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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ ELMANO de FREITAS da Costa GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS SAMUEL ELÂNIO de Oliveira Júnior - DPF SECRETÁRIO DA SSPDS ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE LEONARDO D`Almeida Couto BARRETO - DPC DIRETOR-GERAL DA AESP|CE KAMILLY Távora CAMPOS Petrola - DPC DIRETORA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE Francisco EDINALDO do Vale Cavalcante – DPC COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE José ROBERTO de Moura Correia – TC PM COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – MAJ PM SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE MÔNICA Pontes Rodrigues ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE, ABORDAGEM E TIRO POLICIAL DEFENSIVO DISCIPLINA MEDIAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS CONTEUDISTAS Demóstenes Carvalho Rolim Cartaxo Nartan da Costa Andrade FORMATAÇÃO JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM • 2023 • SUMÁRIO MEDIAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS........................................................................... 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1 UNIDADE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E OS MECANISMOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO PACÍFICA DE CONFLITOS SOCIAIS .................................................................... 2 1.1. Antecedentes Históricos ........................................................................................... 2 1.2. Mecanismos Alternativos ou Consensuais de Resolução dos Conflitos Sociais .......... 6 1.3. A Arbitragem ............................................................................................................. 8 1.4. Negociação ............................................................................................................. 10 1.5. Conciliação .............................................................................................................. 11 UNIDADE 2 – A MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA CONSENSUAL À RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS: ...................................................................................................................... 13 2.1. Noções e Conceitos Gerais de Mediação de Conflitos ............................................. 13 2.2. Princípios da Mediação de Conflitos ....................................................................... 17 2.3. Objetivos de Mediação De Conflitos ....................................................................... 19 2.4. Características do Mediador ................................................................................... 20 2.5. Procedimentos da Mediação de Conflitos ............................................................... 22 UNIDADE 3 – FORMAS DE EXPRESSÃO E MODELOS DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: ......... 25 3.1. Abrangência da Mediação De Conflitos ................................................................... 25 3.2. Modelos e Técnicas de Mediação de Conflitos ........................................................ 26 3.3. Espécies de Mediação de Conflitos ......................................................................... 27 UNIDADE 4 – AS EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS DA CRIAÇÃO DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA SEARA DA SEGURANÇA PÚBLICA: ..................................................................................... 28 UNIDADE 5 – A JUSTIÇA RESTAURATIVA: .......................................................................... 33 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 37 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 38 1 MEDIAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTRODUÇÃO A disciplina de MEDIAÇÃO DE CONFLITOS tem por desiderato apresentar ao aluno, a importância da utilização de tal mecanismo alternativo ou consensual na resolução dos conflitos sociais, e os seus reflexos no âmbito da Segurança Pública do Estado do Ceará. Sob tal ótica, há de se salientar que tal Disciplina é de extrema importância à formação dos profissionais de Segurança Pública, na medida em que possam ter uma noção exata da eficiência de utilização dos mecanismos consensuais ou alternativos de resolução de conflitos existentes no Ordenamento Jurídico, ressaltando, sobretudo, a utilização da mediação de conflitos que consolida-se cada vez mais como um meio eficaz e célere na solução de controvérsias. Eis que no trabalho que se apresenta procurou-se conferir a devida relevância ao festejado mecanismo que vem avançando cada vez mais nos mais diversos ambientes como empresas, escolas e instituições públicas como, por exemplo, as que compõem o sistema de Segurança Pública no Brasil. Sendo assim, na Unidade I apresentar-se-á de uma forma rápida a evolução histórica dos estudos dos conflitos sociais desde os primórdios da humanidade e as formas de solução, até atingir o momento da preponderância da jurisdição e do surgimento dos denominados mecanismos alternativos de resolução de conflitos, tais como, a arbitragem, a conciliação, a negociação e a mediação, inclusive procurando conceituar tais institutos. Na Unidade II, adentrar-se-á mais especificamente no estudo da mediação de conflitos, ressaltando, assim, o seu surgimento e a sua consolidação como mecanismo consensual ou alternativo de resolução pacífica do conflito social. Na Unidade III, serão tratadas as Formas de expressão e, ainda, modelos e as técnicas de mediação de conflitos, bem como as suas fases. Na Unidade IV, serão mostradas as experiências práticas de utilização da mediação de conflitos na seara policial encontradas atualmente no Brasil, como também a forma que órgãos públicos tratam a mediação de conflitos em nosso país, bem como no arcabouço normativo que está se formando visando à consolidação legal da mediação de conflitos. 2 Por fim, na Unidade V, será tratada a Justiça Restaurativa, mostrando-se como um novo olhar na questão da repressão aos crimes, inclusive sua comparação com a forma mais presente hoje no Ordenamento Pátrio, ou seja, a denominada Justiça Retributiva. UNIDADE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E OS MECANISMOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO PACÍFICA DE CONFLITOS SOCIAIS 1.1. Antecedentes Históricos Desde os tempos mais primitivos, a Sociedade e o Direito discutem a existência de mecanismos de resolução e pacificação de conflitos sociais como forma de resolução das contendas surgidas nas relações sociais. Desta feita, o surgimento de tais meios confunde- se certamente com o próprio estudo da lide ou da controvérsia. O conflito surgiu em decorrência dos desentendimentos entre tribos, as disputas entre povos e mais recentemente as guerras entre países, sendo, portanto, uma característica natural do ser humano. Surge, assim, na unidade familiar, na escola, no campo do trabalho, etc. A seu turno, as causas do conflito no âmbito social/humano são geralmente em decorrência da busca por bens, mormente em relação ao patrimônio, dinheiro, luxo, dentre outros. É ocasionado, além disso, pela tentativa de acesso ao poder, promoção, status, fama e, ainda, concepções de valores, tais como religião, futebol, política, e também relacionados a sentimento de ódio e de inveja. Interessante observar que quando surge um conflito três situações podem acontecer, conforme a figura a seguir: NEGAÇÃO GUERRA CONFLITO GERÊNCIA 3 Na negação o indivíduo não aceita a existência do conflito entendendo que a situação está dentro da normalidade e que ele está absolutamente correto, ou seja, tudo está harmônico e não precisa de qualquer mudança. Geralmenteinstitui a mediação na seara policial? 04) O Governo Federal vem incentivando a instituição da mediação de conflitos? De que forma? 