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UNIGRANRIO – Afya Débora Janaína Medicina 
 
IESC VI 
R E S U M O P A L E S T R A S 
Medicina 
UNIGRANRIO|Afya | @debora j ana ia 
 
UNIGRANRIO – Afya Débora Janaína Medicina 
Sumário 
Semana 02: Sistemas de Classificação e Registro na APS – Data: 27/01/2027 ........................................... 1 
Semana 03: Diagnóstico e Manejo da Obesidade na APS – Data: 03/02/2025 .......................................... 5 
Semana 04: Diagnóstico e Manejo da Diabetes Melito na APS – Data 10/02/2025 ................................. 14 
SEmana 05: Diagnóstico e Manejo da Hipertensão Arterial na APS – DATA: 17/02/2025 ........................ 30 
Semana 06: Diagnóstico e manejo da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) na APS – Data: 
24/02/2025 ............................................................................................................................................ 43 
Semana 07: Manejo da Dispepsia e Refluxo na APS – Data: 10/03/2025 ................................................ 55 
Semana 08: Atenção à saude do homem – Data: 17/03/2025 ................................................................. 70 
Semana 09: População Privada de Liberdade – Data: 31/03/2025 .......................................................... 76 
Semana 11: Manejo das Anemias na APS – Data: 07/04/2025 ................................................................ 83 
Semana 13: Políticas Públicas de Saúde Voltadas Para População Negra– Data: 21/04/2025 ................. 91 
Semana 14: Manejo das Tonturas e Vertigens na APS – Data: 28/04/2025 ............................................ 94 
Semana 15: Manejo das Diarreias e Constipação na APS – Data: .......................................................... 104 
Semana 16: Diagnóstico e Acompanhamento das Principais Parasitoses Intestinais na APS – Data: ..... 118 
Semana 17: Abordagem das Infecções das Vias Aéreas Superiores, Resfriado Comum e Gripe na APS – 
Data: .................................................................................................................................................... 124 
Semana 18: Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) – Data: 21/04/2025 . 125 
Semana 19: Diagnóstico e Acompanhamento do Corrimento Vaginal/Uretral – Data: .......................... 133 
 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
1 
SEMANA 02: SISTEMAS DE 
CLASSIFICAÇÃO E REGISTRO 
NA APS – DATA: 27/01/2027 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Sistemas de classificação na atenção primária à 
saúde – Prontuário eletrônico do SUS 
(PEC)/SOAP/CIAP-2; 
• Registro de saúde orientado por problemas. 
Objetivos Específicos 
• Entender o SOAP; 
• Rever os sistemas de informação em saúde (E-SUS, 
prontuário eletrônico); 
• Aplicar os sistemas de classificação na APS. 
Anamnese SOAP 
A primeira parte de uma consulta sempre será uma entrevista 
clínica, com roteiros e formatos diferentes, de acordo com a 
profissão ou especialidade médica. Essa entrevista deve ser 
transcrita de acordo com a subjetividade do paciente. 
O método SOAP é uma técnica estruturada e amplamente 
utilizada por profissionais de saúde para registrar 
informações clínicas de um paciente, com o objetivo de 
facilitar o diagnóstico, o acompanhamento e o tratamento. 
SOAP é um acrônimo, e cada uma dessas etapas tem um 
papel específico no processo de anamnese e na 
documentação do estado clínico do paciente. 
S – Subjetivo 
Refere-se a informações fornecidas pelo paciente ou seus 
familiares, que são subjetivas e não verificáveis de forma 
objetiva. Inclui a queixa principal (QP), história da doença 
atual (HDA), sintomas, duração dos sintomas, fatores que 
agravam ou aliviam os sintomas, entre outros. Podemos 
anotar além das queixas, os sentimentos. 
 
Cabe aos profissionais, conduzir essa entrevista com 
perguntas (quanto mais abertas, melhor), para entender 
as necessidades do paciente e para iniciar o raciocínio 
clínico. 
 
Para facilitar a escrita, podemos dividir o subjetivo em 3 
partes: 
• Entrevista clínica: nessa parte podemos utilizar 
roteiros específicos de cada especialidade ou 
profissão. E, incluir dados de antecedentes 
pessoais, antecedentes familiares, hábitos de 
vida etc. O importante é que devemos utilizar a 
terceira pessoa do singular (ex. paciente refere 
que...) para a descrição, pois sempre devemos 
colocar o que foi narrado sob o ponto de vista do 
paciente. 
• Motivos da consulta: essa parte pode ser 
registrada em um espaço em separado (ou 
destacado na própria anamnese). Colocamos 
todos os motivos que levaram a pessoa à 
consulta. 
Essa organização serve de guia para consulta. 
Lembrando-se sempre que no subjetivo tudo que importa 
é o ponto de vista do paciente e não o nosso, e pode ser 
muito interessante priorizar os motivos da consulta, 
principalmente quando são muitos, de acordo com o que 
o paciente achar importante. 
 
Quando o paciente vem pela primeira vez em consulta 
conosco, com um determinado motivo de consulta, só que 
quando interrogado relata outras questões como 
tabagismo, nesse caso, esses problemas entram como 
motivos da consulta, e devem ser descritos, também, 
como antecedentes pessoais na história, sendo que esse 
registro deve ficar na folha de rosto. A partir da segunda 
consulta, caso o paciente já tenha o tabagismo listado na 
folha de rosto dos seus problemas ativos, o tabagismo só 
entra novamente como motivo da consulta caso o paciente 
venha especificamente para tratar dessa questão 
novamente, ou esse assunto seja gerado pelo profissional. 
O – Objetivo 
Inclui dados observáveis, mensuráveis e verificáveis, como 
sinais vitais, exames físicos, resultados de exames 
laboratoriais ou de imagem. São informações que o 
médico coleta durante o exame físico e os testes 
realizados. 
 
Não cabe nesse momento interpretações, e nada pode ser 
interferido pelo que o paciente narrou. O objetivo serve 
apenas para apoiar o raciocínio clínico, a partir dos 
motivos de consulta do paciente, e possíveis suspeitas 
diagnósticas. Mesmo que não tenham sido trazidos como 
motivo de consulta. Por exemplo, realizar a palpação da 
tireoide, mesmo se o paciente não tiver queixas. 
 
O objetivo é dividido em apenas duas partes: 
• Exame físico: onde descrevemos todo exame 
realizado, incluindo sinais vitais e dados 
antropométricos. Mesmo os sinais do exame 
físico que possam dar margem a interpretação, 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
2 
como a intensidade de uma bulha cardíaca. 
Devemos utilizar cruzes para tentar deixar o mais 
objetivo possível. 
• Resultado de exames complementares: todos 
os resultados de exames trazidos pelo paciente 
devem ser anotados, mesmo aqueles que não 
tenham sido solicitados por nós, porém que 
possam auxiliar no raciocínio clínico. 
A – Avaliação 
É o momento da concretização das hipóteses e dos 
diagnósticos. O médico faz uma interpretação clínica das 
informações coletadas nas fases subjetiva e objetiva, 
formulando um diagnóstico ou uma lista de possíveis 
diagnósticos diferenciais. A avaliação também pode incluir 
a evolução do quadro ou o prognóstico. 
 
Caso não haja elementos para elaborar um diagnóstico 
preciso durante a consulta, aqui podem ser reproduzidos 
novamente os sinais/sintomas mais pertinentes para 
nossa linha de raciocínio clínico. Enfim, o problema pode 
ser tanto um sinal, sintoma ainda sem diagnóstico, 
síndromes etc., quanto um diagnóstico definido. No 
primeiro caso, necessariamente deveremos colocar uma 
ou mais hipóteses diagnósticas correspondentes. 
 
Importante salientar, que nessa parte do registro não 
iremos listar todos os problemas do paciente, pois esses 
outros problemas não relacionadosdo terceiro fármaco dependerá 
das características clínicas ou da situação 
socioeconômica de cada paciente. 
 
 
 
 
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Quando Referenciar 
Sempre que o médico de família tiver alguma dúvida em 
relação à indicação de insulina ou não se sentir seguro para 
instituir essa terapia, é prudente referenciar o paciente para o 
endocrinologista de referência. 
Todos os pacientes se beneficiam da orientação de um 
nutricionista, bem como das orientações para o autocuidado 
e para a autoaplicação de insulina realizada pelos 
profissionais de enfermagem. 
O exame de fundo de olho sob midríase realizado por 
oftalmologista deve ser feito no diagnóstico e repetido 
anualmente. 
Quando há deformidade dos pés e/ou hiperceratose plantar, 
história de ulceração dos pés, doença vascular ou neuropatia 
significativa, o referenciamento deve ser feito para os 
respectivos serviços de referência, sendo que a claudicação 
limitante e a dor em repouso configuram urgências que 
precisam ser avaliadas dentro de 48 horas pelo cirurgião 
vascular. 
Deve-se referenciar para o nefrologista os pacientes com TFG 
de risco ou doenças já estabelecidas. Não há uma causa 
definida para o seu desenvolvimento, mas diversas 
características estão associadas a ela, bem como às doenças 
cardiovasculares propriamente ditas, como, por exemplo, o 
sedentarismo, a história familiar, a obesidade, o tabagismo, 
as condições socioeconômicas desfavoráveis. 
Agravantes: 
• Dislipidemia; 
• Obesidade abdominal; 
• Intolerância a glicose; 
• Diabetes melitos. 
Associações Frequentes 
A HAS isolada, ou relacionada a outros fatores de risco, 
associa-se a um risco aumentado de doenças 
cardiovasculares, sobretudo as doenças cerebrovasculares e 
as doenças isquêmicas cardíacas. 
• Morte súbita; 
• Acidente vascular encefálico; 
• Infarto agudo do miocárdio; 
• Insuficiência cardíaca; 
• Doença arterial periférica; 
• Doença renal crônica; 
• Cardiomegalia. 
Causas da Hipertensão Arterial 
• Genética; 
• Idade: com o envelhecimento, a PAS torna-se um 
problema mais significante, resultante do 
enrijecimento progressivo e da perda de 
complacência das grandes artérias. 
 
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• Sexo: faixas mais jovens é mais elevada entre 
homens, mas a elevação pressórica por década se 
apresenta maior nas mulheres. 
• Etnia; 
• Sobrepeso/obesidade; 
• Ingestão de sódio: a literatura científica mostra que 
a ingestão de sódio está associada a DCV e AVE, 
quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio, 
o equivalente a 5 g de sal de cozinha. 
• Sedentarismo; 
• Álcool; 
• Fatores socioeconômicos; 
• Medicações: inibidores da monoaminaoxidase e os 
simpatomiméticos, como descongestionantes nasais 
(fenilefrina), antidepressivos tricíclicos (imipramina e 
outros), hormônios tireoidianos, contraceptivos 
orais, anti-inflamatórios não esteroides, 
carbexonolona e liquorice, glicocorticoides, 
ciclosporina, eritropoietina. 
• Drogas ilícitas: cocaína, cannabis sativa, anfetamina 
e 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA). 
Diagnóstico 
Diante de um caso suspeito de hipertensão, a primeira 
abordagem deve ser a de tranquilizar a pessoa, estabelecer 
uma comunicação efetiva sobre o problema, esclarecer 
dúvidas, desmedicalizar e planejar a realização das medidas 
de PA, para minimizar possíveis vieses desta etapa. Tendo em 
vista que o rótulo de hipertensão costuma ser considerado 
permanente, é fundamental realizar uma avaliação integral, 
estabelecer o vínculo e permitir a longitudinalidade e o 
watchful waiting (observação vigilante). Nesta etapa, é comum 
que muitos casos sejam falso-positivos, constituindo-se uma 
ótima oportunidade para a prevenção quaternária. 
Durante o processo longitudinal de tomada de medidas de PA, 
podem-se obter as análises laboratoriais pertinentes, como 
glicemia e creatinina, e eletrocardiograma (ECG) (é comum 
que pseudocrises hipertensivas apresentem palpitações – ou 
“batedeira no peito” – como sintomas relatados). Porém, 
deve-se tomar cuidado com a realização de outros exames 
sem que haja uma motivação consistente para isso, de forma 
que ecocardiograma, Holter, radiografia torácica são 
exames que poderão ser considerados se houver indicação 
específica e quando o diagnóstico de HAS já estiver 
consistentemente estabelecido, uma vez que fazem parte da 
avaliação das complicações (lesão de órgãos-alvo) e não são 
critérios diagnósticos. 
Anamnese 
A avaliação subjetiva deve ser bastante valorizada. Obter 
informações sobre o momento de vida, as condições 
socioeconômicas e os relacionamentos pessoais podem 
auxiliar na identificação de fatores estressores 
frequentemente confundidos com “pressão alta”. As 
informações sobre estilo de vida, hábitos de atividade física, 
hábitos alimentares, uso de cafeína, álcool, tabaco e outras 
drogas, história familiar de doenças cardiovasculares em 
familiares de primeiro grau (pai/mãe e irmãos antes dos 
55/65) também são importantes, bem como a avaliação de 
história pessoal de doenças cardiovasculares manifestas 
prévias (infarto, angina, acidente vascular cerebral [AVC]) e 
outros problemas de saúde previamente diagnosticados. O 
diagnóstico deverá ocorrer após pelo menos três medidas em 
dias e horários diferentes, com a média da PA ³ 140/90 
mmHg, a partir de avaliação médica. 
Exame Físico 
O controle da PA deve ser idealmente verificado a partir de 
registros domiciliares, e o apoio da equipe de enfermagem 
pode ser necessário. Estratégias como o uso de diários de 
pressão domiciliares são válidas, ainda mais em um contexto 
com dificuldade de acesso à MAPA. 
De acordo com o protocolo do National Institute for Health and 
Care Excellence (NICE), 14 medidas domiciliares realizadas 
duas vezes ao dia, no mesmo horário, por 7 dias consecutivos 
se aproximam da MAPA. 
O mesmo procedimento deveria ser realizado para o 
diagnóstico ambulatorial com medidas feitas na unidade de 
saúde, sempre com duas medidas consecutivas, com intervalo 
de pelo menos 1 minuto entre elas, com a pessoa sentada. 
O esfigmomanômetro padrão-ouro é o de mercúrio, que tem 
sua comercialização cada vez mais restrita. Os aneroides 
devem ser calibrados pelo menos uma vez ao ano, e alguns 
estudos atestam a acurácia dos digitais de braço que também 
devem ser calibrados periodicamente. 
A PA é parâmetro fundamental na avaliação do indivíduo 
atendido devido a uma emergência, mas este não é o caso da 
consulta de seguimento do hipertenso, que inclui as seguintes 
ações: 
• Estabelecer o índice de massa corporal (IMC) e a 
circunferência abdominal para o cálculo do risco 
cardiovascular. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
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• Deverá ser realizada a medida da frequência cardíaca 
(FC) e a ausculta cardíaca. 
• Realizar exame físico geral, pois alguns estigmas 
podem indicar causas secundárias de HAS, como 
hipertireoidismo e síndrome de Cushing. 
• Realizar exame cardiovascular, para auxiliar na 
suspeita de lesão de órgãos-alvo, como nas doenças 
ateroscleróticas, no aneurisma de aorta abdominal e 
na insuficiência cardíaca. Entretanto, deve-se tomar 
cuidado, pois o valor diagnóstico de alguns achados 
de exame físico em pacientes assintomáticos é 
geralmente muito baixo e inespecífico. O exame de 
fundo de olho é importante também nesta etapa. 
Rastreamento: 
Deve ser realizado em todos os usuários com mais de 18 
anos, independente do motivo da consulta. 
• PA £ 120/80 mmHg: bianual; 
• PA > 120/80 ede Reynolds: é uma ferramenta que considera 
fatores adicionais, especialmente útil para mulheres. 
Além dos fatores tradicionais, inclui: 
• Níveis de Proteína C-Reativa (PCR); 
• História familiar de doenças cardiovasculares 
precoces. 
Assim como o escore ASCVD, o escore de Reynolds pode ser 
calculado por meio de uma calculadora online que leva em 
conta os fatores mencionados. 
Exames Complementares 
Após a definição do diagnóstico de hipertensão, os seguintes 
exames devem ser incluídos na avaliação inicial: 
• Glicemia de jejum – Anual; 
• Colesterol total e frações – Anual ou 3 meses após 
iniciar estatinas; 
• Triglicérides 
• Creatinina sérica – Anual ou após 2 semanas do 
início/aumento da dose de captopril/Losartana; 
• Sedimento urinário; 
• Microalbuminúria; 
• Potássio; 
• ECG em repouso. 
 
 
 
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Frequência de acompanhamento e exames 
A frequência de acompanhamento da pessoa hipertensa 
sugerida pelo Caderno de Atenção Básica é baseada no risco 
cardiovascular de base: 
• Baixo risco cardiovascular ( 20% em 10 anos): consulta a cada 4 
meses. 
A frequência de exames sugerida pelo Ministério da Saúde é 
anual, porém não há uma base forte de evidência para estas 
recomendações. 
Tratamento 
A ESF tem papel fundamental no diagnóstico e sucesso do 
tratamento. É necessário educação para o autocuidado, 
dúvidas sobre condição clínica, a modificação do estilo de vida 
(MEV), aspectos psicossociais e elaborar junto com o usuário 
o seu plano. 
A promoção à saúde é o caminho que tem mostrado melhores 
resultados, por meio da redução de sódio nos alimentos 
industrializados, de políticas públicas para desmotivação do 
tabagismo e do uso abusivo de álcool, da promoção à prática 
de atividades físicas por meio de medidas de mobilidade 
urbana, e de oferta de locais para isso, entre muitas outras 
ações. Tais medidas precisam atingir a maior parte da 
população com políticas públicas de qualidade e de longa 
duração. 
As orientações dietéticas nas consultas médicas ocupam 
bastante tempo e não parecem muito eficazes quando não 
surgirem por interesse da pessoa. A “perseguição ao saleiro” 
desvia o foco das maiores fontes de sódio presentes na 
alimentação humana: os produtos industrializados. 
Em nível individual, a abordagem da HAS deve respeitar a 
avaliação global do risco cardiovascular. Embora o risco 
cardiovascular possa identificar indivíduos de maior risco, seu 
resultado não deve ser usado como regra de decisão para a 
prescrição de tratamentos. Identificando-se o perfil de uma 
pessoa, pode-se priorizar a abordagem de acordo com o 
componente do risco mais representativo. 
A pessoa hipertensa não deve ser estimulada a pensar que 
sua condição é permanente e incurável, uma vez que isso 
poderá desestimular sua adesão ao plano terapêutico. As 
dificuldades de adesão devem ser encaradas como problemas 
a serem compreendidos na perspectiva do médico e da 
pessoa, e não como “rebeldia do paciente”. 
Tratamento Não Farmacológico 
Englobam uma série de mudanças de estilo de vida, como 
aumento da atividade física, perda de peso, dieta mais 
saudável (com restrição de sódio, sobretudo de alimentos 
industrializados), cessação do tabagismo, redução de uso 
excessivo de álcool. Tais medidas em geral são difíceis de 
implementar individualmente, pois dependem não apenas da 
força de vontade das pessoas, mas também do contexto 
socioeconômico e cultural em que vivem. Assim, um erro 
comum é culpar os pacientes por seus hábitos de vida não 
saudáveis e prescrever de forma autoritária e persecutória 
modificações de estilo de vida que muitas vezes são 
inatingíveis. 
 
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Tratamento Farmacológico 
Deve-se lembrar de que o tratamento medicamentoso de HAS 
no estágio 1 – PAS entre 140-160 mmHg e PAD entre 80-90 
mmHg – não oferece benefícios de mortalidade sobre o 
placebo. Além disso, metas menores do que 140x90 mmHg 
não trazem benefício, pelo menos para pessoas sem outras 
comorbidades. Ou seja, para pacientes com hipertensão 
estágio 1, o tratamento medicamentoso pode não ser 
necessário se não houver risco claro de complicações, já que 
ele não traz benefícios evidentes em relação à redução da 
mortalidade. Ainda, metas de pressão abaixo de 140/90 
mmHg podem não ser mais benéficas para pacientes sem 
outras doenças associadas (comorbidades), e o objetivo deve 
ser controlar a pressão de maneira equilibrada, sem tentar 
forçar uma redução excessiva. 
A tomada de decisão para iniciar o tratamento farmacológico 
da HAS e a escolha dos medicamentos devem levar em conta 
as comorbidades da pessoa, o perfil de efeitos colaterais e o 
seu benefício na prevenção de desfechos adversos, como 
infartos e derrames. 
As medicações de primeira escolha para o tratamento da HAS 
são diuréticos tiazídicos, inibidores da enzima conversora da 
angiotensina (IECA), bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) 
e antagonistas dos receptores da angiotensina II (ARB II).
Medicamentos mais utilizados e disponíveis no SUS 
Medicações anti-hipertensivas disponíveis na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) 
Classe – Mecanismo de Ação Fármaco Concentração Dose 
mínima 
Dose 
máxima 
Tomadas 
ao dia 
Diuréticos tiazídicos: agem na porção 
inicial do túbulo contorcido distal. 
consiste na redução do volume 
extracelular pela interação com um 
cotransportador de NaCl (SLC12A3) 
sensível a tiazidas expresso no túbulo 
contorcido distal do rim, intensificando a 
excreção urinária de Na+ e resultando em 
diminuição do débito cardíaco. 
Hidroclorotiazida 12,5 mg e 25 mg 12,5-25 mg 50 mg 1 
Agentes poupadores de potássio: 
atuam por meio de inibição reversível do 
canal epitelial de Na+ (CENa) na 
membrana do túbulo distal, 
Espironolactona 25 mg e 100 mg 25 mg 100 mg 1-2 
 
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transportador responsável pela 
reabsorção de Na+ em troca de K+. 
Betabloqueadores seletivos: tem como 
principal alvo os receptores beta-
adrenérgicos: 
• Beta-1(β1): predominam no 
coração, sua ativação aumenta 
a FC (cronotropismo +), a força 
de contração do coração 
(inotropismo +) e a condução 
do impulso elétrico 
(dromotropismo +). 
Os betabloqueadores seletivos 
bloqueiam os receptores beta-1 no 
coração, resultando na redução da 
frequência cardíaca, da força de 
contração e da velocidade de condução 
do impulso elétrico, o que diminui a carga 
de trabalho do coração, a pressão 
arterial e a demanda de oxigênio. Esses 
efeitos tornam os betabloqueadores 
seletivos eficazes no tratamento da 
hipertensão, insuficiência cardíaca, 
arritmias e angina, ao aliviar o esforço 
cardíaco e melhorar a perfusão 
sanguínea. 
Atenolol 
 
50 mg e 100 mg 25 mg 100 mg 1-2 
 
1-2 
Succinato de 
metoprolol 
25, 50 e 100 mg 25-100 mg 200 mg 1-2 
Tartarato de 
metoprolol 
100 mg 25-100 mg 200 mg 1-2 
Agentes alfa e betabloqueadores: 
possui um mecanismo de ação 
combinado, atuando tanto 
nos receptores alfa quanto 
nos receptores beta do sistema nervoso 
simpático. São não seletivos e agem 
bloqueando tanto os receptores beta-
1 no coração, reduzindo a frequência 
cardíaca, a força de contração e a 
condução do impulso elétrico, quanto os 
receptores beta-2, o que pode afetar a 
broncodilatação e a vasodilatação, 
embora de forma menos pronunciada. 
Além disso, ele bloqueia os receptores 
alfa-1 nos vasos sanguíneos, 
promovendo vasodilatação e ajudando a 
reduzir a resistência vascular periférica, o 
que diminui a pressão arterial. Esses 
efeitos combinados tornam essa classe 
eficaz no tratamento de condições como 
HAS, IC e angina. 
Carvedilol 3,125, 6,25, 12,5 
e 25 mg 
12,5 mg 50 mg 1-2 
Betabloqueadores não seletivos: 
bloqueiam tanto os receptores 
adrenérgicos beta-1, encontrados 
principalmenteno miocárdio, quanto os 
beta-2, encontrados no músculo liso, nos 
Propanolol 10 e 40 mg 40 mg 240 mg 2-3 
 
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pulmões, nos vasos sanguíneos e em 
outros órgãos. 
• Beta-1(β1): predominam no 
coração, sua ativação aumenta 
a FC (cronotropismo +), a força 
de contração do coração 
(inotropismo +) e a condução 
do impulso elétrico 
(dromotropismo +). 
• Beta-2 (β2): Localizam-se 
principalmente nos pulmões e 
nos vasos sanguíneos, onde sua 
ativação provoca 
broncodilatação e 
vasodilatação. 
Antiadrenérgicos de ação central: atua 
no sistema nervoso central para reduzir a 
atividade do sistema nervoso simpático. 
Ele é convertido em α-
metilnoradrenalina, que ativa 
os receptores alfa-2 adrenérgicos, 
inibindo a liberação de noradrenalina e 
diminuindo a atividade simpática, 
resultando em vasodilatação e redução 
da pressão arterial, sendo eficaz no 
tratamento da hipertensão, 
particularmente em gestantes. 
Metildopa 250 mg 500 mg 1.500 mg 2-3 
Bloqueadores seletivos de canal de 
cálcio – diidropiridínicos: atuam 
bloqueando os canais de cálcio tipo L nas 
células musculares lisas dos vasos 
sanguíneos, o que reduz a entrada de 
cálcio nas células e promove 
a vasodilatação. Isso leva à redução da 
resistência vascular periférica, 
diminuindo a pressão arterial e aliviando 
a angina. Esses medicamentos têm um 
efeito predominante nos vasos 
sanguíneos, com impacto mínimo 
na frequência cardíaca e contratilidade 
cardíaca. 
Anlodipino 5 e 10 mg 5 mg 10 mg 1 
Nifedipino 10 mg 20-40 mg 60 mg 3 
Bloqueadores seletivos de canal de 
cálcio – não diidropiridínicos: 
bloqueiam os canais de cálcio tipo L no 
coração, com maior afinidade para os 
canais do nódulo sinoatrial e nódulo 
atrioventricular, resultando em redução 
da frequência cardíaca (efeito 
cronotrópico negativo), diminuição da 
contratilidade cardíaca (efeito inotrópico 
negativo) e redução da condução 
elétrica (efeito dromotrópico negativo), 
Verapamil 80 e 120 mg 80-120 mg 
 
480 mg 2-3 
 
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sendo úteis no tratamento 
de taquicardias e arritmias. Além disso, 
causam vasodilatação nos vasos 
sanguíneos, ajudando a reduzir 
a pressão arterial, sendo eficazes no 
tratamento de hipertensão e angina. 
Agentes que atuam no músculo liso 
arteriolar: age diretamente no músculo 
liso das arteríolas, 
promovendo vasodilatação ao bloquear 
canais de cálcio ou inibir a liberação de 
cálcio, o que reduz a resistência vascular 
periférica e diminui a pressão arterial. 
Esse efeito é útil no tratamento 
da hipertensão e alivia a carga sobre 
o coração. A vasodilatação pode 
desencadear uma resposta 
compensatória do corpo, ativando o 
sistema renina-angiotensina-aldosterona 
(SRAA), o que pode levar à retenção de 
sódio e água, sendo necessário o uso 
de diuréticos ou betabloqueadores para 
evitar aumento de volume sanguíneo. 
Além disso, a hidralazina pode diminuir 
o retorno venoso ao coração, reduzindo 
a pressão venosa central e auxiliando no 
tratamento da insuficiência cardíaca. 
Hidralazina 25 e 50 mg 25 mg 200 mg 2 
IECA (Inibidores da enzima conversora 
da angiotensina): têm como ação 
principal a inibição da enzima conversora 
de angiotensina I, responsável a um só 
tempo pela transformação de 
angiotensina I em angiotensina II 
(vasoconstritora) e pela redução da 
degradação da bradicinina 
(vasodilatadora). Os IECAs diminuem os 
níveis de angiotensina II e aumentam os 
níveis de bradicinina. Portanto, ocorre a 
vasodilatação de arteríolas e veias. 
Reduzindo os níveis de angiotensina II 
circulante, os IECAs também diminuem a 
secreção de aldosterona, resultando em 
menor retenção de sódio e água. Os 
efeitos desses fármacos ainda atuam 
diminuindo pré-carga e pós-carga 
cardíaca, reduzindo, dessa forma, o 
trabalho cardíaco. 
Captopril 25 mg 25 mg 200 mg 2 
Enalapril 5, 10 e 20 mg 5 mg 40 mg 1-2 
ARB (Antagonista dos receptores da 
angiotensina II): antagonizam a ação da 
angiotensina II pelo bloqueio específico 
dos receptores AT1, responsáveis pelas 
ações próprias da angiotensina II 
(vasoconstrição, estímulo da proliferação 
Losartana 50 mg 25 mg 100 mg 1 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
39 
celular e da liberação de aldosterona). Ao 
antagonizar os efeitos da angiontensina 
II, esses agentes não peptídicos relaxam 
o músculo liso, provocam vasodilatação, 
aumentam a excreção renal de sal, 
reduzem o volume plasmático e diminuem 
a hipertrofia celular. Seus efeitos 
farmacológicos são simulares aos do 
IECAs por produzirem dilatação arteriolar 
e venosa e bloqueio da secreção de 
aldosterona, reduzindo, assim, a pressão 
arterial e diminuindo a retenção de sal e 
água. 
Fonte: Adaptada de Brasil. 
 
 
 
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Combinações 
Preferenciais 
Diuréticos tiazídicos + 
ARB 
Diuréticos tiazídicos + 
BCC 
Diuréticos tiazídicos 
+IECA 
ARB + BCC 
BCC + IECA 
Combinação Não 
Recomendada 
IECA + ARB 
 
OBS1.: apesar de amplamente usados, estudos com 
betabloqueadores mostraram piores desfechos em 
comparação com outras classes e benefício muito discreto em 
relação ao uso de placebo. Apesar disso, outras revisões 
mostram que os betabloqueadores podem ter efeito mais 
importante em pessoas jovens, podendo ser considerados 
opção terapêutica nestes pacientes. 
OBS2.: é necessário ter um julgamento clínico no momento de 
escolha do anti-hipertensivo. Por exemplo: uma pessoa 
hipertensa com crises frequentes de enxaqueca pode 
beneficiar-se do betabloqueador, já que, além do controle da 
pressão, pode oferecer profilaxia para as crises de enxaqueca. 
Em pessoas com diabetes melito (DM) ou doença renal 
crônica (DRC), os IECAs e os ARBs são a preferência devido 
ao seu efeito nefroprotetor. Em indivíduos de raça negra, 
dá-se preferência a diuréticos tiazídicos ou a BCC. 
Urgência Hipertensiva 
Quando encontramos um paciente assintomático, porém com 
pressão “muito alta”, ³ 180x110 mmHg é uma condição 
comumente chamada de urgência hipertensiva, sendo em 
geral sugerido o uso de alguma medicação para baixar 
rapidamente a pressão desta pessoa. Por mais que tal valor 
possa causar espanto, alguns estudos mostram que essa 
situação é comum em pacientes ambulatoriais e que na 
ausência de sinais objetivos de lesão de órgão-alvo, a pessoa 
pode ser manejada na APS com segurança. 
Quando a pessoa estiver na UBS com PA elevada, sem 
sintomas específicos de lesão de órgão-alvo, a proposta é: 
• Tranquilizar a pessoa e a equipe de atendimento. 
• Verificar o motivo de medida de pressão: algum 
sintoma específico? Rotina? Mediu em outro local e 
se assustou? 
• Tratar causas de elevação de PA, como dor e 
ansiedade, as quais são denominadas pseudocrise 
hipertensiva. 
• Checar adesão do paciente ao esquema de 
medicação anti-hipertensiva, se já for hipertenso 
crônico diagnosticado. 
• Solicitar medidas de pressão realizadas em outros 
cenários (p. ex., medidas domiciliares) para melhor 
avaliar o controle de PA e ajustar a medicação 
posteriormente, ou excepcionalmente já ajustar as 
medicações de uso contínuo. 
• Realizar registro adequado e relatório médico do 
atendimento para seguimento com o médico de 
referência do paciente. 
Quando Referenciar 
Hipertensão de difícil controle: com, no mínimo, três 
medicações de classes diferentes em doses adequadas e após 
avaliar adesão. 
Hipertensão secundária: dependendo da condição do serviço 
e da segurança clínica, o médico de família e comunidade pode 
iniciar a investigação na APS e referenciar em um segundo 
momento. 
Emergências hipertensivas: aqui, ressalta-se que o grupo 
emergências hipertensivas reúne diferentes diagnósticos. 
Nesses diagnósticos, o papel do médico de família e 
comunidade é reconhecer a emergência, prestar os cuidados 
iniciais e referenciar a pessoa ao serviçode emergência. São 
exemplos de emergências hipertensivas: infarto agudo do 
miocárdio e síndromes coronarianas agudas, AVC isquêmico 
ou hemorrágico, dissecção de aorta, edema agudo de pulmão, 
encefalopatia hipertensiva e eclâmpsia. 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1392. ISBN 9788582715369. 
BRASIL. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira 
de Hipertensão Arterial 2020. Arquivos Brasileiros de 
Cardiologia, v. 115, n. 3, p. 1-87, 2020. 
Slides do Professor Paulo 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
43 
SEMANA 06: DIAGNÓSTICO E 
MANEJO DA DOENÇA 
PULMONAR OBSTRUTIVA 
CRÔNICA (DPOC) NA APS – 
DATA: 24/02/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Compreender o diagnóstico e manejo da doença 
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) na APS. 
Objetivos Específicos 
• Conhecer os fatores de risco, prevalência e impactos 
da DPOC; 
• Compreender a história natural da DPOC; 
• Abordar diagnóstico, exames, diagnóstico diferencial; 
• Conhecer as abordagens terapêuticas da DPOC no 
âmbito da Atenção Básica; 
• Reconhecer o manejo das exarcebações, 
comorbidades associadas, bem como 
encaminhamento ao especialista. 
DPOC 
A DPOC é o termo usado para descrever uma obstrução das 
vias aéreas devido à bronquite crônica ou ao enfisema 
pulmonar. Essas duas moléstias estão presentes no mesmo 
paciente, podendo predominar os sintomas de uma ou outra. 
O grau de obstrução das vias aéreas e a quantidade de tecido 
danificado determinam a severidade da doença. 
A DPOC é uma doença muito prevalente, subdiagnosticada, 
subtratada e pouco percebida. É uma doença multissistêmica 
e tratável. O tratamento é efetivo para as manifestações 
respiratórias da DPOC. 
A definição atual da GOLD 2017 foi simplificada, passou a 
incluir especificamente sintomas persistentes e declara que 
“[...] a DPOC é uma doença comum, passível de prevenção e 
tratamento, caracterizada por sintomas respiratórios e 
limitação ao fluxo aéreo persistentes, decorrentes de 
anormalidades das vias aéreas e/ou alveolares, em geral 
causada por exposição significativa a partículas ou gases 
nocivos [...]”. A definição anterior enfatizava o componente 
extrapulmonar (inflamação sistêmica) da DPOC, que se tem 
mostrado importante do ponto de vista clínico, pois contribui 
para a gênese das comorbidades e confere aos portadores de 
DPOC um maior risco de morbimortalidade por outras causas. 
A DPOC deve ser suspeitada em qualquer indivíduo de 40 anos 
ou mais com sintomas de tosse, expectoração, ou falta de ar, 
e história de exposição a fatores de risco, particularmente o 
tabagismo. A tosse é o sintoma mais frequente, e a dispneia 
é o mais importante. A espirometria tem importância tanto 
para confirmar a impressão diagnóstica como para avaliar a 
gravidade e auxiliar nos diagnósticos diferenciais. Embora a 
espirometria isoladamente não seja suficiente para o 
diagnóstico (o rastreamento de DPOC com espirometria não 
está indicado), sua não utilização resulta em sub e 
sobrediagnóstico. Também há evidências de que a instituição 
de avaliação espirométrica pós-broncodilatador em pessoas 
com suspeita de doenças pulmonares obstrutivas melhora a 
diferenciação diagnóstica entre asma e DPOC. 
Epidemiologia 
A DPOC é uma doença respiratória comum que causa 
incapacidade substancial, redução da qualidade de vida e 
risco aumentado de morte prematura. Há um conjunto 
considerável de evidências mostrando que o tabagismo é o 
principal fator de risco para essa doença, sendo responsável 
por mais de 90% dos casos. 
A DPOC, agrupada com a asma, representa a 4ª maior causa 
de morte nos EUA, com 90.000 mortes anuais. 80% dos 
doentes por DPOC tiveram exposição significativa à fumaça do 
cigarro. 
Hoje, existem 16 milhões de pacientes que sofrem de DPOC 
nos EUA. Somando os casos subdiagnosticados estima-se que 
chegue a 30 milhões. Em 2023, os custos hospitalares foram 
de US$ 14,7 mi. 
Fatores de Risco 
Incluem uma combinação de exposição ambiental, fatores 
genéticos e condições clínicas que favorecem o 
desenvolvimento e a progressão da doença. Os principais 
fatores de risco são: 
• Tabagismo: exposição crônica à fumaça do cigarro 
danifica as vias aéreas e o parênquima pulmonar, 
levando à inflamação, destruição das paredes 
alveolares e obstrução do fluxo aéreo. 
• Exposição a poluentes ambientais: a poluição do ar, 
tanto ambiental quanto ocupacional, pode contribuir 
significativamente para o desenvolvimento da DPOC, 
especialmente em pessoas que vivem em ambientes 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
44 
com altos níveis de poluentes, como as grandes 
cidades ou regiões com forte presença de poluentes 
industriais. A exposição a fumaças e 
gases provenientes de queimadas, biomassa (como 
madeira, carvão ou esterco usado para cozinhar) 
e vapores industriais também está associada ao 
aumento do risco de DPOC. 
• Fatores genéticos: a deficiência de alfa-1 
antitripsina, uma condição genética rara, que leva a 
uma deficiência da proteína alfa-1 antitripsina, é um 
fator de risco importante, especialmente para o 
enfisema pulmonar em jovens, sem uma história 
significativa de tabagismo. A alfa-1 antitripsina 
protege os pulmões contra a ação destrutiva 
das proteases. 
• Idade avançada: é um fator de risco para a DPOC, 
pois a capacidade pulmonar diminui naturalmente 
com o envelhecimento, o que torna os pulmões mais 
vulneráveis a danos causados por exposições 
crônicas a irritantes ambientais. 
• Histórico de exposição a infecções respiratórias: 
infecções respiratórias graves durante a infância, 
como pneumonias e bronquiolite, podem afetar o 
desenvolvimento pulmonar e aumentar o risco de 
DPOC mais tarde na vida. 
• Fatores ocupacionais: a exposição no local de 
trabalho a substâncias irritantes como poeira 
(de carvão, sílica e asbesto) ou vapores químicos 
também está associada ao risco de desenvolver 
DPOC, especialmente em profissões como 
mineração, construção e agricultura. 
• Fatores socioeconômicos: têm maior risco devido a 
fatores como acesso limitado a cuidados de 
saúde, exposição ambiental mais intensa (por 
exemplo, viver em áreas com poluição elevada) 
e maiores taxas de tabagismo. 
• Comorbidades: pacientes com asma crônica podem 
ter um risco aumentado de desenvolver DPOC, 
especialmente se tiverem histórico de asma não 
controlada e tabagismo concomitante.	
Outras doenças respiratórias crônicas também 
podem predispor ao desenvolvimento da DPOC. 
Patogênese da DPOC 
A DPOC é uma condição progressiva caracterizada pela 
limitação crônica do fluxo aéreo, que não é totalmente 
reversível. A patogênese da DPOC envolve uma combinação 
de inflamação crônica das vias aéreas, destruição do 
parênquima pulmonar e alterações nas pequenas vias aéreas, 
muitas vezes resultando em obstrução das vias respiratórias. 
A patogênese da DPOC é complexa e envolve os seguintes 
mecanismos: 
1. Inflamação crônica das vias aéreas: é um dos 
principais fatores que contribuem para a obstrução 
do fluxo aéreo. Fatores como 
o tabagismo ou exposição a poluentes 
ambientais ativam células inflamatórias, 
como neutrófilos, macrófagos e linfócitos T, que 
liberam mediadores inflamatórios, 
como citocinas e proteases, que causam danos às 
vias aéreas e ao tecido pulmonar. 
2. Destruição do parênquima pulmonar (enfisema): 
leva ao enfisema, que é caracterizado pela dilatação 
anormal dos alvéolos e destruição das paredes 
alveolares. Isso resulta na perda da área de troca 
gasosa e na diminuição da elasticidade pulmonar, o 
que agrava a obstrução das vias aéreas e piora a 
ventilação. 
3. Alterações nas pequenas vias aéreas: o processo 
inflamatório também afeta as pequenas vias 
aéreas (bronquíolos), levando a um estreitamento 
das vias respiratórias e à formação 
de cicatrizes e fibrose. Essas alterações aumentama 
resistência ao fluxo aéreo, agravando a limitação do 
fluxo respiratório. 
4. Exposição de fatores ambientais: o tabagismo é o 
principal fator de risco para a DPOC, mas outros 
fatores, como exposição a poluentes 
ambientais e substâncias irritantes, também 
desempenham papel importante na indução e 
progressão da doença. 
5. Disfunção das células do sistema imune: a ativação 
crônica do sistema imunológico na DPOC resulta em 
uma resposta inflamatória desregulada, com 
ativação excessiva de macrófagos e neutrófilos, que 
produzem proteases e radicais livres, resultando na 
destruição do tecido pulmonar e na obstrução das 
vias aéreas. 
Essa combinação de inflamação crônica, dano ao 
parênquima e alterações estruturais contribui para o 
agravamento da limitação do fluxo aéreo e a progressão da 
DPOC, levando a sintomas como dispneia, tosse 
crônica e produção excessiva de muco. A progressão da 
doença é frequentemente associada à diminuição da função 
pulmonar e ao aumento do risco de exacerbações e 
complicações respiratórias. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
45 
 Na DPOC, os mecanismos patológicos não ocorrem de 
maneira isolada, mas sim de forma inter-relacionada, embora 
a expressão clínica e a gravidade da doença possam variar 
entre os pacientes. Em geral, os principais mecanismos que 
contribuem para a patogênese da DPOC — como 
a inflamação crônica das vias aéreas, a destruição do 
parênquima pulmonar (enfisema) e as alterações nas 
pequenas vias aéreas — estão frequentemente presentes, 
mas em diferentes graus de severidade, dependendo da 
exposição a fatores ambientais (principalmente o tabagismo) 
e da resposta imunológica individual. 
Enfisema: aumento anormal dos espaços aéreos distais ao 
bronquíolo terminal. Destruição das paredes alveolares à 
mecanismo da protease-antiprotease (elastase - a1-AT) 
 
Bronquite crônica: hipersecreção de muco nas grandes vias 
aéreas, associada com hipertrofia das glândulas submucosas 
na traqueia e nos brônquios. Aumento acentuado das células 
caliciformes das pequenas vias aéreas, resultando na 
produção excessiva de muco. 
 
