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ÉTICA KANTIANA “Age segundo aquela máxima pela qual tu possas querer ao mesmo tempo que ela se torne lei universal” (Kant) Vida e Obra • “A história de vida de Kant é difícil de escrever, pois ele não teve nem vida nem história; viveu uma vida celibatária, mecanicamente regrada e quase abstrata...” (HEINE) • De saúde frágil viveu sem excessos nem penúrias, de maneira imperturbável e quase monástica. • Obra imensa. Entre elas: Crítica da razão pura (1781 e 1787), os Fundamentos da metafísica dos costumes (1785), a Crítica da razão prática (1788), a Crítica da faculdade de julgar (1790) e a Religião nos limites da simples razão (1793). “Conhecemos o escrito de Kant: “Was ist Aufklärung?” (O que é iluminismo ou esclarecimento). Nele Kant lança o lema: “tem coragem de servir-te de teu próprio entendimento”. A Aufklärung é a saída do estado de minoria de idade. Minoria de idade é a incapacidade de servir-se do próprio entendimento sem a direção de outro. Esta minoria de idade é culpada quando sua causa não está na incapacidade do próprio entendimento, mas na falta de decisão e coragem para servir-se dele sem a direção de outro. Daí o lema: sapere aude! E por que cada ser humano tem de ter a coragem de guiar-se por si mesmo? Naturalmente não só pelas limitações históricas do tempo de Kant. À pergunta: se vivemos já numa época esclarecida, sua resposta é nítida: “não, mas sim numa época de conscientização”. Mas sobretudo porque já chegou o momento de exercermos a maioria de idade, porque todos somos seres humanos, e isso significa: todos temos a consciência de possuirmos um valor absoluto.” (HERRERO, 2001, p. 18) Teses Essenciais A filosofia se vincula, segundo Kant, a três questões: O que posso saber? O que devo fazer? O que me é permitido esperar? Teses Essenciais As questões anteriores determinam três âmbitos de análise que ocuparão a obra de Kant e que reportam a antropologia: METAFÍSICA MORAL RELIGIÃO O QUE É O HOMEM ? O Problema do Conhecimento A ciência progride, ao passo que a metafísica, que analisa aquilo que não é objeto de experiência (a alma, o mundo, Deus e a liberdade), é um “campo de batalha’ onde acontecem embates sem fim. É preciso questionar o estatuto da metafísica e a legitimidade de nossos conhecimentos. Duas escolas do pensamento se enfrentam: RACIONALISMO DOGMÁTICO EMPIRISMO CÉTICO RACIONALISMO DOGMÁTICO • A razão humana pode conhecer tudo verdadeiramente; • A verdade é a adequação entre nossas representações e o que as coisas são objetivamente. EMPIRISMO CÉTICO • Nossas representações são originárias da experiência; • Não podemos nos abstrair da experiência para apreender as coisas em si; • É ilusório pretender deter uma determinada verdade. REVOLUÇÃO COPERNICANA NA TEORIA DO CONHECIMENTO • Na alternativa para o racionalismo e para o empirismo, o criticismo kantiano opera uma revolução na teoria do conhecimento. • No conhecimento não é o sujeito que gira em torno do objeto, mas o objeto que gira em torno do sujeito. Sujeito Objeto Sujeito Objeto Revolução Copernicana na Teoria do Conhecimento • Opondo-se ao realismo, que afirma que o objeto nos é dado e que o nosso conhecimento deve se modelar sobre ele, Kant mostra que o espirito é ativo na elaboração do conhecimento. O REAL é, para nós, uma construção: “Nós somente conhecemos a priori as coisas que nós mesmos definimos” O objeto é percebido por nós segundo uma estrutura de nossa mente e não em si (como uma coisa independente de nossa maneira de apreendê-la) Matéria e Forma do Conhecimento • O conhecimento dos objetos depende do sujeito cognoscente, ao menos, tanto quanto o objeto conhecido. • Ele supõe obviamente a experiência, como afirmam os empiristas, mas tal experiência não existiria sem uma síntese, uma