Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Lígia Regina Máximo Cavalari Menna
 Profa. Ana Lúcia Machado da Silva
Colaboradoras: Profa. Cielo Griselda Festino
 Profa. Christiane Mazur Doi
Literatura Comparada
Professoras conteudistas: Lígia Regina Máximo Cavalari Menna / 
Ana Lúcia Machado da Silva
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M547l Menna, Lígia Regina Máximo Cavalari.
Literatura Comparada / Lígia Regina Máximo Cavalari Menna, 
Ana Lúcia Machado da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2024.
136 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Literatura. 2. Linguagem. 3. Mídia. I. Menna, Lígia Regina 
Máximo Cavalari. II. Silva, Ana Lúcia Machado da. III. Título.
CDU 869.0
U519.06 – 24
Lígia Regina Máximo Cavalari Menna
É doutora em Letras na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, 
Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Fez pós-doutorado na mesma área com o 
projeto Releituras do Maravilhoso: A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen, suas Figurações e Múltiplos Diálogos. 
É docente do curso de Letras da Universidade Paulista (UNIP) e do curso de pós-graduação lato sensu Língua Portuguesa 
e Literatura no Contexto Escolar (UNIP Interativa). É docente colaboradora do Programa de Pós-Graduação do curso 
de Letras da FFLCH-USP, autora dos livros A carnavalização na literatura infantil (2017) e A literatura infantil além do 
livro (2019), e coautora da coleção didática para Ensino Fundamental II intitulada Português: uma língua brasileira, com 
Regina Figueiredo (2014).
Ana Lúcia Machado da Silva
É mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em 
Língua Portuguesa pela mesma instituição. Foi professora do Ensino Básico nas redes pública e privada, lecionando 
Língua Portuguesa por 20 anos. Entre outras disciplinas, ministra Análise do Discurso e Gêneros Textuais no curso de 
graduação em Letras da Universidade Paulista (UNIP), além de aulas em módulos para cursos lato sensu na mesma 
instituição. Produziu os livros-textos Literatura Brasileira: Poesia, Letras Integradas, Tópicos de Atuação Profissional, 
entre outros, e coproduziu o livro-texto Literatura Portuguesa: Poesia.
Profa. Sandra Miessa
Reitora
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração e Finanças
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora das Unidades Universitárias
Profa. Silvia Gomes Miessa
Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal
Profa. Laura Ancona Lee
Vice-Reitora de Relações Internacionais
Prof. Marcus Vinícius Mathias
Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
 Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
 Andressa Picosque
 Jaci Albuquerque
Sumário
Literatura Comparada
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 TEXTOS FUNDADORES DE LITERATURA COMPARADA .........................................................................9
1.1 Conceitos e reflexões iniciais ..............................................................................................................9
1.2 Origens e breve histórico................................................................................................................... 11
1.3 Contexto histórico da LC no Brasil e na América Latina ...................................................... 18
2 QUESTÕES DE AUTORIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS .................................................................... 24
2.1 Intertextualidade .................................................................................................................................. 24
2.2 Influência, imitação e originalidade ............................................................................................. 30
3 LITERATURA CENTRAL-PERIFÉRICA E CIBERLITERATURA ................................................................ 33
3.1 O regional, o nacional e o transnacional .................................................................................... 33
3.2 O ciberespaço ......................................................................................................................................... 39
4 LITERATURA E OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO ........................................................................ 48
Unidade II
5 O CLÁSSICO NA LITERATURA COMPARADA ......................................................................................... 61
5.1 A Bíblia na literatura ........................................................................................................................... 61
5.2 O mito na/da literatura ...................................................................................................................... 68
6 IDENTIDADE NACIONAL ................................................................................................................................ 74
6.1 Nação mitopoetizada ......................................................................................................................... 74
6.2 Nação indígena ..................................................................................................................................... 76
Unidade III
7 CERTOS TEMAS, CERTAS RELAÇÕES ......................................................................................................... 87
7.1 Diferentes concepções de infância ............................................................................................... 87
7.2 Os caminhos da floresta em contos tradicionais .................................................................... 92
8 LITERATURA E OUTRAS MÍDIAS E LINGUAGENS ................................................................................ 96
8.1 Práticas intermidiáticas ..................................................................................................................... 96
8.2 Experiências literárias no ciberespaço .......................................................................................119
7
APRESENTAÇÃO
Literatura comparada (LC) é um dos campos mais prazerosos do nosso curso. Trata-se da leitura e 
comparação entre, no mínimo, dois textos literários, que podem ser de épocas e culturas diferentes. 
Imagine só: ler o Livro das mil e uma noites na tradução apurada e direta do árabe de Mamede Mustafa 
Jarouche e compará-lo com a obra A game of thrones, do escritor norte-americano George R. R. Martin, 
perguntando-se até que ponto ambas as obras seguem a estrutura narrativa de engendrar várias histórias 
ao mesmo tempo; ou ainda desvendar dois pontos de vista opostos – o do colonizador português em 
terras brasileiras, na obra As minas de prata, de José de Alencar, e o do africanorefere-se a detalhes materiais, como traços de composição, 
a episódios, a procedimentos, ou tropos bem determinados, enquanto a 
influência denuncia a presença de uma transmissão menos material, mais 
difícil de apontar […] A imitação é um contato localizado e circunscrito, 
enquanto a influência é uma aquisição fundamental que modifica a própria 
personalidade artística do escritor.
Contudo, distinguir imitação e influência nem sempre é tão simples. Cionarescu propõe um modo 
prático, mas nem sempre absoluto, para distinguir esses conceitos, acrescentando a eles o da tradução. Ele 
se baseia em cinco elementos da obra literária: tema, gênero, ideias, sentimentos e ressonância afetiva, ou 
seja, o registro da personalidade artística dos grandes escritores. Segundo Nitrini (2000, p. 130), para o autor,
o fenômeno da influência limita-se à absorção de um ou outro desses 
aspectos. Quanto maior o número de elementos aproveitados da obra de um 
autor por outro, tanto mais ele vai se aproximando da imitação, da paráfrase, 
até chegar à tradução, quando todos os elementos são considerados.
A grande dúvida é: como mensurar tais modificações quando os limites forem tênues e não tão 
facilmente identificados? Fica um ponto para reflexão.
Outro fator importante é a noção de originalidade. Definir o que é original ou não é algo bem 
complexo, sendo que essa concepção também tem mudado ao longo da história da literatura. 
Durante o Romantismo, por exemplo, devido principalmente ao culto do eu, o conceito de original 
destacou-se consideravelmente.
Desde o século XVI, porém, há uma acepção de originalidade ainda aceita. Vale aqui uma citação de 
Nitrini (2000, p. 141), baseando-se em Mourgues:
A originalidade que percebemos numa obra literária, ou seja, sua marca 
própria, não é outra senão o gênio criador que levou um escritor a escolher 
um assunto, modificar uma técnica, nas suas relações complicadas e variáveis 
com a tradição, com as influências específicas que agiram sobre ele e com 
o gosto de sua época. É muito importante considerar algum cuidado às 
relações entre os dois elementos da originalidade relativa: o esforço criador 
e o condicionamento da época.
Dessa forma, o estilo do autor deve ser considerado, assim como o estilo de época e o contexto de 
produção. Muitas vezes, o que fez o autor ser original em seu tempo hoje já se encontra tão presente e 
constante em outras obras e autores que o sucederam que não parece ser mais original.
33
LITERATURA COMPARADA
Para entender melhor os conceitos aqui apresentados, com destaque para a originalidade, observe 
essa interessante imagem criada por Valéry (apud Nitrini, 2000, p. 134) a partir de metáforas digestivas: 
“Nada mais original, nada mais próprio do que nutrir-se dos outros. Mas é preciso digeri-los. O leão é 
feito de carneiro assimilado”.
Podemos entender essa digestão como a própria intertextualidade e, seguindo a mesma metáfora, 
nos lembrar do Manifesto antropófago de 1928, idealizado por Oswald de Andrade, que marcou os 
rumos da literatura brasileira. Esse documento literário propunha que digeríssemos a cultura europeia 
para transformá-la em algo brasileiro de fato, passando de devorados a devoradores – nas palavras de 
Valéry (apud Nitrini, 2000, p. 134), os “leões”.
A noção de originalidade apontada por Antonio Candido, por sua vez, leva em conta as relações 
das literaturas consideradas periféricas, a “cultura dominada”, como a brasileira em relação a 
outras europeias:
Paradoxalmente, o texto descolonizado na cultura dominada acaba por ser 
mais rico (não do ponto de vista de uma estreita economia interna da obra) 
por conter em si uma representação do texto dominante e uma resposta a 
esta representação no próprio nível da fabulação, resposta esta que passa 
a ser um padrão de aferição cultural da universalidade tão eficaz quanto os 
já conhecidos e catalogados (Candido apud Carvalhal, 2006, p. 84).
Como pudemos observar, ao longo de sua existência a LC tem apresentado diversos conceitos básicos 
para seu entendimento e aplicação, os quais têm sido abordados de diferentes maneiras, acompanhando 
também novas concepções de arte, em constante transformação.
3 LITERATURA CENTRAL-PERIFÉRICA E CIBERLITERATURA
3.1 O regional, o nacional e o transnacional
Já deu para perceber que a área da LC envolve questões complexas e polêmicas sobre seu objeto de 
estudo e abordagem teórico-metodológica. A discussão sobre influência no mundo literário remete ao 
fato de a LC ser firmada em um determinado país, estabelecendo uma visão de primazia sobre outras 
nações, bem como uma ideia acentuada de literatura nacional.
Essa visão é verificada na obra de Coutinho e Carvalhal. Segundo Euridice Figueiredo (2013), quando 
esses estudiosos publicaram Literatura comparada: textos fundadores (Coutinho; Carvalhal, 1994), 
os brasileiros foram beneficiados, visto que os autores reuniram artigos sobre LC publicados de 
1886 até 1974 em várias línguas, até então dispersos em livros e revistas de difícil acesso. Sem negar 
a relevância dessa obra, Figueiredo (2013) ressalta, no entanto, suas limitações.
Coutinho e Carvalhal (1994) dão ao assunto uma perspectiva hegemônica ao se concentrar na linha 
francesa. Eles afirmam que a LC surgiu na França em torno de 1830, configurou-se como disciplina no 
século XX, com a centralização da literatura francesa no ensino, e, principalmente, passou a trabalhar 
34
Unidade I
a literatura desse país conforme sua influência exercida sobre as demais. Em síntese: “O nacionalismo 
e a primazia da França eram os alicerces do pensamento que se delineava de maneira bastante 
inflexível” (FIGUEIREDO, 2013, p. 32). É preciso, porém, contrapor com a ideia de que a LC ultrapassa as 
fronteiras de um país.
Nesse sentido, Jobim (2020, p. 16) traz-nos questões pontuais quanto às críticas à LC:
a) ela se concentrava em autores e obras europeus; b) mesmo dentro da 
Europa, havia uma preferência por França, Inglaterra e Alemanha, seguidas de 
Itália e Espanha; c) os valores e parâmetros de comparação, por atenderem às 
mesmas preferências, de algum modo tendiam a ser apresentados como tendo 
validade universal, embora fossem basicamente europeus, quando não apenas 
“nacionais”; d) o eurocentrismo também passava pela questão das línguas, 
hierarquizadas explícita ou implicitamente, através de vários expedientes.
É por isso que Wellek (1994) considera que a evolução da LC é paradoxal. Surgiu em reação contra 
o nacionalismo limitado e o isolacionismo, mas desembocou em uma competição entre países, “cada 
um querendo provar que mais exerceu influência sobre os demais ou que melhor assimilou um grande 
escritor estrangeiro” (Wellek, 1994, p. 114).
Enquanto a LC se desenvolvia na França, o termo literatura mundial foi criado pelo escritor alemão 
J. W. Goethe, para quem a coexistência de várias literaturas nacionais e/ou regionais era possível por 
meio da tradução. Para Figueiredo (2013), é significativo, então, que na França a ideia de LC fosse 
empregada e, na Alemanha, a noção de literatura mundial.
 Observação
Ressaltamos que literatura comparada e literatura mundial não são 
sinônimas, apesar de ambas serem investigadas por autores do mundo todo.
Outro aspecto da obra de Coutinho e Carvalhal (1994) é a manutenção de uma perspectiva 
eurocêntrica da LC, não marcando os países e continentes que passaram pelo processo de colonização. 
Dividem-se assim os países em centrais (europeus, os grandes impérios no período da colonização) e 
periféricos (que foram colonizados).
No caso da América Latina, a obra de Coutinho e Carvalhal (1994) silencia tanto o papel de sujeito 
latino produtor de crítica, de análise, quanto o objeto, com somente rápidas referências às literaturas 
nacionais, ao passo que os textos literários africanos e orientais são vistos como exóticos. Como bem 
afirma Nimrod (apud Figueiredo, 2013, p. 40):
O que dizer do escritor africano? Tudo se passa como se ele tivesse de 
produzir uma literaturaexótica destinada aos europeus e a si próprio, o que 
leva a destinar à nostalgia uma África que desapareceu há muito tempo. […] 
35
LITERATURA COMPARADA
A literatura atravessa sua existência e o leva a escrever não uma literatura 
de africanos autênticos.
Para Coutinho (2003), o conceito de literatura nacional evoca, tradicionalmente, uma nação, uma 
língua, etnia e determinados componentes culturais relativamente homogêneos. Nessa obra, publicada 
praticamente 10 anos depois da criada com Carvalhal, Coutinho (2003) abrange os estudos comparatistas 
e afirma que as línguas europeias – como espanhol, francês, português e inglês – foram apropriadas e 
transformadas em muitas variações por muitos escritores fora do centro europeu. Temos, então, autores 
descentrados e literaturas migrantes, diaspóricas, transnacionais.
Nesse panorama, o conceito de literatura nacional é deslocado para uma noção de comunidade 
imaginada, porque nem mesmo a língua confere estatuto de nação. Como afirma Figueiredo (2013, 
p. 36), “a literatura não é mais apanágio dos países europeus, já que a cada ano surgem novos escritores, 
oriundos de países quase desconhecidos do grande público, com formas literárias inovadoras”.
 Lembrete
O conceito de literatura nacional relaciona-se à noção de influência. 
No Brasil, evitamos falar de influência porque nela subjaz a ideia de uma 
relação de subalternidade das literaturas dos países colonizados em relação 
às dos países colonizadores.
No contexto atual, a criação literária não segue paradigmas rígidos, seja de países centrais ou 
periféricos. Os países africanos de língua portuguesa, por exemplo, não apreciam o termo lusofonia, 
visto como extensão e afirmação de Portugal, por atrelá-los de modo simbólico àquele colonizador. 
No que concerne à publicação e distribuição de livros, apesar de os autores africanos ainda passarem por 
Lisboa, têm hoje um mercado editorial ampliado no Brasil, cujo “peso demográfico e editorial […] [tende] 
a desequilibrar a balança de Portugal” (Figueiredo, 2013, p. 43).
No caso dos escritores africanos de língua francesa, há igualmente um processo de invenção na 
escrita para o exprimir outras realidades diferentes da sensibilidade e cultura francesas.
Os escritores de língua inglesa, por sua vez, descentralizam a literatura e a língua. Segundo 
Rushdie (apud Figueiredo, 2013), essa língua não é mais propriedade dos ingleses, ou seja, a língua (e 
a literatura) deixou de ser o centro com a destruição da ideia de periferia, à qual foram relegados os 
escritores imigrantes e/ou aqueles submetidos historicamente ao processo de colonização. Na verdade, 
a desestabilização da Inglaterra começou com o poderio americano.
Em geral, de um lado, Paris, Lisboa, Londres e Nova York centralizam o jogo do poder cultural, e 
nessas cidades os escritores de todo o mundo se encontram e dialogam. De outro lado, os escritores 
produzem uma literatura transnacional com a eliminação de todo tipo de gueto, seja ele nacional, 
linguístico ou territorial.
36
Unidade I
O romance, então, foi renovado pelos escritores de países pobres. Por exemplo, por meio do 
intercâmbio e da intertextualidade, o realismo mágico latino-americano foi absorvido e atualizado por 
escritores da Índia. Figueiredo (2013, p. 44) afirma “que os maiores prosadores da contemporaneidade 
são pessoas com duplas ou múltiplas identidades, pessoas que não estão coladas a nenhuma nação de 
modo monolítico, pessoas híbridas que se situam no entre dois, no entrelugar”.