Diagnóstico 
• História de tabagismo de mais de 70 maços/ano 
apresenta uma razão de verossimilhança positiva 
(RVP), ou likelihood ratio positivo (LR+), de 8,0 para 
DPOC. Ausência de tabagismo apresenta uma razão 
de verossimilhança negativa (RVN) de 0,16. 
• Produção diária de catarro de mais de um quarto de 
xícara tem um RVP de 4,0; 
• História de chiado tem um RVP de 3,8; 
• História de dispneia tem um RVP de 2,2; e 
• Tosse, de 1,8. 
A combinação de achados é mais útil para fechar o diagnóstico 
do que para excluí-lo. Assim, um indivíduo com qualquer 
combinação de dois dos seguintes achados tabagismo > 70 
maços/ano, história de DPOC ou diminuição dos sons 
respiratórios à ausculta, tem um RVP de 34 para DPOC, 
fechando o diagnóstico. 
Somente três elementos da anamnese e do exame físico se 
associaram ao diagnóstico de DPOC na análise multivariada: 
história prévia de DPOC (RVP ajustada de 4,4), presença de 
sibilos (RVP ajustada de 2,9) e tempo expiratório forçado 
acima de 9 segundos (RVP ajustada de 4,6). A RVP (ou LR+) 
combinada desses três fatores foi de 59 (fechando o 
diagnóstico de DPOC), e a RVN (ou LR-) foi de 0,3. 
Muitas vezes, a dispneia e a intolerância aos esforços são 
atribuídas à falta de preparo físico, ao processo de 
envelhecimento e ao tabagismo, e a tosse crônica (ou pigarro) 
é considerada uma resposta normal ao tabagismo, o que faz 
muitas pessoas com tais sintomas não procurarem a APS por 
acreditarem tratar-se de uma consequência normal da idade 
e do estilo de vida. Assim, deve-se ter uma postura de busca 
ativa de casos, quando se depara com indivíduos tabagistas. 
Existe uma discussão considerável sobre quais os melhores 
critérios diagnósticos para DPOC. Embora a espirometria seja 
a principal ferramenta diagnóstica, não há consenso sobre 
qual é o melhor parâmetro espirométrico. 
O parâmetro mais utilizado, preconizado pela GOLD e pela 
American Thoracic Society (ATS), para diagnosticar obstrução 
ao fluxo aéreo, é a relação VEF 1 /CVFsão o chiado, a tosse e a produção de catarro. Tosse é o 
sintoma mais frequente, precedendo ou aparecendo 
simultaneamente à dispneia na maioria dos casos (75%). É 
diária ou intermitente e, geralmente, produtiva. A dispneia é 
o sintoma mais importante, associando-se a incapacidade 
física, a piora da qualidade de vida e o pior prognóstico. É 
insidiosa no início e progressiva. O chiado está 
frequentemente presente, tendo sido relatado em 83% dos 
casos em algumas séries. 
O exame físico deve procurar por sinais de hiperinsuflação 
pulmonar (tórax em barril, hipersonoridade à percussão 
do tórax, ausência de ictus, bulhas abafadas, excursão 
diafragmática reduzida), os quais estão geralmente 
presentes na doença avançada, além de sinais de obstrução 
ao fluxo aéreo (sibilos, expiração prolongada) e presença 
de secreção nas vias aéreas (roncos). 
A oximetria de pulso, por ser de baixo custo, deve ser 
incluída no exame físico da pessoa com DPOC. É importante 
também medir o peso e a altura (IMC), bem como avaliar 
sinais de desnutrição e consumo muscular, que comumente 
acompanham os casos de DPOC graves. 
Avaliação de sinais de comorbidades associadas e de 
diagnósticos diferenciais deve fazer parte do exame físico. Do 
ponto de vista da avaliação formal dos valores diagnósticos 
de itens do exame físico, apenas quatro deles têm valor 
diagnóstico independente para DPOC: a presença de 
sibilos à ausculta pulmonar, o tempo expiratório forçado 
aumentado (> 9 segundos), a descida da laringe 
(distância entre o topo da cartilagem tireóidea e fúrcula 
esternal ≤ 4 cm) e a expiração prolongada. 
Sinal de Hoover: refere-se à incursão paradoxal do 
gradeado costal inferior durante a inspiração e pode ajudar 
no prognóstico. Esse sinal pode estar presente em até 76% 
dos pacientes com DPOC grave e ser um marcador clínico útil 
de obstrução severa de vias aéreas para auxiliar em 
situações de triagem e manejo na emergência, além de um 
bom preditor de desfechos clínicos. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
48 
 
Há ainda o uso de musculatura acessória e o pulso paradoxal, 
que podem ser úteis em situações de exacerbação aguda. 
Exames Complementares 
O principal exame complementar para o diagnóstico da DPOC 
e sua classificação de gravidade é a espirometria. Exames de 
imagem, como radiografia torácica ou tomografia de tórax, 
são usados para avaliar diagnósticos diferenciais e 
comorbidades. 
Radiografia Torácica 
Achados: 
• Hiperinsuflação pulmonar: 
• Hemidiafragmas achatados (retificados); 
• Coração pequeno; 
• Alterações bolhosas; 
• “Traqueia em bainha de sabre” → estreitamento 
coronal acentuado da tranqueia intratorácica (visão 
frontal); alargamento sagital concomitante (visão 
lateral); 
 
No Perfil: 
• “Tórax em barril” → diâmetro ântero-posterior 
alargado. 
 
 
Mulher, 66 anos, aposentada, fumante inveterada. Falta 
de ar ao esforço. 
 
Achados: os pulmões estão marcadamente 
hiperinsuflados. Achatamento do diafragma. Alteração 
bolhosa no lobo superior esquerdo. O coração tem uma 
aparência alongada. 
 
 
 
 
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49 
Outros Exames 
• Hemograma deve ser realizado para afastar anemia 
e policitemia. 
• Eletrocardiograma e o ecocardiograma: podem 
ser realizados em pessoas com sinais sugestivos de 
IC/ cor pulmonale ou que apresentem sinais ou 
sintomas de outras DCVs. 
• Oximetria de pulso de repouso e aos esforços 
deve ser realizada para avaliar hipoxemia e 
necessidade de oxigênio domiciliar. 
• Gasometria arterial (GA) para confirmação do 
quadro de hipoxemia e necessidade de oxigênio 
domiciliar. 
• Dosagem de alfa-1-antitripsina. 
• Outras avaliações: sintomas psiquiátricos; estado 
nutricional; risco cardiovascular 
Tratamento 
A abordagem de pessoas com DPOC na APS deve incluir pelo 
menos quatro componentes: avaliação e monitoramento da 
doença, redução de fatores de risco, manejo do indivíduo 
com DPOC estável e manejo das exacerbações agudas. 
Os objetivos do acompanhamento e tratamento de pessoas 
com DPOC na APS são: 
• Aliviar os sintomas. 
• Prevenir a progressão da doença. 
• Melhorar a capacidade física (tolerância aos 
exercícios). 
• Melhorar o estado geral de saúde e bem-estar. 
• Prevenir e tratar complicações. 
• Prevenir e tratar exacerbações agudas. 
• Reduzir a mortalidade. 
• Referenciar ao especialista quando necessário 
(função de filtro). Realizar a prevenção quaternária 
(não referenciar ao especialista quando não 
necessário, não expor a pessoa a intervenções 
diagnósticas e terapêuticas desnecessárias e 
prevenir e minimizar os efeitos colaterais do 
tratamento). 
Tratamento Não Farmacológico 
• Cessação do tabagismo; 
• Reabilitação pulmonar e fisioterapia respiratória; 
• Tratamento cirúrgico. 
Tratamento Medicamentoso 
Atualmente a classificação ABCD é utilizada para classificar o 
grupo de risco e perfil sintomático para determinar o 
tratamento inicial da DPOC. A conduta terapêutica 
subsequente é realizada conforme avaliação da intensidade 
dos sintomas e do perfil de risco de exacerbações. Veja a 
classificação de risco da DPOC: 
 
 
 
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Notas de aula do Professor Paulo: 
• Anticolinérgicos: de preferência não absorvíveis 
administrados com inalador com dosímetro. O 
principal é o ipratrópio, que não apresenta os efeitos 
colaterais da atropina. É usado 3 a 4x/dia e 
apresenta absorção sistêmica mínima. 
• b-Adrenérgicos: de preferência os b2 agonistas 
altamente específicos por possuírem efeitos 
cardíacos mínimos, como o salbutamol. 
OBS.: Recentemente há disponível uma associação 
medicamentosa em um único inalador com dosímetro dessas 
duas drogas. 
• Corticoides: são usados esteroides sistêmicos como 
a prednisona 20 a 30 mg ao dia para prova 
terapêutica, o tratamento é continuado com 10 a 20 
mg ao dia. O mais novo esteroide não absorvível 
inalável é a fluticasona. 
• Metilxantinas: a teofilina é um broncodilatador fraco 
com estreita margem entre faixa terapêutica e tóxica 
que vem sendo abandonado com o surgimento dos 
b agonistas de ação prolongada, como o salmeterol. 
• Expectorantes e supressores da tosse para alívio dos 
sintomas. 
• Uso de antibióticos precocemente quando surgem 
exarcebações que parecem ser infecciosas com 
agravamento da dispneia e do escarro: azitromicina 
250 mg 2x/dia no primeiro dia e uma vez ao dia por 
mais 5 dias. Os antibióticos (p. ex., amoxicilina) 
estarão indicados se houver o aumento da 
quantidade de catarro e a modificação do aspecto do 
catarro para purulento como parte da definição de 
exacerbação aguda. 
• Cirurgias: ressecções focais do tecido pulmonar ou 
transplante de pulmão. 
Intervenções específicas 
Uso de mucolíticos: estudos sugerem que a N-acetilcisteína e 
a carbacisteína reduzem o número de exacerbações agudas. 
Oxigenoterapia domiciliar: deve ser usada em pacientes 
propensos a desenvolver hipertensão pulmonar e insuficiência 
pulmonar direita, cor pumonale. Muitas vezes o O2 é 
administrado somente durante o sono para manter a 
saturação > 90%. 
Indicações: 
• Pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2) ≤ 55 
mmHg ou SatO2 ≤ 88% em repouso. 
• PaO2 entre 56 e 59 mmHg ou SatO2 ≤ 89% com 
evidências de cor pulmonale ou policitemia. 
Flebotomias (sangria): é um procedimento médico que 
envolve a remoção de sangue de um paciente. A policitemia é 
uma condição em que há um aumento anormal no número de 
glóbulos vermelhos no sangue. Ela pode ocorrer como uma 
resposta do corpo à hipóxia crônica (baixa oxigenação do 
sangue), que é comum em pacientes com DPOC. Quando o 
organismo detecta baixos níveis de oxigênio, ele tenta 
compensar essa falta produzindo mais glóbulosvermelhos, 
um processo mediado pela eritropoetina, que é um hormônio 
produzido pelos rins. 
Indicações: 
• Cor pulmonale descompensado com hematócrito (Ht) 
> 55%. 
Vacinação: 
Indicações: 
• Anti-influenza – anualmente, no outono; está 
associada à redução de mortalidade. 
• Antipneumocócica – uma dose após os 65 anos; 
alguns autores preconizam que seja repetida a cada 
5 anos, porém sua eficácia não é tão bem 
documentada quanto a da vacina anti-influenza. 
• Anti- Haemophilus influenzae – não há indicação. 
Reabilitação pulmonar: é um programa multiprofissional que 
engloba: 
• Diagnóstico preciso e avaliação de comorbidades. 
• Tratamento farmacológico, nutricional e fisioterápico. 
• Recondicionamento físico. 
• Fisioterapia respiratória pode ser necessária em 
situações selecionadas. 
Apoio psicossocial: 
• Educação, para otimizar a autonomia e o 
desempenho físico e social. 
• Abordagem das exacerbações agudas. 
Quando Referenciar 
Existem situações que justificam uma avaliação do 
pneumologista. Entre essas situações, destacam-se: 
 
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• Incerteza diagnóstica. 
• DPOC em pessoas com menos de 40 anos. 
• DPOC em pessoas que possuem um parente de 
primeiro grau com história de deficiência de α1-
antitripsina. 
• DPOC grave. 
• Exacerbações frequentes. 
• Hemoptise. 
• Dificuldade em controlar os sintomas. 
• Necessidade de oxigenoterapia domiciliar. 
• Necessidade de reabilitação pulmonar. 
• Necessidade de cirurgia. 
Prognóstico 
• O melhor prognóstico é na forma de bronquite 
crônica que na forma enfisematosa. 
• Muitas mortes por DPOC são causadas por 
complicações respiratórias decorrentes de outras 
infecções que teriam uma mortalidade menor se não 
estivessem acompanhadas de DPOC. 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1278. ISBN 9788582715369. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Conjunta 
SAES/SCTIE/MS nº 19, de 16 de novembro de 2021. Doença 
Pulmonar Obstrutiva Crônica. Brasília, 2021. Disponível 
em: https://www.gov.br/saude/pt-br. Acesso em: 1 mar. 2025. 
Slides Professor Paulo 
Slides Professor Thiago 
SEMANA 07: MANEJO DA 
DISPEPSIA E REFLUXO NA 
APS – DATA: 10/03/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Compreender o manejo da dispepsia e do refluxo na 
atenção primária. 
Objetivos Específicos 
• Características da dispepsia e seus tipos; 
• Compreender a avaliação clínica e o manejo da 
dispepsia; 
• Conhecer os exames complementares, tratamentos e 
prognóstico para dispepsia. 
Características da Dispepsia 
A dispepsia é conhecida popularmente como “má digestão”. 
É caracterizada pela presença recorrente ou persistente de 
dor ou desconforto epigástrico não relacionado ao uso de 
AINES e acompanhando, ou não, de sensação de saciedade 
precoce, náuseas, vômitos, pirose, regurgitação e excessiva 
eructação. 
Dispepsia foi originalmente definida como qualquer sintoma 
referente ao trato digestivo superior e pode ser descrita como 
dor abdominal vaga, queimação epigástrica, má digestão, 
indigestão, falta de apetite, eructações e “gastrite” (que no 
seu uso popular não apresenta correlação com o achado 
anatomopatológico denominado gastrite; isto é, inflamação da 
mucosa gástrica observada à microscopia). Esses sintomas – 
sejam de início recente ou recorrentes ao longo de muitos 
anos – indicam maior probabilidade de disfunções do trato 
digestivo alto sem, necessariamente, associação com lesões 
anatomopatológicas. 
Dor epigástrica e demais sintomas dispépticos estão 
comumente associados a disfunções no esôfago, no estômago 
e/ou no duodeno; entretanto, também podem ser originados 
pelo acometimento de outros órgãos. 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
56 
Epigastralgia: dor ou desconforto localizado na região 
epigástrica. A dor pode ser de natureza difusa ou localizada e 
pode ser descrita como uma sensação de queimação, cólica 
ou dor surda. Às vezes, a dor pode ser exacerbada por 
refeições ou alterações na alimentação. 
Pirose: sensação de queimação ou ardor no esôfago ou 
estômago, frequentemente associada ao refluxo de ácido 
gástrico para o esôfago. É comumente conhecida como azia. 
A sensação de queimação geralmente ocorre na região 
retroesternal (por trás do esterno), podendo se irradiar para 
o pescoço e até a garganta. O sintoma costuma ser mais 
evidente após as refeições ou quando a pessoa se deita, 
sendo frequentemente aliviado por antiácidos ou alterações 
na posição corporal. 
Tipos de Dispepsia 
A dispepsia pode ser classificada em dismotilidade, úlcera ou 
refluxo. Entretanto, não há correlação da sintomatologia com 
o diagnóstico etiológico, sendo desnecessária a utilização 
desses critérios na prática clínica da APS (GUSSO et al., 2019). 
Tipos de dispepsia 
Dismotilidade • Vômitos 1x/mês ou mais; 
• Distensão abdominal; 
• Dor agravada por alimentação; 
• Dor aliviada por eructações; 
• Anorexia. 
Úlcera • Dor aliviada por alimentação; 
• Dor aliviada por antiácidos; 
• Doe antes da alimentação; 
• Dor noturna que faz despertar. 
Refluxo • Pirose 1x/semana ou mais; 
• Regurgitação ácida 1x/semana 
ou mais. 
 
Dispepsia não Investigada 
A maioria dos indivíduos não consulta o médico somente pelos 
sintomas da dispepsia. Além do desejo de abordar o sintoma, 
as principais razões que podem levar os indivíduos a consultar 
são: 
• Desejo de descartar doenças graves; 
• História familiar de câncer gástrico; 
• Crise situacional recente (evento estressante ou risco 
à vida nos últimos 6 meses); 
• Encorajamento por familiares; 
• Ansiedade. 
• Presença de infecção por Helicobacter pylori (HP) e 
o baixo nível socioeconômico. 
 
Manejo de dispepsia não investigada. HP, Helicobacter pylori; IBP, 
inibidor da bomba de prótons. 
É preciso, após caracterizar a dispepsia, explorar o entorno 
da queixa. Existem outros sintomas associados? Quais são os 
medos do paciente a respeito dos sintomas? Há evidência de 
estresse emocional? Quais são as expectativas do paciente a 
respeito da abordagem médica? 
Por meio dessa exploração atenta e indutiva do entorno, é 
possível ter mais segurança sobre o caminho a seguir. Pode 
ficar claro que, apesar de ter sido a queixa de apresentação 
na consulta, a dispepsia não é o sintoma que mais incomoda 
o paciente ou que ela faz parte de um quadro clínico mais 
amplo (p. ex., evento estressante agudo ou transtorno de 
ansiedade), ou até mesmo que o paciente não deseja 
tratamento, apenas quer certificar-se de que não tem nada 
grave. 
O tratamento dos sintomas dispépticos ainda se apresenta 
como um desafio, pois muitos pacientes persistem 
sintomáticos mesmo após diversos tratamentos e 
intervenções, o que enfatiza a importância da relação médico-
paciente e de decisões compartilhadas no manejo dessa 
queixa. Por um lado, as intervenções com maior nível de 
evidência ainda resultam em falha terapêutica em mais da 
metade dos pacientes, associado a risco de efeitos adversos, 
indução de resistência a antibióticos e custo financeiro 
elevado. 
Nesse contexto, o médico da APS deve identificar indivíduos 
que podem se beneficiar de medidas gerais não 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
57 
farmacológicas e/ou supressão ácida apenas, separando 
aqueles com sinais de alerta que precisam de exames 
complementares (bioquímica, endoscopia digestiva alta [EDA] 
ou radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno 
se a endoscopia estiver indisponível) e/ou encaminhando-os 
para especialistas (gastrenterologista ou cirurgião geral) com 
a maior brevidade possível. 
 
Os sinais de alerta para indicação de EDA em pacientes 
com dispepsia são (DUCAN, 2022): 
• Disfagia; 
• Hematêmese (considerar encaminhamento para 
emergência); 
• Perda de peso involuntária; 
• Persistência de sintomas após tratamento; 
• Anemiaou queda no nível de hemoglobina. 
OBS.: Perda de peso involuntária e persistência de 
sintomas após tratamento são sinais de alerta em 
pacientes com idade ³ 60 anos. 
Para exercer com excelência essa função primordial – além de 
competência ao exame clínico com técnica acurada de coleta 
da história do paciente e adequado exame físico –, deve-se 
ter um adequado conhecimento sobre os recursos de saúde 
disponíveis na localidade e na região, as características 
culturais e epidemiológicas da comunidade e, também, o 
acompanhamento longitudinal das famílias. 
Uma diretriz recente do American College of Gastroenterology 
enfatiza que o risco de neoplasia gastrintestinal em pessoas 
com idade 65 anos, tabagistas, história de úlcera prévia, uso 
de AINEs combinados) que entrarão em tratamentos com uso 
prolongado desses medicamentos podem se beneficiar de 
pesquisa de HP e sua erradicação, caso positiva. A 
erradicação do HP isoladamente não previne o sangramento 
da ulceração e, portanto, o uso concomitante de IBP é 
mandatório. Também é sugerido uso de IBP preventivo em 
indivíduos com alto risco para úlcera em localidades onde a 
pesquisa de HP não está disponível. 
Vale lembrar que a prevalência de parasitoses intestinais no 
Brasil ainda é elevada, podendo a dispepsia ser um sintoma 
de infestação parasitária, principalmente, na estrongiloidíase 
e na giardíase. Por esse motivo, recomenda-se considerar o 
uso de antiparasitários em pacientes com dispepsia com ou 
sem exame parasitológico de fezes positivo. 
Dispepsia Funcional 
A dispepsia funcional é definida pelo Consenso de Roma IV 
como a combinação de um ou mais dos seguintes sintomas, 
causando interferência diária na vida do paciente, na 
ausência de qualquer doença orgânica, sistêmica ou 
metabólica identificável: 
• Estufamento pós-prandial; 
• Saciedade precoce; 
• Dor epigástrica e/ou queimação epigástrica (que 
devem estar presentes pelo menos 3x/semana nos 
últimos 3 meses, com início dos sintomas a mais de 
6 meses); 
 
A dispepsia pode ser divindade em: 
• Síndrome de dor epigástrica: tem predomínio de 
dor. 
• Síndrome do estresse pós-prandial: tem 
predomínio de saciedade precoce e estufamento 
abdominal. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
59 
No entanto, não há recomendação de usar o tipo de sintoma 
para guiar a terapêutica inicial. As evidências disponíveis até 
o momento não esclarecem sobreos benefícios de medidas 
não farmacológicas como dietas específicas e/ou psicoterapia 
na dispepsia funcional. 
Tratamento da Dispepsia Funcional 
OBS.: vários fármacos, como IBPs (omeprazol), bloqueadores H2 
(cimetidina e ranitidina), pró-cinéticos (domperidona) e antiácidos, 
foram testados no tratamento da dispepsia funcional com resultados 
variáveis. Os antiácidos não são eficazes. Os IBPs mostraram-se 
efetivos no manejo. 
Pró-cinéticos: entre os pró-cinéticos mais disponíveis em 
nosso meio, a domperidona apresenta um perfil favorável de 
segurança, enquanto a metoclopramida em uso crônico pode 
causar síndromes extrapiramidais, sobretudo em idosos, e seu 
uso é desaconselhado para um período > 3 meses. 
Considerando a natureza crônica dos sintomas da dispepsia 
funcional e o benefício da supressão ácida, mesmo com IBPs, 
é preciso levar em conta os custos e os possíveis efeitos 
adversos em longo prazo. A erradicação do HP apresenta 
benefícios no manejo clínico. 
Estão sendo utilizados antidepressivos tricíclicos na 
dispepsia funcional, nos pacientes que não apresentaram 
melhora sintomática com IBP (p. ex., amitriptilina 25 mg/dia, 
VO). Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina 
(ISRSs) não mostraram melhora dos sintomas nos estudos 
realizados até o momento. Ao propor essa terapia com 
antidepressivos, deve-se levar em consideração a história 
prévia do paciente e outras comorbidades, bem como 
enfatizar a contribuição dos antidepressivos para reforço na 
tolerância aos sintomas. 
Terapias alternativas: terapias alternativas com produtos 
naturais (p. ex., alcachofra, pó de banana, menta, açafrão-da-
terra [Curcuma longa]) podem oferecer melhora sintomática 
na dispepsia funcional, apesar do grau de evidência ser fraco 
para embasar as condutas. 
Acupuntura: é uma terapia alternativa milenar que contribuiu 
para a melhora de sintomas de saciedade precoce e plenitude 
pós-prandial quando comparado com pró-cinéticos ou 
placebo, em revisão sistemática. No entanto, o grau de 
evidência é considerado baixo pela heterogeneidade e baixa 
qualidade dos estudos incluídos. 
Dispepsia refratária: deve-se considerar uma avaliação com 
gastrenterologista e/ou psiquiatra, destacando a coexistência 
de altas taxas de depressão e patologias psiquiátricas neste 
último grupo. 
O tratamento da dispepsia funcional pode ser frustrante para 
médicos e pacientes porque poucas opções terapêuticas 
demonstraram efetividade. Em geral, pacientes precisam do 
suporte contínuo de seus médicos assistentes, salientando-se 
o fato de que se trata de doença crônica e recorrente. A 
critério clínico, pode-se optar por testar diferentes 
modalidades de tratamento e/ou terapias alternativas com 
potencial alívio significativo, mas ainda sem evidências 
científicas sólidas ou com mecanismo biológico comprovado. 
Dispepsia Secundária 
Pode ser causada por múltiplas doenças como as neoplasias, 
as úlceras pépticas e o uso de medicamentos (p. ex., 
metformina, metronidazol). A doença ulcerosa na mucosa 
gástrica ou duodenal apresentou enorme impacto na 
morbidade e mortalidade nas últimas décadas do século XX, 
quando tendências epidemiológicas começaram a apontar 
para quedas na sua incidência. 
O sintoma dominante na úlcera péptica é a dor epigástrica, 
que pode ser acompanhada por outros sintomas dispépticos, 
como estufamento, saciedade precoce e náusea. 
Em pacientes com úlceras duodenais, a dor epigástrica 
geralmente ocorre durante o jejum e/ou até mesmo à noite, e 
costuma ser aliviada pela ingestão de alimentos ou antiácidos. 
Cerca de um terço desses pacientes também apresenta 
pirose, na sua grande maioria sem esofagite erosiva. Úlceras 
crônicas, entretanto, podem ser assintomáticas. 
Em particular, a ausência de sintomas também é vista em 
úlceras induzidas por AINEs, que podem apresentar-se, 
primariamente, por sangramento ou perfuração gastrintestinal 
alta. Úlceras HP-negativas costumam ser causadas por uso 
voluntário e casual de AINEs pelos pacientes. 
A complicação mais grave das úlceras pépticas é o 
sangramento, com maior risco em indivíduos com idade > 60 
anos. Perfuração é bem menos frequente que hemorragia. 
Penetração de órgãos retroperitoneais é rara e caracterizada 
por dor abdominal e lombar intensa constante. 
As úlceras pépticas podem recorrer após a cura inicial, 
sobremaneira se houver persistência de infecção por HP, visto 
que o HP é a principal causa na maioria das úlceras. 
Além da terapia, deve-se recomendar a cessação do 
tabagismo, quando presente. Se o paciente estiver usando 
ácido acetilsalicílico, considerar suspendê-lo ou trocá-lo para 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
60 
clopidogrel, quando a indicação for para uso de 
antiplaquetários, e/ou adicionar um IBP enquanto o uso de 
ácido acetilsalicílico/AINE for necessário. 
Diagnóstico da Úlcera Péptica 
A úlcera péptica é diagnosticada à endoscopia quando há 
penetração da mucosa ≥ 5 mm em profundidade, 
recoberta com fibrina, enquanto a penetração mais 
superficial,à consulta atual 
devem constar da folha de rosto. Ou seja, problemas 
crônicos entram na lista de problemas no prontuário, 
apenas quando relatados pela primeira vez pelo paciente 
ou quando trazidos novamente em consulta, ou ainda, 
quando o profissional entender que deve abordar aquele 
problema na consulta. 
 
Problema é tudo aquilo que interfira na qualidade de vida 
do paciente, ou represente um risco futuro para sua 
saúde, ou ainda, que necessite de um manejo clínico 
posterior e que esteja no seu mais alto grau de resolução 
possível no momento. 
 
Todo motivo de consulta deve ter um problema 
correspondente, mesmo que esse motivo ainda não tenha 
um diagnóstico, ou o motivo em si já seja um problema. 
Dessa forma, as demandas e preocupações do paciente 
não deixarão de ser valorizadas por nós. Cabe aqui 
diminuir o preconceito do que é realmente importante, 
pois se é importante para o paciente, deve ser valorizado 
por nós. 
 
Hipóteses diagnósticas têm um único propósito de nos 
auxiliar no manejo clínico posterior. Ajudando, assim, a 
lembrar das condutas e raciocínios que tivemos no dia 
para aquela consulta. Caso não haja problemas definidos, 
o campo de hipóteses ficará em branco. Sendo assim, não 
é necessário interrogar nenhum problema, pois tudo o que 
entendermos que mereça um ponto de interrogação deve 
ser colocado nessa lista, pois é uma hipótese. Essa 
hipótese deve estar correspondida ao problema, que no 
caso deve estar em um grau de resolução menor que o 
problema final (diagnóstico). 
P – Plano 
O plano de ação inclui as estratégias terapêuticas que 
serão seguidas. Isso pode incluir prescrições de 
medicamentos, pedidos de exames complementares, 
recomendações de tratamento, planos de 
acompanhamento, encaminhamentos para especialistas, 
entre outros. Ou seja, um plano de ação para o paciente. 
 
Na proposta terapêutica, podemos pensar na autonomia e 
no poder de decisão que o paciente terá nesse momento. 
Importante não confundi a autonomia do paciente com o 
que é importante e necessário ser feito. É muito 
importante tentar equilibrar ao máximo o necessário e o 
possível. Por exemplo, se em nossa avaliação 
consideramos um medicamento x como sendo mais 
benéfico para o paciente, mas ao informarmos o preço 
médio desse medicamento, o paciente relatar que fica 
inviável dele comprar devemos tentar oferecer uma 
alternativa terapêutica. O mesmo serve para posologia, 
mudança de hábitos etc. 
 
Outra coisa crucial no plano terapêutico é que para cada 
problema da lista devemos realizar uma proposta 
terapêutica, mesmo que seja uma escuta. E, logicamente, 
isso deve constar no registro na parte das orientações. 
 
O plano deve constar, necessariamente, em seis partes: 
1. Solicitação de exames: devemos registrar todos 
os pedidos de exames, de preferência 
relacionando o problema de saúde listado na 
avaliação. 
2. Encaminhamentos: relacionar todos os 
encaminhamentos realizados, seja para colegas 
de outras especialidades, ou outros profissionais 
de saúde. Nos encaminhamentos, podemos 
incluir também os retornos para nós mesmos. 
3. Atestados: quando fornecemos atestados, 
devemos registrar no prontuário, mesmo que 
seja uma declaração de comparecimento. 
4. Orientações: todas as orientações que foram 
oferecidas para o paciente são registradas nessa 
parte. Inclusive dados relacionados à escuta 
terapêutica. 
5. Medicamentos: aqui anotamos apenas as 
medicações prescritas ou modificadas na 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
3 
consulta. As medicações que são de uso contínuo 
estarão na folha de rosto. 
6. Observações: usamos essa parte para registrar 
tudo aquilo que for pertinente do plano 
terapêutico, indiretamente relacionada às partes 
anteriores e sejam percepções subjetivas do 
médico referente à conduta. Essa parte é muito 
semelhante às impressões gerais do subjetivo. 
 
O método SOAP é amplamente adotado por sua simplicidade 
e eficácia na organização da anamnese e na documentação 
do atendimento. Estudos demonstram que uma abordagem 
sistemática como o SOAP ajuda a melhorar a clareza, a 
precisão e a continuidade dos cuidados, permitindo que 
múltiplos profissionais de saúde acompanhem a evolução do 
paciente de maneira coesa. Além disso, a estrutura 
proporciona um caminho lógico para o processo de tomada 
de decisão clínica, com base em dados subjetivos e objetivos. 
Essa abordagem também facilita o registro de informações 
de maneira padronizada, o que contribui para a segurança 
do paciente e o uso eficiente dos recursos médicos. 
Associando uso da folha de rosto e o método SOAP, 
conseguimos sistematizar o registro das consultas de uma 
forma que perdemos muito menos tempo no ato de registrar, 
sobrando mais tempo para dar atenção, conseguindo sermos 
mais efetivos nos registros. 
Registro de Saúde Orientado por Problemas (ReSOAP) 
Os registros ajudam a garantir a continuidade e a 
longitudinalidade do cuidado, auxiliam na comunicação e 
tomada de decisão em equipe e permitem um arquivo de 
dados-base das pessoas e famílias em seguimento, 
fornecendo eventualmente também dados para investigação 
científica ou prova para diligências legais. 
O Registro Médico Orientado por Problemas (RMOP) tem sido 
empregado em diversos sistemas de Atenção Primária à 
Saúde (APS) em todo o mundo, e seu uso tem-se ampliado 
cada vez mais como base inclusive na informatização dos 
registros médicos. 
Diante da multiprofissionalidade que caracteriza as equipes 
de APS no Brasil, pode-se denominá-lo de Registro de Saúde 
Orientado por Problemas (ReSOAP), e propor que todas as 
categorias profissionais se apropriem e incorporem em sua 
prática esse formato de registro. 
O aprendizado e a utilização do ReSOAP é um dos caminhos 
na busca de ser um bom profissional para o trabalho em 
equipe na APS. O registro em prontuário é critério de 
avaliação da qualidade de um serviço de saúde. Mais do que 
mera sistematização, o ReSOAP é ferramenta de raciocínio 
clínico. 
O ReSOAP tem os seguintes componentes básicos: 
• Base de dados da pessoa: será constituída 
fundamentalmente pelas informações e dados 
obtidos na história clínica e de vida, no exame físico 
e nos resultados de exames complementares, 
registrados geralmente na primeira, ou nas 
primeiras consultas, ou "caso novo" daquela 
pessoa. São parte da base de dados os 
antecedentes pessoais e familiares, o problema de 
saúde atual e as informações de saúde prévias 
daquela pessoa (trazidas por ela mesma ou enviada 
por outros serviços). O tipo, o formato, o grau de 
profundidade e a quantidade de dados e 
informações, que constituirão a base de dados da 
pessoa, serão definidos pela própria equipe da ESF, 
que poderá elaborar um formulário-padrão para a 
obtenção dessas informações. 
• Lista de problemas (folha de rosto): constitui a 
primeira parte ou "folha de rosto" de um prontuário, 
devendo vir logo após a identificação da pessoa. A 
lista é elaborada a partir da base de dados da 
pessoa e das notas de evolução subsequentes, 
sendo, portanto, dinâmica. É um resumo útil dos 
problemas de saúde da pessoa, os quais devem ser 
enumerados pela ordem de aparecimento ao longo 
do tempo (com a data de início e da anotação, ao 
lado do problema), o que permite identificá-los sem 
a necessidade de ler cada folha de evolução. 
 
• Notas de evolução clínica (notas SOAP): 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
4 
 
• Folha de Acompanhamento (Fichas de resumo e 
fluxograma): são formulários separados da lista de 
problemas e das notas clínicas, nos quais se pode 
registrar a evolução dos resultados dos exames 
físicos e complementares, dos dados de 
crescimento e desenvolvimento, hábitos de vida, 
exames preventivos, medicações prescritas, entre 
diversas outras possibilidades. Essas fichas 
geralmente ficam localizadas na primeira ou última 
parte dos prontuários, permitindo a visualização 
rápida da evolução dos dados, sem a necessidade 
de se revisar todo o prontuário.probabilidade da 
origem benigna dos sintomas e sua recorrência, além de 
facilitar a corresponsabilização na mudança de hábitos 
acertada no plano terapêutico. 
Exame Físico 
Geralmente, o exame físico é normal ou com uma dor discreta 
na região epigástrica. A presença de massa abdominal pode 
ser indicativa de malignidade e deve ser investigada. 
Exames Complementares 
Endoscopia digestiva alta (EDA) 
A EDA é o padrão-ouro para o diagnóstico de lesões 
estruturais e consequentemente de causas específicas da 
dispepsia. A EDA está indicada na abordagem inicial apenas 
naqueles que apresentarem sinais de alerta para a exclusão 
de doença orgânica grave. Sugere-se solicitar o exame para 
indivíduos maiores de 55 anos, quando os sintomas 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
61 
dispépticos persistem, independente de tratamento 
adequado inicial. 
Para aqueles que já realizaram EDA em algum momento e 
retornaram com os sintomas dispépticos, deve-se introduzir 
terapêutica de acordo com o diagnóstico anterior. A repetição 
do exame está indicada somente naqueles que apresentarem 
sinais de alerta não presentes no momento da intervenção 
anterior. Vale ressaltar que o tratamento prévio com IBPs não 
prejudica ou retarda o diagnóstico de malignidade. 
 
 
 
 
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62 
Teste respiratório com 13C ureia 
Apresenta sensibilidade de 88 a 95% e especificidade de 95 
a 100%, sendo incomuns resultados falso-positivos. 
Exame sorológico 
A sorologia detecta anticorpos IgG específicos para H. pylori. 
É um exame mais sensível (90-100%) e de menor custo, mas 
permanecerá positivo mesmo após a erradicação da bactéria. 
Tratamento da Dispepsia 
A estratégia inicial na dispepsia não investigada é o 
tratamento empírico com IBPs, que apresentou melhor 
resposta e custo-efetividade quando comparado aos 
antagonistas H2 e antiácidos. “Testar e tratar” a infecção por 
H. pylori é mais efetivo do que a realização de EDA e reduz 
riscos e custos. É a estratégia recomendada pelo National 
Institute for Health and Clinical Excellence (NICE) após falha 
terapêutica do IBP na dispepsia não investigada. Há 
evidências de que a erradicação da bactéria aumenta a taxa 
de melhora dos sintomas e/ou diminui a sua recorrência nas 
principais causas de dispepsia. 
 
Dada a alta prevalência da infecção no Brasil, com uma 
probabilidade pré-teste elevada, uma segunda alternativa 
seria tratar empiricamente para a erradicação de H. pylori 
após falha terapêutica do IBP. 
OBS.: o esquema mais recomendado para erradicação do H. pylori é 
amoxicilina, 1 g, e claritromicina, 500 mg, por 7 dias, em duas tomadas 
diárias, associadas ao IBP em dose plena. A efetividade é estimada em 
80 a 85%. O esquema prolongado, de 14 dias, independentemente de 
incrementar 10% no sucesso de erradicação da bactéria, traria 
benefício absoluto modesto e não é custo-efetivo. 
Atividades Preventivas e de Educação 
Apesar de não ser clara a associação entre tabagismo, 
sobrepeso, dieta inadequada e ingestão de álcool e café com 
dispepsia, sugere-se recomendar modificações nos hábitos de 
vida, seja porque haverá ganho individual com as medidas, 
seja porque essas oferecem benefícios para a saúde em geral. 
Aqueles que sofrem por tempo prolongado com sintomas 
dispépticos devem ser encorajados a reduzir o uso das 
medicações prescritas: inicialmente, usando a menor dose 
efetiva, passando ao uso livre conforme a demanda, até o 
retorno ao autocuidado, com uso somente de antiácidos como 
sintomáticos. 
Em pessoas com lesão renal crônica, a exposição prolongada 
a altas doses de sais de alumínio ou magnésio pode causar 
encefalopatia, demência, anemia microcítica e piora da 
osteomalácia induzida por diálise. Apesar de serem 
considerados efeitos colaterais raros, é recomendado evitar o 
uso de antiácidos naqueles com função renal comprometida. 
 
Quando Referenciar 
Aqueles com achados suspeitos de malignidade à endoscopia 
deverão ser referenciados ao especialista. Se a EDA não 
estiver disponível na APS, serão referenciadas também as 
pessoas com dispepsia que têm indicação para o exame. 
 
 
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63 
Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE) 
O refluxo de conteúdo gastroduodenal para o esôfago ocorre 
de modo fisiológico em pequeno volume, principalmente após 
as refeições. Quando o refluxo passa a causar sintomas 
frequentes (como pirose e/ou regurgitação) e/ou 
complicações (como esofagite erosiva, estenose péptica ou 
esôfago de Barrett), torna-se uma doença. 
A ineficácia do mecanismo de barreira na junção 
esofagogástrica é o principal fator patogênico do RGE. As 
teorias dominantes para explicá-la são: 
• Relaxamento transitório do EEI sem anormalidade 
anatômica concomitante. 
• Alteração anatômica da junção esofagogástrica, 
provavelmente associada à hérnia hiatal. 
• Hipotonia do EEI, sem alteração anatômica 
associada. 
A definição consensual de DRGE propõe que seja classificada 
em síndromes esofágicas e/ou extraesofágicas: 
 
As complicações mais frequentemente relacionadas ao RGE 
são as esofagites leves, moderadas e graves, que variam suas 
classificações endoscópicas entre dois parâmetros 
internacionais: 
• Savary-Miller: 
1. Grau 1 – Lesões leves (pequenas erosões 
superficiais, sem ulceração significativa). 
2. Grau 2 – Lesões moderadas (erosões mais 
profundas, ulcerações superficiais). 
3. Grau 3 – Lesões moderadas a graves (úlceras 
mais profundas e numerosas). 
4. Grau 4 – Lesões graves (úlceras profundas, 
grandes áreas de erosão). 
5. Grau 5 – Lesões extremamente graves 
(necrose, perfuração, risco de sangramento 
grave). 
• Escala de Los Angeles: 
1. Grau A – Lesões leves, pequenas áreas de 
erosão. 
2. Grau B – Lesões moderadas, afetando até 1/3 
da circunferência. 
3. Grau C – Lesões graves, afetando mais de 1/3 
da circunferência. 
4. Grau D – Lesões muito graves, afetando mais de 
2/3 da circunferência. 
5. Grau E – Lesões extremas, com erosões 
extensas e difusas. 
Manifestações Clínicas da DRGE 
Na APS, a adequada caracterização dos sintomas 
apresentados pelos pacientes é importante para diferenciar 
DRGE de dispepsia, pois seus tratamentos podem apresentar 
significativas diferenças. Pirose e regurgitação são 
consideradas sintomas típicos da DRGE. 
Pirose: é mais comum e definida como uma sensação de 
queimação retroesternal que irradia desde o epigástrio até a 
base do pescoço, podendo ocorrer espontaneamente ou após 
as refeições (sobretudo as refeições volumosas e/ou ricas em 
gorduras) e/ou após o decúbito, sendo reduzida pela ingestão 
de água, leite ou antiácidos líquidos. 
Regurgitação: é definida pela sensação de retorno de 
conteúdo gástrico até a boca ou hipofaringe, sem a percepção 
de queimação da pirose. 
A presença de pirose é um bom marcador de refluxo 
gastresofágico e apresenta boa correlação com a presença de 
refluxo patológico demonstrada à pHmetria de 24 horas. O 
sintoma pirose tem alta sensibilidade (70%) para o 
diagnóstico correto de DRGE, e, quando associada à 
regurgitação, a sensibilidade pode atingir 80%. 
Na prática clínica, é comum que os pacientes considerem 
outros sintomas como estufamento, queimação epigástrica 
ou, ainda, desconforto na boca do estômago como 
sinônimos de refluxo, mas na verdade estes são indicativos 
de dispepsia. 
Pirose e/ou regurgitação, quando acometem indivíduos jovens 
que não apresentam sinais ou sintomas de alerta 
(emagrecimento, disfagia, odinofagia, anemia, hematêmese, 
melena), podem ser tratadas na primeira consulta sem uma 
investigação complementar inicial. A melhora sintomática 
ocorre em 70 a 80% dos pacientes jovens com o tratamento 
inicial por 4 semanas. 
Na ausência de melhora dos sintomas, deve-se considerar 
uma investigação complementar para avaliar eventuais 
complicações da DRGE, pirose funcional, esôfago 
hipersensível, esofagite eosinofílica ou acalásia. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO- Afya Medicina 
64 
A dor torácica, semelhante à dor por isquemia miocárdica, 
pode ser uma manifestação da DRGE, associada a espasmo 
esofágico difuso ou esôfago hipercontrátil (esôfago em 
quebra-nozes) ou acalásia. Quando a dor torácica é 
recorrente, associada a pirose/regurgitação e melhora após a 
ingestão de água, a origem esofágica é mais provável, 
diminuindo a probabilidade de origem miocárdica. A dor 
torácica de origem esofágica pode ser indistinguível da dor 
cardíaca, e a origem cardíaca deve ser sempre descartada 
inicialmente. 
Quando os sintomas atípicos (tosse crônica, rouquidão e 
asma) são dominantes, mas associados à pirose frequente, a 
probabilidade de DRGE é alta e um teste terapêutico com IBP 
é recomendado durante 8 semanas. É importante salientar 
que a pirose rapidamente melhora com o tratamento, mas 
tosse, rouquidão ou asma respondem de maneira lenta e, às 
vezes, melhoram somente após 3 a 6 meses de tratamento. 
As manifestações atípicas em geral se apresentam como: 
• Esofagianas: dor torácica sem evidência de 
enfermidade coronariana (dor torácica não 
cardíaca). 
• Pulmonares: asma, tosse crônica, hemoptise, 
bronquite, bronquiectasia e pneumonias de 
repetição. 
• Otorrinolaringológicas: rouquidão, pigarro 
(clareamento da garganta), laringite posterior 
crônica, sinusite crônica, otalgia. 
• Orais: desgaste do esmalte dentário, halitose e aftas. 
Os critérios de seleção para a investigação de RGE em 
pacientes com tosse crônica incluem ausência de tabagismo e 
de irritantes ambientais, exclusão de asma, secreção pós-
nasal e radiografias torácicas e de seios da face dentro da 
normalidade. 
Os pacientes com manifestações otorrinolaringológicas 
procuram inicialmente especialista nesta área, o qual realiza 
laringoscopia, podendo demonstrar presença de lesões – 
edema, eritema, nódulos em prega vocal e granulomas –, as 
quais não são específicas da DRGE. 
Diagnóstico da DRGE 
Na investigação de dor torácica recorrente com suspeita de 
origem esofágica, um teste terapêutico com IBPs em dose 
matinal e antes do jantar por 4 semanas tem sensibilidade 
e especificidade aceitáveis para diagnóstico de DRGE. Em caso 
de persistência de dor torácica, a EDA deve ser obtida e, 
quando não demonstrar sinais (erosões, úlceras) de DRGE, 
pode ser seguida por manometria esofágica e pHmetria de 
24 horas, para excluir, respectivamente, doenças motoras do 
esôfago ou DRGE. Por outro lado, na ausência de 
pirose/regurgitação, é recomendável a investigação 
complementar para confirmar DRGE e/ou descartar outras 
doenças. É consenso que a maioria dos pacientes com 
pirose/regurgitação que procuram os sistemas de saúde não 
precisa de investigação complementar. Quando necessária, 
em geral para sintomas atípicos, a investigação c 
omplementar deve basear-se em critérios definidos. 
 