05) Quais medidas o Ministério Público do Estado do Ceará adotou para incentivar a criação da mediação de conflitos? UNIDADE 5 – A JUSTIÇA RESTAURATIVA: A denominada Justiça Restaurativa é considerada uma manifestação de ordem mundial com objetivo de ampliar o acesso à justiça criminal, recriado nas décadas de 70 e 80 nos Estados Unidos e Europa. Tal movimento mundial foi inspirado nas antigas tradições pautadas em diálogos pacificadores e construtores de consenso oriundos de culturas africanas e das primeiras nações do Canadá e da Nova Zelândia. Sem dúvida, a Justiça Restaurativa assemelha-se bastante aos objetivos da mediação de conflitos, portanto, visará à pacificação na seara penal. Diferencia-se da Justiça oriunda da Jurisdição, ou seja, com aquela que se preocupa com a aplicação do direito ao caso concreto pelo Estado-Juiz, denominada comumente de Justiça Retributiva em decorrência de algumas peculiaridades, que foram muito bem expostas pela Fundadora e Diretora-Presidente do MEDIARE – Diálogos e Processos Decisórios – TANIA ALMEIDA, no artigo ali publicado, que trouxe um esquema bastante elucidativo publicado por Highton, Alvarez e Gregório em ‘Resolución Alternativa de Disputas y Sistema Penal’, que ora também colacionamos, extraído do artigo “Justiça Restaurativa e Mediação de Conflitos”, no site www.mediare.com.br: 34 JUSTIÇA RETRIBUTIVA JUSTIÇA RESTAURATIVA Delito Infração da norma Conflito entre pessoas Responsabilidade Individual Individual e social Controle Sistema penal Sistema penal / Comunidade Protagonistas Infrator e o Estado Vítima , vitimário e comunidade Procedimento Adversarial Diálogo Finalidade Provar delitos Estabelecer culpas Aplicar castigos Resolver conflitos Assumir responsabilidades Reparar o dano Tempo Baseado no passado Baseado no futuro Evidencia-se, portanto, que na Justiça Restaurativa não há propriamente uma sanção criminal pela conduta porventura praticada pelo criminoso, mas há uma tentativa de tentar restaurar de alguma forma o criminoso, a partir de um estudo de vitimologia, ou seja, propriamente da vítima. Para entender melhor a mediação com foco na Justiça Restaurativa, interessante observar o vídeo da Estudiosa e Mediadora Carla Boin. Vídeo 4: Justiça Restaurativa Outra estudiosa da temática de mediação de conflitos e justiça restaurativa, TANIA ALMEIDA, salienta que: Justiça restaurativa procura equilibrar o atendimento às necessidades das vítimas e da comunidade com a necessidade de reintegração do agressor à sociedade. Procura dar assistência à recuperação da vítima e permitir que todas as partes participem do processo de justiça de maneira produtiva (United Kingdom – Restorative Justice Consortium, 1998). Um processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima, o ofensor e/ou qualquer indivíduo ou comunidade afetada por um crime participem junto e ativamente da resolução das questões advindas do crime, sendo frequentemente auxiliados por um terceiro investido de credibilidade e imparcialidade (United Nations, 2002). 35 Com efeito, apesar das demandas criminais estarem sujeitas à conceituada extrema indisponibilidade, isto é, não podendo, em regra, serem negociadas por envolverem predominantemente a atividade punitiva do Estado, impende assinalar que o nosso ordenamento jurídico já admite, por exemplo, algumas medidas consideradas despenalizadoras no procedimento do Juizado Especial Cível e Criminal, que trata das infrações de menor potencial ofensivo, mormente a transação penal, a composição civil dos danos ou suspensão condicional do processo, medidas estas que podem ser encontradas de forma amiudada na Lei nº 9.099/95. No mesmo diapasão, a prática da Justiça Restaurativa já está sendo estimulada inclusive pelo Conselho Nacional da Justiça com a edição da Resolução nº 125/2010, já citada acima, onde instituiu os mecanismos de efetivação da incumbência dos órgãos judiciais em oferecer meios de solução de conflitos pelas chamadas vias consensuais, dentre elas a prática restaurativa no âmbito penal. Destarte, é forçoso concluir desde logo que na Justiça Restaurativa, a participação da vítima ou de seus familiares deverá ocorrer de forma ativa, para que em confronto direto de ideias com o autor do fato, oportunidade em que possam ser resolvidas questões e controvérsias diretamente relacionadas com a conduta criminosa praticada. Para um maior aprofundamento do conteúdo até aqui passado, interessante acompanhar as legislações e marcos abaixo listados, alguns já destacados no contexto da apostila, que tratam da Mediação de Conflitos e que norteiam de forma clara este caminho para que a Justiça e a Paz em seus mais altos sentidos possam efetivamente materializar-se. - Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/1995), que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais; - Resolução n. 125, de 29 de novembro de 2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, que, apesar de ter natureza de norma administrativa, implantou a política nacional dos meios adequados de solução de conflitos; - Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996) alterada pela Lei n. 13.129/2015 (Altera a Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996, e a Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, para ampliar o âmbito de aplicação da arbitragem e dispor sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a interrupção da prescrição pela instituição 36 da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral, e revoga dispositivos da Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996); - Novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015), no que se refere aos artigos que disciplinam os métodos consensuais; - Lei de Mediação (Lei n. 13.140/2015); - Resolução n. 225, de de 31 de maio de 2016, do CNJ, que dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário. - Decreto n. 88.984/1983 (criou o Sistema Nacional de Mediação e Arbitragem no âmbito das relações trabalhistas, regulamentado pela Portaria do Ministério do Trabalho n. 3.112/1988); - Preâmbulo da CF/1988: Solução pacífica das controvérsias. - CEARÁ. Lei n. 16.039, de 28 de junho de 2016. Dispõe sobre a criação do Núcleo de Soluções consensuais no âmbito da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário. Diário Oficial do Estado, Fortaleza, CE, 30 jun. 2016. - Instrução Normativa n. 07/2016 (Dispõe sobre a criação do Núcleo de Soluções consensuais no âmbito da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário, consoante previsão na Lei n. 16.039, de 28 de junho de 2016.). Para revisar de forma ampla as temáticas abordadas nesta apostila, válido observar o vídeo produzido pela SENASP. Vídeo 5 – Mediação de Conflitos - SENASP - Cientista Político Daniel Seidel Professor da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal Agora que você já adquiriu informações acerca da Justiça Restaurativa, implemente vosso conhecimento via exercício de fixação. 37 Exercícios de Fixação 01) Como surgiu a “JUSTIÇA RESTAURATIVA”? 02) Como se pode conceituar a denominada “JUSTIÇA RESTAURATIVA”? 03) Quais as principais diferenças entre a “JUSTIÇA RETRIBUTIVA” e a “JUSTIÇA RESTAURATIVA”? 04) O que significa o processo restaurativo? CONCLUSÃO Caríssimos, com visto o conteúdo programático desta apostila foi desenvolvido especialmente para o curso de formação dos profissionais de segurançapública do Estado do Ceará. Não teve a pretensão de esgotar o tema ou tornar o formando expert em Mediação de Conflitos, porém, apresentou, aproximou e estimulou a prática de uma das uma das mais significativas e fascinantes estratégias de resolução pacífica das controvérsias. Agora você é dotado de conhecimentos e técnicas da Mediação de Conflitos que certamente, se assimiladas e colocadas em ação, proporcionarão muitos ganhos na sua vida pessoal e profissional. Temos certeza de que por meio do conteúdo disciplinar apresentado nestes dias de aula, as quais foram enriquecidas por vossa participação, sempre interagindo e enriquecendo o debate, construímos bases sólidas de aprendizado que serão reforçadas no decorrer de sua carreira. Esperamos sinceramente que consiga êxito neste componente curricular, no curso e sobretudo na sua profissão. Acerca da profissão, que o trabalho, seja oportunidade diária para que se faça feliz e contribua para a felicidade dos outros. Lembre-se a mediação pode ajudar muito nesta caminhada. Gratos pela atenção e seja feliz! Os autores 38 REFERÊNCIAS BACELLAR, Roberto Portugal. Mediação e Arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2012. CINTRA, Antonio Calos de Araújo Cintra et al. Teoria Geral do Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. FIORELLI, José Osmir et al. Mediação e Solução de Conflitos: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2008. MUSZKAT, Malvina Ester. Org. Mediação de Conflitos – Pacificando e Prevenindo a Violência. São Paulo: Summus Editorial, 2003. NETO, Adolfo Braga et al. Org. Aspectos Atuais Sobre a Mediação e Outros Métodos Extra e Judiciais de Resolução de Conflitos. Rio de Janeiro: GZ Editora. 2012. ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 3. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1996. RODRIGUES, Horácio Wanderley et al. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Campus Jurídico, 2012. SALES, Lília Maia de Morais Sales. Mediação de Conflitos – Família, Escola e Comunidade. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. SALES, Lília Maia de Morais Sales. Org. Estudos sobre Mediação e Arbitragem. Fortaleza: ABC Editora, 2003. MEDIARE – DIÁLOGOS E PROCESSOS DECISÓRIOS. Justiça Restaurativa e Mediação de Conflitos. Disponível em: . Acesso em: 20 mai. 2015. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Disponível em: . Acesso em: 20 mai. 2015. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Disponível em: . Acesso em: 20 mai. 2015. 