Em sentido oposto à visão de centro propalada pelo Ocidente, que relega o diferente ao exotismo, 
ao folclore e ao atrasado, os escritores atuais fincam seus pés na região e situam suas obras na literatura 
universal, tornando-se valorizados no mercado internacional.
Figueiredo (2013) usa como exemplo Milton Hatoum, cujos romances e novelas se passam sempre 
em Manaus (regional), mas que também apresentam a complexidade sociocultural da Amazônia. Esse 
diferencial levou o autor a ser convidado pela editora escocesa Canongate para participar da coleção 
Mitos e produzir novela-releitura de lenda do Brasil. Hatoum criou Órfãos do Eldorado, que foi traduzido 
para o inglês para compor essa coleção.
Estudiosos atuais, como Figueiredo (2013), Jobim (2020) e Mattos e Pereira (2021), encerram seus textos 
com a mesma concepção de que a LC se impõe como disciplina aberta para a experiência de escritores e 
leitores sem se circunscrever aos limites de uma nação. A LC tem um rico campo para prática analítica de 
literaturas das nações com histórico colonial, das múltiplas culturas e, também, pela globalização, a qual 
está relacionada à internet e à ruptura de fronteiras que esta trouxe para a nossa sociedade.
Exemplo de aplicação
1) Em estudos comparados, saímos do eixo norte-sul para trabalhar no eixo sul-sul, aprofundando 
as ligações existentes entre as literaturas das macrorregiões.
Sul
Norte
Figura 3 – Novas relações literárias
Adaptada de: https://bit.ly/3j5Qb5K. Acesso em: 4 nov. 2022.
37
LITERATURA COMPARADA
a) Explique o que significa trabalhar LC no eixo sul-sul.
b) Escolha um autor ou uma obra que represente o eixo sul-sul e faça uma análise com base nos 
estudos comparados, verificando dados regionais/nacionais e transnacionais.
2) Leia o texto a seguir, que trata da literatura nacional/regional e literatura mundial, e da relação 
entre cultura mundial e globalização.
As duas vias da mundialização
Sérgio Paulo Rouanet
“Se nós, alemães, não olharmos além do círculo estreito do nosso próprio horizonte”, disse Goethe, 
numa de suas conversas com Eckermann, “cairemos facilmente num obscurantismo pedante. Por isso 
gosto de olhar para o que se faz nos países estrangeiros e aconselho a todos que façam o mesmo. 
A literatura nacional não quer dizer grande coisa hoje em dia. Chegou a hora da literatura mundial, e 
cada um de nós deve contribuir para acelerar o advento dessa época.”
Poucos anos depois, Marx afirmava no Manifesto comunista que “os produtos intelectuais das 
diferentes nações se transformam em patrimônio comum. A unilateralidade e a estreiteza nacionais se 
tornam crescentemente impossíveis, e uma literatura mundial se constitui a partir das várias literaturas 
nacionais e locais”. O pensamento é o mesmo. E até a forma é semelhante.
Tanto Goethe quanto Marx usam a expressão “Weltliteratur”, literatura mundial, e nos dois casos 
a literatura funciona como alusão metonímica à cultura como um todo. O que os dois autores estão 
dizendo é que hoje em dia as culturas puramente locais estão condenadas ao obscurantismo, à 
unilateralidade e à estreiteza, e que elas deveriam ultrapassar seu paroquialismo, convergindo para 
a formação de uma cultura mundial. Após um século e meio, isso já aconteceu em grande parte. A cultura 
mundial, detectada in statu nascendi pelos dois pensadores, está se ampliando de modo avassalador. 
Cada vez mais os valores, símbolos e produtos culturais extravasam as fronteiras nacionais, e cada vez 
menos eles podem ser reduzidos à mera soma das culturas locais, ou à extroversão imperialista de uma 
cultura nacional hegemônica.
[…]
Mas a cultura mundial é ambígua. De um lado, ela é composta de bens culturais de massa, 
desprendidos do seu país de origem, oferecendo uma gama estonteante de mercadorias expatriadas, 
cosmopolitas, que vão desde Mickey Mouse até Madonna. De outro lado, é a grande música, a grande 
pintura, a grande literatura, também desterritorializadas, também transformadas em coisas de todos, 
em partes do acervo comum da humanidade. Quais são as razões dessa dualidade? Voltemos a Goethe 
e a Marx. Eles não estavam falando de um simples fenômeno de internacionalização cultural, como os 
que a humanidade conhecera no período alexandrino ou romano, mas de uma variedade moderna de 
internacionalização. A cultura mundial, para eles, era antes de tudo um fato da modernidade. [...]
38
Unidade I
A globalização tende a nivelar todas as particularidades, porque suaforça motriz é a otimização do 
ganho, através de uma racionalidade de mercado que supõe a criação de espaços homogêneos.
A universalização é pluralista, porque seus fins só podem ser atingidos por uma racionalidade 
comunicativa que supõe o desejo e o poder dos sujeitos de defenderem a especificidade das suas formas 
de vida. A globalização é a união dos conglomerados.
A universalização é a união dos povos. Somos objetos da globalização. Somos sujeitos da 
universalização. A aceleração dos processos de mundialização, em seus dois vetores, está nos conduzindo, 
em nossos dias, a uma sociedade mundial. Por enquanto, ela é relativamente amorfa, porque não 
dispõe ainda de estruturas políticas. Mas já dispõe de uma cultura. É a cultura mundial. Essa cultura é 
a unidade tensa de duas culturas: a global e a universal. É por isso que ela é ambígua. A cultura global 
é impulsionada por processos de globalização, que levam à crescente transnacionalização de todas as 
indústrias culturais, como a do cinema e a do disco. A cultura universal é impulsionada por processos de 
universalização, que levam à aproximação internacional de escritores, músicos, artistas plásticos, filósofos 
e cientistas. Apesar disso, não há guerra de morte entre globalização cultural e universalização cultural. 
Elas são distintas, mas dialeticamente complementares. A mesma revolução técnica que viabilizou a 
globalização da cultura pode ser usada pelos que pretendem universalizá-la. As duas culturas são partes 
da modernidade, indissociáveis uma da outra. Sem a cultura global, a cultura universal não teria os meios 
técnicos para implantar-se, e, sem a cultura universal, a cultura global careceria de conteúdo ético. Mas 
há uma relação hierárquica entre as duas. É da cultura universal que devem partir os impulsos destinados 
a retificar os desvios da cultura global. Não podemos, se quisermos enfrentar as patologias dessa cultura, 
refugiar-nos em particularismos a contracorrente, como os fundados na nação, na religião ou na etnia, 
porque eles não nos permitiriam lidar com fenômenos que atravessam todas as particularidades e se 
evadem a todas as jurisdições nacionais, e sim agir no próprio terreno em que se dá a cultura global: o 
da mundialização. O corretivo da mundialização pelo globalismo é a mundialização pelo universalismo.
Novos sincretismos
O universalismo cultural implica uma política de abertura, que, longe de gerar o nivelamento, poderá 
estimular novos sincretismos, formas inéditas de hibridação. Era a isso que Marx aludia quando falava 
nas sínteses produzidas pela interação entre as diversas culturas. E implica, num horizonte mais distante, 
uma democracia mundial, como expressão política da sociedade mundial. Essa democracia seria decisiva 
para civilizar a cultura global, regulamentando suas condições de produção e de disseminação. As duas 
metades inimigas da cultura mundial – a global e a universal – se reconciliariam, contribuindo para a 
concretização do sonho mais alto da modernidade emancipatória: a autonomia cultural.
É para ela que caminhamos, e ali chegaremos um dia, se a humanidade não for destruída antes pela 
homogeneização total do mundo, como querem os xiitas da globalização, ou por sua retribalização, 
como querem os cruzados da purificação étnica.
Adaptado de: Rouanet (2000).
39
LITERATURA COMPARADA
Monte o mapa mental em conformidade com as informações do texto de Rouanet (2000). O modelo 
a seguir precisa ser adaptado.
Literatura
Figura 4
Comentários
1) Os estudos comparados, na contemporaneidade, levam em conta que a própria noção de 
região tende a se alargar ao ultrapassar as fronteiras nacionais e linguísticas; buscam fugir 
do eixo Europa versus os países por ela colonizados. Tome cuidado para não confundir uma 
obra literária muito divulgada, com milhões de cópias vendidas em muitos países, com um 
estudo comparado.
2) O mapa mental é pessoal, mas depende das informações importantes do texto lido. É preciso 
ramificar informações referentes à literatura regional/nacional, à literatura mundial, à cultura 
mundial e à cultura global.
3.2 O ciberespaço
A discussão acerca da literatura nacional, da primazia de uma sobre tantas outras e das noções 
de literatura central versus periférica confronta-se hoje com o ciberespaço, que, no contexto literário, 
derruba determinadas ideias, mas abre várias outras questões.
De modo geral, a base do ciberespaço é a comunicação em rede, e a presença física do ator social é 
desnecessária para alcançá-lo. Esse espaço dispôs-se para e pela tecnologia e associa-se à cibercultura, 
permitindo a ela preservar a liberdade de escolha dos usuários. Oferece ainda condições para que 
materiais sejam abundantemente publicados e distribuídos, além de agregar culturas de ideais libertários 
de comunicação e interação social.
40
Unidade I
Em síntese, o ciberespaço não é homogêneo, mas constituído de uma infinidade de ciberespaços em 
rápida expansão, cada um fornecendo diferentes formas de interação e comunicação.
Textos literários se relacionam com suas culturas de diversos modos e com mobilidade nunca antes 
vista. Trata-se de uma nova configuração do mapa-múndi da literatura, cujas fronteiras se tornam 
opacas. Temos hoje acesso ilimitado aos mais variados textos das mais diversas línguas, pois os ambientes 
virtuais desterritorializam os conteúdos, diluindo o conflito entre literatura central e periférica, assim 
como qualquer espécie de divisa. Para Rouanet (2000), “cada vez mais os valores, símbolos e produtos 
culturais extravasam as fronteiras nacionais, e cada vez menos eles podem ser reduzidos à mera soma 
das culturas locais, ou à extroversão imperialista de uma cultura nacional hegemônica”.
Com o avanço cada vez mais intenso da relação entre cultura e desterritorialização, o ciberespaço 
confronta-se com a noção de literatura nacional e a primazia de uma literatura sobre as outras no conflito 
estabelecido entre países europeus centrais e países periféricos.
No ciberespaço, o universo literário é expandido de diversas maneiras. Os escritores criam sites 
pessoais, leitores críticos (jornalistas, especialistas em literatura, leitores apaixonados) divulgam suas 
resenhas, bibliotecas virtuais crescem e disponibilizam seu acervo para download, obras são lançadas 
em formato de e-books e plataformas oferecem tradução automática (dando acesso, portanto, a 
obras de outras línguas). Ou seja, vários sistemas existem para viabilizar a produção dos leitores, entre 
outras expansões.
Nesse ambiente se formou uma cibercultura, à qual se relaciona a ciberliteratura, composta de textos 
literários construídos segundo processos informáticos – combinatórios, multimídias ou interativos –, 
aproveitando-se das potencialidades criativas do computador. O desenvolvimento de estruturas textuais 
em estado virtual atualiza-se ad infinitum e manipula os signos verbais, não se resumindo a simples 
armazenamento e transmissão de informações.
A ciberliteratura distingue-se da literatura digital(izada), que se constitui de uma hipertextualização 
de estratégias textuais pré-existentes, em que se verifica uma transição do papel para o pixel em termos 
meramente técnicos. Assim, no esclarecimento de Gimenes (2017), a simples digitalização de um poema 
canônico, como os de Álvares de Azevedo, por exemplo, não faz do texto parte da ciberliteratura, a 
qual depende de uma construção cibernética ou hipermidiática que promova novos modos de escrita 
e de leitura.
Podemos caracterizar a ciberliteratura de acordo com o próprio ciberespaço: a interatividade, a 
não linearidade, a hipermidialidade, a heterogeneidade, a multissequencialidade. Por conseguinte, as 
linguagens híbridas são desenvolvidas e criam desafios para os produtores e leitores. O leitor pode seguir 
caminhos variados dentro do próprio texto, tornando-se um coautor, porque ele constrói sua leitura de 
acordo com seu interesse, criando assim novas maneiras de ler. Esse leitor em hipermídia está semprebuscando novos caminhos por meio da sua autonomia.
Nesse contexto, a não linearidade, considerada a característica central de um hipertexto, é uma leitura 
que não possui sequência, e o leitor tem autonomia para decidir onde iniciar e finalizar sua leitura dentro 
41
LITERATURA COMPARADA
do próprio texto, podendo seguir diversos caminhos de acordo com seu interesse – ao contrário das leituras 
dos livros, que seguem a numeração sequencial contida nas páginas. De acordo com Santaella (2014), o 
hipertexto é um texto que, em vez de se estruturar frase a frase, linearmente, como em um livro impresso, 
se caracteriza por nós ou pontos de intersecção que, ao serem clicados, remetem a conexões não lineares, 
compondo um percurso de leitura que salta de um ponto a outro de mensagens contidas em documentos 
distintos, mas interconectados.
Quanto às narrativas virtuais, Janet Murray (2003) prefere empregar os termos multissequencialidade 
e multiformas no lugar de não linearidade. Para a autora:
Histórias multissequenciais proporcionam ao interator a habilidade de 
navegar por um arranjo fixo de eventos de diferentes maneiras, todas elas 
bem definidas e significativas. O sentido mais profundo da obra emerge da 
compreensão desses caminhos entrecruzados, como na narrativa de um 
caso amoroso contado a partir de dois pontos de vista que se encontram. 
Uma história multiforme é aquela na qual múltiplas versões podem ser 
geradas a partir da mesma representação fundamental, como num jogo que 
pode ser repetido de modos diversos, ou um sistema narrativo como The 
Sims, que pode oferecer muitas versões de colegas de quarto desleixados 
dividindo moradia com companheiros bem organizados, sendo que cada 
uma delas terá suas próprias peculiaridades de eventos e caracteres. 
Histórias multiformes podem ajudar-nos a perceber causas complexas de 
acontecimentos complexos, assim como a imaginar diferentes desfechos 
para uma mesma situação (Murray, 2003, p. 10).
No ciberespaço temos, em especial, a multissemiose: sistema midiático, híbrido, interativo, semiótico, 
que viabiliza a absorção de diferentes aportes sígnicos e sensoriais numa mesma superfície de leitura 
(palavras, ícones, efeitos sonoros, diagramas, tabelas tridimensionais). Ou seja, esses recursos do conceito 
de múltipla informação auxiliam na compreensão textual e na construção de sentidos, visto que, com 
as novas tecnologias, aumentou a necessidade de se desenvolver habilidades de articulação de diversos 
elementos para além do clássico texto verbal e impresso:
Essa mistura densa e complexa de linguagens, feita de hiper-sintaxes 
multimídia – povoada de símbolos matemáticos, notações, diagramas, 
figuras, também povoada de vozes, música, sons e ruídos – inaugura um novo 
modo de formar e configurar informações, uma espessura de significados 
que não se restringe à linguagem verbal, mas se constrói por parentescos 
e contágios de sentidos advindos das múltiplas possibilidades abertas pelo 
som, pela visualidade e pelo discurso verbal (Santaella, 2014, p. 213).
Devido à própria natureza virtual do suporte, a volatilidade na hipermídia determina que a linguagem 
esteja em constante mudança, que consiste nas escolhas feitas pelo leitor no processo de construção 
de sentido de um texto:
42
Unidade I
Depois de terem sido colocados em formato digital, quaisquer dados podem 
ser sintetizados em qualquer lugar e em qualquer tempo, para produzir 
produtos com idênticas cores e sons. Esses dados, desse modo, independem 
do lugar e tempo de sua emissão original ou de uma destinação determinada, 
pois são realizáveis em qualquer tempo e espaço. […] Foi essa volatilidade 
da digitalização que permitiu a distribuição da informação em rede indo 
desembocar na explosão da internet (Santaella, 2005, p. 24).