 
Exames Complementares 
A investigação complementar deve ser solicitada nas 
seguintes condições: 
• Ausência de resposta ao tratamento. 
• Manifestações de alarme: disfagia, odinofagia, 
anemia, hemorragia digestiva e emagrecimento, 
história familiar de câncer, náuseas e vômitos, dor 
torácica, além de sintomas de grande intensidade 
e/ou de ocorrência noturna. 
• Sintomas crônicos (lembrar-se da possibilidade de 
EB). 
• Necessidade de tratamento continuado. 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
65 
Endoscopia Digestiva Alta (EDA) 
Identifica lesões em somente 30 a 40% dos pacientes com 
DRGE e, portanto, tem baixa sensibilidade diagnóstica, não 
confirmando a DRGE na maioria dos pacientes examinados. 
Entretanto, sua capacidade de estimar o risco de 
complicações em longo prazo é útil e, quando não revela 
lesões atribuíveis ao refluxo, orienta o médico a evitar novas 
endoscopias. 
Não há uma boa correlação entre gravidade dos achados 
endoscópicos e a intensidade dos sintomas, podendo ser 
encontradas lesões acentuadas em indivíduos 
oligossintomáticos e ausência de lesões em indivíduos muito 
sintomáticos. 
Os achados endoscópicos diagnósticos de DRGE são 
esofagite erosiva graus C e D de Los Angeles, estenose 
péptica e esôfago de Barrett. Os achados de esofagite grau 
A e B devem ser analisados com reserva, pois indivíduos 
assintomáticos podem apresentar esses achados e não 
necessitam de tratamento específico. 
Biópsias devem ser obtidas na presença de lesões 
ulceradas/estenosantes ou na suspeita de esôfago de Barrett 
e/ou neoplasia. Entretanto, quando a mucosa tem aspecto 
normal à endoscopia, a coleta de biópsias tem valor limitado 
pela sua sensibilidade diagnóstica baixa a moderada em 
comparação com a pHmetria esofágica. 
Entretanto, é recomendável a obtenção de biópsias quando, 
além de sintomas típicos, houver também disfagia ou 
impactação, pela probabilidade de esofagite eosinofílica. 
Após o diagnóstico e a avaliação endoscópica inicial, não é 
necessária a reavaliação endoscópica na maioria dos 
pacientes depois do tratamento, exceto em caso de: 
• Esofagite acentuada (graus C e D da classificação 
de Los Angeles), pelo risco de o esôfago de Barret 
estar oculto pelas erosões agudas da mucosa; 
• Esôfago de Barret confirmado por biópsias; 
• Estenose péptica; 
• Úlcera esofágica; 
• Quando houver piora clínica, especialmente quando 
o paciente também apresenta sintomas ou sinais de 
alerta (disfagia, odinofagia, emagrecimento, 
anemia, melena, hematêmese). 
A EDA é essencial no estadiamento da DRGE para identificar 
risco de complicações futuras. 
 
Exames Radiológicos 
Estudo radiológico do esôfago contrastado com deglutição 
de bário é importante na presença de disfagia e/ou dor 
torácica associadas à pirose, pois permite a detecção de 
alterações anatômicas observadas nas dismotilidades (p. 
ex., acalásia, espasmo esofágico difuso) e nas estenoses 
pépticas e neoplásicas. 
pHmetria de 24 Horas 
• Detecta a presença e quantifica o refluxo ácido. 
• Estabelece a correlação entre episódios de refluxo e 
sintomas (tosse, dor). 
• Utiliza um cateter nasal com sensores para detectar 
variações de pH no esôfago distal, registrando o 
tempo em que o pH se mantém abaixo de 4. 
• Alta sensibilidade e especificidade (>70%). 
• Importante em casos com sintomas atípicos e 
endoscopia normal. 
• Deve ser feita 7 dias após a suspensão de IBPs ou 
bloqueadores H2 em pacientes sem DRGE 
comprovada. 
• Pode ser realizada durante o uso de antirrefluxos em 
pacientes com	DRGE e sem resposta ao tratamento. 
• Pacientes com complicações graves devem ser 
acompanhados com pHmetria e encaminhados a 
serviços especializados para monitoramento 
endoscópico e controle do tratamento antirrefluxo. 
Manometria Esofágica 
• Avalia a força e coordenação da contração esofágica 
e a competência do esfincter esofágico inferior. 
• Imprescindível antes da pHmetria para 
posicionamento correto do sensor. 
• Não diagnostica DRGE, mas ajuda a investigar 
sintomas como disfagia e dor torácica. 
• Pode revelar doenças motoras do esôfago (espasmo 
esofágico difuso, esôfago em quebra-nozes). 
• Essencial para excluir acalásia, que pode mimetizar 
sintomas de DRGE. 
• Deve ser realizada antes de cirurgia antirrefluxo. 
 
 
 
 
 
 
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66 
Tratamento da DRGE 
Medidas Comportamentais 
 
Entre as medidas com benefício mais bem estabelecido estão 
a perda de peso, a interrupção do tabagismo não seguida de 
ganho de peso e, nos indivíduos com sintomas noturnos, a 
elevação da cabeceira da cama, além de evitar refeições por 
2 horas antes se deitar. 
O sobrepeso corporal e a obesidade são fatores de risco não 
só para os sintomas ou lesões do refluxo, mas também para 
o adenocarcinoma do esôfago. O controle da DRGE passa pelo 
adequado controle do sobrepeso e da obesidade, em especial 
pelas suas características epidêmicas no mundo ocidental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
67 
Tratamento Farmacológico da DRGEDébora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
68 
IBPs: não há evidência de superioridade farmacológica entre 
os diferentes IBPs. Recomenda-se o uso do omeprazol 
genérico. 
• Administração: IBPs devem ser tomados 30 minutos 
antes do desjejum para melhor eficácia. Se 
necessário à noite, deve ser administrado 30 minutos 
antes do jantar. 
• Troca de IBP: se a dose máxima de omeprazol falhar 
no controle da DRGE, pode-se tentar outros IBPs, 
mas esses têm custos elevados, afetando a adesão 
do paciente. 
• Endoscopia normal e sintomas persistentes: se os 
sintomas não melhoram com IBP em dose dupla e a 
endoscopia for normal, deve-se considerar pirose 
funcional ou esôfago hipersensível, com avaliação de 
pHmetria sem uso de IBP. 
• Casos graves de DRGE (graus C ou D, úlcera 
esofágica, estenose, esôfago de Barrett) necessitam 
de tratamento crônico com IBP em dose dupla ou 
cirurgia antirrefluxo. 
O uso prolongado de IBPs é benéfico em condições como 
esôfago de Barrett, DRGE com recidivas frequentes e alto risco 
de úlcera péptica, mas há muitas indicações inadequadas, 
representando 20 a 50% dos casos. O uso crônico pode levar 
a efeitos adversos, como hipergastrinemia, que causa 
sintomas dispépticos após a interrupção abrupta. Embora 
estudos retrospectivos sugiram associações com 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
69 
complicações como osteoporose e AVC, os estudos 
prospectivos não confirmam causalidade. Complicações 
comprovadas incluem hipomagnesemia, má-absorção de 
vitaminas e pólipos gástricos. Estudos apontam um risco 
aumentado de câncer gástrico com o uso de IBPs, mas com 
vieses questionáveis. O uso de IBPs durante a gestação é 
considerado seguro, e sua interação com clopidogrel não 
aumenta o risco cardiovascular, podendo ser usado 
conjuntamente. 
Pró-cinéticos: podem ser eficazes em pacientes com DRGE e 
sintomas dispépticos como plenitude pós-prandial. 
DRGE Refratária ao Tratamento 
Indivíduos com DRGE são considerados refratários ao 
tratamento quando a DRGE não responde a IBP em dose 
dupla. Nessa situação, é importante averiguar o uso correto 
dos IBPs, especialmente a sua ingestão ao menos 30 minutos 
antes das refeições e a adesão. Quando há refratariedade 
ao tratamento, é recomendável fazer uma revisão com um 
especialista para confirmar o diagnóstico e considerar 
tratamentos alternativos como o uso de baclofeno, que 
inibe o relaxamento transitório do esfincter esofágico inferior, 
ou a abordagem cirúrgica. 
Cirurgia Antirrefluxo 
A cirurgia antirrefluxo, quando realizada por cirurgiões 
experientes, apresenta bons resultados a longo prazo, 
semelhantes ao tratamento clínico, mas com índices de 
sucesso inferiores quando realizada por profissionais menos 
experientes. A fundoplicatura de Nissen por videolaparoscopia 
é a técnica mais comum, com internação curta e risco de 
disfagia transitória. Em longo prazo, muitos pacientes 
necessitam de IBPs novamente. A cirurgia é indicada 
principalmente para pacientes mais jovens com uso contínuo 
de IBPs ou aqueles com persistência de regurgitação. A 
resposta positiva a IBPs e a presença de defeitos anatômicos, 
como hérnia hiatal ou hipotonia do esfíncter esofágico inferior, 
são preditores de sucesso. A manometria pré-operatória e a 
escolha de cirurgião experiente são fundamentais para o 
sucesso do procedimento, conforme consenso do ICARUS 
2019. 
Quando Referenciar 
Sugere-se que, nos casos de EDA com diagnóstico de 
esofagite cujas classificações endoscópicas sejam graus 2, 
3, 4 e 5 de Savary-Miller ou graus B, C e D de Los Angeles, 
o médico de família coordene o cuidado da pessoa, por meio 
da referência e da contrarreferência ao especialista focal 
(gastrenterologista), pela necessidade de exames mais 
complexos que possam ser racional e adequadamente 
solicitados e, também, pelos riscos potenciais inerentes às 
principais complicações do RGE. 
Prognóstico e Complicações Possíveis 
São complicações da DRGE: 
• Esôfago de Barret (EB): é uma condição 
caracterizada pela substituição do epitélio 
estratificado escamoso por epitélio colunar com 
células intestinalizadas, devido à exposição crônica 
da mucosa esofágica ao refluxo gástrico. Afeta 
predominantemente homens, brancos, com mais de 
40 anos. O principal risco associado ao EB é o 
desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico, 
com uma incidência de 30 a 125 vezes maior que na 
população geral, variando de 0,2 a 2,1% ao ano em 
indivíduos sem displasia. Não há tratamento eficaz 
para reverter a metaplasia, sendo os tratamentos 
focados no controle do refluxo. O acompanhamento 
endoscópico é fundamental, com a frequência 
variando conforme o grau de displasia: a cada 3 
anos para pacientes sem displasia, anualmente 
para displasia de baixo grau, e a cada 3 meses ou 
intervenção cirúrgica em casos de displasia de alto 
grau, dependendo da extensão da lesão. 
• Estenose de esôfago distal: é, fundamentalmente, 
uma complicação de resolução cirúrgica. 
Recomenda-se que a pessoa seja submetida a uma 
avaliação prévia do refluxo. A conduta cirúrgica 
apropriada depende da extensão e da localização da 
estenose, bem como da avaliação prévia da função 
motora do corpo do órgão, realizada por meio da 
esofagomanometria. 
• Úlcera e sangramento esofágicos: sangramento 
esofágico no RGE costuma ser lento e insidioso e, 
muitas vezes, é o responsável por quadros de 
anemia crônica. O tratamento clínico é a melhor 
opção terapêutica. 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1450. ISBN 9788582715369. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788
582715369/. Acesso em: 22 mar. 2025. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
70 
DUNCAN, Bruce B.; SCHMIDT, Maria I.; GIUGLIANI, Elsa R J.; et 
al. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária 
baseadas em evidências. 5. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2022. 
E-book. p.740. ISBN 9786558820437. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786
558820437/. Acesso em: 22 mar. 2025. 
SEMANA 08: ATENÇÃO À 
SAUDE DO HOMEM – DATA: 
17/03/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Conhecer os principais aspectos de atenção à saúde 
do homem (acessibilidade e integralidade do 
cuidado); 
Objetivos Específicos 
• Discutir a PNAISH – Política Nacional de Atenção 
integral à saúde do Homem (acessibilidade e 
integralidade do cuidado); 
• Conhecer o perfil de morbimortalidade relacionado à 
saúde do homem; 
• Conhecer as estratégias de atuação para efetivação 
da PNAISH na APS. 
Princípios e diretrizes da PNAISH e sua aplicabilidade na 
Atenção Primária à Saúde (APS) para o cuidado integral 
dos homens 
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem 
(PNAISH), criada em 2009, foi estabelecida pelo Ministério da 
Saúde (MS) com o objetivo de garantir um cuidado integral à 
saúde masculina (população alvo homens entre 20 e 59 
anos), visando a melhoria das condições de saúde dessa 
população, com foco nas questões de gênero e nas 
especificidades biológicas e sociais dos homens. A Portaria 
GM/MS nº 3.562/2021 veio para operacionalizar de forma 
mais eficaz a atenção integral aos homens, considerando as 
especificidades do sexo masculino em relação à saúde física, 
mental e social. Os principais princípios que norteiam a 
PNAISH, conforme a portaria, são: 
• Integralidade e Equidade: as ações de saúde devem 
ser articuladas de maneira que cubram todas as 
necessidades de saúde dos homens, sem distinção 
de classe social, etnia ou região. A portaria reforça a 
necessidade de inclusão dos homens nas estratégias 
de saúde pública, com foco na equidade no acesso a 
serviços de saúde. 
• Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças: a 
PNAISH, em consonância com a portaria de 2021, 
prioriza a promoção de saúde e a prevenção de 
doenças, especialmente as mais prevalentesentre os 
homens, como câncer de próstata, doenças 
cardiovasculares, diabetes e transtornos mentais. A 
portaria destaca a necessidade de campanhas de 
conscientização e a oferta de exames preventivos 
nas unidades de saúde, além de programas voltados 
à redução de comportamentos de risco, como 
tabagismo e alcoolismo. 
• Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva Masculina: 
um dos pontos de destaque da portaria é a 
ampliação das ações voltadas para a saúde sexual e 
reprodutiva masculina. A política deve ser integrada 
à saúde sexual, com ações que envolvem educação 
sexual, rastreamento de doenças sexualmente 
transmissíveis (DSTs) e o cuidado preventivo do 
câncer de próstata e testículos. 
• Promoção de Saúde Mental: a portaria também 
reconhece a importância da saúde mental masculina, 
especialmente considerando os altos índices de 
depressão, suicídio e alcoolismo entre os homens. A 
promoção de saúde mental deve ser integrada ao 
cuidado integral, com ênfase na redução do estigma 
em torno da busca por ajuda psicológica. 
• Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde 
(APS): a Estratégia Nacional de Saúde do Homem, 
estabelecida pela portaria, destaca a importância de 
fortalecer a APS para alcançar os homens em todos 
os níveis de cuidado. A promoção da saúde do 
homem deve ser realizada principalmente nas 
unidades de saúde da família, com base em 
abordagens de proximidade e na construção de 
vínculos de confiança. 
Eixos Principais da PNAISH 
Entre os principais objetivos da PNAISH, destaca-se a 
necessidade de reconhecer os diversos contextos 
socioculturais e político-econômicos para a compreensão da 
realidade singular da saúde masculina. Isso significa que as 
políticas de saúde precisam ser sensíveis a fatores como 
classe social, etnia, gênero, território e outros aspectos, de 
modo que o cuidado seja personalizado e leve em conta as 
condições reais de vida e saúde dos homens. Esses contextos 
também influenciam a forma como os homens percebem sua 
saúde e sua disposição para buscar cuidados médicos. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
71 
Para operacionalizar essa tarefa complexa de promover a 
saúde do homem de maneira eficaz, a PNAISH está 
estruturada em cinco eixos principais, que abrangem 
diferentes aspectos da vida e da saúde masculina: 
1. Acesso e Acolhimento 
Este eixo trata da acessibilidade aos serviços de saúde e da 
necessidade de acolhimento adequado aos homens nas 
unidades de saúde. Um dos maiores desafios enfrentados 
pelas políticas de saúde do homem é o fato de muitos homens 
não procurarem os serviços de saúde de forma preventiva, 
muitas vezes por questões culturais relacionadas à 
masculinidade, como a ideia de que “homem não deve se 
queixar” ou “homem não precisa de cuidados médicos”. 
Portanto, esse eixo busca garantir que os homens 
tenham facilidade de acesso aos serviços de saúde e que se 
sintam acolhidos por profissionais capacitados para lidar com 
as especificidades dessa população. É essencial que as 
unidades de saúde estejam preparadas para reduzir o 
estigma e oferecer um ambiente acolhedor. 
2. Saúde Sexual e Reprodutiva 
A saúde sexual e reprodutiva masculina muitas vezes é 
negligenciada em comparação com a saúde das mulheres, 
mas é um aspecto crucial da saúde do homem. Esse eixo 
busca integrar ações para informar os homens sobre saúde 
sexual, como prevenção de doenças sexualmente 
transmissíveis (DSTs), planejamento familiar, saúde prostática 
e cuidados com a fertilidade. Além disso, esse eixo também 
está ligado à educação sobre práticas sexuais seguras e à 
promoção de uma visão mais responsável sobre o exercício 
da sexualidade. Assim, a PNAISH busca garantir que os 
homens tenham informação e acesso a serviços de saúde 
sexual e reprodutiva que atendam suas necessidades e 
promovam o bem-estar físico e psicológico. 
3. Paternidade e Cuidado 
O eixo de paternidade e cuidado aborda a participação do 
homem no cuidado dos filhos, tanto no aspecto físico quanto 
emocional. Tradicionalmente, a sociedade coloca a mulher 
como principal responsável pela criação dos filhos, o que pode 
afastar os homens de suas responsabilidades parentais. Esse 
eixo busca reverter essa concepção, incentivando os homens 
a se envolverem de maneira mais ativa no cuidado com os 
filhos e no processo de educação parental. Além disso, 
a paternidade responsável inclui também o cuidado com a 
saúde do homem, principalmente no contexto de doenças que 
possam afetar a sua capacidade de cuidar dos filhos, como 
problemas de saúde mental, doenças crônicas e doenças 
sexualmente transmissíveis. 
4. Doenças Prevalentes na População Masculina 
A PNAISH enfatiza a necessidade de identificar e abordar 
as doenças mais prevalentes entre os homens, incluindo 
doenças cardiovasculares, câncer de próstata, doenças 
respiratórias crônicas, entre outras. Este eixo busca qualificar 
a atenção à saúde para essas condições, por meio 
da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. A promoção 
da saúde também entra aqui, com o incentivo à adoção 
de hábitos saudáveis (como alimentação adequada, prática 
de atividades físicas, controle do consumo de álcool e tabaco) 
para prevenir doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida 
dos homens. 
5. Prevenção de Violências e de Acidentes 
A violência (em todas as suas formas) e os acidentes são 
duas das principais causas de morte e morbidade entre os 
homens. Esse eixo tem como objetivo promover ações que 
busquem reduzir a violência, seja ela doméstica, no trânsito 
ou no contexto de violência urbana, além de prevenir 
acidentes, especialmente aqueles relacionados a 
comportamentos de risco, como o abuso de álcool e a falta de 
proteção no trânsito. Esse eixo também envolve a promoção 
de políticas públicas que possam garantir a segurança e o 
bem-estar dos homens, além de sensibilizar para a prevenção 
de comportamentos violentos que também afetam a saúde 
mental dos homens. 
Uma crítica à política é que, ao centrar esforços nos agravos 
repartidos entre cinco áreas temáticas e suas respectivas 
especialidades médicas (psiquiatria, cardiologia, 
pneumologia, urologia e gastrenterologia), ela põe em risco 
toda a discussão sobre a complexidade do problema e se 
torna parcial, ao desconsiderar a importância inegável dos 
fatores socioculturais relacionados à morbimortalidade por 
causas externas. 
Perfil de Morbimortalidade Relacionado à Saúde do 
Homem 
Os homens construíram sua masculinidade apoiada na crença 
da invulnerabilidade, o que repercute no seu envolvimento 
com práticas de risco à saúde tanto no trabalho como no lazer. 
Em compensação, buscam legitimar seu poder e até sua 
superioridade perante outros homens e outras mulheres. Esse 
modelo de masculinidade foi denominado masculinidade 
hegemônica e se expressa por seu comportamento e sua 
atitude diante do risco e por uma sexualidade instintiva, 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
72 
incontrolável, que vem sendo criticado em sua aplicabilidade 
e ressonância nos dias atuais. 
Segundo dados de 2015, do banco de dados do Sistema 
Único de Saúde (DATASUS) os homens brasileiros morrem em 
média cerca de 7 anos mais cedo do que as mulheres. As 
políticas de saúde brasileiras historicamente privilegiaram 
mulheres e crianças, e os homens são frequentemente vistos 
como meros facilitadores ou dificultadores da saúde sexual e 
reprodutiva feminina. É histórico o desconhecimento sobre as 
peculiaridades de ser homem na sociedade. 
Boa parte de sua mortalidade é por causas evitáveis, muito 
relacionadas a comportamentos adotados por 
corresponderem a um estereótipo tradicional de 
masculinidade. Também, a inclusão dos homens nos serviços 
de saúde tem ocorrido de uma forma medicalizada e 
potencialmente iatrogênica, focada no tratamento da 
disfunção erétil e no rastreamento do câncer de próstata. 
Além da perspectiva de gênero, é importante considerar 
outras categorias de análise e determinantes sociais da 
saúde, como raça/cor,renda e estágios do ciclo de vida 
individual e familiar no entendimento de sua condição de 
saúde e relação com os serviços e na busca por uma atenção 
à saúde inclusiva, empática e resolutiva. 
O perfil de morbimortalidade dos homens no Brasil revela um 
conjunto de doenças e condições que impactam diretamente 
a vida dessa população e indicam áreas prioritárias para a 
intervenção da PNAISH e da Estratégia Nacional de Saúde do 
Homem. A morbimortalidade masculina está fortemente 
associada a fatores comportamentais, biológicos e sociais, e 
os principais problemas incluem: 
• Doenças Cardiovasculares: as doenças do coração 
são a principal causa de morte entre os homens, 
especialmente no Brasil, com destaque para o infarto 
do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC). 
Fatores como sedentarismo, alimentação 
inadequada, e consumo excessivo de álcool e tabaco 
são determinantes para a alta incidência dessas 
doenças. 
• Neoplasias (tumores): o câncer é uma das 
principais causas de morbidade e mortalidade entre 
os homens, especialmente o câncer de próstata, 
que apresenta altas taxas de incidência e 
mortalidade. Outros tipos de câncer prevalentes 
entre os homens incluem câncer de pulmão, fígado 
e esôfago. A implementação de programas de 
rastreamento e diagnóstico precoce é essencial para 
a redução da mortalidade. 
• Doenças do Aparelho Respiratório e Tabagismo: o 
tabagismo é um dos principais fatores de risco para 
doenças respiratórias crônicas, como a Doença 
Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A prevalência 
de tabagismo entre os homens é significativa no 
Brasil, especialmente em regiões mais vulneráveis. 
• Suicídios e Problemas de Saúde Mental: a taxa de 
suicídios é mais alta entre os homens, com destaque 
para os homens jovens. Além disso, transtornos de 
saúde mental, como depressão e ansiedade, afetam 
uma grande parcela dessa população, muitas vezes 
de forma não tratada devido ao estigma relacionado 
ao cuidado psicológico. 
• Causas Externas (violência e Acidentes): as taxas 
de mortalidade por acidentes de trânsito, homicídios 
e outros tipos de violência também são 
significativamente mais altas entre os homens. Isso é 
em grande parte relacionado a comportamentos de 
risco, como o consumo excessivo de álcool e a 
exposição a situações de violência urbana. 
Perfil de Morbidade Masculina (GUSSO et al., 2019) 
Causa % Descrição 
Causas Externas 
(Acidentes) 
16 A maioria relacionada a 
quedas e acidentes de 
trânsito, com maior 
prevalência entre homens de 
20 a 29 anos. 
Patologias do 
Aparelho 
Circulatório 
- Acidentes Coronarianos: 40% 
das internações dentro das 
patologias circulatórias. 
Hipertensão Arterial 
Sistêmica (HAS): 19% das 
internações. 
Tumores - Aumento no número de 
internações por tumores entre 
2000 e 2007, indicando um 
aumento no diagnóstico de 
câncer, embora a causa ainda 
não seja totalmente 
esclarecida. 
Problemas 
Respiratórios 
- Redução relativa de 
internações por doenças do 
aparelho respiratório entre 
2000 e 2007. 
Tabagismo 19,2 Percentual de homens maiores 
de 18 anos que utilizam 
produtos derivados do tabaco. 
Abuso de Álcool 21,6 Percentual de homens que 
fazem uso abusivo de álcool, 
maior do que o de mulheres. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
73 
Saúde Mental - 1,5 milhão de homens 
apresentam problemas 
relacionados à saúde mental 
(entre os 11 milhões de 
homens com necessidades 
especiais). 
População 
Carcerária 
- Quase 600 mil homens, 
correspondendo a 94% da 
população carcerária brasileira. 
 
 
As causas externas, como acidentes, agressões e suicídios, 
são a principal causa de morte entre homens jovens, sendo 
superadas pelas doenças do aparelho circulatório e tumores 
a partir dos 50 anos, devido ao efeito cumulativo dos hábitos 
de vida. Aproximadamente 25% das mortes entre homens de 
20 a 59 anos são por doenças circulatórias, indicando a 
ineficácia das estratégias de prevenção secundária no Brasil. 
As neoplasias, especialmente o câncer de pulmão, próstata e 
estômago, também são responsáveis por grande parte das 
mortes, assim como as doenças hepáticas, frequentemente 
associadas ao abuso de álcool. Fatores como o tabagismo e 
o abuso de álcool, que estão intimamente ligados a uma 
masculinidade hegemônica, contribuem para o alto índice de 
doenças vasculares, respiratórias e neoplásicas, refletindo um 
comportamento culturalmente arraigado em que os homens 
lidam com o sofrimento psíquico sem buscar cuidados. 
A análise desses dados deve considerar as lentes de gênero, 
pois os padrões sociais masculinos têm grande impacto nas 
mortes e agravos evitáveis, ressaltando a importância de 
estratégias de saúde que levem em conta essas 
especificidades. 
Impacto da PNAISH no Cuidado à Saúde do Homem 
Com base na portaria, a implementação de ações de 
rastreamento de câncer de próstata, diabetes e hipertensão 
se intensificou nas unidades de saúde, sendo um avanço 
importante para a prevenção precoce dessas condições. 
Embora a adesão ainda seja um desafio, a ampliação da 
educação em saúde e as campanhas de conscientização têm 
mostrado resultados positivos. 
A portaria também propõe uma abordagem mais sensível à 
saúde mental, com a incorporação de estratégias para o 
manejo de transtornos psicológicos, como a depressão, que 
afeta uma parcela significativa da população masculina. A 
inclusão da saúde mental nas estratégias de saúde do 
homem, prevista na portaria, visa reduzir os índices de suicídio 
e promover uma abordagem mais holística no cuidado. 
As ações educativas promovidas pela Estratégia Nacional de 
Saúde do Homem têm contribuído para uma mudança de 
paradigma em relação à saúde masculina, especialmente nas 
faixas etárias mais jovens, ao promover a conscientização 
sobre saúde sexual, prevenção de cânceres e saúde mental. 
Desafios na Implementação da PNAISH e da Portaria 
GM/MS nº 3.562/2021 
Apesar dos avanços, as normas culturais e sociais de 
masculinidade continuam a ser uma barreira significativa para 
a adesão dos homens aos cuidados médicos. A ideia de que 
os homens devem ser autossuficientes e resistentes a mostrar 
fraqueza ainda influencia a busca por serviços de saúde, 
especialmente nas questões preventivas. 
Ainda, a implementação eficaz da PNAISH e da Estratégia 
Nacional de Saúde do Homem depende da formação contínua 
dos profissionais de saúde para lidar com as especificidades 
do atendimento ao homem. A capacitação em gênero e saúde 
mental é crucial para que os profissionais possam oferecer um 
cuidado sensível e acolhedor. 
A falta de infraestrutura adequada em muitas unidades de 
saúde, especialmente em áreas periféricas ou rurais, ainda 
representa um desafio para a efetividade das políticas de 
saúde do homem. A ampliação do acesso a serviços de saúde 
de qualidade continua sendo um obstáculo que precisa ser 
enfrentado, principalmente por meio da ampliação de recursos 
para a APS. 
Papel do profissional de saúde 
O papel do profissional de saúde na abordagem aos homens 
deve ser de questionamento e reflexão sobre os estereótipos 
de masculinidade, sem reforçá-los, mas problematizando suas 
circunstâncias de vida, hábitos e estágios nos ciclos 
individuais e familiares. Os médicos devem ajudar os homens 
a perceberem e lidarem com sua vulnerabilidade, 
considerando que muitos não reconhecem os riscos que 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
74 
enfrentam, como acidentes e violências, muitas vezes 
associados a comportamentos impulsivos e irresponsáveis. A 
prática profissional deve romper com modelos binários de 
gênero, superando a vitimização das mulheres e a 
culpabilização dos homens, reconhecendo que as relações de 
gênero são de poder e que os homens também podem ser 
tanto responsáveis quanto vítimas de suas ações, impactando 
direta ou indiretamente seus amigos e familiares. 
Acesso e uso dos serviços de Atenção Primária à Saúde 
(APS) 
O acesso dos homens aos serviços de APS envolve a 
percepçãode necessidade de cuidado, a conversão dessa 
percepção em demanda e o efetivo comparecimento ao 
serviço. Esse processo é frequentemente dificultado por 
profissionais sobrecarregados com diversas demandas e 
metas de produção. As principais barreiras de acesso podem 
ser divididas em socioculturais e institucionais, sendo que 
essas dimensões se interrelacionam e influenciam 
mutuamente, o que torna o acesso mais complexo para os 
homens, como evidenciado em estudos de diversos autores. 
Barreiras socioculturais 
As barreiras socioculturais ao acesso dos homens aos 
serviços de saúde estão intimamente ligadas a estereótipos 
de masculinidade, como o conceito do homem invulnerável. 
Esse estereótipo leva muitos homens a evitarem procurar 
ajuda médica, associando a busca por cuidados à fraqueza, 
um traço tradicionalmente atribuído às mulheres. Além disso, 
muitos homens, ao longo de suas vidas, se envolvem em 
comportamentos de risco, como abuso de álcool e drogas, 
que são vistos como parte de uma "masculinidade 
hegemônica". Esse comportamento é influenciado pelo 
ambiente social, cultural e pelas expectativas sobre o papel do 
homem na sociedade, como provedor e menos suscetível a 
questões de saúde. 
Esses padrões de masculinidade também se refletem nas 
atitudes e práticas dos profissionais de saúde, que 
frequentemente adotam uma lógica biomédica estreita, focada 
na detecção de doenças e não na promoção da saúde. Isso 
contribui para a falta de acolhimento dos homens, 
especialmente em unidades de saúde que, muitas vezes, são 
percebidas como espaços femininos, o que dificulta o 
engajamento dos homens. Além disso, a cultura de não 
permitir que os homens exerçam papéis de cuidado, como 
cuidar de filhos ou cônjuges, fortalece a ideia de que a saúde 
e o cuidado são responsabilidades femininas, levando os 
homens a se distanciar ainda mais dos serviços de saúde. 
Barreiras institucionais – Comunicação 
As barreiras institucionais ao acesso dos homens aos serviços 
de saúde estão relacionadas à abordagem inadequada que 
frequentemente é aplicada a eles, com foco excessivo em 
programas pré-definidos, como os voltados para a próstata, 
hipertensão e diabetes. Esse modelo, muitas vezes autoritário 
ou culpabilizador, não considera as especificidades do homem 
e pode aliená-lo dos cuidados de saúde. A resistência à saúde 
também é agravada pela forma como os homens são tratados, 
sem a devida personalização, o que torna a abordagem 
ineficaz e distante das necessidades reais dessa população. 
Além disso, os serviços de saúde não conseguem se 
comunicar adequadamente com os homens, uma vez que 
muitas unidades são feminilizadas, com decoração e 
campanhas direcionadas predominantemente ao público 
feminino, infantil ou idoso. Esse ambiente pode fazer com que 
os homens se sintam deslocados ou desconfortáveis ao 
procurar atendimento. No consultório, a abordagem clínica 
muitas vezes não leva em conta as formas próprias dos 
homens de expressarem seus problemas, como questões de 
sexualidade, o que pode resultar em diagnósticos ou 
tratamentos desnecessários. Para melhorar essa situação, é 
essencial que os profissionais adotem uma comunicação mais 
empática e sensível, levando em conta as demandas ocultas 
dos homens, como disfunções sexuais, que muitas vezes são 
mascaradas por queixas gerais ou busca por exames de 
rotina. 
Possíveis inadequações dos serviços de saúde 
Horário de funcionamento 
Embora o horário de funcionamento das unidades de saúde 
seja frequentemente citado como uma barreira ao acesso dos 
homens, especialmente por colidir com o horário de trabalho, 
esse argumento perde força diante da presença das mulheres 
trabalhadoras, que conseguem comparecer mais 
frequentemente. As mulheres, em geral, priorizam mais a 
saúde, enfrentam maior culpabilização por faltas e têm mais 
facilidade para negociar saídas do trabalho por questões de 
saúde. Para melhorar o acesso dos homens aos serviços, é 
fundamental que a equipe de saúde reflita se realmente está 
oferecendo ajuda adequada ou se está simplesmente 
tentando adaptar os homens a uma rotina rígida, sem 
considerar suas necessidades e possibilidades. Experiências 
de atendimentos noturnos, por exemplo, têm mostrado ser 
uma solução eficaz para melhorar o acesso à população. 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
75 
Dificuldades de acesso 
Os homens enfrentam dificuldades de acesso aos serviços de 
saúde devido à falta de uma abordagem específica para suas 
necessidades, o que resulta em um ciclo de invisibilidade. Eles 
frequentemente não são reconhecidos como sujeitos do 
cuidado, e os profissionais de saúde, sem treinamento 
adequado, não sabem como abordá-los. Isso leva os homens 
a perceberem o serviço como um "não lugar" e a evitarem 
consultas. Além disso, homens de identidades sexuais e de 
gênero diversas, como os homossexuais, bissexuais e 
transexuais, podem evitar os serviços por medo de 
preconceito. 
Profissionais mulheres, médica mulher realizando exame 
físico de partes íntimas 
A predominância de mulheres entre os profissionais da APS 
pode ser uma barreira para os homens, especialmente 
quando se trata de exames íntimos e discussões sobre saúde. 
Muitos profissionais tentam negar as questões de gênero, mas 
é importante reconhecer essas diferenças e oferecer opções 
de atendimento que gerem confiança, como permitir a escolha 
do médico de acordo com o gênero. A qualidade da relação 
terapêutica e a capacitação dos profissionais são essenciais 
para que os homens se sintam à vontade e legitimem o serviço 
para trazer suas demandas mais íntimas. 
Estratégias para a Efetivação da PNAISH e da Portaria 
GM/MS nº 3.562/2021 
Uma das estratégias chave para a efetivação da PNAISH é o 
fortalecimento da APS, com a criação de unidades de saúde 
mais acessíveis, próximas das comunidades e mais 
preparadas para atender às necessidades específicas dos 
homens. A implementação de práticas educativas nas UBS é 
essencial para aumentar a adesão à saúde preventiva. 
O desenvolvimento de campanhas de conscientização, como 
o Novembro Azul, e a promoção de práticas de saúde 
masculinas através de mídias tradicionais e digitais, são 
fundamentais para quebrar o estigma e incentivar os homens 
a procurarem os serviços de saúde. 
Integrar serviços de apoio psicológico nas unidades de saúde 
e criar campanhas que desmistifiquem a busca por cuidados 
de saúde mental é uma estratégia fundamental para reduzir 
os índices de suicídio e transtornos emocionais. 
 A aproximação com os homens no contexto da saúde exige 
mudanças significativas nos serviços, tanto nas atitudes dos 
profissionais quanto nas ações realizadas. Experiências bem-
sucedidas incluem atividades dentro e fora dos centros de 
saúde, como a promoção de grupos de homens e a 
participação em eventos comunitários, como festas e 
atividades esportivas. Além disso, intervenções sobre a 
violência de gênero, desconstruindo padrões de 
masculinidade, também têm mostrado resultados positivos, 
como grupos reflexivos que contribuem para a 
conscientização sobre a violência como parte do repertório 
masculino na resolução de conflitos. 
Experiências inovadoras também são observadas em 
municípios brasileiros, como Campinas-SP, que desenvolvem 
ações específicas para homens, como "dias temáticos" e a 
inclusão de pais no pré-natal. Internacionalmente, programas 
no Canadá focam na paternidade e na saúde, enquanto no 
Reino Unido a falta de acesso adequado à saúde entre 
homens em situação de privação socioeconômica permanece 
um desafio. Em geral, aumentar o acesso aos serviços de 
saúde e facilitar a demanda espontânea pode contribuir para 
a presença dos homens nos serviços, favorecendo ações 
preventivas e de promoção da saúde. 
Novembro Azul 
O câncer de próstata é a neoplasia mais comum entre os 
homens, mas o rastreamento para sua detecção tem gerado 
controvérsias, principalmente devido ao seu impacto limitado 
na redução da mortalidadee aos efeitos colaterais 
indesejáveis, como disfunção erétil e incontinência urinária. 
Campanhas como o “Novembro Azul” buscam popularizar o 
rastreamento, mas muitos profissionais de saúde questionam 
sua eficácia. Em resposta, o Departamento de APS de Curitiba 
sugeriu aproveitar a oportunidade da campanha para realizar 
rastreamentos de outras condições, como etilismo, tabagismo 
e diabetes, que realmente podem beneficiar a saúde da 
população masculina. 
É fundamental que os gestores e profissionais de saúde 
reconheçam as especificidades das demandas dos homens e 
adotem abordagens mais adequadas, superando estereótipos 
e utilizando estratégias de saúde que atendam as 
necessidades reais dessa população. Isso inclui considerar as 
diferenças de classe, raça e identidade de gênero, bem como 
articular ações de prevenção e tratamento que reduzam as 
causas evitáveis de morbimortalidade. Assim, o sistema de 
saúde pode se tornar mais eficiente e inclusivo, garantindo 
cuidados mais direcionados e eficazes para os homens. 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
76 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.751. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 3.562, de 15 
de dezembro de 2021. Institui a Política Nacional de Atenção 
Integral à Saúde do Homem (PNAISH) no âmbito do Sistema 
Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 
dez. 2021. 
SEMANA 09: POPULAÇÃO 
PRIVADA DE LIBERDADE – 
DATA: 31/03/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Conhecer a atenção à saúde da População Privada 
de Liberdade. 
Objetivos Específicos 
• Conhecer os objetivos da Política Nacional de 
Atenção integral à Saúde das Pessoas Privadas de 
Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP). 
• Conhecer à atenção a saúde da população privada 
de liberdade. 
• Abordar os princípios da atenção Básica na 
população prisional. 
• Conhecer as Equipes de Atenção Primária Prisional 
(eAPP) 
População Prisional 
Como em qualquer população definida, existem 
especificidades com as quais o médico de família deve estar 
familiarizado: tuberculose, autolesão, uso de psicotrópicos, 
simulação, comportamentos disruptivos, tabagismo e 
questões judiciais. 
De acordo com os dados mais recentes disponíveis, referentes 
ao final de 2023, a população prisional brasileira era estimada 
em aproximadamente 820 mil pessoas. Esse número inclui 
indivíduos em regime fechado, semiaberto e aberto, além de 
presos provisórios. 
Perfil da população prisional (dados de 2023) 
• Sexo: cerca de 95% são homens. 
• Faixa etária: a maioria tem entre 18 e 34 anos. 
• Escolaridade: predominância de pessoas com ensino 
fundamental incompleto. 
• Cor/raça: a maior parte se autodeclara como preta 
ou parda. 
• Regime de prisão: a maioria está em regime fechado. 
• Presos provisórios: uma parcela significativa ainda 
não foi julgada. 
A maioria está cumprindo pena principalmente por roubo, 
tráfico de drogas, furtos e homicídios. Essa população, 
oriunda na maioria das vezes de comunidades desfavorecidas, 
já apresenta condições de saúde precárias antes mesmo do 
encarceramento. Condições de higiene inadequadas, celas 
mal ventiladas e superpopulosas contribuem para o 
agravamento da sua condição de saúde. 
Princípios da atenção primária na população prisional 
Acesso 
A comunicação e o contato entre detentos e equipe de saúde 
nem sempre são facilitados. Compromissos judiciais, visitas de 
familiares e advogados, horários de refeições, transferências 
de celas, banhos de sol e outros procedimentos de segurança 
podem tornar o detento temporariamente inacessível. 
Dependendo do nível de segurança da unidade prisional, 
existem diferentes possibilidades de como o detento pode 
solicitar atendimento ou medicamentos. 
Unidades de baixo nível de segurança: os detentos podem ir 
espontaneamente para a unidade de saúde. O acesso pode 
funcionar no estilo porta-aberta ou Walk-in, sem 
agendamentos prévios. De acordo com o volume, uma triagem 
deve ser estabelecida, geralmente por profissional da 
enfermagem. Comumente, os detentos solicitam atendimento 
a outro detento, que repassa os pedidos aos agentes de 
segurança ou diretamente a estes. Depois, os pedidos são 
encaminhados à equipe de saúde. 
• Uma questão inicial é tentar ao máximo que a 
solicitação seja feita diretamente ao profissional de 
saúde, sem intermediários. Assim, evitam-se 
potenciais retaliações ou barganhas referentes ao 
acesso à saúde. 
Métodos de acesso à saúde na prisão: vantagens e 
desvantagens 
Lista com nomes 
Vantagens: 
• Enfatiza encontros frente a frente para queixas de 
saúde; 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
77 
• Não depende da capacidade de escrita do paciente, 
exceto para escrever o próprio nome; 
• Elimina a necessidade de triagem para avaliação 
inicial; 
• As consultas podem ser documentadas 
cronologicamente em folhas de evolução. 
Desvantagens: 
• Encontros frente a frente não são necessários do 
ponto de vista clínico para cada problema de saúde; 
• Aumento do volume de movimentações de 
prisioneiros e, consequentemente, do tempo gasto 
para que cada um seja avaliado frente a frente; 
• O prontuário deve estar prontamente disponível para 
cada encontro; 
• Pode não ser possível abordar completamente o 
problema, porque a informação precisa ser checada 
ou acompanhada; 
• A menos que se organizem oportunidades de 
cancelamento do pedido, o número de ausências 
pode ser um problema; 
• Precisa ser organizado de forma que seja compatível 
com as outras atividades da instituição. 
Por escrito 
Vantagens: 
• Problemas não clínicos podem ser resolvidos sem a 
necessidade de consulta presencial; 
• A documentação começa com o pedido; 
• Referências/encaminhamentos podem ser feitos 
diretamente para o serviço correto, se necessário; 
• Ações que vão abordar o problema mais diretamente 
podem ser agendadas (renovação de prescrições, 
educação em saúde, agendamento para exames 
etc.); 
• O prontuário e outras informações podem ser 
revisados, permitindo uma melhor abordagem da 
queixa; 
• Reduz o volume de movimento para e da unidade de 
saúde. 
Desvantagens: 
• Problemas de saúde que deveriam ser resolvidos de 
modo presencial podem ser abordados 
inapropriadamente; 
• O volume de papel a ser arquivado no prontuário 
aumenta, uma vez que cada pedido escrito gera um 
novo pedaço de papel; 
• Uma baixa capacidade de escrita pode atrapalhar 
uma resposta adequada da equipe de saúde; 
• As solicitações devem ser colocadas em uma caixa e 
a confidencialidade deve ser protegida; 
• As solicitações devem ser coletadas diariamente; 
• Maiores chances de erro ou omissão de informação 
importante no pedido; 
• Prisioneiros solicitarão atendimento pela mesma 
queixa diversas vezes, a menos que haja uma 
resposta rápida e satisfatória ao paciente; 
• Membros da equipe de saúde podem ser muito 
rígidos e insistir que um pedido escrito seja 
produzido quando o paciente deveria ser visto de 
qualquer maneira, mesmo que não tenha feito 
nenhum pedido. 
Walk-in 
Vantagens: 
• Fácil para os pacientes usarem; 
• Enfatiza encontros frente a frente para queixas de 
saúde; 
• Não depende da capacidade de escrita do paciente; 
• Elimina a necessidade de triagem para avaliação 
inicial; 
• As consultas podem ser documentadas 
cronologicamente em folhas de evolução. 
Desvantagens: 
• É necessário encontrar o prontuário no momento em 
que o paciente solicita atendimento; 
• Não há priorização de necessidades e uso dos 
recursos; 
• Encontros frente a frente não são necessários do 
ponto de vista clínico para cada problema de saúde; 
• Doentes podem não conseguir chegar à unidade de 
saúde; 
• Pode não ser possível abordar completamente o 
problema, porque a informação precisa ser checada 
ou acompanhada; 
• Pode ser difícilgarantir acesso levando em conta 
agendamentos e controle do movimento; 
• Precisa ser organizado de forma que seja compatível 
com as outras atividades da instituição. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
78 
Telefone 
Vantagens: 
• Aproxima-se do modelo da solicitação de consulta da 
comunidade em geral; 
• Facilita o diálogo entre o profissional de saúde e o 
paciente para abordar a queixa; 
• Não depende da capacidade de escrita do paciente; 
• As ligações podem ser documentadas 
cronologicamente em folhas de evolução; 
• Reduz o volume de movimento para e da unidade de 
saúde. 
Desvantagens: 
• A quantidade de aparelhos telefônicos e a 
capacidade da central telefônica podem não ser 
suficientes para lidar com o volume de chamadas; 
• Muitas tentativas até ter sua ligação atendida podem 
ser uma barreira de acesso; 
• Difícil utilização para pacientes com dificuldades de 
comunicação; 
• O prontuário deve ser resgatado no momento em 
que o atendimento é solicitado; 
• Problemas de saúde que deveriam ser resolvidos de 
forma presencial podem ser abordados 
inapropriadamente; 
• Pode não ser possível abordar completamente o 
problema, porque a informação precisa ser checada 
ou acompanhada; 
• Interrompe outras tarefas dos profissionais de 
saúde, a menos que sejam previstos horários 
específicos para as chamadas ou instalado um 
serviço de mensagens. 
Consulta agendada 
Vantagens: 
• Aproxima-se do modelo da solicitação de consulta da 
comunidade em geral; 
• Elimina a triagem e o encaminhamento ao 
profissional de saúde; 
• O prontuário pode ser analisado antes da consulta; 
• Não depende da capacidade de escrita do paciente; 
• As consultas podem ser documentadas 
cronologicamente em folhas de evolução; 
• O movimento para e da unidade de saúde é 
agendado. 
Desvantagens: 
• Não há priorização de necessidades e uso dos 
recursos; 
• Encontros frente a frente não são necessários do 
ponto de vista clínico para cada problema de saúde; 
• Pode não ser possível abordar completamente o 
problema, porque a informação precisa ser checada 
ou acompanhada; 
• Pode haver mais solicitações do que vagas e o 
acesso pode ser negado; 
• A menos que se organizem oportunidades de 
cancelamento do pedido, o número de ausências 
pode ser um problema. 
Integralidade 
Os serviços de atenção à saúde prisional devem garantir a 
integralidade, com uma carteira de serviços pelo menos 
semelhante à dos serviços de medicina de família e 
comunidade. Alguns cuidados adicionais são ainda 
necessários, como a questão de detentos que precisam de 
cuidadores. 
Devido à dificuldade de acesso a serviços externos, é 
necessário ampliar o cuidado clínico dentro dos presídios, por 
meio da presença de profissionais e equipamentos ou 
parcerias para acompanhamento remoto com serviços 
especializados. 
Quanto aos medicamentos, podem ocorrer obstáculos pelo 
pessoal de segurança em relação a quais medicamentos 
podem ficar com o paciente. É importante que o médico de 
família negocie, dentro do possível, a favor da melhor solução 
clínica. 
Dependendo do porte da penitenciária, o médico de família 
também tem o dever de advogar condições adequadas de 
internação em hospitais gerais e terciários. Enfermarias 
adaptadas garantem tanto uma acomodação adequada ao 
detento quanto a segurança geral ao hospital, como, por 
exemplo, em relação a fugas ou resgates. 
Coordenação do cuidado 
O confinamento facilita a coordenação do cuidado entre os 
diferentes níveis de atenção à saúde. O médico de família 
pode acompanhar o detento às consultas, discutindo o caso 
com especialistas. 
A presença do médico ajuda a contextualizar o tratamento ao 
ambiente prisional (ex: quimioterapia, pós-operatório). Em 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
79 
internações, inclusive emergenciais, o médico deve ser 
informado para acompanhar o cuidado. 
Em alguns casos, é possível acesso remoto a especialistas, 
sem deslocamento do detento (ex: HIV, hepatite C, 
tuberculose, diabetes tipo 1). 
A contrarreferência é garantida, com retorno de documentos 
e orientações à equipe prisional. O médico da unidade avalia 
a viabilidade do plano, assegura o fornecimento de 
medicamentos e exames, e garante os retornos de 
acompanhamento. 
Longitudinalidade 
A população prisional brasileira é transitória. Os presos podem 
ficar de poucos dias até muitos anos. É alta a reincidência, 
sendo bastante comuns idas e vindas entre diferentes 
unidades prisionais e a comunidade. 
O eventual retorno à comunidade costuma ser um momento 
crítico na continuidade do tratamento de doenças crônicas e 
em recaídas em dependentes químicos. São necessárias 
ações de coordenação com a rede de saúde na comunidade 
e preparação por parte da equipe de saúde da unidade 
prisional. 
Atenção a saúde da população privada de liberdade 
A atenção a saúde da população privada de liberdade deve 
ser compreendida a partir de uma perspectiva integral, 
considerando as especificidades do ambiente prisional e os 
princípios da APS. 
Para conhecer e atuar na atenção à saúde da população 
privada de liberdade, se faz necessário: 
• Compreender o contexto prisional: é fundamental que 
os profissionais de saúde entendam as 
particularidades do ambiente carcerário, incluindo 
aspectos estruturais, organizacionais e sociais que 
influenciam na saúde dos indivíduos privados de 
liberdade. 
• Promoção da equidade: deve-se reconhecer as 
desigualdades existentes e trabalhar para garantir 
que essa população tenha acesso a cuidados de 
saúde equivalentes aos disponíveis para população 
em liberdade, respeitando os princípios do SUS. 
• Integração com a rede de saúde: deve-se 
estabelecer vínculos entre os serviços de saúde 
dentro dos presídios e a rede externa, facilitando a 
continuidade do cuidado e o acesso a serviços 
especializados quando necessários. 
• Abordagem centrada na pessoa: mesmo em um 
ambiente institucionalizado, é essencial manter uma 
prática clínica que valorize a individualidade, a escuta 
ativa e o respeito às necessidades e preferências dos 
pacientes. 
• Educação em saúde e prevenção: implementar ações 
educativas que promovam a saúde e previnam 
doenças, considerando as condições específicas do 
ambiente prisional e as características da população 
atendida. 
• Trabalho em equipe multiprofissional: a atuação 
conjunta de diferentes profissionais de saúde é 
crucial para oferecer um cuidado abrangente e 
eficaz, abordando as múltiplas dimensões da saúde 
dos indivíduos privados de liberdade. 
Avaliação clínica na admissão ao presídio 
A população prisional necessita de identificação de diversas 
condições de saúde no momento da entrada no sistema 
prisional, mas nem sempre há implementação sistemática de 
uma avaliação inicial. Isso não é importante apenas para as 
próprias pessoas detidas e os trabalhadores do sistema 
prisional, mas também para as comunidades para onde 
eventualmente retornarão. 
Idealmente, deve haver uma unidade de porta de entrada 
centralizada para cada sistema prisional. Uma vez que o 
detido deixa a área de triagem inicial, é bastante difícil o 
seguimento clínico. Um encontro único é mais eficiente do que 
repetidas visitas para novas avaliações e entrega de 
resultados, porque a movimentação de pessoas no ambiente 
prisional demanda bastante tempo. 
Condições com prioridade imediata 
Deve haver avaliação rápida para: 
• Diabetes com uso de insulina; 
• Síndrome de abstinência de álcool e outras drogas; 
• Doenças respiratórias transmissíveis. 
Especificidades da população feminina 
• Deve-se oferecer teste de gravidez a todas as 
mulheres com menos de 55 anos na admissão. 
• Início precoce do pré-natal e atenção a questões 
como uso de substâncias. 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
80 
Doenças infecciosas prioritárias 
HIV, hepatites B e C, sífilis e tuberculose são mais prevalentes 
e de alto risco de transmissão. O rastreamento universalideal, 
mas pode ser difícil logisticamente. 
• Testes rápidos: rápidos e com pouco risco, mas 
limitados em massa. 
• Coleta de sangue venoso: abrange mais doenças, 
mas exige maior estrutura. 
Problemas específicos 
Tuberculose 
A tuberculose tem especial importância na prática diária do 
médico de família atuando no sistema prisional. 
O rastreamento por radiografia de tórax é a melhor opção 
para rastreamento universal pela acurácia. Já o rastreamento 
por sintomáticos respiratórios (tosse > 3 semanas) tem baixa 
sensibilidade. 
Novas tecnologias como interferon-gama (IGRA) e o teste 
molecular GeneXpert estão sendo testadas. O teste 
tuberculínico (derivado de proteína purificada [PPD]) não é 
útil como modelo de rastreamento no contexto prisional, 
devido à alta prevalência de infecção tuberculosa, exceto em 
coinfecção com HIV. 
Em cenários de alta prevalência, radiografia na admissão tem 
mais impacto se for combinada com rastreamento anual em 
massa. A transmissão interna é mais relevante do que a vinda 
de novos casos da comunidade. 
Quanto à investigação de contatos, as frequentes mudanças 
de celas tornam esse procedimento inerentemente falho, mas 
deve ser realizado pelo menos naqueles que compartilham a 
cela no momento do diagnóstico. A segregação de casos 
diagnosticados, exceto os multirresistentes, é controversa. 
A estratégia de tratamento diretamente observada é difícil de 
ser implementada integralmente. Para além do manejo clínico 
e ações de rastreamento, deve haver preocupação com as 
questões arquiteturais. São necessários esforços no sentido 
de se advogar melhorias estruturais que interfiram na 
transmissão da tuberculose – ventilação, incidência solar, 
superlotação – e, também, de capacidade diagnóstica da 
unidade de saúde – laboratório para análise de escarro e sala 
de radiografia. 
Medicações psicotrópicas 
A demanda por benzodiazepínicos, assim como na 
comunidade, é bastante alta. Queixas de quadros de insônia 
primária são bastante frequentes, o que poderia trazer o 
impulso de tratamento farmacológico. O fato é que as 
condições do cárcere não favorecem a higiene do sono, mas, 
ainda assim, o uso de benzodiazepínicos e hipnóticos é 
bastante desencorajado, devido ao potencial de abuso, em 
uma população já com alta prevalência de transtornos de uso 
de substâncias. Extrapolando em todos os medicamentos 
psicotrópicos, a indicação sempre deve ser bastante 
criteriosa, devido aos riscos de intoxicação, ao uso 
indiscriminado, à simulação e ao comércio de medicamentos. 
Simulação 
É comum a simulação de sintomas mentais e neurológicos, 
especialmente alucinações e crises convulsivas. O intuito 
geralmente é obter medicação com potencial real ou esperado 
de abuso e/ou de efeito hipnótico, para uso próprio ou 
comércio entre os demais detentos. Em relação a simulações 
de condições clínicas gerais, deve-se tomar o cuidado de 
tomar como verdadeiras as queixas da pessoa, sob o risco de 
negligenciar condições clínicas potencialmente graves. Não 
são comuns simulações de doenças orgânicas. 
Estratégias comuns para detecção de doença mental 
simulada: 
• Sintomas raros: simuladores muitas vezes não 
sabem quais sintomas são infrequentes entre 
pessoas com doenças genuínas. A estratégia deve 
ser usada quando a pessoa reporta sintomas muito 
infrequentes. Por exemplo: “remoção do 
pensamento” – na qual um interno relata que suas 
ideias estão sendo rotineiramente roubadas por uma 
força externa. 
• Sintomas improváveis: em torno de 1/3 dos 
simuladores exageram dramaticamente o quadro e 
apresentam sintomas improváveis, com qualidades 
bizarras ou fantasiosas. Por exemplo: um réu afirma 
que satã está flutuando sobre a cabeça do juiz e 
movendo os lábios como se estivesse proferindo as 
mesmas palavras da sentença. A diferença para os 
sintomas raros é o fato de se tratar frequentemente 
de algo absurdo. 
• Combinação de sintomas: muitos simuladores não 
pensam quais sintomas comuns normalmente não 
ocorrem juntos. Por exemplo: delírios de grandeza e 
sintomas purgativos são uma combinação 
improvável. Trata-se de uma estratégia sofisticada, 
porque simuladores desconhecem quais 
combinações de sintomas são pouco usuais. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
81 
• Gravidade dos sintomas: pessoas com doenças 
genuínas experimentam sintomas em uma escala 
contínua, de leves a moderados, ou mesmo graves. 
Simuladores de doenças mentais comumente 
apresentam sintomas graves ou mesmo extremos. 
Entretanto, alguns doentes legítimos utilizam essa 
estratégia, conhecida como “dourar a pílula”, para 
tentar garantir que recebam tratamento. Prisioneiros 
podem supor, correta ou incorretamente, que 
apenas as doenças mais graves receberão 
tratamento. 
• Publicidade indiscriminada dos sintomas: durante 
entrevistas clínicas, quando formuladas questões 
abertas a respeito de psicopatologias, alguns 
simuladores apresentam queixas de qualquer 
categoria sindrômica. Como existem comorbidades, a 
descrição de muitos sintomas disseminados não é 
por si só indicativa de simulação, indicando mais 
comumente uma tentativa de garantia de tratamento. 
• Sintomas reportados versus sintomas diretamente 
observados: simuladores podem apresentar grande 
discrepância entre o que eles reportam e o que se 
apresenta à observação direta. O reportado tende a 
ser mais patológico do que o diretamente observado. 
Essa estratégia é mais utilizada em locais em que o 
doente está em observação direta frequente, como 
um hospital ou uma prisão. Um lembrete de cautela: 
algumas pessoas com doenças mentais têm pouca 
ou nenhuma compreensão sobre seus diagnósticos. 
Comportamentos disruptivos 
Um fenômeno particular do confinamento são os 
comportamentos disruptivos – notadamente autolesão –, mas 
também quebrar canos das celas, sujar-se de fezes ou causar 
incêndios. O comportamento de autolesão mais comum é 
cortar a própria pele, geralmente utilizando lâminas de 
barbear. Entretanto, morder-se, engolir objetos e incendiar-se 
também são comportamentos observados. Em geral, não 
costumam ter intenção suicida, aparentam ser um fenômeno 
ligado ao cárcere, pois os pacientes não relatam tais tipos de 
comportamento na comunidade. É interessante notar que tais 
ações estão muito mais ligadas a uma tentativa de comunicar 
dificuldades de convívio do que a expressão de doença mental 
grave. 
 