39 ANEXO ÚNICO PODER EXECUTIVO - LEI No 13.140, DE 26.06.2015 D.O.U.: 29.06.2015 Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997. A Presidenta da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. CAPÍTULO I - DA MEDIAÇÃO Seção I Disposições Gerais Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios: I - imparcialidade do mediador; II - isonomia entre as partes; III - oralidade; IV - informalidade; V - autonomia da vontade das partes; VI - busca do consenso; VII - confidencialidade; VIII - boa-fé. 40 § 1º Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as partes deverão comparecer à primeira reunião de mediação. § 2º Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação. Art. 3º Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação. § 1º A mediação pode versar sobre todo o conflito ou parte dele. § 2º O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva do Ministério Público. Seção II Dos Mediadores Subseção I Disposições Comuns Art. 4º O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes. § 1º O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito. § 2º Aos necessitados será assegurada a gratuidade da mediação. Art. 5º Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impedimento e suspeição do juiz. Parágrafo único. A pessoa designada para atuar como mediador tem o dever de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer delas. Art. 6º O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do término da última audiência em que atuou, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes. Art. 7º O mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que tenha atuado como mediador. 41 Art. 8º O mediador e todos aqueles que o assessoram no procedimento de mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, são equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação penal. Subseção II Dos Mediadores Extrajudiciais Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos. Parágrafo único. Comparecendo uma das partes acompanhada de advogado ou defensor público, o mediador suspenderá o procedimento, até que todas estejam devidamente assistidas. Subseção III Dos Mediadores Judiciais Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça. Art. 12. Os tribunais criarão e manterão cadastros atualizados dos mediadores habilitados e autorizados a atuar em mediação judicial. § 1º A inscrição no cadastro de mediadores judiciais será requerida pelo interessado ao tribunal com jurisdição na área em que pretenda exercer a mediação. § 2º Os tribunais regulamentarão o processo de inscrição e desligamento de seus mediadores. Art. 13. A remuneração devida aos mediadores judiciais será fixada pelos tribunais e custeada pelas partes, observado o disposto no § 2º do art. 4º desta Lei. 42 Seção III Do Procedimento de Mediação Subseção I Disposições Comuns Art. 14. No início da primeira reunião de mediação, e sempre que julgar necessário, o mediador deverá alertar as partes acerca das regras de confidencialidade aplicáveis ao procedimento. Art. 15. A requerimento das partes ou do mediador, e com anuência daquelas, poderão ser admitidos outros mediadores para funcionarem no mesmo procedimento, quando isso for recomendável em razão danatureza e da complexidade do conflito. Art. 16. Ainda que haja processo arbitral ou judicial em curso, as partes poderão submeter-se à mediação, hipótese em que requererão ao juiz ou árbitro a suspensão do processo por prazo suficiente para a solução consensual do litígio. § 1º É irrecorrível a decisão que suspende o processo nos termos requeridos de comum acordo pelas partes. § 2º A suspensão do processo não obsta a concessão de medidas de urgência pelo juiz ou pelo árbitro. Art. 17. Considera-se instituída a mediação na data para a qual for marcada a primeira reunião de mediação. Parágrafo único. Enquanto transcorrer o procedimento de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional. Art. 18. Iniciada a mediação, as reuniões posteriores com a presença das partes somente poderão ser marcadas com a sua anuência. Art. 19. No desempenho de sua função, o mediador poderá reunir-se com as partes, em conjunto ou separadamente, bem como solicitar das partes as informações que entender necessárias para facilitar o entendimento entre aquelas. Art. 20. O procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por 43 manifestação de qualquer das partes. Parágrafo único. O termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial. Subseção II Da Mediação Extrajudicial Art. 21. O convite para iniciar o procedimento de mediação extrajudicial poderá ser feito por qualquer meio de comunicação e deverá estipular o escopo proposto para a negociação, a data e o local da primeira reunião. Parágrafo único. O convite formulado por uma parte à outra considerar-se-á rejeitado se não for respondido em até trinta dias da data de seu recebimento. Art. 22. A previsão contratual de mediação deverá conter, no mínimo: I - prazo mínimo e máximo para a realização da primeira reunião de mediação, contado a partir da data de recebimento do convite; II - local da primeira reunião de mediação; III - critérios de escolha do mediador ou equipe de mediação; IV - penalidade em caso de não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação. § 1º A previsão contratual pode substituir a especificação dos itens acima enumerados pela indicação de regulamento, publicado por instituição idônea prestadora de serviços de mediação, no qual constem critérios claros para a escolha do mediador e realização da primeira reunião de mediação. § 2º Não havendo previsão contratual completa, deverão ser observados os seguintes critérios para a realização da primeira reunião de mediação: I - prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de três meses, contados a partir do recebimento do convite; II - local adequado a uma reunião que possa envolver informações confidenciais; III - lista de cinco nomes, informações de contato e referências profissionais de mediadores capacitados; a parte convidada poderá escolher, expressamente, qualquer um dos cinco mediadores e, caso a parte convidada não se manifeste, considerar-se-á 44 aceito o primeiro nome da lista; IV - o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação acarretará a assunção por parte desta de cinquenta por cento das custas e honorários sucumbenciais caso venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial posterior, que envolva o escopo da mediação para a qual foi convidada. § 3º Nos litígios decorrentes de contratos comerciais ou societários que não contenham cláusula de mediação, o mediador extrajudicial somente cobrará por seus serviços caso as partes decidam assinar o termo inicial de mediação e permanecer, voluntariamente, no procedimento de mediação. Art. 23. Se, em previsão contratual de cláusula de mediação, as partes se comprometerem a não iniciar procedimento arbitral ou processo judicial durante certo prazo ou até o implemento de determinada condição, o árbitro ou o juiz suspenderá o curso da arbitragem ou da ação pelo prazo previamente acordado ou até o implemento dessa condição. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às medidas de urgência em que o acesso ao Poder Judiciário seja necessário para evitar o perecimento de direito. Subseção III Da Mediação Judicial Art. 24. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, pré- processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. Parágrafo único. A composição e a organização do centro serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça. Art. 25. Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o disposto no art. 5º desta Lei. Art. 26. As partes deverão ser assistidas por advogados ou defensores públicos, ressalvadas as hipóteses previstas nas Leis nºs 9.099, de 26 de setembro de 1995, e 10.259, de 12 de julho de 2001. 45 Parágrafo único. Aos que comprovarem insuficiência de recursos será assegurada assistência pela Defensoria Pública. Art. 27. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de mediação. Art. 28. O procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em até sessenta dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo, requererem sua prorrogação. Parágrafo único. Se houver acordo, os autos serão encaminhados ao juiz, que determinará o arquivamento do processo e, desde que requerido pelas partes, homologará o acordo, por sentença, e o termo final da mediação e determinará o arquivamento do processo. Art. 29. Solucionado o conflito pela mediação antes da citação do réu, não serão devidas custas judiciais finais. Seção IV Da Confidencialidade e suas Exceções Art. 30. Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo obtido pela mediação. § 1º O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham, direta ou indiretamente, participado do procedimento de mediação, alcançando: I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta formulada por uma parte à outra na busca de entendimento para o conflito; II - reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do procedimento de mediação; III - manifestação de aceitação de proposta de acordo apresentada pelo mediador; IV - documento preparado unicamente para os fins do procedimento de mediação. 