A interatividade na hipermídia se constitui em um processo de comunicação que permite a 
interação entre a obra e o leitor quando há proximidade entre eles, com o potencial das tecnologias 
digitais de comunicação levando em conta importantes aspectos socioculturais e cognitivos que 
incluem a subjetividade como ponto de partida para a redefinição de processos mentais. Quando 
se trata de interatividade, não se pode afirmar que algo é ou não qualitativo, pois é impossível 
concluir que plataformas digitais ou livros, que possuem apenas algumas formas de interação, se 
desqualificam do que é completamente interativo, que designa apenas uma característica. Com o 
avanço tecnológico, a interatividade ocorre com mais frequência devido à relação contínua do leitor 
com múltiplos autores, praticamente em superposição em tempo real.
Por se tratar de um espaço de escritura/leitura sem limites definidos, não hierárquico nem tópico, 
a especialidade topográfica nasce do design de hipermídia, tendo como características dessa nova 
linguagem o hibridismo, a hipertextualidade, a interatividade, a não linearidade e a navegabilidade. 
Nesse ciberespaço, com hipertextos e caracterizado por hipermídia, temos a ciberliteratura. A 
noção de literatura no ciberespaço levanta questões dos estudiosos da LC, entre as quais consta o 
estilo literário.
Gimenes (2017) aponta a dificuldade em estilizar a ciberliteratura, uma vez que não existe 
homogeneidade estética. Além dos obstáculos relacionados à linguagem – que envolve hipertexto, recursos 
digitais, som, movimento etc. –, a ciberliteratura não apresenta a clássica divisão das obras em épico, 
lírico e dramático. Também não podemos, ainda, falar de estilo(s) literário(s), tal como tradicionalmente 
tratamos (romantismo, naturalismo etc.). No entanto, é possível verificar suas tendências.
Em relação ao gênero, há três tendências de criação textual. Uma delas é a poesia animada, que 
tem temporalidade e movimento. A outra é a literatura generativa, ou seja, com base em um modelo, 
geradores automáticos apresentam infinitas variantes de leitura visual. Por fim, a hiperficção, cuja 
narrativa se desenvolve como um labirinto, assentada na noção de hipertexto, permitindo ao leitor um 
percurso de leitura único.
Outra tendência é a hibridação entre linguagem, mídias e gêneros. Gimenes (2017) apresenta vários 
exemplos, entre eles o escritor Pedro Gabriel, que começou postando em rede social poemas criados em 
guardanapos e depois fotografados.
43
LITERATURA COMPARADA
Figura 5 – Print da tela de rede social de Pedro Gabriel
Fonte: Gimenes (2017, p. 198).
Em 2013 e 2014, o autor lançou seus textos em formato tradicional, em livro impresso, mas continua 
ativo em suas criações, tendo ampliado o número de redes sociais em que faz suas postagens e misturando 
em sua obra diferentes referências – gráficas, analógicas, sonoras, digitais etc.
 Saiba mais
Há uma entrevista do escritor Pedro Gabriel bastante profícua, mas leve, 
realizada num shopping em 2014. Apesar de ser relativamente antiga, serve 
para entender o processo de produção e divulgação das obras do autor:
EU ME CHAMO Antônio: Pedro Gabriel. 14 abr. 2014. 1 vídeo (6 min). 
Publicado pelo canal salaoficial. Disponível em: https://cutt.ly/kM1Y67f. 
Acesso em: 27 jul. 2022.
Outro autor brasileiro que usa as redes sociais para divulgar sua obra é o cordelista Bráulio Bessa. 
A literatura de cordel utiliza o ciberespaço para divulgar, publicar e comercializar seus folhetos. 
Seguindo a ideia de que o cordel (re)existe na superfluidez do ciberespaço, a arte, que já foi oral e 
depois folheto, se transforma em hipertexto. Assim:
44
Unidade I
Com fôlego renovado, o cordel caracteriza-se, agora, pela reprodução dos 
folhetos sob formas contemporâneas de produção gráfica, bem como pela 
adaptação de suas temáticas aos eventos ocorridos. Assim, recupera forças, 
conquista mídias que tinham como centralidade a fala, a sonoridade e o 
movimento (Barbosa, Andrade, 2014, p. 5).
Em 2011, Bráulio criou o blog Nação nordestina e conquistou vários seguidores em suas redes 
sociais, levando sua obra de cordel a ultrapassar 100 milhões de visualizações. Com isso, o nordestinoimpulsionou o cordel a uma maior representatividade e legitimidade, a mesma legitimidade que tornou 
o cordelista influenciador digital – adquirindo, sobretudo, seu lugar de fala – e atrelou o cordel à 
identidade cultural e ao âmbito educativo.
Além dos flagelos temáticos do cangaço, Bráulio fala do sertão saudoso de Patativa, do sertão da 
seca e injustiças sociais de seu grande poeta de inspiração, mas também traz um novo olhar para as 
belezas da vida sertaneja.
 Observação
Patativa do Assaré foi, com certeza, um dos maiores representantes da 
literatura de cordel. Com linguagem poética e simples, tratava da vida árida 
e sofrida do sertanejo nordestino. Seu poema “Triste partida”, lançado em 
1964, foi cantado por Luiz Gonzaga e tornou Patativa famoso.
Bráulio não está sozinho. Tantos outros cordelistas estão no ciberespaço e compartilham a elaboração 
de cordéis em sua própria rede, o cibercordel, plataforma que lhes permite criar suas obras coletiva e 
interativamente (Cibercordel…, [s.d.]).
Exemplo de aplicação
1) Leia o trecho que apresenta o escritor Pedro Gabriel, criador da personagem “Eu me chamo 
Antônio”:
Sobre o escritor
Pedro Antônio Gabriel Anhorn nasceu no coração do mundo. Mais precisamente em N’Djamena, no 
ano de 1984. Passou a parte mais bonita de sua infância na África, alternando entre a capital do Chade 
e o arquipélago de Cabo Verde. É filho de mãe brasileira e pai suíço, mas foi alfabetizado em francês.
Sem saber falar português corretamente, chegou ao Brasil em 1996 com uma mala cheia de 
brinquedos e lembranças. A partir da dificuldade na adaptação ao idioma, começou a prestar mais 
atenção na grafia e na sonoridade das palavras, a brincar com elas, a tentar entendê-las. Transformou 
esse distanciamento de 12 anos em poesia. Cada vez que desenha ou escreve, tem a sensação de pagar 
uma dívida com a sua língua materna. Sua arte o aproxima do que ele é.
45
LITERATURA COMPARADA
Em outubro de 2012, inaugurou a página “Eu me chamo Antônio” nas redes sociais para compartilhar 
o que rabiscava com caneta hidrográfica em guardanapos nas noites em que batia ponto no Café Lamas, 
um dos bares mais tradicionais do Rio de Janeiro.
Fonte: Pedro… (2017).
a) Localize no mapa a seguir e ligue os locais experienciados pelo autor Pedro Gabriel.
Figura 6 – Mapa político
Adaptado de: https://cutt.ly/3M1UdlM. Acesso em: 4 nov. 2022.
b) Em outro momento do texto de apresentação, não transcrito, Pedro Gabriel, que cresceu em 
Chade, diz que suas primeiras paixões em leitura foram as sequências de imagens coloridas das 
coleções de Tintim e Asterix e Obelix. Descubra o país e a língua de origem dessas coleções e 
discuta a sua influência em Chade.
c) A primeira língua de Pedro Gabriel é a francesa, e somente na adolescência aprendeu português. 
Seu olhar sobre a nossa língua é mais sensível, com maior “atenção na grafia e na sonoridade das 
palavras”. Como essa atenção é representada na poesia a seguir?
46
Unidade I
Figura 7 – Poesia “Seu amor é meu”
Fonte: Gabriel (2013, p. 143).
2) Observe a capa do livro a seguir:
Figura 8 – Capa do livro Emoji Dick; or, 
Fonte: Gimenes (2017, p. 200).
47
LITERATURA COMPARADA
a) Descreva a transformação do texto original Moby Dick, de Herman Melville, e sua tradução para a 
linguagem de emoji.
b) Uma das aberturas mais famosas da história da literatura está na obra Moby Dick: “Chame-me 
Ismael. Há alguns anos – não importa quantos exatamente – tendo pouco ou nenhum dinheiro 
no bolso e nada em particular que me interessasse em terra, pensei de me entregar à navegação 
e ver a parte aquosa do mundo” (Melville, 1998, p. 48). Como ficaria esse início na linguagem de 
emoji? Traduza apenas a frase “Chame-me Ismael.”
c) Toda tradução é difícil e requer determinadas estratégias. Que estratégias você usou para a 
sua tradução?
Comentários
1) Seria muito interessante discutir literatura nacional e transnacional, considerando que o autor 
Pedro Gabriel teve experiências transfronteiriças: viveu a infância em Chade, onde se fala francês 
e há influência da cultura francesa; circulava por Cabo Verde, onde pode ter tido contato com 
a língua portuguesa ou mesmo com o crioulo caboverdiano; mudou-se para o Brasil e sofreu 
o choque entre línguas. Sua produção literária também foi versátil, heterogênea e múltipla na 
linguagem e no ciberespaço.
2) Veja como é o início de Moby Dick traduzido em emoji:
Figura 9 – Início da obra Emoji Dick; or 
Fonte: Benenson (2010, p. 11).
48
Unidade I
4 LITERATURA E OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO
Em LC, estudamos as relações entre os textos literários, mas também entre a literatura e outras 
esferas do conhecimento, como sociologia, história, psicologia, filosofia e artes (Mattos; Pereira, 
2021). Na observação de Carvalhal (2006, p. 10), a LC tem “a possibilidade de atuar entre várias áreas, 
apropriando-se de diversos métodos, próprios aos objetos que ela coloca em relação”.
Simone Martins (2019), por sua vez, recorre a Clements, que esclarece que desde 1976, quando a 
Acla ampliou a função da LC, houve avanço no campo. Além de comparar ou diferenciar obras literárias, 
a LC também pode adotar as interfaces de outras áreas como metodologia para os seus estudos, ou seja, 
mesclar-se a elas.
A seguir, a figura ilustra a relação entre LC e outras áreas, configurada por Clements e traduzida 
por Martins.
Antropológicas
Filosóficas
Sociológicas
Áreas
Literatura comparada
Interfaces
Figura 10 – Dimensões da literatura comparada
Fonte: Martins (2019, p. 23).
Vale dizer, pois, que a partir do século XX a LC aproximou-se de outras artes e saberes, entre elas a 
filosofia, a sociologia, a história, a geografia etc. Nesse caso, formaram-se diálogos
fundamentais para o comparatismo literário investigar os textos ou os 
autores a partir de uma perspectiva interdisciplinar, sendo, desse modo, a 
interdisciplinaridade uma das palavras de ordem do comparatismo 
contemporâneo, a partir da “reavaliação dos modelos culturais ocidentais 
e o ultrapassar das fronteiras disciplinares” (Correia apud Araujo, 2015, 
p. 28, grifo nosso).
Mattos e Pereira (2021) exemplificam com a aproximação entre literatura e história. Ainda que 
ambas atuem no tempo-espaço com narrativas sobre personagens, na história o espaço é real, e na 
literatura ele pode ou não ser real, e o tempo igualmente pode ser inventado pelo autor literário, como 
o futuro. Em relação às personagens, a realidade sobre elas é imperiosa na história, diferentemente 
dos textos literários, em que, mesmo quando baseadas em pessoas que existiram (ou existem), 
tornam-se ficcionais.
49
LITERATURA COMPARADA
Escritores literários e historiadores relatam e interpretam os fatos narrados; no entanto, estes são 
comprometidos com documentos e vestígios de fatos objetivos, e aqueles não se limitam a arquivos nem 
precisam de comprovação. Esse distanciamento entre literatura e história é foco da LC, a qual examina 
a “obra ficcional que se situa no passado em relação ao discurso histórico sobre esse mesmo passado” 
(Mattos; Pereira, 2021, p. 136).
Nesse cenário, inúmeras obras literárias buscam aliar eventos e personagens hipotéticos ou 
inventados a situações específicas de tempo e espaço da história. Apenas para ilustrar, apontamos 
uma grande obra literária do século XX. Os sertões é obra de Euclides da Cunha, publicada em 1902, 
e trata da Guerra de Canudos, ocorrida no interior da Bahia. O autor era jornalista e a obra foi 
considerada o primeiro livro-reportagem do Brasil, mas os críticos literários não a consideram um 
romance histórico.
O romance histórico surgiu no Romantismo, quando os escritores criaram temas dissociados de 
sua triste realidade. Muitos deles objetivavam consolidar a identidade nacional por meio do heroísmo 
de personagens históricos ou ficcionais. O escocês Walter Scott, do começo do século XIX, situou seus 
romances no século XII, como na obra Ivanhoé, que recupera o cavaleiro medieval, dando-lhe uma forma 
idealizada,mesmo que baseada em fatos reais. No Brasil, temos essa mesma vertente em determinadas 
obras de José de Alencar. Em O guarani, por exemplo, Alencar voltou-se para o início da colonização 
no país e, na mistura de fatos históricos e de idealização, criou o que é considerado o primeiro herói da 
literatura brasileira: Peri.
Na obra Os sertões, personagens reais da história brasileira são incluídos na narrativa. Na 
verdade, à época da produção da obra, Cunha vivenciou a Guerra de Canudos, tendo ido à região 
para fazer a cobertura jornalística sobre o conflito e o líder Antônio Conselheiro, contrário ao 
sistema governamental.
Exemplo de aplicação
Doutor Fausto, do alemão Thomas Mann, é considerado um dos 10 melhores romances do século XX. 
Leia o artigo publicado em 2019 pelo crítico literário Carlos Russo Jr. e verifique que área é relacionada 
ao texto literário de Mann:
“Doutor Fausto”, de Thomas Mann, é o mais alto grito literário antinazista
Romance do escritor alemão é alta literatura, discute música e é um libelo contra o nazismo de Adolf 
Hitler e outros fascismos
Em 1933, os nazistas chegam ao poder na Alemanha por meio do voto democrático. Imediatamente, 
devotam-se à destruição da democracia e à implantação do regime totalitário mais odioso da história 
da humanidade.
No mesmo ano, as claques de “choque” de Hitler atearam fogo ao parlamento alemão, já que eram 
lá mais que minoritários. Thomas Mann (filho de brasileira com alemão), o maior dos escritores alemães 
50
Unidade I
do século XX, decidiu se exilar de seu país, onde foi o primeiro autor a ter seus livros queimados em 
praça pública.
Uma das mais importantes obras-primas do grande mestre foi, sem dúvida, o romance Dr. Fausto. 
Escrito no exílio e publicado apenas em 1956, espelha uma visão amadurecida de todo o processo em 
que as liberdades e instituições da democracia foram sendo demolidas. […]
As peripécias do grande livro se desenvolvem num período histórico de aproximadamente 25 anos, 
entre 1920 e 1945, cobrindo desde a desagregação da República Democrática de Weimar até o 
esmagamento da Alemanha nazista. […]
O narrador, professor Serenius, anotará: “A supremacia das classes inferiores se afigura a mim, como 
cidadão alemão, um Estado ideal quando a comparo com o domínio da escória (nazista). Ao contrário que 
eu saiba jamais o bolchevismo destruiu obras de arte. A revolução russa emocionou-me profundamente 
e a superioridade histórica de seus princípios em confronto com os das potências que dobravam nossa 
nuca aos seus pés, era evidente… A verdade é que certas camadas da democracia burguesa parecem 
merecer o que acabo de denominar de domínio da escória, pois a ela se misturam, a fim de conservarem 
por mais tempo seus privilégios”. […]
No nazismo a violência opunha-se à verdade! Pregava-se um abismo entre a verdade e a força, a 
verdade e a vida, a verdade e a coletividade. Um grito de horror surge em Dr. Fausto sob a forma de uma 
composição musical do maestro dodecafônico Leverkun: “Nesse momento só uma única música pode 
servir-nos, somente ela corresponderá a nossas almas: a lamentação do filho do Inferno, a lamentação 
humana e divina, que, partindo do indivíduo, mas ampliando-se cada vez mais, e, em certo sentido, 
apoderando-se do Cosmo, há de ser a mais horrenda que jamais tenha sido entoada na Terra. Uma 
lamentação, um ‘De profundis’!” […]
O dogmatismo é uma forma intelectual do farisaísmo. Onde quer que haja Teologia, o Diabo 
também deva entrar no quadro, preservando sua autenticidade complementar à de Deus. O Inferno é 
tão simbólico quanto o Céu. O povo seguramente nunca fez isso. Sempre sentiu maior intimidade com 
a imagem brutal, obscenamente humorística, do Diabo do que com a Majestade Suprema. […]
Serenus ainda prevê, no início da ação dos nazistas no poder, que “chegaria o dia em que se 
legitimasse, por razão de higiene nacional e racial, a não conservação dos elementos mórbidos, a 
eliminação em grande escala dos ineptos para a vida e dos débeis mentais”. “Enfatizava-se a intenção 
da rejeição de qualquer efeminação humana, produto da era burguesa, um esforço intensivo por 
tornar a humanidade capaz de enfrentar tempos sombrios, desdenhosa de sentimentos humanitários, 
mais próximos daquela fase obscura que precede a origem da Idade Média”. […]
Finalmente, parecendo prever os tempos que vivemos no século XXI, questionará: “Será compunção 
mórbida perguntar como, no futuro, a Alemanha, sob qualquer aspecto, poderá atrever-se a abrir a boca 
em assuntos concernentes à humanidade?”