Tabagismo 
O tabagismo é um importante problema na área da saúde 
prisional, não apenas pelos seus efeitos adversos nos 
fumantes ativos, mas também nos passivos. As prisões fazem 
parte dos últimos locais fechados onde fumar ainda é 
permitido no mundo ocidental. O tabagismo segue tolerado 
pelas autoridades de segurança. 
O fumo passivo representa sérios riscos para a saúde dos que 
não fumam. Não há limiar mínimo de exposição livre de riscos; 
medidas como separar fumantes de não fumantes e de 
ventilação são insuficientes ou impraticáveis na maioria das 
situações. O problema é particularmente agravado em 
prisões, em razão da alta prevalência de tabagismo, da 
superlotação e da má ventilação. 
Questões legais 
O médico de família trabalhando no sistema prisional pode ter 
de se manifestar e até provocar o sistema judiciário por 
questões de saúde que podem interferir na capacidade de 
cumprimento da pena pela pessoa. 
Em casos de doença mental grave que se manifesta após o 
cumprimento da pena, dependendo da capacidade instalada 
de cuidados em saúde mental, ele pode acionar o instituto da 
superveniência de doença mental. Assim, o juiz da vara de 
execuções penais transforma a pena restritiva de liberdade em 
medida de segurança. Na medida de segurança, o detento é 
transferido para alas psiquiátricas penais especiais. Em 
cenários de doenças graves, o médico da unidade pode 
provocar ou ser provocado a opinar sobre a capacidade da 
unidade de prover os cuidados de saúde necessários e, 
também, acerca do prognóstico. Dois institutos jurídicos são 
possíveis: o indultohumanitário, no qual a pena é extinta, e a 
prisão domiciliar por motivo de doença. 
A vara de execução penal pode solicitar perícia específica para 
os institutos de medicina legal, mas, muitas vezes, são as 
informações do médico assistente que mais pesam na 
decisão. Assim, é grande a responsabilidade do médico de 
família, tanto em relação ao detento acometido de doença 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
82 
quanto em relação à comunidade do qual tal pessoa foi 
reclusa em razão de comportamento criminoso. 
Equipes de Atenção Primária Prisional (eAPP) 
As eAPP são responsáveis por prestar cuidados de saúde 
dentro das unidades prisionais, com base nos princípios da 
APS e da PNAISP. 
Composição das eAPP 
Profissionais mínimos obrigatórios: 
• 1 médico 
• 1 enfermeiro 
• 1 dentista 
• 1 técnico ou auxiliar de enfermagem 
• 1 auxiliar ou técnico de saúde bucal 
Outros profissionais podem ser incluídos, conforme a 
necessidade e a complexidade local: 
• Psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos, entre 
outros. 
Principais Atribuições 
• Realizar ações de promoção, prevenção, diagnóstico, 
tratamento e reabilitação. 
• Elaborar e executar planos de cuidado individual e 
coletivo. 
• Fazer o acompanhamento de doenças crônicas e 
condições agudas. 
• Monitorar e promover vacinação, testagem de 
doenças infecciosas, saúde bucal e saúde mental. 
• Atuar de forma interdisciplinar e em parceria com 
outros níveis de atenção (secundário e terciário). 
Abrangência e carga assistencial 
• Cada eAPP deve atuar em uma unidade prisional que 
abrigue entre 500 à 1.200 pessoas privadas de 
liberdade. 
• Quando a população for maior, devem ser 
implantadas mais equipes para garantir o cuidado 
adequado. 
Integração com o SUS 
• As eAPP devem estar integradas à RAS do SUS. 
• Devem garantir acesso a especialidades por meio de 
encaminhamentos e contrarreferência. 
• Atuam em parceria com vigilância em saúde, 
incluindo vigilância epidemiológica e sanitária. 
Gestão e financiamento 
• A gestão é municipal, com apoio técnico e financeiro 
dos governos estadual e federal. 
• O custeio das eAPP é feito por meio do Bloco de 
Financiamento da Atenção Primária à Saúde, com 
repasses federais específicos. 
Objetivos da PNAISP 
Garantir o acesso à atenção integral à saúde 
Proporcionar cuidado contínuo e de qualidade às pessoas 
privadas de liberdade, com ações de promoção, prevenção, 
tratamento e reabilitação. 
Inserção das pessoas privadas de liberdade na rede SUS 
Integrar as unidades prisionais à Rede de Atenção à Saúde 
(RAS), promovendo a articulação entre os serviços prisionais 
e o SUS local. 
Reduzir as desigualdades de acesso 
Combater a exclusão social e a vulnerabilidade dessa 
população, ampliando o acesso aos serviços de saúde com 
equidade. 
Fortalecer a vigilância em saúde no sistema prisional 
Monitorar, prevenir e controlar doenças transmissíveis e 
condições que afetam a saúde dessa população, como 
tuberculose, HIV/AIDS e doenças mentais. 
Capacitar profissionais e equipes de saúde 
Promover a formação continuada dos profissionais que atuam 
nas equipes de saúde prisional, para que ofereçam cuidado 
humanizado e qualificado 
Respeitar os direitos humanos 
Promover ações de saúde que respeitem a dignidade, os 
direitos e a cidadania das pessoas privadas de liberdade. 
Objetivo Geral (Art. 5º) 
Garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no 
sistema prisional ao cuidado integral no Sistema Único de 
Saúde (SUS). 
Objetivos Específicos (Art. 6º) 
I. Promover o acesso das pessoas privadas de 
liberdade à Rede de Atenção à Saúde, visando 
ao cuidado integral. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
83 
II. Garantir a autonomia dos profissionais de 
saúde para a realização do cuidado integral das 
pessoas privadas de liberdade. 
III. Qualificar e humanizar a atenção à saúde no 
sistema prisional por meio de ações conjuntas 
das áreas da saúde e da justiça. 
IV. Promover as relações intersetoriais com as 
políticas de direitos humanos, afirmativas e 
sociais básicas, bem como com as da Justiça 
Criminal. 
V. Fomentar e fortalecer a participação e o controle 
social. 
Público-alvo (Art. 7º) 
A PNAISP destina-se às pessoas que se encontram sob 
custódia do Estado inseridas no sistema prisional ou em 
cumprimento de medida de segurança.	
§ 1º: As pessoas custodiadas nos regimes semiaberto e 
aberto serão preferencialmente assistidas nos serviços da 
rede de atenção à saúde. 
§ 2º: As pessoas submetidas à medida de segurança, na 
modalidade tratamento ambulatorial, serão assistidas nos 
serviços da rede de atenção à saúde. 
Referências Bibliográficas 
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Sistema de Justiça 
Penal: Indicadores e estatísticas da população prisional no 
Brasil. Brasília: CNJ, 2023. 
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. 
Departamento Penitenciário Nacional. INFOPEN – 
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias: 
Atualização 2023. Brasília: MJSP/DEPEN, 2023 
BRASIL. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de 
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional. Brasília: 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 2014. 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.513. ISBN 9788582715369. 
SEMANA 11: MANEJO DAS 
ANEMIAS NA APS – DATA: 
07/04/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Compreender o manejo das anemias na atenção 
primária. 
Objetivos Específicos 
• Compreender a definição e diagnóstico das anemias; 
• Abordar a avaliação clínica da anemia no adulto 
(anamnese, exames físicos e complementares); 
• Discutir o manejo clínico e tratamento dos tipos mais 
comuns de anemia na APS (anemia microcítica, 
normocíticas e macrocíticas). 
Definição e diagnóstico das anemias 
A principal causa de anemia no mundo é a deficiência de ferro. 
As mulheres desenvolvem mais anemia do que os homens 
devido às perdas fisiológicas da menstruação. A anemia não 
é uma doença ou um diagnóstico final, e sim uma síndrome de 
sintomas e sinais. Deve-se sempre investigar a causa da 
anemia. 
Exames que fazem parte da investigação inicial da anemia 
ferropriva: hemograma, reticulócitos, lâmina de sangue 
periférico. 
O exame laboratorial que reflete a adequada reserva de ferro 
é a Ferritina. 
Diante de anemia ferropriva, dentro de três meses pode 
observar a normalização da hemoglobina após a reposição de 
ferro. 
A Fenitoína pode implicar na deficiência de ácido fólico. 
Definição 
A anemia é definida pela OMS quando a Hb é inferior a: 
• 13 g/dL em homens; 
• 12 g/dL em mulheres; e 
• 11 g/dL para crianças e gestantes. 
Sendo esses índices definidos ao nível do mar. O valor da Hb 
também está sujeito a variações estatísticas de acordo com a 
faixa etária, o sexo e o estudo retrospectivo de seus exames. 
Curiosidade: o diagnóstico de anemia é realizado com base 
em valores ao nível do mar, devido a altitude influenciar a 
concentração de hemoglobina no sangue. Em regiões mais 
altas, a menor disponibilidade de oxigênio leva o organismo a 
produzir mais hemoglobina como compensação. Assim, usar 
valores de referência ao nível do mar permite uma 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
84 
padronização global, e ajustes podem ser feitos conforme a 
altitude da localidade onde os exames são realizados. 
Com base no tamanho celular, as anemias têm sua 
classificação mais usada: 
• Microcíticas (VCM 100 fL) megaloblásticas: devido 
à deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico e 
relacionadas com fármacos (zidovudina, 
metotrexato, ácido valproico, entre outros). 
• Macrocíticas não megaloblásticas: alcoolismo, 
hepatopatia, hipotireoidismo e síndromes 
mielodisplásicas. 
• Normocíticas (VCM entreSe bem utilizado, é um método eficiente para a recuperação 
rápida das informações clínicas de uma pessoa, garantindo 
continuidade articulada de cuidados em equipe dentro da 
APS. É importante termos consciência de, ao utilizá-lo, 
registrarmos as informações como se não fossem para nós 
mesmos, mas sim de maneira compreensível para todos os 
membros da equipe, e, de maneira ideal, para a própria 
pessoa que está sendo cuidada. 
Problema Clínico 
Segundo definição de WEED (1966, apud CANTALE, 
2003): "Um Problema Clínico é tudo aquilo que requeira um 
diagnóstico e manejo posterior, ou aquilo que interfira com a 
qualidade de vida, de acordo com a percepção da própria 
pessoa"; 
Cada "problema" ainda pode ser classificado por diferentes 
critérios: tempo de ocorrência ("novo" ou "conhecido"), 
duração ("agudo" ou "crônico"), situação ("ativo" ou 
"resolvido") etc. (CANTALE, 2003). 
Algumas condições não se configuram, ou ainda não se 
configuraram como "problemas", e não deveriam aparecer 
oficialmente na "lista de problemas", a qual deve ter o máximo 
de precisão possível (CANTALE, 2003). Alguns exemplos: 
• Termos vagos ou pouco objetivos: hemopatia, 
processo respiratório; ou 
• Condições ainda sob suspeita ou "a esclarecer": 
hipotireoidismo em investigação, por exemplo. 
Dentro dessas duas perspectivas, muitos problemas de 
saúde são, de fato, diagnósticos classificáveis por sistemas 
de informação oficiais (como o CID 10, por exemplo), mas em 
APS, muitos "problemas" são constituídos por outras 
condições, tais como sintomas, queixas ou incapacidades 
(WONCA, 2009). Assim, são várias as situações que podem 
ser enquadradas como "problemas clínicos". No Quadro 1 
estão listadas categorias de potenciais problemas que 
poderiam compor uma "lista de problemas" dentro de um 
RCOP: 
 
Cada "problema" ainda pode ser classificado por diferentes 
critérios: tempo de ocorrência ("novo" ou "conhecido"), 
duração ("agudo" ou "crônico"), situação ("ativo" ou 
"resolvido") etc. 
Prontuário Eletrônico do SUS (PEC) 
É uma ferramenta digital que armazena e organiza as 
informações de saúde dos pacientes de forma segura e 
acessível. Ele tem como objetivo melhorar a qualidade do 
atendimento, garantindo que todos os profissionais da saúde 
envolvidos no cuidado do paciente tenham acesso rápido e 
atualizado aos dados, o que facilita a tomada de decisões. 
Objetivos Principais do PEC 
• Facilitar o acompanhamento e o histórico de saúde 
do paciente. 
• Aumentar a segurança e a eficiência no processo de 
atendimento. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
5 
• Melhorar a integração entre os diversos níveis de 
atenção (primária, secundária, terciária). 
CIAP-2 (Classificação Internacional de Atenção Primária) 
É uma ferramenta desenvolvida para categorizar as 
condições de saúde e os serviços oferecidos na atenção 
primária à saúde. Ele é utilizado para registrar 
os diagnósticos e as ações realizadas no atendimento do 
paciente. O CIAP-2 é uma ferramenta fundamental para 
entender as necessidades de saúde da população e, por 
meio da classificação, gerar informações úteis para a gestão 
e planejamento do SUS. 
Objetivos do CIAP-2 
• Padronizar o registro de diagnósticos e 
procedimentos na APS. 
• Facilitar a coleta de dados para a gestão da saúde, 
permitindo um melhor planejamento e avaliação dos 
serviços. 
• Integrar a classificação de doenças e problemas de 
saúde com as ações de cuidado, como consultas, 
tratamentos e exames. 
Bibliografia 
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar 
Conceição. Manual de assistência domiciliar na Atenção 
Primária à Saúde. Porto Alegre: Ministério da Saúde, 2003. 
CANTALE, C. R. História Clínica Orientada a Problemas. S.l. : 
University of Southern California, 2003, p. 7. 
RAMOS, V. A Consulta em 7 Passos. Lisboa: VFBM 
Comunicação Ltda., 2008, p. 126. 
SEMANA 03: DIAGNÓSTICO 
E MANEJO DA OBESIDADE 
NA APS – DATA: 03/02/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Compreender o diagnóstico e manejo da obesidade 
na atenção primária; 
• Conhecer as calculadoras de risco cardiovascular; 
• Novos critérios diagnósticos para obesidade; 
• Novo guideline do AACE para hipercolesterolemia. 
Objetivos Específicos 
• Compreender o conceito, classificação, diagnóstico, 
abordagem e recomendações acerca da obesidade 
e do sobrepeso na APS. 
Obesidade na APS 
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) podem ser 
caracterizadas por: 
• Doenças com história natural prolongada; 
• Interação de fatores etiológicos desconhecidos; 
• Ausência de participação ou participação polêmica 
de microrganismos entre os determinantes; 
• Longo curso assintomático; 
• Curso clínico em geral lento, prolongado e 
permanente. 
A obesidade é o acúmulo excessivo de gordura corporal 
causada pelo balanço energético positivo, isto é, a ingestão 
calórica excede o gasto calórico. Isso acarreta repercussões 
à saúde, com perda importante na qualidade de vida do 
indivíduo, bem como no aumento de comorbidades. 
O local onde a gordura se acumula tem repercussões em 
suas complicações, sendo que a obesidade abdominal é mais 
associada ao diabetes e à doença vascular. As causas da 
obesidade incluem influências genéticas, ambientais e 
sociais. 
Epidemiologia 
A obesidade é a doença nutricional mais frequente. Sua 
prevalência aumenta com a idade e é mais comum no sexo 
feminino, em pessoas de baixa renda, com grau de instrução 
correspondente ao ensino médio, ou inferior, e em negros. A 
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mostrou um aumento 
gradual no peso da população brasileira nos últimos 10 anos. 
Para os homens, a prevalência de excesso de peso aumentou 
de 42,4% em 2002-2003 para 57,3% em 2013, e a 
obesidade, de 9,3% para 17,5%. No caso das mulheres, 
esse aumento foi mais acentuado, passando de 42,1% em 
2002-2003 para 59,8% em 2013, ao passo que a obesidade 
passou de 14,0% para 25,2%. A ocorrência de obesidade 
classe III é maior em indivíduos de baixa renda e em 
mulheres, com média nacional de 0,95% em mulheres e 
0,32% em homens. Nas crianças brasileiras entre 5 e 9 anos, 
o sobrepeso e a obesidade ocorrem em 34,8 e 16,6% entre 
meninos, e em 32 e 11,8% entre meninas, e esse percentual 
vem aumentando. 
A OMS aponta a obesidade como um dos maiores problemas 
de saúde publica no mundo. A projeção é que, em 2025, 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
6 
cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e 
mais de 700 milhões obesos. 
No Brasil, cerca de 32% dos adultos têm algum grau de 
excesso de peso. Destes, 6,8 milhões de indivíduos (8%) 
apresentam obesidade, com predomínio entre as mulheres 
(70%). A distribuição do excesso de peso nas regiões do 
Brasil: 
• Sul e Sudeste: 36% 
• Norte: 34% 
• Centro-Oeste: 31% 
• Nordeste: 24% 
Estima-se que, atualmente, 52,5% dos brasileiros estão 
acima do peso e 17,9% está obesa. 
Fatores de Risco 
A obesidade é fator de risco para doenças crônicas, como 
hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. 
Sendo as DCNT correspondentes a 72% dos óbitos no país. 
Fatores genéticos/hereditários e fatores adquiridos podem 
estar associados a origem dessa doença. 
Fatores Genéticos/Hereditários 
Há perfis metabólicos desiguais para os mesmos estímulos, 
isto é, existe um componente genético que faz com que 
algumas pessoas tenham mais tendência para engordar que 
outras. A presença de genes envolvidos no aumento de peso 
aumenta a susceptibilidade ao risco para desenvolver a 
obesidade. 
Se um progenitor for obeso, tem 40% de probabilidade de 
ter filhos obesos (ou pelo menos com tendência para isso). 
Fatores Adquiridos 
• Migração para áreas urbanas; 
• Maus hábitos alimentares; 
• Sedentarismo; 
• Tabaco; 
• Álcool em excesso; 
• Grau de informação dos pais; 
• Gravidez; 
• Menopausa. 
 
 
 
Tipos de Obesidade 
Obesidade androide, abdominal ou visceral 
Quando o tecido adiposo se acumula na metade superior do 
corpo, sobretudo no abdome. É típico80-100 fL): ferropriva, 
anemia de doença crônica e de causas hemolíticas e 
não hemolíticas. 
Algoritmo para investigação e classificação morfológica das anemias segundo o volume corpuscular médio 
 
Avaliação clínica da anemia no adulto 
A anemia ocasiona vários sintomas e sinais de acordo com a 
sua classificação e sistema comprometido. Pode, inclusive, 
provocar morbidade significativa se não for tratada. As 
pessoas muitas vezes estão assintomáticas, ou com uma 
clínica vaga de sintomas mínimos, sobretudo quando a 
instalação é de forma insidiosa e provocada por qualquer 
causa de sangramento prolongado. 
Anamnese 
Podem-se encontrar indivíduos com níveis de Hb baixos sem 
que haja qualquer manifestação clínica, o que decorre do 
mecanismo adaptativo e compensatório, porém as 
extremidades etárias são as mais sensíveis aos efeitos. 
Na anamnese da pessoa com anemia ferropriva, deve-se 
investigar sinais e sintomas, tais como: 
• Palidez; 
• Visão de moscas volantes; 
• Zumbidos; 
• Dores de cabeça; 
• Anorexia; 
• Perda do paladar; 
• Dor na língua; 
• Perda de pelos ou cabelos; 
• Diminuição do rendimento intelectual; 
• Sonolência; 
• Fraqueza; 
• Cansaço; 
• Letargia; 
• Estado anímico (irritabilidade, tristeza, apatia); 
• Dispneia progressiva aos exercícios físicos; 
• Palpitações; 
• Angina; 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
85 
• Síncope; 
• Dor nas pernas; 
• Perda da libido; 
• Hemorragias; 
• Hábito de doações repetidas de sangue; 
• Parasitoses intestinais; 
• Uso crônico de anti-inflamatórios, corticoides, ácido 
acetilsalicílico, anticoagulantes e inibidores de bomba 
de prótons (IBPs). 
• Se a anemia for acentuada, evolui com distúrbios 
alimentares (pica), pelo desejo incontrolável da 
ingesta de alimentos crus como macarrão e arroz, ou 
substâncias específicas não nutritivas, tais como 
terra ou gelo. 
Crianças: o picacismo é capaz de ocorrer naquelas que 
ingerem lascas de tinta contendo chumbo, correlacionando-se 
a deficiência de ferro ao saturnismo. 
Mulheres: a anemia ferropriva é capaz de desenvolver-se em 
consequência do aumento das necessidades da gestação 
(principalmente nas gemelares) e do aleitamento materno. 
Naquelas em idade fértil, pode ocorrer devido ao fluxo 
fisiológico menstrual excessivo, com a visualização de 
coágulos, ou pelo uso do dispositivo intrauterino de cobre 
(DIU). Na pós-menopausa, o sangramento uterino duradouro 
pode se relacionar ao câncer de endométrio. 
Cirurgia bariátrica: pessoas submetidas a este tipo de 
procedimento comumente apresentam deficiência de ferro 
após o procedimento. 
Vômitos com características de borra de café, hematêmese, 
melena e sangramento através do reto são invariavelmente 
relacionados a hemorragia digestiva alta (HDA) e baixa (HDB), 
respectivamente. 
Indivíduos com doença celíaca, doença de Crohn, espru 
tropical, ressecção e tuberculose intestinal apresentam má 
absorção duodenojejunal ao ferro. 
Consumo abusivo de álcool: tem relação com o 
desenvolvimento de gastrite, de úlcera gástrica e de varizes 
esofágicas com a perda de sangue. 
Câncer de cólon direito: em homens acima de 50 anos é uma 
condição vista no achado de anemia por sangramento retal 
misturado com as fezes. 
Hérnia de hiato e a gastrite colonizada pelo Helicobacter 
pylori também se associam à deficiência de ferro. 
Idosos: a tolerância progressiva do quadro anêmico se dá com 
a instalação de claudicação intermitente, angina e insuficiência 
cardíaca (IC) excluindo-se outras causas. Nessa faixa etária, 
as pessoas anêmicas com queixa de disfagia para sólidos, na 
presença de esofagite, correm o risco de apresentar síndrome 
de Plummer-Vinson. Trata-se de uma complicação rara, com 
potencial de desenvolvimento de carcinoma epidermoide da 
faringe e do esôfago. 
Anemia de doença crônica: em uma variedade de doenças 
inflamatórias crônicas, como as colagenoses, as infecções 
crônicas ou as doenças neoplásicas, seus sintomas gerais têm 
intensidade leve a moderada, como taquicardia, cansaço, 
palpitações, taquipneia ou até mesmo inexistem. É a causa 
mais comum de doentes hospitalizados. 
Sintomas da deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico que 
devem ser pesquisados: estão ligados à má absorção dos 
alimentos ricos nessas substâncias, como a carne, o leite, os 
ovos, os queijos e os vegetais folhosos verde-escuros, 
respectivamente. Dieta vegetariana rigorosa, por exemplo, 
implica na diminuição de vitamina B12, e o alcoolismo 
aumenta o risco de deficiência de ácido fólico. 
• Uso crônico de metformina, biguanidas, omeprazol, 
colchicina e neomicina associam-se ao déficit de 
vitamina B12. 
• Já os anticonvulsivantes (fenitoína, fenobarbital, 
primidona), metotrexato, trimetoprima, 
contraceptivos orais e diuréticos poupadores de 
potássio levam a deficiência de ácido fólico. 
• A carência de vitamina B12 pode provocar insônia, 
problemas neurológicos de parestesia associada à 
neuropatia periférica, propriocepção diminuída, 
déficit de memória e transtornos psiquiátricos, 
incluindo irritabilidade, depressão, demência e, 
raramente, psicoses. 
Anemia perniciosa: é causa frequente de déficit de vitamina 
B12, com predominância no sexo feminino e mediana de idade 
de 60 anos devido a uma gastrite crônica atrófica autoimune. 
Pode combinar-se a outras doenças autoimunes, tais como 
vitiligo, hipoparatireoidismo, tireoidite de Hashimoto e doença 
de Addison. Os achados da deficiência de ácido fólico são os 
mesmos da vitamina B12, porém não há sintomas 
neurológicos. 
Exame Físico 
Na avaliação geral da pessoa, além de aferir os sinais vitais, 
observar o aparente estado de saúde física, mental, 
 
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86 
nutricional e de hidratação, para poder marcar a falta do 
desenvolvimento estatural e muscular, comuns nas anemias. 
Linfonodos 
Os aumentos devem ser examinados relacionando seus 
achados à suspeição de doenças hematológicas. 
Regiões a examinar: 
• Cervical (anterior e posterior); 
• Submandibular e submentoniana; 
• Supraclavicular e infraclavicular; 
• Axilar; 
• Inguinal; 
• Epitroclear. 
Características a descrever: 
• Localização; 
• Número; 
• Tamanho: em centímetros; 
• Consistência: mole, firme ou endurecido; 
• Mobilidade: móvel ou aderido a planos profundos; 
• Sensibilidade: doloroso ou indolor à palpação; 
• Supuração/presença de calor ou rubor: sinais 
flogísticos locais. 
Cabeça 
o aparecimento da “face do roedor”, em virtude de alterações 
no desenvolvimento dos ossos e no tamanho e 
desalinhamento dos dentes incisivos, é característico da 
talassemia. 
 
No crânio, bossas com proeminência dos ossos frontal e 
parietal com o maxilar aumentado indicam β-talassemia. 
 
 
Olhos 
Na região ocular, o descoramento da mucosa é observado na 
anemia grave, e a esclera poderá estar ictérica. No fundo de 
olho as alterações são de rara importância diagnóstica, e a 
retinopatia grave é denominada manchas de Roth. Papiledema 
relacionado apenas à anemia pode ocorrer e regride com a 
sua correção. 
Boca 
Na cavidade oral, a língua despapilada, lisa (mais visível nos 
cantos), edemaciada, encarnada (com aspecto de carne 
bovina) é denominada glossite atrófica. É dolorosa e provoca 
odor ruim. Nos lábios, aparecem sinais de maceração, além 
de fissuras no ângulo da boca, denominadas estomatite ou 
queilite angular. 
Pele, anexos e mucosas 
Com uma luz adequada, de preferência natural, inspeciona-se 
idealmente toda a pele e as mucosas. A incidência de palidez 
é melhor observada no descoramento da palma das mãos, 
mucosas da boca, conjuntiva, lábios e leito ungueal, muito 
embora tenha baixa sensibilidade. 
Palma da mão: torna-se pálida, mas as linhas palmares 
mantêm a coloração até que a Hb caia abaixo de 7 g/dL. 
Pele: icterícia leve, tipo amarelo-limão, é comum na anemia 
megaloblástica, assim como nas anemias hemolíticas e 
eventualmente na anemia perniciosa. As máculas acrômicas 
circunscritas, caracterizadas pelaalteração da cor da pele no 
vitiligo, poderão ser observadas nos portadores de anemia 
perniciosa. As lesões vásculo-sanguíneas e pigmentadas, as 
petéquias e equimoses aparecem em consequência da anemia 
aplástica, da coagulopatia e das leucemias consequentes da 
plaquetopenia. 
Cabelos: a ueda de cabelos pode ocorrer na anemia 
ferropriva; no entanto, o aparecimento precoce de cabelos 
grisalhos e finos sugere anemia perniciosa. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
87 
Unhas: a a cor rosada do enchimento capilar é pálida. A 
coiloníquia, unhas adelgaçadas de lâminas côncavas com 
extremidades elevadas semelhantes a uma colher, denota o 
sinal clássico e tardio presente na anemia megaloblástica, 
perniciosa e na ferropriva de longa data. 
Pernas e mãos: as úlceras localizadas nas extremidades das 
pernas, em torno dos maléolos (que se apresentam com má 
cicatrização e cronicidade), são típicas de indivíduos com 
anemia falciforme. Dactilite, (também conhecida como 
síndrome mão-pé) é uma manifestação inicial da anemia 
falciforme. 
Cardiovascular e Pulmonar 
Os achados são proporcionais ao tempo de evolução da 
anemia. Nos casos agudos, manifestações importantes 
surgem com taquicardia reflexa e hipotensão postural com 
lipotímia, acometendo com maior frequência os idosos. As 
pessoas referem dispneia, taquicardia e hipotensão postural. 
A fluidez do sangue periférico em geral resulta no 
aparecimento de sopro cardíaco sistólico ejetivo no foco 
pulmonar e no ápice, sendo observado tanto em repouso 
como após os exercícios. 
Gastrintestinal 
No abdome, a úlcera péptica é por vezes assintomática ou 
associada com dor à palpação, à defesa e à rigidez da sua 
parede. Na palpação de massas, investigar a possibilidade de 
tumor. A circunferência volumosa ascítica é oriunda, entre 
outras causas, da cirrose decorrente do uso de álcool, 
direcionando o raciocínio para anemia por doença hepática. 
Cálculos biliares são encontrados na hemólise crônica de 
adultos, embora já tenham sido relatados em crianças. Hepato 
ou esplenomegalia sugerem uma provável hipertensão porta 
por anemia hemolítica. Considerar a realização do toque retal 
para descartar carcinoma colorretal e perda de sangue devido 
às hemorroidas. Na anemia falciforme, o hipoesplenismo ou 
até a autoesplenectomia ocorrem pelos sucessivos infartos 
característicos dessa forma hereditária de anemia. 
Genital 
O exame das mamas, genitais feminino e masculino não 
poderão ser negligenciados, buscando-se alterações que 
justifiquem tanto a anemia como as neoplasias silentes. O 
priapismo surge como uma das complicações da anemia 
falciforme. 
OBS.: priapismo é uma ereção peniana persistente e dolorosa 
que ocorre sem estímulo sexual e dura mais de 4 horas. 
 
