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92 Unidade II Unidade II 5 DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS HEPÁTICAS (HEPATITE, ESTEATOSE, ESTEATO‑HEPATITE, CIRROSE, ENCEFALOPATIA HEPÁTICA E TRANSPLANTE) O fígado tem funções importantes no nosso organismo e é o principal órgão metabólico devido às suas múltiplas funções. Regula o metabolismo de vários nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), controla a homeostase da glicose pela regulação da síntese de glicogênio, glicogenólise e gliconeogênese, síntese de ureia, metabolismo do colesterol, armazenamento de ferro, vitaminas lipossolúveis e B12 e síntese de proteínas plasmáticas, atuando no metabolismo de alguns polipeptídios hormonais e na detoxificação de diversas drogas e xenobióticos (STORCK; IMOBERDORF; BALLMER, 2019). As doenças hepáticas crônicas (DHC) prejudicam o funcionamento hepático, ocasionando prejuízo ao metabolismo e armazenamento de nutrientes, que levam ao comprometimento nutricional desses pacientes. A progressão da DHC impacta o estado nutricional por estar relacionada à diminuição do consumo energético e proteico, afetado pelas restrições alimentares e dietas de baixa palatabilidade, que interfere diretamente no consumo alimentar. A presença de doenças crônicas do fígado pode reduzir o apetite e, assim, influenciar a ingestão de nutrientes (PURNAK; YILMAZ, 2013). As doenças hepáticas podem apresentar diferentes formas de evolução, variando desde doença aguda à cirrose hepática em suas formas mais graves. As doenças hepáticas crônicas compreendem hepatite, cirrose e insuficiência hepática. 5.1 Doença hepática alcoólica A doença hepática alcoólica (DHA) é uma das principais causas de doença hepática crônica em todo o mundo. Quanto maior a quantidade e o tempo de consumo, maior o risco para desenvolver lesão hepatocelular. A esteatose é a primeira e a mais frequente das lesões hepáticas, induzidas pelo etanol, podendo ser a única ou estar associada com outras lesões, como hepatite alcoólica e cirrose. A hepatite alcoólica comumente só se desenvolve em pacientes que consomem pelo menos 80 g de álcool etílico ao dia durante cinco anos; já a cirrose hepática, 80 g de álcool etílico ao dia durante dez anos. A cirrose hepática é a fase da DHA considerada irreversível (SINGAL et al., 2018). Observe a seguir os fatores de risco para doença hepática alcoólica: • quantidade diária de álcool ingerida; • duração (tempo) da ingestão; • ingestão de bebidas alcoólicas sem alimentação; • sexo feminino; 93 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA • ingestão de bebidas com alta concentração de etanol; • fatores genéticos; • substâncias hepatotóxicas em bebidas alcoólicas; • outras condições patológicas (obesidade). 5.1.1 Fisiopatologia da DHA A cirrose hepática é a forma mais grave do dano hepático por abuso de álcool. A figura a seguir mostra o mecanismo fisiopatológico da doença hepática alcoólica provocada pelo abuso do álcool. Citosol ADH AIDH acetaldeído REL CYP2E1 hidroxietil radical Ácidos graxos insaturados Alteração da barreira intestinal Lesão mitocondrial Sensibilização do hepatócito a outras agressões ↑ Volume do hepatócito Esteatose Corpos de Mallory Necrose e inflamação Apoptose Fibrose Tubulina Citoqueratinas Ligações transversais Acúmulo de proteínas ↓ Inibidores do complemento Ativação do complemento Acúmulo de triglicerídeos Precipitação no citosol ↓ Transporte de vesículas Neoantígenos Autoagressão Células de Kuppfer TNFa IL-1 TGFβ quimiocinas Células estreladas Etanol Radicais livres Malodialdeído 4-hidroxinonenal Proteínas adicionadas com metabólicos Endotoxemia Aciletanol ésteres Figura 18 – Principais mecanismos de agressão do fígado pelo etanol Fonte: SBH (2010, p. 5). 94 Unidade II Saiba mais Para entender mais sobre a fisiopatologia da doença hepática alcóolica, consulte a referência a seguir: SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA (SBH). Hepatologia alcoólica: patogênese e tratamento. São Paulo: Atha Comunicação e Editora, 2010. p. 5. Disponível em: https://bit.ly/3j7tMCR. Acesso em: 19 ago. 2021. Fibrose Fígado normal Esteatose Esteatohepatite Carcinoma hepatocelular Cirrose Figura 19 O consumo de etanol produz lesões hepáticas. Fígado gorduroso (ou seja, esteatose) é a primeira lesão hepática. Com o consumo de álcool diário e prolongado, a doença hepática alcoólica pode levar à inflamação do fígado (ou seja, esteatohepatite), fibrose, cirrose e até mesmo câncer de fígado (ou seja, carcinoma hepatocelular) (OSNA et al., 2017, p. 150). • Quantidade de álcool em uma dose padrão: 14 g de álcool puro. • 45 ml de destilado (vodca, gim, cachaça, tequila, rum): 40% de álcool. • 150 ml de vinho: 12% de álcool. • 350 ml de cerveja: 5% de álcool. 95 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 5.1.2 Dietoterapia Tratar a síndrome de abstinência do álcool é essencial e requer administração de fluidos, calorias, vitaminas e minerais. No que se refere ao suporte nutricional, a maioria dos pacientes são desnutridos, e a gravidade da doença frequentemente se correlaciona com o grau de desnutrição. A maioria das complicações estão associadas à desnutrição proteica calórica, assim, o suporte nutricional é uma etapa crucial no tratamento. Vitaminas (como folato, vitamina B6, vitamina B12, vitamina A e minerais, como selênio, zinco, cobre e magnésio) estão alterados na DHA, e essas alterações desempenham papel importante no início e na progressão da lesão hepática. Os níveis de zinco são reduzidos nesses pacientes e sua suplementação é eficiente para a melhora do quadro (OSNA et al., 2017). A Associação Americana para o Estudo de Doenças Hepáticas e o American College of Gastroenterology (Colégio Americano de Gastroenterologia) recomendam as seguintes diretrizes: 1,2 a 1,5 g/kg por dia de proteína e 35 a 40 kcal/kg por dia de peso corporal para ingestão de energia (PLAUTH et al., 2006). O álcool induz mudança na microflora intestinal, levando à disbiose. Igualmente importante na progressão da doença hepática é o aumento da permeabilidade intestinal induzida por álcool, que permite os antígenos luminais intestinais, incluindo endotoxina/LPS (lipopolissacarídeo), um componente da parede celular das bactérias gram-negativas, atingir o fígado e promover a síntese e secreção de vários processos inflamatórios. Vários estudos propõem uso de probióticos na restauração da flora intestinal com DHA. Em um estudo realizado e pacientes com DHA, foi demonstrado que o uso de probióticos (Bifidobacterium ou Lactobacillus) por 4 semanas aumentou e normalizou a capacidade fagocítica dos neutrófilos e auxiliou a reduzir a elevação induzida por endotoxinas nos níveis de citocina, reduzindo a infecção (SARIN; PANDE; SCHNABL, 2019). Assim, os probióticos podem ser uma opção terapêutica para pacientes com DHA. Alterações em ácidos biliares Inflamação intestinal Alterações metabólicas microbianas Translocação de bactérias viáveis Translocação de patógenos associada a padrões moleculares Disbiose Figura 20 5.2 Doença hepática gordurosa A esteatose hepática é definida como o acúmulo excessivo de gordura nos hepatócitos (células do fígado). É a doença de fígado mais comum, e sua prevalência é estimada em 20-30% da população geral de países ocidentais. Existem duas principais condições associadas à esteatose hepática: doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e doença hepática gordurosa alcoólica (DHGA). As causas 96 Unidade II podem ser metabólicas, nutricionais, medicamentosas (quimioterapia e esteroides) e vírus da hepatite C. O curso natural da esteatose hepática varia de acordo com a etiologia e condições associadas, tais como inflamação e fibrose, que têm potencial para progredir para cirrose e insuficiência hepática. Portanto, é importante diagnosticar e quantificar a esteatose hepática (IDILMAN; OZDENIZ; KARCAALTINCABA, 2016). 5.2.1 Doença hepática gordurosa não alcoólica Para definir a DHGNA, deve haver evidências de esteatose hepática por imagemou histologia. Também é preciso constatar e falta de causas secundárias de acúmulo de gordura hepática, como consumo significativo de álcool a longo prazo, o uso de medicação esteatogênica ou monogênica e doenças hereditárias. Na maioria dos pacientes, a DHGNA está comumente associada a doenças metabólicas comorbidades, como obesidade, diabetes melito e dislipidemia. O estresse oxidativo e subsequente peroxidação lipídica, citocinas pró-inflamatórias, adipocinas e disfunção mitocondrial também estão associados no desenvolvimento e na progressão da DHGNA. Histologicamente, a DHGNA pode ser categorizada em esteatohepatite não alcoólica (NASH). A NASH é caracterizada por infiltração gordurosa difusa no fígado e inflamação dos hepatócitos. As causas e os mecanismos são multifatoriais e complexos (CHALASANI et al., 2018). Tecido adiposo magro Tecido adiposo obeso Infiltração de macrófogos tipo M1 ↓ Gasto energético ↑ Ingestão alimentar ↑ Produção de glicose hepática ↓ Captação de glicose ↓ Oxidação de AGL ↑ Glicogenólise ↑ Gliconeogênese ↑ Glicemia Músculo Fígado Inflamação Macrófogos tipo M2 M2 M2 M1 M1 M1 M1 M1 M1 Liberação alterada de adipocinas Resistência insulínica sistêmica ↓ Adiponectina ↑ AGL ↑ RBP4 ↑ Leptina ↑ TNF-alfa ↓ IL-10 ↑ Resistina ↑ IL-6 Excesso alimentar Inflamação Acúmulo ectópico de lipídeos Resistência à insulina Inflamação Acúmulo ectópico de lipídeos Resistência à insulina Figura 21 Fonte: Silva et al. (2015, p. 111). 97 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 5.2.2 Prevalência da esteatose hepática não alcoólica Tem sido demonstrado que a NASH está fortemente associada com as características da síndrome metabólica. Os fatores de risco da síndrome metabólica, como obesidade abdominal, dislipidemia aterogênica, hipertensão arterial, glicose plasmática elevada, um estado pró-trombótico e um estado pró-inflamatório também aumentam o risco de desenvolver NASH (YOUNOSSI et al., 2016). Quadro 11 – Mecanismos fisiopatológicos da esteatose hepática não alcoólica Obesidade Aumento da captação hepática de ácidos graxos livres associada à resistência à insulina e à hiperinsulinemia Aumento da expressão de TNF-alfa (fator de necrose tumoral) nos adipócitos Diabetes melito tipo 2 e resistência à insulina Aumento da captação hepática de ácidos graxos livres associada à resistência à insulina e à hiperinsulinemia Dismotilidade intestinal associada ao supercrescimento bacteriano Aumento da expressão de TNF-alfa (fator de necrose tumoral) induzindo estresse oxidativo Hiperlipidemia Aumento da capacitação hepática de ácidos graxos livres Cirurgia para obesidade Esteatose pré-existente Causas de rápida perda de peso (ressecções intestinais) Desnutrição e deficiência de micronutrientes e de proteína Redução da glutationa peroxidase Nutrição parenteral prolongada Deficiências de micronutrientes Sobrecarga de glicose Uso de drogas, principalmente corticosteroides, perexilina e amiodarona Dano mitocondrial Fonte: Cuppari (2014, p. 421). 5.2.3 Dietoterapia para esteatose hepática As abordagens terapêuticas devem focar na mudança do estilo de vida e no controle dos fatores de risco (obesidade, diabetes, hiperlipidemia e medicamentos hepatotóxicos, que podem piorar a esteatose). Vários estudos confirmaram o papel de macronutrientes específicos no início e na progressão da DHGNA. No entanto, é muito difícil saber o papel de cada macronutriente separado em relação à quantidade de energia fornecida e à sua proporção na alimentação. Macronutrientes, tais como ácidos graxos saturados (SFA), gorduras trans, açúcares simples (sacarose e frutose) e proteínas animais danificam o fígado. Estes modulam o acúmulo de triglicerídeos e a atividade antioxidante no fígado, que afeta a sensibilidade à insulina e o metabolismo pós-prandial dos triglicerídeos. Ácidos graxos monoinsaturados (Mufa), ácidos graxos poli-insaturados (Pufa), ω3, proteínas de base vegetal e fibras dietéticas parecem ser benéficos para o fígado. A TN é recomendada por 6 meses e tem como objetivo a perda de peso gradativa de aproximadamente 7% a 10% do peso corporal com dieta hipocalórica (25 kcal/kg/dia) e atividade física aeróbica. A perda de peso deve ser gradual. A distribuição dos macronutrientes é de 65% de carboidratos (deve-se preferir os complexos), 12% de proteína e 23% de lipídios (BERNÁ; ROMERO-GOMEZ, 2020). 98 Unidade II A soja é um alimento funcional que contém alto teor proteico, carboidratos complexos, fibras, minerais e vitaminas do complexo B. As propriedades da soja estão associadas às isoflavonas, que podem afetar o metabolismo corporal e a homeostase energética por meio de suas interações com receptores de estrogênio e exibem atividade estrogênica. As isoflavonas de soja diminuem o depósito de gordura no fígado através da redução da adipogênese e lipogênese, modulando o metabolismo hepático de lipídios sem aumentar o risco de desenvolvimento de complicações. As isoflavonas de soja também têm propriedades antioxidantes por meio de radicais livres e promovem a atividade de enzimas antioxidantes e, assim, protegem contra os danos do estresse oxidativo. A administração de 25 g de proteína de soja nos pacientes com DHGNA pode controlar a dislipidemia, reduzir a glicemia em jejum e aumentar a tolerância à glicose (ZAREI et al., 2020). Quadro 12 – Estratégias nutricionais Estimular — Ingestão de 3 a 5 porções de frutas, verduras e legumes por dia — Nas preparações, adicionar temperos naturais como alho e cebola — Ingestão de carnes magras, aves e peixes. Preferir assados, grelhados e cozidos e carnes magras como fraldinha, alcatra, filé mignon, peixes e carne de cordeiro — Ingestão de um tipo de grão (milho, soja, ervilha, grão-de-bico) em uma das refeições — Consumo de oleaginosas como castanhas e nozes, brócolis, cebola, cereais integrais, peixes e frutos do mar ricos em minerais como zinco e selênio estimulam o sistema imunológico e são antioxidantes — Se a alimentação não for suficiente para controlar a esteatose, recomenda-se o uso de suplementos como lecitina, colina, inositol e L metionina Evitar — Produtos industrializados (ricos em frutose, hipercalóricos, gorduras saturadas, glutamato monossódico, corantes e excesso de aditivos) — Utilização nas preparações de molhos industrializados, banha, manteiga e maionese — Alimentos gordurosos como queijos, carnes com gordura e frituras de imersão — Consumo alcoólico de 4 doses ou mais (40 g) pode aumentar o dano hepático — Jejum prolongado pode propiciar o acúmulo de gordura no fígado — Ovos > 4 unidades por semana — Evitar preparações que contenham ovos (bolos, biscoitos, suflês) — Doces, adição de açúcar e refrigerantes Alguns suplementos alimentares podem trazer benefícios junto com a mudança alimentar e no estilo de vida e quando a intervenção nutricional isolada não apresentar efeitos positivos. Alguns pacientes podem apresentar dificuldades em seguir as recomendações e, consequentemente, perder peso e manter a dieta por longos períodos. Ácidos graxos ômega-3 (suplementação com EPA e DHA) modulam a composição lipídica do fígado. Assim, promovem melhora do perfil lipídico, aumentam os mediadores anti-inflamatórios e diminuem a resistência à insulina (CASTRO et al., 2018). Os micronutrientes são importantes para o desenvolvimento da DHGNA. Os micronutrientes envolvidos são zinco, cobre, ferro, selênio, magnésio, vitaminas A, C, D e E e carotenoides. O mecanismos de ação são antioxidantes, antifibróticos, imunomoduladores e lipoprotetores. Pacientes com DHGNA demonstraram a diminuição dos níveis séricos de zinco, cobre, vitaminas A, C, D e E e carotenoides (PICKETT-BLAKELY; YOUNG; CARR, 2018). O tratamento com vitamina E mostrou uma diminuição nos níveis de transaminase e inflamação lobular do fígado, melhora 99 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA na fibrose hepática e esteatose reduzida. A suplementação de vitamina E via oral (400 a 1200 UI) no período de 4 a 10meses melhorou as provas de função hepática quando comparada ao grupo controle (sem suplementação de vitamina E) (HOOFNAGLE et al., 2013). 5.3 Cirrose hepática A cirrose é uma forma de doença hepática crônica (DHC) resultante de lesão hepática devido a várias causas, incluindo infecção viral, doenças autoimunes, doença colestática e metabólica (DHGNA) ou uso excessivo de álcool (MUIR, 2015). A lesão hepática crônica causa inflamação e fibrose hepática. Independentemente da causa, isso pode levar à formação de septos e nódulos fibrosos, colapso das estruturas do fígado e distorção do parênquima hepático e arquitetura vascular. Subsequentemente, pode causar fibrose progressiva e cirrose na diminuição da função hepática metabólica e sintética, causando um aumento na bilirrubina e a diminuição da produção de fatores de coagulação e trombopoietina, bem como sequestro esplênico de plaquetas, aumento da pressão portal e desenvolvimento de ascite e varizes esofágicas (SMITH et al., 2019). Conforme Smith et al. (2019), a etiologia da cirrose hepática compreende os seguintes aspectos: • hepatite viral (hepatite B e hepatite C); • doença hepática alcoólica; • doença hepática gordurosa não alcoólica; • hemocromatose; • doença de Wilson; • deficiência de alfa-1 antitripsina (DAAT); • hepatite autoimune; • colangite biliar primária; • colangite esclerosante primária; • insuficiência cardíaca congestiva; • síndrome de Budd-Chiari; • colangite bacteriana recorrente; • estenose do ducto biliar; • medicamentos; • esquistossomose. 100 Unidade II A cirrose pode ser dividida clinicamente segundo classificação de Child-Pugh modificada, com um sistema de escore. Esse sistema atualmente é utilizado para avaliar o prognóstico da cirrose e orienta o critério padrão para inscrição no cadastro de transplante hepático (classe B de Child-Pulgh). É um fator preditivo de sobrevida de várias doenças hepáticas e antecipa a probabilidade de complicações importantes da cirrose, como sangramento por varizes e peritonite bacteriana espontânea. O sistema de pontuação é para cada critério com base no aumento da gravidade. 5.3.1 A gravidade da cirrose Observe a tabela a seguir, que destaca o escore de Child-Pugh. Tabela 41 Fator 1 ponto 2 pontos 3 pontos Bilirrubina sérica μmol/l (mg/dl ) < 34 (< 2,0) 34-51 (2,0-3,0) > 51 (> 3,0) Albumina sérica, g/l (g/dl) > 35 (> 3,5) 30-35 (3,0-3,5) < 30 (< 3,0) Ascite Nenhuma Facilmente controlada Mal controlada Distúrbio neurológico Nenhum Mínimo Coma avançado Tempo de protrombina (segundos de prolongamento) INR 0-4 <1,7 4-6 1,7-2,3 >6 >2,3 Nota: o escore de Child-Pugh é calculado somando os pontos dos cinco fatores e varia de 5 a 15. A classe de Child-Pugh é A (escore de 5 a 6), B (7 a 9) ou C (acima de 10). Em geral, a “descompensação” indica cirrose com um escore de Child-Pugh > 7 (classe B de Child-Pugh) e esse nível é um critério aceito para inclusão no cadastro do transplante hepático Fonte: SBH (2004, p. 3). 5.3.2 Dietoterapia, desnutrição e cirrose hepática A desnutrição afeta de 20% a 95% dos pacientes com cirrose. A prevalência e gravidade correlacionam-se com o grau da doença hepática e os mecanismos são multifatoriais. A diminuição da ingestão alimentar é comum nos pacientes com cirrose e ocorre devido à ativação de citocinas por elevado níveis de TNF-alfa, interleucina-1 e interleucina-6. A ativação de citocinas influencia a desnutrição de várias maneiras: os níveis de citocinas estão inversamente relacionados à ingestão de nutrientes; as citocinas têm o potencial de diminuir o apetite e níveis aumentados podem contribuir para o hipermetabolismo. Pacientes com cirrose geralmente têm anorexia de doença crônica e diminuição do olfato e/ou disgeusia, e esta última pode ser causada ou exacerbada por deficiências de micronutrientes, como zinco e magnésio. Náuseas e vômitos podem estar presentes devido a ascite, edema intestinal, dismotilidade gastrointestinal (GI), crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado ou medicamentos como lactulose, que também aumenta o gás intestinal. Complicações da cirrose descompensada, como encafalopatia hepática, podem contribuir para falta de apetite, dificuldade em engolir e mastigar e falta de vontade de comer. A ascite de grande volume pode causar saciedade precoce devido à compressão extrínseca do trato gastrointestinal. Também é comum que fatores externos contribuam para problemas de ingestão oral. Pacientes com cirrose têm reservas de 101 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA glicogênio diminuídas, assim, o jejum por até 2h pode induzir um estado de fome, levando à oxidação de gordura e gliconeogênese, resultando em aumento da proteólise. Além disso, os pacientes com cirrose recebem frequentemente restrições dietéticas, podendo levar a dietas menos palatáveis. A diarreia, o supercrescimento de bactérias no intestino delgado e a má absorção de vitaminas lipossolúveis também são fatores que causam a desnutrição. A motilidade trato gastrointestinal (TGI) prejudicada pode afetar várias partes do trato TGI e afeta adversamente o estado nutricional dos pacientes. Aumento do óxido nítrico, neuropatia autonômica e alterações hormonais intestinais foram apontados como possíveis fatores contribuintes. O esvaziamento gástrico retardado e a acomodação prejudicada podem ser vistos na cirrose e podem resultar na saciedade precoce. Pacientes com cirrose também apresentam estados hipermetabólicos. O hipermetabolismo está associado à desnutrição e pode ser mediado pela ativação de citocinas e episódios intermitentes de endotoxemia, que são todos fatores que contribuem para anorexia (PALMER et al., 2019). Por outro lado, houve aumento da prevalência de obesidade em pacientes com cirrose. A obesidade não exclui a desnutrição. A combinação de perda de músculo esquelético e ganho de tecido adiposo é denominada obesidade sarcopênica e é observada em um número significativo de pacientes com cirrose. Além disso, a obesidade pós-transplante e a síndrome metabólica são comuns, e o ganho de peso após o transplante é considerado, principalmente, devido a um aumento no tecido adiposo, com perda concomitante no músculo esquelético. Portanto, a desnutrição precisa ser estimada rotineiramente e tratada no paciente cirrótico obeso. Na prática clínica, o IMC é adequado para reconhecer a obesidade (definida como IMC igual ou superior a 30 kg/m2) em pacientes cirróticos na ausência de retenção de líquidos. No caso de retenção de fluidos, o peso corporal precisa ser corrigido avaliando-se o peso seco do paciente, comumente estimado por peso corporal ou peso registrado antes da retenção de fluidos. O aconselhamento nutricional por equipe multidisciplinar deve ser fornecido aos pacientes cirróticos com desnutrição, auxiliando-os a alcançar a ingestão calórica e proteica adequada. A ingestão energética diária ideal não deve ser inferior aos 35 kcal/kg/dia (em pacientes não obesos). A ingestão diária ideal de proteínas não deve ser inferior à recomendada de 1,2-1,5 g/kg de peso corporal/dia. É necessário incluir suplementação nutricional oral na alimentação de pacientes cirróticos desnutridos descompensados. Suplementos de BCAA e de aminoácidos enriquecidos com leucina devem ser usados em pacientes cirróticos descompensados para atingir a ingestão adequada de nitrogênio. Em pacientes com desnutrição e cirrose que não conseguem atingir a ingestão alimentar adequada com a dieta oral (mesmo com suplementos orais), um período de nutrição enteral é recomendado. Pacientes com cirrose, sempre que possível, devem ser encorajados a evitar a hipomobilidade e aumentar progressivamente a atividade física. Implementar um programa nutricional e de estilo de vida para alcançar perda de peso progressiva (> 5-10%) em pacientes cirróticos obesos (IMC > 30 kg/m2 corrigido para retenção de água). Uma dieta sob medida, moderadamente hipocalórica (500-800 kcal/dia), incluindo ingestãoadequada de proteínas (> 1,5 g de proteínas/kg de peso corporal/dia), pode ser adotada para atingir a perda de peso sem comprometer os estoques de proteínas em pacientes cirróticos obesos (ASSOCIAÇÃO EUROPEIA PARA O ESTUDO DO FÍGADO, 2019). 102 Unidade II Quadro 13 – Recomendações de nutrientes e estratégias terapêuticas Intervenção Recomendação Mecanismo Resultados Energia e proteína da dieta Energia 35 40 kcal/dia Proteínas 1,2-1,5 g/kg/dia Melhora o equilíbrio do nitrogênio Diminui a proteólise do músculo esquelético Melhora a massa muscular Melhora a qualidade de vida Reduz complicações das doenças relacionadas ao fígado Melhora a sobrevida Lanche da noite (ceia) ≥ 50 g de carboidratos complexos Lanche/refeição com proteína, de preferência alto AACR* Diminui a oxidação lipídica e balanço de nitrogênio Diminui a proteólise do músculo esquelético durante jejum à noite Melhora a massa muscular Melhora a qualidade de vida Melhora as funções do fígado Suplementação de AACR* 0,25 g/kg/dia de suplementação Ativa a síntese de proteína muscular através de via de sinalização mTOR Diminui a autofagia muscular Ajuda a desintoxicar a amônia Melhora a massa muscular Melhora a qualidade de vida Melhora a esteatose hepática Melhora as funções do fígado Melhora a sobrevida Suplementação com zinco 150‐200 mg de zinco elementar Melhora os sintomas de deficiência de zinco, por exemplo, paladar alterado, perda de apetite e encefalopatia Melhora o paladar Pode melhorar as funções hepáticas e o estado mental Suplemento com vitamina D Vitamina D 600-1.000 IU/dia (de preferência com cálcio 1.000-1.500 mg/dia) Corrigir deficiência de vitamina D em níveis < 20 ng/mL para alcançar > 30 ng/mL Previne os efeitos negativos da deficiência de vitamina D A deficiência de vitamina D está associada ao aumento da mortalidade na cirrose Reduz a perda óssea Pode melhorar a densidade mineral óssea Pode melhorar as funções musculoesqueléticas (por exemplo, aumentar a força muscular e reduzir a queda) *AACR – aminoácidos de cadeia ramificada Fonte: Bunchorntavakul e Reddy (2020, p. 7). 5.4 Encefalopatia hepática A encefalopatia hepática (EH) é uma complicação frequente e uma das manifestações clínicas da doença hepática. É considerada grave e progressiva, com um abrangente espectro de anormalidades neuropsiquiátricas e alterações motoras que podem envolver desde uma alteração mínima da cognição e função motora até coma e morte. É um distúrbio metabólico, portanto potencialmente reversível. A amônia está relacionada à sua gênese, ao lado de várias neurotoxinas e fatores diversos, como o edema cerebral, o tônus GABAérgico e microelementos como zinco e manganês. A EH é classificada de acordo com o grau de comprometimento da função hepática, sendo dividida em três tipos: A, B e C. O tipo A refere-se à EH associado com a insuficiência hepática aguda. O tipo B tem como principal etiologia a presença de um shunt portossistêmico sem doença hepática intrínseca associada. O tipo C ocorre em pacientes com cirrose e hipertensão portal ou shunt portossistêmico. A EH pode ser precipitada por administração de drogas, inflamação, infecções, intervenção anestésica e cirúrgica, hiponatremia, obstipação e distúrbios hidroeletrolíticos. O transplante hepático está indicado quando não for possível controlar a insuficiência hepática com tratamentos convencionais. 