Adaptado de: Russo Junior (2019).
51
LITERATURA COMPARADA
Comentários
Russo Jr. destaca a proximidade entre Doutor Fausto e a história, em especial a nazista alemã. Ao 
ler a obra, no entanto, podemos verificar que ela não tem ligação com a história apenas; é uma obra 
profícua e abrangente, aproximando-se, por exemplo, da música e da filosofia.
Um estudo comparado pode relacionar a literatura com muitas outras áreas, além de história. 
Outra proximidade muito explorada pelos alunos do nosso curso é entre literatura e sociologia, como 
exemplificam os temas de trabalhos apresentados: o papel da mulher na sociedade escravocrata, na 
sociedade contemporânea etc.; violência doméstica; negritude; desigualdade socioeconômica; entre 
tantos outros temas sociais.
Como bem esclarecem Mattos e Pereira (2021, p. 145-146),
a sociologia é uma área do conhecimento voltada para todas as esferas da 
atividade humana em sociedade que observa padrões de relações sociais e 
culturais na vida cotidiana, buscando compreender e explicar as mudanças 
e os processos sociais.
O fato é que as artes, a literatura incluída, espelham em maior ou menor grau a realidade, o que 
levou ao crescimento da crítica literária sociológica em meados do século XX. As teorias de Georg Lukács 
e Lucien Goldmann tornaram-se a base para a sociologia da literatura. Respectivamente, escreveram 
A teoria do romance, publicado em 1920 e reeditado em 1962, e A sociologia do romance, publicado 
em 1964, ambos mostrando as articulações entre literatura e sociedade. No Brasil, sem dúvida, o maior 
precursor dessa linha de estudo é Antonio Candido, cuja obra marcante é Literatura e sociedade, publicada 
em 1965. Para Candido (2000), o fator social se torna relevante na análise de uma obra literária quando 
indica a época, as ideias e os costumes, e quando faz parte da constituição estética da obra.
Igualmente como exemplo indicamos Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, uma vez que 
tanto a obra quanto a própria autora revelam importantes fatores sociais. Trata-se da obra de uma 
mulher negra, mãe solteira, semianalfabeta e moradora de uma favela em São Paulo. Ela (originalmente 
de Minas Gerais) e outros migrantes viviam em abandono coletivo devido à segregação espacial – 
centros urbanos e periferia – e descaso político. No caso da obra em si, relata a visão de mundo da 
personagem-autora: o mundo de catadora de papéis e moradora da favela.
Essa interface entre literatura e outras ciências humanas não é surpreendente para nossa área. 
No entanto, a literatura pode se aproximar de campos aparentemente bem diferentes, como o da 
matemática. Fux (2016) aponta as relações entre esses dois âmbitos, sobretudo nas publicações de 
Georges Perec e Jorge Luis Borges, e afirma que elas já podem ser encontradas desde obras como a Torá 
e A divina comédia: na Torá se encontra um sistema bem estruturado, matemático e fechado, em que 
qualquer alteração de letra, frase ou parágrafo poderia desestabilizar o mundo; em A divina comédia há 
três partes, cada uma com 33 cantos – embora a primeira, “Inferno”, tenha uma introdução – escritos 
52
Unidade I
em tercetos de decassílabos rimados em ABC BCB CDC, ou seja, sua estrutura é sistematizada em torno 
do número primo 3, que simboliza o fundamento e a aceitação da religião cristã.
Na interface entre literatura e matemática, o estudo comparado ultrapassa a diversidade da língua 
e atinge a diversidadede linguagens, ampliando as investigações em LC. O primeiro critério para um 
analista é saber que a falta de conhecimento matemático específico não o impede de ler e entender a 
obra literária. O segundo critério, contudo, aponta a necessidade de conhecer o problema matemático 
a ser discutido, pois isso aumenta substancial e potencialmente as possibilidades de leitura. Assim, o 
terceiro critério consiste no conhecimento do discurso, da terminologia e dos problemas específicos do 
assunto matemático a ser trabalhado na obra literária.
Fux é um seguidor do grupo Oulipo, criado em 1960 pelo matemático François Le Lionnais e 
pelo escritor Raymond Queneau. Esse grupo trabalha com restrições (no francês, contraintes), sejam 
matemáticas ou outras, discutindo e compondo livros, textos etc. a partir delas. Fux, no caso, dedica-se 
às contraintes matemáticas, relacionadas à estrutura ou conceito matemático.
 Observação
Um exemplo de contraintes tecnológicas é o Twitter, que restringe as 
postagens a textos com até 280 caracteres. Em 2010, a Academia Brasileira 
de Letras lançou o Concurso Cultural de Microcontos, seguindo a contrainte 
do Twitter (à época, de 140 caracteres).
Contrainte é um método restritivo, aplicado pelos integrantes do Oulipo, cujo fundamento principal 
é a ruptura com a visão mítica de poeta inspirado. Interessam a esse grupo a criação e estruturas novas. 
Por isso, o nome Oulipo foi escolhido; é uma sigla para Ouvroir de Littérature Potentielle, ou Oficina de 
Literatura Potencial.
Oulipo trabalha com estruturas bem definidas. Italo Calvino, um dos mais importantes escritores do 
século XX, também fez parte desse grupo. As obras As cidades invisíveis, O castelo dos destinos cruzados 
e Se um viajante numa noite de inverno são explicitamente oulipianos. Calvino apresenta no volume 20 
da Bibliothèque Oulipienne um texto sobre como construirá um de seus livros: sua estrutura geral, as 
relações entre as personagens e a posição do leitor e do autor.
Em O castelo dos destinos cruzados, Calvino instaura um rético, ou rede, que consiste em narrativa 
labiríntica, a qual discorre em todos os sentidos – reto, de cima para baixo, de baixo para cima –, 
ocasionando palíndromos de palavras e ideias. Perec, conforme Fux (2016), aponta para uma contrainte 
nessa obra: um quadrado mágico com a frase palindrômica “sator arepo tenet opera rotas” (“O lavrador 
mantém cuidadosamente o arado nos sulcos”), como mostra a figura a seguir.
53
LITERATURA COMPARADA
S A T O R
A R E P O
T E N E T
O P E R A
R O T A S
Figura 11 – Quadrado mágico
Fonte: Fux (2016, p. 52).
Esse quadrado tem tamanho 5 × 5 e pode ser lido em várias direções. Sua utilização como uma 
contrainte dá-se pela simetria.
 Observação
O escritor brasileiro Osman Lins usou o mesmo quadrado na obra 
Avalovara. O quadrado com uma espiral é o ponto de partida do livro, 
criando, assim, uma contrainte para a construção da obra.
Fux (2016) dá vários exemplos de contraintes em obras brasileiras e estrangeiras, esclarecendo que 
a teoria na linha Oulipo abrange tanto uma contrainte que faz parte da estrutura da obra literária 
analisada quanto uma contrainte que é usada como tema.
Exemplo de aplicação
1) O trecho a seguir faz parte do conto “A carta roubada”, de Edgar Allan Poe. A matemática faz 
parte da estrutura ou do conteúdo/tópico temático?
A carta roubada
[…] Este funcionário, porém, se enganou por completo, e a fonte remota de seu fracasso reside na 
suposição de que o ministro é um idiota, pois adquiriu renome de poeta. Segundo o delegado, todos 
os poetas são idiotas – e, neste caso, ele é apenas culpado de uma non distributio medii, ao inferir que 
todos os poetas são idiotas.
— Mas ele é realmente poeta? – perguntei. – Sei que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome 
nas letras. O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o cálculo diferencial. É um matemático, e 
não um poeta.
— Você está enganado. Conheço-o bem. E ambas as coisas. Como poeta e matemático, raciocinaria 
bem; como mero matemático, não raciocinaria de modo algum, e ficaria, assim, à mercê do delegado.
54
Unidade I
– Você me surpreende – respondi – com essas opiniões, que têm sido desmentidas pela voz do 
mundo. Naturalmente, não quererá destruir, de um golpe, ideias amadurecidas durante tantos séculos. 
A razão matemática é há muito considerada como a razão par excellence.
Fonte: Poe (2008, p. 60-61).
2) Identifique a contrainte encontrada pelos arquitetos Erika Rufino de Souza e Luís Antônio Jorge 
na obra As cidades invisíveis, de Italo Calvino:
Cartografia das cidades invisíveis
[…] nesse livro, o viajante veneziano marco polo descreve para o conquistador mongol Kublai Khan 
55 cidades, que nos são apresentadas divididas igualmente em 11 temas. É através do relato de marco 
polo que o imperador – e os leitores – toma conhecido do seu domínio.
O livro apresenta um índice que desde a primeira leitura me deixou intrigada. Nele sempre nos são 
apresentados o tema da cidade e seu número. O nome de cada cidade, só descobrimos se nos dirigirmos 
ao texto propriamente dito. Estudando o índice cheguei a um gráfico que não apenas me fazia entender 
a sequência numérica, como permitia que se reconhecesse três ordens possíveis de leitura:
1. O olhar percorre o diagrama como numa leitura textual (de escrita ocidental): da esquerda 
para direita e de cima para baixo, e encontramos as cidades na ordem página após página do 
livro impresso.
2. Invertendo-se a hierarquia da leitura anterior, o olhar vai de cima para baixo e, então, da esquerda 
para direita. Em cada coluna, encontra as 5 cidades de um mesmo tema.
3. Temos a leitura diagonal onde as cidades aparecem ordenadas numericamente, assim leríamos as 
11 cidades e seu tema 1, depois as 11 cidades e seu tema 2.
Esse diagrama é a chave desse trabalho, das conclusões e proposições posteriores. Todos os 
elementos que foram analisados ganharam força quando se somaram a esse grid de rotas e viagens. 
E simultaneamente se reforçaram.
Fonte: Souza e Jorge (s.d.).
3) O livro O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon (2009), tem os seus capítulos 
enumerados como a sequência na figura a seguir. A figura foi desenhada e apresentada pelo 
próprio narrador, um garoto de 15 anos. Descubra a lógica – matemática – para os capítulos não 
serem enumerados sequencialmente (1, 2, 3…), mas 2, 3, 5, 7…
55
LITERATURA COMPARADA
Figura 12
Fonte: Haddon (2009, p. 15).
Comentários
1) O conto faz referência à matemática como tema (tópico temático).
2) Visite a página que contém o texto dos arquitetos. Ali você encontrará diagramas impressionantes 
sobre a obra de Calvino. Os autores levantaram nos diagramas as contraintes das cidades, dos 
temas, da própria narrativa.
3) No capítulo 19 do livro de Haddon (2009), o narrador explica sua escolha de não seguir a ordem 
linear dos números cardinais. A razão é matemática:
Figura 13 
Fonte: Haddon (2009, p. 15).
56
Unidade I
 Resumo
Esta unidade apresentou os fundamentos da literatura comparada (LC), 
cujas propostas teórico-metodológicas são bastante profícuas, e expôs 
brevemente a história do campo de estudo, constando sua origem, 
contribuições e metodologia. São utilizados como base principalmente os 
estudos das comparatistas Tania Carvalhal e Sandra Nitrini, por meio dos 
quais se nota a evolução dos conceitos e métodos dessa disciplina, bem 
como os percalços encontrados do decorrer dos séculos.
A LC incide sobre as relações entre duas ou mais literaturas, as quais 
podem ser estudadas sob vários enfoques: relações entre obras, relações 
entre autores, análise crítica ou de tradução de um autor em outro país 
que não o nosso, estudo de um tema ou de uma personagem em várias 
literaturas etc.
Vale salientar que por meio de tais conceitos se apresenta a importância 
da intertextualidade, bem como a interdisciplinaridade da LC – um alicerce 
para o estabelecimento de diálogo entre literatura e sociologia, história etantas outras áreas. Os campos da investigação comparativista progridem 
com o reforço teórico das relações interdisciplinares, não apenas entre 
literatura e sociologia, psicologia etc., mas também entre literatura 
e outras mídias, que se entrelaçam em suas linguagens, reforçando a 
intermidialidade.
Discutimos também a influência de uma literatura nacional sobre 
outras. Depois das expansões linguísticas e literárias dos países europeus 
colonizadores, criou-se na sociedade pós-colonização a dicotomia entre 
países centrais e países periféricos, e como a literatura dos primeiros 
influencia a dos segundos em uma relação de superioridade/inferioridade.
A noção de desterritorialização ou de ruptura de fronteiras 
intensifica-se na sociedade da globalização e é reforçada pela internet, 
na qual a ciberliteratura se constitui. Como efeito, temos, de um lado, 
estudos investigativos de literatura local, regional e nacional em uma 
luta de confirmação de identidade – inclusive identidade pátria, 
em decorrência de uma visão de decolonialidade – e, de outro lado, 
investigações de literatura, a qual rompe fronteiras, sejam geográficas, 
sejam no ciberespaço.
57
LITERATURA COMPARADA
 Exercícios
Questão 1. Leia o texto a seguir:
Em território francês
Embora empregada amplamente na Europa para estudos de ciências e linguística, é na França que 
mais rapidamente a expressão “literatura comparada” irá se firmar. Ali, o emprego do termo “literatura” 
para designar um conjunto de obras era aceito sem discussão desde o seu aparecimento, com essa 
acepção, no Dictionnaire philosophique de Voltaire, enquanto na Inglaterra e na Alemanha a palavra 
“literatura” custou mais a ganhar esse conceito.
Já em 1816, os autores Noél e Laplace publicam uma série de antologias de diversas literaturas, sob 
o rótulo geral de Curso de literatura comparada. Apesar do título, trata-se apenas de uma coletânea de 
trechos escolhidos, sem nenhuma preocupação em confrontá-los […]
É graças a Ampère que a expressão [literatura comparada] ingressa na órbita da crítica literária, 
via Sainte-Beuve, que faz o elogio fúnebre desse autor na Revue des Deux Mondes, considerando-o o 
fundador da “história literária comparada”.
No entanto, para que se complete a descrição do contexto francês, no qual se consolida em definitivo 
a inclinação comparativista aplicada à literatura, há que acrescentar […] Philarète Chasles, que, em 
1835, se encarrega de formular alguns princípios básicos do que considerava ser uma “história literária 
comparada”. […]
Parte daí para propor uma visão conjunta da história da literatura, da filosofia e da política nos 
cursos ministrados por ele no Collège de France (1841).
Estão aí já esboçadas as noções tanto de vinculação entre literatura comparada e historiografia 
literária quanto de empréstimo, que […] caracterizarão os estudos comparados considerados clássicos.
Fonte: Carvalhal (2006, p. 8-10).
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas a seguir:
I – Em 1816, Noél e Laplace publicam o Curso de literatura comparada, que, a despeito da 
nomenclatura utilizada, não fazia, de fato, a comparação entre uma coletânea de trechos de diversas 
literaturas que compunham a antologia.
II – Em 1935, Chasles propõe alguns princípios da chamada “história literária comparada”, que fazia 
uma clara distinção entre a história da literatura, a história da filosofia e a história da política.
58
Unidade I
III – Em 1931, Tieghem publicou o livro La littérature comparée, e nele indicou quais eram consideradas 
as diferenças entre a literatura comparada (que estuda as relações entre duas ou mais literaturas) e a 
literatura geral (que estuda os fatos de ordem literária pertencentes a diversas literaturas).
É correto apenas o que se afirma em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) II e III.
E) I e III.