46 § 2º A prova apresentada em desacordo com o disposto neste artigo não será admitida em processo arbitral ou judicial. § 3º Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação relativa à ocorrência de crime de ação pública. § 4º A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas discriminadas no caput prestarem informações à administração tributária após o termo final da mediação, aplicando-se aos seus servidores a obrigação de manterem sigilo das informações compartilhadas nos termos do art. 198 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. Art. 31. Será confidencial a informação prestada por uma parte em sessão privada, não podendo o mediador revelá-la às demais, exceto seexpressamente autorizado. CAPÍTULO II - DA AUTOCOMPOSIÇÃO DE CONFLITOS EM QUE FOR PARTE PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO Seção I Disposições Comuns Art. 32. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde houver, com competência para: I - dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração pública; II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de composição, no caso de controvérsia entre particular e pessoa jurídica de direito público; III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta. § 1º O modo de composição e funcionamento das câmaras de que trata o caput será estabelecido em regulamento de cada ente federado. § 2º A submissão do conflito às câmaras de que trata o caput é facultativa e será cabível apenas nos casos previstos no regulamento do respectivo ente federado. § 3º Se houver consenso entre as partes, o acordo será reduzido a termo e constituirá título executivo extrajudicial. 47 § 4º Não se incluem na competência dos órgãos mencionados no caput deste artigo as controvérsias que somente possam ser resolvidas por atos ou concessão de direitos sujeitos a autorização do Poder Legislativo. § 5º Compreendem-se na competência das câmaras de que trata o caput a prevenção e a resolução de conflitos que envolvam equilíbrio econômico-financeiro de contratos celebrados pela administração com particulares. Art. 33. Enquanto não forem criadas as câmaras de mediação, os conflitos poderão ser dirimidos nos termos do procedimento de mediação previsto na Subseção I da Seção III do Capítulo I desta Lei. Parágrafo único. A Advocacia Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, onde houver, poderá instaurar, de ofício ou mediante provocação, procedimento de mediação coletiva de conflitos relacionados à prestação de serviços públicos. Art. 34. A instauração de procedimento administrativo para a resolução consensual de conflito no âmbito da administração pública suspende a prescrição. § 1º Considera-se instaurado o procedimento quando o órgão ou entidade pública emitir juízo de admissibilidade, retroagindo a suspensão da prescrição à data de formalização do pedido de resolução consensual do conflito. § 2º Em se tratando de matéria tributária, a suspensão da prescrição deverá observar o disposto na Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. Seção II Dos Conflitos Envolvendo a Administração Pública Federal Direta, suas Autarquias e Fundações Art. 35. As controvérsias jurídicas que envolvam a administração pública federal direta, suas autarquias e fundações poderão ser objeto de transação por adesão, com fundamento em: I - autorização do Advogado-Geral da União, com base na jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal ou de tribunais superiores; ou II - parecer do Advogado-Geral da União, aprovado pelo Presidente da República. § 1º Os requisitos e as condições da transação por adesão serão definidos em resolução administrativa própria. 48 § 2º Ao fazer o pedido de adesão, o interessado deverá juntar prova de atendimento aos requisitos e às condições estabelecidos na resolução administrativa. § 3º A resolução administrativa terá efeitos gerais e será aplicada aos casos idênticos, tempestivamente habilitados mediante pedido de adesão, ainda que solucione apenas parte da controvérsia. § 4º A adesão implicará renúncia do interessado ao direito sobre o qual se fundamenta a ação ou o recurso, eventualmente pendentes, de natureza administrativa ou judicial, no que tange aos pontos compreendidos pelo objeto da resolução administrativa. § 5º Se o interessado for parte em processo judicial inaugurado por ação coletiva, a renúncia ao direito sobre o qual se fundamenta a ação deverá ser expressa, mediante petição dirigida ao juiz da causa. § 6º A formalização de resolução administrativa destinada à transação por adesão não implica a renúncia tácita à prescrição nem sua interrupção ou suspensão. Art. 36. No caso de conflitos que envolvam controvérsia jurídica entre órgãos ou entidades de direito público que integram a administração pública federal, a Advocacia- Geral da União deverá realizar composição extrajudicial do conflito, observados os procedimentos previstos em ato do Advogado-Geral da União. § 1º Na hipótese do caput, se não houver acordo quanto à controvérsia jurídica, caberá ao Advogado-Geral da União dirimi-la, com fundamento na legislação afeta. § 2º Nos casos em que a resolução da controvérsia implicar o reconhecimento da existência de créditos da União, de suas autarquias e fundações em face de pessoas jurídicas de direito público federais, a Advocacia-Geral da União poderá solicitar ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a adequação orçamentária para quitação das dívidas reconhecidas como legítimas. § 3º A composição extrajudicial do conflito não afasta a apuração de responsabilidade do agente público que deu causa à dívida, sempre que se verificar que sua ação ou omissão constitui, em tese, infração disciplinar. § 4º Nas hipóteses em que a matéria objeto do litígio esteja sendo discutida em ação de improbidade administrativa ou sobre ela haja decisão do Tribunal de Contas da União, a conciliação de que trata o caput dependerá da anuência expressa do juiz da causa ou do Ministro Relator. 49 Art. 37. É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, suas autarquias e fundações públicas, bem como às empresas públicas e sociedades de economia mista federais, submeter seus litígios com órgãos ou entidades da administração pública federal à Advocacia-Geral da União, para fins de composição extrajudicial do conflito. Art. 38. Nos casos em que a controvérsia jurídica seja relativa a tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil ou a créditos inscritos em dívida ativa da União: I - não se aplicam as disposições dos incisos II e III do caput do art. 32; II - as empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços em regime de concorrência não poderão exercer a faculdade prevista no art. 37; III - quando forem partes as pessoas a que alude o caput do art. 36: a) a submissão do conflito à composição extrajudicial pela Advocacia-Geral da União implica renúncia do direito de recorrer ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais; b) a redução ou o cancelamento do crédito dependerá de manifestação conjunta do Advogado-Geral da União e do Ministro de Estado da Fazenda. Parágrafo único. O disposto no inciso II e na alínea a do inciso III não afasta a competência do Advogado-Geral da União prevista nos incisos X e XI do art. 4º da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993. Art. 39. A propositura de ação judicial em que figurem concomitantemente nos polos ativo e passivo órgãos ou entidades de direito público que integrem a administração pública federal deverá ser previamente autorizada pelo Advogado-Geral da União. Art. 40. Os servidores e empregados públicos que participarem do processo de composição extrajudicial do conflito, somente poderão ser responsabilizados civil, administrativa ou criminalmente quando, mediante dolo ou fraude, receberem qualquer vantagem patrimonial indevida, permitirem ou facilitarem sua recepção por terceiro, ou para tal concorrerem. 50 CAPÍTULO III - DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 41. A Escola Nacional de Mediação e Conciliação, no âmbito do Ministério da Justiça, poderá criar banco de dados sobre boas práticas em mediação, bem como manter relação de mediadores e de instituiçõesde mediação. Art. 42. Aplica-se esta Lei, no que couber, às outras formas consensuais de resolução de conflitos, tais como mediações comunitárias e escolares, e àquelas levadas a efeito nas serventias extrajudiciais, desde que no âmbito de suas competências. Parágrafo único. A mediação nas relações de trabalho será regulada por lei própria. Art. 43. Os órgãos e entidades da administração pública poderão criar câmaras para a resolução de conflitos entre particulares, que versem sobre atividades por eles reguladas ou supervisionadas. Art. 44. Os arts. 1º e 2º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, passam a vigorar com a seguinte redação: "Art. 1º O Advogado-Geral da União, diretamente ou mediante delegação, e os dirigentes máximos das empresas públicas federais, em conjunto com o dirigente estatutário da área afeta ao assunto, poderão autorizar a realização de acordos ou transações para prevenir ou terminar litígios, inclusive os judiciais. § 1º Poderão ser criadas câmaras especializadas, compostas por servidores públicos ou empregados públicos efetivos, com o objetivo de analisar e formular propostas de acordos ou transações. § 3º Regulamento disporá sobre a forma de composição das câmaras de que trata o § 1º, que deverão ter como integrante pelo menos um membro efetivo da Advocacia- Geral