103 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Amônia CitocinasSedativos Sintomas de EH Hiponatremia Astrócito Expressão gênica Sinalização Modificação em proteínas / RNA Disfunção astrocítica e neuronal Plasticidade sináptica Distúrbios em redes oscilatórias Edema ROS/RNS NMDA-R → Ca++ Figura 22 – Patogênese da EH Fonte: Strauss e Silva (2015, p. 2). O Gaba (ácido gama-aminobutírico) está aumentado na EH. Receptores periféricos mitocondriais de benzodiazepínicos (PTBR) são ativados pela presença de amônia ou manganês, assim como de ligandinas, e provocam a síntese de neuroesteroides nos astrócitos. A alopregnanolona, potente neuroesteroide inibitório, está aumentada cerca de dez vezes no cérebro de pacientes autopsiados após morte por cirrose e EH, e seria ela a responsável pelo aumento do tônus Gabaérgico encontrado (AHBOUCHA et al., 2005). A carência de zinco, cofator necessário às enzimas do ciclo da ureia, responsável pela metabolização da amônia, tem sido também descrita na cirrose, em especial em casos de EH. Por outro lado, o acúmulo de manganês nos gânglios da base do cérebro ocorre comumente na EH de diversos graus. O manganês é tóxico para os astrócitos, estando também associado à inibição dos neurotransmissores. Assim, no modelo atual de patogênese da EH, a amônia e outros fatores desencadeantes promovem aumento do edema cerebral, estresse oxidativo e nitrosativo, alterando expressões gênicas, de proteínas e RNA, com sinalizações que levam à disfunção astrocítica e neuronal. O distúrbio da rede oscilatória sináptica produz os sintomas e sinais da EH. 104 Unidade II Quadro 14 – Alterações no metabolismo glicídico, lipídico e proteico encontradas nas doenças hepáticas crônicas Macronutriente Hepatopatia Alterações Consequências Glicídios Crônicas e cirrose Degradação de insulina Resistencia à insulina Hiperinsulinemia Intolerância à glicose Hiperglicemia Lipídios Crônicas e agudas ↑ Lipogênese hepática ↓ Oxidação hepática de ácidos graxos ↓ Síntese de LDL ↓ Gliconeogênese hepática ↑ Lipólise periférica ↑ Oxidação periférica de ácidos graxos Esteatose hepática Hiperlipidemia Cetose Proteínas Crônicas ↓ Captação e metabolização de aminoácidos de cadeia aromática (tirosina e fenilalanina) ↓ Função hepática ↓ Ciclo de ureia ↑ Síntese de colágeno e de autoanticorpos ↑ Concentração plasmática de aminoácidos amoniogênicos ↑ Síntese de falsos neurotransmissores Encafalopatia hepática ↑ Fibrose hepática 5.4.1 Dietoterapia A TN na EH tem como objetivo evitar ou controlar a perda ponderal, regular a produção entérica de amônia e controlar o catabolismo proteico muscular. Desnutrição e sarcopenia são cada vez mais frequentes nos pacientes com cirrose e particularmente naqueles com doença hepática descompensada. Esses pacientes têm um impacto negativo na qualidade de vida e sobrevida, aumentando as complicações cirróticas e infecções, e têm resultados piores após cirurgia e transplante de fígado (LT). A patogênese dessas condições é complexa e multifatorial. O diagnóstico rápido e correto de desnutrição/sarcopenia é muito importante. Assim, o manejo nutricional e os cuidados desses pacientes devem ser realizados por uma equipe multidisciplinar para que tenham a capacidade de atingir a ingestão calórica/proteica adequada e para evitar a hipomobilidade (BUNCHORNTAVAKUL; REDDY, 2020). Os aminoácidos de cadeia ramificada (AACR) e suplementações de vitaminas são usados para corrigir as deficiências. Os AACR em pacientes que apresentam cirrose e são desnutridos podem ser utilizados como fonte de energia para prevenir o catabolismo endógeno sem sobrecarregar a função hepática, e suplementos de AACR também podem ser utilizados para atingir a necessidade proteica diária nos pacientes com intolerância da proteína padrão. A ingestão de proteínas deve ser adequada com a recomendação de proteínas de fácil digestibilidade e com perfil de aminoácido e lipídico contendo maior porcentagem de aminoácido ramificado e ácidos graxos mono ou poli-insaturados de origem vegetal (FALLAHZADEH; RAHIMI, 2020). Alimentos permitidos na dieta rica em aminoácidos ramificados: soja em grãos, óleos vegetais, azeite, tofu, leite e laticínios, bebida láctea à base de soja, limão, tomate, chuchu, cebola, legumes em geral, abacate, uva-passa, ameixa, farinha de trigo integral, farinha de tapioca, abobrinha, cenoura, vagem, espinafre, berinjela, maçã, mamão, banana, couve-flor, milho, lentilha, feijão, cúrcuma, gengibre, louro, coentro, alho e canela. Os alimentoscontraindicados são: queijos amarelos, carne bovina, carne suína, frango e derivados e gema de ovo. 105 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA A recomendação de probióticos na EH não está bem estabelecida. A microflora intestinal leva à produção de amônia e endotoxinas que desempenham papel importante na patogênese da EH. Existe relação entre o EH e a absorção de substâncias nitrogenadas do intestino. Os probióticos desempenham um papel no tratamento da EH, causando alterações na flora intestinal e diminuindo a contagem de bactérias patógenas, acidificação da mucosa intestinal, diminuição na produção e absorção de amônia, alterações na permeabilidade do intestino, diminuição dos níveis de endotoxina e mudanças na produção de ácidos graxos de cadeia curta. O papel da microbiota intestinal usando prebióticos, probióticos e simbióticos foi avaliado no tratamento e na prevenção de EH. Muitos estudos demonstraram a eficácia dos probióticos na redução dos níveis de amônia no sangue, tratamento de EH e prevenção de EH. Não há um consenso quanto a dose ideal, tempo de tratamento e combinação dos microrganismos. Essas questões devem ser esclarecidas para saber os benefícios a longo prazo (SHARMA; SINGH, 2016). Recomendações para o tratamento nutricional na EH: o estado nutricional deve ser avaliado e a sarcopenia investigada; deve-se evitar a restrição de proteínas; a ingestão diária ideal de proteína e energia não deve ser inferior às recomendações gerais para pacientes cirróticos; é necessário o consumo de vegetais e proteínas lácteas; a suplementação de AACR pode ser considerada para melhorar o desempenho neuropsiquiátrico e atingir a ingestão de nitrogênio recomendada; em pacientes que podem tolerar a ingestão oral, prefira a ingestão por via oral; em pacientes com encefalopatia grau 3-4, que não conseguem comer, forneça nutrição por sonda nasogástrica (em pacientes com vias aéreas protegidas) ou por via parenteral. A via escolhida dependerá se o trato gastrointestinal está funcionante ou não (ASSOCIAÇÃO EUROPEIA PARA O ESTUDO DO FÍGADO, 2019). Tabela 42 – Recomendações de nutrientes nas doenças hepáticas crônicas Hepatopatia Proteína Energia VET(% CHO) VET (% LIP) Objetivos Hepatite aguda ou crônica 1 a 1,5 30 a 40 67 a 80 20 a 33 Prevenir desnutrição Favorecer regeneração Cirrose 1,2 a 1,5 35 a 40 67 a 80 20 a 33 Prevenir desnutrição Favorecer regeneração Desnutrição 1 a 1,8 30 a 50 72 28 Tratar denutrição Encefalopatia grau 1 ou 2 1 a 1,2 25 a 40 75 25 Suprir necessidades nutricionais Encefalopatia grau 3 ou 4 0,5* 25 a 40 75 25 Suprir necessidades nutricionais Pré-transplante 1,2 a 1,75 30 a 50 70 a 80 20 a 30 Restaurar ou manter estado nutricional Pós-transplante 1 30 a 35 >70 < 30 Restaurar ou manter estado nutricional *Adicionar 0,25 g/kg/dia de AACR 5.5 Transplante hepático O transplante de fígado é o tratamento necessário para pacientes em estágio final da doença hepática como cirrose, doença descompensada, insuficiência hepática e câncer hepatocelular (MEIRELLES JÚNIOR et al., 2015). A maioria dos pacientes está desnutrida antes do transplante de fígado, assim, o ganho de peso após a cirurgia é esperado e essencial. Ferreira et al. (2013) verificaram desnutrição em 74,7% dos pacientes cirróticos, com 28% de desnutrição grave, mostrando a importância da TN pré-transplante 106 Unidade II hepático. Os objetivos da TN pré-transplante é a oferta adequada de energia, macro e micronutrientes e a melhora do estado nutricional. A avaliação e a intervenção nutricional no pré-transplante podem garantir melhor sobrevida no paciente desnutrido pós-transplante. Na fase pós-transplante, as necessidades de nutrientes aumentam, e o objetivo da TN é promover cicatrização, deter a infecção, fornecer energia para a recuperação, reabastecer as reservas corporais esgotadas, manter níveis bioquímicos dentro da normalidade e manter o estado nutricional, contribuindo para controle de anorexia, diarreia, hipertensão arterial, hiperglicemia e hipercalciúria. O acompanhamento da evolução é essencial também (PEREIRA et al., 2012). Um aumento do ganho de peso ocorre nos 6 primeiros meses pós-transplante. Ferreira et al. (2013) avaliaram o gasto de energia e a ingestão alimentar em 17 pacientes antes e durante o primeiro ano após o transplante de fígado. Eles encontraram um balanço energético positivo em todos os momentos avaliados após o transplante de fígado e aumento no peso corporal e na gordura corporal; esse aumento foi atribuído ao aumento da ingestão de lipídios, que aumentou de 48,2 a 70,5 g/dia. Registrou-se aumento da ingestão calórica de 1.670 kcal para 1.957 kcal em média 12 meses após o transplante de fígado em relação ao pré-transplante de fígado. Também foi observada uma redução na ingestão de carboidratos e um aumento no consumo de gordura em outro estudo (LUNATI et al., 2013). Complicações a longo prazo, como doenças cardiovasculares associadas a dislipidemia, obesidade e diabetes, estão surgindo como fatores de risco para a morbidade e mortalidade tardia dos pacientes transplantados de fígado. A monitorização dos pacientes pós-transplante, juntamente com a educação nutricional, contribui para a prevenção dessas comorbidades. 5.5.1 Dietoterapia e TN no transplante hepático A tabela a seguir apresenta dados sobre a terapia nutricional no transplante hepático. Tabela 43 – TN no transplante hepático Necessidades energéticas Proteínas Carboidratos Lipídios Pré-transplante Estado nutricional adequado 30 a 35 kcal/kg/dia Desnutridos 35 a 45 kcal/kg/dia Hepatopatia compensada 0,8 a 1 g/kg/dia Hepatopatia descompensada 1,5 a 2 g/kg/dia Sem restrição Restrição CH simples na intolerância ou diabetes 20% a 40% das calorias Pós-transplante imediato Estado nutricional adequado 25 a 35 kcal /kg/dia Desnutridos 35 a 45 kcal/kg/dia 1,5 a 2 g/kg/dia Se insuficiência renal e diálise 1,2 g/kg/dia 70% das calorias não proteicas Restrição CH simples na intolerância ou diabetes 20 a 30% de calorias não proteicas Se pancreatite Jejum ou oferta mínima de lipídios (dependendo do grau de inflamação) Adaptada de: Hammad et al. (2017, p. 17). 107 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Saiba mais Para entender melhor a TN no transplante hepático, leia o artigo indicado a seguir: HAMMAD, A. et al. Nutritional therapy in liver transplantation. Nutrients, Toronto, v. 9, n. 10, 1126 p., 2017. Exemplo de aplicação Estude as hepatopatias e responda as questões a seguir. 1. De que forma se apresenta a doença hepática alcoólica? 2. Qual consumo diário de etanol pode levar à esteatose? 3. Defina esteatose hepática. 4. Das hepatopatias, quais as que apresentam maior número de deficiências nutricionais? 5. Quais os sinais clássicos e clínicos para classificar um paciente em grau A de acordo com a tabela de PUGH? 6. Justifique por que utilizamos os AA de cadeia ramificada em pacientes hepatopatas. 5.6 Dietoterapia no pâncreas e vesícula biliar (pancreatite aguda e crônica/ colecistite, colelitíase) 5.6.1 Pancreatites (aguda e crônica) A pancreatite é uma inflamação do pâncreas. Há dois tipos: pancreatite aguda (PA) e pancreatite crônica (PC). A primeira é um distúrbio inflamatório do pâncreas, sendo caracterizada pela ativação de enzimas digestivas na célula acinar, provocando lesão. Assim, devido ao desenvolvimento do processo inflamatório, ocorre a liberação de mediadores inflamatórios (citocinas) e elevação das enzimas pancreáticas. As causas da pancreatite aguda em geral estão relacionadas com obstrução pancreática secundária a cálculos biliares e álcool (LEE; PAPACHRISTOU, 2019). Os sintomas na forma leve são edema discreto, elevações no nível sérico de amilase (enzimas), dor abdominal e vômitos. O tratamento consiste no jejum de 2 a 5 dias com analgésicos para o alívio dos sintomas e hidratação. Após os dias de jejum, iniciam-se dieta liquida hipolipídica e evolução progressiva da consistência da alimentação.Por sua vez, a pancreatite crônica é caracterizada por inflamação pancreática progressiva crônica e cicatrizes com calcificações do parênquima pancreático, dilatações dos ductos pancreáticos, cálculos e pseudocisto, 108 Unidade II danificando irreversivelmente a função do pâncreas por vários fatores etiológicos, causando com dor crônica (a dor é agravada pela ingestão de álcool e alimentos gordurosos), insuficiência pancreática exócrina (IPE) e endócrina, causando má absorção de gorduras, esteatorreia, desnutrição, náuseas, vômitos e, às vezes, o desenvolvimento de diabetes por insuficiência na produção de insulina. O tratamento é com medicação, suplementação de enzimas pancreáticas para insuficiência pancreática e alimentação via oral (BEYER et al., 2020). As enzimas são consumidas imediatamente antes das refeições e de acordo com a quantidade de alimentos consumidos. 5.6.2 Fisiopatologia da pancreatite aguda As figuras a seguir descrevem a fisiopatologia da pancreatite aguda. Et io lo gi a Fi sio pa to lo gi a Pancreatite Condições genéricas Alcoolismo crônico Doença do sistema biliar Hipertrigliceridemia Hipercalcemia Diagnóstico Achados clínicos I: Aplicar os critérios de Ranson II: Provas de função pancreática - Teste de estimulação da secretina - Teste de tolerância à glicose - Teste de gordura nas fezes de 24 horas - Elastase fecal Sintomas: - Dor e distensão abdominais - Náuseas - Vômitos - Esteatorreia Na forma grave: - Hipotensão - Oligúria - Dispneia Determinados fármacos Algumas infecções virais Cálculos biliares Traumatismo Figura 23 – Etiologia e fisiopatologia da pancreatite aguda Fonte: Mahan, Escott-Stump e Raymond (2020, p. 2167). 109 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Consumo de álcool Radicais livres Inflamação Autoanticorpos Isquemia Formação de plugs proteicos Obstrução dos ductos pancreáticos Aumento da pressão intraductal Suco pancreático: rico em proteínas e pobre em litostatina Desnutrição: diminuição de agentes antioxidantes Deposição de cálcio e formação de cálculos Pancreatite crônica Figura 24 – Fatores envolvidos na patogênese da pancreatite crônica Adaptada de: Fochesatto Filho e Barros (2013). Saiba mais Para saber sobre pancreatite em crianças, leia o artigo a seguir: SEPÚLVEDA, E. V. F.; GUERRERO-LOZANO, R. Acute pancreatitis and recurrent acute pancreatitis: an exploration of clinical and etiologic factors and outcomes. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 95, n. 6, p. 713-719, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3ke2s51. Acesso em: 19 ago. 2021. 5.6.3 TN na pancreatite aguda Veja o quadro a seguir. Quadro 15 – Classificação do grau de severidade da pancreatite aguda Leve Sem falência de órgãos Sem complicações locais ou sistêmicas Moderada Falência de órgãos que se resolve dentro de 48h (falência transitória de órgãos) e/ou Complicações locais ou sistêmicas sem falência persistente de órgãos Grave Insuficiência orgânica persistente (> 48h) Falência de um único órgão Falência de múltiplos órgãos Pacientes com pancreatite aguda devem ser considerados de risco nutricional moderado a alto devido à natureza catabólica da doença e por causa do impacto do estado nutricional. Muitos 110 Unidade II fatores contribuem para a desnutrição na pancreatite aguda, como o metabolismo e o catabolismo relacionados à inflamação. Muitos estudos recomendam a utilização de nutrição oral ou enteral para melhorar a nutrição e para reduzir a inflamação local e sistêmica, complicações e morte. Na doença leve, os pacientes geralmente são capazes de iniciar dieta oral sólida e não requerem cuidados nutricionais especializados, como nutrição enteral ou parenteral. A intervenção nutricional ajuda a prevenir a desnutrição e é a chave para reduzir inflamação, complicações e morte na pancreatite aguda. Evidências atuais mostram os benefícios da nutrição enteral precoce na pancreatite grave. A nutrição parenteral deve ser considerada em pacientes que não toleram a nutrição enteral (RAMANATHAN; AADAM, 2019). 5.6.4 Manejo nutricional na pancreatite moderada e grave Os benefícios do suporte nutricional têm sido bem documentados em casos moderados e graves de pancreatite. É preciso considerar nesses pacientes as necessidades de nutrientes. A necessidade de energia deve ser estimada em 25 a 35 kcal/kg/dia. Muitos fatores afetam o gasto de energia em pacientes com pancreatite grave, como temperatura corporal, volume e medicamentos. As necessidades estimadas de proteína são maiores do que em indivíduos saudáveis (1,2-1,5 g/kg/dia). Isso pode melhorar o equilíbrio de nitrogênio e está relacionado a uma diminuição em 28 dias de mortalidade em pacientes criticamente enfermos (ALLINGSTRUP et al., 2012). É preciso fornecer fonte de energia de carboidratos, gorduras e proteína. Uma dose diária de multivitaminas e oligoelementos é recomendada especialmente em pacientes recebendo NP total. Os micronutrientes devem ser suplementados em pacientes com deficiências confirmadas ou suspeitas. A via enteral deve ser considerada como uma via preferencial de suporte nutricional para pacientes com pancreatite moderada à grave com fórmula oligomérica, iniciando com uma velocidade baixa, com progressão do volume e do tipo de fórmula (polimérica) de acordo com a tolerância digestiva de cada paciente. A fórmula polimérica pode ser recomendada desde o início da nutrição enteral, mas a fonte de lipídio deve ser TCM (triglicérides de cadeia media) com um quantidade mínima de TCL (triglicérides de cadeia longa) (LAKANANURAK; GRAMLICH, 2020). Quadro 16 – Recomendação dietética e tipo de TN na pancreatite grave Recomendação Indicação Energia 25 a 35 kcal/kg/peso/dia Proteínas 1,2 a 1,5 g/kg de peso ideal/dia (a suplementação de glutamina pode ser indicada por causa do hipermetabolismo) Enteral Indicar sempre que tolerada Posição da sonda pode ser jejunal ou gástrica (se tolerada) A fórmula oligomérica pode ser mais bem tolerada devido à menor estimulação pancreática Parenteral Indicar quando a via enteral não for tolerada Acompanhar os triglicerídeos, pois pode haver hipertrigliceridemia 111 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 5.7 Pancreatite crônica Pacientes com pancreatite crônica apresentam a IPE, causada pela destruição do parênquima pancreático com uma perda suficientemente grande de células acinares e/ou obstrução dos ductos pancreáticos. Consequentemente, não é possível manter os níveis mínimos de produção de enzimas digestivas e secreção ductal de bicarbonato necessário para digerir os alimentos de forma adequada. Pancreatite crônica (PC) é a causa mais frequente de IPE em adultos. O desenvolvimento de IPE compromete a digestão e a absorção de macro e micronutrientes, como gordura, proteínas e vitaminas lipossolúveis. Pacientes com IPE precisam de suplementação com enzimas pancreáticas para absorção desses nutrientes e para melhorar a esteatorreia. A glicemia deve ser observada e, em caso de hiperglicemia, as recomendações para diabetes devem ser feitas. Pode ser necessária a suplementação com vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D e K). Também pode haver deficiência de alguns minerais (nos casos dos pacientes de etilismo crônico) como cálcio, zinco e magnésio, sendo necessária sua reposição. Quadro 17 – Recomendações nutricionais na pancreatite crônica Nutrientes Recomendação Energia 30 a 35 kcal/kg peso/dia Carboidratos Normoglicídica (monitorar a glicemia) Proteínas 1 a 1,5 g/kg/dia Lipídios 30% do VET Se não houver ganho de peso e a esteatorreia persistir, restringir para 20% de lipídios com utilização de TCM Bebidas alcoólicas Excluir Micronutrientes Sinais clínicos devem ser avaliados Reposição, se houver deficiência 5.8 Colecistite e colelítiase As doenças da vesícula biliar incluem vários distúrbios da vesícula biliar e dutos biliares como colelitíase e colecistite. A colelitíase refere-se à formação de cálculosbiliares na vesícula biliar e podem estar presentes com ou sem sintomas. A colecistite é causada por inflamação da vesícula biliar devido ao bloqueio do ducto cístico por um cálculo biliar. O termo coledocolitíase é aplicado quando um cálculo biliar entra no ducto biliar. Isso pode resultar em colangite, que é a inflamação do ducto biliar. A doença assintomática da doença da vesícula biliar se refere a cálculos biliares que estão presentes, permanecem na vesícula biliar, não são obstrutivas e não causam desconforto (GURUSAMY; DAVIDSON, 2014). As causas da doença da vesícula biliar são multifatoriais. Fatores que afetam a produção hepática de colesterol, a função da vesícula biliar (inflamação), a produção de ácido biliar ou a absorção de colesterol e ácidos biliares são possíveis contribuintes para a formação de cálculos biliares. Os fatores de risco incluem variáveis modificáveis e não modificáveis (LITTLEFIELD; LENAHAN, 2019). 112 Unidade II Quadro 18 – Fatores de risco modificáveis e não modificáveis para doença da vesícula biliar Fatores modificáveis Fatores não modificáveis Outros fatores de risco Dislipidemia Dieta hipercalórica Dieta pobre em fibras Medicamentos: Ceftriaxona (Rocephin), estrogênios (contraceptivos orais, terapia hormonal), diuréticos tiazídicos Síndrome metabólica Obesidade Perda de peso rápida Estilo de vida sedentário Tabagismo Diabetes tipo 2 Idade > 40 anos Etnia História familiar Sexo feminino Predisposição genética Anemias hemolíticas (anemia falciforme) Gravidez Lesão da medula espinal Cirrose Doença de Crohn Hiperbilirrubinemia A vesícula biliar está localizada sob o fígado, no lado direito do abdômen, e os cálculos biliares são formados a partir da bile que se concentrou na vesícula biliar. Essas pedras são formadas quando os constituintes da bile não estão em equilíbrio (VÍTEK; CAREY, 2011). Os cálculos biliares são, em sua maioria, cálculos de colesterol não pigmentados, compostos principalmente de colesterol, bilirrubina e sais de cálcio. Figura 25 – Formação de cálculos biliares da vesícula biliar Disponível em: https://bit.ly/3kssPpa. Acesso em: 19 ago. 2021. 113 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 5.9 Dietoterapia e obesidade A obesidade está associada a um risco aumentado de cálculos biliares, mas a perda de peso pode reduzir o risco da formação de cálculos biliares em indivíduos com sobrepeso e obesidade. O aumento do risco está associado à rápida perda de peso, o que pode ocorrer em virtude de um aumento na proporção de colesterol e sais biliares na vesícula biliar e também por causa da estase biliar, resultante de uma diminuição nas contrações da vesícula biliar (GABY et al., 2009). 5.9.1 Açúcar refinado Em estudos observacionais em humanos, pesquisadores relacionaram que a maior ingestão de açúcares refinados (sacarose e a frutose) com uma maior frequência do aparecimento de cálculos biliares. A associação entre a ingestão de açúcar refinado e os cálculos biliares também pode ser justificada pelo consumo de grandes quantidades de açúcar, o que pode levar à obesidade. Entretanto, há evidências de que os açúcares refinados são litogênicos. Recomenda-se que indivíduos que têm fatores de risco para o desenvolvimento de cálculos biliares devem evitar ingestão excessiva de açúcar refinado (TSAI et al., 2005). 5.9.2 Fibra alimentar Em estudos observacionais, a maior ingestão de fibra foi associada a uma menor prevalência de cálculos biliares. Acredita-se que a fibra trabalhe principalmente no cólon, diminuindo a formação de ácido desoxicólico por bactérias intestinais e aumentando a síntese de ácido quenodeoxicólico. O ácido desoxicólico parece aumentar a litogenicidade da bile, enquanto o ácido deoxicólico diminui a litogenicidade, e este tem sido usado terapeuticamente para promover a dissolução de cálculos biliares. Assim, recomenda-se uma dieta rica em alimentos que contêm fibra para a prevenção de cálculos biliares (DI CIAULA et al., 2019). Observação O aumento da ingestão de energia com açúcares altamente refinados e alimentos doces, alta ingestão de frutose, baixo teor de fibra, alto teor de gordura e o consumo de fast-food aumentam o risco de formação de cálculos biliares. Na colecistite, a dietoterapia na colecistite inclui uma dieta rica em fibras, com baixo teor de lipídios e à base de vegetais para prevenir as contrações da vesícula biliar. Na crise aguda de colecistite, suspende-se a alimentação oral. Quando houver reintrodução da alimentação, recomenda-se uma dieta com baixo teor de lipídios para reduzir a estimulação da vesícula biliar. Pode-se administrar uma fórmula com baixo teor de lipídios hidrolisados ou uma dieta oral com baixo teor de lipídios, consistindo em 30 a 45 g de lipídios por dia. Se o paciente apresentar condição crônica de colecistite, poderá ser necessária uma dieta com baixo teor de lipídios a longo prazo, contendo 25% a 30% da energia total sob a forma de lipídios. Uma limitação mais rigorosa não é desejável, visto que a presença de lipídios no intestino é importante para a estimulação e drenagem do sistema biliar. O quadro a seguir ilustra um exemplo de uma dieta restrita em gordura (40 g/dia). 114 Unidade II Observação A alta ingestão de gordura monoinsaturadas e fibras, o consumo de azeite e peixe (ácidos graxos ω-3), a ingestão de proteínas vegetais e frutas e o consumo moderado de álcool exercem papel protetor. Quadro 19 – Dieta restrita em lipídios Alimentos permitidos Alimentos excluídos Bebidas Leite desnatado ou leitelho (leite de manteiga) feito com leite desnatado, café, chá, postum (bebida de grãos torrados), suco de frutas, refrigerantes, chocolate feito com cacau em pó e leite desnatado Leite integral, leitelho feito com leite integral, leite com chocolate, creme em quantidades acima daquelas permitidas para lipídios Pão e produtos à base de cereais Cereais sem lipídios naturais, espaguete, talharim, arroz, macarrão, pães integrais naturais ou pães enriquecidos, pipoca, bagels, muffins ingleses Biscoitos, pães, pão com ovos ou queijo, pães doces feitos com gordura, panquecas, doughnuts, waffles, bolinhos fritos, pipoca preparada com gordura e muffins, cereais e pães naturais aos quais se adiciona farinha extra Queijos Queijo cottage sem gordura ou com baixo teor de gordura, 1/4 usado como substituto para 30 g de queijo, ou queijos magros contendo menos de 5% de gordura do leite Queijos feitos com leite integral Sobremesas Sherbet feito com leite desnatado; iogurte desnatado congelado; sobremesas não lácteas congeladas sem gordura; sorvete de fruta; gelado de fruta; gelatina; arroz; pão, amido de milho, tapioca ou pudim feito com leite desnatado; tiras de frutas com gelatina, açúcar e clara de ovo; frutas; bolo com fios de anjo; bolachas graham; wafers de baunilha, merengues Bolo, torta, pastéis, sorvete ou qualquer sobremesa contendo gordura, chocolate ou gorduras de qualquer tipo, a não ser que especialmente preparada utilizando parte da gordura permitida Ovos Três por semana e preparados apenas com a quantidade permitida de gordura; ovos brancos, quando desejado; substitutos de ovos com baixo teor de lipídios Mais do que um por dia, a não ser que substitua parte da carne permitida Gorduras Escolher até o limite permitido entre os seguintes (1 porção na quantidade listada equivale a 1 gordura de escolha): 1 colher de chá de manteiga ou margarina 1 colher de chá de margarina light 1 colher de chá de gordura ou óleo 1 colher de chá de maionese 2 colheres de chá de molho italiano ou francês 1 colher de chá de molho de salada light 1 fatia de bacon crocante 1/8 de abacate (10 cm de diâmetro) 2 colheres de chá de creme light 1 colher de chá de creme integral 6 castanhas pequenas 5 azeitonas pequenas Qualquer um acima da quantidade prescrita na dieta; todos os outros 115 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Alimentos permitidos Alimentos excluídos Frutas À vontade Abacatealém da quantidade permitida na lista de gordura Carne magra, peixe, aves e substitutos da carne Escolher até o limite permitido entre os seguintes: aves sem pele, peixe, carne de vitela (todos os cortes), fígado, carne magra, carne de porco e de cordeiro, todas com a gordura visível retirada – 30 g de carne cozida igual a 1 equivalente; 1/4 de atum ou salmão embalado com água é igual a 1 equivalente; tofu ou tempeh – 90 g iguais a 1 equivalente Carnes fritas ou gordurosas, linguiça, scrapple, salsichas alemãs, peles de aves, galinha ensopada, costelas de porco, carne de porco salgada, carne de vaca, a não ser que seja magra, pato, ganso, jarrete de presunto, pé de porco, carnes em lanches (a não ser que sejam sem gordura), molhos, a não ser que sejam sem gordura, atum e salmão embalados em óleo, manteiga de amendoim Leite Leite desnatado, leitelho ou iogurte feito com leite desnatado Leite integral, 2%, 1%, chocolate, leitelho feito com leite integral Temperos À vontade Nenhum Sopas Bouillon, caldo claro, sopa de vegetais sem gordura, sopa de creme feita com leite desnatado, sopas desidratadas em pacotes Todas as outras Doces Gelatina, geleia, marmelada, mel, xarope, melado, açúcar, balas duras de açúcar, fondant, balas com goma de mascar, jujubas, marshmallows, cacau em pó, calda de chocolate sem gordura, alcaçuz vermelho e preto Qualquer bombom feito com chocolate, nozes, manteiga, creme ou gordura de qualquer tipo Vegetais Todos os vegetais preparados de modo simples Batatas chips; batatas na manteiga, gratinadas, com creme ou fritas e outros vegetais, a não ser que preparados com a quantidade de gordura permitida; caçarolas ou vegetais congelados em molho de manteiga Fonte: Mahan, Escott-Stump e Raymond (2018, p. 2157-2158). Exemplo de aplicação Caso 1 Um homem de 55 anos relatou dor epigástrica aguda severa, acompanhada por alteração de consciência, vômitos e febre. Ele tinha histórico de álcool crônico (beber 100 g/dia por mais de 20 anos). Seu peso corporal era estável, com índice de massa corporal de 22 kg/m2. Os resultados laboratoriais iniciais demonstraram lipase 720 U/L (0-60 U/L) e creatinina 180 μmol/L (50-120 μmol/L). Ele foi intubado para proteger via aérea e foi internado em UTI. Inicialmente, foi incluída uma solução cristaloide intravenosa e tratamento sintomático. No segundo dia de admissão, sua creatinina estava subindo para 190 μmol/L. Pancreatite alcoólica aguda grave foi diagnosticada. Qual é o tratamento nutricional mais adequado para este paciente? Este paciente foi diagnosticado com pancreatite alcoólica aguda com falência persistente de órgãos. Ele foi intubado e internado em UTI. Portanto, NE precoce deve ser iniciada. Sonda nasogástrica pode ser usada para atingir EN precoce. Uma fórmula polimérica padrão pode ser iniciada em taxa de 20 ml 116 Unidade II por hora e deve ser titulada para suprir a quantidade de proteína e energia necessária (1,2-1,5 g/kg/dia e 25 kcal/kg/dia, respectivamente). Dada a história de alcoolismo crônico, níveis de micronutrientes, incluindo vitamina B1, B2, B3, B12, C, A, ácido fólico e zinco podem ser avaliados, e o tratamento deve ser iniciado se houver indícios de deficiência de micronutrientes. Caso 2 Uma mulher de 48 anos apresentou início agudo de dor epigástrica intensa com náusea e vômito Ela não tinha histórico médico significativo e negava consumo de álcool. Seu peso corporal era estável e seu índice de massa corporal era de 24. Os resultados laboratoriais mostraram lipase 560 U/L (0-60 U/L). Ultrassom abdominal demonstrou vários cálculos biliares com ducto biliar normal. Foi diagnosticada pancreatite aguda leve de cálculos biliares. A dor abdominal e náusea melhoraram após receber analgesia e antiemético. Qual é o manejo nutricional mais adequado para esta paciente? Comentário: a paciente apresentou pancreatite biliar aguda clássica. Dado que a gravidade da doença foi leve e a dor abdominal e as náuseas melhoraram, deve ser iniciada dieta oral sólida. 