Resposta correta: alternativa E.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: segundo o texto, “já em 1816, os autores Noél e Laplace publicam uma série de 
antologias de diversas literaturas, sob o rótulo geral de Curso de literatura comparada”, que era, 
“apesar do título, […] apenas […] uma coletânea de trechos escolhidos, sem nenhuma preocupação 
em confrontá-los”.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: segundo o texto, Philarete Chasles, em 1835, encarregou-se “de formular alguns princípios 
básicos do que considerava ser uma ‘história literária comparada’” e “parte daí para propor uma visão 
conjunta da história da literatura, da filosofia e da política nos cursos ministrados por ele no Collège de 
France (1841)”.
III – Afirmativa correta.
Justificativa: no livro-texto, vimos que, em 1931, Paul Van Tieghem, comparativista francês, publicou o 
livro La littérature comparée, em que aponta o que se considerava a diferença entre literatura comparada 
e literatura geral. Para o pensador, a literatura comparada “tem por objeto o estudo das relações entre 
duas ou mais literaturas” (TIEGHEM apud Nitrini, 2000, p. 25) e a literatura geral é alçada nos “fatos de 
ordem literária que pertencem a várias literaturas” (TIEGHEM apud Nitrini, 2000, p. 25).
59
LITERATURA COMPARADA
Questão 2. Em relação ao pensamento do crítico literário René Wellek (1903-1995), considerado o 
fundador da escola norte-americana de literatura comparada, avalie as asserções a seguir e a relação 
proposta entre elas.
Figura 14 – René Wellek
Disponível em: https://bit.ly/3UZHkzP. Acesso em: 11 ago. 2022.
I – Wellek, diferentemente do que se propunha na escola francesa de literatura comparada, não tinha 
como foco o estudo das fontes e das influências, por avaliá-las como exteriores ao texto e irrelevantes.
porque
II – Wellek, sem fazer uma cisão entre a literatura comparada e a literatura geral, pretendia realizar 
uma análise centrada no texto, sempre considerando a relação entre texto e contexto.
60
Unidade I
Assinale a alternativa correta:
A) As afirmativas I e II são verdadeiras, e a afirmativa II justifica a I.
B) As afirmativas I e II são verdadeiras, mas a afirmativa II não justifica a I.
C) A afirmativa I é verdadeira, e a afirmativa II é falsa.
D) A afirmativa I é falsa, e a afirmativa II é verdadeira.
E) As afirmativas I e II são falsas.
Resposta correta: alternativa A.
Análise da questão
Como vimos no livro-texto, René Wellek se opôs aos métodos historicistas franceses e questionou 
as definições do objeto de estudo, sendo um dos principais estudiosos da escola norte-americana de 
literatura comparada.
Ainda no livro-texto, foi dito que Wellek censurava o estudo de fontes e influências, visto que as 
considerava exteriores ao texto e irrelevantes. O crítico propunha, em contraste à escola francesa, uma 
análise centrada no texto, sem desconsiderar a relação entre texto e contexto. Wellek também preferia 
não separar a literatura comparada da literatura geral.em estado de escravidão 
no mesmo território, na obra em quadrinhos Angola Janga, de Marcelo D’Salete, em um Brasil de 1609 
e 1673, respectivamente.
De acordo com Perrone-Moisés (1982, p. 199),
qualquer estudo que incida sobre as relações entre duas ou mais literaturas 
nacionais pertence ao âmbito da literatura comparada. Essas relações podem 
ser estudadas sob vários enfoques: relações entre obra e obra; autor e autor; 
entre movimento e movimento; análise da fortuna crítica ou da fortuna de 
tradução de um autor em outro país que não o seu; estudo de um tema ou 
de uma personagem em várias literaturas; etc.
Nessa perspectiva, as possibilidades de estudo comparado são muitas, incluindo as relações entre 
texto literário e outras mídias, tais como cinema, história em quadrinhos (HQ), música etc., como no 
exemplo entre o romance de Alencar e a HQ de D’Salete. Além disso, a LC abre caminho para estudos 
interdisciplinares, ou seja, com outras áreas do conhecimento: “literatura e artes, literatura e psicologia, 
literatura e folclore, literatura e história se tornaram objeto de estudos regulares que ampliaram os 
pontos de interesse e as formas de ‘pôr em relação’, características da literatura comparada” (Carvalhal, 
2006, p. 74).
Esta disciplina nos dá a oportunidade de continuar a experiência leitora literária com discussões 
tanto teóricas quanto metodológicas. Nesse contexto, seus objetivos gerais são:
• considerar a literatura como um fenômeno de linguagem, associado a uma experiência existencial 
e cultural, em constante diálogo com a sociedade;
• conhecer os conceitos básicos da LC e como aplicá-los em suas pesquisas e prática docente.
Seus objetivos específicos são:
• realizar estudos comparados entre textos literários de mesma temática, considerando diferentes 
contextos (épocas, lugares e estéticas);
• realizar estudos comparados entre textos literários e diferentes manifestações artísticas em 
linguagens diversas: artes plásticas, arte sequencial, cinema, ciberliteratura.
8
Para atender esses objetivos, nosso conteúdo programático abrange conceitos fundamentais 
como influência, imitação, originalidade e intertextualidade, estudos comparados na atualidade entre 
literatura e artes plásticas, cinema e arte sequencial (HQs, tiras, charges, cartuns), bem como estudos 
das literaturas de diferentes contextos (épocas, lugares e estéticas), além da ciberliteratura – literatura 
produzida para os ambientes virtuais.
Os objetivos e o conteúdo programático desta disciplina respaldam a nossa formação profissional 
na área de Letras. Como leitores e formadores de leitores literários, o conhecimento de LC abre-nos um 
mundo rico, cheio de possibilidades de leituras e análises.
INTRODUÇÃO
A LC é considerada uma vertente de estudo crítico, com métodos próprios e que trata vários aspectos – 
de teorias e metodologias de estudos até exemplos de análises realizadas por especialistas. Esses aspectos 
serão tratados ao longo deste livro-texto.
Apresentamos brevemente o histórico dos estudos iniciais, formadores da LC, estendemo-nos sobre 
os fundamentos teóricos e metodológicos dessa vertente de estudo e discutimos uma questão-problema 
acerca da originalidade e as relações intertextuais. Devido ao crescimento da área, tratamos também da 
atualidade da LC, em especial da relação entre literatura e outras linguagens e mídias.
Focamos na aplicação dos estudos comparados. Avaliamos a relevância do clássico nesse campo, vista 
por meio da relação entre dois pilares do pensamento ocidental: a Bíblia e o mito. Discutimos também 
literatura brasileira, concentrando-nos especificamente na identidade nacional, e exemplificamos um 
estudo temático de obras literárias que abordam a criança ou a infância. Por fim, apresentamos um dos 
enfoques da LC – a relação entre literatura e outras mídias –, bem como o estudo na ciberliteratura.
Para encerrar, deixamos um desafio em três etapas para você, caro(a) aluno(a). A primeira etapa 
considera que uma das maneiras de praticar estudos comparados se fundamenta no tema, e que 
existem temas mais recorrentes na história da literatura, os quais perpassam épocas, línguas e culturas 
diferentes, como o tema máquina do mundo. Procure na internet a expressão “máquina do mundo na 
literatura” e anote os dados obtidos – nome da obra, do autor, língua original do texto, época em que 
o texto foi produzido. Depois, leia um dos textos indicados e curta a leitura. Por fim, responda: afinal, o 
que é máquina do mundo na literatura?
A segunda etapa se baseia em suas experiências em leituras literárias. Faça um levantamento de 
temas recorrentes nos textos lidos, independentemente da época, língua e cultura em que foram 
produzidos. Elenque, no mínimo, três temas.
Na terceira etapa, selecione dois textos literários curtos (poema, conto, crônica) que abordem o 
mesmo tema – lembre-se que os textos podem ser de épocas e países diferentes – e analise brevemente 
como ambas as obras o abordam.
Bons estudos!
9
LITERATURA COMPARADA
Unidade I
1 TEXTOS FUNDADORES DE LITERATURA COMPARADA
1.1 Conceitos e reflexões iniciais
Conceituar literatura comparada (LC) é uma árdua tarefa, principalmente se considerarmos que 
o termo foi interpretado e aplicado de diversas formas ao longo de sua história, conforme constataremos 
a seguir.
De acordo com Sandra Nitrini (2000, p. 23),
o debate sobre a especificidade do objeto e método da literatura comparada 
atravessa o século XX, sem que se chegue a um desfecho consensual. No final 
deste século, críticos e teóricos continuam interrogando-se sobre questões 
que já eram colocadas, há mais de cem anos, e que constituem o miolo 
de uma discussão ininterrupta: qual é o objeto da literatura comparada? 
A comparação pode ser objeto de uma disciplina? Se literaturas específicas 
têm seu cânon, o que seria um cânon comparativo? Como o comparatista 
seleciona o objeto da comparação? A literatura comparada constitui uma 
disciplina? Ou é um simples campo de estudo?
Já se passaram mais de 20 anos desde que Nitrini lançou seus questionamentos. Vários já foram 
respondidos, como a consolidação da LC enquanto disciplina curricular comum a vários cursos de Letras, 
mas outras questões ainda se encontram em discussão. À primeira vista, podemos dizer que LC consiste, 
em sua definição mais básica, em uma forma de investigação que confronta duas ou mais literaturas. 
Contudo, pela variedade de pesquisas e objetos de análise na área do comparatismo, a LC tornou-se um 
vasto campo de atuação que vai muito além do simples cotejo de textos literários, incluindo atualmente 
diferentes linguagens e áreas do conhecimento.
Para Tania Carvalhal (2006, p. 6), a LC não é sinônimo de comparação, uma vez que
o sentido da expressão “literatura comparada” complica-se ainda mais ao 
constatarmos que não existe apenas uma orientação a ser seguida, que, 
por vezes, é adotado um certo ecletismo metodológico. Em estudos mais 
recentes, vemos que o método (ou métodos) não antecede à análise, 
como algo previamente fabricado, mas dela decorre. Aos poucos torna-se 
mais claro que literatura comparada não pode ser entendida apenas como 
sinônimo de “comparação”.
10
Unidade I
Apesar de a autora se referir aos estudos comparados na década de 1990, podemos observar que 
esse ecletismo metodológico persiste em nossa atualidade. É importante que entendamos que isso não 
significa que em nossas análises trabalharemos com achismos ou meras impressões, ou que qualquer 
método ou teoria possa ser aplicado indistintamente.
Os estudos comparados cada vez mais têm se pautado pelo rigor teórico e conceitual, com métodos 
específicos e adequados para cada objeto de análise e uma abordagem válida, séria e pertinente. 
O confronto entre um texto literário e uma narrativa fílmica, por exemplo, exigirá do pesquisador 
métodos específicos e diferentes dos utilizados quando analisa duas narrativas literárias.
Há ainda de se considerar que outras disciplinas também utilizam acomparação em suas análises. 
Na crítica literária, por exemplo, essa ferramenta é utilizada ocasionalmente, mas não é essencial. 
Já na LC, é um recurso fundamental – não por si mesma, mas para se obter uma análise crítica, bem 
fundamentada. Segundo Carvalhal (2006, p. 7),
pode-se dizer, então, que a literatura comparada compara não pelo 
procedimento em si, mas porque, como recurso analítico e interpretativo, 
a comparação possibilita a esse tipo de estudo literário uma exploração 
adequada de seus campos de trabalho e ao alcance dos objetivos a que se 
propõe. Em síntese, a comparação, mesmo nos estudos comparados, é um 
meio, não um fim.
Nitrini (2000) aponta uma tendência entre as décadas de 1960 e 1970 de conciliar as escolas francesa 
e norte-americana, que veremos adiante, com a definição de Pichois e Rousseau (apud Nitrini, 2000, p. 30):
A literatura comparada é a arte metódica, pela busca de ligações de analogia, 
de parentesco e de influência, de aproximar a literatura dos outros domínios 
da expressão ou do conhecimento, ou então os fatos e os textos literários entre 
eles, distantes ou não no tempo e no espaço, contanto que eles pertençam a 
várias línguas ou várias culturas participando de uma mesma tradição, a fim 
de melhor descrevê-los, compreendê-los e apreciá-los.
Nessa definição podemos apontar um problema recorrente: o uso do termo influência, atualmente 
considerado indevido, pois implica um juízo de valor, uma hierarquização das obras, como se uma valesse 
mais do que a outra. Ainda outra questão é que hoje não é necessário que os textos literários pertençam 
a várias línguas: podemos estabelecer um estudo comparado entre obras de escritores angolanos, 
brasileiros, portugueses e moçambicanos, por exemplo – todos falantes de língua portuguesa, mas cujos 
contextos históricos e culturais se diferenciam.
Entendemos a LC, em seus aspectos analíticos e críticos mais abrangentes, como uma forma 
específica de interrogar os textos literários na sua interação com outros textos, outras linguagens, 
ou seja, em um processo intertextual, em diferentes suportes, épocas e países, na mesma língua ou 
em línguas diversas, com o objetivo de entender melhor nosso próprio sistema literário e a formação 
da literatura em um contexto mais amplo, histórica e socialmente construído.
11
LITERATURA COMPARADA
Nessa perspectiva, podemos citar Carvalhal (2006, p. 86), que resume nossa visão sobreo 
comparatismo:
A investigação de um mesmo problema em diferentes contextos literários 
permite que se ampliem os horizontes do conhecimento estético, ao 
mesmo tempo que, pela análise contrastiva, favorece a visão crítica das 
literaturas nacionais.
Essa visão crítica é fundamental. A comparação não deve ser superficial, não se deve comparar 
por comparar. Deve-se ter um objetivo específico a alcançar, delimitando-se um corpus de análise e 
lembrando-se que a literatura e o texto literário são os principais focos.
Segundo Nitrini (2000), há uma pergunta que nunca envelhece: o que é LC?
A resposta a tal pergunta, certamente, continuará escapando a afirmações 
seguras e definitivas, modificando-se de acordo com o tempo, o espaço e 
a ordem vigente na relação entre os vários países do mundo, e, também, 
de acordo com a circulação das novas teorias literárias, mas demandará 
sempre, para a compreensão de sua configuração momentânea, que 
se revisite sua história, tanto no plano internacional, quanto no local 
(Nitrini, 2000, p. 289-290).
Com base na resposta de Nitrini (2000, p. 289) a um “objeto escorregadio” como a LC, em busca de 
sua “configuração momentânea”, vejamos um pouco de sua história na seção a seguir.
1.2 Origens e breve histórico
É difícil constatar a origem da LC, o que torna um desafio estudá-la. Conforme aponta Nitrini 
(2000, p. 19),
as origens da literatura comparada se confundem com as da própria 
literatura. Sua pré-história remonta às literaturas grega e romana. 
Bastou existirem duas literaturas para se começar a compará-las, com o 
intuito de se apreciar seus respectivos méritos, embora se estivesse ainda 
longe de um projeto de comparatismo elaborado, que fugisse a uma mera 
inclinação empírica.
Ao longo dos séculos surgiram estudos de comparação de discursos, poemas, obras, artigos 
científicos, entre outros, mas somente em meados do século XIX o termo literatura comparada 
difundiu-se e propagou-se por toda a Europa, vinculado a um contexto neocolonial e cosmopolita, 
marcado pelo cientificismo, com destaque para o positivismo e o evolucionismo. Foi uma “época 
em que comparar estruturas ou fenômenos análogos, com a finalidade de extrair leis gerais, foi 
dominante nas ciências naturais” (Carvalhal, 2006, p. 8).
12
Unidade I
Carvalhal (2006) indica que na França, onde a expressão se firmou e se espalhou mais rapidamente, 
três nomes marcaram seu efetivo ingresso na teoria literária. Um deles foi Abel-François Villemain, 
professor da Sorbonne que empregou em sua obra sobre literatura do século XVIII os termos literatura 
comparada, panoramas comparados, estudos comparados e história comparada. Outro foi Jean-Jacques 
Ampère, que em seu Discurso sobre a história da poesia (1830) usou a expressão história comparativa 
das artes e da literatura, que reemprega no título da obra de 1841, História da literatura francesa na 
Idade Média comparada às literaturas estrangeiras. A expressão foi então aplicada por Charles Augustin 
Sainte-Beuve, que reconhece em Ampère o fundador da história literária comparada.
