inicial, mas resultado obtido a título de culpa – sem intenção). A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do crime qualificado pelo resultado. Para a Doutrina, o crime qualificado pelo resultado é um gênero, do qual o crime preterdoloso é espécie. Um crime qualificado pelo resultado é aquele no qual, ocorrendo determinado resultado, teremos a aplicação de uma circunstância qualificadora. Compensação de culpas: é o instituto que diminui a pena do sujeito ativo por ter havido conduta da vítima a qual colaborou para o crime acontecesse. Não é aplicado no nosso cód. Penal, apenas é usado para avaliar a dosagem da pena. Concorrência de culpas: nesse caso avaliam-se, separadamente, as condutas do agente e da vítima, e cada um responde pelo que ocasionou. Adotado pelo código penal. CRIME CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSÍVEL Iter criminis: · Cogitação (cogitatio) = sempre impunível · Atos preparatórios (conatus remotus) = regra, os atos preparatórios são impuníveis, já que o agente não chega, sequer, a iniciar a execução do crime. Todavia, os atos preparatórios serão puníveis quando configurarem, por si só, um delito autônomo (ex.: comprar ilegalmente uma arma de fogo, visando a prática futura de um homicídio) ou quando a própria Lei estabelecer que a preparação para certo crime é punível (ex.: terrorismo). · Atos executórios = dá início à conduta. · Consumação = resultado Como deve ser punida a TENTATIVA (CONATUS) de um crime? Para a Teoria OBJETIVA – essa teoria leva em conta o que ocorreu, objetivamente, o que ocorreu, logo, a pena do consumado será maior que a pena do tentado. REGRA! Para a Teoria SUBJETIVA – essa teoria valoriza o DOLO, a subjetividade do agente, por isso,pouco importa se o crime foi consumado ou tentado, logo, a pena será a mesma. EXCEÇÃO! Na verdade, adotou-se no Brasil uma espécie de Teoria objetiva “temperada” ou mitigada. Isto porque a regra do art. 14, II admite exceções, ou seja, existem casos na legislação pátria em que se pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado. · Tentativa branca ou incruenta – Ocorre quando o agente sequer atinge o objeto que pretendia lesar. · Tentativa vermelha ou cruenta – Ocorre quando o agente atinge o objeto, mas não obtém o resultado naturalístico esperado, em razão de circunstâncias alheias à sua vontade. · Tentativa perfeita – Ocorre quando o agente esgota completamente os meios de que dispunha para lesar o objeto material. · Tentativa imperfeita – Ocorre quando o agente, antes de esgotar toda a sua potencialidade lesiva, é impedido por circunstâncias alheias, sendo forçado a interromper a execução. Crimes que não admitem tentativa => CULPOSOS, PRTERDOLODOS, UNISSUBSISTENTES, OMISSIVOS PRÓPRIOS, CONTAVENÇÕES PENAIS, ATENTANDO, HABITUAIS. CRIME IMPOSSÍVEL: A ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto devem ser ABSOLUTAS. O CP adotou a teoria OBJETIVA DA PUNIBILIDADE DO CRIME IMPOSSÍVEL => impossibilidade de punição da tentativa inidônea. INSTITUTO FÓRMULA DE FRANK: RESUMO CONSEQUÊNCIAS TENTATIVA Agente pratica a conduta delituosa, mas por circunstâncias alheias à sua vontade, o resultado NÃO ocorre. Responde pelo crime, com redução de pena de 1/3 a 2/3. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA O agente INICIA a prática da conduta delituosa, mas se arrepende, e CESSA a atividade criminosa (mesmo podendo continuar) e o resultado NÃO ocorre. Responde apenas pelos atos já praticados. Desconsidera-se o “dolo inicial”, e o agente é punido apenas pelos danos que efetivamente causou. ARREPENDIMENTO EFICAZ O agente INICIA a prática da conduta delituosa E COMPLETA A EXECUÇÃO DA CONDUTA, mas se arrepende do que fez e toma as providências para que o resultado inicialmente pretendido não ocorra. O resultado NÃO ocorre. Responde apenas pelos atos já praticados. Desconsidera-se o “dolo inicial”, e o agente é punido apenas pelos danos que efetivamente causou. ARREPENDIMENTO POSTERIOR O agente COMPLETA a execução da atividade criminosa e o resultado efetivamente ocorre. Porém, após a ocorrência do resultado, o agente se arrepende E REPARA O DANO ou RESTITUI A COISA. 1. Só pode ocorrer nos crimes cometidos SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA à pessoa. 