6 TN EM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA E INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA – FIBROSE CÍSTICA 6.1 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e insuficiência respiratória (IR) A DPOC é caracterizada pela limitação do fluxo de ar que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo de ar é geralmente progressiva e está associada com uma inflamação do pulmão a partículas nocivas ou gases, causados principalmente pelo cigarro (HANSON et al., 2020). Embora a DPOC afete os pulmões, também tem consequências sistêmicas, exacerbações e comorbidades que contribuem para a gravidade (BARNES et al., 2015). É cada vez mais reconhecido que os pacientes com DPOC também apresentam uma alta carga de comorbidades que podem ser independentes do tabagismo. Além disso, está se tornando claro que essas comorbidades contribuem para resultados negativos no paciente e maior utilização de serviços de saúde e mortalidade. As comorbidades e associações com impactos negativos são: doença alérgicas (tosse, catarro, maior utilização de cuidados da saúde); anemia (mortalidade, hospitalização, maior tempo de internação, dispneia); doença cardiovascular (mortalidade, impacto na qualidade de vida, dispneia, capacidade de exercício reduzida, hospitalização); deficiência cognitiva (qualidade de vida, estado de saúde, duração da internação); depressão (mortalidade, dispneia, capacidade de exercício, qualidade de vida, estado de saúde, risco de hospitalização, risco de exacerbação incapacidade de realizar atividades do dia a dia); diabetes (mortalidade, hospitalização, capacidade de exercício); doença do refluxo gastresofágico (qualidade de vida, sintomas de bronquite crônica, gastos com cuidados de saúde, risco de exacerbação); HIV/aids (qualidade de vida); câncer de pulmão (mortalidade, recorrência de malignidade); síndrome metabólica (outras comorbidades, hospitalização, risco de exacerbação); obesidade (qualidade de vida, estado de saúde dispneia, capacidade de exercício, utilização de cuidados de saúde); osteoporose; 117 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA apneia do sono (risco de exacerbação de mortalidade, gastos com cuidados de saúde, desfechos cardiovasculares) (PUTCHA et al., 2015). 6.1.1 Fisiopatologia A fisiopatologia da DPOC é complexa e caracterizada pela inflamação pulmonar e sistêmica, que influencia a progressão da doença e o desenvolvimento dessas comorbidades. A DPOC envolve infiltração de células inflamatórias e superiores concentrações circulantes e pulmonares de citocinas pró-inflamatórias e o desequilíbrio entre a formação de radicais livres e a capacidade antioxidante, resultando em sobrecarga oxidativa. O grau de inflamação na DPOC é associado a um declínio mais rápido na função pulmonar (YOUNG; HOPKINS; MARSLAND, 2016; DOURADO et al., 2006). DPOC Manifestações locais Limitação nas AVDs Anorexia/desnutrição Disfunção muscular periférica ↓ Tolerância ao exercício ↓ Qualidade de vida Descondicionamento Limitação ventilatória Dispneia 1L-6 1L-8 1L-1β TNFa Manifestações sistêmicas Redução do VEF1 Hiperinsuflação ↑ Processo inflamatório ↑ Estresse oxidativo ↑ Citocinas Figura 26 – Fisiopatologia das manifestações sistêmicas e locais da doença pulmonar obstrutiva crônica Fonte: Dourado et al. (2006, p. 163). O tabagismo é o fator de risco mais bem estabelecido para o desenvolvimento de DPOC. No entanto, não fumantes ao longo da vida podem desenvolver DPOC. Outros fatores de riscos são: poeira, agentes químicos, fumaça, poluição do ar interno, fogão a lenha, asma e genética (DUFFY; CRINER, 2019). 118 Unidade II 6.1.2 Dietoterapia A dieta e a nutrição estão associados com o declínio na função pulmonar. Os objetivos da TN na DPOC são: fornecer uma alimentação que promova a manutenção da força, massa e função muscular respiratória, a fim de otimizar o estado de desempenho global do paciente e satisfazer as demandas de atividades diárias, manter uma reserva adequada de massacorporal magra e tecido adiposo, tendo em vista que pacientes com DPOC apresentam mudanças na composição corporal manifestada pela perda de peso, e, principalmente, perda de massa muscular, corrigir o desequilíbrio hídrico, comum em pacientes com DPOC, controlar as interações entre drogas e nutrientes que interferem negativamente tanto no consumo de alimentos quanto na absorção dos nutrientes, promovendo uma melhoria na qualidade de vida do paciente. A maioria dos pacientes com DPOC estão em um estado de desnutrição acentuada, conhecido como caquexia pulmonar, e 25% a 40% dos pacientes são desnutridos. O valor do índice de massa corpórea (IMC) e a perda de peso são fatores de risco para a hospitalização devido à exacerbação da doença, indicam pior prognóstico na evolução da exacerbação e podem determinar a necessidade de ventilação mecânica. A depleção nutricional também está associada ao aumento de mortalidade e da frequência de hospitalizações em pacientes com DPOC em oxigenoterapia domiciliar prolongada. As causas de desnutrição em pacientes com DPOC são: insuficiência energética devido à diminuição da ingestão alimentar causada pela perda de apetite associada à diminuição da atividade física geral; tendência depressiva ou dispneia ao comer; aumento do gasto de energia em razão do aumento do trabalho respiratório (o gasto energético de repouso – GER está elevado em pacientes com DPOC e o GER aumentado foi demonstrado em pacientes magros com DPOC); efeitos de fatores humorais, como citocinas inflamatórias, adipocinas e hormônios (ITOH et al., 2013). A DPOC também é caracterizada pela produção aumentada de citocinas inflamatórias, como interleucina (IL) -6, IL-8 e fator de necrose tumoral (TNF) -a e de quimiocinas. Uma correlação significativa também foi mostrada entre a produção de IL-6 e a diminuição do apetite (GAN et al., 2004). Desnutrição Ingestão energética Alteração do metabolismo proteico Mediadores Inflamatórios Hipoxemia DPOC Medicações Hipermetabolismo Exacerbações ↓ SpO2 Dispneia Anorexia ↑ Leptina ↑ Trabalho ventilatório ? Figura 27 – Mecanismos da perda de peso em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica Fonte: Dourado et al. (2006, p. 163). 119 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Conforme Evans et al. (2008), o diagnóstico de caquexia apresenta os seguintes aspectos: • Perda de peso 5% em 12 meses ou menos ou IMC < 20kg/m2 + presença de 3 fatores: — Fadiga. — Diminuição da força muscular. — Anorexia (consumo energético < 20 kcal/kg/dia). • Anormalidades bioquímicas – aumento de marcadores inflamatórios: — IL-6 > 4 pg/mL — PCR > 5 mg/dL — Hb < 12 g/d/L — Albumina sérica < 3,2 g/dL — Índice de massa magra baixo. 6.1.3 Recomendações nutricionais Segundo Hanson et al. (2020), para pacientes com DPOC, a prescrição da quantidade de calorias deve ser individualizada com base na ingestão de energia, peso corporal e necessidades energéticas estimadas para alcançar e manter o peso ideal. Fortes evidências indicam que os grupos de paciente que têm IMC mais baixo têm maior taxa de mortalidade quando comparada com pacientes com IMC mais elevado. Um IMC entre 25,0 e 29,9 parece diminuir o risco de mortalidade em comparação com as classificações de IMC acima ou abaixo desse valor. A ingestão de energia mais elevada parece melhorar os escores de dispneia e também mostrou uma relação positiva com o estado funcional, a utilização de cuidados de saúde e a duração da doença. A quantidade recomendada da distribuição de macronutrientes também deve ser individualizada com base na avalição nutricional e ingestão alimentar do paciente. A suplementação de vitamina D para níveis séricos de 10 ng/mL (25 nmol/L) deve ser recomendada para otimizar o status da vitamina D. Estudos indicam que a suplementação de vitamina D pode reduzir as exacerbações pulmonares (HANSON et al., 2020). Segundo Collins et al. (2019), as recomendações nutricionais para pacientes com DPOC devem ser baseadas na população saudável, porém devem ser avaliadas individualmente, considerando-se o estado clínico do paciente (estável ou exacerbação), a gravidade da doença (leve, moderada, grave, muito grave), bem como o nível de atividade. As recomendações sugeridas são: 1,0-1,2 g de proteína/kg de peso corporal/dia. Todavia, para pacientes desnutridos ou portadores de doenças crônicas, a ingestão 120 Unidade II recomendada é de 1,2-1,5 g de proteína/kg de peso corporal/dia. A energia necessária para a manutenção de peso é de 30 kcal/kg de peso corporal/dia, para ganho de peso > maior 45 kcal/kg de peso corporal/ dia (COLLINS et al., 2019). Tabela 44 – Recomendações nutricionais para pacientes com DPOC Nutrientes Recomendação Calorias Eutróficos (manutenção de peso) 30 kcal/kg de peso/dia Desnutrição (ganho de peso) > 45 kcal/kg de peso/dia Necessidade de carboidratos 50% a 60% Necessidade de proteínas 15% a 20% Pacientes eutróficos: 1,0-1,2 g de proteína/kg de peso corporal/dia Pacientes desnutridos: 1,2-1,5 g de proteína/kg de peso corporal/dia Necessidade de lipídios 25% a 30% Observe a seguir as orientações gerais: • Anorexia: ingerir alimentos com quantidade elevada de calorias, oferecer alimentos preferidos pelos pacientes, fracionar as refeições de 5 a 6x/dia. • Saciedade precoce: ingerir primeiro alimentos com alta quantidade energética, evitar líquidos durante as refeições, dar preferência aos alimentos frios. • Dispneia: comer devagar, descansar entre as refeições, usar os broncodilatadores, ter a refeição preparada. • Fadiga: escolher alimentos de fácil preparo, descansar antes das refeições, ter alimentos preparados para os períodos de fadiga. • Constipação: se possível, fazer exercícios, aumentar a quantidade de fibras e água, mas ter cuidado com a retenção hídrica. • Dificuldade para mastigar: modificar a consistência dos alimentos para facilitar a mastigação, preferir alimentos mais cozidos e macios. Se necessário, encaminhar para fonoaudiólogo ou dentista. 6.2 Insuficiência respiratória O curso da DPOC é pontuado por recorrência de exacerbações e um declínio progressivo na função pulmonar dos pacientes. Pacientes graves podem desenvolver insuficiência respiratória aguda, exigindo ventilação mecânica invasiva. Um número significativo de pacientes com DPOC precisam da 121 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA ventilação mecânica por causa de outras doenças, como pneumonia, síndrome respiratória aguda ou embolia pulmonar. A ventilação não invasiva (VNI) é uma abordagem eficaz amplamente utilizada para o tratamento de hipercapnia (é o aumento da concentração de dióxido de carbono – CO2 no sangue) aguda em estágio inicial e intermediário de insuficiência respiratória na DPOC. No entanto, devido à falha no tratamento da VNI, alguns pacientes precisam ser submetidos à intubação endotraqueal ou à traqueostomia. A falha no tratamento de VNI mostrou estar associada ao pH < 7,3 em admissão, hipercapnia, hiperglicemia e inconsciência (GADRE et al., 2018). 6.2.1 Dietoterapia A desnutrição é comum em pacientes que precisam de ventilação mecânica. Os pacientes com doença respiratória avançada têm aumento das necessidades metabólicas e exigem início imediato de nutrição suplementar. É importante considerar as questões relacionadas com o uso de proteínas que são necessárias para o processo de reparação do parênquima pulmonar e o excesso de produção de dióxido de carbono nesses pacientes (BELLINI, 2013). A TN enteral (se trato gastrointestinal funcionante) ou parenteral é necessária para prevenir déficits de energia, perda de massa muscular e comprometimento da função respiratória. Em nível celular, a função dos músculos pode estar comprometida devido aos baixos níveis de cálcio, magnésio, fósforo e potássio. A oferta diminuída de proteínas e fosfolipídios também compromete a função do surfactante, contribuindo para o colapso alveolar e o consequente aumento do trabalho respiratório. Os pacientes com síndrome dodesconforto respiratório agudo (SDRA) têm alto risco de complicações em decorrência de subalimentação ou superalimentação. A redução de força dos músculos respiratórios é efeito prejudicial da subalimentação, o que leva a problemas de desmame da ventilação mecânica. Além disso, má cicatrização de feridas, imunossupressão e risco de infecções hospitalares aumentam de modo similar a energia e as proteínas inadequadas. A superalimentação gera consequências indesejáveis, como hiperglicemia do estresse, retardo no desmame da ventilação mecânica e retardo na cicatrização de feridas. 6.2.2 Imunonutrição A síndrome do desconforto respiratório agudo é caracterizada pelo recrutamento de neutrófilos, liberação significativa de citocinas pró-inflamatórios, quimiocinas, ativação de cascata pró-coagulante e vias da prostaglandina com aumento do estresse oxidativo, causando danos a lipídios e proteínas. Em pacientes com síndrome do desconforto respiratório, desequilíbrio significativo no sistema antioxidante com um aumento relativo no estresse oxidativo leva a aumento da lesão alveolar. Entre os pacientes gravemente enfermos em geral, a suplementação de antioxidantes está associada a um resultado favorável. Macronutrientes como glutamina e arginina também têm propriedades imunomoduladoras e têm sido utilizadas em vários ensaios clínicos de pacientes gravemente enfermos e cirúrgicos. Glutamina melhora a função de barreira intestinal e pode ser uma fonte de energia para linfócitos, neutrófilos e macrófagos, enquanto a deficiência de arginina, que é comumente encontrada após uma doença crítica, pode prejudicar a função das células T. Os ácidos graxos ômega-3, ácidos graxos poli-insaturados, como eicosapentaenoico ácido (EPA), ácido alfa-linolênico (ALA) e docosahexaenoico ácido (DHA) são lipídios essenciais. Suplementação terapêutica desses nutrientes, que têm propriedades imunomoduladoras, foi demonstrada para moderar a resposta inflamatória por meio da supressão da biossíntese pró-inflamatória de eicosanoides, atenuação do acúmulo de neutrófilos pulmonares, redução 122 Unidade II na permeabilidade pulmonar e atenuação de disfunção cardiopulmonar (DUSHIANTHAN et al., 2019). Dessa forma, a inclusão dos imunonutrientes na TN faz-se necessária devido ao estado hipermetabólico e à desnutrição preexistente, que produzem uma imunossupressão no paciente portador de DPOC. A utilização desses imunonutrientes visa ao aumento da produção dos mediadores inflamatórios menos potentes, à redução daqueles altamente inflamatórios, bem como à minimização da produção de radicais livres e a modulação da resposta inflamatória generalizada. Assim, deve-se oferecer ao paciente uma dieta enriquecida com: lipídios, como os ácidos graxos de cadeia curta, o ômega-3 e os ácidos gamalinolênico e eicosapentanoico; aminoácidos, como glutamina, glicina, cisteína e arginina; nucleotídeos e oligoelementos, como cobre, zinco e selênio (FERNANDES; BEZERRA, 2006). 6.3 Fibrose cística A fibrose cística (FC) – mucoviscidose – é uma doença genética de caráter autossômico recessivo, crônica e progressiva, com manifestações sistêmicas. Suas principais complicações são as alterações gastrointestinais, a insuficiência pancreática e a infecção pulmonar grave, que afeta mais de 95% dos pacientes. As complicações pulmonares normalmente determinam o prognóstico final da doença. O paciente com esta doença apresenta secreções mucosas espessas e viscosas, obstruindo os ductos das glândulas exócrinas, que contribuem para o aparecimento de três características básicas: doença pulmonar obstrutiva crônica, concentrações elevadas de eletrólitos no suor e insuficiência pancreática com comprometimento da digestão e da absorção e consequente desnutrição (BROWN; WHITE; TOBIN, 2017). O gene da FC localiza-se no braço longo do cromossomo 7, no lócus q31, tendo função de codificar um RNAm de 6,5 quilobases, que transcreve uma proteína transmembrana, reguladora de transporte iônico, composta por 1.480 aminoácidos, conhecida como regulador da condutância da transmembrana da FC (CFTR – cystic fibrosis transmembrane conductance regulator). A FC é causada por uma mutação da CFTR. A proteína CFTR produzida por esse gene regula o movimento do cloreto e íons de sódio através das membranas das células epiteliais. Quando mutações ocorrem em uma ou ambas as cópias do gene, ocorre um defeito no transporte de íons na membrana das células e resulta em um acúmulo de muco espesso por todo o corpo, levando ao comprometimento de vários órgãos, o qual afeta pulmões, pâncreas, fígado, intestino, glândulas sudoríparas e trato reprodutivo (TSUI; DORFMAN, 2013). O muco e o transporte de íons alterados permitem colonização bacteriana do trato respiratório, a maioria comumente envolve Pseudomonas, Haemophilus influenza e Staphylococcus aureus. Esses patógenos causam inflamação e infecção. A infecção crônica e resposta inflamatória repetitiva podem levar à destruição das vias aéreas (BELL; DE BOECK; AMARAL, 2015). Até o momento, mais de 2 mil mutações diferentes foram relatadas, e a mais comum é F508del (GUILLOT et al., 2014). O diagnóstico inicial de FC em crianças é feito pelo teste de triagem neonatal, mas o teste do suor é considerado padrão-ouro e pode confirmar ou excluir o diagnóstico na FC. O diagnóstico precoce pode melhorar o estado nutricional, diminuir as exacerbações pulmonares e reduzir dias de hospitalização, contribuindo para a melhor qualidade de vida dos pacientes (SONTAG et al., 2016). 123 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Fibrose cística (Proteína CFTR não funcional) Sinusite crônica Sinusite crônica Infecção bacteriana crônica grave das vias respiratórias Intestino hiper-ecogênico fetal (15-20% dos casos) Insuficiência exótica pancreática Doença hepática (5-10% dos casos) Infecção bacteriana crônica das vias respiratórias (sintoma tardio) Suficiência pancreática; pancreatites em 5-20% dos casos Concentração de sal no suor borderline ou normal (<60 mmol/L) Concentração de sal no suor > 60 mmol/L Azoospermia obstrutivaAzoospermia obstrutiva Distúrbios relacionados a CFTR (Alguma proteína funcional) Figura 28 – Efeito multissistêmico da CFTR Adaptada de: Knowles e Durie (2002, p. 440). Os principais sintomas são: tosse crônica, chiado no peito frequente, pneumonias e bronquites frequentes, suor excessivo e muito salgado, desnutrição, sinusite crônica, fezes volumosas – gordurosas e de cheiro muito forte – e pólipos nasais. O comprometimento pulmonar é a principal causa de morbidade e mortalidade dos pacientes com FC. A produção de muco espesso e infectado aumenta a suscetibilidade à colonização bacteriana por determinados germes, particularmente Staphilococcus aureus (SA) e Pseudomonas aeruginosa (PA) (ATHANAZIO et al., 2017). A manifestação digestiva mais frequente é a insuficiência pancreática e está presente em 70-85% dos pacientes com FC. Se não for corrigida de forma adequada, resultará em má absorção de gorduras, causando uma deficiência de vitaminas lipossolúveis, proteínas e gorduras. O tratamento com a reposição com enzimas pancreáticas deve ser iniciado assim que for identificada a insuficiência pancreática. A reposição com as enzimas pancreáticas tem como objetivo controlar a má absorção dos nutrientes e manter e recuperar o estado nutricional, possibilitando a diminuição dos sintomas gastrointestinais. A reposição enzimática é individualizada e baseada na quantidade de lípase. Deve ser ingerida imediatamente antes das refeições (SINGH; SCHWARZENBERG, 2017). 124 Unidade II Lembrete Todos os pacientes com FC e insuficiência pancreática precisam de reposição com enzimas pancreáticas e suplementação vitamínica. 6.3.1 Dietoterapia A desnutrição é uma característica frequente e uma comorbidade da FC. As causas da desnutrição são multifatoriais e estão relacionadas ao aumento nas necessidades de energia (ingestão reduzida de energia, anorexia, citocinas elevadas,refluxo gastresofágico, tosse, náusea, questões psicossociais) e ao aumento de perdas (insuficiência pancreática, diabetes relacionada a FC, infecções respiratórias, perda de sal) (COLOMBO; NOBILI; ALICANDRO, 2019). Assim, a intervenção precoce e a monitoração do estado nutricional são essenciais. A nutrição é importante no cuidado desses pacientes. Os objetivos do manejo nutricional na FC são: avaliar o estado nutricional e acompanhar a evolução ponderoestatural do paciente, intervir precocemente na reabilitação nutricional quando necessário e promover educação nutricional para garantir uma alimentação adequada. Alcançar e manter um estado nutricional adequado, assim como assegurar um crescimento e desenvolvimento da melhor forma possível, são um desafio, uma vez que esses pacientes apresentam um desequilíbrio energético- proteico da fisiopatologia multifatorial. Para o sucesso do tratamento nutricional é necessário o monitoramento nutricional (quadro a seguir) (ATHANAZIO et al., 2017). Existe uma relação direta entre o estado nutricional e a função respiratória. Um estudo feito por Hauschild (2018) mostrou que o déficit do estado nutricional esteve associado ao comprometimento da função pulmonar em crianças e adolescentes com FC. O estado nutricional está ligado à função pulmonar e à sobrevida. A prevenção da desnutrição começa com o diagnóstico precoce da doença através da triagem neonatal, depois confirmado ou excluído com o teste do suor (SULLIVAN; MASCARENHAS, 2017). Quadro 20 – Monitoramento dos parâmetros nutricionais em pacientes com FC A cada visita Avaliar a cada 3 meses Anual Ingestão alimentar e recordatório de 24 horas Antropometria Hemograma completo Estratégias para aumentar as necessidades calóricas Peso e estatura Dosagem de vitaminas lipossolúveis Uso de suplementos Pregas cutâneas Dosagem de ferro Comportamento alimentar Desenvolvimento puberal Adaptado de: Athanazio et al. (2017, p. 233). 125 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Tabela 45 – Meta do IMC para pacientes com FC > P50 e classificação do estado nutricional Estado nutricional Lactentes< 2 anos Crianças e adolescentes de 2 a 18 anos Adultos Ótimo P/E ≥ P50 IMC: P50-P85 Mulheres: IMC: 22-25 kg/m2 Homens IMC: 23-25 kg/m2 Eutrófico P/E: P25-P50 IMC: P25-P50 Mulheres: IMC 20-22 kg/m2 Homens: IMC 20-23 kg/m2 Risco nutricional P/E:P10-P25 IMC: P10-P25 IMC - 18,5-20,0 kg/m 2 Desnutrição P/E < 10 IMC < P10 IMC < 18,5 kg/m2 Fonte: Lahiri et al. (2016, p. 18). O tratamento nutricional na FC consiste em dieta hipercalórica, hiperproteica, hiperlipídica com suplementação de enzimas pancreáticas e vitaminas lipossolúveis, suplementação nutricional e TN (utilização de sonda/gastrostomia) (TURCK et al., 2016). Tabela 46 – Recomendações de macronutrientes para pacientes com FC Necessidade de energia 110% a 200% das RDAs para idade e sexo Necessidade de CHO 40% a 45% Necessidade proteica 20% Necessidade de lipídios 35% a 40% do VET Fonte: Mauri et al. (2018, p. 4). Tabela 47 – Suplementação nutricional Intervenção Crianças de 2 a 18 anos Estado nutricional: eutrofia Aconselhamento nutricional preventivo IMC > P50 Suporte nutricional Estado nutricional crítico: modificação da dieta e utilização de suplementos nutricionais IMC P10-50 Perda de peso 2 a 4 meses Não ganhou peso nos últimos 2 meses Desnutrição crônica: nutrição enteral IMC < P10 Perda de peso (2 percentis) da última consulta Déficit de estatura Fonte: Mauri et al. (2018, p. 5). 126 Unidade II Tabela 48 – Suplementação vitamínica Idade Vitamina A UI Vitamina E (mg) Vitamina K (mg) Vitamina D (UI) 0-12 meses 1.500 40-50 0,3-0,5 400-500 1-3 anos 5.000 80-450 0,3-0,5 800-1.000 4-8 anos 5.000-10.000 100-200 0,3-0,5 800-1.000 > 8 anos 10.000 200-400 0,3-0,5 800-2.000 Fonte: Mauri et al. (2018, p. 5). Suplementação de sódio Os pacientes com FC perdem sal através do suor. Quando o clima está quente ou o paciente se expõe a alguma situação que possa causar excessiva sudorese, o risco de desidratação e distúrbios eletrolíticos é elevado. Deve ser considerada a maior ingestão de cloreto de sódio nos pacientes. A adição de sal pode ser adicionada ao longo do dia, podendo também ser utilizado soro para reidratação oral. • Crianças até 6 meses: 1,0 a 2,0 mmol/kg/dia. • Crianças em condições especiais (diarreia, vômitos, temperaturas quentes, ostomias): até 4,0 mmol/kg/dia. • Adolescentes e adultos: alimentos salgados e cloreto de sódio em frasco. Observação O nutricionista pode prescrever suplemento até o valor da UL (DRIs); se passar desse valor, é o médico que deverá prescrever. Saiba mais Para saber mais sobre os cuidados nas doenças respiratórias, acesse: American Association for Respiratory Care: http://www.aarc.org Cystic Fibrosis Foundation: http://www.cff.org Unidos pela Vida: https://unidospelavida.org.br/ 127 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Exemplo de aplicação A desnutrição é característica frequente em pacientes com DPOC, estando associada tanto com morbidade quanto mortalidade aumentadas nesses pacientes. Vários fatores contribuem para essa situação. Descreva esses fatores e faça a recomendação nutricional para cada um deles. As causas de desnutrição em pacientes com DPOC são: insuficiência energética devido à diminuição da ingestão alimentar causada pela perda de apetite associada à diminuição da atividade física geral, tendência depressiva ou dispneia ao comer, aumento do gasto de energia devido ao aumento do trabalho respiratório, produção aumentada de citocinas inflamatórias, como interleucina (IL)-6, IL-8 e fator de necrose tumoral (TNF) -a e também de quimiocinas. Recomendação nutricional: Em quadro de anorexia, ingerir alimentos com quantidade elevada de calorias, oferecer alimentos preferidos pelos pacientes e fracionar as refeições de 5 a 6x/dia. Saciedade precoce: ingerir primeiro alimentos com alta quantidade energética, evitar líquidos durante as refeições e dar preferência aos alimentos frios. Dispneia: comer devagar, descansar entre as refeições, usar os broncodilatadores e ter alimentos preparados. Fadiga: escolher alimentos de fácil preparo, descansar antes das refeições e ter alimentos preparados para os períodos de fadiga. Por conta da redução da ingestão de calorias e alimentos como frutas, verduras, legumes e baixo consumo de líquidos, os pacientes podem ficar constipados. Então, se possível, deve-se fazer exercícios e aumentar a quantidade de fibras e água, mas ter cuidado com a retenção hídrica. A maior parte dos pacientes com DPOC são idosos e podem apresentar dificuldades para mastigar. Deve-se modificar a consistência dos alimentos para facilitar a mastigação e preferir alimentos mais cozidos e macios. Se necessário, encaminhar para fonoaudiólogo ou dentista. 6.4 TN em oncologia (pré e pós‑cirúrgico, quimioterapia, radioterapia e cuidados paliativos) Câncer é um termo que abrange mais de cem diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum o crescimento desordenado de células que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos a distância. Dividindo-se rapidamente, essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas (INCA, 2020). 128 Unidade II O que é câncer? Célula normal Tecido Tecido infiltrado Célula cancerosa Agente cancerígenoÓrgão Figura 29 Disponível em: https://bit.ly/2YrbwfG. Acesso em: 30 ago. 2021. O câncer é considerado uma enfermidade multicausal crônica que se caracteriza pelo crescimento descontrolado, rápido e invasivo de células com alteração em seu material genético. Também é definido como uma doença catabólicaque consome as reservas nutricionais do paciente devido ao aumento do gasto energético pela atividade humoral. Pode-se diagnosticar o câncer por meio de vários métodos, como história médica, exame físico e avaliação para marcadores tumorais (NASCIMENTO et al., 2015). A presença dessa doença causa grande impacto social, afetando o bem-estar físico e psicológico dos pacientes, influenciando significativamente no seu estado nutricional e na qualidade de vida (DALLACOSTA et al., 2017). Os tratamentos para o câncer podem ser: quimioterapia, radioterapia, iodoterapia, cirurgia e transplante de medula óssea. O tratamento devido a sua toxicidade causa efeitos colaterais aos pacientes, como náuseas, vômito, mucosite, constipação, diarreia, alteração no paladar, xerostomia e alteração na absorção dos nutrientes, levando a um quadro de desnutrição. A perda de peso e a desnutrição são consideradas os principais distúrbios nutricionais devido ao aumento da demanda energética e de nutrientes que são promovidos pelo próprio tumor, às alterações metabólicas que são causadas pelo câncer e ao tratamento (LIMA; MAIO, 2012). O que causa câncer? 10% - 20% 80% - 90% Figura 30 – Causas do câncer Disponível em: https://bit.ly/3EhnEzq. Acesso em: 30 ago. 2021. 