Neurológico 
Na anemia por deficiência de vitamina B12, é importante 
verificar o tônus, a força muscular, a sensibilidade, a 
coordenação e os reflexos. Déficits da sensibilidade vibratória 
e da propriocepção são manifestações precoces de disfunção 
do sistema nervoso central (SNC). A falta de coordenação 
muscular durante os movimentos voluntários, sinal de 
Babinski e espasticidade são sinais tardios. As pernas e os 
pés são afetados mais frequentemente do que os membros 
superiores. 
Exames Complementares 
Apenas o hemograma é suficiente para a abordagem inicial 
das anemias que deve ter em conjunto a contagem de 
reticulócitos e o esfregaço de sangue periférico. 
 
 
 
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88 
 
 
 
Após a caracterização da anemia, é feita sua classificação de 
acordo com o tamanho celular com base no algoritmo de 
investigação: 
 
O diagnóstico diferencial das anemias microcíticas facilita a 
abordagem: 
 
Manejo clínico e tratamento dos tipos mais comuns de 
anemia na APS (anemia microcítica, normocíticas e 
macrocíticas) 
Tratamento da anemia ferropriva 
Dieta 
Reforçar uma dieta adequada, com a ingesta de carnes 
vermelhas e frutas ricas em vitamina C, que aumentam a 
absorção de ferro. 
Alimentos que inibem a absorção de ferro: 
• Fibras em excesso, como farelo de trigo; 
• Fitatos: presentes em grãos integrais, leguminosas e 
sementes. 
• Polifenóis: encontrados em café, chá preto, chá 
verde, vinho tinto e cacau. 
• Cálcio: leite, queijos e derivados. 
 
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89 
Medicamentos que inibem a absorção de ferro: anti-
inflamatórios, corticoides, ácido acetilsalicílico, 
anticoagulantes e inibidores de bomba de prótons (IBPs). 
Aleitamento materno: no RN normal, deve ser encorajado e 
priorizado pelo menos até o 6o mês, obedecendo à 
suplementação de ferro entre 6 e 18 meses, de acordo com 
o preconizado pelo Ministério da Saúde (MS). 
Tratamento Farmacológico 
• Crianças a termo, com peso de nascimento ≥ 
2.500g: iniciar suplementação com 1 mg/kg/dia de 
ferro elementar, a partir dos 6 meses até os 24 
meses de idade. 
• Crianças pré-termo ou com baixo peso (Ocorre pelo aumento de reticulócitos, em 4 a 7 dias, com pico 
no 10o dia. Com uma adequada reposição, um aumento de 
pelo menos 2 g/dL na Hb deve ocorrer em 2 a 3 semanas de 
tratamento, mas o VCM continuará baixo por 2 a 3 meses. Em 
2 meses, a Hb e o Ht voltam ao normal. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
90 
Após a correção da anemia ferropriva, a suplementação é 
mantida, em crianças, por 3 a 4 meses (ou por mais 2 meses, 
quando houver a normalização da hemoglobina); 
Para adultos, a recomendação é tratar por 4 a 6 meses. Se a 
Hb não atingir o nível desejado, considerar investigação. 
Ferritina: para restaurar os estoques de ferro, são necessários 
de 2 a 6 meses, ou até obter-se valor de ferritina de pelo 
menos 15 ng/mL para crianças e 30 ng/mL para adultos. 
Alguns autores sugerem que a reposição ideal corresponda a 
níveis de ferritina da ordem de 50 ng/mL, sendo importante a 
correlação ou não com processos inflamatórios. 
Tratamento da deficiência de vitamina B12 
Os estoques têm longa duração, mas, se a perda diária 
ocorrer entre 3 a 5 mg sem qualquer absorção, a deficiência 
pode levar mais de 3 anos. É confirmada com níveis abaixo de 
200 pg/mL. 
O tratamento está indicado nas pessoas com absorção enteral 
diminuída, doença hereditária ou naquelas com anemia 
perniciosa comprovada. Embora existam evidências de que a 
reposição oral traga bons resultados, o tratamento tradicional 
é por via parenteral, existindo vários esquemas posológicos 
eficazes, que variam de acordo com a apresentação clínica. 
Dieta 
As principais fontes de vitamina B12 são as carnes, os ovos e 
o leite (a dieta deve ser reforçada para todos os indivíduos). 
Tratamento Farmacológico 
Crianças: 
• A dose típica é de 50 a 100 µg de vitamina B12 
intramuscular, 1 vez por semana, até que a 
deficiência seja corrigida. Se for necessário 
tratamento por toda a vida, aplicar 1 vez por mês. 
Adultos: 
• A dose é de 1.000 µg/dia de vitamina B12 IM, por 7 
dias, seguidos de 1.000 µg por semana, por 3 
semanas, e, após, 1.000 µg/mês indefinidamente, se 
a condição clínica não puder ser corrigida. 
A injeção de vitamina B12 é dolorosa e deve ser aplicada na 
região glútea, via IM, ou subcutânea (SC), e nunca por via 
intravenosa (IV). 
 
 
Resposta ao tratamento 
• O aumento dos reticulócitos ocorre em 5 a 7 dias, e 
em 2 meses se observa uma melhora do quadro 
hematológico. 
• A degeneração neurológica é reversível se tratada 
com pouco tempo de evolução, idealmente em menos 
de 6 meses. 
• A correção da deficiência pode causar hipocalemia 
aguda, ou seja, o monitoramento da queda de 
potássio é obrigatório, e a suplementação deve ser 
instituída, quando necessária. Algumas pessoas 
podem desenvolver hipocalemia durante a semana 
inicial do tratamento, uma vez que há uma absorção 
marcada de potássio durante a produção de células 
sanguíneas novas, mas é improvável que seja 
clinicamente significativa. 
Tratamento da deficiência de ácido fólico 
Os estoques têm duração de 4 a 5 meses. A deficiência é 
confirmada com níveis abaixo de 5 ng/mL. 
Na suspeita de deficiência combinada de ácido fólico e 
vitamina B12, deve-se sempre suplementar as duas vitaminas, 
pois a administração apenas de ácido fólico na presença de 
deficiência de vitamina B12 levará à piora progressiva do 
quadro neurológico. 
Há evidências de que o uso de ácido fólico no período pré-
concepcional e durante o primeiro trimestre da gravidez pode 
prevenir os defeitos do tubo neural do feto. 
Dieta 
As principais fontes de ácido fólico são os vegetais folhosos 
verdes escuros, frutas cítricas, cereais, grãos, nozes e carnes. 
Tratamento Farmacológico 
O tratamento tanto para crianças como adultos se faz com 5 
mg, 1 vez ao dia, por 1 a 4 meses, ou até a normalização dos 
níveis terapêuticos. 
Efeitos adversos, como discreto rubor, rash cutâneo, 
distensão abdominal, entre outros, podem ocorrer. 
Resposta ao tratamento 
O aumento dos reticulócitos ocorre em 5 a 7 dias, e a melhora 
hematológica, em 2 meses. 
 
 
 
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91 
Tratamento da anemia de doença crônica 
O tratamento é direcionado para a causa de base, como nas 
doenças inflamatórias, nas neoplasias e nas infecções 
crônicas. Na doença renal, porém, deve-se considerar o uso 
da eritropoetina como otimização da resposta hematológica. 
Quando Referenciar 
Os pacientes poderão ser referenciados ao hematologista se 
houver uma hemoglobinopatia identificada, se a suspeita 
diagnóstica não for confirmada ou não responder à terapia 
oral proposta. A coordenação desse cuidado, além de ampliar 
a capacidade de resolubilidade da APS, agrega conhecimento 
ao profissional que discute e referencia o caso. 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.891. ISBN 9788582715369. 
SEMANA 13: POLÍTICAS 
PÚBLICAS DE SAÚDE 
VOLTADAS PARA 
POPULAÇÃO NEGRA– DATA: 
21/04/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Relações étnico-raciais de forma a conhecer as 
Políticas Públicas de saúde voltadas para população 
negra. 
Objetivos Específicos 
• Conhecer as políticas públicas de saúde voltadas 
para a população negra; 
• Conhecer as doenças genéticas mais comuns na 
população negra; 
• Discutir sobre os determinantes sociais de saúde da 
população negra; 
• Conhecer as diretrizes e objetivos da Política 
Nacional de Saúde Integral da População Negra. 
 
 
Políticas Públicas Voltadas para a População Negra 
Em consonância com o ParticipaSUS, o Ministério da Saúde 
instituiu, 2009, a Política Nacional de Saúde Integral da 
População Negra. Essa Política tem como marca: o 
reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais 
e do racismo institucional como determinantes sociais das 
condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em 
saúde. Seu objetivo é promover a saúde integral da população 
negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-
raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas 
instituições e nos serviços do SUS. 
Além da criação da própria PNSIPN, é possível identificar 
outros avanços nas ações voltadas à saúde da população 
negra, com destaque para: 
a) Plano Juventude Viva – Prevê ações de 
prevenção para reduzir a vulnerabilidade de 
jovens negros a situações de violência física 
e simbólica. 
b) Portaria nº 1.391, de 16 de agosto de 
2005, que institui, no âmbito do SUS, as 
diretrizes para a Política Nacional de 
Atenção Integral às Pessoas com Doença 
Falciforme e outras Hemoglobinopatias. 
c) Incorporação do transplante de medula 
para tratamento da doença falciforme no 
âmbito do SUS (Portaria SCTIE n° 30, de 30 
de junho de 2015). 
d) Curso de ensino a distância sobre saúde da 
população negra promovido pelo MS e 
Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), 
lançada em 27 de outubro de 2014). 
e) Comitê Técnico de Saúde da População 
Negra – Instituído no âmbito do Ministério 
da Saúde, é um espaço consultivo de 
participação e controle social, com 
representantes da gestão, pesquisadores e 
movimentos negros. 
f) Publicação da Portaria nº 344, de 1º de 
fevereiro de 2017, que padroniza e torna 
obrigatória a coleta e o preenchimento do 
quesito raça/cor do paciente em todos os 
sistemas de informação do SUS, conforme a 
classificação do IBGE, que define cinco 
categorias autodeclaradas: branca, preta, 
amarela, parda e indígena. 
g) Publicação, em 30 de março de 2017, do III 
Plano Operativo da Política Nacional de 
Saúde Integral da População Negra 
 
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92 
(Resolução nº 16, de 30 de março de 
2017). O III Plano Operativo foi pactuado e 
aprovado na Comissão Intergestores 
Tripartite (CIT) – foro permanente de 
negociação e articulação das esferas de 
gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Com vigência para o triênio 2017/2019, o 
III Plano Operativoestabelece ações de 
implementação da referida política para as 
gestões federal, estadual e municipal do 
SUS. 
h) Publicação da Portaria nº 142, de 21 de 
julho de 2017, que institui o Grupo de 
Trabalho de Políticas Públicas da Igualdade 
Racial e dá outras providências. Conforme o 
art. 1°, fica instituído o Grupo de Trabalho 
de Políticas Públicas da Igualdade Racial 
com a finalidade de explanar aos órgãos e 
às entidades governamentais e não 
governamentais dos estados e municípios 
as ações de promoção da igualdade racial 
das políticas públicas federais, assim como 
de propor metas e prioridades aplicáveis à 
realidade local. 
Doenças Genéticas mais Comuns na População Negra 
Anemia Falciforme 
Doença hereditária, decorrente de uma mutação genética 
ocorrida há milhares de anos, no continente africano. A 
doença, que chegou ao Brasil pelo tráfico de escravos, é 
causada por um gene recessivo, que pode ser encontrado em 
frequências que variam de 2% a 6% na população brasileira 
em geral, e de 6% a 10% na população negra. 
Diabetes Mellitus (tipo II) 
Esse tipo de diabetes se desenvolve na fase adulta e evolui 
causando danos em todo o organismo. É a quarta causa de 
morte e a principal causa de cegueira adquirida no Brasil. Essa 
doença atinge com mais frequência os homens negros (9% a 
mais que os homens brancos) e as mulheres negras (em torno 
de 50% a mais do que as mulheres brancas). 
Hipertensão Arterial 
A doença, que atinge 10% a 20% dos adultos, é a causa 
direta ou indireta de 12% a 14% de todos os óbitos no Brasil. 
Em geral, a hipertensão é mais alta entre os homens e tende 
ser mais complicada em negros, de ambos os sexos. 
Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase 
Afeta mais de 200 milhões de pessoas no mundo. Apresenta 
frequência relativamente alta em negros americanos (13%) e 
populações do Mediterrâneo, como na Itália e no Oriente 
Médio (5% a 40%). A falta dessa enzima resulta na destruição 
dos glóbulos vermelhos, levando à anemia hemolítica e, por 
ser um distúrbio genético ligado ao cromossomo X, é mais 
frequente nos meninos. 
Determinantes Sociais de Saúde da População Negra 
Discutir os determinantes sociais de saúde da população 
negra é essencial para compreender as desigualdades em 
saúde no Brasil. Esses determinantes são fatores sociais, 
econômicos, culturais, ambientais e políticos que influenciam 
o estado de saúde das pessoas e grupos sociais — e afetam 
de forma desproporcional a população negra, contribuindo 
para iniquidades históricas e estruturais. 
Principais determinantes sociais que afetam a saúde da 
população negra 
Racismo estrutural e institucional 
O racismo está na base da exclusão social da população 
negra. No contexto da saúde, ele se manifesta no acesso 
desigual a serviços, menor qualidade de atendimento, e 
invisibilização das especificidades étnico-raciais nos dados e 
nas políticas públicas. 
Pobreza e desigualdade socioeconômica 
A população negra é maioria entre os que vivem em situação 
de pobreza ou vulnerabilidade social. Isso impacta 
diretamente o acesso a saneamento básico, moradia 
adequada, alimentação saudável, educação e trabalho digno. 
Baixa escolaridade e barreiras de acesso à informação 
Menor escolaridade contribui para a desinformação sobre 
direitos em saúde, reduz a autonomia no cuidado e afeta o 
acesso a melhores empregos e renda. 
Precarização do trabalho 
Muitos trabalhadores negros estão em empregos informais e 
de maior risco, sem proteção social, aumentando a exposição 
a doenças ocupacionais e acidentes. 
Violência e segurança pública 
A juventude negra é a mais afetada por mortes violentas e 
pela ação seletiva do Estado, o que representa um grave 
problema de saúde pública. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
93 
Acesso desigual aos serviços de saúde 
A distância geográfica, o preconceito racial e a falta de 
formação dos profissionais de saúde em diversidade étnico-
racial dificultam o acesso a um cuidado adequado e 
humanizado. 
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra 
(PNSIPN) reconhece esses determinantes e orienta a 
construção de estratégias no SUS para: 
• Reduzir iniquidades raciais em saúde. 
• Promover equidade no acesso e no cuidado. 
• Enfrentar o racismo institucional. 
• Valorizar práticas de saúde da cultura afro-brasileira. 
Diretrizes e Objetivos da Política Nacional de Saúde 
Integral da População Negra 
Diretrizes Gerais 
I. Inclusão dos temas Racismo e Saúde da 
População Negra nos processos de formação e 
educação permanente dos trabalhadores da 
saúde e no exercício do controle social na saúde; 
II. Ampliação e fortalecimento da participação do 
Movimento Social Negro nas instâncias de 
controle social das políticas de saúde, em 
consonância com os princípios da gestão 
participativa do SUS, adotados no Pacto pela 
Saúde; 
III. Incentivo à produção do conhecimento científico 
e tecnológico em saúde da população negra; 
IV. Promoção do reconhecimento dos saberes e 
práticas populares de saúde, incluindo aqueles 
preservados pelas religiões de matrizes 
africanas; 
V. Implementação do processo de monitoramento 
e avaliação das ações pertinentes ao combate 
ao racismo e à redução das desigualdades 
étnico-raciais no campo da saúde nas distintas 
esferas de governo; e 
VI. Desenvolvimento de processos de informação, 
comunicação e educação, que desconstruam 
estigmas e preconceitos, fortaleçam uma 
identidade negra positiva e contribuam para a 
redução das vulnerabilidades. 
 
 
 
Objetivo Geral 
Promover a saúde integral da população negra, priorizando a 
redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao 
racismo e discriminação nas instituições e serviços do SUS. 
Objetivos Específicos 
I. Garantir e ampliar o acesso da população negra 
residente em áreas urbanas, em particular nas 
regiões periféricas dos grandes centros, às 
ações e aos serviços de saúde; 
II. Garantir e ampliar o acesso da população negra 
do campo e da floresta, em particular as 
populações quilombolas, às ações e aos serviços 
de saúde; 
III. Incluir o tema Combate às Discriminações de 
Gênero e Orientação Sexual, com destaque para 
as interseções com a saúde da população negra, 
nos processos de formação e educação 
permanente dos trabalhadores da saúde e no 
exercício do controle social; 
IV. Identificar, combater e prevenir situações de 
abuso, exploração e violência, incluindo assédio 
moral, no ambiente de trabalho; 
V. Aprimorar a qualidade dos sistemas de 
informação em saúde, por meio da inclusão do 
quesito cor em todos os instrumentos de coleta 
de dados adotados pelos serviços públicos, os 
conveniados ou contratados com o SUS; 
VI. Melhorar a qualidade dos sistemas de 
informação do SUS no que tange à coleta, 
processamento e análise dos dados 
desagregados por raça, cor e etnia; 
VII. Identificar as necessidades de saúde da 
população negra do campo e da floresta e das 
áreas urbanas e utilizá-las como critério de 
planejamento e definição de prioridades; 
VIII. Definir e pactuar, junto às três esferas de 
governo, indicadores e metas para a promoção 
da equidade étnico-racial na saúde; 
IX. Monitorar e avaliar os indicadores e as metas 
pactuados para a promoção da saúde da 
população negra visando reduzir as iniquidades 
macrorregionais, regionais, estaduais e 
municipais; 
X. Incluir as demandas específicas da população 
negra nos processos de regulação do sistema 
de saúde suplementar; 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
94 
XI. Monitorar e avaliar as mudanças na cultura 
institucional, visando à garantia dos princípios 
antirracistas e não discriminatório; e 
XII. Fomentar a realização de estudos e pesquisas 
sobre racismo e saúde da população negra. 
Bibliografia 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica 
e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa 
e ao Controle Social. Política Nacional de Saúde Integral da 
População Negra: umapolítica para o SUS / Ministério da 
Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, 
Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle 
Social. – 3. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 
2017. Disponível em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_naciona
l_saude_populacao_negra_3d.pdf. Acesso em: 14 mai. 
2025 
SEMANA 14: MANEJO DAS 
TONTURAS E VERTIGENS NA 
APS – DATA: 28/04/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Compreender o manejo das tonturas e vertigens na 
atenção primária. 
Objetivos Específicos 
• Caracterizar vertigem e sua abordagem diagnóstica 
(história clínica, exame físico e exames 
complementares); 
• Conhecer as principais causas de vertigem; 
• Conhecer os tratamentos, farmacológico e não 
farmacológico, para as vertigens; 
• Compreender pré-síncope e síncope e suas principais 
causas. 
• Identificar outros tipos de tonturas. 
Tontura e Vertigem 
Avaliar a causa da tontura pode ser algo desafiador para o 
médico de família e comunidade porque podem ser muitas as 
suas possíveis causas, desde neurite vestibular à estenose de 
valva aórtica. Tontura é um sintoma comum e inespecífico que 
congrega quatro padrões sindrômicos distintos: 
Vertigem 
Sensação de movimento ilusório. O paciente pode descrever a 
sensação de que as coisas ao seu redor estão se movendo ou 
que seu corpo está se movendo, quando na verdade está 
parado. 
Pré-síncope 
Sensação de desfalecimento. Pacientes descrevem como 
sensação de desmaio iminente. 
Desequilíbrio 
Sensação de que o controle sobre seus movimentos e 
equilíbrio está prejudicado. No desequilíbrio, não há sensação 
de movimento ilusório (vertigem) ou sensação de 
desfalecimento (pré-síncope). 
Hiperventilação 
Apresenta a descrição mais vaga entre todos os padrões e, 
em geral, é descrita como a sensação de “cabeça vazia”, ou 
sensação de estar desconectado do ambiente. 
Como a descrição do sintoma geralmente é muito vaga, a 
investigação do problema inicia-se no seu reconhecimento, 
muitas vezes relatado pela pessoa como “tontura”, “tonteira”, 
“zonzeira”, “sensação de que vou cair”, ou até mesmo “um 
mal-estar”. 
O padrão sindrômico vertigem é o que está relacionado mais 
diretamente à queixa “tontura”, contudo, alguns pacientes 
podem, ainda assim, referir o que estão sentindo, seja 
sensação de desfalecimento ou de desequilíbrio, como 
tontura. 
Durante a anamnese, é necessário que se encontrem 
informações relevantes, como fatores desencadeantes, tempo 
de duração e de evolução, e sintomas associados, a fim de 
definir melhor o padrão sindrômico e as possíveis causas do 
problema. 
Vertigem 
A grande maioria dos casos é de etiologia benigna e 
autolimitada, não necessitando de grandes investigações. 
Vestibulopatias de origem central são muito menos comuns 
do que as periféricas e geralmente se apresentam com outros 
sintomas neurológicos associados. Além disso, apresentam 
sintomas com uma duração maior durante a crise. 
Há um consenso entre os estudos de que as três causas mais 
comuns de vertigem são a VPPB (42%), a neurite vestibular 
 
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(40%) e a doença de Ménière (10%), que, juntas, são 
responsáveis por mais de 90% das causas de vertigem. 
Principais Vestibulopatias de Origem Periférica 
Vertigem Paroxística Posicional Benigna (VPPB) 
A apresentação clínica da VPPB é a de crises de vertigem com 
duração menor do que um minuto e desencadeadas por 
movimentos da cabeça, como deitar-se e levantar-se da cama 
e inclinar a cabeça para trás ou para frente. Trata-se de um 
quadro autolimitado, que pode durar de algumas semanas até 
alguns meses. 
Fisiopatologia da VPPB 
Envolve a formação de pequenos cristais de carbonato de 
cálcio (otólitos) na endolinfa dentro do utrículo, que migram 
para os canais semicirculares e estimulam mecanicamente os 
receptores das células ciliares. As informações equivocadas 
transmitidas a partir dessas células, quando processadas no 
SNC e integradas aos demais estímulos do corpo, geram a 
sensação de vertigem, de nistagmo e de náuseas percebidos 
pela pessoa. 
Manifestações Clínicas 
Inicialmente, os sintomas são mais fortes, levando o paciente 
a sentir náuseas, vômitos e a evitar movimentos que 
desencadeiem sintomas. O nistagmo na VPPB é 
caracteristicamente posicional, com latência de alguns 
segundos, duração breve (geralmente menos de 30 
segundos) e apresenta fadiga com a repetição do movimento. 
Ele é direcional e estereotipado, variando conforme o canal 
semicircular afetado: 
• No comprometimento do canal posterior (o mais 
comum), o nistagmo é torsional e vertical para cima 
(upbeat), batendo em direção à orelha inferior; 
• No canal horizontal, é horizontal puro, podendo ser 
geotrópico ou ageotrópico; e 
• No canal anterior, é torsional com componente 
vertical para baixo (downbeat). 
A presença dessas características ajuda a diferenciar a VPPB 
de causas centrais de vertigem. 
Neurite Vestibular 
Fisiopatologia da Neurite 
Não se sabe qual é a causa da neurite vestibular, mas 
fisiopatologicamente se trata de uma inflamação do nervo 
vestibular que não apresenta perda auditiva. Casos em que 
tanto o nervo vestibular quanto o labirinto estejam 
comprometidos podem cursar com comprometimento da 
audição e zumbidos, sendo definidos como labirintite. 
Algumas teorias falam em possível reativação do vírus herpes 
simples tipo 1 (HSV-1), de infecções virais, da oclusão 
vascular ou de mecanismos autoimunes. 
Manifestações Clínicas 
Trata-se de um quadro de vertigem espontânea e prolongada, 
podendo durar algumas semanas, na qual as crises são 
intensas e duradouras, diferente dos poucos segundos 
observados na VPPB. 
As crises de vertigem e seus sintomas associados costumam 
ser mais pronunciados na primeira semana da doença, 
ocorrendo resolução completa do quadro dentro do prazo de 
6 semanas. 
Deve-se suspeitar de neurite vestibular em pacientes que 
apresentem vertigem associada a desequilíbrio com tendência 
de queda sempre para o mesmo lado (lado acometido), 
nistagmo horizonto-torsional espontâneo e sem 
comprometimento auditivo. 
Geralmente, são casos em que o paciente se encontrará 
doente, com muitos sintomas autonômicos associados, como 
náuseas, vômitos, mal-estar e sudorese. 
Síndrome de Ménière 
É uma condição rara com crises espontâneas e recorrentes de 
vertigem e perda auditiva (em geral, frequências baixas), 
sensação de plenitude na orelha acometida e zumbido, 
sintomas que não necessariamente estão presentes ao 
mesmo tempo no paciente. 
Fisiopatologia da S. de Ménière 
Tanto as causas quanto a fisiopatologia da doença são 
incertas, o que dificulta o tratamento. Algumas literaturas 
afirmam que pode ser causada por uma hidroplasia 
endolinfática idiopática. A hidropsia endolinfática existe 
quando ocorre um aumento da pressão hidrostática da 
endolinfa, levando a uma estimulação anômala dos receptores 
vestibulares. Como o sistema vestibular se comunica com a 
cóclea, ocorre tanto um aumento da pressão hidrostática no 
aparelho vestibular quanto no referido órgão, desencadeando 
uma vertigem associada a sintomas auditivos. 
Apesar de ser uma condição rara e por se tratar de uma 
vertigem recorrente, estima-se que uma equipe de saúde da 
família com 4.000 pacientes possa ter entre quatro e oito 
pacientes com esta doença. 
 
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Manifestações Clínicas 
As crises costumam ser fortes e com duração de 20 minutos. 
Em longo prazo, os pacientes costumam ter alívio das crises 
agudas de vertigem, persistindo com a perda auditiva e com 
uma sensação vaga de desequilíbrio. 
Para obter o diagnóstico, é necessário que o paciente 
apresente crises de vertigem com duração ao redor de 20 
minutos, perda auditiva de baixa frequência, flutuação dos 
sintomas de aura (plenitude, perda auditiva, zumbido) e 
exclusão das principais causas de vertigem (VPPB e neurite 
vestibular). Contudo,por ser uma doença incomum e com 
quadro bastante indefinido, a avaliação do 
otorrinolaringologista pode ser útil para elucidar sua causa. 
Cinetose 
É uma vertigem benigna, com história bem delimitada pela 
exposição ao fator desencadeante, que é a hiperestimulação 
do sistema vestibular, ocasionada, em geral, por 
movimentação em viagens de carro, avião ou barco. É um 
problema comumente autodiagnosticado pelo paciente e que 
deve ser reconhecido pelo médico de família, para, 
primeiramente, excluir outras possíveis causas do problema e 
orientar o paciente quanto aos cuidados em situações futuras. 
Principais Vestibulopatias Centrais 
Enxaqueca – Migrânea Vestibular 
Uma porção considerável de pacientes com migrânea e aura 
(~30%) experimentam sintomas de vertigem durante as 
crises. Tais sintomas podem tanto aparecer na fase da aura 
quanto persistir durante a fase da cefaleia, 
concomitantemente. As crises de vertigem variam de minutos 
a horas e, em geral, se associam a outros sintomas 
prodrômicos (foto e fonofobia). Quando o problema se 
encontra ainda na fase diagnóstica, deve-se afastar a 
possibilidade de vertigens com duração prolongada, como 
neurite vestibular ou síndrome de Ménière. 
Insuficiência Vertebrobasilar 
Condição que leva a um quadro de vertigem de padrão central 
e é uma das causas mais lembradas por médicos como causa 
de vertigem. Contudo, é um problema raro e relacionado de 
forma direta à doença aterosclerótica. Costuma ser mais 
comum em homens idosos, porém a sua prevalência estimada 
é de 1 caso para cada 100.000 habitantes. 
A apresentação clínica mais comum dos pacientes com 
insuficiência vertebrobasilar é diminuição do nível de 
consciência, hemiparesia ou quadriplegia assimétrica e 
sintomas pseudobulbares, como disartria, disfagia e disfonia. 
Vertigem estará presente apenas nos casos em que a oclusão 
aconteça no segmento proximal da artéria. Pacientes com 
insuficiência vertebrobasilar levantarão a suspeita de acidente 
vascular cerebral (AVC) ou ataque isquêmico transitório (AIT) 
e, com vertigem ou não, deverão ser prontamente 
reconhecidos e referenciados ao serviço de referência, a fim 
de se tentar trombólise para desobstruir a artéria 
comprometida. 
Pré-síncope 
Síncope é definida como a perda abrupta, completa e 
temporária da consciência, associada à impossibilidade de 
manter o tônus postural (queda), com remissão rápida e 
espontânea. Não deve ter sintomas clínicos associados com 
outras causas de perda da consciência, como convulsão e 
trauma craniencefálico (TCE). 
Pré-síncope, também chamada lipotímia, refere-se aos 
sintomas que precedem a síncope, como sensação de cabeça 
vazia, desequilíbrio e alterações visuais (visão tunelizada, 
visão escurecendo) e variáveis graus de alteração de 
consciência, porém sem a sua completa perda. Síncopes, 
assim como tonturas no geral, são problemas que geram 
preocupação quanto a causas graves e a risco de morte. 
Síncope vasovagal 
É a mais comum de todas e geralmente relacionada, mesmo 
pelo paciente, a fatores estressores desencadeantes, como 
calor excessivo, dor e momentos de ansiedade (p. ex., ao 
realizar um procedimento médico). Em casos em que a 
história não esteja tão clara, pode ser o principal diagnóstico 
de exclusão, após investigadas outras causas de síncope. 
Hipotensão ortostática 
É também uma causa comum e está relacionada à queda 
brusca da pressão arterial (PA) ao levantar da posição deitada 
ou sentada e pode ser causada por uma combinação de 
fatores, como idade avançada, calor excessivo, desidratação, 
neuropatia autonômica, períodos prolongados deitado e 
medicamentos diversos. 
 
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Síndrome da Hiperventilação 
Uma causa comum de tontura e que comumente é classificada 
dentro das pré-síncopes é a síndrome da hiperventilação (light 
headedness). 
A base fisiológica está na alcalose metabólica causada pela 
hipocapnia (pCO2 – 25 mmHg) decorrente da hiperventilação. 
Isso leva a uma vasoconstrição das arteríolas e, 
consequentemente, a um hipofluxo cerebral. 
A descrição que os pacientes fazem destes quadros é 
bastante vaga, como “sensação de cabeça vazia”, “como se 
meu corpo não estive ali”. Geralmente, a sensação dura 
alguns minutos e é acompanhada por sintomas físicos, como 
amortecimentos em face e extremidades, dor no peito, 
incômodo na barriga. 
As pré-síncopes são causas comuns de tontura, sendo, com 
frequência, subdiagnosticadas ou tratadas de forma 
estigmatizada. Em geral, situações de sofrimento psíquico e 
transtornos mentais podem originar hiperventilação, e seu 
diagnóstico não é a solução do problema, mas sim a 
necessidade de se investigar mais profundamente o que está 
acontecendo com o paciente. Nesse momento, retomar 
perguntas abertas, explorar ideias e preocupações do 
paciente e aspectos psicológicos, familiares e ocupacionais é 
o caminho para melhor avaliá-lo. 
Desequilíbrio 
Se caracteriza por sensação de instabilidade postural, em que 
não há sintomatologia de vertigem ou de pré-síncope. É 
importante salientar que muitos pacientes com desequilíbrio 
podem queixar-se de tontura ao seu médico, porém muitos 
não referem tontura alguma, acreditando que sua dificuldade 
de caminhar é decorrente da idade. 
O equilíbrio depende da ação integrada de um conjunto de 
órgãos e sistemas, em que estão incluídos o sistema 
vestibular, a musculatura esquelética, a propriocepção, a 
audição e a visão. Portanto, a origem do problema pode estar 
ligada à disfunção de algum desses elementos ou do SNC 
(tronco cerebral e cerebelo), que recebe e integra os dados 
enviados por esses órgãos. Assim, é evidente a existência de 
uma relação direta entre as causas mais comuns de 
desequilíbrio e problemas associados com o envelhecimento. 
Além dos prejuízos e limitações que a perda do equilíbrio traz 
para a pessoa, desencadeando uma série de mudanças 
indesejadas em sua vida, o médico de família e comunidade 
deve estar atento a um problema de grande importância do 
ponto de vista da saúde pública, por sua magnitude e 
transcendência: o risco de quedas em idosos. 
Em 75% dos casos, a causa da tontura por desequilíbrio é 
multifatorial, havendo comprometimento de uma ou mais das 
estruturas envolvidas na fisiologia e/ou anatomia do equilíbrio. 
Entre as causas comuns, podem-se citar: fraqueza da 
musculatura de MMII ou da musculatura postural, baixa 
acuidade visual e/ou auditiva, mau condicionamento físico, uso 
de determinadas medicações (sobretudo se mais de quatro 
classes), doenças da coluna cervical, neuropatia periférica e 
disfunção vestibular. 
Para os pacientes com tontura do padrão de desequilíbrio, um 
acrônimo simples de ser lembrado – I HATE FALLING – é 
proposto por Barros para orientar a investigação clínica, a fim 
de que ela seja focada nos fatores mais comumente 
relacionados ao risco de quedas que são possíveis de serem 
modificados. 
 
 
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Diagnóstico 
Anamnese 
É essencial detalhar junto ao paciente qual é o sintoma e os 
seus fatores desencadeantes, sempre guiando sua anamnese 
em direção às hipóteses mais prováveis: 
• Tempo de duração do sintoma. 
• Fatores desencadeantes ou situação em que o 
sintoma ocorre (movimentação da cabeça, viagem de 
carro, situação de estresse intenso). 
• Sintomas associados (náuseas, vômitos, perda 
auditiva, dificuldade de andar, déficits neurológicos). 
• Perda da consciência. 
• Uso de medicações para a tontura, ou que possam 
ser causa da queixa (hipoglicemiantes em excesso, 
ou anti-hipertensivos). 
• Quedas. 
• Fatores de risco para DCV. 
• Fatores de risco para queda. 
• Explorar acerca da experiência de doença trazida 
pela pessoa em relação à tontura, quais as suas 
preocupações e medos e como isso impacta sua 
funcionalidade. 
O desequilíbrio em geral tem causas multifatoriais para 
organizar a investigação clínica tais causas são divididas em: 
Fatores intrínsecosHistória prévia de quedas, idade, sexo feminino, uso de 
medicamentos psicoativos, antiarrítmicos e hipotensores, 
condições clínicas que comprometam a marcha e o equilíbrio, 
sedentarismo, medo de cair, déficit cognitivo, nutricional, 
visual e funcional. 
Fatores extrínsecos 
Qualquer fator relacionado ao ambiente ao redor pode ser 
considerado como fator extrínseco. Precariedade de calçadas 
e vias públicas são fatores predisponentes a quedas que 
estão além do alcance do clínico. Contudo, dentro do domicílio, 
pode haver superfícies escorregadias, escadas sem apoio e 
obstáculos que ponham o paciente em risco de queda, bem 
como calçados e roupas inadequados. 
Fatores comportamentais 
Pessoas muito inativas e pessoas muito ativas apresentam um 
risco maior de queda, devido a maior fragilidade, no primeiro 
caso, e à maior exposição a situações que podem culminar em 
queda, no segundo. 
 
 
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Exame Físico 
Deve-se fazer um exame neurológico sumário, buscando 
déficits focais que indiquem vestibulopatia central. 
Nistagmo 
O nistagmo pode ajudar a compreender qual canal 
semicircular está acometido. 
• Nistagmos torsionais que apontam para cima são os 
mais comuns (85%), pois estão relacionados ao 
canal semicircular posterior, sendo aqueles no 
sentido horário provocados pelo canal esquerdo, e 
os anti-horários, pelo canal direito à localização. 
• Nistagmos horizontais e torsionais que apontam para 
baixo são incomuns e correspondem ao 
acometimento dos nistagmos com o canal 
semicircular anterior e semicircular horizontal, 
respectivamente. 
 
Teste de impulsão da cabeça 
Apresenta sensibilidade de 86% e especificidade de 100% 
para neurite vestibular. 
Nesse teste, o paciente deve ser posicionado sentado de 
frente para o examinador, que deve segurar a cabeça do 
paciente com ambas as mãos e movê-la lateralmente para 
ambos os lados em um ângulo de 35 a 45o, pedindo para que 
o paciente fixe o olhar entre os olhos do examinador. Após 
sentir que a sua cabeça está relaxada, o examinador 
impulsiona a sua cabeça para um dos lados, sendo que o 
resultado esperado é que o olhar do paciente não se desvie 
do ponto fixo. Caso o olhar do paciente seja desviado para o 
lado que a cabeça foi impulsionada, este será o lado 
acometido e o teste será considerado positivo para lesão do 
nervo vestibular, confirmando o quadro de neurite vestibular. 
 
HINTS 
Acrônimo que designa três manobras de exame físico: 
Head Impulse Test (HIT) – Teste de impulsão cefálica 
Como é feito: o examinador move rapidamente a cabeça do 
paciente para um lado enquanto o paciente fixa o olhar em um 
alvo. 
• Resultado normal (olhos mantêm o foco) = reflexo 
vestíbulo-ocular (VOR) preservado → indica origem 
central. 
• Resultado anormal (olhos “escapam” e fazem 
sacada corretiva) = VOR prejudicado → 
sugere lesão periférica (ex: neurite vestibular). 
Nystagmus – Nistagmo espontâneo 
• Nistagmo unidirecional (bate sempre para o mesmo 
lado, independentemente da posição do olhar): típico 
de lesão periférica. 
• Nistagmo bidirecional ou vertical puro (bate para 
lados diferentes dependendo da direção do olhar ou 
é vertical): sugere origem central, como AVC de 
tronco. 
Test of Skew – Teste de desvio vertical ocular (skew 
deviation) 
Como é feito: o examinador alterna a cobertura de um olho de 
cada vez (teste do cover-uncover). 
• Resultado positivo: desvio vertical súbito de um dos 
olhos quando destampado → sugere lesão 
central (tronco encefálico ou cerebelo). 
• Resultado negativo: sem desalinhamento vertical 
significativo → compatível com causa periférica. 
Interpretação do HINTS 
Teste Lesão Periférica Lesão Central 
(AVC) 
Head Impulse Anormal (sacada 
presente) 
Normal 
Nystagmus Unidirecional 
horizontal 
Bidirecional ou 
vertical 
Test of Skew Negativo Positivo (desvio 
vertical) 
 
Essas três manobras simples podem ser usadas para 
diferenciar uma vertigem periférica, em geral neurite 
vestibular, de uma causa central em pessoa com vertigem. 
 
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Para pacientes com alto risco para AVC essas manobras têm 
sensibilidade de 100% e especificidade de 96%, sendo uma 
manobra mais sensível do que a ressonância magnética (RM) 
precoce nesses casos. Por isso, um desses exames alterados 
deve levar o médico a referenciar a pessoa ao pronto-socorro, 
ao passo que uma manobra HINTS totalmente normal 
tranquiliza o médico. 
Dix-Hallpike 
Tem sido empregada como exame definitivo para a VPPB, 
porém, apenas 75% dos pacientes com VPPB terão o exame 
resultando positivo. Dessa forma, a maioria dos casos de 
VPPB pode ser facilmente diagnosticada a partir da 
anamnese, sem necessidade de confirmação por meio da 
manobra de Dix-Hallpike. 
Para aqueles casos de vertigem que não preencham os dois 
critérios anteriores, deve-se então proceder à manobra de 
Dix-Hallpike. 
Passos necessários para a sua correta realização: 
1. Pedir autorização à pessoa para realizá-la. 
2. Explicar à pessoa sobre como a manobra é feita, 
sendo que ela poderá causar os mesmos sintomas 
de vertigem no paciente (ele não pode ser pego de 
surpresa pela tontura). 
3. Posicionar a pessoa sentada na maca, de forma que, 
ao deitá-la, sua cabeça fique pendente para o lado 
de fora da maca. 
4. Posicionar-se atrás do paciente e lateralizar a cabeça 
dele a 45º para a direita e estendendo-a a 20º para 
trás. 
5. Após posicionar corretamente a cabeça, peça para 
que o paciente se deite na maca. Sustente sua 
cabeça para que o paciente não se machuque. 
6. Mantenha-o na posição de decúbito dorsal com a 
cabeça lateralizada a 45º e estendida a 20º durante 
um minuto. 
7. A manobra será positiva caso os sintomas referidos 
pelo paciente sejam desencadeados durante o 
exame. 
8. Caso o paciente não tenha apresentado nenhum 
sintoma, após um minuto, volte o paciente à posição 
inicial do exame, lateralize sua cabeça para o lado 
oposto e repita a manobra. 
9. Caso a manobra seja positiva, você terá encontrado 
o lado acometido. 
Tome cuidado com pacientes idosos com limitação da coluna 
cervical. Com esses pacientes, pode ser útil a presença de um 
auxiliar no consultório durante a manobra, para garantir mais 
conforto ao paciente e mais precisão à manobra. Não há 
necessidade que o paciente apresente nistagmo para que a 
manobra seja positiva, apenas o desencadeamento dos 
sintomas é o suficiente para tornar o teste positivo. 
Avaliação de quedas e desequilíbrio 
A melhor forma de estimar o risco de quedas em idosos é 
a Avaliação Multifatorial, já que testes simples como o Get Up-
and-Go, embora fáceis de aplicar, têm baixa capacidade 
discriminativa como rastreamento isolado, sendo mais úteis 
em idosos com alterações de marcha e equilíbrio. 
Pré-síncope 
Se a pessoa apresentar tontura de pré-síncope, deve-se focar 
o exame no sistema cardiovascular, procurando dados que 
indiquem doença mais grave, como valvopatias e insuficiência 
cardíaca (IC) descompensada. Também é necessário aferir a 
PA e a frequência cardíaca (FC). 
Hipotensão postural 
Na suspeita clínica deve-se fazer a prova da hipotensão 
postural. Para esse exame, deve-se colocar o paciente em 
decúbito dorsal por pelo menos 5 minutos, e aferir sua PA. 
Depois, o paciente deve ficar em pé por três minutos, e sua 
PA deve novamente ser aferida. Caso aconteça: 
1. queda da PAS > 20 mmHg; 
2. queda da PAD > 10 mmHg; ou 
3. PASA audiometria pode ser útil em pacientes com queixa de perda 
auditiva. 
 
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Fluxograma de paciente com tontura 
VPPB, vertigem paroxística posicional benigna; DCV, doença cardiovascular; PA, pressão arterial; TCE, traumatismo craniencefálico. 
Fonte: Adaptada de Post e Dickerson. 
Tratamento 
Tratamento não farmacológico 
Tratamento da VPPB - Manobra de Epley 
Esta manobra de reposição canalicular, tem por objetivo 
mover os otólitos circulantes nos canais semicirculares em 
direção ao utrículo, cessando, assim, com os sintomas e 
resolvendo o problema. A manobra deve ser feita no momento 
do diagnóstico e não é difícil de ser realizada. 
Caso a manobra seja bem-sucedida, os sintomas não 
reaparecerão mais e a pessoa estará livre da vertigem. Não 
há necessidade de recomendar ao paciente que evite 
movimentos bruscos com a cabeça durante os primeiros dias 
ou que retorne para reavaliar e repetir a manobra para 
garantir a sua efetividade. 
Modo de realização da manobra de Epley: 
1. Pedir autorização ao paciente para realizá-la. 
2. Explicar ao paciente sobre como a manobra será 
realizada, orientando que ela poderá causar os 
mesmos sintomas de vertigem no paciente (ele não 
pode ser pego de surpresa pela tontura). 
3. Posicionar o paciente sentado na maca, de forma 
que, ao deitá-lo, sua cabeça fique pendente para o 
lado de fora da maca. 
4. Posicionar-se atrás do paciente e lateralizar a cabeça 
dele a 45º para o lado acometido e estendê-la a 20º 
para trás. 
 