da União ou, no caso das empresas públicas, um assistente jurídico ou ocupante de função equivalente. § 4º Quando o litígio envolver valores superiores aos fixados em regulamento, o acordo ou a transação, sob pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa autorização do Advogado-Geral da União e do Ministro de Estado a cuja área de competência estiver afeto o assunto, ou ainda do Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, de Tribunal ou Conselho, ou do Procurador-Geral da República, no caso de interesse dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário ou do Ministério Público da União, excluídas as empresas públicas federais não dependentes, que necessitarão apenas de prévia e expressa autorização dos dirigentes de que trata o 51 caput. § 5º Na transação ou acordo celebrado diretamente pela parte ou por intermédio de procurador para extinguir ou encerrar processo judicial, inclusive os casos de extensão administrativa de pagamentos postulados em juízo, as partes poderão definir a responsabilidade de cada uma pelo pagamento dos honorários dos respectivos advogados." (NR) "Art. 2º O Procurador-Geral da União, o Procurador-Geral Federal, o Procurador- Geral do Banco Central do Brasil e os dirigentes das empresas públicas federais mencionadas no caput do art. 1º poderão autorizar, diretamente ou mediante delegação, a realização de acordos para prevenir ou terminar, judicial ou extrajudicialmente, litígio que envolver valores inferiores aos fixados em regulamento. § 1º No caso das empresas públicas federais, a delegação é restrita a órgão colegiado formalmente constituído, composto por pelo menos um dirigente estatutário. § 2º O acordo de que trata o caput poderá consistir no pagamento do débito em parcelas mensais e sucessivas, até o limite máximo de sessenta. § 3º O valor de cada prestação mensal, por ocasião do pagamento, será acrescido de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente, calculados a partir do mês subsequente ao da consolidação até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento relativamente ao mês em que o pagamento estiver sendo efetuado. § 4º Inadimplida qualquer parcela, após trinta dias, instaurar-se-á o processo de execução ou nele prosseguir-se-á, pelo saldo." (NR) Art. 45. O Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, passa a vigorar acrescido do seguinte art. 14-A: "Art. 14-A. No caso de determinação e exigência de créditos tributários da União cujo sujeito passivo seja órgão ou entidade de direito público da administração pública federal, a submissão do litígio à composição extrajudicial pela Advocacia-Geral da União é considerada reclamação, para fins do disposto no inciso III do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional." Art. 46. A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comunicação que permita a transação à distância, desde que as partes estejam de acordo. 52 Parágrafo único. É facultado à parte domiciliada no exterior submeter-se à mediação segundo as regras estabelecidas nesta Lei. Art. 47. Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e oitenta dias de sua publicação oficial. Art. 48. Revoga-se o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997. Brasília, 26 de junho de 2015; 194º da Independência e 127º da República. DILMA ROUSSEFF José Eduardo Cardozo Joaquim Vieira Ferreira Levy Nelson Barbosa Luís Inácio Lucena Adamscausa insatisfação dos envolvidos e não gera qualquer evolução. Na guerra o indivíduo potencializa o conflito e, para ele, as pessoas que possuem pensamento diverso do seu são conspiradores, causadores de problemas e, enfim, seus inimigos. Geralmente leva para a violência moral ou física e, como reflexo, gera mais desarmonia. Na gerência, o indivíduo aceita o conflito como algo natural e legítimo e, a partir desta visão, procura identificar os pontos convergentes na busca de encontrar solução mais pacífica e equânime para todos. Quase sempre promove comprometimento, bem estar e evolução. De início, preponderava muito mais a negação e a guerra. Destaca-se que o Estado não estava tão “maduro” e preponderava a denominada autotutela, que se caracterizava pela “lei do mais forte”. Assim, naqueles tempos, quando porventura nascia um conflito social, as partes interessadas diretamente na sua solução, se mobilizavam através de combates, lutas individuais e guerras para que pudessem resolver um conflito pelo poder da força. Muitas vezes, a forma de resolução era injusta, porque não equilibrava e não tratava isonomicamente as partes envolvidas no conflito. Lembra ADA PELLEGRINI GRINOVER (2011, p. 29) de que: (...) quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação de sua pretensão. Tal regime foi denominado, então, de autotutela ou autodefesa, sendo fácil perceber como era o mecanismo de solução de conflitos precário e aleatório, porquanto não garantia a justiça, mas a vitória do mais forte, mais astuto ou mais ousado sobre o mais fraco ou mais tímido. E, complementa ainda, que: (..) apesar da enérgica repulsa à autotutela como meio ordinário para a satisfação de pretensões em benefício do mais forte ou astuto, para certos casos excepcionalíssimos a própria lei abre exceções à proibição. Constituem exemplos o direito de retenção (CC, arts. 578, 644, 1.219, 1.433, inc. II, 1.434 etc.), o desforço imediato (CC, art. 1210, § 1º), o direito de cortar raízes e ramos 4 de árvores limítrofes que ultrapassem a extrema do prédio (CC, art. 1.238), a autoexecutoriedade as decisões administrativas; sob certo aspecto, podem-se incluir entre essas exceções o poder estatal de efetuar prisões em flagrante (CPP, art. 301) e os atos que, embora tipificados como crime, sejam realizados em legítima defesa ou estado de necessidade (CP, arts. 24-25; CC, arts. 188, 929 e 930). Com a evolução dos tempos, surge, assim, a denominada autocomposição, que se consubstanciava pelo fato de que uma das partes em conflito, ou até mesmo ambas as partes, abrirão mão de um interesse ou de parte dele, com a finalidade de resolver de forma pacífica o conflito social. Não existia, assim, na autocomposição, a necessidade de um conflitante ser mais forte do que o outro para se resolver de forma pacífica o conflito social. No tocante à denominada autocomposição, JOSÉ DE ALBUQUERQUE ROCHA (1998, p. 33) arremata: (...) é o modo de tratamento dos conflitos em que a decisão resulta das partes, obtida através de meios persuasivos e consensuais, nisso residindo a diferença da autotutela, em que a decisão é imposta por uma das partes. Na autocomposição, sendo a decisão produzida pelas partes, seu grau de eficácia é elevado. Percebe-se que tanto no momento da denominada autotutela quanto na autocomposição, o Estado não era ainda muito forte, não interferindo assim diretamente na solução do conflito social, e então as próprias partes ainda resolviam o conflito. No entanto, com o início do fortalecimento estatal o que se viu foi a necessidade de se criar meio da interferência direta do Estado quando as partes não conseguiam uma composição, por exemplo. Nesse momento histórico que começam a surgir de uma forma embrionária e ainda incipiente, é verdade, as primeiras formas de arbitragem estatal, através da indicação de representantes, seja por nascerem com uma suposta proteção divina e, portanto, recairia sobre a sua pessoa a prerrogativa de julgar aquele conflito social, como era o caso dos sacerdotes em algumas sociedades primitivas, ou até mesmo dos anciãos, que recebiam uma autorização daquele corpo social para resolver uma controvérsia por ser considerada a pessoa mais velha e, assim, mais experiente daquela sociedade primitiva. 5 No entanto, na medida em que o Estado foi se tornando cada vez mais forte, sua interferência também passa a ser mais direta, ocorrendo o surgimento das denominadas arbitragens facultativas e obrigatórias, que se caracterizavam, em síntese, pela existência da figura do árbitro, que de uma forma ainda muito tímida exercia a função que os juízes exercem atualmente, não com as mesmas garantias hoje conferidas aos membros do Poder Judiciário, mas já na condição de legítimos representantes do Estado. Todavia, em que pese à participação do Estado de uma forma já direta, como se falou alhures, em um dado momento histórico, mostrou-se ser indispensável à criação da figura de um representante do Estado para que efetivamente pudesse exercer a função de apreciador e julgador de um conflito social, e, assim sendo, surge o Poder Judiciário e a figura do juiz, que ao longo dos anos de sua consolidação como agente público responsável pela resolução das lides ou das controvérsias sociais, pudesse efetivamente encontrar uma solução para o conflito, mas de uma forma mais eqüidistante das partes litigantes, agindo de forma isonômica. Sob tal ótica, consolida-se a denominada Jurisdição, que se consubstancia pelo poder/dever que o Estado-Juiz tem para aplicar o direito ao caso concreto, solucionando as lides. Portanto, as decisões dos conflitos foram transferidas quase que exclusivamente à submissão do poder estatal, as partes deixaram quase que integralmente de influenciar de uma forma direta na resolução dos conflitos, transferindo à apreciação exclusiva do Estado a forma de se resolver a controvérsia. Entretanto, talvez em virtude de tal exclusividade, foram se instituindo os denominados mecanismos alternativos de resolução dos conflitos sociais, com uma alternativa à interferência exclusiva do Estado na resolução das lides. Tais mecanismos mostraram-se eficazes na solução das controvérsias, e inclusive muitas vezes mais rápidos na solução da controvérsia. Foi, assim, sob o manto da celeridade que meios alternativos começaram a se fortalecer, influenciados também por normativos pátrios ou até mesmo internacionais, como bem disse ROBERTO PORTUGAL BACELLAR (2012, p. 43) ao afirma o seguinte: As Convenções Internacionais, que tem o Brasil como um dos países signatários, como se observa no Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos), de 1969, faz previsão de que toda pessoa tem direito de ser ouvida com as garantias e dentro de um prazo razoável. 