configuração operada no sujeito: “Se todas as nossas experiências começam COM a experiência, disso não deduz que elas derivam DA experiência.” Matéria e Forma do Conhecimento CONHECER é dar FORMA a uma determinada matéria. É preciso distinguir: Matéria do conhecimento • É a posteriori (ele depende do objeto da experiência). Forma do conhecimento • É a priori (depende do sujeito e é anterior a toda experiência). Sensibilidade e Entendimento • Todo o objeto conhecido ou cognoscível é apreendido no espaço e no tempo pela sensibilidade. ESPAÇO, e TEMPO não são nem conceitos empíricos (que derivam da experiência: não são propriedade externas das coisas), nem conceitos de entendimento: são formas a priori da sensibilidade, molduras que condicionam a percepção dos objetos. O objeto é, portanto, por um lado, dado à sensibilidade pela intuição sensível, e, por outro, pensado pelo entendimento e seus conceitos. Limites do Conhecimento • Nós não podemos conhecer senão os fenômenos, os objetos tais quais eles nos são apresentados por nossa faculdade de conhecer. • Mas nem as coisas em si (as coisas tais como existem em si mesmas, independente do conhecimento humano) nem os números (as realidades intangíveis, as ideias metafísicas como Deus, alma, ou ainda o mundo) são cognoscíveis. • O conhecimento é subjetivo, não relativo; ele só vale para o indivíduo, mas depende, no entanto, do sujeito cognoscente entendido como universal. A objetividade caracteriza uma representação universalmente válida, mas limitada à percepção dos fenômenos. O IDEALISMO TRANSCENDENTAL KANTIANO define: Todo objeto de conhecimento é determinado a priori pela própria natureza da nossa faculdade de conhecer. Estatuto da Metafísica • Os objetos da metafísica (a alma, Deus, o mundo, a liberdade) não podem ser conhecidos: eles são pura ideias não experimentáveis. • A razão, faculdade de desejar, erra ao ocultar seus limites e querer conferir existência àquilo que é apenas ideia. • As ilusões nascem de um uso ilegítimo da razão. METAFÍSICA Produz somente pensamentos, não conhecimentos. Ela se extravia quando crê conhecer aquilo que apenas pode pensar. “O conhecimento supõe com efeito dois elementos: primeiramente o conceito, pelo qual, em geral, um objeto é pensado ( a categoria), e, depois a intuição pela qual ele se dá” (Critica da razão pura) Moralidade e Igualdade • Ser moral não é procurar a sua felicidade, mas ser autônomo, obedecer as leis que nós mesmos estabelecemos: não a uma lei qualquer, que resultasse da sensibilidade ou do afeto, mas as leis universais e incondicionadas à razão prática. • A ação moralmente boa é, primeiramente, a ação desinteressada, a ação realizada com boa vontade, por puro respeito a lei moral, independente de qualquer impulso sensível. • É preciso distinguir a legalidade da ação e a moralidade da ação: Legal • Ação que está conforme o dever, mas ela pode ser imoral se for realizada em vista de interesses sensíveis. Moral • A ação que é realizada apenas por dever, pelo puro respeito a lei moral. O que fundamenta a MORALIDADE HUMANA? Qual é a LEI que regulamenta a MORALIDADE? Qual é a FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES? Nada pode ser tido como essencialmente Bom como a BOA VONTADE! Conceito Definição Fragmento Respectivo Filosofia moral pura Estudo da moralidade baseado exclusivamente na razão, sem influência empírica. "A filosofia moral deve ser puramente racional, sem depender da experiência." Princípios a priori Verdades morais que não dependem da experiência, mas derivam da razão pura. "Sem uma metafísica da moral, não há fundamento seguro para os princípios morais." Necessidade de uma metafísica dos costumes Fundamentação racional da moralidade para evitar distorções e subjetivismos "Meu propósito é demonstrar que a