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5. Após posicionada corretamente a cabeça, peça para 
que o paciente se deite na maca. Sustente sua 
cabeça para que o paciente não se machuque. 
6. Mantenha-o na posição de decúbito dorsal com a 
cabeça lateralizada a 45º e estendida a 20º durante 
1 minuto. 
7. Gire a cabeça do paciente para o lado oposto, 
mantendo-a lateralizada a 45o por 1 minuto. 
8. Continue o giro da cabeça para o mesmo sentido do 
passo anterior, agora girando todo o corpo do 
paciente, que deverá terminar a manobra em 
decúbito lateral, com a cabeça ainda lateralizada a 
45o e fletida a 20o. O paciente estará nesta fase com 
a face voltada para o chão. 
9. Durante a manobra, é comum que o paciente se sinta 
tonto. Diga que será passageiro, orientando para 
que, caso aconteça, ele mantenha os olhos fechados, 
a fim de aliviar o mal-estar. 
10. Volte o paciente à posição inicial. 
Algumas recomendações costumam ser dadas aos pacientes, 
como evitar estender a cabeça (olhar para cima) durante 3 
dias, ou realizar movimentos bruscos, mas essas medidas 
carecem de evidências. Alguns profissionais utilizam também 
a manobra de Semont, por considerá-la uma alternativa mais 
simples do que a manobra de Epley e com eficácia 
semelhante. 
Reabilitação vestibular 
A reabilitação vestibular, envolvendo exercícios em grupo com 
dificuldade gradualmente aumentada na forma de desafios de 
equilíbrio e de coordenação motora, tem sido eficaz nos casos 
de neurite vestibular. Apesar de estudos não diferenciarem os 
pacientes clinicamente – pacientes com VPPB, doença de 
Ménière e neurite vestibular avaliados em conjunto –, há alívio 
da sensação de tontura nesses pacientes. 
Orientações 
Cinetose 
Podem ser orientadas medidas adaptativas, como a 
diminuição do estímulo visual por meio da fixação da visão em 
um ponto imóvel ou fechando os olhos, diminuindo, com isso, 
a quantidade de informações conflitantes no SNC. 
Doença de Ménière 
Apesar de não haver evidências de que dieta hipossódica seja 
benéfica é comum que esta prescrição seja feita, assim como 
os diuréticos, que também apresentam seus efeitos colaterais 
inerentes. 
Síndrome de hiperventilação 
O diagnóstico traz a necessidade de se investigar mais 
profundamente o que está acontecendo com o paciente. 
Nesse momento, retomar perguntas abertas, explorar ideias e 
preocupações do paciente e aspectos psicológicos, familiares 
e ocupacionais será o melhor caminho para avaliá-lo. 
Medidas preventivas para minimizar quedas em idosos 
A prática de exercícios físicos com abordagem de múltiplos 
componentes (coordenação, flexibilidade, equilíbrio, força, Tai 
Chi Chuan, entre outros) reduz de forma significativa a taxa de 
quedas, o seu risco e as fraturas decorrentes de quedas em 
idosos não hospitalizados, seja quando realizados em grupo 
ou em planos de exercício domiciliar. 
Também há fortes evidências de que intervenções para 
segurança do paciente no domicílio são efetivas para a 
redução da ocorrência de quedas e do seu risco, sendo essas 
intervenções aparentemente mais efetivas quando feitas com 
a participação de um terapeuta ocupacional. 
É importante notar que tais mudanças na conformação e na 
mobília do domicílio devem ser estimuladas não apenas para 
minimizar o risco de acidentes, mas também para melhor 
adaptação do idoso à sua casa, como, por exemplo, instalação 
de corrimão e barras de apoio, fixação de tapetes no chão ou 
sua retirada, uso de cadeiras ou bancos dentro do chuveiro. 
Intervenções multifatoriais e suspensão gradual de 
medicações psicotrópicas se mostraram efetivas para redução 
da ocorrência de quedas. A polifarmácia é um capítulo 
importante no tratamento do paciente idoso. 
Tratamento Farmacológico 
Em momentos de crise, podem ser usados medicamentos 
sedativos, com o intuito de aliviar os sintomas, porém alguns 
cuidados devem ser tomados. Medicamentos para supressão 
dos vômitos e antivertiginosos, como benzodiazepínicos, 
anticolinérgicos (escopolamina) e anti-histamínicos 
(cinarizina, flunarizina, dimenidrinato e prometazina), não 
devem ser dados por um período maior do que 3 dias, para 
evitar prejuízos à compensação central, importante para a 
resolução do quadro. 
Dos medicamentos para alívio dos sintomas, a ondansetrona, 
apesar de mais cara, mostrou-se superior à metoclopramida 
quanto ao tempo de recuperação do paciente e quanto à 
duração do tempo de internação. 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
103 
Cinetose 
O dimenidrinato é uma opção segura e eficaz, inclusive para 
crianças, bem como a clorfeniramina. 
Doença de Ménière 
A betaistina, na dose de 16 mg, em três doses diárias, 
consegue reduzir a frequência e a severidade das crises de 
alguns pacientes, sendo usada como profilaxia. 
Migrânea vestibular 
O tratamento procura seguir as recomendações para o 
tratamento das migrâneas com aura clássica. Evitar o uso 
excessivo de antivertiginosos parece ser a melhor conduta. 
Uso crônico de antivertiginosos 
O uso crônico de antivertiginosos em pacientes com tontura é 
problemático por dois motivos principais: primeiro, esses 
medicamentos suprimem os estímulos vestibulares e 
dificultam a neuroadaptação natural, prolongando os 
sintomas e levando à dependência; segundo, estão 
associados a efeitos adversos graves a longo prazo, como 
o parkinsonismo induzido por medicamentos, especialmente 
com o uso prolongado de fármacos como flunarizina e 
cinarizina. Por isso, seu uso deve ser restrito a curto prazo 
(até 3 dias), especialmente em casos como neurite vestibular, 
e evitado em tonturas crônicas, sendo essencial investigar 
adequadamente a causa, muitas vezes relacionada à VPPB ou 
desequilíbrio. 
 
Erros mais frequentes 
• Iniciar a avaliação da queixa de tontura perguntando 
se é do tipo que “roda”. 
• Pensar que tonturas estão sempre relacionadas a 
problemas graves no SNC. 
• Pensar que é necessário solicitar exames de imagem 
e laboratoriais em todos os casos de tontura. 
• Prescrever antivertiginosos por mais do que três dias 
para tonturas. 
• Não realizar a manobra de Epley como tratamento 
para a VPPB. 
Dicas 
• Procure delimitar a tontura entre os três grandes 
grupos – vertigem, síncope e desequilíbrio. 
• Considere síndrome de hiperventilação como um 
diagnóstico a ser levado em conta durante a 
investigação, mas sempre como diagnóstico de 
exclusão. 
• Lembre-se da prevalência:VPPB, síncope vasovagal 
e desequilíbrio são os principais responsáveis pelas 
tonturas. 
• Fique tranquilo com as possibilidades de doenças 
graves: causas cardiológicas ou neurológicas graves 
necessariamente virão com um quadro clínico 
característico, apontando para a causa. 
• Na síncope, sempre faça uma avaliação clínica 
rigorosa do aparelho cardiovascular, com anamnese 
e exame físico. 
• Muito cuidado com os antivertiginosos! Sempre 
reavalie os pacientes que fazem uso crônico de 
medicamentos que podem induzir parkinsonismo. 
• Lembre-se de que o desequilíbrio não possui um 
medicamento que o trate, e o paciente com 
desequilíbrio tem risco de quedas. 
Quando Referenciar 
Em geral, pacientes com tontura e perda auditiva devem ser 
referenciados ao otorrinolaringologista para avaliação e iniciar 
tratamento para doença de Ménière, por ser a doença mais 
incomum, com quadro, às vezes, sem uma definição clara. 
Na suspeita de causa central de tontura, como AVC, deve-se 
referenciar o paciente ao serviço de emergência. 
Equipe multiprofissional 
Devido à natureza multifatorial do desequilíbrio, é essencial 
uma rede de cuidado multiprofissional e familiar, que permita 
uma avaliação ampla do paciente e de seu ambiente. O médico 
de família tem papel central ao identificar o risco de queda e 
iniciar a investigação, já que não há tratamento 
medicamentoso para o desequilíbrio. Profissionais 
como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores 
físicos, equipe de enfermagem, e, em casos associados 
à ansiedade e hiperventilação, psicólogos ou psiquiatras, são 
fundamentais para um plano terapêutico eficaz. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
104 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1926. ISBN 9788582715369. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788
582715369/. Acesso em: 18 mai. 2025. 
SEMANA 15: MANEJO DAS 
DIARREIAS E CONSTIPAÇÃO 
NA APS – DATA: 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Compreender o manejo das diarreias e constipação 
na atenção primária. 
Diarreia Aguda e Crônica 
Ao abordar uma pessoa com diarreia, deve-se sempre avaliar 
o seu grau de desidratação (lembrar-se dos sinais de alerta 
para desidratação). Em um episódio de diarreia aguda sem 
complicações, os exames complementares geralmente não 
são necessários. 
No tratamento da desidratação, deve-se sempre iniciar, o mais 
rápido possível, o plano de hidratação mais adequado para o 
grau de desidratação e orientar a pessoa a continuar com a 
alimentação habitual. 
A maioria dos episódios de diarreia aguda é autolimitada e, 
por isso, não exige de antibioticoterapia. Porém, em certas 
circunstâncias, o seu uso é necessário: diarreia com sangue 
e/ou muco, quadro de septicemia, suspeita de infecção por 
Vib rio cholerae, com desidratação grave associada, e quadro 
de giardíase ou amebíase confirmado por exame laboratorial. 
Na diarreia crônica, avaliam-se os sintomas que diferenciam 
síndromes funcionais de doenças orgânicas (descartando 
sinais de alerta vermelho para doenças orgânicas) e 
categoriza-se o quadro de diarreia, quanto às características 
das fezes, em aquosa, gordurosa ou inflamatória. 
A frequência da evacuação normal varia de três vezes por 
semana a três vezes por dia. Assim, um aumento de volume 
das fezes acompanhado por diminuição da sua consistência e 
maior número de evacuações configura um quadro de 
diarreia. 
A diarreia é uma doença frequente na atenção primária à 
saúde (APS) e está entre as principais causas de mortalidade 
infantil nos países em desenvolvimento. Estudos mostram a 
ocorrência de, em média, dois a três episódios de diarreia por 
criança, por ano, em áreas desenvolvidas, e até ou mais 
episódios nos países em desenvolvimento. 
Também são apontadas como consequências diretas da 
diarreia infantil nesses países a desnutrição, o retardo do 
crescimento e o prejuízo do desenvolvimento cognitivo. Tanto 
a incidência como o risco de mortalidade por patologia 
diarreica são maiores entre as crianças menores de 1 ano, e, 
depois disso, os números diminuem. 
No Brasil, é importante destacar o papel dos agentes 
comunitários de saúde (ACS) para a conscientização da 
população sobre a importância dos cuidados com a criança 
desidratada. 
Ao abordar um indivíduo com suspeita de diarreia, é 
necessário, em primeiro lugar, classificar o quadro que ele 
apresenta: 
 
Tipos de Diarreia 
Diarreia Aquosa 
Diarreia Osmótica 
Ocorre quando substâncias osmoticamente ativas 
permanecem no lúmen intestinal, puxando água para dentro 
do intestino por osmose. Comum em má digestão (ex.: 
intolerância à lactose) ou má absorção de nutrientes (ex.: 
doença celíaca). A diarreia cessa com o jejum. 
Exemplo: ingestão de sorbitol ou manitol em excesso. 
Diarreia Secretória 
Caracteriza-se pela secreção ativa de água e eletrólitos pela 
mucosa intestinal, independentemente da ingestão de 
alimentos. Não melhora com o jejum. Geralmente causada por 
toxinas bacterianas (como a do Vibrio cholerae), hormônios 
tumorais ou doenças intestinais. 
Exemplo: cólera ou diarreia associada a VIPoma (tumor 
secretor de peptídeo vasoativo intestinal). 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
105 
Diarreia Gordurosa (Esteatorreia) 
É causada por má digestão ou má absorção de gorduras, 
resultando em fezes volumosas, brilhantes, flutuantes e de 
odor fétido. Ocorre em doenças pancreáticas, biliares ou 
intestinais. 
Exemplo: insuficiência pancreática crônica, doença celíaca ou 
síndrome do intestino curto. 
Diarreia Inflamatória 
Decorre de inflamação da mucosa intestinal, com exsudação 
de muco, sangue e pus, além de prejuízo na absorção. É 
frequente em doenças inflamatórias intestinais (DII) ou 
infecções invasivas (ex.: Shigella, E. coli entero-invasiva). 
Exemplo: retocolite ulcerativa ou infecção por Salmonella. 
Tipo de 
Diarreia 
Mecanismo Fisiopatológico Principais Causas Características Clínicas 
Resposta 
ao Jejum 
Osmótica 
Presença de substâncias 
osmoticamente ativas no lúmen 
intestinal, que atraem água. 
Intolerância à lactose, uso de 
laxantes osmóticos, má 
absorção de carboidratos. 
Fezes aquosas, melhora com 
jejum, pH fecal ácido, aumento do 
gap osmótico fecal. 
Melhora com 
jejum 
Secretória 
Secreção ativa de íons e água 
pela mucosa intestinal, inibindo 
a absorção. 
Cólera, toxinas bacterianas, 
tumores secretores (VIPoma), 
doenças endócrinas. 
Diarreia aquosa em grande 
volume, persistente mesmo em 
jejum, desidratação rápida. 
Não melhora 
com jejum 
Gordurosa 
(Esteatorreia) 
Má digestão ou má absorção de 
gorduras, resultando em 
excesso de lipídios nas fezes. 
Doença celíaca, insuficiência 
pancreática, doença hepato-
biliar, síndrome do intestino 
curto. 
Fezes volumosas, brilhantes, 
flutuantes, fétidas; perda de peso 
frequente. 
Parcial ou 
variável 
Inflamatória 
Inflamação da mucosa intestinal 
com exsudato de muco, pus ou 
sangue e lesão epitelial. 
Doença de Crohn, retocolite 
ulcerativa, infecções invasivas 
(Shigella, E. coli EIEC). 
Fezes com muco, sangue, pus; 
dor abdominal, febre, urgência 
evacuatória. 
Não melhora 
com jejum 
Sintomas versus provável etiologia da diarreia aguda 
 
Nos quadros de diarreia aguda, as infecções virais, 
principalmente por rotavírus, são responsáveis por 75 a 90% 
dos casos. As infecções bacterianas são a causa de 10 a 20% 
dos casos, com destaque para as infecções secundárias à 
Escherichia coli (diarreia do viajante). Por sua vez, as 
infecções parasitárias causam menos de 5% dos quadros 
diarreicos. 
É importante que o médico de família esteja atento, a fim de 
fazer o diagnóstico diferencial de doenças que podem ter 
episódios de diarreia aguda como seus sintomas. Por 
exemplo, infecções gastrintestinais (doença inflamatória 
intestinal [DII], intussuscepção,enterocolite 
pseudomembranosa, apendicite, alergia alimentar, deficiência 
de lactase) ou outras doenças (sepse bacteriana, otite média, 
pneumonia, meningite, infecção do trato urinário). 
 
 
 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
106 
Características clínicas da infecção devida a determinados 
patógenos específicos que produzem diarreia 
 
Classificação da diarreia crônica e causas 
 
Mg²⁺: íon magnésio 
PO₄³⁻: íon fosfato 
SO₄²⁻: íon sulfato 
Diagnóstico das Diarreias 
Anamnese 
História na diarreia aguda 
A avaliação inicial da diarreia aguda deve priorizar sinais de 
gravidade e sintomas de desidratação. 
A observação dos pais quanto à ingestão de líquidos, diurese, 
diarreia e êmese é útil na identificação de desidratação 
clinicamente relevante. 
A investigação etiológica orienta o tratamento e inclui: 
• Início, frequência e volume das evacuações; 
• Características das fezes (presença de bile, sangue 
ou muco); 
• Presença de vômitos e febre; 
• História médica, uso de medicamentos, 
imunossupressão e comorbidades; 
• Fatores epidemiológicos (viagens recentes, surtos 
etc.). 
História na diarreia crônica 
Ao se avaliar uma pessoa com história de diarreia por mais de 
30 dias, deve-se, inicialmente, explorar alguns pontos 
fundamentais: 
 
A partir desses dados, pode-se diferenciar sintomas 
sugestivos de uma síndrome orgânica daqueles de uma 
síndrome funcional: 
 
A ausência dos alertas vermelhos associada à presença de 
dor abdominal aliviada com a defecação, ao aumento da 
frequência de evacuações e à diminuição da consistência das 
fezes no início da dor, à passagem de muco pelo reto, ao 
tenesmo e ao relato de distensão abdominal, bem como um 
exame físico sem alterações sugerem a presença de uma 
síndrome funcional No entanto, esse quadro clínico não exclui 
a presença de uma possível doença orgânica. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
107 
Alertas vermelhos de doença orgânica, que indicam a 
necessidade de uma avaliação mais detalhada e imediata, com 
provável referenciamento a um especialista focal: 
 
diarreias factícias, causadas pela ingestão de laxantes omitida 
pelo paciente, devem ser consideradas em todos aqueles com 
história de diarreia crônica associada à de transtornos 
alimentares, à de ganhos secundários ou à de má digestão. 
• Diarreias factícias: causadas pela ingestão de 
laxantes omitida pelo paciente, devem ser 
consideradas em todos aqueles com história de 
diarreia crônica associada à de transtornos 
alimentares, à de ganhos secundários ou à de má 
digestão. 
A caracterização das fezes é fundamental para a diferenciação 
do tipo de diarreia crônica: 
• Nas formas inflamatórias e secretórias, observa-se a 
presença de fezes pastosas associadas a muco ou 
sangue. 
• Na disabsortiva, há esteatorreia e passagem de fezes 
claras, fétidas e volumosas pela ampola retal. 
Exame Físico 
Diarreia Aguda 
O aspecto mais importante a ser avaliado na diarreia aguda é 
o nível de hidratação dos indivíduos. Os principais sinais de 
desidratação que devem ser identificados são o 
prolongamento do tempo de reperfusão capilar e a alteração 
do padrão respiratório. Esses sinais, no entanto, quando 
examinados isoladamente, não oferecem uma boa acurácia 
para o diagnóstico, ao contrário do que ocorre quando 
avaliados em associação ou quando presentes em escalas de 
classificação de desidratação. Vale ressaltar que uma meta-
nálise de 13 estudos mostrou que os três melhores sinais de 
exame para determinar a desidratação das crianças são 
padrão respiratório anormal, turgência cutânea e tempo 
prolongado de recarga capilar. 
 
Classificação da gravidade da desidratação segundo 
parâmetros clínicos proposta pelo Centers for Disease Control 
and Prevention (cdc): 
 
 
Escala da OMS (2005), fundamentada em parâmetros clínicos 
rapidamente acessíveis: 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
108 
 
Alertas vermelhos de desidratação: sinais ou sintomas que 
indicam risco aumentado de progressão para quadro de 
choque: 
 
• Deve-se, ainda, aferir a temperatura corporal, com o 
intuito de investigar a presença de febre associada, 
e mensurar o peso, sobretudo na avaliação de 
crianças. Isso é necessário porque a comparação 
entre as medidas obtidas antes e depois da 
reidratação é um método-padrão para o diagnóstico 
da desidratação nessa população. 
• Além disso, deve-se avaliar pulso, frequência 
cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial. 
• No exame abdominal, deve-se focar em alterações 
dos ruídos hidroaéreos, presença de distensão, 
presença de massa ou de dor à palpação, bem como 
defesa e sinal de descompressão súbita. 
Diarreia Crônica 
O exame físico na avaliação da diarreia crônica é, na maioria 
das vezes, inespecífico ou inalterado. Pode, em alguns casos, 
sugerir importantes pistas para o diagnóstico etiológico, 
como: 
• Presença de úlceras orais; 
• Sinais de aterosclerose grave; 
• Linfadenomegalia; 
• Sinais de disautonomia e rash cutâneo; 
• Rubor ou hiperpigmentação da pele. 
O exame físico deve incluir o peso, a altura e o perímetro 
cefálico em um padrão gráfico de crescimento. 
Os sinais de deficiências nutricionais devem ser investigados, 
como a dermatite perianal, na deficiência de zinco, e alguma 
deformidade nas pernas, na deficiência de vitamina D. 
O abdome pode apresentar distensão nas síndromes de má 
absorção ou excesso de crescimento bacteriano no intestino, 
ou pode ser muito sensível em um estado inflamatório. 
O exame do reto também é importante e pode revelar doença 
perianal na DII, por exemplo, ou perda de tecido subcutâneo 
da região na doença celíaca e em outros estados de 
desnutrição. 
Exames complementares 
Diarreia Aguda 
Na maioria das vezes, não é necessária a realização de 
exames complementares, devido os episódios serem curtos e 
autolimitados. 
A identificação de germes patógenos, bactérias, vírus ou 
parasitas na amostra fecal de uma criança com diarreia não 
indica, em todos os casos, que isso seja a causa da doença. 
Coprocultura: deve ser solicitada apenas em casos graves, 
inflamatórios e com presença de sangue, e em casos de 
diarreia persistente ou em vigência de um surto. Na suspeita 
clínica e/ou epidemiológica de um surto/epidemia de cólera, 
talvez seja necessária a identificação de V. cholera e. 
Exame parasitológico de fezes (EPF): é raramente 
recomendado, sendo restrito a situações de persistência dos 
sintomas por mais de 2 semanas. 
Eletrólitos: podem ser úteis na avaliação da desidratação 
grave, para apoiar o médico na suplementação de eletrólitos 
(especialmente potássio e bicarbonato de sódio). 
Diarreia Crônica 
Na maioria das vezes, as informações fornecidas pela 
anamnese e pelo exame físico são insuficientes na 
investigação etiológica, sendo necessário a realização de 
alguns exames preliminares: 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
109 
 
Sobretudo com o intuito de categorizar a diarreia em aquosa, 
gordurosa ou inflamatória. 
O valor dos exames de imagem para os casos de diarreia 
crônica é limitado: 
• Radiografias abdominais: podem apresentar 
constipação ou dilatação do intestino delgado. 
• Tomografia computadorizada ou a ressonância 
magnética: podem ser úteis na DII, pois podem 
mostrar engrossamento do intestino. 
• Teste respiratório com hidrogênio expirado: pode 
evidenciar a má absorção de carboidratos. 
• Endoscopia: pode ser útil para revelar acúmulo de 
vilosidades duodenais e linfócitos intraepiteliais na 
doença celíaca ou na DII. 
Tratamento 
O tratamento da diarreia deve ter quatro importantes 
objetivos: 
• Prevenir a desidratação. 
• Tratar a desidratação, quando presente. 
• Prevenir/tratar a desnutrição. 
• Diminuir a duração e a gravidade do quadro atual de 
diarreia, bem como prevenir futuros episódios. 
Esses objetivos podem ser alcançados por meio do uso 
adequado da terapia de reidratação oral, da manutenção de 
uma alimentaçãodo homem obeso. 
Obesidade do tipo ginóide 
Quando a gordura se distribui, principalmente, na metade 
inferior do corpo, particularmente na região glútea e coxas. É 
típica da mulher obesa. 
IMC – índice de Massa Corporal 
O IMC é recomendado como uma estimativa prática de 
sobrepeso em adultos, mas necessita ser interpretado com 
cautela porque não é uma medida direta da adiposidade. Em 
adultos com grande massa muscular, o IMC superestima a 
adiposidade. Não se recomenda como rotina o uso da 
bioimpedância para medida da adiposidade geral. 
O acúmulo de gordura pode ser mensurado por meio do 
índice de massa corporal (IMC), calculado pela divisão do 
peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. O 
IMC correlaciona-se com os fatores de risco à saúde e é 
utilizado para classificar o grau de obesidade: 
𝐼𝑀𝐶 = 	
𝑃𝑒𝑠𝑜
𝐴𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎! 
Classificação do índice de massa corporal e do risco de 
comorbidades em adultos: 
 
Em crianças e adolescentes, o limite de normalidade é 
estabelecido por curvas de percentil do IMC, nas quais o 
sobrepeso corresponde ao IMC entre 85 e 95% para faixa 
etária e sexo, e a obesidade corresponde ao valor acima de 
95%. 
 
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7 
 
A avaliação da gordura abdominal – medida da circunferência 
– deve ser usada em adultos com IMC menor do que 35 
kg/m2. Na criança, essa medida não é recomendada como 
rotina, mas pode ser usada como uma avaliação adicional de 
risco. 
 
Complicações 
A adiposidade está relacionada a outras doenças por vários 
mecanismos: o tecido adiposo em excesso se acompanha de 
aumento de macrófagos e outras células imunes que 
secretam mediadores inflamatórios que contribuem para o 
desenvolvimento de resistência à insulina; a adiposidade 
generalizada nos tecidos leva a problemas mecânicos 
(compressão renal, refluxo gastresofágico [RGE], sobrecarga 
das articulações, entre outros) e metabólicos, como, por 
exemplo, lipotoxicidade dos ácidos graxos livres, levando à 
esteatose e à cirrose. 
 
A obesidade também provoca alterações socioeconômicas e 
psicossociais: 
• Discriminação educativa, laboral e social; 
• Isolamento social; 
• Depressão e perda de autoestima. 
Diagnóstico da Obesidade 
Anamnese 
Na avaliação inicial, deve ser investigada a história do 
excesso de peso: 
• Idade de início; 
• Maior e menor pesos alcançados; 
• História familiar de obesidade; 
• Tentativas anteriores de emagrecimento; 
• Sucessos obtidos; 
• Fatores precipitantes das recaídas. 
Estilo de vida: é necessário investigar sobre o 
comportamento alimentar e padrão de atividade física 
pessoal e familiar, suas expectativas relacionadas ao peso 
desejado, isto é, quanto a pessoa espera pesar ao final do 
tratamento, a velocidade de perda esperada e as 
consequências da perda de peso dos pontos de vista 
psíquico e físico. Esses dados permitem avaliar as possíveis 
causas da obesidade, assim como suas repercussões 
psicológicas. 
Consequências físicas: são avaliadas pela presença de 
comorbidades, como DM2, hipertensão, DCV, osteoartrite, 
dislipidemia, apneia do sono e outros problemas clínicos. 
Raramente, a obesidade pode estar associada a causas 
secundárias. 
Deve-se buscar sintomas de: 
• Doenças endócrinas: sintomas de hipotireoidismo, 
síndrome de Cushing, acromegalia. 
• Uso de medicamentos associados ao ganho de 
peso: antidiabéticos (insulina, sulfonilureias, 
tiazolidinedionas), hormônios esteroides, 
antipsicóticos, estabilizadores do humor (lítio), 
antidepressivos (tricíclicos, paroxetina, mirtazapina, 
inibidores da monoaminoxidase), anticonvulsivantes 
(valproato, gabapentina, carbamazepina), beta-
bloqueadores. 
• Transtornos psiquiátricos: depressão, estresse 
pós-traumático, ansiedade, transtorno do humor 
bipolar, uso de drogas, transtorno do Binge e 
bulimia são comumente associados à obesidade, e 
seu manejo deve ser providenciado. 
 
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8 
Exame Físico 
Além das medidas antropométricas do paciente e do cálculo 
do IMC, deve-se, no exame físico, buscar sinais de doenças 
associadas à obesidade secundária: pele seca, fria e 
descamativa, cabelos finos e secos, voz rouca, madarose, 
edema duro, presença de bócio (hipotireoidismo), obesidade 
centrípeta e com giba, presença de acantose nigricante, 
estrias purpúricas (síndrome de Cushing), aspecto facial 
característico de acromegalia com prognatismo e feições 
rudes, mãos grandes e com aumento dos tecidos moles. 
Exames Complementares 
Em geral, é suficiente a medida de perfil lipídico, glicemia e 
pressão arterial (PA). Quando existe suspeita de doenças 
causando a obesidade, deve-se proceder à investigação 
apropriada. 
Tratamento 
 
O tratamento da obesidade é complexo e multidisciplinar. As 
mudanças comportamentais necessárias à perda de peso só 
serão possíveis em pessoas motivadas. Assim, é sempre 
necessário avaliar se a pessoa deseja perder peso e oferecer 
informações e apoio, respeitando sua autonomia. 
O nível de intervenção proposto inicialmente deve basear-se: 
Classificação do IMC: 
• Sobrepeso: ≥ 25-29,9 Kg/m2 – risco aumentado; 
• Obesidade Grau I: ≥ 30-34,9 Kg/m2 – risco 
moderado; 
• Obesidade Grau II: ≥ 35-39,9 Kg/m2 – risco 
intenso; 
• Obesidade Grau III: ≥ 40 Kg/m2 – risco muito 
intenso. 
Circunferência Abdominal: 
• Normal: homens atéadequada e, em alguns casos, do uso 
criterioso de medicação sintomática. 
Passo 1: Definir o grau de desidratação para se escolher 
o plano de tratamento mais adequado. 
 
 
 
 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
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Passo 2: Definir o plano de tratamento para cada situação 
clínica 
 
Passo 3: Iniciar, imediatamente, o manejo da pessoa com 
queixa de diarreia de acordo com o plano definido no 
passo 2. 
 
 
 
 
 
 
Abordagem Medicamentosa 
Em certas circunstâncias, o uso de antibioticoterapia é 
necessário. Segundo a OMS, o tratamento com antibióticos só 
está indicado nos seguintes casos: 
• Diarreia com sangue e/ou muco, sendo a Shig ella e 
a Salmonella os principais agentes etiológicos 
responsáveis pelo quadro. 
• Septicemia. 
• Suspeita de infecção por V. cholerae com 
desidratação grave associada. 
• Quadro de giardíase ou amebíase com diagnóstico 
confirmado por exame laboratorial. 
Prescrição de antibioticoterapia de acordo com o quadro 
clínico apresentado: 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
111 
 
 
É importante destacar, no entanto, que, assim como em 
qualquer outro tratamento, a pessoa deve ser reavaliada pelo 
médico até 48 horas após o início da antibioticoterapia.3 Isso 
deve ser feito com o intuito de investigar uma possível falha 
terapêutica e com a necessidade de se ampliar o espectro do 
fármaco, ou até mesmo reconsiderar outras hipóteses 
diagnósticas. 
• O uso de medicações antidiarreicas (“constipantes”), 
sabe-se que isso é contraindicado. 
• Fármacos antieméticos: especificamente a 
metoclopramida, não há evidências de suporte 
adequado com o seu uso em crianças que 
apresentam vômitos. Dessa forma, orienta-se que ela 
deve ser evitada, uma vez que a sedação pode 
prejudicar a adesão ao tratamento com SRO. 
• Suplementação de zinco: o impacto do uso tanto na 
redução da gravidade do episódio diarreico quanto 
na redução de episódios subsequentes de diarreia 
em crianças menores de 5 anos, tem sido 
demonstrado nos últimos anos. É importante 
destacar que a maioria dos estudos que sustentam 
essa prática foi realizada em regiões pobres e com 
crianças em maior risco de desenvolver episódio 
diarreico mais grave. A dose recomendada é: 
o 20 mg de zinco por dia, durante 10 dias, 
para todas as crianças com diarreia. 
o Os lactentes de 2 meses ou menores 
deveriam receber 10 mg por dia durante 10 
dias. 
• Probióticos: probióticos são microrganismos vivos 
que, quando administrados em quantidades 
apropriadas, conferem benefício à saúde do 
hospedeiro. Alguns probióticos, como Lactobacillus 
reuteri ATCC 55730 , L. rhamnosus GG, L. casei DN-
114 001 e Saccharomyces cer evisiae (boulardii) são 
úteis para reduzir a gravidade e a duração da 
diarreia aguda infecciosa infantil, abreviando em, 
aproximadamente, 1 dia a duração da doença. 
Tratamento da Diarreia Crônica 
Deve ser realizado de acordo com a sua possível causa. Assim, 
diante de um diagnóstico, cabe ao médico de família procurar 
pelas melhores evidências relativas ao tema e avaliar a 
conduta mais adequada de acordo com a realidade em que 
trabalha. Além disso, são fundamentais as medidas de 
reidratação, de combate à desnutrição e de reposição das 
vitaminas e dos sais minerais, para melhora dos sintomas, ou 
pelo menos para o suporte ao paciente enquanto se realizam 
as intervenções diagnósticas e terapêuticas necessárias. 
Vigilância Epidemiológica 
A diarreia aguda não consiste em doença de notificação 
compulsória nacional, em vigência de diagnóstico de casos 
isolados, ao contrário do que ocorre em suspeita de surtos. 
Portanto, na suspeita de um surto de doença diarreica 
transmitida por alimento, com a ocorrência de, no mínimo, dois 
casos de diarreia aguda semelhantes após a ingesta do 
mesmo alimento ou de água de mesma origem, é importante 
lembrar-se sempre de realizar a notificação. 
Quando Referenciar 
• Pessoa que apresente desidratação grave. 
• Pessoa com diarreia crônica que necessite de 
avaliação do especialista focal para o 
estabelecimento do diagnóstico e/ou continuidade 
do tratamento. 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
112 
Papel da Equipe Multiprofissional no Manejo da Diarreia 
• Enfermeiro: avalia inicialmente o paciente com 
diarreia na APS, iniciando rapidamente a reposição 
hidroeletrolítica com SRO. Pode conduzir casos leves 
e auxiliar nos moderados a graves. 
• ACS: atua na prevenção, com orientações sobre 
higiene e água segura, além de fazer vigilância ativa 
e encaminhamento precoce em casos de 
desidratação. 
• Nutricionista: avalia e orienta pacientes com diarreia 
crônica, ajudando no controle da desidratação, 
desnutrição e ajustando dietas em casos de 
intolerâncias alimentares. 
Árvore de Decisão 
 
 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1473. ISBN 9788582715369. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788
582715369/. Acesso em: 06 jun. 2025. 
Constipação 
A constipação, primária ou funcional, é a queixa mais comum 
em ambulatórios de atenção primária à saúde (APS) e está 
relacionada com a dieta e o estilo de vida, como o baixo 
consumo de fibras e o sedentarismo, além de distúrbios de 
motilidade idiopáticos do cólon. 
É importante tentar estabelecer o que realmente a pessoa 
considera como constipação e quais são as suas expectativas 
de um hábito intestinal normal. Sintomas de longa data, com 
melhoras e pioras ao longo do tempo, tendem a ser 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
113 
relacionados à constipação funcional, ao passo que causas 
orgânicas se apresentam de forma mais aguda. 
A história psicossocial e familiar deve ser abordada – sintomas 
depressivos, de ansiedade, transtornos alimentares, 
somatizações, traumas na infância e abuso físico e sexual 
podem estar associados à constipação. 
Não há evidências suficientes que permitam indicar o uso 
rotineiro de exames de sangue, radiológicos ou endoscópicos 
na avaliação de pessoas com constipação. Os exames 
complementares devem ser realizados para avaliação de uma 
possível causa secundária apenas quando a anamnese e o 
exame físico levantarem alguma suspeita específica. 
Estudos recentes, utilizando como desfecho a constipação 
segundo os critérios de ROMA III, têm se aproximado de uma 
prevalência média de 25,2 e 26,9%. É um problema mais 
comum em mulheres (37,2%, contra 10,2% nos homens), em 
pessoas não brancas, com mais de 65 anos, que possuem 
baixa renda, com baixo nível socioeducacional e em pessoas 
que não praticam atividades físicas. 
Algumas pessoas se consideram constipadas pela 
consistência mais endurecida das fezes, e outras referem 
menor frequência ou maior dificuldade para evacuar. 
Fundamentando-se nas queixas dos pacientes, a constipação 
pode ser referida como fezes endurecidas, esforço excessivo 
no ato evacuatório, evacuações infrequentes, sensação de 
evacuação incompleta e até mesmo demora excessiva no 
banheiro. 
Classificação e Diagnóstico Diferencial 
Constipação Primária 
Também chamada de funcional, é a causa mais comum de 
consulta em ambulatórios de APS. Suas principais causas são 
dietéticas e de estilo de vida, como o baixo consumo de fibras 
e o sedentarismo, além de distúrbios de motilidade idiopáticos 
do cólon. A definição para constipação funcional, que é 
recomendada na maioria dos consensos e diretrizes, foi 
estabelecida pelo Consenso de Roma III, a qual pode ser 
utilizada tanto para fins diagnósticos como de pesquisa. 
A constipação funcional pode ser dividida em três grupos 
fisiopatológicos que frequentemente se encontram 
sobrepostos, os quais são de difícil distinção na avaliação 
clínica. 
• O primeiro grupo caracteriza-se por trânsito 
intestinal normal, porém apresentando dificuldades 
para o ato evacuatório. 
• O segundo grupo apresentatrânsito intestinal lento. 
• O terceiro grupo caracteriza-se por disfunção do 
assoalho pélvico, ocorrendo incoordenação da 
musculatura pélvica e esfincteriana, bloqueio 
anorretal e necessidade de esforço evacuatório. 
Critérios de Roma III para diagnóstico de Constipação 
Funcional 
1. Dois ou mais dos seguintes achados: 
• Esforço presente em pelo menos 25% das 
evacuações. 
• Fezes endurecidas ou fragmentadas em pelo menos 
25% das evacuações. 
• Sensação de esvaziamento incompleto em pelo 
menos 25% das evacuações. 
• Sensação de obstrução ou bloqueio anorretal em 
pelo menos 25% das evacuações. 
• Manobras manuais para facilitar pelo menos 25% 
das evacuações (p. ex., manobras digitais para 
evacuar, apoio pélvico ou vaginal). 
• Menos de três evacuações espontâneas por semana. 
2. Fezes amolecidas são raras na ausência de uso de 
laxativos. 
3. Critérios para SII não estão presentes. 
Os sintomas devem estar presentes nos últimos 3 meses e 
devem ter se iniciado há pelo menos 6 meses. 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
114 
 
Constipação Secundária 
Quando é associada a alguma condição patológica ou ao uso 
de medicamentos. 
Causas Comuns em Constipação Secundária 
 
Diagnóstico 
Anamnese 
História clínica: é importante tentar estabelecer o que 
realmente a pessoa considera como constipação e quais são 
as suas expectativas de um hábito intestinal normal. Em 
estudos, apenas 50% das pessoas que referiram constipação 
preenchiam os critérios de ROMA III. 
Técnica de medicina centrada na pessoa: permite a exploração 
da sua experiência com o problema, além do seu contexto 
pessoal, familiar e comunitário, sendo fundamental para 
esclarecer as situações em que há constante dificuldade com 
a defecação e/ou redução da qualidade de vida. Esse pode 
ser um critério mais inclusivo e que permite identificar melhor 
as pessoas que necessitam de avaliação e tratamento. 
Sintomas de longa data, com melhoras e pioras ao longo do 
tempo, tendem a ser relacionados à constipação funcional, e 
causas orgânicas apresentam-se de forma mais aguda. 
Uma escuta qualificada exige a determinação não somente da 
frequência e da consistência fecais, mas também de 
dificuldades enfrentadas (dor, sangramento, tamanho das 
fezes). 
A anamnese deve ser direcionada para a detecção de causas 
secundárias e dos alertas vermelhos. 
 
A presença dos alertas vermelhos não é indicativa absoluta de 
referenciamento e depende da disponibilidade de exames na 
APS. No entanto, indica uma condição de maior probabilidade 
para doença orgânica e, em geral, necessita de investigação 
do trato digestivo baixo. 
Hábitos de vida e dietéticos: pessoas que ingerem mais de 15 
g de fibras insolúveis por dia têm o dobro do número de 
movimentos intestinais semanais do que aquelas que ingerem 
fibras de forma irregular. A inatividade física, seja por 
sedentarismo ou por doenças, também tem um papel 
importante na redução dos movimentos intestinais. 
Uso de medicamentos: a correta avaliação do uso de 
medicamentos não pode ser esquecida, pois a motilidade 
colônica pode ser reduzida com o uso continuado de laxantes, 
enemas e outros medicamentos que não são essenciais. 
Sensação de esvaziamento retal incompleto, associada com 
uso de força excessiva para extrusão das fezes e manobras 
manuais frequentes para desimpactação direcionam para 
alterações obstrutivas/mecânicas anorretais, que incluem 
doença de Hirschprung, estreitamento anal, câncer, prolapso 
retal, retoceles ou disfunções do assoalho pélvico. 
História psicossocial e familiar: intomas depressivos, de 
ansiedade, transtornos alimentares, somatizações, traumas 
na infância e abuso físico e sexual podem estar associados à 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
115 
constipação. Esses achados, em geral, apontam para a 
constipação funcional. 
Doença de Hirschsprung (DH): pessoas ue tenham 
constipação de início na infância, com sintomas bastante 
expressivos, envolvendo uso de enemas para desobstrução e 
frequência de evacuação muito baixa (podendo ficar até mais 
de 2 semanas sem movimento intestinal) são suspeitas de 
aganglionose colônica congênita ou DH. 
Doença de Chagas (DC): em áreas endêmicas para DC, deve-
se levar em consideração a ocorrência de megacolo adquirido 
em pessoas com constipação de difícil tratamento. 
Exame Físico 
Deve ser direcionado pelos achados da anmnese e com o 
objetivo de detectar causas secundárias e alertas vermelhos. 
O exame abdominal comumente revela dor (fraca e sem dor à 
descompressão) e distensão abdominal, mesmo nas 
constipações funcionais crônicas. Massas intestinais são de 
difícil palpação, porém, quando encontradas, devem ser 
investigadas. Fecalomas localizados em regiões mais altas do 
intestino também podem ser palpados e são representados 
por massas endurecidas, móveis, em topografia intestinal e 
indolores. 
O peso e o estado nutricional devem ser observados para 
registrar emagrecimento e desnutrição. A palidez mucosa é 
um sinal indireto de anemia e deve sempre ser investigada. 
O exame anorretal é realizado com o paciente em decúbito 
lateral esquerdo e pode trazer importantes informações: 
• A inspeção em repouso e dinâmica (com manobra de 
Valsalva) identifica fissuras agudas e crônicas, 
escoriações, hemorroidas externas ou prolapsos 
retais, que podem ser causadas pela constipação ou 
podem produzir dor que leve à constipação crônica. 
• Podem-se identificar causas infecciosas, como 
herpes genital ou abscessos perianais, além de 
fístulas. 
• Durante o exame, ao solicitar que a pessoa realize a 
contração anal (como se fosse defecar), a 
observação de assimetria na abertura do ânus ou a 
sua abertura excessiva denotam distúrbio 
neurológico que altera a função esfincteriana. 
• O toque retal pode revelar massas, úlceras ou 
fecalomas; em homens, o exame também pode 
revelar aumento do tamanho da próstata. 
A retocele é verificada em exame ginecológico, pela 
proeminência da parede posterior da vagina ao solicitar que a 
paciente realize contração pélvica. 
Exames Complementares 
Os exames complementares devem ser realizados para 
avaliação de uma possível causa secundária apenas quando a 
anamnese e o exame físico levantarem alguma suspeita 
específica. 
Colonoscopia: a realização da colonoscopia de rotina em 
pessoas constipadas não diagnostica doenças orgânicas mais 
frequentemente do que na população assintomática. A 
presença dos alertas vermelhos indica necessidade de 
investigar o TGI, devido a um aumento na probabilidade de 
haver uma doença orgânica associada, sobretudo neoplasias. 
Nesses casos, é recomendada a realização de colonoscopia 
ou retossigmoidoscopia flexível, sendo a colonoscopia um 
exame mais sensível, especialmente para detecção de câncer 
colorretal e lesões que provoquem estreitamento do cólon 
Diabetes e hipotireoidismo: a probabilidade pré-teste de 
hipotireoidismo ou diabetes não é maior em pessoas 
constipadas do que em assintomáticos, não justificando, 
somente pela constipação, a realização de testes para 
rastreamento dessas patologias na avaliação inicial. 
Pesquisa de sangue oculto nas fezes: é importante lembrar-
se de que, após a idade de 50 anos, há recomendação para 
realização de rastreamento universal para câncer colorretal. 
Pode-se indicar a pesquisa de sangue oculto nas fezes para 
os indivíduos constipados com mais de 50 anos, para 
pesquisa de sinal de alerta e rastreamento de neoplasia 
colorretal. Esse exame é, em geral, mais disponível e de fácil 
realização quando comparado com colonoscopia ou 
retossigmoidoscopia. 
Alguns exames podem identificar causas secundárias de 
constipação e são indicados nos casos em que a anamnese e 
o exame físico forem sugestivos de alguma etiologia 
específica: 
• Hemograma completo: anemia, que pode sugerir 
neoplasias; 
• Glicose em jejum: diabetes; 
• Pesquisa de sangue oculto nas fezes: sangramento 
oculto, neoplasias; 
• Hormônio estimulante da tireoide(TSH): 
hipotireoidismo. 
• Potássio sérico: hipocalemia; 
• Cálcio sérico: hipercalcemia; 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
116 
• Exame comum de urina e creatinina sérica: doença 
renal. 
• Enema opaco: é o exame de preferência quando 
houver suspeita de estreitamento colônico (por 
aderências, doença inflamatória intestinal ou 
diverticulose) ou suspeita de megacólon congênito 
ou adquirido. 
Exames bastante específicos que são utilizados para avaliação 
do trânsito colônico e do funcionamento da musculatura do 
assoalho pélvico: trânsito colônico, teste da expulsão de 
balão, manometria anorretal, ressonância magnética pélvica 
dinâmica e defecografia. Provável que a utilização deles deva 
ser avaliada e indicada em conjunto com o gastrenterologista, 
o proctologista ou por meio de consultorias, podendo ter 
utilidade nos casos refratários e mais graves. São testes com 
pouca disponibilidade, mesmo em redes de atenção terciária. 
Tratamento 
Não Medicamentoso 
Orientações 
O tratamento da constipação funcional crônica envolve 
inicialmente educação para a saúde e mudanças de estilo de 
vida. Assegurar ao paciente a ausência de doença grave é um 
importante passo inicial, dado que muitas pessoas relacionam 
a constipação ao medo de câncer intestinal. 
A pessoa deve ser esclarecida sobre a variação da frequência 
de movimentos intestinais que são esperados e que não há 
necessidade de evacuações diárias para a manutenção da 
saúde. 
A necessidade de evacuar não deve ser ignorada e pode-se 
estimular a regularização do hábito intestinal encorajando a 
pessoa a permanecer sentada no vaso sanitário por alguns 
minutos diariamente, sobretudo após refeições e pela manhã, 
aproveitando o reflexo gastrocólico. 
Dieta e Atividade Física 
As principais orientações no início do tratamento da 
constipação funcional crônica referem-se ao aumento da 
ingestão de fibras e líquidos, além de manutenção de atividade 
física regular. 
Recomenda-se uma quantidade de 25 a 35 g de fibras diárias. 
As fibras provenientes de alimentos podem ser 
complementadas por farelos (cereais) integrais, adicionando, 
por exemplo, duas a seis colheres de sopa de farelo de trigo, 
aveia ou linhaça a cada refeição, seguidos por um ou dois 
copos de água ou outro líquido. O aumento do consumo de 
líquidos deve sempre ser estimulado para melhor 
funcionamento da técnica. 
• É importante também explicar ao indivíduo que o 
aumento do consumo de fibras e líquidos produz 
efeitos em 7 a 10 dias. 
• O aumento do consumo de fibras pode associar-se à 
dor abdominal, distensão e flatulência, devendo-se 
aumentar a dose diária gradualmente, para atenuar 
os efeitos colaterais. 
 