Em 1887 surgiu a primeira cátedra de LC em Lyon, e outra em 1910, em Sorbonne, ambas na França, 
com destaque para os comparatistas Joseph Texte, Fernand Baldensperger e J. M. Carré. Apesar da 
expansão continuada do termo e do seu objeto de estudo, a denominação disseminada pelos precursores 
franceses muitas vezes foi confundida ou associada com literatura geral. Em meados do século XX, a 
LC foi reconhecida como disciplina e tornou-se modalidade de ensino regular nas universidades, sendo 
publicados estudos, manuais e materiais específicos e de alta qualidade na área.
Conforme aponta Carvalhal (2006), podemos dividir a LC em duas vertentes, eventualmente 
chamadas de escolas francesa e norte-americana. Contudo, o termo escola causa polêmicas, pois dá 
a entender que há dois blocos radicalmente diferentes, e não é isso o que acontece. Há, por exemplo, 
comparativistas norte-americanos com orientação historicista, como os clássicos franceses, e há 
franceses que apresentam uma multiplicidade de orientações além da tradição. Assim, usaremos o termo 
escola com certo cuidado, considerando que essa terminologia se aplica muito mais às contribuições 
clássicas e postulações opostas de seus principais teóricos, Paul Van Tieghem e René Wellek.
Tieghem, relevante comparativista francês, publicou em 1931 o livro La littérature comparée, 
apontando na época o que se considerava a diferença entre LC e literatura geral. Para ele, a LC “tem por 
objeto o estudo das relações entre duas ou mais literaturas”, enquanto a alçada da literatura geral são 
“os fatos de ordem literária que pertencem a várias literaturas” (Tieghem apud Nitrini, 2000, p. 25).
Tieghem foi considerado o precursor do que se chamaria posteriormente de escola francesa. 
Seu  livro tornou-se um manual para vários estudiosos, entre eles Tasso da Silveira (1964), no Brasil. 
Sua metodologia baseava-se em três elementos: o emissor (ponto de partida da influência), o receptor 
(ponto de chegada) e o transmissor (intermediário entre o emissor e o receptor). Sua preocupação 
primordial não era a estrutura interna do texto, mas o contexto que o envolvia, sendo, portanto, a LC 
uma subsidiária da historiografia literária.
Acerca das orientações básicas do comparatismo clássico francês, podemos indicar que:
• vinculava-se a validade das comparações literárias à existência do contato real entre autores, 
obras e países;
• havia um forte impulso para o estudo das fontes e influências das obras;
13
LITERATURACOMPARADA
• privilegiava-se a fortuna crítica de um autor, identificando a recepção de sua obra em outros 
países;
• havia um forte viés nacionalista;
• associavam-se os estudos literários a uma perspectiva histórica;
• via-se a LC como um ramo da história da literatura.
Assim, segundo Carvalhal (2006, p. 14), a escola francesa se configurava em uma linha mais 
historicista e determinista, privilegiando o confronto entre duas literaturas distintas e a busca 
pelas “relações causais entre obras ou entre autores, mantendo uma estreita vinculação com a 
historiografia literária”.
A partir dessa visão mais clássica, os estudiosos se preocupavam demasiadamente em encontrar 
relações de causa e efeito em determinada obra, associadas principalmente a fatos não literários, o que 
levava a soluções simplistas – por exemplo, supor de forma superficial que um autor trataria de certos 
temas sensíveis e melancólicos porque provavelmente sofrera abandono e violência na infância, ou 
seja, relações de causa e efeito fora do texto literário. Havia também uma preocupação excessiva em se 
obter as fontes ou influências que levaram certo autor a escrever determinada obra, o que podia e ainda 
pode levar o estudioso a valorar uma obra em detrimento de outra, por motivos muitas vezes políticos, 
provocando questões como quem influenciou quem? Quem é melhor?
Ressaltamos que as contribuições desses primeiros estudiosos da LC foram bastante significativas. 
Contudo, pautavam-se em uma visão neocolonial, eurocêntrica e cosmopolita.
Para exemplificar o impacto dessa preocupação com fontes e influências, podemos observar as 
relações de intertextualidade entre Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, 
e A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy (1759), do escritor irlandês Laurence Sterne. 
O próprio Machado cita esse autor irlandês na introdução dessa sua famosa obra, o que comprova 
seu conhecimento e inspiração. Contudo, se formos analisar a obra machadiana a partir de suas 
possíveis fontes e influências da obra irlandesa, estaríamos fazendo uma análise rasa, reduzindo em 
muito a grandiosidade do estilo desse autor. Ou seja, é muito importante conhecer as leituras feitas 
pelos escritores e poetas, a sua formação, mas não podemos reduzir nossas análises às suas fontes e 
influências. Além disso, por ser Machado de Assis um autor brasileiro e o outro europeu, um estudioso 
com uma visão cosmopolita e eurocêntrica poderia desvalorizar a obra machadiana pelo fato de o 
Brasil ser um país latino-americano.
14
Unidade I
Exemplo de aplicação
1) As discussões sobre imitação e influência foram particularmente resgatadas no século XX por 
Harold Bloom, na obra A angústia da influência, publicada em 1973. Conforme o autor, imitação 
e influência são essenciais para o processo de criação, que começa pela imitação e passa pela 
influência na busca de uma expressão própria do artista.
Com base nesse processo:
a) Indique um autor literário – brasileiro, deste ou de outro século –, cuja(s) primeira(s) obra(s) 
possa(m) ser considerada(s) imitação de um estilo individual de um outro autor. Especifique uma 
obra e comente até que ponto se trata de imitação.
b) Esse mesmo autor brasileiro desenvolveu, posteriormente, sua expressão própria, ou seja, seu 
estilo. Escolha uma de suas obras e faça um comentário analítico, com trechos de exemplo, desse 
estilo desenvolvido.
2) Caro(a) aluno(a), você é um(a) escritor(a) literário(a)? No mínimo, já rascunhou poemas, contos 
ou outro gênero que faça parte do mundo literário? Em uma autoavaliação, sua escrita artística 
(literária) baseia-se em qual(is) outro(s) autor(es)? Em que ponto sua escrita mostra a relação com 
o outro e em que ponto ela foge dessa relação?
Comentários
As questões 1 e 2 dependem da sua experiência leitora. É uma atividade interessante e rica para 
você perceber que os grandes escritores, aqueles canônicos, famosos, também passaram pelo processo 
de imitação e influência.
Retomando a análise das diferentes vertentes da LC, a escola norte-americana, por sua vez, tem 
um dos estudiosos mais importantes, que se opôs aos métodos historicistas franceses e questionou as 
definições do objeto de estudo: o crítico tcheco naturalizado norte-americano René Wellek. Seu artigo 
“A crise da literatura comparada”, de 1958, publicado no II Congresso da Associação Internacional de 
Literatura Comparada, trouxe novos caminhos para a LC e expôs as “fragilidades teóricas da disciplina e 
sua incapacidade de estabelecer um objeto de estudo distinto e uma metodologia específica, até aquela 
época” (Carvalhal, 2006, p. 33).
Wellek censurava o estudo de fontes e influências por considerá-las exteriores ao texto e irrelevantes. 
Propunha, por outro lado, uma análise centrada no texto, sem deixar de lado a relação entre texto e 
contexto – segundo ele, um complemento fundamental. O estudioso também preferia não separar a LC da 
literatura em geral, fato criticado por Carvalhal (2006). Wellek ainda criticava fortemente a preocupação 
da vertente mais clássica de procurar relações de causa e efeito, principalmente com fatores não literários, 
visto que o texto, o real objeto de estudo da literatura, acabava muitas vezes abandonado.
15
LITERATURA COMPARADA
Por não concordar com o estudo de fontes e influências, Wellek tomou como base o formalismo 
russo e o new criticism, mas não se apoiava somente na postura imanentista dessas correntes, buscando 
um equilíbrio entre a análise crítica do texto, o que a ele está intrínseco, e o elemento histórico, o qual 
de maneira alguma pode prescindir àquele. Ou seja, há elementos inerentes ao texto, indissociáveis, 
muito importantes e que devem ser levados em conta nos estudos comparados; contudo, o elemento 
histórico, fora do texto, também precisa ser considerado.
 Observação
Imanentista tem sentido de imanente, intrínseco, inerente, indissociável.
No início do século XX surgiram algumas correntes teóricas literárias 
anti-historicistas, como o formalismo eslavo ou russo e a nova crítica (new 
criticism) anglo-americana, que passaram a compreender a obra literária 
como um arranjo linguístico, e não se preocupavam com a vida pessoal dos 
escritores ou mesmo com seu contexto social.
René Wellek conquistou muitos seguidores e transformou os estudos comparados em sua época, 
dando origem ao que conhecemos como a escola norte-americana, cujas principais características 
elencaremos a seguir:
• comparada à escola francesa, apresentava uma visão mais eclética da LC e de seus objetos de 
análise, sem o viés nacionalista;
• privilegiava a análise do texto literário;
• aceitava os estudos comparados dentro das fronteiras de uma única literatura;
• absorveu as questões teóricas do new criticism;
• era eclética e não possuía um programa a ser seguido como os franceses.
Segundo Carvalhal (2006, p. 38),
Wellek, sem dúvida, atinge os pontos fracos das propostas clássicas: 
o exagerado determinismo causal das relações, a ênfase em fatores 
nãoliterários, a análise dos contatos sem atentar para os textos em si 
mesmos, o binarismo reducionista.
Apesar das contribuições positivas de Wellek, Carvalhal (2006) aponta vários problemas em suas 
postulações, destacando principalmente a desconsideração do autor dos aspectos históricos que rodeiam 
o contexto de produção de uma obra literária, assim como o fato de não diferenciar a LC da literatura 
geral. Segundo Carvalhal (2006, p. 39),
16
Unidade I
a literatura comparada, sendo uma atividade crítica não necessita excluir o 
histórico (sem cair no historicismo), mas ao lidar amplamente com dados 
literários e extraliterários ela fornece à crítica literária, à historiografia 
literária e à teoria literária uma base fundamental. Todas essas disciplinas 
concorrem em conjunto para o estudo literário, resguardada a especificidade 
de cada uma. Devem conviver sem se confundirem.
Ao longo da história da literatura e da crítica literária surgiram vertentes quevalorizavam o 
contexto e outras que valorizavam o texto. Contudo, atualmente é possível afirmar que não há como 
dissociar esses importantes elementos para o estudo e a compreensão das obras literárias. Nesse 
sentido, referenciamos Antonio Candido (2000, p. 4):
Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma 
dessas visões dissociadas [texto ou contexto]; e que só a podemos entender 
fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, 
em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, 
quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente 
independente, se combinam como momentos necessários do processo 
interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa não 
como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha 
um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno.
Por muito tempo, o debate entre as duas principais vertentes permeou o campo de estudos da LC, 
originando uma série de conteúdos e artigos acerca do tema, com contribuições relevantes para o 
panorama geral. A concepção historicista francesa, por exemplo, foi questionada também pelo francês 
René Étiemble, o qual, segundo Nitrini (2000, p. 39), se opôs à limitação de
relações de causa e efeito na literatura. Ele [Étiemble] admite a legitimidade 
da comparação mesmo quando não houver influências, reconhecendo a 
validade de se estabelecer paralelismos de pensamento, independentemente 
de qualquer influência historicamente discernível.
Para o estudioso, a conciliação entre as duas escolas era uma medida razoável, sendo possível 
combinar ambas as orientações por meio de pesquisas minuciosas, contemplando a investigação 
histórica e, ao mesmo tempo, a análise crítica da obra, fazendo-se necessária uma terceira via. Conforme 
aponta Nitrini (2000, p. 40), para Étiemble,
cabe à literatura comparada conhecer minuciosamente as “relações de fato” 
que numa determinada época explicam a ação de um determinado escritor, 
de uma determinada corrente, de uma outra cultura. No entanto, isto não é 
suficiente para resolver a questão das “influências”.
Étiemble destacava que “a literatura comparada começa e se realiza quando estuda a obra como tal” 
(Nitrini, 2000, p. 40) e defendia um tratamento igualitário, militando para que as literaturas menores 
e marginalizadas também fossem vistas e valorizadas. Ademais, o autor rebatia “a distinção entre 
17
LITERATURA COMPARADA
literatura comparada e literatura geral e [sustentava] um interesse que ignora divisões políticas e limites 
geográficos” (Carvalhal, 2006, p. 31). De fato,
a proposta teórica de René Étiemble aponta para uma abstração em 
grau tão elevado que, como consequência, pulveriza o próprio objeto 
motivador de sua reflexão, a obra de arte literária, e torna impossíveis 
quaisquer sugestões metodológicas para um estudo concreto de literatura 
comparada. No  entanto, é incontestável seu legado para a história 
da literatura comparada da segunda metade do século XX, como voz 
combativa e pioneira em prol do acesso das literaturas marginalizadas 
a este domínio de estudos literários, e por sua participação atuante no 
debate que se instaurou em torno de seus novos caminhos, no final dos 
anos [19]50 e [19]60 (Nitrini, 2000, p. 44).
Além das duas já mencionadas, outra vertente relevante foi a escola soviética, que contava com a 
figura de Victor Zhirmunsky, cujo foco principal eram as questões de ordem social, adotando “como 
princípio básico, a compreensão da literatura como produto da sociedade” (Carvalhal, 2006, p. 15).
Nitrini (2000) discorre sobre a contribuição dos países do leste europeu entre as décadas de 1950 e 
1960 na desconstrução da polaridade entre as vertentes francesa e americana, marcando uma renovação 
dos estudos de LC na União Soviética. Houve, então, diversos congressos e debates acerca do conceito 
teórico da LC e de suas contribuições, como o IV Congresso Internacional de Eslavistas em Moscou, que 
foi um marco no desenvolvimento comparatista.
Nesse contexto, o tcheco Dionyz Durisin propôs um método comparatista que ficou conhecido 
como teoria estruturalista, focada em “prever explicações estruturais para os fenômenos literários, 
quando estudados de um ponto de vista comparativo” (Carvalhal, 2006, p. 42). O estudioso objetivava 
investigar as relações entre sistemas e subsistemas literários, governados por normas e tendências 
estéticas, sociais e políticas, não se atendo apenas às relações entre autores e obras. Com  essa 
abordagem, ele propiciou
a eliminação do conceito de influência no sentido clássico, pois o substitui 
pelo conceito operacional de tipo (ou estratégia) de influência. Ao fazer 
isso, o autor tcheco distingue entre estratégias integradoras – que seriam 
a imitação, a adaptação, o empréstimo ou decalque – e estratégias 
diferenciadoras (a paródia, a sátira, a caricatura) (Carvalhal, 2006, p. 42).
Podemos dizer que a preocupação primordial de Durisin foi classificar os tipos das relações 
literárias.
 Observação
Os estudos classificatórios chegam às relações possíveis entre as obras 
literárias com base em um fundo social ou psicológico, por exemplo.
18
Unidade I
1.3 Contexto histórico da LC no Brasil e na América Latina
Segundo Nitrini (2018), a LC entrou no Brasil a partir dos estudos de 1950, nascendo como disciplina 
universitária e formando os primeiros mestres e doutores nas décadas de 1970 e 1980 sob as ideias de 
Roger Bastide e Antonio Candido.
O sociólogo francês Roger Bastide (2006, p. 264) propôs “uma renovação da literatura comparada, 
ligando-a à sociologia das interpenetrações de civilizações”, e defendia que o campo de estudo dialogasse 
com a antropologia cultural, a fim de se
colocar no terreno da globalidade social. Só então as razões das escolhas, 
a transformação das modas estrangeiras, os canais de passagem e os 
processos de metamorfoses realmente se esclarecem. A literatura não plana 
no vazio, ela é obra de homens que estão ligados entre si por estruturas 
sociais determinadas. A literatura comparada, bem como a crítica literária, 
simplesmente têm a obrigação de reencarnar a arte na carne viva das 
sociedades (Bastide, 2006, p. 269).
Nitrini (2018, p. 13) delineia o surgimento da disciplina no Brasil:
A disciplina LC foi criada em 1940, por Tasso da Silveira, na Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Duas décadas depois 
surgiu em universidades públicas do Rio de Janeiro e de São Paulo nos 
cursos de Letras, por iniciativa, respectivamente, de La-Fayette Côrtes e 
de Antonio Candido. Mas seu grande impulso ocorre nos anos de 1970, 
com a produção universitária dos cursos de pós-graduação, tanto no 
âmbito da disciplina Teoria Literária e Literatura Comparada como no das 
literaturas estrangeiras da Universidade de São Paulo e de programas de 
outras universidades, como os da Pontifícia Universidade Católica  (PUC) 
de São Paulo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro (UFRJ). Ressalte-se a publicação, nos anos de 1970, do 
artigo sucinto, porém esclarecedor, sobre o comparatismo: “Conceitos e 
vantagens da literatura comparada”, de Afrânio Coutinho.