129 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Observação Entre 80% e 90% dos casos de câncer estão associados a causas externas. As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os hábitos e o estilo de vida podem aumentar o risco de diferentes tipos de câncer. Quadro 21 – Fatores de risco para o câncer Causas externas (presente no meio ambiente) Causas internas (hormônios, condições imunológicas, mutações genéticas) Consumo de bebidas alcoólicas Fumar Alimentação inadequada (com excesso de gordura trans e saturada, rica em carboidratos simples e baixo consumo de frutas, verduras e legumes) Obesidade Inatividade física Poluição ambiental Exposição a agrotóxicos, radiação, arsênio HPV, vírus da hepatite Bactérias Envelhecimento (o aumento da idade aumenta o risco) Hereditariedade Etnia Adaptado de: Inca (2016). O câncer é uma doença de base genética e multicausal. Os alimentos desempenham um papel cada vez mais importante, pois o conhecimento das interações entre os alimentos e doenças neoplásicas cresce. Alimentos podem atuar como fatores de risco para o câncer assim como ser um fator de proteção (REQUEJO; RODRÍGUEZ, 2015). As diretrizes da American Cancer Society (SMITH et al., 2019) compõem quatro recomendações para a prevenção do câncer: consumir uma variedade de alimentos saudáveis, como frutas, verduras e legumes, que têm fitoquímicos e compostos bioativos; adotar um estilo de vida fisicamente ativo; alcançar e manter um peso corporal saudável por toda a vida; limitar o consumo de bebidas alcoólicas. 6.4.1 Síndrome da anorexia-caquexia e câncer A desnutrição relacionada à doença foi definida como uma condição que resulta da ativação de inflamação sistêmica causada pelo câncer. A perda de peso é comum em pacientes com câncer e muitos fatores estão relacionados, como alterações fisiológicas associadas ao tumor (má absorção, obstrução, diarreia e vômito). A resposta inflamatória também causa anorexia e degradação do tecido, que pode, por sua vez, resultar em perda significativa de peso corporal, alterações na composição corporal e função física em declínio (ARENDS et al., 2017). Consiste na perda de apetite, saciedade precoce, combinação de ambas ou alteração das preferências alimentares. Esses sintomas não são verificados em todos os tipos de tumores. A anorexia ocorre em cerca de 40% dos pacientes com câncer, no momento do diagnóstico, 130 Unidade II e em mais de dois terços dos doentes terminais. Constitui a principal causa de ingestão alimentar deficiente, por efeitos do tumor ou por causas não mecânicas, conduzindo à progressiva inanição, com comprometimento do estado nutricional e do perfil imunológico, podendo levar à caquexia (SILVA, 2006, p. 62). A caquexia é uma síndrome multifatorial de perda de peso caracterizada por perda involuntária de peso, com perda contínua de massa muscular esquelética com ou sem perda de massa gorda; tal desperdício não pode ser revertido por cuidados nutricionais convencionais e podem levar ao comprometimento funcional (PRADO et al., 2016). As anormalidades associadas com caquexia incluem mudanças no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. As anormalidades metabólicas estão relacionadas aos mediadores inflamatórios humorais (por exemplo, citocinas) e o tumor (HÉBUTERNE et al., 2014). O risco de caquexia e seu agravamento dependem de fatores como tipo e estágio do câncer, extensão da inflamação sistêmica e grau de resposta à terapia anticâncer. A sarcopenia é massa corporal magra baixa (principalmente músculos); a fadiga é comum, a força pode ser diminuída e tornar a função física limitada. Conforme a funcionalidade é perdida, os pacientes com câncer podem não ser mais capazes de viver de forma independente e frequentemente relatam qualidade de vida inferior (RYAN et al., 2016). Silva (2006) acentua as expressões clínicas da síndrome da anorexia-caquexia: • astenia; • anorexia; • úlcera de decúbito; • mal-estar geral; • atrofia muscular; • edema de MMII; • alteração na boca; • palidez; • letargia; • infecções frequentes; • perda de peso; • deterioração física geral. 131 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA A caquexia pode ser classificada em primária ou secundária. • Primária: relacionada às consequências metabólicas da presença do tumor associada a alterações inflamatórias. Resulta em consumo progressivo e frequentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo. • Secundária: resultante da diminuição na ingestão e absorção de nutrientes por obstruções tumorais do TGI, anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. Tabela 49 – Classificação caquexia Pré-caquexia Caquexia Caquexia refratária Perda de peso ≤ 5% Anorexia e alterações metabólicas Perda de peso > 5% em 6 meses IMC < 20 ou *sarcopenia + perda de peso > 2% Diminuição da ingestão/inflamação Catabolismo e ausência de resposta a terapia anticâncer Expectativa de vida < 3 meses *Perda de massa e força da musculatura Adaptada de: Arends et al. (2017). 6.4.2 Dietoterapia O aconselhamento nutricional é a primeira intervenção e a mais comumente utilizada para o gerenciamento de pacientes desnutridos com câncer e um trato gastrointestinal em funcionamento. O nutricionista pode fornecer conselhos individualizados para atingir o equilíbrio de energia e nutrientes com base nas necessidades energéticas estimada, estilo de vida, estado da doença, ingestão atual e preferências alimentares. O aconselhamento precisa abordar a presença e gravidade de sintomas como anorexia, náusea, disfagia, distensão abdominal ou cólicas, diarreia e constipação (GUINAN et al., 2017). Os objetivos da dietoterapia em pacientes com câncer são: redução de efeitos deletérios da doença, prevenção da desnutrição, melhora da resposta imunológica, melhora do prognóstico e aumento da sobrevida do paciente. A TN pode auxiliar os pacientes a obterem os nutrientes necessários para a manutenção ou a recuperação do peso, impedindo a perda de tecido corporal, construindo novos tecidos e combatendo infecções. Para isso, o plano alimentar deve ser individualizado e deve atender às necessidades nutricionais de cada paciente. A suplementação oral pode ser indicada ao paciente se a necessidade calórica não for alcançada. Em pacientes que não conseguem atingir as necessidades nutricionais exclusivamente por via oral, há indicação de nutrição enteral. A nutrição parenteral deve ser utilizada em casos nos quais o paciente apresenta-se impossibilitado de receber nutrição oral ou enteral. As necessidades nutricionais de cada pacientes podem variar conforme: o tipo e a localização do tumor, o grau de estresse, se há presença de má absorçãoe a classificação do estado nutricional do paciente. 132 Unidade II Quadro 22 – Sugestões para acréscimo proteico-calórico em preparações alimentares a serem ingeridas por via oral Acréscimo calórico Geleia de fruta no iogurte, leite, pães, torradas, biscoitos, bolachas ou bolos Leite condensado, mel, creme de leite, granola, corn flakes ou espessantes em saladas de frutas ou sorvetes Feculentos como batata, inhame, macaxeira em sopas e saladas Queijo parmesão, azeite de oliva e sementes de oleaginosas sobre as preparações Acréscimo de proteína Queijos nas sopas e saladas Creme à base de queijo/molho branco em legumes Leite em pó diluído em leite líquido Ovos acrescidos em sopas e mingaus/papas Omeletes de queijo, carnes, frango ou peixes Caldos de carne, frango ou peixe em preparações como sopa, arroz, feijão e legumes Carne, frango ou peixe desfiados em sanduíches e saladas Refrescos e sucos de fruta com leite Leite ou iogurte batidos com frutas naturais e/ou frutas secas e sementes de oleaginosas Acréscimo lipídico Manteiga, margarina ou creme de leite em sopas, pães, biscoitos e bolachas, bolos e torradas Molho à base de maionese para sanduíches e saladas Sorvetes de massa e suas preparações Creme de leite em saladas de frutas, doces e sobremesas em geral Leite de coco em preparações doces e/ou salgadas Fonte: Silva (2006, p. 12). 6.4.3 Recomendações nutricionais para adultos O Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2016) desenvolveu um Consenso Nacional de Nutrição Oncológica com as condutas e recomendações nutricionais para pacientes com câncer. Tabela 50 – Necessidades nutricionais de paciente oncológico adulto cirúrgico e em tratamento clínico Recomendações Pré e pós-cirúrgico: quimioterapia e radioterapia Quantidades Energia (kcal/kg/dia) Realimentação Obeso Manutenção de peso Ganho de peso Depleção 20 21 a 25 25 a 30 30 a 35 35 a 45 Proteína (g/kg/dia) Sem complicações Com estresse moderado Com estresse grave e depleção proteica 1 a 1,2 1,1 a 1,5 1,5 a 2,0 Necessidade hídrica 18 a 55 anos 56 a 65 anos > 65 anos 35 30 25 Adaptada de: Inca (2016). 133 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Tabela 51 – Necessidades nutricionais no paciente oncológico em cuidados paliativos Recomendações Doença avançada Doença terminal Cuidados paliativos Energia (kcal/kg/dia) 20 a 35 Se necessário, ajustar o peso do paciente (edema, obesidade) 20 a 35 Utilizar o peso teórico, usual ou mais recente De acordo com aceitação e tolerância do paciente Proteína (g/kg/dia) 1,0 a 1,8 Se necessário, ajustar o peso do paciente 1 a 1,8 Utilizar o peso teórico, usual ou mais recente Respeitar a tolerância à aceitação De acordo com aceitação e tolerância do paciente Necessidades hídricas (ml/kg/dia) Adulto: 30 a 35 Idoso: 25 Administrar de acordo com a tolerância e a sintomatologia Adulto: 30 a 35 Idoso: 25 Administrar de acordo com a tolerância e a sintomatologia Adulto: 30 a 35 Idoso: 25 Administrar de acordo com a tolerância e a sintomatologia Adaptada de: Inca (2016). Tabela 52 – Recomendação de calorias, proteínas e gorduras em pacientes oncológicos críticos Calorias Proteínas Gorduras Fase aguda do tratamento ou na presença de sepse: de 20 a 25 kcal/kg de peso atual/dia Fase de recuperação: de 25 a 30 kcal/kg de peso atual/dia Obeso crítico com IMC de 30 a 50 kg/m2: de 11 a 14 kcal/kg de peso atual/dia IMC > 50 kg/m2: de 22 a 25 kcal/kg de peso ideal/dia De 1,5 a 2,0 g/kg de peso atual/dia Obeso crítico com IMC de 30 a 40 kg/m2: 2,0 g/kg de peso ideal/dia IMC ≥ 40 kg/m2: 2,5 g/kg de peso ideal/dia 20% do VET Adaptada de: Inca (2016). 134 Unidade II Quadro 23 – Critérios de indicação da TN Na doença avançada ou terminal No fim da vida Critérios de indicação — TNE: trato gastrointestinal funcionante ou parcialmente funcionante — TNE via oral: complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão — TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente < 60% das recomendações em até 5 dias consecutivos, sem expectativa da melhora da ingestão — TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do trato gastrointestinal na doença avançada. Não é uma via de escolha para paciente com câncer terminal Não há indicação, porém devem ser considerados os consensos entre paciente, familiares e equipe multidisciplinar Programação de desmame — TNE: quando a ingestão oral permanecer > 60% do GET por 3 dias consecutivos — TNP: quando possível, utilizar trato gastrointestinal Ingestão oral > 70% do GET por 3 dias consecutivos Adaptado de: Inca (2016). Saiba mais Para saber sobre a TN em idosos e crianças com câncer, leia: INCA. Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. 2. ed. Brasília, 2016. v. II. 6.4.4 Antioxidantes e dieta imunomoduladora Os antioxidantes podem ser definidos como qualquer substância que, mesmo em baixas concentrações, é capaz de atrasar ou inibir a oxidação, diminuindo a concentração de radicais livres no organismo e que também age quelando os íons metálicos, prevenindo a peroxidação lipídica (HARVIE, 2014). Os antioxidantes agem na linha de defesa orgânica contra os radicais livres, protegem contra a formação de substâncias agressoras, realizam a interceptação dos radicais livres e fazem o reparo quando a prevenção e a interceptação não foram completamente efetivas e os produtos da destruição dos radicais livres estão sendo continuamente formados em baixas quantidades, podendo se acumular no organismo (DOLARA; BIGAGLI; COLLINS, 2012). Os antioxidantes estão presentes naturalmente em uma dieta rica em frutas, verduras e legumes. Os antioxidantes mais estudados são: carotenoides, vitamina C, vitamina E, selênio e flavonoides. A imunoterapia visa à melhora da capacidade do indivíduo com câncer de rejeitar o tumor imunologicamente e pode ser definida como a modulação das atividades do sistema imune com intervenções de alguns imunonutrientes. Há uma correlação positiva entre uma dieta pobre em antioxidante com alguns tipos de câncer, mas não há evidências se o excesso de suplementação com antioxidantes pode 135 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA prevenir o câncer. Os nutrientes imunomoduladores, como arginina, glutamina, ácidos graxos ômega-3 e nucleotídeos, exercem efeitos sobre o sistema imunológico e sobre a resposta inflamatória. Assim, as dietas imunomoduladoras aproveitam a ação conjunta desses nutrientes para auxiliar no tratamento de pacientes com desnutrição ou caquexia devido ao câncer. O quadro a seguir destaca as principais fontes alimentares desses antioxidantes. Quadro 24 – Principais fontes alimentares de antioxidantes Carotenoides Betacaroteno: mamão, manga, damasco, pêssego, cenoura, abóbora e batata-doce Licopeno: tomate e seus derivados, goiaba e melancia Vitamina C Abacaxi, acerola, caju, limão, laranja, tangerina, morango e quiuí Vitamina E Óleos vegetais (soja, canola, milho, girassol, azeite de oliva), castanhas, nozes e amêndoas Selênio Nozes, semente de girassol, milho, amêndoa e avelã Flavonoides Antocianinas: frutas vermelhas Flavonoides: chá-verde, cacau e chocolate amargo Flavanonas: frutas cítricas, tomate e hortelã Isoflavonas: soja e seus derivados Fonte: Inca (2016). Quadro 25 – Resumo das recomendações de antioxidantes para pacientes oncológicos Questões Propostas Existem benefícios no uso de antioxidantes no paciente oncológico? Sim. A ingestão de quantidades fisiológicas de antioxidantes está recomendada para pacientes oncológicos por meio de uma alimentação rica em frutas e vegetais (cinco ou mais porções por dia) e de acordo com a DRI Quais os benefícios do uso de antioxidantes a partir de uma alimentação saudável para o paciente oncológico? Contribuir com a melhora da imunidade Minimizar os efeitos colaterais da quimioterapia Promover melhortolerância ao tratamento por reduzir o dano oxidativo da quimioterapia e da radioterapia Reduzir a proliferação e a angiogênese e aumentar a apoptose Quais pacientes oncológicos se beneficiariam do uso de antioxidantes? Todos os pacientes oncológicos se beneficiam com uma alimentação saudável, composta do consumo de 5 porções ao dia (de 400 a 600 g) de vegetais não amiláceos e frutas, fontes de antioxidantes Existe contraindicação do uso de suplementos nutricionais com antioxidantes pelo paciente oncológico? Sim. Doses de antioxidantes acima das recomendadas pela DRI, sobretudo em fumantes e/ou alcoolistas em quimioterapia ou radioterapia Fonte: Inca (2016, p. 83). 136 Unidade II Quadro 26 – Imunonutrientes e suas funções Imunonutrientes Efeitos benéficos Arginina Aumenta a produção de óxido nítrico, protege contra a reperfusão de lesões, promove a maturação e ativação das células T e melhora o balanço de nitrogênio Glutamina Atua no sistema imune e é uma importante fonte de energia para a mucosa do trato gastrointestinal Pode ser sintetizada em nível hepático e muscular, e no câncer pode ser essencial devido ao aumento do seu catabolismo, afetando a função imune e a barreira da mucosa intestinal Ácidos graxos ômega-3 Papel importante na modulação e produção de eicosanoides e citocinas, redução de inflamação sistêmica, minimização da isquemia hepática e normalização vascular Nucleotídeos Melhoram a cicatrização e a síntese proteica, facilitam a maturação das células intestinais e têm papel regulador na resposta mediada imune das células T Os efeitos benéficos de arginina, glutamina e ácidos graxos ômega-3 em pacientes submetidos à cirurgia de grande porte são uma alternativa para modular a resposta imune e inflamatória Observação Segundo o Consenso Nacional de Nutrição Oncológica (INCA, 2016), a dieta imunomoduladora é recomendada no pré-operatório de cirurgias de grande porte para todos os pacientes, independentemente do estado nutricional. Acentuaremos a seguir orientações de modificações na dieta de pacientes com sinais e sintomas relacionados ao tratamento oncológico: • Mucosite: — Restringir alimentos ácidos, picantes, muito condimentados e salgados. — Modificar a consistência. — Evitar alimentos quentes, preferindo preparações frias, geladas ou em temperatura ambiente. • Xerostomia (boca seca): — Evitar alimentos secos. — Preparações devem conter caldos ou molhos. — Se não houver contraindicação, gelo e picolés podem reduzir a saliva. 137 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA • Náuseas e vômitos: — Restringir frituras e alimentos gordurosos. — Evitar líquidos durante as refeições. — Reduzir volume e aumentar fracionamento. — Orientar para que a mastigação e a ingestão sejam lentas. — Se não houver contraindicação, o consumo de sucos, picolés de frutas cítricas e chupar gelo ajudam a diminuir as náuseas. • Diarreia: — Aumentar a ingestão hídrica. — Orientar o consumo de alimentos com ação constipante ou pobre em resíduos como banana, maçã sem casca, goiaba sem casca e sem semente, limão, caju, batatas, chuchu, cenoura cozida, aipim, inhame, cará, pera sem casca, carne magras e leite de soja. • Constipação intestinal: — Aumentar a ingestão hídrica. — Orientar o consumo de alimentos ricos em fibras ou com ação laxativa, como pão, cereais integrais, frutas frescas, mamão, laranja, ameixa, uva com casca, lentilha, quiabo, feijão, farelo de trigo ou aveia. Lembrete É muito importante identificar os sinais e sintomas nos pacientes oncológicos para que a modificação na dieta seja acertada e o paciente consiga se alimentar melhor. Exemplo de aplicação Paciente de 35 anos com câncer de pulmão em estágio terminal está internado no hospital há 15 dias. A aceitação da alimentação está < 50% nos últimos 7 dias e paciente relata dificuldade em se alimentar via oral devido à mucosite. Quais são as recomendações para pacientes em estágio terminal? Como nutricionista desse paciente, você indicaria nutrição enteral? E se o paciente tivesse em cuidados paliativos, você indicaria a nutrição enteral? Justifique. 138 Unidade II As recomendações nutricionais para pacientes em fase terminal são: Energia: 20 a 35 kcal/kg peso/dia, utilizar o peso mais recente. Proteínas: 1,0 a 1,8 g/kg peso/dia. Necessidade hídrica: 30 a 35 ml/kg/dia. Sempre administrar as necessidades hídricas de acordo com a tolerância do paciente e sua sintomatologia. Para paciente em estágio terminal, é indicada a nutrição enteral. Neste caso, o paciente está aceitando < 50% da alimentação nos últimos 7 dias. A indicação para nutrição enteral é via sonda devido à impossibilidade de utilização da via oral (paciente está com dificuldade em se alimentar por via oral) e a ingestão alimentar está insuficiente < 60% das recomendações em até 5 dias consecutivos, sem expectativa da melhora da ingestão. Para pacientes em cuidados paliativos, a nutrição enteral é indicada para minimizar os prejuízos do estado nutricional como a perda de peso e melhorar a qualidade vida. O nutricionista pode indicar a nutrição enteral neste caso, mas desde que haja consentimento da família, considerando riscos e benefícios e a sobrevida estimada do paciente. É essencial destacar a importância do acompanhamento nutricional do paciente durante todo o tratamento, avaliando suas necessidades, não só nutricionais, mas como um todo, dando suporte também ao cuidador, atendendo a seus anseios e respondendo às suas dúvidas e expectativas. O objetivo em cuidados paliativos não é recuperar o estado nutricional, mas proporcionar conforto, aliviar sintomas e retardar ao máximo a perda da autonomia. 139 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Resumo O fígado regula o metabolismo de vários nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), controla a homeostase da glicose pela regulação da síntese de glicogênio, glicogenólise e gliconeogênese, síntese de ureia, metabolismo do colesterol, armazenamento de ferro, vitaminas lipossolúveis e B12 e síntese de proteínas plasmáticas, além de atuar no metabolismo de alguns polipeptídios hormonais e detoxificação de diversas drogas e xenobióticos. Estudamos nesta unidade que as doenças hepáticas crônicas (DHC) prejudicam o funcionamento hepático, ocasionando prejuízo ao metabolismo e armazenamento de nutrientes, que levam ao comprometimento nutricional desses pacientes. De uma forma geral, as abordagens terapêuticas devem focar na mudança do estilo de vida e no controle dos fatores de risco (obesidade, diabetes, hiperlipidemia, medicamentos que são hepatotóxicos e podem piorar a esteatose). Estratégias nutricionais e utilização de suplementação podem trazer benefícios junto com a mudança alimentar e no estilo de vida. O objetivo da TN é evitar ou controlar a perda ponderal e controlar o catabolismo proteico muscular. A pancreatite é uma inflamação do pâncreas. Pacientes com pancreatite aguda devem ser considerados de risco nutricional moderado a alto devido à natureza catabólica da doença e por causa do impacto do estado nutricional. Muitos fatores contribuem para a desnutrição na pancreatite aguda e é recomendada a utilização de nutrição oral ou enteral para melhorar a nutrição e para reduzir a inflamação local e sistêmica. Já os pacientes com pancreatite crônica apresentam a insuficiência pancreática exócrina (IPE), que compromete a digestão e absorção de macro e micronutrientes, como gordura, proteínas e vitaminas lipossolúveis, sendo necessária a reposição de enzimas pancreáticas. A colelitíase refere-se à formação de cálculos biliares na vesícula biliar. O aumento da ingestão de energia com açúcares altamente refinados e alimentos doces, alta ingestão de frutose, baixo teor de fibra, alto teor de gordura e o consumo de fast-food aumentam o risco de formação de cálculos biliares. A recomendação dietética inclui uma dieta rica em fibras, com baixo teor de lipídios e à base de vegetais para prevenir as contraçõesda vesícula biliar. Nas doenças pulmonares, os pacientes têm um gasto alto energético devido à própria fisiopatologia da doença. A TN é essencial para auxiliar esses pacientes, e a suplementação via oral e nutrição enteral devem ser indicadas de acordo com as necessidades de cada paciente. 140 Unidade II O câncer é definido como uma doença catabólica que consome as reservas nutricionais do paciente devido ao aumento do gasto energético pela atividade humoral. Saber as recomendações nutricionais em cada fase da doença faz a diferença no tratamento, assim como as orientações de modificações na dieta de pacientes com sinais e sintomas relacionados ao tratamento oncológico. Exercícios Questão 1. (Enade 2013) A desnutrição proteico-calórica, problema comum em pacientes portadores de câncer, eleva as taxas de complicações e mortalidade. Tumores do trato digestório, tais como o câncer colorretal (ou do canal anal), levam a obstruções que interferem na absorção de nutrientes e resultam em perda ponderal. Entre os sintomas do câncer colorretal estão dores, sangramentos e diarreia. Nesse contexto, o tratamento radioquimioterápico pode ser recomendado. Todavia, esse tipo de tratamento pode agravar o estado nutricional do paciente por induzir o surgimento de náuseas, vômitos, diarreia e fibrose do canal anal. Dessa forma, faz-se necessária a utilização de dietas pobres em resíduos, a fim de prevenir a impactação fecal, reduzir a frequência e esforço nas evacuações e o volume fecal, com vistas a evitar a piora do quadro clínico. Considerando o texto e as condutas nutricionais a serem adotadas com pacientes acometidos de câncer colorretal, avalie as afirmativas. I – O uso de fórmulas com baixo teor de resíduos e com aporte calórico e proteico que complemente a dieta artesanal com pouco resíduo (in natura) parece ser mais indicado para evitar o agravamento da depleção nutricional em pacientes com tumor colorretal tratados com radioquimioterapia associada. II – A dieta líquida artesanal, com alimentos in natura e com baixo teor de resíduos, não atinge as recomendações nutricionais preconizadas para um paciente adulto com câncer colorretal e desnutrição proteico-calórica instalada. III – A dietoterapia para pacientes com câncer colorretal deve incluir cereais integrais, leites e derivados, para se garantir um aporte energético e proteico mais adequado, que favoreça a melhora do quadro nutricional. IV – Os pacientes devem ser estimulados a receber dietas pela via enteral, através de sonda nasogástrica, pois essa é a forma fisiológica de alimentá-los e estimulá-los a contribuir para o seu tratamento, dado o efeito psicológico positivo que ela causa. V – A terapia nutricional no paciente oncológico deve prevenir ou tratar a desnutrição, modular a resposta orgânica, controlar os efeitos adversos do tratamento e melhorar a qualidade de vida. 141 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA É correto apenas o que se afirma em: A) I, II e V. B) I, III e IV. C) I, III e V. D) II, III e IV. E) II, IV e V. Resposta correta: alternativa A. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: em pacientes com câncer colorretal submetidos à radioterapia, a dieta obstipante é um fator que contribui com o tratamento, observando-se reflexos na normalização do hábito intestinal e na manutenção do estado nutricional. II – Afirmativa correta. Justificativa: a dieta líquida artesanal apresenta, geralmente, baixo valor nutricional e calórico, em torno de 700 kcal. Para pacientes oncológicos desnutridos, esse é um valor muito baixo, que não supre as necessidades energéticas e proteicas. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: geralmente, o paciente com câncer colorretal tem, entre os sintomas, o quadro diarreico. Nessa situação, a conduta dietética é dar preferência aos cereais refinados, e não aos integrais. A lactose também deve ser evitada, pois pode causar piora na sintomatologia. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: a dieta enteral pode ser utilizada quando o paciente apresentar trato gastrointestinal funcionante e um ou mais dos seguintes critérios: • IMC menor do que 18,5 kg/m2; • redução de peso maior ou igual a 10% nos últimos 6 meses; • aceitação alimentar da dieta via oral inferior a 2/3 das recomendações nutricionais; 142 Unidade II • obstrução pelo tumor em parte do trato gastrointestinal (dependendo da gravidade e da localização); • disfagia; • anorexia. A alimentação do paciente por via enteral está, muitas vezes, associada a complicações psicológicas, advindas da ansiedade, da depressão, da falta de estímulo ao paladar, da monotonia alimentar, da insociabilidade e da inatividade do paciente. V – Afirmativa correta. Justificativa: os objetivos da terapia nutricional no paciente oncológico são: • prevenir e tratar a desnutrição; • atenuar os efeitos colaterais das terapias oncológicas utilizadas; • melhorar a qualidade de vida. Questão 2. (Enade 2013) A caquexia do câncer, condição comum no estágio terminal da doença, caracteriza-se pela perda progressiva de peso e anorexia, associada a problemas frequentes, como disfagia, odinofagia, disgeusia ou hipogeusia, estomatite, náuseas, vômitos e dispneia, que contribuem para redução do consumo alimentar. Para um paciente nessa condição, em estágio terminal, os cuidados nutricionais devem priorizar: A) A oferta adequada de nutrientes e a recuperação do estado nutricional. B) A avaliação nutricional objetiva, pela antropometria, para diagnóstico do estado nutricional, por ser um método não invasivo e de fácil aplicação. C) O suporte nutricional enteral, para que haja ganho de massa muscular. D) O conforto e o bem-estar do paciente, não a reabilitação nutricional. E) O suporte nutricional parenteral como adjuvante da terapia anticaquexia. Resposta correta: alternativa D. 143 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o correto oferecimento nutricional feito ao paciente oncológico pode atenuar os efeitos colaterais dos tratamentos, como náuseas, vômitos, diarreia, saciedade precoce, má absorção, obstipação intestinal, xerostomia, disgeusia, disfagia e outras complicações presentes na caquexia, como anorexia, mucosite, odinofagia e escara. O objetivo dietoterápico no paciente oncológico terminal não é a recuperação do estado nutricional. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a avaliação nutricional analisa a ingestão alimentar, a composição corporal, a capacidade funcional e os dados bioquímicos. Contudo, essa não é a prioridade no caso de pacientes terminais. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a dieta via oral, por ser mais fisiológica, desde que o trato gastrointestinal esteja funcionante e que o paciente esteja em condições clínicas para recebê-la, é a primeira opção para promover a alimentação do paciente. Deve-se considerar se há benefícios quanto à utilização da dieta enteral no paciente oncológico terminal, uma vez que o paciente, em fase terminal, não está livre de efeitos adversos e sua recuperação da massa magra não é mais um objetivo dietoterápico. D) Alternativa correta. Justificativa: os cuidados paliativos ao paciente com câncer em estágio terminal são fundamentais. Devem ser priorizados o conforto e o bem-estar do paciente, e não mais a sua reabilitação nutricional. A meta da dietoterapia é promover alívio dos sintomas provenientes da fase terminal da doença, a fim de atenuar ao máximo os efeitos adversos advindos dos procedimentos médicos. E) Alternativa incorreta. Justificativa: no paciente terminal, cuidar da caquexia não é o objetivo do tratamento dietético. A introdução do suporte nutricional parenteral para o paciente terminal com câncer é raramente indicada. 