 
Técnicas de biofeedback 
Consistem em treinamento para aprimorar o relaxamento da 
musculatura pélvica, associada a esforço evacuatório, para 
melhor atingir a defecação. Essa técnica encontra evidências 
de benefício em casos refratários e, principalmente, nas 
pessoas com disfunção do assoalho pélvico. Esses últimos são 
mais propensos a responder ao biofeedback do que a laxantes 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
117 
e dieta. É uma técnica ainda pouco disponível, que requer 
treinamento de equipe e instrumental para sua realização, 
além de carecer de normatização. 
Medicamentoso 
Nos casos que não responderem adequadamente às medidas 
anteriores, pode-se prescrever o uso de agentes laxativos. 
Encontram-se melhores evidências de que a lactulose, o 
polietilenoglicol e o psyllium podem aumentar a frequência ou 
reduzir a consistência das fezes, sendo mais eficazes do que 
placebo. 
Os agentes laxativos podem ser utilizados de forma 
intermitente, por períodos de alguns dias intercalados com 
intervalos sem medicamentos, ou de forma crônica. O uso de 
laxativos deve levar em consideração o custo e a efetividade 
individual. 
 
 
 
Parece adequado utilizar laxantes de forma escalonada, e sem 
sobreposição: 
• Primeiramente, agentes formadores de bolo fecal, os 
quais são seguros e de baixo custo, em conjunto com 
o aumento de fibras, de líquidos e a realização de 
exercícios físicos. Lembrar-se de que os formadores 
de bolo demoram 7 a 10 dias para produzirem 
efeitos. 
• Posteriormente, pode ser utilizado um laxante 
osmótico, se necessário. Os laxantes osmóticos têm 
um tempo de início de ação de 24 a 48 horas. 
• Em seguida, prescrever os laxantes estimulantes e 
emolientes, que devem ser usados apenas na 
ausência de resposta aos agentes anteriores. Os 
laxantes emolientes (óleo mineral, docusato) 
necessitam de atenção em pessoas com disfagia, 
pelo elevado risco de aspiração. Além disso, em 
prazo mais prolongado, podem prejudicar a 
absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). 
• Laxativos procinéticos: a prucaloprida é um agonista 
serotoninérgico enterocinético que age aumentando 
os movimentos intestinais em pacientes com 
constipação severa. A lubiprostona é um estimulador 
seletivo dos canais de cloro tipo 2, localizados na 
membrana apical do epitélio gastrintestinal. Como 
resultado, há um aumento na secreção de líquido 
intestinal rico em cloro, o que estimula os 
movimentos intestinais e facilita a passagem de fezes 
amolecidas (hidratadas) através do intestino. Ambos 
são recomendados em constipação severa e não 
responsiva aos demais laxantes, devendo-se usá-los 
como tratamento de exceção. São, ainda, de custo 
mais elevado e menos disponíveis. 
Enemas (glicerinados ou de água morna) 
Em pessoas com constipação de difícil tratamento, como 
idosos que têm pouca mobilidade ou doenças neurológicas, 
mudanças dietéticas e laxantes podem não ter efeito. Nesses 
casos, se a evacuação não ocorre a cada 3 dias e houver 
sintomas de desconforto, ou, ainda, quando houver fecaloma, 
podem ser utilizados enemas (glicerinados ou de água morna) 
por alguns dias consecutivos (sugere-se não exceder 3 dias) 
e fragmentação digital do fecaloma, para promover a 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
118 
desimpactação fecal, e, após uma adequada limpeza do trato 
digestório, manter uso de laxantes diariamente para 
manutenção e facilitação da evacuação. 
Nesses casos, a preferência é pelos laxantes com melhor 
evidência de benefício, como os osmóticos (polietilenoglicol e 
lactulose), seguidos dos laxantes estimulantes. Em pacientes 
acamados ou demenciados, pode ser necessária a 
manutenção de enemas, uma ou duas vezes na semana, para 
evitar recorrência na impactação, além do uso de supositórios 
de glicerina associados aos laxantes, uma vez que estes 
também auxiliam na liquefação das fezes. 
Quando Referenciar 
O encaminhamento deve considerar a presença de patologias 
associadas, resposta ao tratamento e os recursos 
disponíveis. 
Constipação funcional crônica refratária pode exigir avaliação 
por equipe multiprofissional (gastroenterologista, 
proctologista, nutricionista, psicólogo). 
Exames especializados (ex.: trânsito colônico, manometria 
anorretal, defecografia) ajudam a indicar tratamentos 
como biofeedback, toxina botulínica ou cirurgia. 
Doenças anorretais dolorosas (fissuras, prolapsos, 
hemorroidas, abscessos) devem ser avaliadas por 
proctologista se refratárias. 
Retocele só deve ser encaminhada se o esvaziamento for 
incompleto, mesmo com manobras manuais. 
Alterações estruturais (estreitamento colônico, 
megacolo/retreto, doença de Hirschsprung) requerem 
avaliação cirúrgica. 
Sinais de alerta (ex.: suspeita de neoplasia) 
demandam encaminhamento urgente. 
Pessoas acamadas ou com demência, sem resposta a 
laxantes/enemas, podem precisar de desimpactação 
hospitalar. 
Quadros de abdome agudo ou oclusão intestinal deve ter 
referenciamento cirúrgico imediato. 
Papel da Equipe Multiprofissional 
Enfermeiro: 
• Importante na escuta e triagem de casos que exigem 
atenção médica. 
• Atua no seguimento de pacientes com medidas não 
farmacológicas. 
• Auxilia na detecção de casos refratários. 
• Essencial em pacientes acamados, orientando 
famíliassobre cuidados 
como enemas e supositóriosdomiciliares. 
Nutricionista: 
• Indicado para orientar ajustes dietéticos, como o 
aumento de fibras, líquidos e uso de coquetéis 
laxativos naturais. 
Psicólogo: 
• Contribui nos casos com aspectos 
emocionais relevantes ou resistência ao tratamento, 
comuns na constipação crônica. 
Árvore da Decisão 
 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1481. ISBN 9788582715369. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788
582715369/. Acesso em: 06 jun. 2025. 
SEMANA 16: DIAGNÓSTICO E 
ACOMPANHAMENTO DAS 
PRINCIPAIS PARASITOSES 
INTESTINAIS NA APS – DATA: 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
119 
• Compreender o diagnóstico e acompanhamento das 
principais parasitoses intestinais na APS. 
Parasitoses Intestinais 
As parasitoses intestinais são doenças cujos agentes 
etiológicos são helmintos ou protozoários que, em pelo menos 
um dos períodos do ciclo evolutivo, se localizam no aparelho 
digestório do homem. A via oral-fecal é a principal fonte de 
infecção, bem como água ou alimentos contaminados. 
As parasitoses intestinais são um problema de saúde pública 
mundial. Elas pertencem ao grupo de doenças infecciosas 
negligenciadas (DINs), em especial as helmintíases 
transmitidas pelo solo (HTSs). 
Saneamento básico e medidas individuais e coletivas de 
higiene são de extrema importância para se evitar a 
transmissão de parasitas. 
Em condições de grande vulnerabilidade, o tratamento 
periódico das parasitoses intestinais diminui a sua 
prevalência, principalmente se associado a medidas de 
saneamento básico e higiene. 
Em condições de higiene e saneamento básico adequados, a 
suspeita diagnóstica deve basear-se na anamnese, no exame 
físico e, se necessário, em exames complementares. Não é 
necessário o tratamento periódico para parasitoses intestinais 
nesses casos. 
 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu as HTSs 
(Ascaris, Trichuris e Ancylostoma) entre as DINs, bem como 
no plano mundial de desparasitação (deworming), para 
reduzir a prevalência entre crianças em idade escolar nas 
áreas de alto risco. No Brasil, a quimioterapia preventiva 
visando ao controle da HTS foi regulamentada em um plano 
nacional para o controle de DINs. 
Os parasitas que mais comumente causam parasitoses 
intestinais são Giardia lamblia (giardíase), Ascaris 
lumbricoides, Trichuris trichiura (helmintíases) e Ancylostoma 
duodenale. Menos prevalentes são as parasitoses causadas 
por Strongyloides stercoralis (helmintíase) e Enterobius 
vermicularis (enterobíase ou oxiuríase). 
Quanto à amebíase, em algumas das referências pesquisadas, 
esse parasita aparece com baixa prevalência. Em outras, 
evidencia-se como uma das enteroparasitoses mais 
prevalentes, junto com Giardia, Ascaris e Trichuris. 
Os agentes causadores de teníase (Taenia solium e Taeni a 
saginata), apesar da baixa prevalência quando comparados 
aos parasitas supracitados, são importantes devido às graves 
complicações do complexo teníase/cisticercose, devendo ser 
lembrados em momentos de diagnósticos diferenciais, 
principalmente em regiões com precárias condições de 
saneamento. A localização mais frequente da cisticercose é o 
sistema nervoso central (SNC), sendo responsável por muitas 
formas de epilepsia. 
O Schistosoma mansoni, causador de esquistossomose, 
apesar da baixa prevalência e de ser endêmico em regiões 
restritas do Brasil tem sua relevância clínica pelo número 
expressivo de formas graves e óbitos. 
Entamoeba coli e Endolimax nana são parasitas encontrados 
com frequência nos exames coproparasitológicos; porém, 
normalmente não têm ação patogênica. 
Quando Pensar 
Sempre se deve pensar em parasitoses intestinais em locais 
onde há condições de higiene precárias. Os principais 
condicionantes das enteroparasitoses são as circunstâncias 
de higiene e o saneamento básico, bem como o nível 
socioeconômico e a escolaridade da população analisada. As 
maiores prevalências ocorrem em situações de condições 
mais precárias, o mesmo ocorrendo para o poliparasitismo. 
As crianças (2-6 anos) que frequentam creches apresentam 
maior prevalência de parasitoses quando comparadas às 
crianças que não frequentam essas instituições. Tais 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
120 
diferenças mantêm-se tanto para helmintos como para 
protozoários. 
Nos casos de enterobíase, as maiores prevalências estão 
associadas ao baixo nível de escolaridade materna, a 
habitações em áreas rurais e às precárias condições de 
higiene, principalmente após a defecação. 
Sintomas 
Sintomas podem ou não estar presentes, variando de 
ausência a estado subagudo ou crônico. Os sintomas, muitas 
vezes, são vagos e inespecíficos, o que dificulta o diagnóstico 
clínico, salvo exceções de prurido anal em casos de 
enterobíase (oxiuríase) e quando há eliminações de vermes 
na ascaridíase. 
Os sintomas podem manifestar-se por: 
• Diarreia: aquosa, mucoide, aguda, persistente, 
intermitente; 
• Dor abdominal: desconforto vago a cólicas; 
• Dispepsia; 
• Anorexia; 
• Astenia; 
• Emagrecimento; e 
• Distensão abdominal. 
Em crianças com enteroparasitas, observaram-se: 
• Sintomas intestinais: diarreia, vômito, epigastralgia, 
perda de apetite, flatulência; 
• Sintomas cutâneos: prurido; 
• Sintomas respiratórios: tosse, dor de garganta, 
secreção nasal. 
Associação significativa: 
• Ascaridíase → epigastralgia; 
• Giardíase → dor abdominal, diarreia e flatulência. 
Entamoeba histolytica não apresentou associação com 
sintomas. 
Morbidades associadas: déficit pôndero-estatural e anemia 
ferropriva. 
 
 
 
 
Principais Parasitoses 
Ascaridíase e Tricuríase 
Transmissão 
Sua transmissão pode ocorrer através de alimentos vegetais 
mal lavados (hortaliças), terra contaminada e água não 
tratada (ausência de rede de distribuição e de coleta), entre 
outros fatores em que ocorra exposição ao meio ambiente 
contaminado. 
O parasita adulto habita o trato gastrintestinal (TGI), produz 
ovos, que são eliminados através das fezes para o meio 
ambiente, onde requerem período de maturação para se 
tornem infectantes. 
Complicações da Ascaridíase 
Obstrução intestinal, perfuração intestinal, volvo, colecistite, 
pancreatite, abscesso hepático, manifestações pulmonares 
(broncospasmo, hemoptise, pneumonite – síndrome de 
Löefler –, eosinofilia importante). 
Complicações da Tricuríase 
Anemia severa, em grandes infestações, e o decorrente atraso 
no desenvolvimento de crianças, em condições crônicas. 
Giardíase 
Transmissão 
A transmissão ocorre pelo contato entre humanos (oral-fecal), 
mesmo em ambientes saneados, também podendo ocorrer 
por água contaminada, visto que a eliminação do parasita 
infectante ocorre desde o momento de eliminação das fezes. 
Complicações 
Síndrome de má absorção. 
Enterobíase 
Transmissão 
A transmissão se dá pelo contato interpessoal. As fêmeas 
adultas depositam ovos na região perianal, causando como 
sintomatologia o prurido. Os ovos podem ser transmitidos 
diretamente para os contatos da pessoa infectada, 
indiretamente através de poeiras, alimentos ou roupas 
contaminados, e, também, pode haver a retroinfestação, com 
a migração das larvas para as regiões superiores do intestino. 
Complicações 
Vulvovaginites, salpingites, infecções devido às escoriações 
provocadas pela coçadura, granulomas pélvicos. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
121 
Estrongiloidíase e Ancilostomíase 
Transmissão 
São transmitidas pela penetração da larva filarioide através da 
pele, chegando aos pulmões e, destes, ao TGI, onde se 
desenvolve o indivíduo adulto. As formas adultas liberam 
larvas não infectantes que, no meio externo, podem tornar-se 
infectantes ou indivíduos adultos de vida livre, com capacidadede acasalamento, mantendo o ciclo de infestação. Animais 
domésticos (gatos e cachorros), além do homem, podem ser 
reservatórios deste parasita. 
Complicações da Estrongiloidíase 
Síndrome de má absorção, síndrome de Löefler. Em 
imunocomprometidos, em uso de corticoides ou com 
desnutrição grave: edema pulmonar, superinfecção, infecção 
oportunística. Formas sistêmicas: sepse. 
Complicações da Ancilostomíase 
Anemia, hipoproteinemia (insuficiência cardíaca, anasarca), 
hemoptise, pneumonite (quando larvas migram para os 
pulmões). 
Amebíase 
Transmissão 
A transmissão ocorre pela ingesta de água e/ou alimentos 
contaminados por dejetos contendo cistos do protozoário. 
Complicações 
Granulomas (amebomas) no intestino grosso, abscesso 
hepático, abscesso cerebral, abscesso pulmonar, colite 
fulminante, empiema, pericardite. 
Teníase 
Transmissão 
A teníase ocorre por ingesta de carne crua ou mal passada de 
animais com cisticercose, seja ela por cisticerco de T. saginata 
(carne de vaca) ou cisticerco de T. solium (carne de porco). 
Fatores econômicos, culturais (hábitos alimentares) e 
religiosos tendem a expor certos grupos de indivíduos em 
maior ou menor grau, como o uso de carne crua. 
A cisticercose humana ocorre quando o homem se torna 
hospedeiro intermediário após a ingesta de ovos de T. solium. 
Após 1 a 3 dias da ingestão de ovos, ocorre liberação dos 
embriões no duodeno e jejuno. As larvas alcançam a 
circulação sanguínea e se fixam em diversos tecidos. 
A teníase é um fator importante para o aparecimento da 
cisticercose humana, havendo inter-relação estreita entre 
teníase e cisticercose. O homem adquire cisticercose pela 
ingestão de ovos de T. solium por meio de alimentos 
contaminados, uso de água de irrigação e em área de criação 
de porcos. 
Outra fonte importante de contaminação são os 
manipuladores de alimentos, e o próprio portador de teníase, 
em razão de maus hábitos de higiene, também pode auto 
contaminar-se. 
Complicações da Teníase/cisticercose 
Quando há ingesta, pelo homem, de ovos da tênia adulta, os 
embriões podem migrar para o SNC, causando a 
neurocisticercose, sendo considerada a mais grave das 
infecções parasitárias do sistema nervoso humano, podendo 
causar convulsões, hipertensão intracraniana, cefaleia e 
meningite. 
A cisticercose pode localizar-se também no globo ocular, 
causando cegueira, e no tecido muscular, causando cãibras. 
A neurocisticercose é considerada a causa isolada mais 
comum de epilepsia. 
Esquistossomose 
Transmissão 
É adquirida pelo contato pele e mucosas em consequência do 
contato humano com águas de lagoas contendo formas 
infectantes do S. mansoni (larvas cercárias). Quando a larva 
cercária penetra na pele ou mucosa do homem, atinge a 
circulação sanguínea e se instala preferencialmente no fígado 
até atingir a fase adulta do verme, deslocando-se para os 
vasos mesentéricos no intestino grosso e delgado, iniciando a 
postura de ovos pelas fezes, que são eliminados em lagoas. 
Os ovos na água se transformam em miracídios que, em 
contato com o caramujo Biomphalaria, fazem ciclo 
intermediário no intestino do animal, transformando-se em 
larvas cercárias que penetram no ser humano, e o ciclo se 
reinicia. A transmissão da doença depende da presença do 
homem infectado, excretando ovos do helminto pelas fezes, e 
dos caramujos Biomphalaria que vivem em água-doce, que 
atuam como hospedeiros intermediários, liberando larvas 
infectantes (cercárias) do verme nas coleções hídricas 
utilizadas pelos seres humanos. 
Complicações 
A partir da penetração das larvas cercárias na pele ou nas 
mucosas e todo o ciclo realizado na circulação sanguínea, 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
122 
fígado, intestino, a doença apresenta a forma aguda, e a 
crônica, a partir de 120 dias do início do ciclo. A forma aguda 
se caracteriza por diarreias sanguinolentas, e a fase crônica 
pode apresentar a forma hepatoesplênica, que pode causar 
cirrose, aumento do fígado e baço; em situações 
descompensadas, ascite. Pode causar também hipertensão 
porta, com o aparecimento de varizes esofágicas que podem 
provocar hemorragia digestiva alta, além de anemia. 
Diagnóstico Diferencial 
• O diagnóstico diferencial deve considerar critérios 
clínicos e epidemiológicos. 
• Parasitoses podem se confundir com infecções 
por vírus e bactérias, sobretudo devido à diarreia 
aguda e sintomas gastrointestinais semelhantes. 
• A etiologia varia conforme território, saneamento 
básico e meios de transmissão (água, alimentos, 
animais, contato interpessoal). 
• Estudo em hospital universitário de São Paulo 
revelou: 
o Bactérias como principais agentes 
(especialmente E. coli e Clostridium); 
o Vírus (com destaque para rotavírus) em 
segundo lugar, isoladamente ou associados 
às bactérias; 
o Parasitas, em menor proporção. 
• A avaliação clínica deve incluir exame físico 
detalhado e análise do estado de hidratação, 
especialmente em crianças e idosos. 
• A maioria das diarreias virais e bacterianas 
é autolimitada e tratável com hidratação 
oral e orientação alimentar. 
• Casos graves exigem hidratação venosa e, quando 
necessário, antibióticos, principalmente nas 
infecções bacterianas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Principais agentes etiológicos e formas de transmissão 
para diagnóstico diferencial em diarreias agudas 
 
 
Prevenção 
Um plano de tratamento periódico, somado às medidas de 
higiene e saneamento básico nas populações vulneráveis, em 
longo prazo, é importante para a diminuição da prevalência 
das parasitoses intestinais nestas comunidades. O mesmo não 
se aplica aos casos de baixa vulnerabilidade, que devem ser 
avaliados conforme anamnese, exame físico e exames 
complementares, quando indicados. 
Prevenção Primária 
Envolve medidas de saneamento básico, armazenamento e 
coleta de lixo adequada, higiene pessoal, de animais 
domésticos e de alimentos, além de medidas de educação 
para a saúde. 
Prevenção secundária e terciária 
Inclui programa de desparasitação periódica para populações 
vulneráveis, tendo em vista a alta prevalência de 
enteroparasitoses nestas populações. Os dois tipos de 
prevenção se somam, pois nas populações vulneráveis são 
mais custo-efetivos; além disso, tratar o grupo periodicamente 
traz mais benefícios do que riscos para os indivíduos não 
contaminados, sem a necessidade de diagnóstico laboratorial 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
123 
para tratar somente os casos. Além disso, os indivíduos com 
desnutrição e déficit no desenvolvimento se beneficiarão com 
o tratamento, caso estejam com enteroparasitose. 
Quimioterapia preventiva 
Indicada para as HTSs. A OMS defende uma estratégia de 
controle global contra helmintíases mais prevalentes, 
enfatizando a quimioterapia preventiva voltada para 
comunidades de alto risco, em combinação com educação em 
saúde e melhoria de saneamento sempre que os recursos 
permitirem. 
A OMS/OPAS, com apoio do CDC, recomenda desparasitação 
periódica (deworming) em crianças em idade escolar, 
especialmente na América Latina e Caribe. 
Objetivo: reduzir a prevalência de helmintíases transmitidas 
pelo solo (HTSs) de >50% para 50% → tratar todas as crianças duas 
vezes ao ano. 
• Prevalência entre 20% e 50% → tratar uma vez ao 
ano. 
Medicamentos em dose única: 
• Mebendazol 500 mg: todas as idades. 
• Albendazol 200 mg: crianças de 12 a 23 meses. 
• Albendazol 400 mg: crianças com mais de 23 meses. 
Prevenção Quaternária 
Deve-se evitar uso excessivo e desnecessário de 
medicamento em populações que não pertençam àquelas 
cujos condicionantes para as enteroparasitoses se façam 
presentes, bem como evitar realização excessiva de exames 
para diagnóstico e confirmação de tratamento nas populações 
vulneráveis, cujas prevalências dasenteroparasitoses são 
altas. 
Tratamento 
A infecção por enteroparasitas é mais comum em crianças que 
frequentam creches e vivem em áreas com saneamento 
básico precário. 
A abordagem deve incluir: 
• Educação em saúde, com foco em hábitos de higiene. 
• Tratamento antiparasitário periódico, mesmo sem 
confirmação laboratorial (exame 
coproparasitológico), visando controle da 
transmissão e reinfecção. 
O tratamento empírico é considerado seguro e mais 
econômico. É recomendado a partir dos 2 anos de idade, pois 
a segurança e dosagem dos antiparasitários não estão 
estabelecidas para menores de 2 anos, exigindo avaliação 
individual. 
Fármaco de escolha em ausência de dados locais: preferir 
antiparasitário de amplo espectro. 
Albendazol (uso a cada 4 meses): cobre ascaridíase, 
enterobíase, ancilostomíase, estrongiloidíase e giardíase, 
embora não seja a primeira escolha para giardíase, 
principalmente se for avaliada sua baixa eficácia 21 dias após 
o tratamento; porém é a opção mais abrangente (no caso de 
se usar uma única medicação) visando ao controle das 
parasitoses mais prevalentes em geral. 
• Alta prevalência de giardíase: considerar associação 
com tinidazol ou metronidazol. 
Objetivo: controle individual e redução da prevalência 
comunitária. 
Efeitos adversos comuns e geralmente transitórios: gosto 
metálico, náuseas, epigastralgia, cefaleia, tonturas e urticária. 
Medicamentos com mais efeitos colaterais: imidazólicos, 
cloroquina e praziquantel. 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
124 
 
 
 
 
 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1495. ISBN 9788582715369. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788
582715369/. Acesso em: 06 jun. 2025. 
SEMANA 17: ABORDAGEM 
DAS INFECÇÕES DAS VIAS 
AÉREAS SUPERIORES, 
RESFRIADO COMUM E GRIPE 
NA APS – DATA: 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• . 
Objetivos Específicos 
• . 
 
 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
125 
SEMANA 18: POLÍTICA 
NACIONAL DE ATENÇÃO 
INTEGRAL À SAÚDE DA 
MULHER (PNAISM) – DATA: 
21/04/2025 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• Reconhecer Climatério e menopausa. 
Objetivos Específicos 
• Compreender os conceitos e discutir as mudanças 
hormonais do climatério e menopausa. 
• Reconhecer os aspectos clínicos e a abordagem da 
mulher no climatério na APS. 
• Compreender as condutas propostas, seus riscos e 
benefícios. 
• Identificar terapias alternativas. 
Climatério e Menopausa 
O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde 
como uma fase biológica da vida e não como um processo 
patológico. Com a expectativa de vida das mulheres chegando 
aos 80 anos em vários países, calcula-se que, atualmente, 
elas passem cerca de um terço de suas vidas no climatério. 
O espectro clínico do climatério é amplo, incluindo desde 
mulheres assintomáticas até aquelas com múltiplos sintomas. 
A abordagem integral da mulher é indispensável, e 
ferramentas como o método clínico centrado na pessoa e o 
autocuidado apoiado devem ser incluídas na prática do 
médico de família e comunidade. O atendimento individual 
deve incluir o entendimento da sintomatologia, do momento 
de vida, do contexto familiar e ocupacional da mulher, além da 
pesquisa da presença de fatores de risco para doenças 
comuns neste período. 
Todas as mulheres nesse período de suas vidas devem ser 
questionadas e receber orientação sobre as opções de 
manejo dos sintomas indesejáveis. Além disso, devem receber 
aconselhamento sobre os benefícios esperados e os riscos 
potenciais do manejo escolhido no plano conjunto de 
cuidados. Tradicionalmente, o climatério é dividido em pré e 
pós-menopáusico. 
A menopausa é definida por 12 meses de amenorreia após o 
último período menstrual. Reflete uma depleção folicular 
completa ou quase completa e deficiência extrema da 
secreção ovariana de estrogênio. A menopausa ocorre em 
torno dos 50 anos de idade e corresponde à data da última 
menstruação em consequência da falência ovariana. Seu 
diagnóstico é retrospectivo, após 12 meses de amenorreia. A 
menopausa é classificada como natural ou artificial 
(iatrogênica) e como precoce (antes dos 40 anos) ou tardia 
(após os 55 anos). 
A nomenclatura para as diferentes fases deste período foi 
uniformizada pelo STRAW: 
 
A transição menopáusica começa com variações na duração 
do ciclo menstrual e elevação do FSH sérico e termina com o 
último período menstrual, que só é reconhecido após 12 
meses de amenorreia. 
• Estágio –2 (precoce): é caracterizado por uma 
duração variável do ciclo (com mais de 7 dias de 
diferença da duração normal, que é de 21 a 35 dias). 
FSH elevado. 
• Estágio –1 (tardio): é caracterizado pela falha de 
dois ou mais ciclos e um intervalo de amenorreia ≥ 
60 dias, sendo este um período no qual os fogachos 
são comuns. FSH elevado. 
• Perimenopausa: começa no estágio –2 da transição 
menopáusica e termina 12 meses após o último 
período menstrual. FSH elevado. 
• Pós-menopausa divide-se em dois estágios: 
o Estágio +1 (precoce): compreende os 
primeiros 5 a 8 anos após a última 
menstruação. É caracterizado por 
decréscimo adicional e completo da função 
ovariana e perda óssea acelerada, com 
persistência frequente dos fogachos. FSH 
elevado. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
126 
o Estágio +2 (tardio): começa 5 a 8 anos 
após o último período menstrual e termina 
com a morte. FSH elevado. 
Entre mulheres que apresentam sintomas vasomotores 
frequentes (ou seja, fogachos e/ou sudorese noturna em 6 ou 
mais dias nas últimas 2 semanas), observou-se que: 
• Esses sintomas duram, em média, 7,4 anos no total. 
• Mesmo após a menopausa, os sintomas ainda 
persistem por cerca de 4,5 anos. 
• A duração pode ser ainda maior em mulheres afro-
americanas, conforme mostram os estudos. 
• Fatores emocionais e psicológicos, como: ansiedade, 
estresse percebido e sintomas depressivos 
estão associados à maior intensidade e duração dos 
sintomas. 
Manifestações Clínicas 
Deve-se suspeitar de que uma mulher está no climatério 
quando estiver na faixa dos 45-50 anos. Pode ser 
assintomática ou buscar assistência por motivos não 
relacionados ao climatério. 
Quando sintomática, mais frequentemente se apresenta com 
irregularidade menstrual, fogachos, alterações de humor, 
distúrbios do sono e/ou outros sintomas inespecíficos. 
Sintomas da Síndrome Urogenital (SUG) do climatério podem 
estar presentes, como: 
• Ressecamento vaginal e incontinência urinária; 
• Ardor, prurido e dor na relação sexual (dispareunia); 
• Urgência miccional e infecções urinárias recorrentes; 
• Diminuição da lubrificação e da elasticidade vaginal; 
• Redução da libido (pode estar relacionada ou não à 
SUG). 
Diagnóstico 
Anamnese 
É fundamental uma abordagem integral e multidisciplinar. A 
atenção à mulher precisa abranger promoção da saúde, 
prevenção de doenças, assistência aos sintomas 
apresentados e manejo de possíveis dificuldades 
apresentadas nessa fase da vida. 
Principais queixas apresentadas: 
• Fogachos 
• Irritabilidade 
• Alterações no padrão do sono 
• Artralgias/mialgias 
• Palpitações 
• Diminuição da memória e do interesse pelas 
atividades de rotina 
• Diminuição da libido, dispareunia e sintomas 
geniturinários (estes últimos devem ter sua presença 
questionada, uma vez que ocasionalmente não se 
apresentam como queixas iniciais da mulher, e 
muitas questões deixando de ser feitas por vergonha 
ou falta de informação). 
A idade da menarca e a data da última menstruação são 
importantes, assim como a presença de irregularidades 
menstruais. Também é ocasião propícia para investigar o 
método contraceptivo utilizado e exposição sexual de risco. 
Antecedentes pessoais, situações familiares, alterações 
menstruais, sexuais, dados obstétricos e orientaçãosexual da 
mulher auxiliam no entendimento do momento vivenciado. Nos 
antecedentes familiares, a investigação sobre a ocorrência de 
doenças crônico-degenerativas, assim como de neoplasias 
(mama, útero, ovários ou outros), indica a necessidade de 
maior atenção quanto à investigação de tais patologias. 
Dados sobre o trato gastrintestinal e ocorrência de sintomas 
urinários, como infecções ou incontinência, são muito 
importantes. 
Na história social é imprescindível investigar os hábitos 
alimentares, atividades físicas, existência de patologias e uso 
de medicações. Nunca deve ser esquecida a presença de 
fatores de risco, como fumo e álcool em excesso. 
Exame Físico 
Antropometria 
A verificação do peso e da altura, para cálculo do índice de 
massa corpórea (IMC), e a medida da circunferência 
abdominal demonstram a necessidade de maior atenção com 
a nutrição. 
Pressão Arterial (PA) 
A aferição da PA é uma oportunidade para rastreamento de 
alterações: dependendo da sintomatologia, será importante 
como abordagem investigativa diferencial. 
Ausculta 
Ausculta cardíaca e pulmonar. 
Palpação 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
127 
Palpação da tireoide, do abdome. Também pode ser útil a 
avaliação das mamas, axilas e cadeia ganglionar. 
A palpação abdominal e da pelve é direcionada à investigação 
de anormalidades na parede e na cavidade, como dor ou 
alterações nas características dos órgãos. 
Inspeção 
Observação dos membros inferiores. Deve-se proceder à 
inspeção da vulva, com atenção para alterações do trofismo, 
coloração ou adelgaçamento da pele e mucosa. 
Na inspeção dinâmica, são comuns as distopias com 
prolapsos genitais, sendo um bom momento para indicar 
avaliação cirúrgica e/ou orientação da necessidade de 
exercícios para melhora da tonicidade muscular da pelve. 
Exame Especular 
A avaliação da rugosidade da mucosa e da lubrificação do colo 
e da vagina pode refletir a situação hormonal e indicar 
necessidade de tratamento para melhorar o trofismo da 
mucosa, para diminuir o desconforto urogenital ao coito e em 
relação à predisposição a infecções. 
Importante 
Pode haver necessidade de estrogenização previamente à 
coleta do exame citopatológico do colo uterino, tanto por 
dificuldades na coleta quanto por prejuízo da amostra prévia 
por atrofia e por colpite atrófica. Nesta situação, indica-se 
creme vaginal de estriol 0,1% por 1 a 3 meses, o qual deve 
ser utilizado por 21 dias seguidos com pausa de 7 dias, ou 2 
vezes por semana, com pausa 48 horas antes da coleta. Por 
se qualificar como mínima a absorção sistêmica do estrogênio 
tópico, o Ministério da Saúde não considera que exista 
contraindicação em caso de história de câncer de mama, 
exceto em mulheres que utilizam inibidores da aromatase. 
Exames Complementares 
Na maioria das vezes, as dosagens hormonais são 
desnecessárias, sendo o diagnóstico do climatério 
essencialmente clínico. 
Dosagem do FSH 
Quando a menopausa for cirúrgica ou houver dúvida em 
relação à situação hormonal, a dosagem do FSH é suficiente 
para o diagnóstico de hipofunção/falência ovariana quando o 
resultado for maior do que 40 mUI/mL. 
 
Papel da equipe multiprofissional 
Enfermeiro(a)/médico(a) e outros profissionais de nível 
superior de acordo com as atribuições das categorias 
• Cuidados não farmacológicos das queixas no 
climatério. 
• Práticas integrativas e complementares, em especial 
a fitoterapia: 
o Alguns fitoterápicos podem auxiliar no alívio 
dos sintomas presentes no climatério, 
particularmente os fogachos – alteração 
transitória que pode comprometer a 
qualidade de vida das mulheres nesse 
período. 
o Entre os fitoterápicos presentes na Relação 
Nacional de Medicamentos Essenciais 
(Rename), o único que está associado ao 
tratamento dos sintomas do climatério é a 
isoflavona da soja. 
• Abordagem motivacional quanto ao estilo de vida 
saudável (alimentação, atividade física, higiene do 
sono) e elaboração de novos projetos e objetivos 
para essa nova fase da vida. 
• Atenção às redes de apoio social e familiar, relações 
conflituosas e situações de violência. 
• Realizar ações de prevenção de forma 
individualizada, em especial quanto a doenças 
crônico-degenerativas cardiovasculares, metabólicas 
e neoplásicas, de acordo com faixa etária, história, 
fatores de risco e comorbidades: 
o Não há indicação da realização de exames 
de rotina no climatério, eles devem ser 
orientados de forma individualizada, 
quando necessário. 
o Não está indicado o rastreamento universal 
da osteoporose com realização de 
densitometria óssea. 
Médico 
• Terapias não hormonal e hormonal – em casos 
selecionados. 
• Avaliação de necessidade, indicações, 
contraindicações absolutas e relativas. 
• Uso racional de medicamentos. 
• Acompanhamento clínico periódico das mulheres em 
uso de terapia farmacológica, sobretudo a hormonal. 
Equipe multiprofissional 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
128 
Realizar orientação individual e coletiva para as mulheres 
acerca de: 
• Ressignificação do climatério: 
o Abordar a vivência da mulher nessa fase, do 
ponto de vista biopsicossocial. Enfatizar 
que, como nas demais fases da vida, esta 
também pode ser experimentada de forma 
saudável, produtiva e feliz. 
o Incentivar e promover a troca de 
experiências entre as mulheres e a 
realização de atividades prazerosas, de 
lazer, de trabalho, de aprendizagem, de 
convivência em grupo, de acordo com os 
desejos, necessidades e oportunidades das 
mulheres e coletivos. 
• Queixas do climatério. 
• Exercícios da musculatura perineal. 
• Alimentação saudável. 
o Estimular a alimentação rica em vitamina D 
e em cálcio, por meio do consumo de leite, 
iogurte, queijos (principais fontes), couve, 
agrião, espinafre, taioba, brócolis, repolho, 
sardinha e castanhas. 
• Manutenção do peso normal. 
• Prática de atividade física: 
o Orientar a prática de 150 minutos de 
atividade aeróbica de intensidade 
moderada/semana (sejam ocupacionais ou 
de lazer), sendo ao menos 10 minutos de 
atividades físicas de forma contínua por 
período. 
o Promover a realização de atividades de 
fortalecimento muscular duas ou mais vezes 
por semana, além de práticas corporais que 
envolvem lazer, relaxamento, coordenação 
motora, manutenção do equilíbrio e 
socialização, diariamente ou sempre que 
possível. 
• Alterações e medidas de promoção à saúde bucal. 
• Infecções sexualmente transmissíveis, HIV, hepatites. 
• Transtornos psicossociais. 
• Prevenção primária da osteoporose e prevenção de 
quedas: 
o Informar sobre a prevenção primária da 
osteoporose e o risco de fraturas 
associadas. 
o Orientar dieta rica em cálcio (1.200 mg/dia) 
e vitamina D (800-1.000 mg/dia). 
• Aconselhar exposição solar, sem fotoproteção, por 
pelo menos 15 minutos, diariamente, antes das 10h 
ou após as 16h. 
o A suplementação de cálcio e vitamina D só 
está recomendada se não houver aporte 
dietético adequado desses elementos e/ou 
exposição à luz solar. 
o Recomendar exercícios físicos regulares 
para fortalecimento muscular e ósseo, 
melhora do equilíbrio e da flexibilidade. 
o Aconselhar a cessação do tabagismo e a 
redução do consumo de bebidas alcoólicas 
e de cafeína. 
o Avaliar fatores de risco para quedas: 
ambiência doméstica, uso de psicotrópicos, 
dosagem de medicamentos anti-
hipertensivos, distúrbios visuais e auditivos. 
Conduta 
As pacientes que apresentam sintomas vasomotores leves 
devem ser orientadas quanto a mudanças de estilo de vida, 
não sendo indicado inicialmente o tratamento farmacológico. 
Resfriar o ambiente, vestir-se atenta ao clima, tomar banhos 
frequentes, dieta saudável e controle do peso, prática de 
exercícios físicos regulares e cessação do tabagismo podem 
melhorar os sintomas de boa parcela das mulheres. 
Terapia Hormonal (TH) 
A TH permanece o tratamento mais eficaz para os sintomas 
vasomotores (SVMs) e para a síndrome genitourinária da 
menopausa (SGM) e, além disso, demonstrouprevenir a perda 
e fratura óssea. Os riscos da TH diferem dependendo do tipo, 
dose, duração do uso, via de administração, momento da 
iniciação, bem como se um progestogênio é usado. 
O tratamento deve ser individualizado para identificar o tipo 
de TH, a dose, a formulação, a via de administração e duração 
do uso, empregando a melhor evidência disponível para 
maximizar os benefícios e minimizar os riscos, com reavaliação 
periódica sobre continuar ou interromper a TH. 
O conceito mais apropriado é a “dose, duração, regime e via 
apropriada de administração”. Dado o perfil de segurança 
mais favorável do estrogênio sozinho, durações mais longas 
podem ser mais apropriadas. Estratificação de risco por idade 
e tempo desde a menopausa é recomendada. 
As doses transdérmicas ou menores de TH podem diminuir o 
risco de tromboembolia venosa e acidentes vasculares 
cerebrais. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
129 
Para as mulheres com idade inferior a 60 anos ou que estão 
dentro de 10 anos do início da menopausa e não têm contra-
indicações, a relação risco-benefício é mais favorável para o 
tratamento dos SVMs incômodos e para aqueles com alto risco 
de perda ou fratura óssea. 
Mulheres que iniciam TH mais de 10 ou 20 anos após o início 
da menopausa ou têm 60 anos ou mais apresentam maiores 
riscos absolutos de doença cardíaca coronária, acidente 
vascular cerebral (AVC), tromboembolia venosa e demência. 
O início do tratamento neste grupo etário mais idoso deve, 
consequentemente, ser abordado com cautela, embora uma 
discussão sobre os benefícios e os riscos da TH em mulheres 
mais velhas possa ser considerada para aquelas que optam 
por iniciá-la ou reiniciá-la. Maiores durações da terapia devem 
ser para indicações documentadas, como SVM persistente ou 
perda óssea, com tomada de decisão compartilhada e 
reavaliação periódica. 
Para sintomas genitais de SGM não aliviados com medidas 
conservadoras ou para quando sintomas genitourinários 
isolados são causados pela menopausa, baixa dose de terapia 
estrogênica (TE) tópica vaginal é recomendada sobre a TE 
sistêmica como primeira escolha de tratamento. 
Com a interrupção da TH, praticamente todas as mulheres 
perderão densidade mineral óssea, com risco aumentado de 
fraturas ósseas e excesso de mortalidade por fratura do 
quadril. Além disso, não há evidências para apoiar a 
interrupção de rotina da TH após a idade de 65 anos. 
As decisões sobre uma duração mais longa da terapia devem 
ser individualizadas e consideradas para indicações como 
SVMs persistentes ou perda óssea, com tomada de decisão 
compartilhada, documentação e reavaliação periódica. E os 
riscos de um uso prolongado de TH podem ser minimizados 
com o uso de doses mais baixas de estrogênio e 
progestogênios, o uso de terapias transdérmicas para evitar 
o efeito de primeira passagem hepática, ou a combinação de 
estrogênio conjugado com o bazedoxifeno, que fornece 
proteção endometrial sem necessidade de progesterona. 
A TH pode ser inadequada para algumas mulheres, incluindo 
aquelas com maior risco de doença cardiovascular, aumento 
do risco de doença tromboembólica ou risco aumentado de 
alguns tipos de câncer (câncer de mama, em mulheres com 
útero). O risco de câncer de endométrio em mulheres com 
útero que usam TH somente com estrogênio está bem 
documentado. 
TH não é indicada para a prevenção primária ou secundária 
de doenças cardiovasculares ou demência, nem para a 
prevenção da deterioração da função cognitiva em mulheres 
pós-menopáusicas. Embora a TH seja considerada eficaz para 
a prevenção da osteoporose pós-menopáusica, geralmente é 
recomendada como opção apenas para mulheres com risco 
significativo, para as quais as terapias não estrogênicas não 
são adequadas. 
Mulheres com insuficiência ovariana prematura (IOP), com 
menopausa cirúrgica ou natural precoce têm maiores riscos 
de perda óssea, doença cardíaca e demência ou distúrbios 
afetivos associados à deficiência de estrogênio. Em estudos 
observacionais, esse risco parece aproximar-se do normal se 
TE é administrada até a idade mediana da menopausa, 
momento em que as decisões de tratamento devem ser 
reavaliadas. 
Continuar a terapia permanece uma decisão individual em 
mulheres selecionadas e bem aconselhadas com mais de 60 
ou 65 anos. Não há dados para apoiar a interrupção da rotina 
em mulheres com idade de 65 anos. 
Apesar de existirem alternativas terapêuticas para o alívio de 
SVMs, nenhuma tem se mostrado tão efetiva quanto o 
estrogênio. O progestagênio sempre deve ser acrescentado 
em mulheres que não são histerectomizadas. A 
individualização com tomada de decisão compartilhada é 
essencial, com reavaliação periódica para determinar um perfil 
individual de risco-benefício para a mulher. 
Benefícios da TH 
Podem incluir alívio de SVMs incômodos, prevenção da perda 
óssea para mulheres com alto risco de fratura, tratamento de 
SGM e melhora do sono, bem-estar ou qualidade de vida. 
Riscos atribuíveis absolutos 
• Mulheres na faixa etária de 50 a 59 anos ou dentro 
de 10 anos do início da menopausa: os riscos são 
baixos. 
• Mulheres a partir de 60 anos de idade com mais de 
10 anos do aparecimento da menopausa: riscos 
parecem ser maiores, particularmente para aquelas 
idosas de 70 anos ou mais ou que estão com mais 
de 20 anos de início da menopausa. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
130 
 
 
Atrofia Urogenital 
Estrogenioterapia tópica vaginal 
Indicação: mulheres com sintomas exclusivamente urogenitais 
(ex.: vaginite atrófica, síndrome uretral, incontinência 
urinária). 
Fármacos recomendados: 
• Estriol ou promestriene: 2 cc (2 mL) do creme, 1–
2x/semana. 
• Estrogênios equinos conjugados: indicado em casos 
de atrofia intensa e necessidade de resposta rápida 
(1–2 cc, 1–2x/semana). 
Cuidados: risco de efeitos sistêmicos, como: 
• Mastalgia 
• Alterações endometriais (em mulheres idosas ou 
sensíveis) 
Evidências (Revisão Cochrane, 2016): 
• Sem diferença de eficácia entre preparações 
estrogênicas intravaginais. 
• Comparado ao placebo: melhora dos sintomas de 
atrofia vaginal. 
• Espessamento endometrial: associado ao uso de 
creme (possivelmente pela dose mais alta), em 
comparação ao anel. 
• Eventos adversos: sem diferenças relevantes entre 
os tipos de preparações ou com placebo. 
Tibolona 
• Descrição: esteroide sintético com ação estrogênica, 
androgênica e progestogênica. 
• Indicação: tratamento dos sintomas 
vasomotores e preservação da densidade mineral 
óssea. 
• Dose usual: 2,5 mg/dia. 
Comparação com TH combinada: 
• Menor eficácia no alívio dos sintomas da menopausa. 
• Menor incidência de sangramento vaginal. 
Segurança a longo prazo: 
• Contraindicada em mulheres com histórico de câncer 
de mama – aumenta o risco de recorrência. 
• Maior risco de AVC em mulheres > 60 anos. 
Contraindicações a TH 
História de câncer de mama, câncer de endométrio, 
sangramento genital não esclarecido, doença arterial 
coronariana, porfiria, antecedentes de doença 
tromboembólica ou AVC, doença hepática em atividade ou 
aquelas pacientes de alto risco para o desenvolvimento de tais 
complicações. Em mulheres saudáveis, o risco de um evento 
adverso é baixo, sendo seguro para a maioria das pacientes. 
Riscos e Benefícios 
Em relação ao tromboembolia venosa, estudos observacionais 
mostram que a terapia estrogênica aumenta o seu risco. Em 
estudo realizado com aproximadamente 16.000 mulheres 
mostrou que o regime combinado aumentou o risco de doença 
arterial coronariana, câncer de mama, AVC e tromboembolia 
venosa. O estudo também encontrou um risco diminuído de 
câncer colorretal, fraturas de quadril e fraturas em geral com 
TH combinada. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
131 
Outro estudo apenas com estrogênio conjugado, em mulheres 
sem útero, mostrou que aquelas que tomavam apenas 
estrogênio não apresentaram alteração significativa no risco 
de doença coronariana ou câncer de mama e,semelhante ao 
estudo de estrogênio combinado e progesterona, aumento de 
AVC e tromboembolia venosa. 
Uma revisão de ambos os estudos, após um acompanhamento 
médio de 13 anos, revelou que as mulheres em terapia 
hormonal combinada tiveram aumento significativo no risco de 
câncer de mama e tromboembolia venosa, e uma redução na 
fração de fratura do quadril. 
Em contraste, as mulheres que tomavam apenas estrogênio 
tinham um risco reduzido de câncer de mama. A “hipótese do 
tempo” sugere que a terapia hormonal no começo da 
menopausa (em comparação com o início 10 anos ou mais 
após o começo da menopausa) pode ser cardioprotetora 
devido à aparente habilidade do estrogênio em diminuir a 
progressão da aterosclerose em mulheres mais jovens. A TH 
não deve ser iniciada, contudo, para prevenção de doença. 
Quanto ao diabetes tipo 2 (DM2), o National Institute for 
Health and Care Excellence (NICE) indica que se explique à 
mulher que o uso de TH não está associado com aumento do 
risco de desenvolver diabetes, e a NAMS destaca que a TH 
reduz a incidência de DM2, mas que não está indicada para 
esse propósito. 
 