Tasso da Silveira era integralmente adepto de Tieghem (Carvalhal, 2006), seguindo fielmente no 
Brasil a orientação dos manuais franceses. Para o estudioso,
em literatura comparada procedem-se a comparações de caráter especial 
e com finalidade positiva. Com a finalidade, extremamente fecunda para 
a história do espírito, de verificar a filiação de uma obra ou de um autor a 
obras e autores estrangeiros, ou de um momento literário ou da literatura 
interna de um país a momentos literários ou a literaturas de outros países 
(Silveira apud Carvalhal, 2006, p. 20).
19
LITERATURA COMPARADA
Dessa forma, Tasso, de acordo com Carvalhal (2006, p. 21), se atinha a “um voo ainda muito restrito”,haja vista que apontava que a formação do comparatista exigia conhecimento enciclopédico, erudição 
e a habilidade de buscar indícios e “estabelecer filiações entre obras e autores de um país e obras e 
autores de outro ou de outros países” (Silveira apud Carvalhal, 2006, p. 21), não considerando como foco 
as técnicas de análise da estruturação das obras em si. No que concerne à abordagem, Carvalhal (2006, 
p. 21) destacou que
surpreende, na adesão de Tasso da Silveira aos autores franceses mencionados, 
o não aproveitamento das contribuições que alguns intelectuais brasileiros 
dispersavam em seus trabalhos de crítica literária, com forte inclinação 
comparativista. Se as tivesse considerado, é possível que, já na época, o 
manual brasileiro pudesse conter sugestões renovadoras, colhidas aqui 
mesmo, e não se tivesse deixado levar tanto pelo vezo sistematizador das 
orientações que acolheu.
Nesse contexto de desenvolvimento da LC no Brasil, Nitrini (2018) destaca que os estudos e publicações 
universitárias referentes à língua e à literatura francesas estavam em ascensão, destacando-se o projeto 
Léry y-Assu, dirigido por Leyla Perrone-Moisés e implantado no programa de pós-graduação da Faculdade 
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) em 1978. O projeto 
contou com diversos autores e teses, e seu objetivo era estudar as marcas da França na literatura brasileira, 
conjugando “a teoria da intertextualidade com a da antropofagia brasileira como um caminho para se estudar 
as relações culturais e literárias entre Brasil e França” (Nitrini, 2018, p. 13).
 Observação
A FFLCH é muito conhecida no mundo acadêmico brasileiro, e foi 
fundada em 25 de janeiro de 1934 na USP.
Conforme aponta Nitrini (2018, p. 14-15):
Opondo-se, então, à LC tradicional que considerava as obras feitas, o alvo 
de Projeto “Léry y-Assu” era colocar ênfase no processo de transformação 
dos textos. Daí a adequação da intertextualidade como um dos seus 
pressupostos. Por outro lado, essa teoria permitia uma visão antropofágica 
da literatura brasileira. Àquela altura, segundo Leyla Perrone-Moisés, a 
antropofagia era “a única teoria estética vigente no Brasil”. Talvez, hoje, ela 
não seja a única vigente, mas com certeza mantém ainda seu prestígio e 
pertinência para a compreensão da realidade brasileira, uma vez adaptada 
aos nossos tempos. Tal iniciativa se transformou ao longo desses quase 
40 anos e se mantém hoje como Grupo de Pesquisa Brasil-França (Grupebraf) 
do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, com 
uma respeitável contribuição para os estudos das relações literárias e culturais 
entre Brasil e França, cultivados de modo sistemático pelos pesquisadores 
formados por Leyla Perrone-Moisés e por estudiosos por ela convidados, 
20
Unidade I
advindos das áreas de Literatura Francesa, Literatura Brasileira e de 
Teoria Literária e Literatura Comparada, para participarem desse projeto 
integrado de pesquisa, pioneiro nos estudos comparatistas brasileiros.
Um marco importante para o avanço da LC no Brasil foi a fundação da Associação Brasileira de 
Literatura Comparada (Abralic) em 1986, durante o I Seminário Latino-Americano de Literatura Comparada, 
realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Abralic é uma associação de cunho cultural que 
tem como objetivo fomentar os estudos comparatistas nos cursos de graduação e pós-graduação em 
Letras, promovendo diversos eventos acadêmicos. No I Congresso da Abralic, Antonio Candido fez uma 
contribuição relevante sobre a importância da Associação e seu intuito principal:
Segundo ele, “faltava algo importante, e eu diria decisivo: a consciência 
profissional específica, que se adquire e fortalece sobretudo pelo intercâmbio, 
os periódicos especializados e a vida associativa, marcada por encontros, 
simpósios e congressos”. Nesses 30 anos, a Abralic cumpriu a contento sua 
missão institucional, com a realização periódica de congressos, simpósios, 
seminários e publicação de anais, livros e revistas e se expandiram programas 
de pós-graduação, nos quais os estudos de LC passam a constituir uma de 
suas linhas de pesquisa (Nitrini, 2018, p. 21).
Candido é a personalidade que representa a realização do antigo projeto de busca da identidade 
nacional por meio da criação de um projeto de literatura nacional. O professor reconhece que as literaturas 
latino-americanas são ramificações das literaturas metropolitanas, representando sua dependência cultural. 
Ele prega a prática de análise de um texto, um movimento dialético entre o localismo e o cosmopolitismo 
e uma concepção de literatura como sistema que a relaciona com a sociedade. As propostas de Antonio 
Candido tornaram-se uma ferramenta de estudos comparatistas totalmente independentes de qualquer 
escola ou tendência de LC, distanciando-se, principalmente, da escola francesa.
Figura 1 - Antonio Candido
Disponível em: https://cutt.ly/0M1YiS7. Acesso em: 4 nov. 2022.
21
LITERATURA COMPARADA
Dentre os vários estudiosos brasileiros no campo da LC, enfatizamos Tania Carvalhal e Sandra Nitrini, 
referências teóricas basilares neste livro-texto, além de Eduardo Coutinho, Roberto Schwarz e Benjamin 
Abdala Júnior.
Na América Latina como um todo, um teórico de destaque foi o uruguaio Ángel Rama, que a partir 
dos anos 1960 propôs uma visão única e global de literatura por meio de um aparato crítico que 
unificasse todas as literaturas latino-americanas, a fim de substituir o método historiográfico europeu. 
Rama procurou compor uma história unificadora, apoiando-se em um comparativismo cultural, em vez 
de somente literário, que compreendesse as três raízes da América Latina – a espanhola, a portuguesa 
e a francesa –, além de também considerar as culturas que não pertenciam a uma tradição românica, 
como as indígenas.
Nesse sentido, o cofundador da Abralic, Eduardo Coutinho, refletiu no II Congresso daquela 
instituição, em 1990, sobre o perfil do discurso crítico latino-americano, trazendo à luz as tendências 
europeias que contribuíram para o questionamento da própria visão eurocêntrica. Em sua comunicação, 
Coutinho (apud Nitrini, 2000, p. 287) esclarece:
Defender a criação de um discurso crítico próprio não significa de modo 
algum rejeitar o forâneo numa atitude irracional de xenofobia. Trata-se, isto 
sim, de combater o seu monopólio […] em outras palavras, de construir um 
discurso alternativo que relativize a autoridade do primeiro (europeu ou 
norte-americano) e seja capaz de estabelecer um diálogo franco, plural e 
em pé de igualdade.
Nesse sentido, destacamos como é importante valorizar um discurso crítico latino e brasileiro, 
pois nossa realidade é bem específica. Isso não significa que iremos rejeitar as críticas europeia e 
norte-americana, mas entender que elas não são as únicas.
 Saiba mais
No site da Abralic você encontrará muitas publicações pertinentes à 
área, além de informações sobre os congressos e cursos que a entidade 
realiza anualmente:
Disponível em: https://abralic.org.br/. Acesso em: 9 nov. 2022.
No canal da Associação no YouTube você pode ainda conferir várias 
palestras e comunicações:
Disponível em: https://cutt.ly/1M1YjRD. Acesso em: 9 nov. 2022.
22
Unidade I
Outra entidade importante é a American Comparative Literature Association (Acla), fundada nos 
Estados Unidos em 1960 e atualmente reconhecida como a mais importante associação de pesquisadores 
no campo das abordagens transculturais de literaturas e culturas.
Alós (2012) traça um interessante e rico percurso sobre a LC e suas fragilidades e cita a importância 
do relatório da Acla de 1993, efetuado pelo pesquisador Charles Bernheimer, que questionou o 
eurocentrismo e a formação dos cânones literários ocidentais. Houve muita repercussão e uma virada 
nos rumos epistemológicos da disciplina, com uma visão multiculturalista:
O relatório redigido por Charles Bernheimer, bem como as discussões que se 
produziram em seu entorno,marcaram o ano de 1993 como o momento da 
virada multiculturalista nos estudos de literatura comparada. Como em todas 
as grandes viradas, esta reformulação dos rumos epistemológicos da disciplina 
resultou em ganhos e em perdas. Dos ganhos, o maior deles foi uma fertilização 
do campo comparatista, a partir da abertura institucionalizada para os estudos 
culturais, marcando uma tomada de consciência com relação ao papel 
político da literatura no campo mais amplo dos debates acadêmicos das 
ciências humanas. Das perdas, a maior delas foi uma fragilização ainda maior da 
identidade institucional da literatura comparada como campo de investigação, ao 
assumir seu interesse por objetos de estudo tradicionalmente restritos a outros 
campos disciplinares, tais como a antropologia e a sociologia (Alós, 2012, p. 8).
Como podemos observar, Alós (2012) considera que o fato de a LC se aproximar dos estudos culturais 
a enfraquece enquanto campo de investigação. Contudo, “a interdisciplinaridade é uma das palavras de 
ordem do comparatismo contemporâneo” (Correia apud Araujo, 2015, p. 28), sendo preciso considerar 
as disciplinas afins e suas contribuições mútuas.
 Saiba mais
Os estudos culturais surgiram a partir da necessidade de recuperar 
e analisar as produções da cultura popular, questionando-se, assim, a 
tradição canônica dos estudos literários. Um dos seus principais nomes foi 
Stuart Hall, sociólogo britânico-jamaicano. Para conhecer melhor o autor e 
suas principais ideias, leia:
HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais 
do nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 15-46, 
1997. Disponível em: https://cutt.ly/vM1YnlR. Acesso em: 9 nov. 2022.
MORAES, M. L. B. Stuart Hall: cultura, identidade e representação. 
Revista Educar Mais, Pelotas, v. 3, n. 2, p. 167-172, 2019. Disponível em: 
https://bityli.com/bbR3u. Acesso em: 9 nov. 2022.
23
LITERATURA COMPARADA
Novamente enfatizamos como é importante que o estudioso tenha objetivos claros, e que a 
comparação não seja um fim em si mesma, ou seja, que não se compare apenas por comparar. É preciso 
aguçar nosso senso crítico em busca de uma melhor compreensão da literatura e de seus meandros, 
conforme nos aponta Bakhtin (2000, p. 363-364):
Cumpre salientar que, sendo a literatura um fenômeno muito complexo e 
a pesquisa literária uma ciência muito jovem, não se pode valorizar uma 
metodologia qualquer que seja um remédio milagroso. A diversidade 
dos procedimentos é justificada, até mesmo indispensável, contanto 
que tais  procedimentos deem provas de seriedade e descubram novos 
aspectos no fenômeno literário, contanto que contribuam para aprofundar 
sua compreensão.
Assim, graças aos estudos culturais, conceitos polêmicos passam a ser cada vez mais criticados:
Com o advento dos estudos culturais, uma série de conceitos-chave para a 
literatura passam a ser profundamente criticados e problematizados, tais como 
os de fontes/influências, originalidade/imitação e nacional/estrangeiro. Em 
cada um destes conjuntos binários de termos, o primeiro é sempre valorizado 
e considerado hierarquicamente superior ao segundo, instaurando assim um 
jogo de valorações no interior dos próprios conceitos (Alós, 2012, p. 10).
Dessa forma, retomando o exemplo dado sobre as intertextualidades entre A vida e as opiniões do 
cavalheiro Tristram Shandy (1759), de Laurence Sterne, e Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), 
de Machado de Assis, o romance irlandês seria a fonte, algo hierarquicamente superior ao romance 
brasileiro que dele recebeu influências, algo que designa grande preconceito, fundado numa visão 
cosmopolita e eurocêntrica, algo que percebemos por meio da atualização e renovação frequente dos 
conceitos e métodos da LC.
Posto isso, verificamos que a LC é um ramo que vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, pois 
apesar de ter se disseminado no século XIX e ter sido reconhecida como disciplina somente no século XX, 
sua origem é tão antiga e intrínseca à atividade humana e à própria literatura que não há uma data 
específica de surgimento do comparatismo literário.
Esse domínio conta com vasta gama de estudiosos, investigações, análises, publicações, eventos, 
discordâncias acadêmicas e contribuições efetivas não só ao campo literário, mas também a outras 
áreas do conhecimento com as quais dialoga. Sendo assim, apesar dos conflitos e das críticas existentes, 
a LC é um campo em constante evolução.
24
Unidade I
2 QUESTÕES DE AUTORIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
2.1 Intertextualidade
Como já pudemos observar, várias disciplinas e áreas do conhecimento contribuíram e vêm 
contribuindo para o aprimoramento da LC, seus conceitos e métodos, sua estruturação e atuação. 
Dentre elas, destacamos a teoria literária e o importante conceito de intertextualidade, basilar para a LC 
a partir da segunda metade do século XX.
Esse conceito foi elaborado por Julia Kristeva, que se embasou nas reflexões de Bakhtin em Problemas 
da poética de Dostoievski:
Todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e 
transformação de um outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, 
instala-se o da intertextualidade e a linguagem poética lê-se pelo menos 
como dupla (KRISTEVA apud Nitrini, 2000, p. 161).
É interessante destacar como o processo de escrita está ligado à leitura anterior de um corpus literário. 
Assim, por trás de um texto literário podemos vislumbrar outros que foram absorvidos e replicados, 
dando origem à nova composição: “intertextualidade designa o processo de produtividade do texto 
literário que se constrói como absorção ou transformação de outros textos” (Carvalhal, 2006, p. 20).
O teórico francês Gérard Genette considera que certos procedimentos permitem verificar a presença 
de outro texto e elucidar a intertextualidade, como a imitação, a cópia, a apropriação, a paródia, a 
tradução, entre outros. Para se referir aos textos gerados nesses processos, Genette (2005, p. 5) utiliza o 
termo palimpsesto em sentido figurado e explica:
Um palimpsesto é um pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada 
para se traçar outra, que não a esconde de fato, de modo que se pode 
lê-la por transparência, o antigo sob o novo. Assim, no sentido figurado, 
entenderemos por palimpsestos (mais literalmente hipertextos), todas as 
obras derivadas de uma obra anterior, por transformação ou por imitação. 
Dessa literatura de segunda mão, que se escreve através da leitura, o 
lugar e a ação no campo literário geralmente, e lamentavelmente, não 
são reconhecidos. Tentamos aqui explorar esse território. Um texto pode 
sempre ler um outro, e assim por diante, até o fim dos textos. Este meu 
texto não escapa à regra: ele a expõe e se expõe a ela. Quem ler por 
último lerá melhor.
Como podemos observar, um texto literário traz consigo outros textos que não podem ser ignorados 
e que precisam ser elucidados, sendo o método comparativo, dentro das propostas da LC, um bom 
instrumento para tal tarefa.
25
LITERATURA COMPARADA
Figura 2 – Exemplo de palimpsesto
Disponível em: https://cutt.ly/1M1YBsh. Acesso em: 4 nov. 2022.
Mais uma vez reforçamos como é preciso ficar atento aos conceitos de fonte e influência. 
A intertextualidade é, do ponto de vista da teoria do texto, conceito mais neutro, porque dá conta de 
que todo escritor é, antes de tudo, leitor, e seus textos emanam de outros textos.
Kristeva renova o conceito de intertextualidade. Segundo Laurent Jenny (apud Carvalhal, 2006, 
p. 51), “a intertextualidade designa não uma soma confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho 
de transformação e assimilação de vários textos, operado por um texto centralizador, que detém o 
comando do sentido”.
