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Resenha do livro: O que é educação Carlos Rodrigues Brandão Descrição bibliográfica RODRIGUES BRANDÃO, Carlos. O Que é Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. 116 p. Credenciais do autor Carlos Rodrigues Brandão possui graduação em Psicologia pela PUC-Rio, especialização em Educação pelo Centro Reginal de Educación Fundamental para La América Latina., mestrado em Antropologia pela UNB, doutorado em Ciências Sociais pela USP, pós-doutorado em Antropologia pela Universidade de Perugia e pós-doutorado em História Contemporânea pela Universidade de Santiago de Compostela. Já lecionou em 12 universidades do Brasil, entre elas UnB, PUC-Rio, UFMG, USP, UNICAMP e PUC/SP. Publicou ou auxiliou mais de setenta e dois livros nas áreas de antropologia, educação, psicologia e geografia agrária. Especialista em educação rural e educação popular. Desenvolveu projetos de pesquisa em áreas como Ruralidades e Educação Rural em Goiás, Educação Ambiental e Biodiversidade, Catolicismo e Sociedade Brasileira, e, também, é pesquisador associado do Programa Educação para a cidadania Planetária. Entre outros títulos e prêmios, possui o Prêmio Alceu Amoroso Lima - Poesia e Liberdade, Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade. Além disso, é Professor Emérito da Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia. Atualmente desenvolve projetos de pesquisa no Alto Médio São Francisco, Minas Gerais, onde são analisadas questões sociais e culturais das comunidades tradicionais desse local. Resumo Inicialmente, Brandão afirma que a educação está presente no dia a dia de todos e que ela se manifesta de variadas formas, por exemplo: em casa, na rua, na igreja. Para o autor, a visão ocidental de modelo e forma de educação, onde é transmitida por professores e em escolas, não é a única existente, visto que a educação é encontrada em todos os tipos de sociedades – tribais, caçadores, pastores nômades, países desenvolvidos, etc – desse modo, ela faz parte da construção, continuidade e legitimação de cada uma delas, ou seja, ela é encontrada a partir do momento em que uma sociedade repassa o saber comum necessário para a continuidade de costumes, tradições e crenças de cada uma. É nesse momento em que é encontrada, na opinião do autor, a força da educação, pois as sociedades são construídas a partir da manutenção dos costumes de determinado grupo. Posteriormente, o autor contextualiza como é concebida a educação em sociedades em que ela não é dada através do que ele chama de ensino formal, sujeita a pedagogia, onde são criados métodos e executores especializados do saber. Analisa, como exemplo, as comunidades tribais, que, segundo ele, é onde educação é tratada como forma de transmissão do que é importante para a continuidade e ideia de pertencimento a determinado grupo, ou seja, ajuda na manutenção da identidade cultural de cada comunidade – diferente da visão ocidental institucionalizada de educação. Ele afirma que uma das principais características dessa forma de educação é a maneira de como é adquirido o saber, que é dado pouco a pouco, pelo simples ato de conviver e observar diferentes situações entre as pessoas, tanto no seio familiar como também na comunidade ao todo. Assim, o autor traz o conceito de endoculturação – que é o processo em que o individuo adquire as especificidades de determinada cultura, a fim de “torná-lo pessoa” dentro de sua comunidade – onde afirma que a educação é uma fração desse processo. Outro ponto importante para o autor é o surgimento do ensino, em outras palavras, a transformação de educação em ensino. Segundo Carlos Rodrigues Brandão, esse processo é dado no momento em que surgem os conflitos de interesses, mais precisamente, a partir do momento em que o trabalho e o poder de determinada comunidade são divididos, gerando, assim, divisões sociais que trazem como umas de suas consequências a divisão do saber. Por conseguinte, surgem especialistas que se apropriam de determinadas áreas do conhecimento comunitário e criam códigos específicos para repassá-los. Por outro lado, afirma que as sociedades que passaram por esse processo perdem a ideia de igualdade natural da educação, passando, assim, a firmar o poder de poucos, que receberam determinada educação, sobre o trabalho e vida dos outros membros da sociedade, legitimando as desigualdades. Afirma, também, que, mesmo após hierarquização dos tipos de saber, a ideia de educação tratada nos primeiros capítulos não desaparecem totalmente, pois é a forma de educação inata de todas as sociedades, e é somente após o contado com essa educação natural que os membros das sociedades são apresentados ao ensino tratado neste capitulo. Carlos Brandão analisa a forma como se deu a educação na Grécia antiga, que inicialmente era estritamente de relações interpessoais até o momento em que a educação tornou-se questão de Estado. Afirma que a educação grega é dupla, ou seja, dividida entre o saber tecne – saber técnico, que instrui para a realização de trabalhos, destinado ao escravo e ao artesão livre – e o saber teoria – saber teórico, que instrui para ser um cidadão nobre, destinado a aristocracia. Afirma, também, que essa dualidade persiste na educação contemporânea. Explora o ideal de educação grega – Paideia – onde o homem é educado desde criança para ser um cidadão que saiba viver a/na cidade. Faz critica a esse modelo, pois afirma que as crianças são olhadas a partir do que querem que elas sejam, e não a partir do que elas realmente são. Explica que até os 7 anos a