moralidade tem seu fundamento na razão pura." Primeira Seção: A Transição do Conhecimento Comum da Moralidade para a Filosofia Moral Diferença entre ações conforme o dever e ações por dever: Kant distingue entre ações que são realizadas por conformidade ao dever (por motivos externos)e aquelas que são realizadas por respeito ao dever (por motivos internos e morais). O conceito de boa vontade: Para Kant, a boa vontade é a única coisa que pode ser considerada boa sem qualificação. Ela age por respeito à lei moral. Conceito Definição Fragmento Respectivo Boa vontade Disposição de agir conforme o dever, independente das consequências "Nada pode ser concebido como bom sem qualificação, exceto uma boa vontade." Ação por dever Ato realizado puramente em obediência à lei moral "A ação tem valor moral quando é realizada por dever, não apenas conforme o dever." Respeito pela lei moral Motivação racional que leva à obediência ao imperativo categórico "O dever surge do respeito pela lei moral ditada pela razão." Valor moral da ação Determinado pela intenção e não pelos resultados "O valor moral de uma ação não reside no efeito que dela se espera, mas no princípio da vontade." Primeira Seção: Passagem do Conhecimento Comum da Moral para o Conhecimento Filosófico Segunda Seção: A Transição da Filosofia Moral Popular para a Metafísica dos Costumes O Imperativo Categórico: Formulação da Lei Universal: A primeira formulação do imperativo categórico é "aja apenas segundo aquela máxima pela qual você pode, ao mesmo tempo, querer que se torne uma lei universal". Formulação da Humanidade: A segunda formulação é "aja de tal modo que você trate a humanidade, tanto na sua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio". Formulação da Autonomia: A terceira formulação é "aja de tal modo que a sua vontade possa, ao mesmo tempo, considerar a si mesma como legisladora universal". Autonomia da vontade e liberdade: A autonomia é a capacidade da vontade de se auto-legislar, e a liberdade é a condição necessária para a moralidade. Segunda Seção: Passagem da Filosofia Moral Popular para a Metafísica dos Costumes Conceito Definição Fragmento Respectivo Imperativo categórico Princípio moral universal que deve ser seguido incondicionalmente "Age apenas segundo aquela máxima pela qual possas ao mesmo tempo querer que se torne uma lei universal." Autonomia da vontade Capacidade de agir segundo leis morais autoimpostas, sem influências externas "A vontade, quando guiada pela razão pura, é autônoma e independente de inclinações sensíveis." Universalidade da moral Ideia de que os princípios morais devem valer para todos os seres racionais "Os princípios morais devem ser aplicáveis a todos os seres racionais." Dignidade do ser humano O ser humano deve ser tratado como fim em si mesmo, nunca como meio "Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim, nunca simplesmente como um meio." Terceira Seção: A Transição da Metafísica dos Costumes para a Crítica da Razão Pura Prática Liberdade como fundamento da moralidade: Kant argumenta que a liberdade é a base da moralidade porque permite que os indivíduos sejam responsáveis por suas ações. A relação entre a razão prática e a razão pura: Ele explora como a razão prática (a razão que guia a ação) está conectada à razão pura (a razão teórica ou especulativa). Conceito Definição Fragmento Respectivo Liberdade moral Condição essencial para a existência da moralidade, garantindo autonomia "Se não houvesse liberdade, não haveria moralidade." Imperativo categórico como expressão da liberdade Relação entre a capacidade de escolha e a necessidade de agir conforme a razão "O imperativo categórico expressa a necessidade racional da liberdade moral." Moralidade como princípio racional Fundamento da ética kantiana baseado na