Anteriormente, considerava-se que havia uma relação de dependência entre um texto e outro, como 
se o segundo texto criado, o palimpsesto, fosse inferior, principalmente se considerarmos as relações 
de poder envolvidas, como já dissemos. Atualmente, isso não é mais aceito, poiscompreendemos que a 
intertextualidade é um procedimento natural e contínuo de reescrita de textos.
Há três principais processos pelos quais podemos observar a intertextualidade:
• primeiramente, há a citação, que mostra explicitamente a relação discursiva entre os dois textos, 
revelando o texto que se encontra dentro do outro;
• em segundo, a alusão, que mostra a relação discursiva, porém reproduzindo uma ideia de um 
texto em outro;
• finalmente, a estilização, que mostra o discurso do outro já estilisticamente modificado.
26
Unidade I
Como exemplo de citação, observe o título A pequena vendedora de fósforos em cordel. A autora, 
Nireuda Longobardi, demonstra explicitamente que seus versos foram inspirados no conto “A pequena 
vendedora de fósforos” (1845), de Hans Christian Andersen. Vejamos o início do conto:
Estava terrivelmente frio. A neve caía sem parar e já começava a escurecer. 
Era a última noite de dezembro, véspera de Ano-Novo. Por entre o frio e a 
escuridão, caminhava uma garotinha. Tão pobre era ela, que trazia os pés 
descalços e a cabeça descoberta (Andersen, 2019, p. 311).
Veja os primeiros versos do cordel:
Oh, divina mãe das fadas
Dai-me senso criador,
Para contar uma história
Comovente e com ardor,
De Hans Christian Andersen
Com carinho e muito amor
Na véspera de ano novo
Nevava e fazia frio
A menina ali estava
Ao lado do grande rio,
E suas águas congeladas
Andando no meio fio (Longobardi, 2022).
Na primeira estrofe, a cordelista confirma que o autor dinamarquês é sua inspiração, evidenciando 
as relações intertextuais e antecipando o que leremos a seguir. Ao comparar os dois textos, 
constatamos que o segundo, o palimpsesto, dialoga com o primeiro em um processo de estilização, 
ou seja, a autora relê ou adapta o conto de fadas para versos de cordel, sendo o discurso andersiano 
estilisticamente modificado.
Agora leia um trecho de uma notícia veiculada no Jornal de Notícias de Portugal, em 2015:
Criança de três anos morre de frio em Toronto após noite ao relento
Uma criança de três anos morreu, quinta-feira, em Toronto, no Canadá, 
depois de passar várias horas ao relento com temperaturas negativas. Elijah 
Marsh conseguiu sair da casa durante a noite, apenas vestido com uma 
camisola e uma fralda e calçado com umas botas. Um outro bebé de três 
anos foi encontrado a deambular, esta sexta-feira, também sozinho na rua 
e ao frio (Criança…, 2015).
Aqueles que conhecem o conto “A pequena vendedora de fósforos” e sua ideia central, uma criança 
passando frio e fome que morre congelada, podem estabelecer intertextualidade entre a situação da 
27
LITERATURA COMPARADA
criança canadense, no mundo real, e a história do conto de fadas, no mundo ficcional, por meio da 
alusão, ou seja, a ideia de um texto em outro texto.
É importante esclarecer que nos versos de cordel há a intenção da autora de estabelecer intertextualidade 
com o conto de Andersen, o que fica evidente desde o título. Já as relações de intertextualidade entre a 
situação relatada na notícia e o conto foram estabelecidas por nós e podem ser vislumbradas por aqueles 
que conhecem o conto e seu enredo.
Vale acrescentar que muitos contos de fadas tomaram como base situações reais para transfigurá-las 
em  fantasia. Infelizmente, histórias de crianças pobres, abandonadas e desamparadas eram comuns e 
continuam a ocorrer ainda hoje. Outro exemplo é o conto “João e Maria”, recolhido pelos irmãos Grimm.
Além desses processos (de citação, alusão e estilização), podemos pensar nos conceitos de paródia 
e paráfrase, amplamente discutidos pelo escritor e estudioso Affonso Romano de Sant’Anna (1999) em 
seu livro Paródia, paráfrase & cia.
A paródia existe desde a Antiguidade clássica, mas se tornou um efeito de linguagem muito 
frequente nas obras contemporâneas. Segundo Sant’Anna (1999, p. 7),
a rigor, existe uma consonância entre paródia e modernidade. […] A frequência 
com que aparecem textos parodísticos testemunha que a arte contemporânea 
se compraz num exercício de linguagem onde a linguagem se dobra sobre si 
mesma num jogo de espelhos.
Menna (2017) constata que os dicionários brasileiros trazem uma falsa definição para o que seria uma 
paródia, reduzindo-a a uma imitação ridicularizadora e muitas vezes confundindo-a com a sátira – mas 
são recursos diferentes, pois nem toda paródia é satírica. Há riqueza estilística na paródia, que pode 
ser uma simples inversão estrutural ou até uma homenagem:
A paródia é, pois, repetição, mas repetição que inclui diferença; é imitação 
com distância crítica, cuja ironia pode beneficiar e prejudicar ao mesmo 
tempo. Versões irônicas de “transcontextualização” e inversão são os seus 
principais operadores formais, e o âmbito de éthos pragmático vai do ridículo 
desdenhoso à homenagem referencial (HUTCHEON, 1991, p. 54).
Um dos poemas mais parodiados, parafraseados e estilizados na literatura brasileira é o “Canção do 
exílio”, do escritor romântico Gonçalves Dias (apud Sant’Anna, 1999, p. 23):
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
28
Unidade I
Observe as duas paródias a seguir, a primeira de Oswald de Andrade, em seu “Canto de regresso à 
pátria”, e a outra de Fernando Bonassi:
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá (Andrade apud Sant’Anna, 1999, p. 24).
Minha terra tem campos de futebol, onde cadáveres amanhecem emborcados 
pra atrapalhar os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz “tuim” na cabeça 
da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é claro, que tinta e a 
maior frescura quanto falta mistura) onde pousam cacos de vidro pra espantar 
malandro. Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (minha terra, 32 é uma 
piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada. 
Elas não são mais as das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos camburões, 
que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição (Bonassi, 2000, p. 10).
Podemos afirmar que as duas paródias apresentadas deformam o sentido original do poema de 
Gonçalves Dias, que trata das saudades e do amor à pátria e à sua natureza, temas recorrentes 
na primeira fase romântica, com uma boa dose de idealização. Já o poema do modernista Oswald 
de Andrade ironiza o do romântico em tom de crítica, substituindo, num processo de paronomásia 
(palavras com sons semelhantes, mas sentidos diferentes), o termo palmeiras por palmares, uma 
referência ao quilombo de Palmares e à escravidão, situação de vergonha e não de orgulho ou 
saudades, apresentando, portanto, uma crítica social importante. Além disso, o poeta subverte a 
lógica, técnica comum no Modernismo, ao dizer que o mar gorjeia, e não os pássaros. O texto em 
prosa de Bonassi (2000), por sua vez, expõe cruamente a dura realidade de muitos brasileiros, imersos 
na pobreza e cercados por violência e morte, confirmando que nem toda paródia apresenta humor.
Como exemplo de paráfrase da “Canção do exílio”, Sant’Anna (1999) apresenta um trecho do poema 
“Europa, França e Bahia”, de Carlos Drummond de Andrade, que cita diretamente o poema de Gonçalves 
Dias sem que o sentido original, as saudades da pátria, seja modificado. Leia:
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a “Canção do exílio”.
Como era mesmo a “Canção do exílio”?
Eu tão esquecido da minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá (Sant’Anna, 1999, p. 23).
Finalmente, como exemplo de estilização, Sant’Anna escolheu alguns versos de “Um dia depois do 
outro”, de Cassiano Ricardo, em que a ideia central do poema foi mantida, mas com mudanças na 
estrutura e estilo:
29
LITERATURA COMPARADA
Esta saudade que fere
Mais do que as outras quiçá,
Sem exílio nem palmeira
Onde cante o sabiá… (Andrade apud Sant’Anna, 1999, p. 24).
Sobre as distinções entre paródia, paráfrase e estilização, Sant’Anna (1999, p. 41) esclarece:
Falar da paródia é falar de intertextualidade das diferenças. Falar de paráfrase 
é falar de intertextualidadedas semelhanças […] a paráfrase é um discurso 
em repouso, e estilização é a movimentação do discurso, a paródia é um 
discurso em progresso […]. De outra maneira poderíamos dizer: a paródia 
deforma, a paráfrase conforma e a estilização reforma.
Pudemos constatar essas distinções nos exemplos dados, sendo que a paródia e a paráfrase se 
encontram em pontos opostos: na paráfrase há um desvio mínimo do texto original e seu sentido é 
mantido, enquanto na paródia há um desvio total, em que o sentido original é deformado. A estilização 
se aproxima da paráfrase por meio de um desvio tolerável do texto primeiro.
 Saiba mais
Sugerimos a leitura integral da obra de Sant’Anna (1999), que só tem a 
acrescentar a seu conhecimento do tema:
SANT’ANNA, A. R. Paródia, paráfrase & cia. 7. ed. São Paulo: Ática, 1999.
Como você deve ter percebido, o conceito de intertextualidade é bastante amplo e traz consigo 
processos vários que nem sempre são fáceis de identificar. Cabe ao comparativista examinar os recursos 
utilizados (paráfrase, paródia, estilização, alusão, citação, tradução…), reconhecer as formas de recriação, 
identificá-las e analisá-las. Não basta simplesmente constatar que houve intertextualidade, mas é 
preciso refletir criticamente, por exemplo, como o intertexto absorveu o texto anterior e se lhe atribuiu 
novos sentidos por meio de novos contextos.
Nesse sentido, Carvalhal (2006, p. 53) enfatiza:
Essa é uma atitude de crítica textual que passa a ser incorporada pelo 
comparativista, fazendo com que não estacione na simples identificação de 
relações, mas que as analise em profundidade, chegando às interpretações 
e motivos que geraram essas relações. Dito de outro modo, o comparativista 
não se ocuparia a constatar que um texto resgata outro texto anterior, 
apropriando-se dele de alguma forma (passiva ou corrosivamente, 
prolongando-o ou destruindo-o), mas examinaria essas formas, caracterizando 
os procedimentos efetuados.
30
Unidade I
2.2 Influência, imitação e originalidade
Em um sentido geral, influência é entendida na LC como a ação exercida por obras ou personalidades 
literárias sobre outras.
No senso comum, o termo adquire vários significados. Atualmente, por exemplo, está muito em 
evidência a palavra influencers (influenciadores) para designar pessoas de qualquer profissão ou área 
que influenciam outras, principalmente pela consolidação de um grande número de seguidores nas 
mídias sociais.
Como os conceitos vão adquirindo novas acepções ao longo do tempo, Nitrini (2000) discute suas 
diferentes interpretações a partir das considerações de alguns estudiosos, como Alejandro Cionarescu, 
Owen Aldridge, Claudio Guillén e Paul Valéry. Notamos que a autora destaca aspectos positivos e 
negativos de cada teórico; por exemplo, Nitrini (2000, p. 127) indica que para Cionarescu há duas 
acepções diferentes para o termo:
(1) “Influência indica a soma das relações de contato de qualquer 
espécie, que se pode estabelecer entre um emissor e um receptor.” […] 
(2)  Influência é “o resultado artístico autônomo de uma relação de 
contato”, entendendo-se por contato o conhecimento direto ou indireto 
de uma fonte por um autor.
Ou seja, ao lermos uma obra, podemos identificar, mesmo que intuitivamente, que o autor teve 
contato com outro autor, já que o texto traz indícios dessa influência.
Note que a obra de arte não é um objeto vazio, é uma produção humana. Assim, é importante 
conhecer os antecedentes criativos de um autor, aquilo que subjaz sua obra, mas não devemos nos 
limitar a isso nem esquecer a essência de cada escritor.
Baseando-se em Guillén, Nitrini (2000, p. 131) nos apresenta mais acepções de influência, uma delas 
voltada ao ato de criação e de seu criador: “Influências, desde que desenvolvidas estritamente no nível 
criativo, são experiências individuais de uma natureza particular, porque apresentam uma espécie de 
intrusão no ser do escritor ou uma modificação”.
O poeta Paul Valéry contribuiu significativamente para o conceito, e praticamente o renovou. 
Os empréstimos de um autor deixaram de ser considerados uma dependência, uma simples imitação, 
e passaram a ser índices de originalidade, ou seja, a intrusão de algo novo na criação. Segundo Nitrini 
(2000, p. 133), Valéry apresenta quatro tipos de influência:
A influência recebida, que consiste no contato misterioso de dois espíritos 
ou na dívida de um autor com outro, isto é, a influência propriamente dita, 
que ocupa o centro dos estudos comparatistas […], a influência existente 
sobre a posteridade […], a influência do autor sobre si mesmo, e, finalmente, 
a influência por reação, ou seja, a recusa da influência.
31
LITERATURA COMPARADA
Para nossos estudos comparados, é importante considerar os dois planos paralelos que ocorrem no 
processo de influência segundo Valéry. Esses planos, de certa forma, exprimem uma postura paradoxal 
do escritor influenciado e demonstram seu grau de originalidade: “Primeiro, o choque recebido faz o 
autor influenciado voltar-se para a própria personalidade. Em seguida, provoca também uma ruptura 
de seus liames com ídolos dos quais se nutrira até então” (NITIRINI, 2000, p. 134). Assim, para o poeta, 
a influência recebida colabora significativamente para o grau de originalidade do autor. Trataremos de 
originalidade mais adiante.
Como você já deve ter percebido, há muitas considerações a se fazer sobre influência, e não é nossa 
intenção esgotar o assunto. Com isso, seguimos para o o segundo tópico a ser abordado nesta seção.
As novas noções de intertextualidade e o reconhecimento de diferentes processos de produção 
de textos literários acabam por abalar conceitos e concepções antigas do que seria a imitação ou 
mesmo originalidade.
Segundo Carvalhal (2006), a tradição tem se constituído mais pelas rupturas e pelo desvio das 
diferenças do que pela continuidade, ou sua simples reprodução. Assim:
Modernamente o conceito de imitação ou cópia perde seu caráter pejorativo, 
diluindo a noção de dívida antes firmada na identificação de influências. Além 
disso, sabemos que a repetição […] nunca é inocente. […] Toda repetição está 
carregada de uma intencionalidade certa: quer dar continuidade ou quer 
modificar, quer subverter, enfim, quer atuar com relação ao texto antecessor 
(Carvalhal, 2006, p. 53-54).
Em uma perspectiva histórica, podemos verificar que o termo imitação recebeu quatro sentidos 
distintos, que hoje não são aplicáveis, mas precisam ser considerados em seu contexto de produção. 
Nitrini (2000) aponta quais são esses sentidos, citando Cionarescu:
• o primeiro é mimesis, que trata da imitação da natureza como fonte de arte, situando-se na 
tradição de Platão – ou seja, não representa uma ação específica, mas uma “idealização de uma 
experiência geral ou comum” (Nitrini, 2000, p. 128);
• o segundo é a retórica do Renascimento, época em que os clássicos gregos e romanos eram 
exemplos de perfeição e deveriam ser imitados a partir de um novo espírito contemporâneo – é o 
que fez Camões, por exemplo, em relação às obras de Homero e Petrarca;
• em seguida, o sentido de imitação como produto literário, obra literária, e não processo, atitude 
comum no método de adaptação renascentista;
• por fim, o sentido de equivalência entre imitação e influência.
Nitrini (2000) indica ainda a confusão das concepções de imitação a partir de uma mistura dos 
conceitos de Platão (mundo das ideiais) e Aristóteles (mais materialista, mas que valorizava a experiência 
da criação literária): “A noção de imitação de Platão, como cópia literal da realidade externa, levou os 
32
Unidade I
críticos renascentistas a darem mais importância ao objeto de imitação e ao grau de conformidade entre 
a obra e o modelo do que à estrutura artística da obra” (Nitrini, 2000, p. 129).
Muitas vezes, influência pode ser confundida com imitação, mas são conceitos distintos. Segundo 
Nitrini (2000, p. 127, grifos nossos), a imitação é algo mais específico, mais fácil de identificar:
A imitação

Mais conteúdos dessa disciplina