criança grega era educada apenas no âmbito familiar, a partir daí, até os 14 anos, a educação é conduzida pelos mestre-escola. Com a democratização do saber são criadas as escolas bairros, onde as crianças escravas não tinham acesso, as crianças livres plebeias se limitam ao saber ofertado nelas, e as crianças nobres dão continuidade para obtenção de um grau maior de saber. Comenta sobre o papel dos sofistas ao democratizar esse ensino mais avançado, pois o tornam remunerado. Afirma, também, que os pedagogos escravos eram os verdadeiros educadores, pois conduziam as crianças por esse processo, de modo que conviviam com as crianças mais do que os pais, e, assim, ensinavam a eles a cultura da polis. Por outro lado, o autor explica a forma como era dada a educação na Roma antiga. Afirma que inicialmente nessa sociedade família desenvolvia o papel fundamental para a educação das crianças. Porém, assim como aconteceu com na civilização grega, a estratificação da sociedade gerou uma divisão do saber. Além disso, relata que a educação em Roma só passou a ser questão de Estado após o advento do cristianismo no século IV D.C e, também, que herdamos a estrutura educacional formulada nessa época, no que diz repeito a complexidade e cronologia do ensino, como também legitimou a dualidade da educação que foi comentada no capítulo anterior. Ressalta que a educação romana foi fundamental para a difusão da cultura latina na Península Itálica, Europa, Ásia e Norte da África. Carlos Brandão direciona seu foco para a educação brasileira. De acordo com ele, a realidade da educação não segue o que é afirmado nas leis do país, pois, segundo ele, não existem liberdade e igualdade na educação brasileira e o sistema educacional legitima o ensino elitista difundido no Brasil. O autor explica isso ao afirmar que esse sistema desigual é garantidograças aos interesses políticos e econômicos de pessoas que se beneficiam pela manutenção desse sistema. Cita um trecho do Boletim Nacional das Associações de docentes, nº 3, que explica esse processo ao afirmar que expansão do ensino privado no país desobrigou o Estado a custear a educação, de modo que aprofunda o caráter elitista da educação brasileira. Além disso, o autor afirma que a educação precisa partir da vida real dos indivíduos e que eles precisam ter consciência do contexto social que o educador vive, de modo que desenvolvam valores e qualidades humanas uteis para a vida concreta – como trabalho produtivo, como compromisso, como relações sociais. Além disso, ressalta que a educação é inevitavelmente uma prática social que modela sujeitos para viver em sociedade, de maneira que a ordem de cada tipo de sociedade seja mantida. O autor faz pensar sobre o que há por traz dos tipos de educação em cada sociedade. Com isso quer mostrar que a “educação oficial” de cada comunidade pode ser a forma com que classes privilegiadas encontraram para impor e legitimar um controle sobre as outras classes. Critica a educação da sociedade capitalista, pois afirma que, apesar de teoricamente ser um projeto de reprodução de igualdade, quando separa e como separa quem entra e quem sai das escolas ela, na realidade, reproduz e consagra a desigualdade social. Afirma que este processo é consolidado devido às classes sociais privilegiadas que ganham com a manutenção desse sistema, pois, assim, ficam com o controle e impedem mudanças significativas que os prejudiquem. Além disso, traz a ideia que projeta sobre a educação um meio de mudança social e de formação de sujeitos na/da mudança social, porém quando essa ideia é tratada como única prática social capaz de criar nas pessoas condições necessárias para a transformação política, econômica e cultural da sociedade, sem que seja lembrado que ela é determinada, como afirmou anteriormente, por classes sociais privilegiadas, é um “utopismo pedagógico”. Por fim, conclui que a educação, apesar de reproduzir e consagrar as desigualdades na sociedade capitalista, é inevitável e que pode ser reinventada. Esta reinvenção é vista, segundo ele, principalmente através grupos, como sindicatos, movimentos populares e associações de trabalhadores, que se unem a fim de preservar seus tipos de saber e sua educação. Além disso, ressalta que a esperança na educação existe tanto no ensino institucionalizado quanto em movimentos políticos que lutam para reinventar o ensino e, também, que existe possibilidade de que quando isso aconteça a educação continue a produzir as mesmas problemáticas tratadas no livro. Apreciação O livro é elaborado em linguagem simples, não apresenta termos científicos específicos da área, de modo que é acessível a todos que sejam interessados pelo processo histórico de consolidação da forma de ensino institucionalizadas que conhecemos hoje. Para um melhor entendimento do livro, faz-se necessário que o leitor deixe de lado a ideia de educação que possuímos, assim, irá perceber com mais facilidade uma das principais problemáticas tratados no livro - a existência de educação em variadas formas. Além dessa, dois outros temas são recorrentes: a dualidade da educação e a forma como é atrelada ao poder. Faz uma abordagem marxista, de modo que crítica à educação existente no sistema capitalista. Traz opiniões de clássicos sociológicos, assim como estudos modernos sobre o tema. Assim, o livro é importante para fazer pensar a educação de um ponto de vista diferente. Fonte de pesquisa: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfSQgAB/resenha-livro-que-educacao- carlos-rodrigues-brandao
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