144 Unidade III Unidade III 7 DIETOTERAPIA EM PACIENTES COM HIV/AIDS E NAS DOENÇAS OPORTUNISTAS 7.1 Definição A síndrome da imunodeficiência adquirida (sida ou aids – acquired immunodeficiency syndrome) é amanifestação clínica avançada decorrente de um quadro de imunodeficiência causado pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH, HIV - human immunodeficiency virus) (LAZZAROTTO; DERESZ; SPRINZ, 2010). Desde o início da década de 1980, a identificação de HIV/aids constitui um desafio para a comunidade científica global, pois é considerado um problema de saúde pública de grande magnitude e caráter pandêmico que envolve diversos fatores sociais, atingindo os indivíduos sem distinção social, econômica, racial, cultural ou política (PERUCCHI et al., 2011). De 1980 a junho de 2020, foram identificados 1.011.617 casos de HIV no Brasil. O país tem registrado, anualmente, uma média de 39 mil novos casos nos últimos cinco anos (BRASIL, 2020). Os grupos de risco para contrair HIV são: trabalhadores do sexo (relação sexual sem preservativo), pessoas que injetam drogas (compartilhamento de agulhas e seringas), transmissão vertical de mãe para filho, transplante de órgãos ou doação de sangue (BROWN; PEERAPATANAPOKIN, 2019). O uso da terapia antirretroviral combinada (Tarv, também denominada terapia antirretroviral potente), a partir da introdução dos inibidores de protease (IP) em 1996, tem proporcionado a supressão sustentada da carga viral e a reconstituição imunológica, diminuindo a morbidade e a mortalidade e, como consequência, o aumento da expectativa de vida dos indivíduos infectados pelo HIV (LAZZAROTTO; DERESZ; SPRINZ, 2010). No entanto, observou-se que a terapia antirretroviral é acompanhada de alterações metabólicas como dislipidemia, resistência insulínica, hiperglicemia e redistribuição da gordura corporal, fatores de risco para a doença cardiovascular. 7.1.1 Mecanismo de ação dos antirretrovirais Quando ocorre a infecção pelo vírus causador do HIV, o sistema imunológico começa a ser atacado, levando à imunodeficiência. O sistema imunológico fica debilitado e o indivíduo fica mais suscetível a infecções. E é no primeiro estágio, chamado de infecção aguda, que ocorre a incubação do HIV (tempo da exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença). Esse período varia de duas a quatro semanas. No estágio II, denominado fase assintomática, ocorre replicação ativa do vírus e destruição das células T helper CD4, sem manifestações aparentes. Contudo, com o passar do tempo, evolui para infecção com sintomas e o sistema imunológico começa a ficar debilitado. No estágio III surgem doenças (candidíase oral e linfoadenopatia) e ocorre declínio da função imunológica. Neste estágio, por causa da baixa imunidade, o paciente fica suscetível a doenças oportunistas (pneumonia, sarcoma), que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. No estágio IV o paciente é portador da aids. O individuo que é infectado pode levar até 15 anos para desenvolver a doença (BRASIL, s.d.). 145 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Célula hospedeira Enzima viral Inibidores da transcriptase reversa: *NNRTI *NRTI Transcriptase DNA pró-viral reversa Transcrição Enzima viral protense Inibidores da protease Núcleo RNA viral RNA viral Mecanismo de ação dos antirretovirais Figura 31 – Ciclo de replicação do HIV e mecanismo de ação dos antirretrovirais. O HIV, através de suas glicoproteínas de superfície, adere à célula hospedeira e introduz seu material genético no citoplasma da célula. A enzima viral transcriptase reversa transforma a dupla fita de RNA viral em DNA pró-viral, que migra até o núcleo da célula hospedeira unindo-se ao seu material genético. Ocorre o processo de transcrição, pelo qual se formam novas moléculas de RNA viral, as quais migram até o citoplasma e, por ação da enzima viral protease, se unem aos demais componentes virais, havendo a formação de um novo HIV. Dessa forma, as drogas da classe dos inibidores da transcriptase (análogos de nucleosídeos – NRTI ou não análogos de nucleosídeos – NNRTI) inibem a primeira fase da replicação viral através da inibição da enzima viral transcriptase reversa. As drogas da classe dos inibidores da protease impedem a ocorrência da última fase da replicação viral por inibirem a enzima viral protease Fonte: Valente (2005, p. 872). 7.1.2 Desnutrição e HIV O vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a desnutrição são multifatoriais. Ambos estão relacionados entre si, causando danos progressivos ao sistema imunológico. O HIV compromete o estado nutricional, e a ingestão inadequada de nutrientes debilita ainda mais o sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a infecções oportunistas. O HIV pode causar ou agravar a desnutrição, provocando redução da ingestão alimentar, aumento das necessidades de energia e má absorção de nutrientes. A desnutrição é uma das principais complicações do HIV e é considerada um importante fator prognóstico nos pacientes com estágios avançados da aids (DAKA; ERGIBA, 2020). A síndrome de wasting (síndrome consumptiva) é caracterizada pela perda de peso não intencional de 10% em 12 meses, perda de peso não intencional de 7,5% em período superior a 6 meses, 5% de perda de massa celular corporal (MCC) em 6 meses, IMC < 20 kg/m2. A síndrome de wasting é multifatorial e envolve fatores como redução da ingestão alimentar, comprometimento no processo de digestão e absorção de nutrientes, hipermetabolismo, catabolismo proteico acelerado, doenças oportunistas – que estão associadas – e efeitos da medicações. As intervenções nutricionais são essenciais no tratamento do HIV/aids, pois a dieta e a nutrição podem melhorar a adesão e a efetividade da terapia retroviral, além de contribuírem com a melhoria das anormalidades metabólicas. Suplementação nutricional, redução de citocinas inflamatórias e terapia hormonal são o tratamento para controlar a síndrome de wasting, que atinge cerca de 20% dos pacientes no momento do diagnóstico. 146 Unidade III O objetivo do tratamento nutricional é melhorar o estado nutricional, diminuir o comprometimento funcional da desnutrição (fadiga muscular, estado do paciente acamado, incapacidade de trabalhar), melhorar a tolerância ao tratamento antirretroviral, aliviar os sintomas gastrointestinais da (náusea, diarreia, inchaço) e melhorar a qualidade de vida (OCKENGA et al., 2006). Lembrete Quando ocorre a infecção pelo vírus causador do HIV, o sistema imunológico começa a ser atacado, levando à imunodeficiência. O sistema imunológico fica debilitado e o indivíduo fica mais suscetível a infecções. 7.1.3 Interação entre drogas e nutrientes A terapia antirretroviral pode causar reações no organismo, como doenças oportunistas. A tabela a seguir destaca a interação dos alimentos com a medicação. Assim, é possível recomendar a administração mais adequada dos medicamentos e sugerir condutas dietéticas, caso necessário (BRASIL, 2006). Quadro 27 – Descrição dos antirretrovirais Droga Interação com o alimento Possíveis reações adversas Recomendações/ administração Recomendações dietéticas/suplemento Zidovudina (AZT) Dieta rica em gordura diminui a absorção do fármaco Anemia Depleção de zinco e cobre D/N/V/A/AL/EH Com ou sem alimento, evitando os muito gordurosos Pode necessitar de suplementação de zinco Didanosina (DDI) Alimento diminui a absorção do fármaco Diarreia Aumento do ácido úrico Aumento dos triglicérides Aumento da glicemia Neuropatia periférica Aumento da PA 30 min antes ou 2h após refeição Mastigar o comprimido completamente ou diluir em água Não usar com antiácidos de Al ou Mg Evitar álcool (aumenta incidência de pancreatite) Efavirenz (EVF) Alimento gorduroso aumenta a absorção do fármaco Dislipidemia D/N Lipodistrofia Com ou sem alimento Evitar alimento gorduroso Não coadministrar com erva de São João (Hypericum), cápsula de alho, Ginseng, Ginkgo-biloba, Equinácea Indinavir (IDN) Alimento diminui a absorção do fármaco Nefrolitíase Aumenta glicemia Diabetes Lipodistrofia D/N/V Dislipidemia 1h antes ou 2h após refeição com água e/ou chá Ingerirno mínimo 1,5 litro de água por dia, de preferência junto com a droga Não coadministrar com erva de São João (Hypericum), cápsula de alho, Ginseng, Ginkgo-biloba, Equinácea Nelfinavir (NFN) Alimento melhora a absorção do fármaco Dislipidemia Lipodistrofia Diarreia Com alimentos Não coadministrar com erva de São João (Hypericum), cápsula de alho, Ginseng, Ginkgo-biloba, Equinácea 147 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Droga Interação com o alimento Possíveis reações adversas Recomendações/ administração Recomendações dietéticas/suplemento Amprenavir (APV) Alimento gorduroso aumenta a absorção do fármaco Dislipidemia Lipodistrofia Com alimento gorduroso Não coadministrar com erva de São João (Hypericum), cápsula de alho, Ginseng, Ginkgo-biloba, Equinácea Rifampicina (RMP) Alimento diminui a absorção do fármaco Aumenta ácido úrico Hepatotoxicidade Diminui vitamina D Diabéticos em uso de sulfonilureia têm aumento de glicemia 1h antes ou 2h após refeição, com 1 copo de água Pode ser com pequena quantidade de alimento se ocorrer irritação GI Diminuir purinas Pode necessitar de suplementação de vitamina D Evitar álcool para diminuir toxicidade Adaptado de: Brasil (2006, p. 39-40). Quadro 28 – Descrição das principais drogas para profilaxia e/ou tratamento de infecções oportunistas Droga Interação com o alimento Possíveis reações adversas Recomendações/ administração Recomendações dietéticas/ suplemento Anfotericina B Perda de potássio Anemia Insuficiência renal Via intravenosa Aumentar potássio Assegurar ingestão hídrica Dieta rica em ferro, se anemia ferropriva Azitromicina Alimentos melhoram a tolerabilidade Intolerância gastrointestinal Dor abdominal Diarreia Cápsula ou suspensão: 1h antes ou 2h após refeição Não tomar com antiácidos ou suplementos de Al e Mg Dapsona Não usar na anemia severa Anemia hemolítica Anemia e neutropenia Intolerância grastrintestinal Aumenta glicemia Administração com alimento diminui a irritação gástrica Suplementar com doses profiláticas de ferro, vitamina C e ácido fólico Sulfametoxazol + Trimetoprima Sem interação importante Interfere no metabolismo do folato Anemia hemolítica Não usar em anemia megaloblástica por deficiência de folato Diabetes em uso de sulfonilureia: anorexia, dor abdominal, náusea, vômitos, neutropenia, anemia, trombocitopenia, intolerância gastrointestinal, hipercalemia, hepatite e hipoglicemia 1h antes ou 2h após refeição com 1 copo de água. Se houver irritação gastrointestinal, ingerir com alimento Assegurar ingestão hídrica maior que 1,5 litro por dia para evitar cristalúria. Pode necessitar de suplementos de folato Aciclovir Nefrotoxicidade. Náuseas, vômitos, anemia, neutropenia e trombocitopenia Oral: com alimento e 1 copo de água IM/IV Ingerir de 1,5 a 2,5 litros de água por dia Adaptado de: Brasil (2006, p. 42). 148 Unidade III 7.2 Síndrome lipodistrófica do HIV Esta síndrome é caracterizada por alterações na distribuição da gordura corporal. Sua etiopatogenia ainda não é bem clara, não apresenta método diagnóstico padronizado e sua prevalência exata é desconhecida. A importância desse quadro se deve a sua repercussão e impacto (físico, psicológico e clínico), podendo estar associada aos fenômenos de arteriosclerose precoce, diabetes melito e outras patologias. Lipodistrofia, ou metabolismo anormal e deposição de gordura, inclui lipoatrofia (perda de gordura subcutânea) e lipohipertrofia (ganho de tronco gordura) e forma mista (associação de lipoatrofia e lipohipertrofia). As principais alterações da distribuição de gordura corporal relacionadas com esta síndrome são: acúmulo de gordura (obesidade abdominal, aumento do perímetro torácico, hipertrofia mamária, aumento da gordura lateral do pescoço, giba de búfalo e lipoma generalizado ou localizado), perda de gordura na face, nádegas e extremidades e alterações mistas (WILLIG; WRIGHT; GALVIN, 2018). Podem ainda ter outros transtornos metabólicos, implicados ou não com esta síndrome, tais como: alterações do metabolismo da glicose (resistência periférica à insulina, hiperglicemia, intolerância à glicose e diabetes melito); alterações do metabolismo dos lipídios (hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia – aumento de low density lipoprotein – LDL-c e diminuição de high density lipoprotein – HDL-c) e aumento de apoliproteína B. Quadro 29 – Componentes da síndrome lipodistrófica do HIV Dislipidemia ↑ Colesterol total ↑ LDL colesterol ↓ HDL colesterol ↑ Triglicérides Alterações glicêmicas Glicemia de jejum alterada (pré-diabetes): glicemia de jejum 100-125 mg/dl / ADA* Intolerância à glicose: glicemia 2 horas após sobrecarga oral com glicose 140-199mg/dl / ADA* Diabetes melito: glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl ou glicemia 2 horas após sobrecarga oral com glicose ≥ 200 mg/dl / ADA* Resistência insulínica Lipodistrofia Lipoatrofia: redução da gordura em regiões periféricas (braços, pernas, nádegas) e proeminência muscular e venosa relativas Lipohipertrofia: acúmulo de gordura em região abdominal, gibosidade dorsal, ginecomastia e aumento das mamas em mulheres Mista: associação da lipoatrofia e da lipohipertrofia Doença cardiovascular Resistência insulínica * American Diabetes Association (ADA – Associação Americana de Diabetes) Adaptado de: Brasil (2006, p. 3). Não há muitas evidências no tratamento nutricional no controle dessas alterações metabólicas, mas o monitoramento nutricional com exames e orientações de mudança de estilo de vida, incentivando a prática de atividade física e mudança na alimentação (alimentação saudável) auxiliam no controle de perda de massa gordura e formação de muscular. Também é importante o cuidado com a saúde 149 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA emocional, sobretudo os estados de desânimo e depressão. A manutenção de práticas alimentares saudáveis deve ser enfatizada. Evitar alimentos gordurosos, frituras, alimentos que contenham gordura saturada e hidrogenada e ovos (gemas) ajudam no controle do colesterol e na manutenção da saúde. Os doces e massas em excesso aumentam os níveis de triglicérides e a glicose sanguínea circulante (BRASIL, 2006; CUPPARI, 2014). A alimentação saudável deve fornecer carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, que são nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo. A diversidade da alimentação com todos os nutrientes necessários auxilia na manutenção da saúde. Quadro 30 – Nutrientes importantes para uma alimentação saudável Nutrientes Características/funções Alimentos que os contêm Proteínas Molécula complexa composta por aminoácidos unidos por ligações peptídicas Envolvidas na formação e manutenção das células e dos tecidos do corpo e dos órgãos Leite, queijos, iogurtes, carnes (aves, peixes, suína, bovina), miúdos, frutos do mar, ovos, leguminosas (feijões, soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha) Castanhas (castanha-do-pará, avelã, castanha-de-caju, nozes) Gorduras Grupo de compostos químicos orgânicos que compreendem os triglicerídios, fosfolipídios e esteroides São fontes alternativas de energia Influem na manutenção da temperatura corporal Transportam vitaminas lipossolúveis Dão sabor às preparações e sensação de saciedade Azeite, óleos, margarina (insaturadas) Manteiga, banha de porco, creme de leite, maionese, toucinho (saturadas) Sorvetes industrializados, gordura vegetal hidrogenada Carboidratos Grupo de compostos formados por carbono, hidrogênio e oxigênio Uma das fontes de energia mais econômicas Asseguram a utilização eficiente de proteínas e lipídios Cereais (arroz, milho, trigo, aveia), farinhas, massas, pães, tubérculos (batata, batata-doce, cará, mandioca, inhame) Açúcares simples Vitaminas Substâncias orgânicas necessárias em pequenas quantidades para crescimento e manutenção da vida Segundo sua solubilidade, classificam-se em hidrossolúveis: vitaminasdo complexo B (B1, B2, B6, B12), ácido fólico e vitamina C; lipossolúveis: vitaminas A, D, E e K Essenciais na transformação de energia, ainda que não sejam fontes Intervêm na regulação do metabolismo Favorecem respostas imunológicas, dando proteção ao organismo Verduras, legumes e frutas, como espinafre, vinagreira, acelga, rúcula, alface, capeba, almeirão, gueroba, tomate, beterraba, cenoura, jerimum ou abóbora, jatobá, caju, cajá, maçã, mamão, laranja Minerais Compostos químicos inorgânicos necessários em pequenas quantidades para crescimento, conservação e reprodução do ser humano, sendo os mais conhecidos: cálcio, ferro, magnésio, zinco e iodo Contribuem na formação dos tecidos Intervêm na regulação dos processos corporais Favorecem a transmissão dos impulsos nervosos e a contração muscular Participam da manutenção do equilíbrio ácido-básico Frutas, verduras, legumes e alguns alimentos de origem animal (leite, carnes, frutos do mar como fontes, principalmente de cálcio, fósforo, ferro e zinco) e castanhas Adaptado de: Brasil (2006, p. 3). 150 Unidade III 7.3 Alteração do metabolismo ósseo 7.3.1 Osteoporose Embora as causas ainda não estejam claras, as alterações do metabolismo ósseo aumentam o risco de baixa densidade óssea e osteoporose, e muitos têm menor densidade mineral óssea do que o esperado para idade. Os fatores de risco incluem baixo IMC, histórico de perda de peso, baixo teor de vitamina D, uso de esteroides, história de nucleosídeo, uso de inibidor da transcriptase reversa e tabagismo. A densidade óssea deve ser monitorada por meio de exames de rotina, como absortometria de raios X de dupla energia. Atualmente, o manejo nutricional na alteração do metabolismo ósseo está focado na prevenção com recomendação dos seguintes aspectos: manutenção do peso ideal, prática regular de exercícios físicos, ingestão adequada de cálcio e vitamina D (suplementar quando necessário), tratamento com bisfosfonatos, estímulo à alimentação saudável e exposição ao sol, descontinuar ou ir reduzindo o tabagismo, álcool e cafeína, além do tratamento medicamentoso, se necessário (WILLIG; WRIGHT; GALVIN, 2018). 7.4 TN em HIV/aids A TN deve ser indicada quando: • houver perda de peso significativa (45% em 3 meses); • o IMC for < 18,5 kg/m2. A decisão de suspender a TN, assim como a transição da alimentação (via oral, enteral, parenteral), deve ser avaliada caso a caso, considerando a evolução nutricional e clínica de cada paciente. O objetivo da TN é: • Detectar, prevenir e reduzir a ocorrência de problemas nutricionais. • Auxiliar na preservação de massa corporal. • Prevenir perda ponderal e recuperar o estado nutricional. • Fornecer aporte adequado de nutrientes (para evitar deficiências nutricionais). • Auxiliar no alívio de sintomas e complicações (infecções oportunistas), bem como no manejo dos efeitos associados à medicação. • Promover educação nutricional para facilitar o processo de adesão do paciente e, consequentemente, colaborar para a melhor qualidade de vida. 151 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA A TN compreende as recomendações nutricionais (macro e micronutrientes), avaliação do estado nutricional e indicação de suplementos alimentares, nutrição enteral e parental (de acordo com as necessidades, sinais e sintomas de cada paciente), interação medicamentos e nutrientes e aconselhamento nutricional. Tabela 53 – Recomendações de energia e proteínas para adultos com HIV Estágio Energia Proteína Estágio A: assintomático, peso estável 30 a 35 kcal/kg de peso atual/dia 1,1 a 1,5 g/kg de peso atual Estágio: sintomático com complicações, necessidade de ganho de peso 35 a 40 kcal/kg de peso atual/dia 1,5 a 2 g/kg de peso atual Estágio C: infecção oportunista (CD4 < 200) 40 a 50 kcal/kg de peso atual/dia 2 a 2,5 g/kg de peso atual Estágio C: desnutrição grave Iniciar com 20 kcal/kg de peso atual dia, aumentar gradativamente (para evitar a síndrome da realimentação) Aumentar a oferta gradativamente conforme a evolução de calorias Obesidade 20 a 25 kcal/kg de peso ajustado Utilizar peso ajustado para o cálculo das necessidades proteicas Exemplo de aplicação Com base no conteúdo apresentado anteriormente, descreva qual a função do nutricionista no tratamento nutricional do HIV. • O aconselhamento nutricional dever fazer parte do cuidado integral do paciente. • Orientar os pacientes e seus cuidadores sobre o papel da nutrição e da dieta na restauração e manutenção da saúde e os princípios de uma alimentação saudável. • Realizar avaliações iniciais e periódicas do estado nutricional do paciente e desafios para manter ou restaurar o estado nutricional, bem como desenvolver e atualizar estratégias relacionadas à nutrição com pacientes e cuidadores. • Fornecer suporte para manutenção e recuperação da função imunológica por meio do planejamento e da implementação de estratégias com pacientes. • Auxiliar no desenvolvimento de estratégias relacionadas à nutrição para gerenciar os efeitos colaterais das medicações (anorexia, perda de peso, obstipação, diarreia/má absorção, intolerância à lactose, esteatorreia, náuseas, vômitos, disfagia, diminuição do paladar, esofagite). • Manejo nutricional nas comorbidades (dislipidemia, resistência à insulina e diabetes, hipertensão, osteoporose, anemias, anorexia e sintomas gastrointestinais). 152 Unidade III • Apoiar o tratamento médico do HIV, promovendo a adesão ao tratamento e as visitas regulares à clínica; discutir com a equipe multidisciplinar sobre o impacto psicossocial da perda de peso, lipodistrofia ou ganho de peso não planejado com pacientes. • Fornecer educação para os pacientes e cuidadores sobre o impacto potencial das interações medicamentos-nutrientes sobre o estado nutricional com terapia antirretroviral, outros medicamentos, terapias de medicina complementar e alternativa, nutrientes suplementares, ervas e outras terapias. • Orientar sobre a importância na mudança de estilo de vida. • Atualizar o conhecimento e avaliar as pesquisas sobre tratamentos com e sem nutrientes para melhorar o estado nutricional e metabolismo de nutrientes, variando as orientações de terapias. 7.5 Cuidado nutricional nas doenças do sistema nervoso (paralisia cerebral, epilepsia, doença de Alzheimer e Parkinson) 7.5.1 Paralisia cerebral – conceito A paralisia cerebral (PC) descreve um grupo de distúrbios de movimento permanentes, mas não imutáveis e/ou postura e da função motora, que são devidas a uma interferência não progressiva, lesão ou anormalidade do desenvolvimento – cérebro imaturo (ROSENBAUM et al., 2007). O diagnóstico de paralisia cerebral é feito principalmente com base na função motora e distúrbios de postura que ocorrem na primeira infância e persistem até o final da vida; eles não são progressivos, mas mudam com a idade. Os distúrbios motores da PC são frequentemente acompanhados por distúrbios de sensação, percepção, cognição, comunicação e comportamento, por epilepsia e por problemas musculoesqueléticos. 7.5.2 Classificação da PC A classificação da PC pode se baseada em diferentes critérios. Uma das classificações mais comuns e fáceis de uso é o GMFCS (Sistema de Classificação da Função Motora Grossa) (PALISANO et al., 2008). Esse critério classifica a gravidade motora dos portadores de PC e descreve cinco níveis de função motora: • Nível I: anda sem limitações. • Nível lI: anda com limitações. • Nível III: anda utilizando um dispositivo auxiliar para locomoção. • Nível IV: automobilidade com limitações; pode utilizar tecnologia de apoio com motor. • Nível V: transportado numa cadeira de rodas por terceiros. 153 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA GMFCS nível I GMFCS nível II GMFCS nível IV GMFCS nível III GMFCS nível V Figura 32 – Ilustração do sistema de classificação da função motora grossa (GMFCS) Adaptada de: Palisano et al. (1997, p. 9). 7.5.3 Etiologia da PC A etiologia da PC é complexa, fatores pré-nataisparecem ser responsáveis por quase 75%, enquanto fatores neonatais são responsáveis por 10% a 18% de todos os casos de PC. Uma série de fatores podem causar danos ao sistema nervoso central (SNC) em um estágio inicial de seu desenvolvimento. Os fatores de risco se enquadram nas seguintes categorias: preconcepção, condições da mãe, pré-natal, (estão relacionados a gravidez), perinatal, bem como fatores de risco no período neonatal e infantil. A figura a seguir mostra os fatores de risco associados a cada uma dessas categorias (SADOWSKA; SARECKA-HUJAR; KOPYTA, 2020). Fatores de risco PC Pré-concepção Doenças sistêmicas da mãe Desnutrição Utilização de estimulante e drogas Infecções Sistema imunológico Desordens antes da gravidez Fatores físicos e químicos Tratamento de infertilidade Abortos espontâneos Fatores socioeconômicos Pré-natal Sangramento da mãe Descolamento da placenta Gravidez múltipla Infecções intrauterinas Drogas Hipóxia intrauterina Ruptura prematura da placenta Reprodução assistida, fertilização in vitro Toxemia Perinatal Nascimento prematuro Parto instrumental Indução de parto Trabalho de parto prolongado Asfixia Aspiração do mecônio Macrossomia fetal Gemelaridade Idade materna Neonatal e crianças Síndrome da dificuldade respiratória Suporte respiratório, utilização de oxigênio Infecções generalizadas, como meningite Hiperbilirrubinemia Hipoglicemia Hemorragia intracraniana Convulsão neonatal Figura 33 – Fatores de risco para PC Adaptada de: Sadowska, Sarecka-Hujar e Kopyta (2020). 154 Unidade III 7.5.4 Nutrição e paralisia cerebral A maioria das crianças com paralisia cerebral tem dificuldade em se alimentar via oral, problemas gastrointestinais como refluxo gastresofágico e constipação. A alimentação oral é um processo complexo que requer uma habilidade de sucção e uma coordenação de mastigar e engolir. Crianças com paralisia cerebral tem dificuldade para sugar, mastigar e engolir. A incapacidade do desempenho de sucção e alimentação via oral em bebês pode ser um detector precoce de imaturidade do sistema nervoso central. A dificuldade na alimentação pode causar a desnutrição e crescimento inadequado (TAMILIA et al., 2014). Além do déficit de crescimento, as consequências de desnutrição incluem função cerebral diminuída, deficiência na função imunológica e diminuição da força muscular respiratória. O comprometimento do estado nutricional em crianças com PC é comum, mas são mais evidentes nos pacientes com aumento da gravidade das deficiências motoras (KUPERMINC; STEVENSON, 2008). A disfagia orofaríngea é observada em crianças com PC e é conhecida por influenciar não só seu estado nutricional, mas também sua saúde respiratória e estresse parental. Pesquisadores de Oxford em seu estudo descobriram que 20% dos pais relataram a alimentação como estressante ou desagradável, com aumento das taxas de estresse, ampliando a gravidade da deficiência motora grossa (KUPERMINC; STEVENSON, 2008). As dificuldades alimentares podem causar a aspiração de alimentos e líquidos para as vias aéreas, o que é grande causa de morbidade e mortalidade na PC. A prevalência de aspiração em crianças com PC é alta, cerca de 68-70% (WEIR et al., 2011). Ocorre aspiração quando há interferência no sincronismo do processo da deglutição/respiração. A aspiração é definida quando há passagem do alimento por dentro do vestíbulo da laringe, passando abaixo das pregas vocais para dentro da traqueia e dos pulmões (DODRILL; GOSA, 2015). Devido aos problemas de mastigação e deglutição, é necessário que a alimentação seja adaptada a essas mesmas dificuldades (cortada em pequenos pedaços, triturada, mole ou passada). Os princípios de uma alimentação saudável deverão ser sempre seguidos, apesar de ser necessário modificar a textura e adaptá-la às dificuldades do paciente, o que nem sempre acontece, já que muitas vezes a alimentação torna-se monótona e pouco diversificada. Essa monotonia alimentar leva a uma carência de nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo, podendo conduzir a diversas situações clínicas (deficiência de micronutrientes). 155 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Quadro 31 – Recomendações para alimentar crianças que apresentam disfagia Recomendações quanto à postura Posição adequada da criança na hora da alimentação (não pegar a criança pela nuca) Pescoço e tronco alongado Pélvis estável e simétrica, em posição neutra Verificar suporte respiratório Recomendações quanto à estimulação oral Estimulação oral não nutritiva, com dedo, colher ou brinquedos Estimulação nutritiva com utensílios adequados (bico, colheres) Dessensibilização, início da estimulação de “fora para dentro”, com toque no rosto, no lábio e depois na boca Sucção não nutritiva em bebês Explorar ao máximo áreas da face e boca: acariciar, escovar e apertar Recomendações quanto à alimentação Tamanho e quantidade de alimento adequado Verificar o ritmo da alimentação Tipo de tamanho dos utensílios adequados Adequação da textura/consistência do alimento Adaptado de: Borges e Mello (2004). DRGE = doença do refluxo gastroesofágico Maturação neurológica — Deglutição descoordenada — Mordida tônica — Reflexo de vômito hiperativo Disfunção alimentar — Hipotonia — Sucção débil — Ausência de lateralização da língua — Protusão da língua — Vedamento labial ineficiente — Aquisição alimentar inadequada Posicionamento alterado — Equilíbrio alterado — Posturas anormais — Assento inadequado Déficit de comunicação — Inabilidade de expressar fome, sede e preferências — Pais frustrados — Depressão dos pais Comprometimento motor — Inabilidade para servir-se — Falta de acesso aos alimentos Crescimento deficiente — Estresse de pacientes e cuidadores — Piora da qualidade de vida — Comprometimento da saúde global — Infecções respiratórias — Hospitalizações Medicações — Peristaltismo alterado — Constipação — Hiporexia Atividade reduzida Apetite diminuído Tipo de dieta — Custo dos alimentos/espessante — Consistência — Nutrientes Disfagia Baixa ingestão Constipação DRGE Figura 34 – Fatores envolvidos com as manifestações digestórias na paralisia cerebral e suas consequências Fonte: Araújo, Silva e Mendes (2012, p. 462). 