2. Só tem validade se ocorre ANTES DO RECEBIMENTO da denúncia ou queixa. O agente tem a pena reduzida de 1/3 a 2/3. TEORIAS DA CULPABILIDADE TEORIA NORMATIVA PURA · TEORIA LIMITADA = erro de tipo e erro de proibição · TEORIA EXTREMADA = tudo é erro de proibição Preste atenção nos nomes. Deste modo, você não se confunde. No erro sobre a pessoa, o agente erra sobre a vítima (ele confunde uma pessoa com outra). No erro na execução, o agente erra no momento de executar o crime. Ele não confunde as pessoas, ele identifica corretamente a vítima, porém, é ruim de “pontaria”, e atinge outra pessoa. Erra na execução. Os efeitos, no entanto, são os mesmos, não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. CAUSAS DE EXCLUSÃO DO FATO TÍPICO · COAÇÃO FÍSICA IRRESISTÍVEL = exclui a CONDUTA, por ausência completa de vontade do agente coagido. Logo, acaba por excluir o fato típico. Não confundir com a coação MORAL irresistível, que exclui a culpabilidade. · ERRO DE TIPO INEVITÁVEL = o agente pratica o fato típico por incidir em erro sobre um de seus elementos. Qualquer pessoa naquelas circunstâncias cometeria o erro, o agente não responde por crime algum (afasta-se o dolo e a culpa). · SONAMBULISMO E ATOS REFLEXOS = o agente não tem controle sobre sua ação ou omissão, ou seja, temos a exteriorização física do ato, sem que haja dolo ou culpa. · INSIGNIFICÂNCIA E ADEQUAÇÃO SOCIAL DA CONDUTA · Mínima ofensividade da conduta; · Ausência de periculosidade social da ação; · Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; · Inexpressividade da lesão jurídica. ILICITUDE OU ANTIJURIDICIDADE · Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime. Estão previstas na parte geral do Código Penal, em seu art. 23; a) Estado de necessidade; b) legítima defesa; c) exercício regular de um direito; d) estrito cumprimento do dever legal. b) Doutrina majoritária e a Jurisprudência entendem que existem causas supralegais de exclusão da ilicitude, como o consentimento do ofendido nos crimes contra bens disponíveis. · Específicas – São aquelas que são próprias de determinados crimes, não se aplicando a outros. Por exemplo: Furto de coisas comum, previsto no art. 156, §2°. O fato de a coisa furtada ser comum retira a ilicitude da conduta. Porém, só nesse crime! ESTADO DE NECESSIDADE Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. · Não ter sido criada voluntariamente pelo agente; · Perigo atual - A lei não permite o estado de necessidade diante de um perigo futuro, ainda que iminente (cuidado: perigo atual é a mesma coisa que iminência de dano. Se o perigo está acontecendo, significa que o dano está próximo, logo, iminente). · A situação de perigo deve estar expondo a risco de lesão um bem jurídico do próprio agente ou de um terceiro. · O agente não pode ter o dever legal enfrentar o perigo; · Ser conhecida pelo agente – O agente deve saber que está agindo em estado de necessidade (elemento subjetivo). O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que estabelece que o bem jurídico protegido deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado, afastando-se em ambos os casos a ilicitude da conduta. No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem protegido, o agente responde pelo crime, mas tem sua pena diminuída, nos termos do art. 24, § 2° do CP. O estado de necessidade pode ser: Comment by Elaine: Agressivo – Quando para salvar seu bem jurídico o agente sacrifica bem jurídico de um terceiro que não provocou a situação de perigo. Defensivo – Quando o agente sacrifica um bem jurídico de quem ocasionou a situação de perigo. Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe; Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato, apenas na imaginação do agente (não exclui a ilicitude, podendo ser causa de exclusão da culpabilidade, se derivar de erro inevitável). · ERRO ESCUSÁVEL (o agente não tinha como saber da existência dos outros coletes), excluirá a imputação do delito (a maioria da Doutrina entende que teremos exclusão da culpabilidade). · ERRO INESCUSÁVEL (o agente era marinheiro há muito tempo, devendo saber que existia mais coletes), o agente responde pelo crime cometido, MAS NA MODALIDADE CULPOSA, se houver previsão em lei. LEGÍTIMA DEFESA Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. · Agressão Injusta; · Atual ou iminente – A agressão deve estar acontecendo ou prestes a acontecer. · Contra direito próprio ou alheio; · Reação proporcional – O agente deve repelir