6 Sem dúvida, a morosidade do Judiciário, causada por motivos diversos como volume gigantesco de processos e excesso de recursos, em muitos casos influenciou o surgimento e a concretização de meios de soluções de conflitos considerados uma alternativa à Jurisdição, porquanto passaram a demonstrar ser mais eficazes e céleres, máxime pelo fato também de pautaram seus atos por medidas informais e decididas pelas próprias partes litigantes em muitos casos ou situações. Destarte, é sob o âmbito de tal contexto fático e histórico, que nascem as denominadas arbitragem, conciliação, negociação e a mediação como mecanismos alternativos ou consensuais à pacificação do conflito social. Com o surgimento de tais mecanismos, se mostrará que houve uma maturidade da Sociedade, posto que se conseguiu manter ainda sob o manto do Poder Judiciário a resolução das querelas de natureza mais grave, fortalecendo tais mecanismos de pacificação socialcomo alternativa concreta e direta a interferência estatal em controvérsias mais simples. A seu turno, em todas as situações é indispensável a existência do gerenciador de conflitos, que deverá ter as seguintes características prioritariamente: a humildade; o saber ouvir; a empatia (colocar-se na situação hipotética do outro); o bom senso; o afastamento da visão pessoal (sentimento de dono da verdade). No tópico 1.2 iremos continuar o aprendizado destacando os chamados meios alternativos de resolução de conflitos e procurando entendê-los como complemento da função jurisdicional do Estado. 1.2. Mecanismos Alternativos ou Consensuais de Resolução dos Conflitos Sociais Os métodos alternativos de resolução de disputa, conhecidos por uma sigla em inglês como ADR (Alternative Dispute Resolution), ou sua sigla em espanhol RAD (Resolución Alternativa de Disputas), ou conforme denominação que começa a ser empregada no Brasil – MARC (Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos) consolidam algumas formas de resolução de disputas sem a intervenção de Autoridade Judicial, tornando assim, muitas vezes, a solução de um conflito social mais célere e econômica às partes. 7 Assinale-se, por oportuno, que os meios alternativos ou consensuais de resoluções de conflitos não são contrários ou antagônicos ao Poder Judiciário, funcionando, na verdade, como mecanismos auxiliares, porquanto cada vez mais tem se atribuído a sua devida importância e concretizando tais meios como forma de pacificação social. Com efeito, é importante destacar que a Justiça não se restringirá mais à administração do Estado-juiz, contemplando, assim, outros meios que possibilitem a resolução de conflitos frente à difícil realidade brasileira, portanto, não seriam tais mecanismos uma afronta ao princípio do acesso à Justiça ou da Inafastabilidade da Prestação Jurisdicional, preconizado no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal de 1988, resumindo-se pelo fato de que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça de direito, mas, sobretudo, meios complementares a tal concretização. O próprio Conselho Nacional de Justiça (C.N.J.), instituído no âmbito do Poder Judiciário pela Emenda Constitucional nº 45 do ano de 2004, a quem foi atribuído constitucionalmente o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como o zelo pela observância do art. 37 da Constituição da República, editou a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, onde admitiu, dentre outros aspectos, a necessidade de o Judiciário organizar e uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar disparidades de orientação e práticas, assegurando, assim, a boa execução das políticas públicas respeitadas as especificidades de cada segmento da Justiça. Nesse diapasão, esclarece JOSÉ LUIS BOLZAN DE MORAIS (2003, pags. 80-81), que: A justiça consensual em suas várias formulações – na esteira das ADR americano, shadow justice ou da justice de proximité francesa – aparece como resposta ao disfuncionamento deste modelo judiciário, referindo a emergência/recuperação de um modo de regulação social que, muito embora possa, ainda, ser percebida como um instrumento de integração, apresenta-se como um procedimento geralmente formal, através do qual um terceiro busca promover as trocas entre as partes, permitindo que as mesmas se confrontem buscando uma solução pactada para o conflito que enfrentam. Dentre os ditos mecanismos alternativos ou consensuais, podemos citar a arbitragem, a negociação, a conciliação, e o objeto principal do presente estudo, no caso 8 a mediação de conflitos, que vem se mostrando de extrema relevância na sociedade, nos mais diversos ramos, inclusive na seara policial como se demonstrará de forma prática. Sob tal ótica, firma entendimento LILIA MAIA DE MORAIS SALES (2007, p. 40), que: A mediação, a negociação, a conciliação e a arbitragem são meios alternativos de solução de conflitos. Inicialmente faz-se necessário explicar o termo alternativo. Não se deve limitar ao entendimento de se apresentarem como alternativas à jurisdição tendo em vista os inúmeros problemas enfrentados pelo Poder Judiciário, mas como alternativas à sociedade para a solução dos conflitos. Para tipos de conflitos diferentes, apontam-se mecanismos de solução distintos. Negociação, conciliação, mediação, arbitragem e Poder Judiciário são alternativos à solução de controvérsias, das quais a sociedade dispõe. O termo alternativo no tocante à essa matéria é utilizado comumente para designar apenas formas de solução de conflitos que não a tradicional (Poder Judiciário). Assim, quando se fala em alternativo, há o objetivo de afirmar que tais mecanismos saem do modelo tradicional de solução do conflito social, geralmente representado pela Jurisdição, apresentando-se com meios muitas vezes mais eficazes de resolução de certos conflitos sociais, com participação ativa e efetiva das partes litigantes, onde tendem a optar voluntariamente por tais meios, posto que elas próprias encontrem de forma ativa ou mediante pessoas que porventura indiquem ou escolham, a solução para o conflito social. 1.3. A Arbitragem A Arbitragem é regulada por legislação específica no caso a Lei nº 9.307/96, também conhecida por Lei de Arbitragem, legislação que trouxe em seus artigos todo o funcionamento e processamento da arbitragem no Brasil, alterada recentemente pela Lei nº 13.129, de 26 de maio de 2015. Desta forma, a própria Lei preceitua que pessoas capazes de contratar podem celebrar convenção de arbitragem para dispor e resolver controvérsias jurídicas envolvendo direitos patrimoniais disponíveis. Para tanto, as partes poderão escolher um ou mais árbitros de sua confiança, para que processem o feito colocado à apreciação, sendo equiparados a servidores públicos para todos os fins de direito. 9 Ponto relevante a ser considerado é que após instituição da arbitragem, a parte demonstra que está abdicando a apreciação do feito pelo Poder Judiciário, não necessitando inclusive que a sentença arbitral seja homologada judicialmente. É tanto que o árbitro ou árbitros serão de livre escolha das partes litigantes, e prolatará uma decisão que não necessitará de homologação, ou seja, confirmação do Poder Judiciário para ter validade jurídica e os respectivos efeitos. De conseguinte, a arbitragem resolve a controvérsia atacando diretamente o centro do conflito, servindo para resolver litígios que envolvam direitos patrimoniais disponíveis, que aqueles que poderão ser objeto de disposição por seu titular como questões comerciais e industriais de modo geral, questões condominiais e imobiliárias, questões pecuárias e agrárias, questões de trânsito de veículos automotores, questões do consumidor, questões de transportes, dentre outras. Segundo já decidiu o Supremo Tribunal Federal ao declarar a constitucionalidade da Lei mediante o Ag. Reg. SE 5.206-7, a instituição da arbitragem não viola ao Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, conforme o qual na forma preceituada no art. 5º, XXXV, estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, inclusive já mencionado acima. Destarte, o Supremo decidiu que a Lei de Arbitragem não viola o mencionado preceito constitucional, apesar da impossibilidade de o Poder Judiciário interferir, em regra, no procedimento arbitral, a não ser na hipótese de decretação de nulidade da sentença arbitral, à luz do art. 33, caput, da Lei nº 9.307/96, tendo, por sua vez, em regra, o prazo de 90 (dias) para ser devidamente demandada consoante o § 1º do referido artigo. No magistério de JOSÉ DE ALBUQUERQUE ROCHA (2012, pags. 267 e 268), a arbitragem: (...) tal como prevista na lei brasileira, é o exercícioda jurisdição desenvolvida por agentes privados, árbitro ou árbitros, instituídos por sujeitos também privados e instâncias públicas, vez que a atividade dos árbitros e seus efeitos é, em parte, regulados pelo direito público, indisponível às partes, regime jurídico caracterizador do exercício do poder público. 