156 Unidade III 7.5.5 Curvas de crescimento para pacientes com PC Os padrões de crescimento de crianças com PC podem ser notavelmente diferentes das crianças que não têm PC. O crescimento das crianças com PC é influenciado pelo Sistema de Classificação da Função Motora Grossa e pela capacidade de alimentação, por isso é aconselhável não comparar seus dados (parâmetros) antropométricos com os gráficos de crescimento padrão. Por conta desse motivo, Brooks et al. (2011) desenvolveram gráficos crescimento específico para pacientes com PC estratificados pela capacidade funcional (GMFCS) e tipo de alimentação (via oral ou gastrostomia) no gráfico de nível V do GMFCS. Saiba mais Para observar os gráficos de crescimento, leia: BROOKS, J. et al. Low weight, morbidity, and mortality in children with cerebral palsy: new clinical growth charts. Pediatrics, Elk Grove Village, v. 128, n. 2, p. 298-308, 2011. 7.5.6 Intervenção nutricional A intervenção nutricional personalizada deve levar em conta o estado nutricional global da criança, a capacidade de alimentação (varia de acordo com o Sistema de Classificação da Função Motora Grossa) e as necessidades de energia estimadas (REMPEL, 2015). Uma estratégia nutricional deve ser desenvolvida para melhorar os aspectos da alimentação oral, incorporar as prioridades das famílias para alimentação e definir prazos para avaliação e eficácia do plano de reabilitação nutricional oral. A próxima etapa é estabelecer a necessidade de micronutrientes conforme a necessidade de cada criança. A necessidade de proteínas e micronutrientes são semelhantes à das crianças que não têm PC. Deve-se atender às necessidades de vitamina D e cálcio paraos ossos, especialmente para crianças que não deambulam. No entanto, não há uma recomendação específica para determinar a necessidade de energia para crianças com PC, o que ocorre por causa de sua heterogeneidade, a alta variabilidade da atividade motora e as variações na composição corporal (RIEKEN et al., 2011). Observe a seguir as metas para intervenção nutricional para crianças com PC e comprometimento do estado nutricional: • Ingestão de alimentos de acordo com a atividade motora: segura, confortável e prazerosa para atender às necessidades nutricionais e energéticas. • Proteínas e micronutrientes: necessidades semelhantes de crianças da mesma idade que não têm PC para atender às necessidades de cálcio e vitamina D adequadas à idade. Não há necessidade específica da quantidade de energia, mas as necessidades energéticas são menores para as crianças que não deambulam quando comparadas com crianças em PC da mesma faixa etária. 157 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA • Monitorar peso em um intervalo de 2 a 4 semanas. • Objetivo: peso > 20º percentil (nos gráficos específicos para PC). Os registros alimentares não são fidedignos para calcular a quantidade da ingestão alimentar, pois a família e os cuidadores dos pacientes com PC normalmente superestimam a ingestão da criança e subestimam a quantidade de comida que é colocada para fora (a criança cospe). No entanto, os registros alimentares podem ser úteis na identificação dos alimentos que são ofertados e, assim, é possível orientar alimentos de alta densidade energética para aumentar as calorias das refeições (laticínios, polímeros de glicose, suplementos) (WALKER et al., 2011). A reabilitação nutricional oral envolve o aumento da ingestão de calorias e nutrientes pela criança para melhorar todo o processo de alimentação. A equipe multidisciplinar pode aconselhar os cuidadores sobre a segurança e eficiência da alimentação (SCARPATO et al., 2017). Destacam-se a seguir as intervenções para reabilitação nutricional oral: • Posicionamento para alimentação ideal. • É importante que, sempre que possível, se promova a autonomia da pessoa com PC. Para isso, e em termos alimentares, poderá recorrer-se a utensílios adaptados (talheres, pratos e copos) para maximizar a capacidade do indivíduo se alimentar autonomamente, sem depender de terceiros para tal. • Ajustar a consistência e a viscosidade dos alimentos/líquidos para se ajustar melhor às habilidades da criança (dependendo da atividade motora da criança, é necessário espessar os líquidos para evitar aspiração). • Ritmo da alimentação. • Equilibrar a fadiga com o prazer de comer. A melhora do estado nutricional de crianças com deficiência motora significativa por meio de alimentação via oral é um desafio (disfagia/aspiração). Desse modo, o suporte nutricional por meio de alimentação por tubo de gastrostomia (GT) deve ser indicado quando não é possível a alimentação via oral (SULLIVAN et al., 2006). Observe a seguir os fatores que justificam a consideração da colocação do tubo de gastrostomia: • Dificuldades de alimentação motora oral. • Desnutrição (P/E < 80% esperado, IMC < percentil 5). • Déficit de crescimento (E/I* < 90% esperado). 158 Unidade III • Sobrepeso (IMC > percentil 95). • Deficiências nutricionais individuais. • Os horários prolongados das refeições estão limitando a participação da criança nas atividades escolares e comunidade. • O estresse com o processo de alimentação oral está presente para a criança e a família. • A aspiração durante a alimentação está interferindo no prazer de comer ou está contribuindo para doenças respiratórias recorrentes. • Baixo ganho de peso e comprometimento do crescimento, apesar das condições de reabilitação nutricional oral. Observação P/E: peso para estatura. E/I: altura para idade. Os cuidadores dos pacientes com PC têm uma insegurança sobre a colocação da gastrostomia, mas depois que as crianças colocam, há um alto índice de aceitação, porque elas têm uma rápida melhora do estado nutricional – o ganho de peso é rápido. Alguns pacientes podem ficar com sobrepeso e até obesos, por isso a quantidade da dieta enteral ofertada pela gastrostomia deve ser monitorada frequentemente e modificada sempre que necessário. O excesso de peso pode levar a dificuldade de locomoção, aumento do esforço respiratório e pode aumentar a tensão dos cuidadores, com dores nas costas e articulações (VERNON-ROBERTS et al., 2010). Pacientes com paralisia cerebral enfrentam desafios em sua mobilidade, alimentação, afetando o estado nutricional. As estratégias de intervenção nutricional para remediar o impacto do comprometimento nutricional em crianças com PC são: compreensão dos fatores nutricionais e não nutricionais que afetam a nutrição, avaliação cuidadosa do estado nutricional com dados antropométricos adequados e classificação do estado nutricional pelos gráficos de crescimento (BROOKS et al., 2011). Devem-se considerar todos os aspectos que afetam a alimentação e a contribuição dos cuidadores na definição de metas para realização da intervenção nutricional. 7.6 Epilepsia 7.6.1 Conceito A epilepsia é uma doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. Essa condição tem consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais e prejudica diretamente a qualidade de vida do indivíduo afetado (PACK et al., 2019). 159 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA A epilepsia apresenta-se de diversas formas: descargas interictais eletroencefalográficas, podendo estender-se e causar as crises epiléticas e, em casos mais graves, as crises prolongadas ou repetidas em intervalos mais curtos, caracterizando o estado de mal epilético. Se uma crise convulsiva surgir em decorrência de causas agudas como traumatismo cranioencefálico, alteração hidroeletrolítica ou doença concomitante, não será classificada como epilepsia, mas sim como crise convulsiva provocada. Para ocasionar a geração de crises são necessários: o desequilíbrio entre excitação e inibição do cérebro relacionado ao disparo neuronal e descargas excessivas de potencial de ação; o descontrole do potencial da membrana neuronal; e a sincronização das células nervosas (FISHER et al., 2014). A epilepsia também é diagnosticada se uma pessoa tiver uma convulsão não provocada ou reflexo e tem uma probabilidade de pelo menos 60% de ter outra crise nos próximos dez anos. A epilepsia é considerada resolvida quando um paciente está livre de convulsões há dez ou mais anos e está sem todos os medicamentos antiepilépticos há cinco ou mais anos (PACK et al., 2019). As causas são variadas e são determinantes para o tratamento, prognóstico e evolução clínica (COSTA; BRANDÃO; MARINHO SEGUNDO, 2020). Saiba mais Para saber mais sobre os tipos de crises epiléticas, leia o artigo indicado a seguir: COSTA, L. L. O.; BRANDÃO, E. C.; MARINHO SEGUNDO, L. M. B. Atualização em epilepsia: revisão de literatura. Revista de Medicina, São Paulo, v. 99, n. 2, p. 170-181, 2020. Síndromes epiléticas Focais Generalizadas Focais e generalizadas Desconhecidas Tipos de epilepsias Focais Generalizadas Desconhecidas Tipos de crises Co m or bi lid ad es Estrutural Genética Infecciosa Metabólica Imunológica Desconhecida Etiologias Figura 35 – Classificação das epilepsias. Os tipos de crises se referem ao seu início Adaptada de: Scheffer et al. (2017). 160 Unidade III 7.6.2 Intervenção nutricional na epilepsia Desde a época de Hipócrates, sabe-se que o jejum pode ter um efeito benéfico na epilepsia. Um estudo feito em 1921 sugeriu que o efeito do jejum na redução das convulsões foi causado por cetose e desenvolveu uma dieta cetogênica que imita o metabolismo do corpo durante o jejum (WILDER, 1921). Nos últimos vinte anos, essa dieta passou por uma transformação e agora é usada em todo o mundo, principalmente em crianças. Uma dieta cetogênica inclui muita quantidade de gordura,quantidades adequadas de proteína e quantidade de carboidrato bem reduzida; é uma dieta não farmacológica eficaz e estabelecida em tratamento para crianças com epilepsia intratável, que é definida como epilepsia de difícil controle medicamentoso (KVERNELAND et al., 2017). Essa abordagem terapêutica pode ser uma opção para adultos que também têm epilepsia intratável. A dieta alimentar deve ser implementada de forma multidisciplinar sob supervisão de médico e nutricionista. Os efeitos colaterais devem ser monitorados e incluem, no curto prazo, acidose, hipoglicemia, vômito, obstipação, diarreia e refluxo gastroesofágico. Os efeitos geralmente ocorrem após três meses e consistem em hiperlipidemia, constipação, cálculos renais, déficit de crescimento, osteoporose e déficits de vitaminas, minerais e oligoelementos. Por ser uma dieta restritiva, a suplementação com micronutrientes é necessária (SAMPAIO, 2016). A dieta cetogênica visa controlar e/ou reduzir a frequência das crises epilépticas através do aumento na ingestão de alimentos fontes de gordura e redução dos alimentos fontes de carboidrato e proteína que deverão ser pesados em balança própria para alimentos, conforme orientação nutricional. 1-5% de carboidratos 9-29% de proteínas 70-90% de gorduras Figura 36 – A pirâmide da dieta cetogênica mostra os principais grupos de alimentos utilizados em uma dieta cetogênica. Alimentos gordurosos são responsáveis pela maior parte da energia. Existe uma quantidade moderada de alimentos ricos em proteínas, e os carboidratos são responsáveis por uma proporção muito modesta de ingestão de energia. Existem vários tipos de dietas cetogênicas, e as quantidades dos diferentes alimentos dos grupos variam entre eles Adaptada de: Kverneland et al. (2017). 161 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Ao iniciar a dieta cetogênica, o ideal é que o paciente esteja em cetose, aproximadamente 24 a 48 horas de jejum são necessárias para atingir cetonúria de 160mg/dL. Então, a dieta cetogênica será oferecida em três refeições/dia. As primeiras três refeições devem fornecer um terço de energia diária total, evoluindo para dois terços a partir da quarta refeição, chegando ao total na sétima refeição. Durante todo esse período, o paciente deverá estar internado para monitorização. A oferta de calorias deve atingir 75% da energia recomendada por dia. Se o paciente perder peso com a dieta cetogênica, a oferta de calorias pode ser aumentada de 100 a 150 calorias (deve-se considerar o estado de cetose) (NONINO-BORGES et al., 2004). Tabela 54 – Recomendações de calorias/dia para pacientes em dieta cetogênica Idade (anos) Calorias/kg/dia < 1 90-100 1-1,5 75-80 1,5-3 70-75 4-6 55-68 7-10 65-55 11-14 30-40 15-18 30-40 Adultos 20-30 Fonte: Nonino-Borges et al. (2004, p. 518). A seguir, serão acentuados outros tipos de dieta cetogênica. 7.6.3 Dieta com TCM A dieta com triglicérides de cadeia média (TCM) foi desenvolvida para tornar a dieta cetogênica mais palatável, permitindo uma dieta com uma proporção maior de carboidratos e proteína. Os triglicerídeos de cadeia média produzem mais cetonas por quilocaloria de energia do que a cadeia longa, exigindo menos ingestão de gordura para produzir cetose em comparação com a dieta cetogênica clássica (que foi apresentada na figura da pirâmide) (NEAL et al., 2009). O TCM é metabolizado mais rapidamente e os pacientes consomem mais variedades e quantidades de alimentos, têm melhor crescimento e requerem menos micronutrientes em comparação com a dieta cetogênica clássica. Há também um efeito positivo nos níveis de lipídios, com uma redução significativa nas relações colesterol total/lipoproteína de alta densidade quando comparadas à dieta clássica. Inicialmente, o intuito da dieta tradicional TCM era fornecer 60% da energia dos triglicerídeos de cadeia média. Os efeitos colaterais frequentes incluem diarreia, vômito, inchaço e dor abdominal. Para aumentar a tolerabilidade, uma versão modificada foi proposta usando 30% da energia de TCM e 30% de ácidos graxos de cadeia longa (TCL) com a porcentagem de TCM precisando ser aumentada gradualmente (LIU, 2008). A eficácia da dieta com TCM é semelhante à dieta clássica. No entanto, o TCM é caro e os nutricionistas precisam ser treinados para orientar essa dieta e monitorar esses pacientes. 162 Unidade III 7.6.4 Dieta de Atkins modificada (DAM) A DAM tem uma proporção cetogênica de 0,9:1 (gordura: carboidratos e proteína), com aproximadamente 65% das calorias derivadas de fontes de gordura. Em crianças, os carboidratos líquidos são inicialmente limitados a 10 g/dia, com um aumento planejado para 20 g/dia após três meses. Adultos são iniciados com 15 g/dia e a quantidade pode ser aumentada para 20 a 30 g/dia após um mês. Todos os carboidratos são permitidos e podem ser administrados durante o dia ou em uma refeição. A diferença entre o DAM e a dieta de Atkins é que, na DAM, a limitação da ingestão de carboidratos é mantida indefinidamente e o consumo de gordura é orientado com o objetivo de aumentar as cetonas urinárias. A dieta é iniciada em um ambiente ambulatorial; o jejum não é necessário, nem a pesagem dos alimentos; não há limite no consumo de proteína e gordura; e não são restritos calorias e líquidos (KOSSOFF et al., 2007). Todos os tipos de dieta cetogênica podem ser indicados para o tratamento da epilepsia intratável com eficácia confirmada. A restrição de carboidratos e o aumento de ingestão de gorduras é essencial para alcançar a eficácia. A escolha da dieta deve ser feita individualmente com base na idade do paciente, em circunstâncias familiares, gravidade e tipo de epilepsia (SAMPAIO, 2016). 7.6.5 Doença de Alzheimer Trata-se de um transtorno neurodegenerativo responsável por pouco mais de 60% de todos os casos de demência relacionada à idade (BOTCHWAY; IYER, 2017). Quadro 32 – Fatores de risco Demográficos Idade Educação Gênero Raça Classe social Genéticos e estilo de vida Álcool Inatividade física Falta de atividade cognitiva Desnutrição Alimentação inadequada (rica em gorduras, ultraprocessados) Fumar Doenças Câncer Doença cardiovascular Insuficiência cardíaca congestiva Disfunção do sistema imunológico Microinfartos Obesidade Baixa homeostase do colesterol Diabetes tipo 2 não controlada AVC 163 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Psiquiátricos Depressão Estresse Ambientais Poluição do ar Deficiência de cálcio Localização geográfica Metais (especialmente alumínio, cobre e zinco) Solventes orgânicos Deficiência de vitaminas Infecções Bactérias, por exemplo, pneumonia por Chlamydophila Infecções dentárias Fungos Vírus Adaptado de: Armstrong (2019). 7.6.6 Dietoterapia – desnutrição e doença de Alzheimer Desnutrição e perda de peso na doença de Alzheimer, assim como em outras demências, são multifatoriais (MITCHELL, 2015). Fatores que levam à desnutrição e perda de peso são: perda de memória; dificuldade no planejamento e na execução das tarefas diárias; problemas com a linguagem; confusão com o tempo ou lugar; alucinações; transtornos de humor e de comportamento; distúrbios do sono; apatia; anorexia; depressão; dificuldades para engolir (disfagia); perda da independência. A desnutrição está associada a declínio cognitivo agravado, menor sobrevida e qualidade de vida reduzida (STAVROULAKIS; MCDERMOTT, 2016). Cerca de 85% de todos os pacientes com demência avançada apresentam dificuldades de alimentação (por exemplo, em razão de disfagia, incapacidade física para preparar as refeições, perda de apetite, recusa em comer). A alimentação via oral e/ou alimentação por sonda enteral assistidas são as opções para orientar os pacientes com esta condição. A alimentação oral pode incluir modificação da textura dos alimentos e locais adequados para se alimentar. A participação do paciente na alimentação é importante para que possa interagir com seus cuidadores e socializar, mesmo com todas as dificuldades. Os pacientes devemreceber intervenção com base em uma avaliação relativa à deglutição e alimentação, mantendo a alimentação via oral o máximo de tempo que for possível (HANSON et al., 2013). A alimentação por sonda enteral por um curto período pode ser recomendada se as dificuldades em se alimentar ocorrerem por um curto período. A nutrição enteral em pacientes com demência grave não é recomendada, exceto se apresentarem disfagia ou aversão para comer. A tomada de decisão de iniciar a alimentação enteral em pacientes com demência deve ponderar as dificuldades de cada paciente e o prognóstico geral (SAMPSON; CANDY; JONES, 2009). 7.6.7 Dieta do mediterrâneo Caracteriza-se pela alta ingestão de frutas, vegetais, grãos integrais, nozes e legumes; ingestão moderada de peixes, aves e álcool, sendo gorduras insaturadas indicadas como boas fontes de gordura (azeite e oleaginosas) e baixo consumo de carnes vermelhas e processadas. A dieta do mediterrâneo em pacientes com doença de Alzheimer tem mostrado um impacto positivo e tem sido associada a melhor desempenho cognitivo, redução do declínio e redução do risco do comprometimento cognitivo. Essa 164 Unidade III dieta tem sido indicada como intervenção nutricional para esses pacientes (SAMIERI et al., 2013). Por ser uma dieta rica em gorduras insaturadas e antioxidantes, é considerada protetora; já as dietas ricas em gorduras saturadas e trans e com baixos níveis de antioxidantes estão associados com maior risco de desenvolver a doença de Alzheimer. Alguns componentes dietéticos são essenciais para a proteção da neurocognição, tais como ácidos graxos (incluindo óleo de peixe), antioxidantes (como vitaminas E e C), frutas e vegetais, vitaminas B6, B12 (cobalamina) e folato. Os antioxidantes são capazes de prevenir danos causados por espécies reativas de oxigênio, além de estabilizar as membranas. Por sua vez, o ácido docosahexaenoico (DHA) ajuda a limpar o peptídeo Aβ (beta-amiloide) e, juntamente com a colina e a uridina, auxiliam na síntese da membrana neuronal (QUINN et al., 2010). A composição de fosfolipídios é essencial em razão da membrana neuronal. Assim, a ingestão adequada de DHA, ácido eicosapentaenoico (EPA), monofosfato de uridina, colina, folato, vitaminas B6, B12, C e E e selênio contribuem para uma melhor síntese de fosfolipídios (SILVA et al., 2019). A intervenção nutricional da doença de Alzheimer deve ser uma combinação da abordagem nutricional (dieta do mediterrâneo, suplementos alimentares e polivitamínicos) em conjunto com a mudança de estilo de vida com atividade social e mental, exercício físico e medicação. Figura 37 – Pirâmide da dieta do mediterrâneo Fonte: Freitas et al. (2015, p. 115). 165 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Lembrete A dieta do mediterrâneo envolve alta ingestão de legumes, azeite, frutas, nozes, vegetais e cereais, consumo moderado de peixes e vinho, bem como baixo consumo de laticínios, carne vermelha, carnes processadas e açúcares. 7.7 Parkinson A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa e multissistêmica de progressão lenta do sistema nervoso central (KALIA; LANG, 2015). Corpos de Lewy – corpos de inclusão eosinofílicos contendo alfa-sinucleína (SYN) – estão presentes principalmente nos neurônios sobreviventes e são considerados como o marcador biológico de degeneração neuronal na DP (CABREIRA; MASSANO, 2019). Essa doença é mais prevalente em homens do que em mulheres. 7.7.1 Sinais da doença de Parkinson Os principais sinais de DP incluem sintomas motores: bradicinesia (lentidão anormal dos movimentos voluntários), rigidez muscular, tremores involuntários em situação de repouso, rigidez muscular, passos mais lentos e arrastados, perda das expressões faciais e dores musculares constantes (CABREIRA; MASSANO, 2019). Além dos sintomas motores, a DP se caracteriza por sintomas não motores, cuja identificação permite melhorar os cuidados clínicos, monitorizar a progressão da doença e melhorar a compreensão acerca de sua evolução. São exemplos de sintomas não motores: manifestações neuropsiquiátricas da doença, como deterioração cognitiva, depressão, ansiedade, psicose, apatia e fadiga, queixas gastrointestinais como disfagia, enfartamento e obstipação; disfunções autonômicas, como retenção ou urgência urinárias, disfunção sexual, hipersudorese, hipotensão ortostática; manifestações sensitivas, como hiposmia e dor; manifestações visuais, como alterações da percepção do contraste, ilusões e alucinações visuais (que podem ser complexas e bem formadas, como pessoas); distúrbios do sono, com sonhos vívidos e atividade hipermotora noturna na perturbação do comportamento do sono REM (rapid eye movement), hipersonolência diurna e síndrome das pernas inquietas etc. (BRIGO et al., 2014). A deterioração cognitiva caracteriza-se por disfunção de atenção, memória de trabalho, funções executivas e, eventualmente, de linguagem. A demência associada à DP pode afetar 80% dos doentes a longo prazo (LITVAN et al., 2012). 7.7.2 Etiologia A etiologia da DP envolve tanto genética quanto fatores ambientais. Entre estes últimos, são desenvolvidos cada vez mais estudos sobre a influência dos alimentos e nutrientes no desenvolvimento da DP. Além disso, as evidências sugerem que uma possível modificação de microbiota intestinal pode estar envolvida na patogênese da DP, induzindo a ativação de células imunes e neuroinflamação do sistema nervoso central (MUKHERJEE; BISWAS; MANDAL, 2016). 166 Unidade III 7.7.3 Dietoterapia A DP está associada à alteração de peso (perda ou ganho). A desnutrição na DP está relacionada com a redução da ingestão de alimentos por causa da perda de apetite e disfunção TGI (trato gastrointestinal), como disfagia, constipação e saciedade precoce. Sintomas psiquiátricos, como depressão e ansiedade, e fadiga estão associado ao aumento da gravidade e à duração da doença (MUKHERJEE; BISWAS; MANDAL, 2016). Deficiências de micronutrientes, particularmente a deficiência/insuficiência de vitamina D, são comuns na DP e podem estar relacionadas à desnutrição, imobilidade e privação de luz solar. Pacientes com DP também podem apresentar baixa densidade mineral óssea e osteoporose (VAN DEN BOS et al., 2013). A terapia com levodopa (medicação mais eficiente no tratamento da doença de Parkinson e no controle dos sintomas) pode causar deficiência de vitamina B12 e deficiência de ácido fólico com hiper-homocisteinemia e pode contribuir para a osteoporose. A sinalização de insulina pode estar prejudicada e a disfunção mitocondrial leva à neurodegeneração; esses processos também podem contribuir para a perda de peso. O ganho de peso e a compulsão por comer pode ser relacionados com os agonistas dopaminérgicos (STROWD et al., 2016). A desnutrição em DP precisa de intervenção precoce e os pacientes devem ser orientados sobre mudanças no estilo de vida, exercício e suplementação dietética. É preciso considerar os efeitos adversos da terapia dopaminérgica, bem como a utilização de bisfosfanatos, suplementação de vitamina D e cálcio (VAN DEN BOS et al., 2013). Segundo a Associação Brasil Parkinson (ABP, s.d.), os fatores de risco que podem prejudicar a alimentação na doença de Parkinson são: – Problemas de dentição e dificuldades de mastigação e deglutição (ato de engolir os alimentos líquidos e/ou sólidos). – Pouca atividade física e imobilidade. – Medicamentos usados na fase inicial da doença que interferem na absorção intestinal dificultam o seu funcionamento, provocam náuseas, vômitos, intestino preso e boca seca, dificultando a formação normal do bolo alimentar, reduzindo a sensibilidade do paladar e do olfato. – Aumento do metabolismo e, consequentemente, das necessidades energéticas, facilitando a perda de peso. – Falta de equilíbrio para preparar a própria alimentação ou a inexistência de outra pessoa que possa fazê-lo. – Problemas com a postura e dificuldade em se manter ereto à mesa. – O tremor e a rigidez podem trazer dificuldadesmotoras para manusear os talheres; especialmente nos músculos da face, dificultam a mastigação e deglutição. 167 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA – Os movimentos do esôfago que ajudam a “empurrar” os alimentos para o estômago podem estar prejudicados, provocando engasgos e dificultando a deglutição. – Hábitos alimentares inadequados. 7.7.4 Papel da dieta na doença de Parkinson e progressão da doença A dieta à base legumes frescos, frutas frescas, nozes e sementes, peixes, azeite, vinho, óleo de coco, ervas frescas e o uso de especiarias foi associada a taxas mais baixas de progressão da doença. Esses alimentos constituem em grande parte a dieta mediterrânea, que tem sido associada à redução da incidência de DP, assim como diminuem o risco da doença de Alzheimer (ALCALAY et al., 2012). A ingestão de sorvete, queijo e iogurte foi associada com maiores taxas de progressão da DP. O consumo de laticínios está associado ao aumento da taxa de progressão da DP (JIANG et al., 2014). Alguns mecanismos podem explicar essa associação (MISCHLEY; LAU; BENNETT, 2017): • A ingestão de leite reduz o ácido úrico. O ácido úrico extingue peroxinitrito no sistema nervoso central, e baixos níveis de ácido úrico estão associados à maior incidência de DP e à sua progressão. • O consumo diário está associado à resistência à insulina e há evidências de que DP e outras doenças neurodegenerativas são uma forma de “diabetes tipo 3”. • A intolerância à lactose ocorre quando a enzima lactase, que digere o açúcar do leite, diminui com a idade. Consumir laticínios na ausência de lactase suficiente pode contribuir para a inflamação intestinal e permeabilidade intestinal. • Um componente neurotóxico ou contaminante, por exemplo, pesticidas, pode estar presente em laticínios. • A introdução da microbiota bovina, facilitando a semeadura de organismos metanogênicos, leva ao desenvolvimento de bactérias do intestino delgado com metano dominante e supercrescimento (Sibo). 7.7.5 Recomendações nutricionais Não existe uma recomendação nutricional específica para DP. As recomendações de macro e micronutrientes devem seguir as recomendações das DRIs. As DRIs são consideradas suficientes para atender as necessidades da população saudável (MISCHLEY; LAU; BENNETT, 2017). A Associação Brasil Parkinson (ABP, s.d.). acentua a seguir as orientações nutricionais (para o paciente) para uma alimentação saudável na doença de Parkinson: – Comer diariamente frutas, verduras cruas, verduras cozidas e legumes. – Fazer de 5 a 6 pequenas refeições ao dia, evitando comer grandes quantidades de alimentos de uma só vez. 168 Unidade III – Não pular nenhuma refeição. – Procure ingerir uma média de 8 copos de água por dia. – Se estiver perdendo peso, procure a nutricionista e avise ao seu médico. – Se o intestino estiver preso, observe as orientações para melhorar seu funcionamento. Não desista e procure seguir todas as indicações diariamente. – Pratique atividade física regularmente, de preferência com acompanhamento de um profissional fisioterapeuta ou de educação física. – Não use laxantes sem prescrição médica. – Evite o uso de doces, frituras e gorduras em excesso. Opte por alimentos mais saudáveis como frutas, pães, leites, iogurtes, queijos magros. Dê preferência às carnes assadas, grelhadas ou cozidas com pequena quantidade de óleo. – Substitua gorduras animais como banha, toucinho e manteiga e cozinhe com óleos vegetais à base de soja, milho, canola, girassol. – Evite o uso excessivo de sal no processamento dos alimentos, bem como o consumo de alimentos industrializados como salgadinhos, salames, embutidos, enlatados, carnes salgadas, macarrão instantâneo e sopas prontas. Substitua o sal por temperos naturais como salsa, cebolinha, coentro, hortelã, manjericão e orégano. – Evite uso de alimentos ricos em cafeína (café, Coca-Cola, chás mate e preto), especialmente no fim de tarde e à noite, para não atrapalhar o sono. 7.7.6 Nutrição funcional na DP Os flavonoides são anti-inflamatórios com ação antioxidante. Após absorvidos, penetram e se acumulam em regiões cerebrais. Foi estabelecido que eles podem exercer efeitos neuroprotetores. O uso de flavonoides na dieta com indivíduos com DP consegue minimizar ou retardar a progressão da doença e seus sintomas. Esses compostos têm incidência na melhora da função cognitiva e previnem distúrbios neurodegenerativos. Compostos naturais, como flavonoides, parecem exercer efeito neuroprotetor provavelmente em virtude de sua capacidade de modular as respostas inflamatórias envolvidas em doenças neurodegenerativas, inibindo a sinalização do fator transcrição nuclear kW (KUJAWSKA; JODYNIS-LIEBERT, 2008). 