 
Terapia não hormonal para o tratamento dos sintomas 
vasomotores do climatério 
Existem tratamentos alternativos para as mulheres que não 
desejam ou não podem usar hormônios. 
 
Para mulheres com ondas de calor moderadas a severas 
ocorrendo durante o dia e a noite, sugerem-se terapias não 
hormonais, tais como: 
• ISRN, ISRS ou gabapentina. 
Para mulheres com sintomas moderados a graves e 
predominantemente diurnos, sugere-se: 
• Paroxetina ou citalopram como medicamentos de 
primeira escolha. 
Para mulheres com sintomas predominantemente noturnos, 
sugere-se: 
• Gabapentina (B): normalmente, usa-se uma dose 
única para dormir (300 mg, ou até mesmo 100 mg, 
se necessário, titulando até 900 mg, de acordo com 
o alívio dos sintomas ou efeitos colaterais), o que 
aproveita o efeito sedativo da gabapentina e 
minimiza a sedação diurna. 
OBS.: uma vez que os SVMs diminuem gradualmente sem 
terapia na maioria das mulheres pós-menopáusicas, o 
medicamento pode ser diminuído gradualmente após 1 a 2 
anos de administração. As pacientes devem ser instruídas em 
como diminuir os SSRIs e SNRIs para evitar sintomas de 
abstinência. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
132 
Para as mulheres em uso de tamoxifeno por qualquer 
indicação, sugere-se: 
• Citalopram, escitalopram ou venlafaxina para tratar 
ondas de calor, pois apresentam efeitos mínimos 
para bloquear a CYP2D6. 
• Outra opção, com menor eficácia, é a clonidina 
(podendo ser considerada no caso de pacientes 
hipertensas). 
• Quanto à sulpirida, não há evidências suficientes que 
sustentem sua utilização. 
Terapias Alternativas e Complementares 
 
 
 
 
Saúde da mulher no climatério 
Do ponto de vista populacional, é recomendado o 
rastreamento de câncer de colo uterino e de mama. Há 
destaque para a falta de evidências de rastreamento de 
neoplasias de endométrio e de ovário e, também, para a 
necessidade de se evitar o uso indiscriminado da 
densitometria óssea. 
Avaliação Endometrial 
É indicada ultrassonografia transvaginal para avaliação 
endometrial nas seguintes situações: mulheres, mesmo 
assintomáticas, utilizando TH, moduladores seletivos dos 
receptores de estrogênios (SERMs), tibolona, fitoterápicos e 
qualquer outro tratamento que apresente ação estrogênica. 
• É considerada normal na fase pós-menopáusica uma 
espessura endometrial de até 5 mm (e até 8 mm nas 
mulheres usuárias de TH). 
• Nos casos de espessamento, é mandatória a 
investigação por histeroscopia e biópsia endometrial. 
É muito importante uma avaliação endometrial adequada 
antes do início da TH, garantindo que um possível 
sangramento irregular no início do tratamento não seja 
atribuído à patologia orgânica. 
Contracepção no Climatério 
Gravidez é possível na perimenopausa → orientar 
contracepção até: 
• Ausência de menstruação por 12 
meses consecutivos, ou 
• FSH em níveis pós-menopausa. 
Todos os métodos anticoncepcionais podem ser usados, 
desde que: 
• Não haja contraindicações clínicas individuais; 
• Avaliem-se riscos e benefícios conforme o perfil da 
paciente. 
Métodos hormonais: 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
133 
• Podem mascarar o diagnóstico de menopausa; 
• TH deve ser iniciada após suspensão dos 
anticoncepcionais hormonais. 
Dupla proteção é recomendada: 
• Uso de preservativo (masculino ou feminino) 
associado a outro método contraceptivo (hormonal 
ou não hormonal). 
Quando Referenciar 
 
 
 
Bibliografia 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M C.; DIAS, Lêda C. Tratado de 
medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, 
formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-
book. p.1154. ISBN 9788582715369. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788
582715369/. Acesso em: 18 mai. 2025. 
SEMANA 19: DIAGNÓSTICO E 
ACOMPANHAMENTO DO 
CORRIMENTO 
VAGINAL/URETRAL – DATA: 
Objetivos da Semana 
Objetivo Geral 
• . 
Objetivos Específicos 
• . 
 
 
 
 
 
 
 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
134Os 
benefícios da indução de cetose, que seriam 
saciedade maior e bem-estar, não são comprovados 
(B). Além disso, essa dieta por um período longo de 
tempo leva à deficiência de micronutrientes, sendo 
necessária a suplementação. 
• Dieta balanceada: a grande vantagem dessa dieta 
é a maior opção de substituição de alimentos, o que 
facilita sua manutenção pela diversidade. Com a 
escolha correta de alimentos, a dieta balanceada 
não necessita de suplementação. Além disso, reduz 
o colesterol lipoproteína de baixa densidade (LDL), 
os triglicérides e os níveis de PA. 
• Dieta pobre em gordura e dieta rica em vegetais: 
com baixa quantidade de gorduras, açúcares e 
farinhas, reduz o peso em longo prazo, se o balanço 
energético for negativo. É importante salientar que 
dietas muito pobres em gorduras podem ser 
deficientes em vitaminas E, B12 e zinco. 
• Substituição de refeições: substituir refeições por 
shakes, barras de cereais ou sopas pode ser uma 
estratégia interessante para perda de peso inicial ou 
quando o objetivo individual é a redução de pouco 
peso. Não há evidências de tratamentos por 
grandes períodos de tempo (mais de cinco anos). 
Atividade Física 
O exercício físico promove benefícios antropométricos, 
metabólicos, neuromusculares e psicológicos ao indivíduo 
obeso. Quando realizado de forma regular, melhora a 
resistência cardiorrespiratória, o perfil lipídico, o bem-estar 
geral, a energia, promove a elevação da sensibilidade dos 
tecidos à insulina, auxilia no controle do DM2, reduz riscos 
cardiovasculares, mesmo quando não ocorre perda de peso. 
Autoestima, imagem corporal, humor, redução da ansiedade 
e depressão também são alterados de forma positiva. 
O paciente deve ser estimulado a uma vida mais ativa, 
reduzindo o tempo total gasto em atividades sedentárias e 
intercalando sessões curtas de atividade física entre períodos 
de atividade sedentária, independentemente do seu hábito 
de exercício físico. A recomendação atual é a prática de 
exercícios físicos de, no mínimo, 150 minutos de exercícios 
moderados por semana para a manutenção do peso e da 
saúde e mais de 150 minutos por semana para promover o 
emagrecimento e evitar a recuperação do peso. Há uma 
relação entre dose e resposta, ou seja, quanto maior a 
duração, a frequência e a intensidade, maiores serão os 
benefícios. 
Tanto as sessões contínuas quanto múltiplas sessões de pelo 
menos 10 minutos são aceitáveis para acumular a 
quantidade desejada de exercício físico diário. Para os 
indivíduos com níveis muito elevados de IMC, em função da 
dificuldade da execução de exercícios físicos, estas metas 
menores podem ser benéficas para a saúde, mesmo que não 
apresentem impacto sobre o peso. 
O hábito da prática de exercícios físicos deve ser gradual, e 
o médico de família pode motivar o paciente auxiliando-o a 
planejar sua atividade física. 
 
Tratamento Comportamental 
Baseia-se em análise e modificações de comportamentos 
disfuncionais associados ao estilo de vida da pessoa. O 
objetivo é implementar estratégias que auxiliem no controle 
do peso, reforçando a motivação e ajudando a evitar a 
recaída. As técnicas enfatizam a busca e a experimentação 
de soluções que levem em conta as características do 
indivíduo e estimulem mudanças globais em outras esferas 
do comportamento, como aumento da autoestima, melhor 
qualidade de relacionamentos, gerenciamento do estresse 
associado à rotina de trabalho, atividade física, sono e lazer. 
As principais técnicas comportamentais utilizadas são: 
• Automonitoramento: registro por escrito realizado 
pela própria pessoa sobre o tipo e a quantidade dos 
alimentos ingeridos, incluindo horários, episódios 
compulsivos, fatores desencadeantes, pensamentos 
e sentimentos relacionados. Esses registros são 
úteis para planejar mudanças na dieta e nas 
atividades diárias para enfrentar as compulsões 
alimentares. Além disso, quando associados ao 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
10 
registro dos pensamentos e sentimentos 
relacionados aos alimentos ingeridos, os registros 
podem ser utilizados para identificar os 
pensamentos disfuncionais e promover uma 
reestruturação cognitiva. 
• Controle dos estímulos: planejamento de 
estratégias que favoreçam a modificação de 
comportamentos disfuncionais. Exemplos da 
aplicação dessas estratégias são planejar as 
compras de alimentos, evitando ou reduzindo a 
compra de itens que possam atrapalhar a dieta, 
como doces, pães e bolos; aumentar a atividade 
física utilizando escadas e usando menos o 
automóvel; planejar atividades novas em horários 
habituais de compulsão, evitando as atividades 
associadas à compulsão, como comer assistindo à 
televisão etc. 
• Resolução de problemas: busca identificar 
estratégias que auxiliem a resolver os problemas 
diários relacionados ao peso e à adesão ao 
tratamento. Essas técnicas envolvem desde como 
lidar com situações estressantes até como participar 
de reuniões com amigos, como festas e jantares. A 
pessoa deve ser estimulada a testar e a discutir as 
estratégias. 
• Reestruturação cognitiva: consiste em identificar 
crenças e pensamentos disfuncionais com relação 
ao peso e à alimentação. Uma vez identificados os 
pensamentos disfuncionais, deve-se questioná-los 
para auxiliar a pessoa a examiná-los e reformulá-los 
em uma base mais realista. Os pensamentos e 
crenças costumam ser explorados por meio da 
contestação dos pensamentos, verificando quais as 
evidências os corroboram ou não. Essa técnica 
remete ao questionamento socrático. A contestação 
do pensamento busca estimular o exame, a 
ponderação, a avaliação e a síntese de diversas 
fontes de informação, objetivando uma avaliação 
independente e racional dos problemas e de suas 
soluções. Não se costuma corrigir respostas, pois, 
em geral, não há “certo” e “errado”. Quando bem 
utilizada, tem forte impacto sobre a organização 
cognitiva da pessoa, mas é um processo que requer 
paciência e tempo. Alguns exemplos de 
pensamentos disfuncionais comumente 
encontrados no obeso são: 
1. Abstração seletiva: prestar atenção e dar mais 
valor a informações que confirmem as suas 
superstições, como, por exemplo: “Ter comido 
este doce indica que eu não sou capaz de 
exercer controle sobre o meu comportamento 
alimentar e não tenho poder sobre a comida”. 
2. Pensamento dicotômico: pensar em termos 
extremos: “Ou eu sigo a dieta perfeitamente e 
emagreço rápido ou não faço nada e sou um 
fracasso” ou “Os alimentos são proibidos ou 
permitidos”. 
3. Pensamento supersticioso: acreditar que 
existe relação entre situações não relacionadas: 
“Se eu for ao shopping sairei da dieta”. 
4. Idealizações: almejar resultados que não 
dependem necessariamente de emagrecer, por 
exemplo: “Acredito que, quando ficar magra, 
saberei melhor o que quero”, “Quando ficar 
magra, serei mais clara nas minhas relações”. 
• Tratamento em grupo ou individual: não há 
evidências de benefícios maiores com tratamentos 
individuais ou em grupo. Nos tratamentos em 
grupos, otimiza-se o suporte social, há maior 
número de ensaios comportamentais, podendo ser 
testadas, na prática, algumas estratégias para 
solução de problemas, como realizar 
confraternizações com alimentos pouco calóricos e 
exercícios em grupo. Na estratégia de saúde da 
família (ESF), em que atividades em grupo são 
bastante empregadas, é importante não perder a 
perspectiva dos objetivos terapêuticos e utilizar, 
sempre que possível, as técnicas comportamentais, 
estimulando sempre a realização da 
automonitoração. Alguns estudos mostram que o 
número de encontros com a equipe de atendimento 
apresenta uma correlação positiva com a perda de 
peso. 
• Benefícios da terapia comportamental: em 
estudos controlados, a perda de peso média em 
terapia cognitivo-comportamental (TCC) é de 4,7 kg 
(0,2-12,9 kg) e se dissipa após 3 anos de 
seguimento. Não há evidência de benefícios de uma 
técnica comportamental sobre as outras, sendo que 
estratégias multimodais sãomais efetivas. 
Medicamentos 
É importante salientar para a pessoa que os medicamentos 
são auxiliares na redução de peso e que seu uso não substitui 
a reeducação alimentar associada à atividade física, assim 
como a necessidade de visitas regulares à equipe de saúde. 
A perda de peso associada à medicação é modesta, em torno 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
11 
de 5 kg e não há evidências que comprovem que um fármaco 
é mais eficaz que outro. 
O uso de medicamentos para emagrecer é bem descrito em 
indivíduos maiores de 18 anos e com IMC maior do que 30 
kg/m2 ou com IMC entre 25 e 30 kg/m2 e comorbidades. Nas 
pessoas com sobrepeso, o uso de medicamento deve ser 
analisado individualmente. 
Entre os medicamentos mais utilizados, estão: 
• Orlistat: Inibidor da lipase gástrica e pancreática, 
promove má absorção e reduz a absorção de 
gorduras em aproximadamente 30%. Redução 
média de peso em 2,7 a 2,9 kg. Não apresenta risco 
cardiovascular, podendo ser usado em pacientes 
cardiopatas, assim como em crianças obesas acima 
de 12 anos como parte do manejo que inclui 
educação alimentar, exercício físico, suporte 
emocional. Como efeitos colaterais pode provocar 
surgimento de gordura nas fezes, flatulência e 
diarreia, o que, muitas vezes, faz o paciente 
descontinuar o tratamento. Esses efeitos 
indesejáveis podem ser controlados pela redução da 
gordura na dieta. Dessa forma, tem papel no 
treinamento comportamental do manejo da dieta. O 
paciente mantém a perda de peso com a 
continuidade do uso. Está contraindicado na 
gestação e em pacientes com má absorção crônica. 
É apresentado em comprimidos de 120 mg, que 
devem ser utilizados com as refeições principais três 
vezes por dia. 
• Liraglutida: é um hipoglicemiante, agonista do 
peptídeo 1 similar ao glucagon (GLP-1), que 
provoca atraso no esvaziamento gástrico e reduz a 
ingesta calórica por ação central. Reduz a glicemia 
e hemoglobina glicada, sendo uma boa opção para 
o uso em diabéticos, mas também pode ser utilizado 
em pessoas não diabéticas, e geralmente não causa 
hipoglicemia. A dose inicial é 0,6 mg em dose única 
diária em injeção subcutânea. A dose pode ser 
aumentada semanalmente até atingir 3 mg (dose 
utilizada nos estudos para redução de peso). A 
perda ponderal em média varia de 4,2 a 5,9 kg. O 
uso em pessoas com pré-diabetes reduziu o 
desenvolvimento de diabetes. Os efeitos colaterais 
são náusea, vômitos, constipação, hipoglicemia, 
diarreia, fadiga, tontura, dor abdominal e aumento 
dos níveis de lipase. Tais efeitos colaterais 
costumam ser transitórios. Seus principais 
inconvenientes são a administração parenteral e o 
alto custo. 
• Semaglutida: age estimulando a produção de 
insulina pelo pâncreas e diminuindo a produção de 
glucagon. Com a utilização desse medicamento e 
uma dieta saudável com prática de exercício físico, 
haverá uma redução dos níveis de glicose na 
corrente sanguínea. Pode ser indicada para 
pacientes com obesidade (IMC ≥ 30 Kg/m2) ou 
excesso de peso (IMC ≥ 27 acom DM na APS; 
• Compreender o tratamento medicamentoso e não 
medicamentoso da pessoa com DM na APS; 
• Abordar a prevenção das complicações do DM na 
APS. 
Diabetes Mellitus (DM) 
DM é uma síndrome caracterizada por hiperglicemia crônica, 
resultante de defeitos na ação da insulina, na secreção de 
insulina ou em ambas. A classificação proposta pela 
Organização Mundial da Saúde e pela Associação Americana 
de Diabetes (ADA), e recomendada pela Sociedade Brasileira 
de Diabetes (SBD), inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1 
(DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos específicos de DM e DM 
gestacional (DMG). Há ainda duas condições, referidas como 
pré-diabetes, que são a GJ alterada e a tolerância à glicose 
diminuída, nomeadas atualmente como risco aumentado de 
diabetes. 
 
Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 
15 
Dos casos de diabetes melito (DM), 90 a 95% são do tipo 2 
(DM2), e, destes, 80% estão relacionados a sobrepeso ou 
obesidade. A busca ativa do diagnóstico do DM2 deve ser 
orientada pela presença de fatores de risco, uma vez que 
muitos indivíduos acometidos podem permanecer 
assintomáticos durante muito tempo. 
O DM2 é uma doença evolutiva, e, independentemente da 
adesão adequada ao tratamento, com o tempo, muitas 
pessoas precisarão de terapia combinada com ou sem 
insulina. A recomendação terapêutica atual para o DM2 de 
diagnóstico recente inclui o uso de metformina. O tratamento 
do DM tipo 1 (DM1) é sempre insulinoterapia intensiva. 
No plano terapêutico, deve-se enfatizar a diminuição do risco 
cardiovascular global por meio de mudanças no estilo de vida 
(MEVs), incluindo alimentação, aconselhamento sobre 
tabagismo, uso de álcool e outras drogas e atividade física. 
A abordagem centrada na pessoa e a participação em grupos 
de suporte, reflexão e educação em saúde permitem a livre 
expressão, pelos pacientes, de suas dúvidas, escolhas e 
desafios em relação ao seu próprio cuidado. 
Epidemiologia 
Devido ao envelhecimento populacional, à crescente 
prevalência de obesidade e ao sedentarismo e à maior 
sobrevida dos pacientes, o diabetes está atingindo 
proporções epidêmicas em todo o mundo. No Brasil, a 
prevalência de DM foi estimada em 7,6%. Segundo dados da 
Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças 
Crônicas por Inquérito Telefônico realizado pelo Ministério da 
Saúde (MS), na população com idade igual ou maior de 18 
anos, no conjunto das 27 capitais, a frequência do diagnóstico 
médico prévio de diabetes foi de 8,9%, sendo menor entre 
homens (7,8%) do que entre mulheres (9,9%) e mais comum 
com o avanço da idade para ambos os sexos. Esse percentual 
pode ser utilizado pelas equipes da estratégia de saúde da 
família para estimar o número de diabéticos do seu território 
e comparar com o número de cadastrados, avaliando a 
necessidade ou não de intensificar ações de busca ativa do 
diagnóstico. 
Etiologia 
 
Classificação 
 
Classe Pré 
– Clínica 
1. Intolerância a glicose. 
2. Disglicemia: corresponde à alteração 
glicêmica em outros tempos da curva 
(exceto tempos 0 e 120 minutos). 
 
 
 
Classes 
Clínicas 
1. DM1: doença autoimune órgão-
específica. Maioria de início na infância 
ou na adolescência. Apresentação de 
sintomas graves de cetoacidose. Pode 
ocorrer em adultos. 
2. DM2: doença metabólica, desencadeada 
por resistência insulínica, tem evolução 
insidiosa, frequentemente com 
complicações instaladas já no 
diagnóstico. 
3. DM secundário a quadro clínico não DM1 
e não DM2: uso exógeno de 
glicocorticoides, pós pancreatite, 
doenças endócrinas (como síndrome de 
Cushing ou acromegalia), uso de 
medicamentos (como antipsicóticos), 
tumores pancreáticos. 
4. Diabetes gestacional. 
 
 
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Rastreamento 
O U.S. Preventive Services Task Force recomenda 
rastreamento apenas para pacientes assintomáticos que 
tenham pressão arterial sistólica (PAS) maior do que 135 ou 
pressão arterial diastólica (PAD) maior do que 80 mmHg, 
ambas sustentadas. 
É importante conhecer os critérios clínicos recomendados pela 
ADA para orientar o rastreamento: 
Critérios para rastreamento do diabetes em adultos 
assintomáticos segundo a American Diabetes 
Association* 
 
IMC > 25 kg/m2 e 
 
1. Sedentarismo 
 
2. História familiar (1o grau) para diabetes 
 
3. HAS 
 
4. Dislipidemia (triglicérides ≥ 250 mg/dL ou HDL ≤ 
35 mg/dL) 
 
5. História de DMG ou RN com mais de 4 kg 
 
6. SOP 
 
7. História prévia de alteração do nível glicêmico 
 
8. Acantose nigricante 
 
9. História de DCV 
* Na ausência dos critérios anteriores, o rastreamento 
deve ser iniciado a partir dos 45 anos. 
 
Indicações para rastreamento de diabete melito tipo 2 
em indivíduos assintomáticos, não gestantes, sem 
diagnóstico prévio da doença. (Fonte: PCDT DM2 – 
Ministério da Saúde) 
Indivíduos com idade a partir de 45 anos – Sugestão de 
exames anualmente 
Indivíduos de qualquer idade com sobrepeso ou obesidade 
e pelo menos um dos seguintes fatores de risco: 
• Etnia negra, hispânico ou latina, asiática ou 
indígena; 
• História familiar de DM – Parente de 1º grau com 
DM; 
• Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS); 
• Doença cardiovascular prévia; 
• HDL-c 250 mg/dL; 
• Síndrome de ovários policísticos; 
• Sedentarismo; 
• História prévia de diabete melito gestacional 
(DMG); 
• Pré-diabete; 
• Presença de acantose nígricans; 
• Apneia obstrutiva do sono; 
• Indivíduos vivendo com HIV/AIDS; 
• Indivíduos com fibrose cística; 
• Indivíduos que realizaram transplante de órgão. 
 
Outras condições associadas à resistência insulínica, como 
obesidade grave e acantose nígricans. 
 
Sugestão de exames: Glicemia de Jejum e se valores 
normais repetir anualmente. Se alterada, seguir 
protocolo. 
 
Crianças ³ 10 anos, ou início da puberdade se ocorrer 
antes dos 10 anos 
IMC > percentil 85% associado a 1 ou 2 dos seguintes 
fatores de risco: 
• História familiar de DM2 em parentes de 1º. e 2º. 
Grau; 
• Sinais de resistência insulínica (acantose 
nigricans, ovários policísticos, HDL baixo e/ou TG 
alto, pequena para idade gestacional – PIG); 
• História materna de DM ou DMG. 
Exames e periodicidade: Glicemia de Jejum e se valores 
normais repetir anualmente. Se alterada seguir 
protocolo. 
 
As seguintes apresentações, contudo, devem levantar a 
suspeita de diabetes: 
• 4 “P’s”: poliúria, polidpsia, polifagia com perda 
ponderal não explicada. A hiperglicemia leva à 
glicosúria, que é responsável pelos sintomas 
clássicos. 
• Cansaço, alteração visual (“visão embaçada”) ou 
candidíase genital (vaginite ou balanopostite). 
• No DM1, o início geralmente é abrupto, com 
emagrecimento rápido e inexplicado, hiperglicemia 
grave associada à desidratação, à cetonemia e à 
cetonúria. 
• A cetoacidose diabética (DM1) e o coma 
hiperosmolar não cetótico (DM2) são formas de 
 
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apresentação mais graves, que podem exigir 
remoção imediata para unidades de emergência. 
Diagnóstico 
Critérios Diagnósticos 
O diagnóstico de DM é feito de acordo com o valor da GJ, 
glicemia casual e glicemia 2 horas pós-sobrecarga de 75 g de 
glicose (TOTG). Recentemente, a HbA1c (ou A1C) foi 
recomendada como critério diagnóstico devido à correlação 
bem estabelecida entre seus níveis e o risco para 
complicações tardias do DM. Isso não quer dizer que a HbA1c 
deva substituir os critérios por glicemia plasmática, pois, 
apesar de ser um exame específico, é menos sensível que os 
demais. 
 
 
• Na presença de sintomas sugestivos, uma glicemia 
casual acima de 200 mg/dL confirma o diagnóstico. 
• Em indivíduos assintomáticos ou com sintomas leves, 
são necessárias duas GJ acima de 126 mg/dL. É 
importante orientar o usuário a não mudar sua 
alimentação antes da realização dos exames 
confirmatórios, a fim de evitar o mascaramento do 
diagnóstico. 
• Para indivíduos com forte suspeita clínica (presença 
de dois ou mais fatoresde risco) de diabetes e GJ 
alterada, entre 100 e 126 mg/dL, o TOTG está 
indicado para complementar a investigação. 
• Em algumas raras situações, em especial em adultos 
jovens, é necessário solicitar anticorpos anti-ilhota 
(ICA, do inglês islet-cell antibody), anti-insulina (IAA) 
e antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD) 
para diferenciar DM1 e DM2 (presentes no tipo 1). É 
preciso verificar, em cada realidade, quais dosagens 
estão disponíveis. 
Anamnese 
A avaliação inicial deve englobar uma história completa para 
classificação do diabetes, a identificação de comorbidades 
(outros fatores de risco cardiovascular ou transtornos 
mentais, como ansiedade e depressão, que interferem na 
adesão) e de complicações crônicas, além da revisão de 
tratamentos e controle glicêmico anterior (incluindo efeitos 
colaterais ou episódios de hipoglicemia). 
É essencial dar ênfase às dificuldades, expectativas e medos 
em relação à doença e ao futuro e ampliar a escuta sobre o 
exercício da sexualidade, visando à elaboração de um plano 
terapêutico conjunto, que inclua abordagem familiar e/ou a 
participação em grupos educativos. 
Exame Físico 
Deve ser orientado para a verificação da presença de outros 
fatores de risco cardiovasculares e de complicações micro e 
macrovasculares. 
Frequentemente negligenciado na prática clínica, o exame dos 
pés, que inclui avaliação da sensibilidade superficial 
(monofilamentos de 10 g) e profunda (diapasão), palpação 
de pulsos e avaliação sobre a presença de feridas, infecções, 
deformidades e alterações de trofismo, deve ser realizado no 
mínimo anualmente. 
 
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Exames Complementares 
Uma vez estabelecido o diagnóstico de diabetes, o controle 
glicêmico é feito mediante a avaliação dos parâmetros 
tradicionais: 
• GJ, glicemia pós-prandial e HbA1c. 
Os testes de glicemia refletem o nível glicêmico no momento 
exato em que foram realizados, e a HbA1c revela a glicemia 
média pregressa dos últimos 2 a 4 meses. 
A HbA1c deve ser solicitada quando a GJ atinge as metas 
desejáveis para um bom controle. Estima-se que, para a 
HbA1c de 6%, corresponderia a uma glicemia média de 126 
mg/dL e que, para cada 1 ponto percentual a mais de HbA1c, 
haja uma elevação de 30 mg/dL na média das glicemias. 
A glicemia média pode ser calculada por meio da 
seguinte fórmula: 
Glicemia média estimada: 28,7 x HbA1c – 46,7 
 
Nos casos em que a GJ já normalizou e a HbA1c permanece 
elevada, deve-se suspeitar de hiperglicemia pós-prandial, 
que pode ser evidenciada pelo automonitoramento da 
glicemia capilar (AMGC), quando disponível. A GJ e a HbA1c 
devem ser pedidas a cada 3 meses para aqueles que precisam 
de reavaliação do esquema terapêutico para o alcance das 
metas de HbA1c. 
Ainda que o MS recomende tiras de glicemia capilar apenas 
para quem usa insulina, AMGC pode ser necessário eventual e 
temporariamente para pacientes com DM2 que não usam 
insulina, em casos de descompensação metabólica por 
estresse clínico ou cirúrgico, uso de corticosteroides ou 
hipoglicemias graves. 
As metas do tratamento do DM envolvem, além da redução de 
níveis glicêmicos e pressóricos, a adequação do peso e do 
perfil lipídico, mas estas devem ser flexibilizadas conforme 
cada pessoa, dependendo de uma série de fatores, 
especialmente comorbidades. 
 
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Como o nível de HbA1c se correlaciona com o risco 
progressivamente maior de complicações crônicas, define-
se como 7% a meta de HbA1c para adultos com diabetes e 
na ausência de gravidez, acima do qual está indicada a 
revisão da terapia em vigor. 
Para pessoas com diagnóstico recente, longa expectativa 
de vida, sem doenças cardiovasculares (DCVs) e pouco 
risco de hipoglicemias, pode-se ser mais rígido, com metas 
de HbA1c entre 6,0 e 6,5%. 
Entretanto, para crianças, adolescentes, idosos 
fragilizados e pessoas com expectativa de vida limitada, um 
controle mais flexível com HbA1c entre 7,5 e 8,5% pode 
ser aceito. 
Demonstrou-se que o controle metabólico muito rígido em 
DM2 com comorbidades importantes e alto risco 
cardiovascular pode aumentar a mortalidade e o número 
de episódios de hipoglicemia grave. 
Lipidograma: nos indivíduos estáveis, a GJ deve ser solicitada 
a critério clínico, e a HbA1c, a cada 6 meses. Em relação ao 
perfil lipídico, se estiver na faixa aceitável, deve ser 
monitorado anualmente ou com mais frequência se tiver sido 
instituído tratamento para dislipidemia. 
Função Renal: exame qualitativo de urina, creatinina com 
estimativa do clearance e pesquisa de microalbuminúria 
devem ser avaliados anualmente a partir do diagnóstico do 
DM2 e após 5 anos do diagnóstico do DM1. 
Exame oftalmológico (fundo de olho): deve ser avaliado 
anualmente a partir do diagnóstico do DM2 e após 5 anos do 
diagnóstico do DM1. 
 
 
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Tratamento 
A caracterização do bom controle glicêmico requer a 
normalização conjunta dos três parâmetros: 
• Glicemia média semanal (GMS); 
• Perfil glicêmico; e 
• Variabilidade glicêmica (VG) 
 
* O conceito de VG está mais comprovado em pacientes 
com DM1 ou naqueles que utilizam insulina. 
 
**GMS = 150 mg/dL é equivalente à HbA1c= 6,9%. 
 
Os parâmetros de GMS, VG e perfil glicêmico são calculados 
com o auxílio de softwares especiais equipando os 
monitores de glicemia. 
 
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes. 
 
O sucesso terapêutico depende da implicação da própria 
pessoa no seu autocuidado. Para isso, tornam-se 
fundamentais as intervenções de educação em saúde, 
individuais ou em grupo, pela equipe de saúde. 
Tratamento Não Farmacológico 
As MEVs – incluindo dieta adequada, atividade física regular, 
aconselhamento sobre o uso de álcool, cigarro e outras 
drogas – têm efeito sobre o controle glicêmico, semelhante 
aos antidiabéticos orais, além de reduzirem o risco 
cardiovascular global. Um plano alimentar balanceado 
combinado à prática regular de atividades físicas é 
considerado terapia de primeira escolha para DM. O grau de 
obesidade e a inatividade física afetam a sensibilidade 
insulínica, podendo perpetuar um descontrole metabólico, 
independentemente do tratamento farmacológico. 
A alimentação indicada ao portador de diabetes deve ser 
individualizada de acordo com sexo, idade, peso e gasto 
calórico habitual. É importante ressaltar os meios de evitar 
hipoglicemia ao usar secretagogos ou insulina, como 
obedecer aos horários das refeições, evitar bebidas alcoólicas 
e incluir uma ceia noturna antes de deitar-se. 
A atividade física reduz a HbA1c, independentemente da 
redução de peso, diminui o risco cardiovascular e melhora a 
autoestima. O exercício físico, por mais de 150 minutos 
semanais de intensidade moderada a vigorosa, é altamente 
recomendado para prevenção e controle do DM2 e na 
prevenção das DCVs em diabéticos. Preferencialmente, a 
combinação de exercícios aeróbicos e de resistência é 
recomendada tanto para a prevenção como para o controle 
do DM. Há maior risco de hipoglicemia durante a atividade 
física, principalmente naqueles que utilizam insulina, de modo 
que ajustes na quantidade e tipo de carboidratos na 
alimentação, bem como nas doses e locais de aplicação da 
insulina, podem ser necessários. Retinopatia proliferativa e 
neuropatia autonômica grave contraindicam exercícios 
vigorosos, e alteração da sensibilidade ou lesões nos pés 
requerem cuidados com o calçado e o tipo de atividade 
realizada. 
Para os indivíduos com risco aumentado para diabetes, a MEV 
– redução de 5 a 10% de peso corporal caso apresentem 
sobrepeso ou obesidade e aumento da atividade física, como 
caminhadas, de pelo menos 150 minutos por semana – deve 
ser recomendada, pois pode reduzir em até 58% o risco de 
desenvolver DM. Além da MEV, o uso de metformina(indicação prioritária, sobretudo em portadores de 
obesidade) pode ser considerado. 
Tratamento Farmacológico 
Diabetes Melito 2 
O tratamento é feito em etapas, com complexidade crescente. 
O tratamento inicial indicado é a MEV associada ao uso de 
metformina. Caso o controle esteja inadequado, mesmo com 
essas medidas, recomenda-se a introdução progressiva de 
outros fármacos, evoluindo também para insulinoterapia. 
 
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Figura 1: PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS DIABETE MELITO 
TIPO 2 – Ministério da Saúde 
 
 
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Considerações Gerais: 
• Metformina: pacientes com TFG menor do que 30 
mL/min têm absoluta contraindicação para o uso da 
metformina. Valores de TFG de 30 a 59 mL/min 
precisam alertar sobre outros fatores de risco para 
acidose láctica antes da prescrição ou da 
continuidade do uso da metformina. Deve-se ter 
cautela no pré e pós-operatório e em pacientes 
submetidos a exames de imagem com contraste. 
• Sulfonilureias: não é a primeira escolha em DM2 com 
emagrecimento por estimular um aumento da 
secreção pancreática de insulina e provocar ganho 
de peso. Devem ser usadas com cautela em idosos 
pelo risco de hipoglicemia (principalmente a 
clorpropamida e a glibenclamida). Não devem ser 
utilizados em pacientes com perda significativa de 
função renal (TFG menor do que 30 mL/min), com 
exceção da gliclazida, que pode ser usada com muita 
cautela. 
• Gliptinas: a sitagliptina, a vildagliptina, a saxagliptina 
e a alogliptina requerem ajuste posológico na 
insuficiência renal (IR), e a linagliptina é o único 
agente desta classe que não requer redução de 
dose. A utilização das gliptinas em monoterapia pode 
promover redução modesta da HbA1c e são neutras 
quanto a efeitos no peso. Esses medicamentos 
podem ser usados associados a metformina, 
glitazonas, sulfonilureias e, mais recentemente, 
surgiram estudos com insulina. 
• Agentes da classe de incretinas – exenatida, 
liraglutida e lixisenatida: o primeiro, um mimético do 
GLP-1; os dois últimos, análogos ao GLP-1. São 
indicados como terapia adjunta para melhorar o 
controle da glicose em pacientes com DM2 que estão 
em tratamento com metformina, uma sulfonilureia, ou 
na combinação com esses dois medicamentos, 
quando não obtiveram resultados satisfatórios. O 
diabético obeso em monoterapia ou combinação de 
agentes orais com HbA1c > 7% é o melhor 
candidato, em razão da possibilidade de obter 
melhor controle com menor risco de hipoglicemia 
acompanhado da perda de peso e possível redução 
no risco cardiovascular. Embora o perfil desses três 
agentes seja semelhante, a exenatida e a liraglutida 
apresentam mais efeitos gastrintestinais, ao passo 
que a lixisenatida oferece maior risco de hipoglicemia 
sintomática. A liraglutida é a única da classe 
aprovada para uso em monoterapia. 
• Inibidores do SGLT2: promovem glicosúria, por 
impedirem a reabsorção de glicose nos túbulos 
renais. Apresentam baixo risco de hipoglicemia, 
promovem perda de peso de 2 a 3 kg e redução da 
PAS de 4 a 6 mmHg. Podem ser combinadas com 
todos os agentes orais e insulina; por outro lado, têm 
risco aumentado para infecções genitais e de trato 
urinário. Apresentam ação diurética (glicosúria) e 
podem levar à depleção de volume (no caso do 
paciente específico com risco de depleção de volume, 
reduzir a dose ou não usar). Tal classe não deve ser 
indicada na IR moderada ou grave. 
OBS.: a hiperglicemia pós-prandial é um fator independente 
de risco para a doença macrovascular, impactando também 
no risco das seguintes complicações: retinopatia, aumento da 
espessura da camada íntima média da carótida, estresse 
oxidativo, inflamação e disfunção endotelial, redução do fluxo 
sanguíneo do miocárdio, aumento do risco de câncer e 
comprometimento da função cognitiva em idosos com DM2. 
Insulinoterapia 
O declínio progressivo da função das células beta faz parte do 
processo natural da doença, sendo a prescrição de insulina 
reconhecida atualmente como necessária para a maioria dos 
portadores de DM2. Seu uso é indicado ao diagnóstico, 
quando a sintomatologia for proeminente, ou no curso do 
tratamento, quando houver falha ou contraindicação aos 
agentes orais, ou, ainda, em situações especiais, como na 
gestação ou em intercorrências clínicas – infecção, cirurgia, 
após infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular 
cerebral, IH e IR. Quando há o diagnóstico, nessa situação, a 
insulinoterapia deve ser plena e pode ser temporária. Na 
prática, contudo, observa-se que a insulinoterapia ainda é 
pouco utilizada ou iniciada tardiamente devido ao receio por 
parte de médicos e pacientes. A introdução da insulinoterapia 
em dose única, antes de deitar-se (bed time), associada aos 
antidiabéticos orais (terapia combinada), é considerada a 
estratégia preferencial para início da terapia insulínica no 
DM2, pois costuma ser bem recebida pelos usuários e tem o 
benefício de requerer menores doses de insulina e reduzir o 
risco de hipoglicemia. 
Basicamente, existem quatro modalidades de apresentações 
comerciais de insulinas no mercado brasileiro: humanas 
isoladas; humanas em pré-mistura; análogos de insulina 
humana isolados; e análogos bifásicos ou pré-mistura de 
insulina humana. 
 
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A insulinoterapia deve ser intensificada de forma progressiva 
e adequada, para facilitar a adesão e evitar hipoglicemia, que 
podem ser uma barreira para alcançar o bom controle 
glicêmico. Ao se iniciar a terapia de combinação injetável, o 
tratamento com metformina deve ser mantido, e os demais 
tratamentos com agentes orais podem ser continuados 
respeitando-se a individualização do tratamento, para evitar 
esquemas complexos e de alto custo. 
 
 
 
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Considerações Gerais: 
• A hipoglicemia pode ocorrer com o uso dos 
antidiabéticos orais (sulfonilureias e glinidas) ou 
insulina. Em geral, ocorre por omissão de refeição, 
diminuição da quantidade de carboidratos da 
refeição e/ou excesso de exercício físico. Palidez, 
extremidades frias, sudorese, tremores, palpitações, 
sensação de fome, dor abdominal, dor de cabeça, 
tontura, fadiga, sonolência, alteração do humor 
(irritabilidade) ou do comportamento são os sinais e 
sintomas mais comuns. 
• Usuários e familiares devem ser orientados a 
reconhecer o quadro, realizar o pronto diagnóstico 
por meio da glicemia capilar (

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