a injusta agressão utilizando moderadamente dos meios necessários. · Conhecimento da situação justificante – O agente deve saber que está agindo em legítima defesa, ou seja, deve conhecer a situação justificante e agir com intenção de defesa (animus defendendi). Quando uma pessoa é atacada por um animal, em regra não age em legítima defesa, mas em estado de necessidade, pois os atos dos animais não podem ser considerados injustos. Se o animal estiver sendo utilizado como instrumento de um crime (dono determina ao cão bravo que morda a vítima), o agente poderá agir em legítima defesa. Entretanto, a legítima defesa estará ocorrendo em face do dono, e não em face do animal.O agredido (que age em legítima defesa) não é obrigado a fugir do agressor, ainda que possa. A legítima defesa pode ser: · Agressiva – Quando o agente pratica um fato previsto como infração penal. Assim, se A agride B e este, em legítima defesa, agride A, está cometendo lesões corporais (art. 129), mas não há crime, em razão da presença da causa excludente da ilicitude. · Defensiva – O agente se limita a se defender, não atacando nenhum bem jurídico do agressor. · Própria – Quando o agente defende seu próprio bem jurídico. · De terceiro – Quando defende bem jurídico pertencente a outra pessoa. · Real – Quando a agressão a iminência dela acontece, de fato, no mundo real. · Putativa – Quando o agente acredita haver situação que o autoriza a agir em legítima defesa, mas, na verdade, trata-se de fruto da sua imaginação (não é excludente de ilicitude). CUIDADO! A legítima defesa sucessiva é possível! Primeiro que bate apanha e depois volta a bater. Lei 13.964/19 Pacote “anticrime” incluiu um § único ao art. 25 do CP: (AGRESSÃO ATUAL OU IMINENTE) Art. 25 (...) Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL E EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (...) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Estrito cumprimento do dever legal: pratica fato típico, mas o faz em cumprimento a um dever previsto em lei. Comment by Elaine: CUIDADO! Quando o policial, numa troca de tiros, acaba por ferir ou matar um suspeito, ele não age no estrito cumprimento do dever legal, mas em legítima defesa. Isso porque o policial não em o dever legal de matar ninguém, só estando autorizado a agir assim quando isso for absolutamente necessário para repelir injusta agressão contra si ou contra terceiros. Exercício regular de direito: não poderá estar cometendo crime, pois a ordem jurídica deve ser harmônica, de forma que uma conduta que é considerada um direito da pessoa. Trata-se de preservar a coerência do sistema (Pai que deixa o filho trancado no quarto no fds como castigo) CONSENTIMENTO DO OFENDIDO O consentimento do ofendido NÃO está expressamente previsto no CP como causa de exclusão da ilicitude. A Doutrina é pacífica ao sustentar que, a depender do caso, afastar a ilicitude da conduta, funcionando como causa supralegal (não prevista na Lei) de exclusão da ilicitude. · O consentimento deve ser válido – O consentimento deve ser prestado por pessoa capaz, mentalmente sã e livre de vícios (coação, fraude, etc.). · O bem jurídico deve ser próprio e disponível – Assim, não há que se falar em consentimento do ofendido quando o bem jurídico pertence a outra pessoa ou é indisponível como, por exemplo, a vida. · O consentimento deve ser prévio ou concomitante à conduta – O consentimento do ofendido após a prática da conduta não afasta a ilicitude. EXCESSO PUNÍVEL É o exercício IRREGULAR de uma causa excludente da ilicitude, seja porque não há mais a circunstância que permitia seu exercício (cessou a agressão, no caso da legítima defesa, por exemplo), seja porque o meio utilizado não é proporcional (agredido saca uma metralhadora para repelir um tapa, no caso da legítima defesa). No primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso intensivo. Nesses casos, a lei prevê que aquele que se exceder responderá pelos danos que causar, art. 23, § único do CP. Vale frisar que o excesso pode ser doloso (quer se exceder) ou culposo (acaba se excedendo sem querer). Em ambos os casos o excesso será punível, caso constitua fato típico. CRIMES CONTRA A PESSOA (art. 121 a 154-B) image3.png image4.png image5.png image6.png image7.png image8.png image9.png image10.png image11.png image14.png image1.png image2.png image12.png image13.png