169 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Saiba mais Para saber mais sobre a utilização de polifenóis da doença de Parkinson, leia o artigo indicado a seguir. KUJAWSKA, M.; JODYNIS-LIEBERT, J. Polyphenols in Parkinson’s disease: a systematic review of in vivo studies. Nutrients, Toronto, v. 10, n. 5, p. 642, 2008. Exemplo de aplicação Caso: M.S. Sexo masculino, nasceu com 26 semanas de gestação e passou por um período neonatal tempestuoso e hospitalização prolongada. Ele acabou fazendo a transição para alimentação oral, mas o seu crescimento e peso permaneceram comprometidos. Aos 3 anos de idade, ele teve PC (GMFCS 5), demonstrando mobilidade muito limitada. Embora ele permaneça livre de infecções do trato respiratório inferior, ele está desnutrido e com comprometimento da estatura no gráfico de crescimento de Brooks (IMC – 12,9 kg/m2). Seus cuidadores afirmam que ele gosta de comer os alimentos na forma de purê e que não recusa a alimentação. Embora passem 6 horas por dia alimentando-o, quando está comendo perde uma grande quantidade de comida pela boca. Ele está bastante constipado e regurgita uma vez por semana, muitas vezes ao tossir. Seu único suplemento é a vitamina D. 170 Unidade III 20 1212 kg/m2kg/m2 1313 1414 1515 1616 1717 1818 1919 2020 2121 2222 2323 2424 2525 2626 2727 28 29 30 31 32 33 34 35 28 BMI BMI 1918171615141312111098765432 Meninos de 2 a 20 anos Paralisia cerebral Gastrostomia Percentil de IMC para idade Anos Nome ________________________ Registro _______________________ Estatura da mãe ____________ Estatura do pai ____________ Data Idade Peso Estatura IMC Notas: 10 5 25 50 95 90 75 Figura 38 Adaptada de: Brooks et al. (2011, p. 7). 171 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Classificação do estado nutricional segundo curva de Brooks: < p 10: desnutrição p 10 – p 90: eutrofia > p 90: pacientes com excesso de peso O paciente se encontra na curva de Brooks < p10. A classificação do estado nutricional é desnutrição. Os cuidadores aceitam as informações sobre seus desafios de alimentação e nutrição, mas afirmam desde o início do tratamento que seu objetivo é continuar a alimentação oral. Com base nos dados apresentados no estudo de caso, quais orientações e intervenções nutricionais devem ser transmitidas aos cuidadores? • Fornecer informações sem exercer pressão para tomar uma decisão. • Tranquilizar os pais e explicar que a alimentação oral pode continuar após a colocação da gastrostomia (GT). • Segurança na alimentação por meio de posicionamento, espessamento da alimentação (evitando aspiração), limitando o tempo de alimentação para evitar fadiga sem prejudicar a ingestão de calorias e uso apropriado de xícara e colher. • Com a GT, o paciente pode utilizar uma dieta enteral que é rica em micronutrientes, evitando as deficiências nutricionais. • Se não for possível comprar a dieta enteral, orientar dieta artesanal que atenda às necessidades nutricionais. Se necessário, suplementar com polivitamínicos. • Destacar que a educação sobre a GT facilita a alimentação e melhora a alimentação (orientar sobre hidratação e higienização da GT). • Depois da colocação da gastrostomia pelos cuidadores), os pais relatam alta incidência de satisfação e aceitaçãocom alimentação enteral, estresse diminuído, tempo reduzido com alimentação e percepção da melhora da saúde do filho. • As crianças demonstram o seguinte: melhoria nos indicadores nutricionais, quadro de saúde melhor e taxas de hospitalização diminuídas por pneumonia (não têm mais aspiração). 172 Unidade III 8 DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS DO ESTRESSE METABÓLICO (TRAUMA/GRANDES CIRURGIAS, QUEIMADO, SEPSE) 8.1 Conceito Trauma é um evento agudo que altera a homeostase do organismo, pois desencadeia reações neuroendócrinas e imunológicas que visam à manutenção da volemia, do débito cardíaco, da oxigenação tecidual e da oferta e utilização de substratos energéticos (RABELO et al., 2012). O termo trauma envolve várias situações clínicas de diferentes naturezas e etiologias com repercussão ampla em todo o organismo. O mecanismo de lesão é subdividido em contuso e trauma penetrante. Trauma contuso compreende lesões relacionadas a veículos motorizados, quedas e agressões, enquanto armas de fogo e esfaqueamentos são responsáveis pela maioria dos ferimentos penetrantes (MAERZ; DAVIS; ROSENBAUM, 2009). Nas primeiras 24 horas, é feita ressuscitação contínua e são tomadas medidas de manutenção. Após a avaliação inicial na área de trauma e da realização dos procedimentos que salvam vidas, o paciente gravemente ferido é admitido na UTI, onde a ressuscitação e o estabelecimento estão em andamento. Lá a reanimação é contínua, medidas de suporte são definidas. A maioria dos pacientes gravemente feridos requerem ventilação mecânica no período pós-lesão imediato (MAERZ; DAVIS; ROSENBAUM, 2009). 8.1.1 Nutrição no trauma A nutrição deve ser integrada no tratamento global do paciente criticamente doente a fim de minimizar as complicações de um tratamento mais prolongado. As prioridades imediatas após o trauma são: reanimação volêmica, oxigenação e a interrupção da hemorragia. Associados a esses fatores estão o estado hiperdinâmico da resposta ao trauma, bem como dor, febre, exposição ao frio, acidose, hipovolemia e possíveis infecções, aumentando a demanda metabólica. Após o trauma, os pacientes são capazes de excretar os subprodutos do catabolismo tecidual, podendo-se instabilizar a qualquer momento e ter complicações que demandem mais energia. A resposta orgânica ao estresse grave é complexa e integrada. Sua finalidade básica é a restauração da homeostase (SHILLS, 2009). O tratamento nutricional tem como objetivo: restauração da massa magra, produção de reagentes de fase aguda e proteínas secretórias, fornecimento de glicose, cicatrização de feridas e apoio aos mecanismos de defesa celular. Assim que houver estabilidade hemodinâmica, deve-se detectar e corrigir desnutrição pré-existente e prevenir desnutrição proteico-calórica progressiva, otimizando o estado metabólico (líquidos e eletrólitos). O estresse metabólico desses pacientes apresenta efeito sobre o metabolismo dos nutrientes. Observe a seguir quais são esses aspectos. • Metabolismo de proteínas: — proteínas de músculo mobilizadas para energia; — diminuição da captação muscular de aminoácidos; — aumento na excreção urinária de nitrogênio; — glutamina é combustível para células intestinais. • 173 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA • Metabolismo de carboidratos: — aumento na produção hepática de glicose; — aumento em insulina e glicemia. • Metabolismo de gorduras: — mobilização de gorduras para energia; — consumo rápido de tecido adiposo se não houver reposição nutricional. • Hidratação: possíveis perdas de fluidos. 8.1.2 Suporte nutricional O suporte nutricional é parte essencial do tratamento metabólico desses pacientes. Ele deve ser instituído antes que haja perda significativa de peso, de preferência nas primeiras 24h da admissão no hospital, através de dietas orais ou enterais (preferencialmente) e parenterais, quando necessário. O suporte nutricional é parte integrante da gestão do paciente com trauma devido à resposta hipermetabólica à lesão, inflamação e sepse. A maioria das evidências demonstra benefícios com a terapia enteral precoce, fornecendo 25 a 30 kcal totais/kg/dia e 1,5 a 2 g de proteína/kg/dia (LI et al., 2020) em casos leves a moderados. Veja a seguir algumas recomendações práticas: • A TN é parte fundamental das medidas terapêuticas dos grandes traumatismos. • Não se deve negligenciar as medidas terapêuticas após estabilização hemodinâmica. • A nutrição no trauma tem o objetivo de reduzir a perda de massa celular corporal. • É possível tratar ou prevenir complicações na evolução do paciente politraumatizado. • A administração precoce de nutrientes pela via intestinal diminui o risco de complicações infecciosas pós-operatórias. • Deve-se evitar o fornecimento calórico excessivo em funções de alterações metabólicas do trauma/sepse e riscos de altas concentrações de hidratos de carbono. • Quando existir intolerância aos hidratos de carbono, utilizar emulsões lipídicas como fonte calórica. A substituição da glicose por gorduras na quantidade total de calorias administradas reduz as complicações como hiperglicemia, diurese osmótica, desidratação e hiperosmolaridade. • 174 Unidade III • Nos traumas com infecção, o emprego das soluções enriquecidas com mistura de aminoácidos de cadeia ramificada, embora tenha sido preconizado, não influi em taxas de morbimortalidade. • As falências orgânicas na evolução pós-operatórias de grandes traumatizados induzem modificações na TN. • A correção da deficiência nutricional no trauma com infecção só será possível quando esta for controlada. • Glutamina é importante na integridade da mucosa intestinal (não é aminoácido essencial). No trauma com infecção ocorre redução da glutamina circulante, o que pode ter relação com a gravidade da doença, retornando nos níveis normais tardiamente com a resolução do processo infeccioso. • Deve-se fazer a avaliação periódica e sistematizada da terapêutica nutricional. • Antes de se indicar ou insistir na TN, é preciso ter certeza de que o paciente não é portador de um foco infeccioso que deva ser removido cirurgicamente. • Na ocorrência de alterações metabólicas ou intolerância à terapêutica, deve-se pesquisar a existência de infecção (WAITZBERG, 2000). Saiba mais Para saber a indicação do suporte nutricional no paciente politraumatizado, leia: CUKIER, C.; MAGNONI, D. Aspectos práticos em nutrição do paciente hipercatabólico. Instituto de Metabolismo e Nutrição, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3trcNz1. Acesso em: 30 ago. 2021. A sepse é definida como uma reação inflamatória sistêmica secundária a um processo infeccioso e é a principal causa de morte nas UTIs. Alguns pacientes estão mais suscetíveis à sepse. Por sua vez, os pacientes com traumatismo craniencefálico (TCE) representam um grupo de risco para essa reação inflamatória sistêmica. Isso pode acontecer devido a diversas modificações impostas em sua homeostase, e os pacientes apresentam-se especialmente sujeitos a adquirir infecções e a evoluir para sepse, resultando em lesões secundárias, as quais implicam acréscimo (CARDOZO JÚNIOR; SILVA, 2014). É necessária a avaliação dos parâmetros nutricionais (antropometria, bioimpedância, exames bioquímicos), pois esses parâmetros sofrem alterações devido à resposta da lesão aguda. A avaliação dos parâmetros metabólicos também é importante para melhor indicação da TN e auxiliar na classificação do nível de estresse provocado pela lesão (CUPPARI, 2014). 175 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Tabela 55 – Classificação do nível de estresse segundo parâmetros metabólicos Nível de estresse 0 1 2 3 Quadro clínico Jejum Eletivo Trauma Sepse Nitrogênio urinário (g/dL) < 5 5 a10 10 a 15 > 15 Consumo de O2 (ml/dL) 90 + 10 130 +10 150 + 20 180 + 20 Lactato sérico (mg/dL) 10 + 5 120 + 20 120 + 20 250 + 50 Glicemia (mg/dL) 100 + 20 150 + 25 150 + 25 250 + 50 Relação de glucagon/insulina 2,0 + 0,5 2,5 + 0,8 3,0 + 0,7 8,0 + 1,5 Tabela 56 – Estimativa de necessidadesnutricionais segundo nível de estresse Nível de estresse Energia estimada (kcal/kg/dia) Energia não proteica/g de nitrogênio Carboidratos (%) Lipídios (%) Proteína (%) Ausência 30 a 35 130 a 150:1 60 25 15 Leve a moderado 25 a 30 100 a 150:1 50 a 60 25 a 30 15 a 20 Grave 20 a 25 80 a 100:1 45 a 50 30 a 35 20 Observação A glutamina na lesão aguda se torna um aminoácido essencial para o organismo. A dose indicada é 0,5 a 0,7 g/kg/dia por via enteral (para pacientes politraumatizados e queimados). 8.1.3 Avaliação do grau de catabolismo Com o cálculo do balanço nitrogenado, é possível avaliar o grau de catabolismo do paciente. Um balanço negativo de nitrogênio reflete um organismo em estado catabólico e positivo, em estado anabólico. Balanço nitrogenado negativo cronicamente indica evolução clínica desfavorável. Observe a seguir as fórmulas para o cálculo do balanço nitrogenado. Balanço Nitrogenado (BN) = Nitrogênio Ingerido (NI) - Nitrogênio Excretado (NE), ou seja, BN = NI - NE Nitrogênio Ingerido (NI) = proteínas ingeridas + proteínas infundidas ÷ 6,25. [6,25 porque a proteína tem 16% de nitrogênio (100 ÷ 16 = 6,25)]. Nitrogênio Excretado (NE) = N Urinário Ureico (NUU) + N Urinário Não Ureico (NUNU) + N fecal + N pele + N sonda nasogástrica + N fístulas 176 Unidade III N Urinário Não Ureico (NUNU) = N Urinário Ureico (NUU) x 0,2 N Urinário Ureico (NUU) = ureia urinária de 24 horas x 0,47 N fecal = 1 a 2 g/dia sem diarreia N pele = 0,1 a 0,49/m2/dia A avaliação do grau de catabolismo deve seguir os seguintes parâmetros: • N excretado até 6 g = catabolismo normal. • N excretado de 6 a 12 g = catabolismo moderado. • N excretado 12 a 18 g = catabolismo aumentado. • N excretado acima de 18 g = catabolismo grave. Observação Enquanto o hipercatabolismo causado por lesão aguda persistir, o balanço nitrogenado positivo não deve ser um objetivo. O aumento da oferta calórica ou nitrogenada não resulta em balanço nitrogenado positivo enquanto persistir o hipermetabolismo. 8.1.4 Queimadura Na queimadura ocorre a destruição da barreira epitelial e da microbiota resistente da pele, rompendo seu efeito protetor. Em queimados ocorre a degradação de proteínas e a proliferação de microrganismos patógenos que, aliados a uma importante deficiência imunológica, podem ocasionar a geração de um foco infeccioso e, posteriormente, sepse. As anormalidades metabólicas em queimados são consequência da combinação da liberação de mediadores inflamatórios e da “resposta ao estresse”. As principais anormalidades são: aumento dos hormônios catabólicos (cortisol, catecolaminas); diminuição dos hormônios anabólicos (GH e testosterona); aumento da taxa de metabolismo basal (TMB); aumento da temperatura corporal; aumento da demanda de glicose e neoglicogênese hepática; uso da proteína muscular como fonte de energia (SILVA et al., 2012). O paciente com queimaduras graves é um modelo de paciente traumatizado que desenvolve precocemente um estado de hipermetabolismo e hipercatabolismo severo, com gasto energético (GE) que pode dobrar o GE em repouso, e essas alterações podem persistir por meses após o início da queimadura. 8.1.5 Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ) O cálculo de SCQ é um método prático e calculado para áreas menores. Toma como referência a palma da mão da vítima: considerando que a palma da mão do paciente incluindo os dedos unidos e estendidos corresponde a 1% de SCQ; excluindo-se os dedos, corresponde a 0,5% da SCQ, independentemente da idade. Esse é um método grosseiro, porém útil e rápido no atendimento emergencial imediato (ROCHA, 2009). 177 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA A magnitude (do estado hipermetabólico e hipercatabólico) depende de várias alterações biomoleculares, que mostram uma relação direta com a extensão da SCQ. O dano térmico é um importante causador de perda de macronutrientes (proteínas) e micronutrientes (oligoelementos e vitaminas) em áreas queimadas. A intensa resposta hipermetabólica e hipercatabólica gera o desenvolvimento de desnutrição aguda, sarcopenia secundária e fraqueza muscular adquirida, favorecendo o aparecimento de infecções, disfunção multiorgânica e, por fim, a morte. Um balanço negativo de micronutrientes antioxidantes ou dano térmico favorecem o desenvolvimento de estresse oxidativo, que mantém e perpetua a resposta inflamatória sistêmica, disfunção mitocondrial e alterações metabólicas anteriores. Tabela 57 – Cálculos de necessidades estimada por % de superfície queimada (SCQ) em diferentes faixas etárias Idade % SCQ Energia/dia 0 a 1 <50 TMB + 15 kcal x SCQ 2 a 3 <50 TMB + 25 kcal x SCQ 4 a 15 <50 TMB + 40 x SCQ ≥ 16 Qualquer 25 kcal x peso(kg) + 40 kcal x SCQ TMB: taxa metabólica basal 8.1.6 TN A terapia metabólica e nutricional adequada é essencial para promover a recuperação de pacientes com queimaduras graves, modulando a resposta imunoinflamatória e minimizando a desnutrição aguda associada à doença crítica. Nesse sentido, tem sido demonstrado que a implementação de TN adequada, precoce e individualizada melhora os resultados clínicos, principalmente por reduzir a incidência de complicações infecciosas e de hospitalização e acelerar o processo de cicatrização (MOREIRA; BURGHI; MANZANARES, 2018). A TN precoce (deve ser iniciada logo após a admissão do paciente, não ultrapassando período superior a 18 horas, pois acima desse período pode resultar maior taxa de gastroparesia e necessidade de nutrição parenteral) tornou-se importante componente no tratamento de pacientes críticos, prevenindo a translocação bacteriana, a úlcera de decúbitos e os efeitos de hipermetabolismo (MOSIER et al., 2011). A oferta nutricional deve ter evolução gradativamente de acordo com a tolerância e a estabilidade hemodinâmica. Quadro 33 – Recomendações nutricionais para pacientes queimados Macronutrientes Carboidratos: 50% a 60% do VET* Lipídios: 20 a 30% (sendo 10% de ácidos graxos poli-insaturados, 10% a 15% de ácidos graxos monoinsaturados e 8% a 10% de ácidos graxos saturados) Reposição proteica A proteína é a principal fonte de energia na fase aguda (por meio da mobilização de alanina e glutamina para a gliconeogênese) Reposição proteica: 2 a 2,5 g/kg/dia para adultos e 1,5 g/kg/dia para crianças Vitaminas e minerais Vitaminas A (tem importância na resposta imunológica e na epitelização de feridas): 5.000 UI/1000 kcal Vitamina C (ação como coenzima na síntese de colágeno e função imunológica): 500 mg, 2x/dia Selênio (está relacionado com a redução de mortalidade em pacientes críticos): 500 mcg/dia Zinco (cofator no metabolismo energético-proteico): 220 mg/dia *VET: valor energético total 178 Unidade III Exemplo de aplicação O paciente com trauma tem prognóstico, evolução e mortalidade que são influenciados pela resposta ao fator injúria. Contudo, com os cuidados terapêuticos e a intervenção precoce de maneira adequada, é possível reverter os eventos desencadeados por mediadores inflamatórios e moduladores do metabolismo na resposta sistêmica. A TN pode melhorar alguns aspectos desses pacientes. Pensando na importância da TN para esses pacientes, responda às questões a seguir: 1. Qual o melhor momento para o início da TN? O paciente precisa atingir estabilidade hemodinâmica, e a TN passa a ser prioridade. O início precoce é considerado de 12 a 72 horas e a progressão das necessidades nutricionais deve ser calculada. 2. Como selecionar as fórmulas e dietas? Alguns aspectos devem ser considerados para a escolha da fórmula. Pacientes críticos apresentam alterações metabólicas que facilitam a intolerância à glicose. A oferta de calorias deverá ser feita na forma de carboidratos e lipídios, 50% para cada nutriente (principalmente se for necessária a dieta por via parenteral). A necessidade de proteína elevada (1,5 a 2 g/kg de peso) deve levar em conta a função renal do paciente e se ele faz hemodiálise. Se fizer hemodiálise, considerar perda de aproximadamente3,5 g de aminoácidos por hora. Dietas enterais poliméricas podem ser indicadas, mas é importante ponderar algumas situações especiais: retenção de CO2 em pacientes ventilados artificialmente, necessidade de restrição proteica em pacientes com insuficiência renal sem perspectiva de diálise e encefalopatia. Essas situações podem exigir a indicação de uma fórmula específica. A dieta imunomoduladora (arginina, ácidos graxos ômega-3, glutamina, nucleotídeos, aminoácidos de cadeia ramificada) parecem ter resultados positivos quando indicados precocemente. 3. Quais as complicações e as dificuldades na utilização de TN no paciente traumatizado? Os pacientes traumatizados apresentam complicações relacionadas ao trato gastrointestinal, além de distensão abdominal (principalmente em pacientes com traumatismo cranioencefálico) e atraso no início da TN, o que ocorre em razão dos seguintes aspectos: quadro abdominal e necessidades de procedimentos; indefinição do diagnóstico; cálculos inadequados das necessidades nutricionais; intolerância à oferta de grande quantidade de glicose; distúrbios do metabolismo, como acidose metabólica; distúrbios hidroeletrolíticos; e aumento das enzimas hepáticas. 4. Como monitorar a TN? Uma das melhores formas de avaliar os benefícios da TN é a evolução clínica do paciente. Mas é importante que o balanço nitrogenado seja feito sempre que possível (deve ser feita a coleta de urina de 24 horas dos pacientes por 3 dias consecutivos). Os parâmetros nutricionais (composição corporal) podem estar alterados devido ao quadro clínico do paciente (modificação dos líquidos corporais), isto é, possui baixa sensibilidade e especificidade. 179 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 8.2 Atuação do nutricionista em UTI: cuidado nutricional em lesão por pressão (cicatrização) A UTI é definida como a área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, com materiais específicos e tecnologias necessárias para o diagnóstico, a monitorização e a terapia (BRASIL, 2005). Paciente crítico ou paciente grave é aquele que se encontra em risco iminente de perder a vida ou função de órgão/sistema do corpo humano, bem como aquele em frágil condição clínica decorrente de trauma ou outras condições relacionadas a processos que requeiram cuidado imediato clínico, cirúrgico ou gineco-obstétrico, com previsão de suporte para função orgânica por pelo menos 3 dias. Caracteriza-se, inclusive, por aumento da morbidade por infecções, hospitalização prolongada e alta mortalidade (SINGER et al., 2009). Atenção especial deve ser dada aos pacientes que estão (ou provavelmente permanecerão) na UTI por mais de uma semana, com monitoramento contínuo da oferta de nutrição e revisão regular das necessidades nutricionais medidas ou estimadas. Essa avaliação deve garantir ao paciente o acesso ao melhor que a terapia pode lhe oferecer, tendo como resultado a recuperação clínica (ALALUF, 2001). Pachá et al. (2018) concluíram que idade maior ou igual a 60 anos e os dias de internação apresentaram efeito dose-resposta; quanto maior a idade ou o número de dias de internação, maiores as chances da presença de lesão por pressão (LPP) e com associação significativa entre maior ocorrência de óbitos nesses pacientes. Ressalta-se que a LPP é considerada um dos indicadores negativos de qualidade assistencial dos serviços de saúde e sua prevenção é importante, pois envolve o contexto do movimento global pela segurança do paciente (SIMÃO; CALIRI; SANTOS, 2013). 8.2.1 TN No que se refere à TN (TN), especialmente em âmbito hospitalar, é consenso que são muitos os desafios para que se coloquem em prática as recomendações das diretrizes nacionais e internacionais. Pensando em qualidade, é fundamental a clareza de que só é possível alterar aquilo que temos condição de medir e avaliar. Dessa forma, o registro e a monitoração constituem o primeiro passo para identificar as barreiras e mobilizar a equipe para que possam ser implantadas estratégias que mudem esse cenário (DAN et al., 2018). Para tal, foram criados os programas de qualidade, visando ao melhor atendimento ao paciente. Em geral, os programas de garantia de qualidade defendem a utilização de normas para as diversas atividades vinculadas às ações de saúde e têm por finalidade garantir a qualidade dos serviços prestados à população (ALALUF, 2001). Foi nesse contexto que surgiram os softwares para registro de informações na área hospitalar e os indicadores como instrumentos de exercício da qualidade, para controlar a operação adequadamente, aumentar a eficiência do atendimento e minimizar as perdas e os gastos. Em se tratando de terapia nutricional enteral (TNE), é fundamental que o nutricionista, por meio da gestão da unidade de nutrição, estabeleça os fluxos que envolvem desde a separação da nutrição enteral até a chegada ao paciente, considerando as adequações de armazenamento, distribuição e de instalação propriamente dita, cuja gerência é da enfermagem (DAN et al., 2018). 180 Unidade III 8.2.2 Atribuição do nutricionista da equipe multidisciplinar de TN Segundo a legislação brasileira, é atribuição do nutricionista, como membro da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN), realizar a avaliação do estado nutricional do paciente utilizando indicadores nutricionais subjetivos e objetivos, com base em protocolo preestabelecido, de forma a identificar o risco ou a deficiência nutricional, adaptar a prescrição dietética em consenso com o médico, assim como acompanhar os pacientes em nutrição enteral e parenteral (CFN, 2020). Na última década, foi crescente a preocupação com a triagem nutricional de forma a identificar os pacientes subnutridos que são admitidos no hospital e precisam de um plano nutricional. Vários questionários para essa finalidade foram propostos e validados (descritos em outro capítulo). Mensurar a triagem nutricional na admissão é um importante início para a assistência com qualidade. A subnutrição na admissão e durante a hospitalização está associada a morbidade, mortalidade e reinternações, aumentando os custos e afetando o fluxo de pacientes em todo o sistema de saúde. Portanto, é preciso definir de forma efetiva uma “cultura em nutrição” no ambiente hospitalar, na qual a TN seja considerada vital para a recuperação do paciente e que as equipes usem ferramentas efetivas e trabalhem em conjunto para atingir as metas nutricionais (DAN et al., 2018). Na prática clínica, os nutricionistas precisam coletar e coordenar vários dados, considerando desde a triagem, a via de administração, seja oral, enteral ou parenteral, bem como informações sobre a aceitação e a tolerância, e informações acerca da avaliação nutricional. No contexto da qualidade, é preciso organizar esses dados para permitir que periodicamente possam ser aplicados indicadores de qualidade de terapia nutricional (IQTN), os quais permitirão avaliar a conformidade com as diretrizes e guias de TN. Cada vez mais os consensos de nutrição apontam para a importância do cálculo individualizado, assim como para a importância da introdução precoce da TN e da monitoração da oferta nutricional real. São vários os fatores que podem levar à não conformidade do volume administrado frente ao prescrito, seja em decorrência de jejum para procedimentos ou cirurgias, por intolerância digestiva do paciente ou outros motivos tão presentes na prática (DAN et al., 2018). De acordo com a Portaria n. 120, de 14 de abril de 2009 (ANVISA, 2009), as unidades de assistência de alta complexidade em TN e os centros de referência de alta complexidade em TN devem dispor de mecanismos de acompanhamento e avaliação de qualidade do serviço prestado (ANVISA, 2009). Nesse cenário, é fundamental que haja uma mobilização da equipe multidisciplinar para o adequado registro de informações que permitam avaliar as condutas recomendadas pelas diretrizes e guias específicos da área. Cabeao nutricionista alavancar esse processo com esforço para o estabelecimento da “cultura de nutrição”. A análise dos resultados dos IQTN deve levar, quando necessário, à construção de um plano de ação para revisão e realinhamento dos processos (DAN et al., 2018). 