10 Na arbitragem, existe assim a figura de um terceiro imparcial, neste caso o árbitro que funciona como um Juiz do conflito social, uma vez que o decide, exarando um a decisão denominada de sentença arbitral. Não é necessário curso de habilitação de arbitragem para figurar como árbitro, mas uma pessoa geralmente com expertise na área em conflito, e que é livremente escolhido pelas partes litigantes. Por conseguinte, um dos pontos mais relevantes trazidos pela Lei nº 13.129/2015 ao alterar a conhecida Lei de Arbitragem foi admitir que a administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis. 1.4. Negociação O mecanismo consensual ou alternativo denominado de negociação ocorre no âmbito dos conflitos empresariais, caracterizando-se basicamente pela inexistência de um terceiro, sendo que o conflito é resolvido pelas próprias partes envolvidas. Ao conceituar a negociação, enquanto mecanismo consensual ou alternativo de resolução de conflitos, diz LÍLIA MAIA DE MORAIS SALES (2007, págs. 41-42) que: A negociação é o meio de solução de conflitos em que as pessoas conversam e encontram um acordo sem a necessidade da participação de uma terceira pessoa como ocorre na mediação. (...) A negociação pode ser informal, ou seja, as pessoas conversam , chegam a um acordo e não assinam qualquer documento – nesse caso não se tem como cobrar judicialmente o que foi objeto do acordo. Também pode ser um ato formal, se depois da negociação, por exemplo, for celebrado um contrato. Nesta situação, em face do descumprimento do que foi negociado, pode um das partes exigir perante o Poder Judiciário que seja cumprido o acordo. Portanto, o aspecto mais relevante da negociação é no sentido de que não há necessidade de intervenção de uma terceira pessoa como ocorre em outros mecanismos consensuais ou alternativos de resolução de conflitos, sendo, assim, um meio de solução pelas próprias partes litigantes. 11 1.5. Conciliação A conciliação, ao seu turno, consubstancia-se por ser uma forma de resolução do conflito através da intervenção direta de uma terceira pessoa, denominado comumente de conciliador, o qual apontará soluções para a controvérsia, depois de ouvir as partes litigantes. Geralmente está relacionada aos tipos de conflitos sem vínculo emocional entre as partes. Na conciliação, o conciliador tem uma participação ativa na solução da disputa, considerando que opinará, ofertando assim as partes litigantes meios de resolução de conflito de forma amigável, sem a necessidade da busca do Estado-Juiz para resolver a controvérsia. É verdade que para a conciliação ter força de título executivo, é indispensável que seja objeto de homologação judicial, ou seja, que a Justiça confirme o acordo porventura celebrado. No entanto, mesmo assim, não perde assim a característica de meio consensual ou alternativa de solução de conflitos sociais. De tanta importância e relevância na solução de conflitos sociais, a conciliação é regra na Justiça do Trabalho, cujo órgão do Poder Judiciário é inclusive conhecido como a Justiça da Conciliação ou do acordo, uma vez que em qualquer momento do processo trabalhista poderá ser viabilizada a conciliação. No âmbito civil, a Conciliação passou a ser regra com edição da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, que instituiu o Novo Código de Processo Civil no Brasil, ao estabelecer em seu art. 3º, § 3º, que a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso de processo judicial. Estabeleceu, ainda, o novel Diploma Normativo que o conciliador atuará, preferencialmente, nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, como, por exemplo, nas questões contratuais e consumeristas. De outra banda, foi dito que medição será preferencialmente utilizada nos casos em que existir vínculo anterior entre as partes, como, por exemplo, nas questões de família. Demais disso, os Juizados Especiais Cíveis e Criminais Estaduais são considerados os meios jurisdicionais eminentemente voltados à conciliação, como também nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, onde também coexiste a 12 predominância da conciliação nas causas de competência da Justiça Federal sujeitos ao Juizado Especial, conforme interpretação do art. 3º, Lei nº 10.259/2001. Há também no âmbito jurisdicional as intituladas Comissões de Conciliação Prévia da Justiça do Trabalho, assim como a Conciliação em matéria criminal, que se concretizam mediante os institutos da transação penal e da composição dos danos civis, geram os mesmos efeitos relacionados à conciliação. Admite-se também no nosso Ordenamento Jurídico a Conciliação extraprocessual, quando se permite o acordo extrajudicial, quando efetivamente a conciliação é realizada fora das estruturas inerentes ao Poder Judiciário no Brasil, mas como já se disse, nesse caso para ter força de título executivo faz-se mister que o acordo celebrado seja homologado perante o Juiz. De pronto, já se poderá perceber que a conciliação e a mediação são muito semelhantes, no entanto, com uma linha tênue de diferença, representada assim pelo fato de que na conciliação, o conciliador será parte ativa na resolução da disputa, ao tentar demonstrar o melhor às partes na sua solução, ao contrário da mediação, em que o mediador terá como um dos seus objetivos primordiais, a pacificação do conflito social através da facilitação do diálogo até então inexistente. Nesse momento, é importante trazer a título ilustrativo o posicionamento sustentado por MARIA DO CARMO MOREIRA CONRADO (2003, p. 87), ao apregoar que: Na conciliação, o terceiro aconselha, sugere e propõe soluções, mas a decisão nasce da vontade das partes. Em nosso ordenamento jurídico, visualiza-se conciliação extrajudicial e judicial, sendo esta última, disposta, por exemplo, no art. 331 do CPC, na audiência preliminar, englobando direitos, mesmo que indisponíveis. Na conciliação, assim vai existir a figura de um terceiro imparcial, no caso o conciliador que também não decide o conflito social, mas aponta às partes os melhores meios de solução daquele conflito social apresentado, no entanto, como se verá, o mediador não interfere e nem se posiciona, mas somente facilita o diálogo entre as partes litigantes. Para afunilar ainda mais vosso aprendizado, interessante o exercício de fixação abaixo, pois, assim, facilita-se a revisão do conteúdo até aqui proposto. 13 Exercício de Fixação: 01) Quais são os mecanismos primitivos de resolução de conflitos? 02) O que vem influenciando o crescimento dos denominados mecanismos alternativos de resolução de conflitos, em substituição à Jurisdição? 03) Quais as principais características do gerenciador de conflitos? 04) Quais mecanismos alternativos ou consensuais de resolução de disputas são admitidos pelo Ordenamento Jurídico Pátrio? 05) Quais são as principais características da arbitragem, da conciliação e da negociação? UNIDADE 2 – A MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA CONSENSUAL À RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS: 2.1. Noções e Conceitos Gerais de Mediação de Conflitos A história da mediação de conflitos no Brasil, como mecanismo alternativo ou consensual de resolução de conflitos ou disputas remonta a um passado muito recente, notadamente nos primeiros anos da década de 90, quandoestudiosos de outros países, notadamente europeus e americanos, passaram a proferir palestras apresentando a eficiência da mediação de conflitos, máxime pelo fato de fazer com que as partes participassem ativamente na busca de alternativas e soluções viáveis na resolução de um conflito social. Segundo já se apresentou de forma preliminar alhures, a mediação configura-se pela participação de uma terceira pessoa no processo de resolução dos conflitos extrajudicial e de forma pacífica, com a busca de uma solução encontrada pelas próprias partes litigantes, objetivando facilitar o diálogo entre elas. Com efeito, na mediação, a terceira pessoa não intervém diretamente, deixando que os próprios envolvidos encontrem uma solução para a controvérsia jurídica. Afigura-se extremamente relevante para o sucesso do processo de mediação, que o mediador tenha a expertise e a paciência de fazer com que as pessoas reflitam e encontrem, elas próprias, uma solução do conflito social, colocando-se muitas vezes no lugar do outro. 