razão pura "A vontade é uma espécie de causalidade dos seres racionais." Relação entre razão e vontade A razão deve guiar a vontade para que esta seja moralmente válida "A vontade não deve ser determinada por inclinações, mas pela razão pura." Terceira Seção: Passagem da Metafísica dos Costumes para a Crítica da Razão Pura Prática Imperativo hipotético • Entre os imperativos (mandamentos que guiam nossas ações), alguns são hipotéticos: • Eles remetem a fins particulares e tomam a seguinte fórmula: “se tu queres isso, então, deves fazer aquilo”. Condicionados, esses imperativos não possuem a forma de imperativos morais. Imperativo Categórico • O imperativo é categórico, e puramente moral, quando assume a seguinte forma: “tu deves”, não importam quais sejam as circunstâncias. Incondicionado ele exprime a universalidade da lei moral. • O imperativo categórico é: “Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da natureza”. • A mentira mesmo eficaz para salvar alguém, por exemplo, é imoral: a máxima da ação, para ser moral, deve poder ser universalizada sem contradição. Ora querer que todos os homens mintam seria contraditório. • A moral supõe conceber o ser humano como um ser razoável, digno, respeitável enquanto pessoa. Assim a segunda formulação do imperativo categórico incide sobre o RESPEITO: “age de tal maneira que trates a humanidade tanto em tua pessoa quanto na pessoa de todos os outros, sempre e ao mesmo tempo como um fim em si e nunca, simplesmente, como um meio” Imperativo Categórico Combate Antigo Regime ao Amarras sociais (irracional) Moral Universal Racional INDEPENDENTE Contexto Religião Situação particular Crenças CRÍTICA DA RAZÃO PRÁTICA CRITICA DA RAZÃO PURA NATUREZA Conhecimento Agir Leis Como adquirimos Como orienta É governada por HOMEM propõe sustenta HOMEM Princípios Liberdade Escolha RAZÃO PRÁTICA Consciência Moral VONTADE má boa BOA VONTADE Ética Deontológica Princípios IMPERATIVOS Hipotéticos Categóricos Paixões (Inclinações) Razão IMPERATIVOS Hipotéticos Categóricos Objetiva outra coisa Ser feliz Ter prazer Fim em si mesma Salvar a alma Evitar a dor Dever Boa vontadeO que fazer? Questão fundamental “Age segundo aquela máxima pela qual tu possas querer ao mesmo tempo que ela se torne lei universal” Perspectiva científica Perspectiva estética Perspectiva ética Se ocupa da verdade ou falsidade do conhecimento Método descritivo ou explicativo Se refere ao QUE É. Realidade existente!! Se ocupa do belo ou feiura da natureza ou das produções humanas Metodologia esteticamente apreciativa Se refere ao GOSTO. E a necessidade humana de representar-se o mundo!! Se ocupa da bondade ou da maldade das ações humanas Metodologia estritamente valorativa e prescritiva Se refere ao QUE DEVERIA SER a melhor forma de viver! Método Objetivo Âmbito da realidade DEVER SER SER GOSTO Descrição explicação CIÊNCIA ARTE MORAL Verdade Falsidade Valoração Apreciação estética Bondade Maldade Beleza Realidade BONDADE BELEZAVERDADE Pontos de referência últimos da filosofia desde a antiguidade clássica MORAL ARTECIÊNCIA Três campos principais que se dividiu a investigação filosófica Slide 1: Ética KANTIANA Slide 2 Slide 3 Slide 4: Teses Essenciais Slide 5: Teses Essenciais Slide 6: O Problema do Conhecimento Slide 7 Slide 8: Revolução copernicana na teoria do conhecimento Slide 9: Revolução Copernicana na Teoria do Conhecimento Slide 10: Matéria e Forma do Conhecimento Slide 11: Matéria e Forma do Conhecimento Slide 12: Sensibilidade e Entendimento Slide 13: Limites do Conhecimento Slide 14: Estatuto da Metafísica Slide 15: Moralidade e Igualdade Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25: Imperativo hipotético Slide 26: Imperativo Categórico Slide 27: Imperativo Categórico Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36