8.2.3 Protocolos de suporte nutricional A definição de protocolos de suporte nutricional enteral foi associada ao aumento da oferta calórica em vários estudos com pacientes críticos. Um estudo realizado em UTIs do DF demonstrou que atividades como a implementação de protocolos e o controle de qualidade e educação continuada desenvolvidas pela EMTN estão associadas à melhor administração da TNE (LOPES et al., 2019). Os componentes desses 181 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA protocolos incluem, em geral, definição de metas nutricionais, abreviação do tempo de início da TN, condições específicas em que as dietas devem ser pausadas ou suspensas e a frequência da lavagem dos dispositivos enterais (CASTRO et al., 2018). Observe a seguir os IQTN comumente utilizados: • Porcentagem de avaliação nutricional nas primeiras 24 horas de internação. • Número de pacientes com avaliação nutricional x 100/número de internações. • Prevalência de pacientes com déficit ou em risco nutricional. • Número de pacientes com déficit ou em risco nutricional x 100/número de pacientes internados. • Porcentagem de pacientes com tempo de jejum inadequado antes do início da TN (maior que 72 horas). • Número de pacientes em jejum por período maior que 48 horas x 100/número de pacientes candidatos à TN. Veja os IQTN de efetividade: • Porcentagem de pacientes em TN com estimativa do gasto energético e necessidades proteicas. • Número de pacientes em TN com medida do gasto energético x 100/número total de pacientes em TN. • Porcentagem de pacientes em TN em catabolismo proteico. • Número de pacientes em TN com diminuição da circunferência muscular do braço maior que 20% no período de sete dias x 100/número total de pacientes em TN. • Porcentagem de pacientes com volume de nutrição parenteral (NP) infundido maior que 70% do prescrito. • Número de pacientes com volume de infusão da NP maior que 70% x 100/número total de pacientes recebendo NP. • Porcentagem de pacientes com volume de nutrição enteral (NE) infundido maior que 70% do prescrito. • Número de pacientes com volume de infusão da NE maior que 70% x 100/número total de pacientes recebendo NE. 182 Unidade III Agora observe os IQTN de resultados: • Incidência de diarreia. • Número de pacientes com diarreia recebendo NE x 100/número total de pacientes recebendo NE. • Índice de infecção do cateter venoso central em pacientes sob TN parenteral. • Número de ocorrência de infecção de cateter venoso central em pacientes sob TNP x 1.000/ número de pacientes/dia com cateter venoso central para TNP. • Incidência de perda de sonda nasoentérica (SNE) em pacientes em TN enteral (saída inadvertida e obstrução). • Número de perdas de SNE x 100/número de pacientes com SNE/dia. No Brasil, uma comissão de experts em TN da ILSI (Internacional Life Science Institute) criou 12 indicadores de qualidade em terapia nutricional oral (TNO) em pacientes hospitalizados para monitorar a aceitação e a eficácia de acordo com quatro atributos: utilidade, simplicidade, objetividade e baixo custo. A consistência da opinião dos especialistas está descrita por ordem de relevância (DAN et al., 2018): • Frequência de rastreamento nutricional em pacientes hospitalizados. • Frequência de prescrição de suplemento nutricional oral (SNO) para desnutridos com dieta oral. • Frequência de prescrição de SNO para pacientes em risco nutricional com dieta oral. • Frequência de avaliação nutricional em pacientes hospitalizados. • Frequência de adesão ao SNO. • Frequência de pacientes hospitalizados com ingestão oral insuficiente e prescrição de SNO. • Frequência de pacientes em UTI com ingestão oral insuficiente e prescrição de SNO. • Frequência de avaliação da ingestão oral em pacientes da UTI. • Frequência de avaliação da ingestão oral em pacientes da enfermaria. • Frequência de intolerância ao SNO devido a tempo insuficiente. • Frequência de intolerância ao sabor do SNO. • Frequência de intolerância ao volume do SNO. 183 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA O sucesso da TNO é fortemente dependente da tolerância dos pacientes com relação aos SNOs usados. Dessa forma, foram contempladas nos IQTNO as avaliações do tempo considerado para ingestão, sabor, volume e adesão à TNO. A qualidade e o impacto positivo da TN passam pela aceitação nutricional adequada e, dessa forma, a tolerância ao SNO é fundamental. Portanto, não basta indicar e prescrever SNO, mas monitorar a aceitação, adequar as preferências, considerar os suplementos concentrados com menor volume, e, assim, contribuir para o sucesso da TNO (DAN et al., 2018). Conclui-se que os pacientes críticos normalmente encontram-se em estado hipermetabólico em consequência do trauma, sepse ou outro quadro de gravidade e em grande parte necessitam de TNE com intervenção precoce. A identificação de pacientes desnutridos ou em risco nutricional permite um acompanhamento intensivo pela equipe de nutrição e adequação da terapia às necessidades do paciente para prevenir ou minimizar os impactos da desnutrição (SBNPE; ASBRAN, 2011a). 8.2.4 Trabalho do nutricionista na UTI Observe a seguir a rotina do nutricionista na UTI: • Realizar visita, coletar informações sobre a evolução clínica e verificar a presença de intercorrências de todos os pacientes nas últimas 24h. • Discutir os casos clínicos com a equipe multiprofissional. • Definir conduta nutricional: — Atualizar as informações relacionadas à dieta via oral e enteral para o técnico em nutrição até o horário pré-determinado em cada hospital. — Informar a equipe médica quanto à inadequação da ingestão e/ou intolerância da via oral ou enteral e sugerir início de nutrição parenteral ou adequação da formulação de acordo com as necessidades nutricionais. • Fazer a triagem e a avaliação nutricional dos pacientes admitidos. • Realizar reavaliação nutricional dos pacientes programados. • Registrar em prontuário a evolução nutricional diária e a avaliação/reavaliação nutricional de todos os pacientes. • Participar da visita multiprofissional. • Preencher planilha de indicadores de qualidade. 184 Unidade III • No horário da visita dos familiares, coletar informações relevantes para a avaliação e conduta nutricional com os familiares dos pacientes. • Registrar intercorrências e a programação da evolução da conduta nutricional visando à continuidade do tratamento pelo próximo plantonista. Saiba mais Para conhecer melhor aspectos como triagem/avaliação nutricional, manejo de intercorrências gastrointestinais, acompanhamento pós-tratamento, ficha de acompanhamento nutricional diário do paciente em UTI, entre outros informativos, consulte o documento a seguir: DISTRITO FEDERAL (Estado). Assistência nutricional de adultos em terapia intensiva. Distrito Federal: Secretaria de Estado de Saúde, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3jSV1kQ. Acesso em: 30 ago. 2021. 8.2.5 Necessidades nutricionais Na obra Diretriz brasileira de terapia nutricional no paciente grave, Castro et al. (2018) fazem a estimativa das necessidades calóricas: • Quando possível, estimar com calorimetria indireta. • Ofertar 15 a 20 kcal/kg de peso atual/dia nos primeiros 3 dias após a injúria. • Ofertar 20 a 30 kcal/kg de peso/dia a partir do 4º dia. • Quanto maior a gravidade do paciente, menor deverá ser a oferta calórica (20 kcal/kg). • Após o paciente iniciar a recuperação, deve-se aumentar progressivamente a oferta, até atingir 30 kcal/kg/dia. • Para pacientes em recuperação, a oferta calórica mínima deve ser de 25 kcal/kg. • Pacientes obesos (IMC > 30 kg/m2): não exceder 60-70% do gasto energético estimado pela calorimetria indireta. Quando não disponível, estimar necessidade calórica conforme descritoa seguir: 185 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA — 11-14 kcal/kg de peso atual para IMC 30 a 50 kg/m2. — 22-25 kcal/kg de peso ideal para IMC > 50 kg/m2. Considerar IMC 27,5 kg/m2 para cálculo do peso ideal. Destaca-se a seguir a estimativa das necessidades proteicas: • Ofertar de 1,5 a 2,0 g/kg de peso atual. Pode ser aumentada em pacientes com queimadura, com politraumatismo, em hemodiálise contínua, peritoneostomia, que passaram por grandes cirurgias ou outras situações similares. • Para atingir as metas proteicas, geralmente é exigida a utilização de módulo de proteína. • Presença de insuficiência renal aguda, crônica agudizada ou insuficiência hepática não muda essa indicação. • Obesos: — IMC 30-40 kg/m2: fornecer ≥ 2,0 g/kg de peso ideal. — IMC ≥ 40 kg/m2: fornecer ≥ 2,5 g/kg de peso ideal. — Considerar IMC 27,5 kg/m2 para cálculo do peso ideal. Quanto aos micronutrientes, os pacientes com demanda metabólica elevada ou que recebem uma quantidade inferior a 2.000 kcal/dia de fórmula enteral deverão ser avaliados quanto à adequação do fornecimento dos micronutrientes e possíveis deficiências que deverão ser corrigidas (IACONE et al., 2016). Fibras • Considerar a prescrição de 10 a 20 g/dia de fibras solúveis nos pacientes hemodinamicamente estáveis para manutenção da microbiota e promoção da saúde intestinal. • Evitar fibras solúveis e insolúveis nos pacientes com risco de isquemia intestinal (avaliar dose prescrita de drogas vasoativas) ou dismotilidade importante (MCCLAVE et al., 2016). Probióticos • O uso pode ser indicado para pacientes selecionados desde que não estejam imunossuprimidos, em pós-operatório recente com anastomose intestinal, cirurgia de vias biliares e pancreática, isquemia intestinal, doenças hematológicas e reumatológicas (populações excluídas dos estudos). 186 Unidade III • Não há consenso para a prescrição da dose e dos tipos de cepas. • Não há consenso quanto ao uso de probióticos nos casos de pancreatite aguda, com estudo mostrando aumento de mortalidade (CASTRO et al., 2018). Glutamina • Não é recomendado o uso de glutamina enteral ou parenteral rotineiramente em pacientes críticos. • Em pacientes traumatizados, o uso de glutamina enteral pode ser considerado numa quantidade de 0,2 a 0,3 g/kg de peso atual nos primeiros 5 dias. No caso de cicatrização prejudicada de feridas, ela pode ser administrada por um período de 10 a 15 dias. • Em pacientes queimados, com a área de superfície corporal queimada acima de 20%, pode ser considerado o uso de glutamina enteral numa quantidade de 0,3 a 0,5 g/kg de peso atual por um período de 10 a 15 dias (CASTRO et al., 2018). 8.2.6 Dieta imunomoduladora Observe a seguir alguns aspectos a respeito da dieta imunomoduladora: • Não é recomendado o uso de dieta imunomoduladora rotineiramente em pacientes críticos. • A prescrição de dieta imunomoduladora em pacientes sépticos deve ser evitada. • Em pacientes cirúrgicos hemodinamicamente estáveis em pós-operatório de grandes cirurgias por câncer e pós-trauma cranioencefálico, a utilização de fórmulas enterais contendo arginina, ácido eicosapentaenoico (EPA), ácido docosahexaenoico (DHA) e nucleotídeos pode ser considerada (CASTRO et al., 2018). O Braspen Journal apresenta a campanha “Diga Não à Lesão por Pressão”, que visa difundir conhecimento por meio de abordagem ampla e prática, dar suporte técnico ao cuidado do paciente e, assim, reduzir os índices de LPP (CAMPOS et al., 2020). Para facilitar a assimilação dos conceitos, foi desenvolvido um método mnemônico com a palavra “Cicatrização”, em que cada letra propõe passos que auxiliam na identificação de risco, avaliação, tratamento e acompanhamento, conforme apontado no quadro a seguir. A LPP é definida como um dano localizado na pele ou nos tecidos moles subjacentes como resultado de pressão, ou pressão em combinação com cisalhamento, geralmente sobre uma proeminência óssea ou algo relacionado ao uso de dispositivo médico ou outro artefato, conforme preceitua o National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP, 2014). 187 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Quadro 34 – Método mnemônico dos 12 passos para o combate da lesão por pressão C Conhecer o risco de lesão por pressão I Inspecionar a integridade cutânea C Classificar o estágio da lesão por pressão A Avaliar o estado nutricional T Traçar metas nutricionais e de hidratação R Reposicionar no leito de 2 em 2 horas I Implementar protocolos de TN Z Zerar a ocorrência por meio de ações de prevenção A Avaliar necessidade de nutrientes específicos Ç Capacitar e conscientizar equipe, familiares e pacientes à Anotar e registrar a evolução da lesão por pressão O Orientar a alta hospitalar Fonte: Campos et al. (2020, p. 3). 8.2.7 Abordagem prática A abordagem prática envolve os seguintes aspectos: • O nutricionista deve realizar triagem nutricional para todos os pacientes internados. Para idosos, sugere-se a ferramenta MAN e, para adultos, a Nutritional Risk Screening 2002 (NRS 2002) ou Must (descritas anteriormente). • Incluir na avaliação nutricional: histórico alimentar; medidas antropométricas básicas (peso, altura, IMC); histórico de perda de peso; avaliação de perda de massa muscular, de edema periférico, de força com o uso da dinamometria, se possível, de deficiências de micronutrientes, dependendo da história clínica, do exame físico e da habilidade de comer de modo independente. A implantação de protocolos de conduta em TN pode ser uma alternativa relevante para melhorar resultados. No escopo da TN, os conceitos de gestão e garantia de qualidade podem ser traduzidos pela necessidade de protocolos, de manuais de procedimentos, de indicadores e de verificações no cumprimento das rotinas, conforme a Associação Brasileira de Nutrição (ABN, 2014). Segundo estudo que investigou o uso de um protocolo nutricional para pacientes com LP Estágio 2 ou 3, a avaliação nutricional se associou à melhora da cicatrização da LPP (NPUAP, 2014). A seguir, destaca-se uma sugestão de protocolos em formato da fluxograma. 188 Unidade III Enfermagem avalia risco para LP Acompanhar periodicamente Reavaliar plano, incluir SNO e sinalizar EMTN Acompanhar Reavaliar plano e discutir com a equipe necessidade de TNE ou TNP em caso de impossibilidade do TG, se for o caso Reavaliar plano e discutir com a equipe necessidade de TNE ou TNP em caso de impossibilidade do TG, se for o caso Discutir com a equipe necessidade de TNE com fórmula especializada ou TNP em caso de impossibilidade do TGI, mantendo polivitamínico, se necessário Calorias: 30 - 35 kcal/kg/dia Proteínas: mínimo 1,25 de proteína/kg/dia Líquidos: 1 ml de líquidos/kcal/dia Adequar a condição clínica e estado nutricional se necessário Calorias: 30 - 35 kcal/kg/dia Proteínas: 1,5 g de proteína/kg/dia Líquidos: 1 ml de líquidos/kcal/dia Adequar a condição clínica e estado nutricional se necessário Se via oral, incluir SNO Calorias: 30 - 35 kcal/kg/dia Proteínas: 1,5 g - 2 g de proteína/kg/dia Líquidos: 1 ml de líquidos/kcal/dia Adequar a condição clínica e estado nutricional se necessário Se via oral, incluir SNO especializado (com Zn, arginina, carotenoides, vitaminas A, C e E) e discutir com EMTN uso de polivitamínicos Se TNE, utilizar fórmula especializada e discutir com EMTN uso de polivitamínicos Qual o risco? Já tem LP? Qual estágio? Está recebendo >60% da meta? Está recebendo >60% da meta? Está recebendo >60% da meta? Está recebendo >60% da meta? Não Não Não Sim Sim Sim LP estágio 1 LP estágio 2, 3, 4 Não classificável LPTP ou em membrana mucosa Baixo Moderado a alto Não NãoSim Sim Figura 39 – Protocolo de avaliação e tratamento da lesão por pressão para pacientes estáveis Fonte: Campos et al. (2020, p. 12). 189 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 8.2.8 Avaliar a necessidade de nutrientes específicos As evidências demonstram que a oferta de SNO hiperproteico e rico em nutrientes específicos resultaem melhor cicatrização da LPP. Esses suplementos colaboram para a melhora do balanço positivo de nitrogênio e para todos os estágios da cicatrização (NPUAP, 2014; OLIVEIRA; HAACK; FORTES, 2017). Oliveira, Haack e Fortes (2017) realizaram uma revisão sistemática da literatura conduzida conforme a metodologia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (Prisma) (MOHER et al., 2009). Para a elaboração da pergunta de pesquisa, utilizou-se o acrônimo PICO: P – população e problema (adultos e idosos com LPP); I – intervenção (uso de TN); C – comparação (sem fórmulas especiais, ou fórmulas diferentes, ou uso de nutrientes e imunonutrientes específicos, ou diferença na composição e/ou dosagem); e O – desfechos (do inglês outcome), que envolveram cicatrização parcial ou total, estabilidade da área total, redução do exsudato, redução de tecidos desvitalizados e outros. A pergunta da pesquisa foi: qual a TN utilizada para melhorar a cicatrização das LPP em adultos e idosos? A tabela a seguir mostra a característica dos estudos encontrados. Tabela 58 – Ensaios clínicos randomizados selecionados de acordo com autores, local, número de pacientes, intervenção e resultados encontrados – DF, 2016 Autores/ ano de publicação Local do estudo Amostra (intervenção/ controle) Intervenção Tempo de duração Resultados/avaliação do desfecho Leigh et al., 2012 Hospital de cuidados agudos e reabilitação – Austrália 23 pacientes (12/11) Dieta hospitalar padrão (DHP) + 9 g de arginina – dois sachês versus (vs) DHP + 4,5 g de arginina – um sachê Cada sachê contém 4,5 g de arginina, 4 g de carboidrato, 155 mg de vitamina C e 40,5 mg de vitamina E 3 semanas Houve uma redução dos escores Push inicial nos dois grupos (8,9 ± 0,7 vs 8,1 ± 1,0; 4,5 g de arginina e 9,0 g de grupos de arginina, respectivamente, p = 0,507). Apesar dessa diminuição ser significativa (p <0,001) não houve diferença nas taxas de cicatrização entre os dois grupos de tratamento (p = 0,991) Não houve diferença significativa nas taxas de cicatrização com base na dosagem de arginina (p = 0,393) Wong et al., 2014 Hospital de cuidados agudos – Singapura 23 pacientes (11/12) Dieta recomendada para LPP + 2 sachês de placebo (carboidrato, cálcio, sabor) vs Dieta recomendada para LPP + 2 sachês da mistura de aminoácidos [7g de L-arginina, 7g de L-glutamina, 7,9 g de carboidrato, 1,5 g de beta-hidroxi- betametilbutirato (HMB), 200 mg de cálcio e aroma de laranja] 2 semanas Os escores Push diminuíram significativamente nos dois grupos: no experimental 9,63 ± 1,09 (IC 95%, 7,31 a 11,94, p < 0,001) e no placebo 10,63 ± 1,06 (IC 95%, 8,37 a 12,88, p = 0,009). No entanto, em geral, não houve diferença entre os dois grupos para os escores PUSH A melhoria nos tecidos viáveis no grupo experimental foi significativamente maior (p = 0,02), de 43,1% (de 42,8 ± 6,6 para 85,8 ± 4,5) em comparação com 25,93% (de 57,2 ± 7,4 para 83,1 ± 5,0) no grupo placebo 190 Unidade III Autores/ ano de publicação Local do estudo Amostra (intervenção/ controle) Intervenção Tempo de duração Resultados/avaliação do desfecho Cereda et al., 2017 Instituições de longa permanência e serviços de cuidados domiciliários – Itália 200 pacientes desnutridos (101/99) Dieta oral padrão (DOP) + 400ml/dia de suplemento nutricional oral (SNO) vs DOP + 400ml/dia de SNO com valores semelhantes de calorias e proteínas, enriquecido com zinco, arginina e antioxidantes (vitamina C e E) 8 semanas Desfecho primário: o uso da fórmula enriquecida com zinco, arginina e antioxidantes resultaram em uma maior redução na área de LPP, 60,9% (IC 54,3% a 67,5%) do que com a fórmula de controle 45,2% (38,4% a 5,0%) Desfecho secundário: 69,9% (IC 59,5% a 79,9%) dos pacientes no grupo da intervenção apresentou redução de 40% ou mais no tamanho do LPP em oito semanas, em comparação com 54,1% (IC 42,7% a 65,5%) no grupo controle (odds ratio [OR], 1,98 [IC 1,12 a 3,48]; p = 0,018). A cura completa, em 8 semanas, foi maior no grupo de fórmulas experimentais (16,9% [IC 8,2% a 25,6%]) do que no grupo de fórmula de controle (9,7% [CI 2,1% a 17,3%]), porém a diferença não foi significante (OR 2,16 [IC 0,88 a 5,39]; p = 0,097). Não foram encontradas diferenças significantes na redução na área em 4 semanas (10,2% [IC 6,5% a 27,0%]; p = 0,149) Fonte: Oliveira, Haack e Fortes (2017, p. 571-572). Exemplo de aplicação Embora a ingestão ideal de nutrientes para a cicatrização de feridas seja desconhecida, a oferta adequada de calorias, proteínas, arginina, zinco e vitaminas A, C e E melhora esse processo (NPUAP, 2014; SAGHALEINI et al., 2018). Alguns micronutrientes têm propriedades antioxidantes, promovem a síntese de colágeno e melhoram a resposta imunológica. Vale lembrar que, no tecido isquêmico da LPP, grandes quantidades de radicais livres são formadas. Alguns micronutrientes, como selênio e vitaminas A, C e E, podem reduzir a produção de radicais livres e potencialmente acelerar a cicatrização de feridas (CAMPOS et al., 2020; NPUAP, 2014). Em 2017, a diretriz europeia para tratamento de pacientes crônicos com polimorbidades e LPP recomendou a adição de aminoácidos específicos, como arginina, glutamina e β-hidroxi β-metilbutirato, ao SNO ou à dieta enteral, com o objetivo de acelerar o fechamento da LPP (GOMES et al., 2018). Além da arginina, a prolina tem sido estudada, por ser um importante constituinte do colágeno e essencial para cicatrização de feridas em resposta primária à lesão tecidual. Ambos apresentam relevante papel na cicatrização de feridas, pois são precursores de substratos fundamentais: óxido nítrico e colágeno (ALBAUGH; MUKHERJEE; BARBUL, 2017). Os benefícios terapêuticos da nutrição devem ser encorajados pelas equipes multiprofissionais. A intervenção nutricional deve ser considerada parte integrante do tratamento da LPP (CEREDA 191 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA et al., 2017). Recomenda-se avaliar o estado nutricional dos pacientes e garantir o aporte de energia e proteína adequados e recomendados pelas diretrizes atuais (OLIVEIRA et al., 2017). O uso de suplemento nutricional enriquecido com arginina, zinco e antioxidantes mostrou eficácia na cicatrização de LPP em pacientes desnutridos, porém em pacientes com o estado nutricional adequado pode influenciar de forma diferente (OLIVEIRA; HAACK; FORTES, 2017). Assim, a oferta da dieta hiperproteica rica em nutrientes específicos, como arginina, prolina, zinco, vitamina A, C e E, entre outros antioxidantes, por meio da suplementação oral ou via enteral, está indicada para os pacientes com LPP, pois auxiliam no seu processo de cicatrização (CAMPOS et al., 2020; SORIANO et al., 2004). 192 Unidade III Resumo Na síndrome da imunodeficiência adquirida (sida/HIV), é necessário o tratamento com o uso da terapia antirretroviral combinada. A terapia antirretroviral é acompanhada das doenças oportunistas. O manejo nutricional envolve o controle dessas alterações metabólicas e o monitoramento nutricional com exames e orientações de mudança de estilo de vida. A TN pode ser indicada e o objetivo é detectar, prevenir e reduzir a ocorrência de problemas nutricionais. É importante saber quando iniciar a TN, quando suspendê-la e também conhecer as recomendações nutricionais em cada estágio da doença. Na paralisia cerebral (PC), o diagnóstico é feito principalmente com base na função motora. A classificação do estado nutricional deve ser feita pelas curvas específicas para PC, pois os padrões de crescimento de crianças com PC podem ser notavelmente diferentes daquelas que não têm PC. O tratamento nutricional é um desafio, já que os pacientes têm dificuldade em se alimentar via oral. Então, para a intervenção nutricional, deve-se considerar o estado nutricional global da criança e a capacidade de alimentação (varia de acordo com Sistema de Classificação da Função MotoraGrossa). A epilepsia é caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. A dieta alimentar deve ser implementada de forma multidisciplinar e os efeitos colaterais devem ser monitorados. A dieta indicada na epilepsia é a cetogênica – dieta restritiva – e é necessário haver suplementação com micronutrientes. A doença de Alzheimer (DA) e a doença de Parkinson (DP) são transtornos neurodegenerativos e estão associadas ao comprometimento nutricional por conta da dificuldade da ingestão de alimento assim como os pacientes com PC. Contudo, nessas patologias a prescrição da dieta mediterrânea é recomendada, pois está associada a taxas mais baixas de progressão da doença O termo trauma envolve várias situações clínicas de diferentes naturezas e etiologias, com repercussão ampla em todo o organismo. Em queimados, ocorre a degradação de proteínas e a proliferação de microrganismos patógenos que, aliados a uma importante deficiência imunológica, podem ocasionar a geração de um foco infeccioso e, posteriormente, sepse. O tratamento nutricional tanto no trauma quando na queimadura deve ser precoce e individualizado, pois melhora os resultados clínicos, principalmente por reduzir a incidência de complicações infecciosas e hospitalização. Paciente crítico é aquele que se encontra em risco iminente de perder a vida e caracteriza-se, inclusive, por aumento da morbidade por infecções, hospitalização prolongada e alta mortalidade. O nutricionista deve realizar triagem nutricional, incluir na avaliação nutricional e implantar protocolos de conduta em TN, traçar metas nutricionais e de hidratação e avaliar a necessidade de nutrientes específicos. 193 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA Exercícios Questão 1. Em relação às pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA), avalie as afirmativas. I – A segurança alimentar e nutricional tem papel secundário na qualidade e na expectativa das PVHA. II – Uma das mudanças no estado nutricional das PVHA é a síndrome de Wasting ou síndrome do desperdício (perda ponderal involuntária). III – As PVHAs apresentam uma condição de imunodeficiência, o que as torna mais vulneráveis aos agravos à saúde. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) II, apenas. C) III, apenas. D) I, II e III. E) II e III, apenas. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: a segurança alimentar e nutricional tem um papel fundamental na qualidade e na expectativa de vida de pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA). Diversos fatores estão direta ou indiretamente associados ao estado nutricional dessas pessoas, como anemia, desnutrição, diarreia, estados emocionais alterados, hipovitaminoses, isolamento social e aspectos da vida pessoal, econômicos, psicossociais e clínicos. II – Afirmativa correta. Justificativa: devem ser observadas as mudanças no estado nutricional de pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA), como síndrome de Wasting ou síndrome do desperdício (perda ponderal involuntária), enfraquecimento, febre e diarreia, com quadro de desnutrição. Além disso, devem ser verificadas 194 Unidade III alterações metabólicas e corpóreas, como modificações do metabolismo da glicose e dos lipídios, da distribuição da gordura corpórea e da acidose lática, entre outras. III – Afirmativa correta. Justificativa: as PVHAs apresentam uma condição de imunodeficiência e, por isso, tendem ser mais vulneráveis aos agravos à saúde. Torna-se primordial orientar os pacientes sobre os cuidados necessários com a escolha, a higiene, a manipulação, o preparo e a conservação dos alimentos, a fim de evitar toxinfecções alimentares, e sobre as condições higiênicas sanitárias adequadas ao uso. Questão 2. (Enade 2010, adaptada) Um paciente do sexo masculino, com 45 anos de idade, com diagnóstico de síndrome da imunodeficiência adquirida, há 15 anos em uso de terapia antirretroviral de alta eficácia (HAART), foi a um ambulatório de nutrição do serviço de infectologia para consulta de acompanhamento nutricional. O paciente relatou que, no último mês, sofreu perda de peso corporal devido a um quadro de diarreia infecciosa, náuseas e vômitos que persistiu por duas semanas. O nutricionista coletou, durante a avaliação nutricional realizada na consulta, dados bioquímicos e antropométricos do paciente que estão apresentados na tabela a seguir. Tabela 59 Dados antropométricos Dados bioquímicos Peso atual = 60 kg Glicemia = 130 mg/dL (normalidade = inferior a 100 mg/dL) Estatura = 1,72 m Triglicerídeos = 300 mg/dL (normalidade = inferior a 150 mg/dL) Circunferência de cintura = 105 cm Colesterol total = 150 mg/dL (normalidade = inferior a 200 mg/dL) Considerando essa situação hipotética, avalie as afirmativas. I – O uso prolongado da terapia antirretroviral pode ocasionar resistência à insulina, aumento sérico de triglicérides e hiperglicemia. II – Um dos efeitos colaterais do uso prolongado de HAART é a lipodistrofia, que inclui a lipoatrofia na região da face, membros inferiores e superiores, e a lipo-hipertrofia, acúmulo de gordura no abdômen e região cervical. III – As orientações nutricionais para náusea devem incluir refeições grandes, evitar refeições com alto teor de gordura e evitar deitar-se logo após a refeição. IV – As orientações nutricionais para diarreia devem incluir a reposição de líquidos e eletrólitos, alimentação pobre em lactose, diminuir a quantidade de gordura e evitar alimentos e bebidas causadoras de gases. 195 NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA É correto apenas o que se afirma em: A) I, II e III. B) II, III e IV. C) I, II e IV. D) I e II. E) III e IV. Resposta correta: alternativa C. Análise das afirmativas I e II – Afirmativas corretas. Justificativa: uma das consequências da terapia antirretroviral é a síndrome da lipodistrofia, caracterizada pela alteração da distribuição de gordura corporal. Inclui a lipoatrofia (perda de gordura subcutânea na face, nas nádegas e nas extremidades) e lipohipertrofia (acúmulo de gordura no abdômen, na nuca e nas mamas). A síndrome da lipodistrofia inclui também anormalidades metabólicas, como resistência à insulina e dislipidemia. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: as orientações para náusea devem incluir refeições com pequenas quantidades. IV – Afirmativa correta. Justificativa: as orientações para diarreia incluem ingerir líquidos (quanto mais intensa for a diarreia, maior deverá ser a reposição de água) e evitar alimentos gordurosos, alimentos lácteos, refrigerantes, líquidos açucarados, sucos industrializados e café. 196 REFERÊNCIAS Textuais ABENSUR, H. How to explain the low penetration of peritoneal dialysis in Brazil. Jornal Brasileiro de Nefrologia, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 269-270, 2014. ABN. Manual orientativo. Sistematização no cuidado de nutrição. São Paulo: Associação Brasileira de Nutrição, 2014. ADAMO, M. 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