14 Arremata, por conseguinte, LÍLIA MAIA DE MORAIS SALES (2007, p. 23) que: A mediação é um procedimento consensual de solução de conflitos por meio do qual uma terceira pessoa imparcial – escolhida ou aceita pelas partes – age no sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma divergência. As pessoas envolvidas nesse conflito são responsáveis pela decisão que melhor as satisfaça. A mediação representa assim um mecanismo de solução de conflitos utilizado pelas próprias partes que, movidas pelo diálogo, encontram uma alternativa ponderada, eficaz e satisfatória. O mediador é a pessoa que auxilia na construção desse diálogo. Em seu magistério, aduz ROBERTO PORTUGAL BACELLAR (2012, p. 85): Como uma primeira noção de mediação, pode-se dizer que, além de processo é arte e técnica de resolução de conflitos intermediada por um terceiro mediador (agente público ou privado) – que tem por objetivo solucionar pacificamente as divergências entre pessoas, fortalecendo suas relações (no mínimo, sem qualquer desgaste ou com o menor desgaste possível), preservando os laços de confiança e os compromissos que os vinculam. Para fixar ainda mais os entendimentos preliminares acerca da mediação de conflitos, DAYSE BRAGA MARTINS (2003, p. 53), diz que: A mediação oferece ao indivíduo a possibilidade de crescimento pessoal e social ao propiciar a prática do diálogo, do respeito ao próximo e do tratamento do problema. Desta forma, o cidadão amplia seus horizontes, pois sai do seu mundo individual e enxerga a existência de outros interesses conflitantes, que podem ser tão legítimos quanto os seus. Em muitas ocasiões, o conflito nasce pelas dificuldades com que às partes têm de dialogar, sendo indispensável assim que um terceiro venha e influencie na facilitação do diálogo entre os agentes. De efeito, a mediação funciona como uma ponte de facilitação do diálogo e pacificação social. Nesse sentido, o próprio Conselho Nacional de Justiça (C.N.J.), responsável pelo controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como por zelar pela observância do art. 37 da Constituição da República, e, se for o caso, inclusive, editando normas complementares a serem observadas pelos órgãos jurisdicionais, editou 15 a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, onde estabeleceu entre os seus ditames, que a conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e que a sua apropriada disciplina em programas já implementados no país tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças. Da mesma forma, o novo Código de Processo Civil Brasileiro – Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 – que passou a vigorar a partir de março de 2016, conferiu a devida importância à mediação de conflitos, a inseriu de forma expressa no Ordenamento Jurídico Normativo Pátrio, quando estabeleceu que sua aplicação deverá ser estimulada pelos juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. No que tange a questão normativa também merece destaque a Lei Federal nº 13.140, de 26 de junho de 2015, publicada no Diário Oficial da União de 29 de junho de 2015. Esta Lei dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Conforme a própria disposição desta Lei, ficou instituído que ela entrará em vigor no prazo de 180 dias a contar da sua publicação no Diário Oficial da União - DOU, destacando que foi publicada no D.O.U. em 29 de junho de 2015. Pode-se alocar com destaque a questão da mediação extrajudicial e da mediação judicial, ou seja, propõe-se que os próprios tribunais, criarão espaços próprios para mediação conforme se depreende do artigo 24 da Lei última citada, senão vejamos: Art. 24. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, pré-processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. Ao final deste material apresenta-se com anexo o texto integral do sobredito Diploma Normativo, para que se possa desde já afeiçoar-se com os novos horizontes que se avizinham para a mediação de conflitos. Em relação à aplicação da mediação de conflitos no âmbito do processo judicial, já ponderava DÉBORAH KÁTIA PINI (2003, pág. 46): 16 Vale ressaltar que o Poder Judiciário tem como finalidade fazer valer a Lei, dizendo o Direito mediante as Decisões, procurando promover a paz social. Assim, as decisões proferidas devem, de fato, dirimir o conflito existente, justamente para que a soberania do Estado e a tranqüilidade social prevaleçam. Daí a grande importância, no procedimento judicial, ou até mesmo anterior a este, que os litigantes procedam, quando possível, ao trabalho de mediação, para que as decisões judiciais sejam efetivadas no mundo exterior. De efeito, a mediação é vantajosa por não se limitar diretamente à resolução da lide, mas com objetivos bastante delineados de facilitar o relacionamento entre as pessoas, com sua preservação empós a solução do conflito. Entende-se, assim, que mediação inter-relaciona-se com princípios de várias ciências, tais como o Direito, a Psicologia, a Filosofia e a Antropologia e ainda com uma abordagem mais ampla do conflito social apresentado. Na mediação, por conseguinte, existirá a figura do mediador que, por sua vez, não decidirá o conflito social apresentado pelos envolvidos, mas tentará pacificá-las, facilitando o diálogo entre eles, o que sequer existia, porquanto os litigantes naquele conflito social não mantinham qualquer forma de diálogo. Nesse diapasão, firmou posição CÉLIA REGINA ZAPPAROLLI (2003, p. 52): A mediação, como procedimento, visa à facilitação às partes envolvidas em um conflito, à administração pacífica desse conflito por si própria. Ou seja, uma pessoa capacitada e neutra, o mediador, usa de técnicas específicas de escuta, de análise e definição de interesses que auxiliam a comunicação dessas partes, objetivando a flexibilização de posições rumo a opções e soluções eficazes a elas e por elas próprias. Portanto, vê-se que a mediação de conflitos difere um pouco dos demais mecanismos consensuais ou alternativos de resolução de conflitos sociais, uma vez que se buscará, sobretudo, a facilitação do diálogo, inexistindo, portanto, qualquer decisão ou interferência direta na busca de soluções para o conflito social, mas as próprias partes procurarão respostas para a controvérsia. 17 2.2. Princípios da Mediação de Conflitos Os princípios são considerados a baseou alicerce de qualquer sistema jurídico, servindo, portanto, de fundamento para delinear o Ordenamento Jurídico. Nessa ótica, são invocados como princípios da mediação segundo a Lei nº 13.140/2015: autonomia da vontade das partes; busca do consenso; a imparcialidade do mediador; confidencialidade; isonomia entre as partes; oralidade; informalidade e boa-fé. No que tange a autonomia da vontade das partes, infere-se que os envolvidos são livres para optar pela mediação de conflitos, por isso é considerada como mecanismo consensual ou alternativo de solução de disputas, uma vez que é facultada à parte interessada a opção por tal meio de resolução de controvérsia, não sendo ninguém obrigado a atender inclusive os seus chamados ou convites para participação das sessões de mediação, que transcorreram na forma também definida pelas mediadas. Outro princípio relevante a configurar a mediação de conflitos, segundo expressa determinação legal, é a busca do consenso, ou seja, não há na mediação de conflitos parte autora, no pólo passivo da demanda, e parte ré no ativo, mas sim interessados ou mediados, porquanto as partes não competirão entre si, mas tentaram dialogar, para, conjuntamente, encontrarem uma solução para o conflito social, sendo assim, os envolvidos é que decidem e não o mediador, já que este serve tão-somente para intermediá-lo, suscitando questões a serem dirimidas pelas próprias partes. Um princípio relevante também para configurar a mediação seria a imparcialidade do mediador, o qual funcionará como facilitador do diálogo até então inexistente no conflito, entretanto, não apontará soluções como ocorre como o conciliador e, sim deixará que as próprias pessoas façam uma reflexão do conflito apresentado, e encontrem meios de pacificá-lo sem a obrigatoriedade da participação direta do Estado- Juiz. Com muita propriedade pontifica SANDRA MARA VALE MOREIRA (2003, pág. 205): Obedece o mediador aos princípios éticos de independência, imparcialidade, competência, discrição e diligência, procurando centrar o foco das discussões no problema e não nas pessoas. Busca desarmar as posições de confronto assumidas pelas partes e descobrir os reais interesses por trás do conflito, detectando-os para trabalhar a cooperação entre as partes. Deve, através de questionamentos, dirigir as partes para que elas próprias identifiquem e 18 externem o real problema que, porventura, esconde-se por trás do discurso inicialmente apresentado. A confidencialidade do processo é aspecto imprescindível, já que, os “problemas” trazidos à mesa de mediação muitas vezes envolvem aspectos familiares íntimos, relacionamento de vizinhos e valores patrimoniais que, precisam ser preservados para que não tragam ainda mais insatisfação e “guerra”. Desta maneira apregoa-se na mediação que tudo será mantido, em regra, em sigilo, a não ser se as partes o autorizarem. O princípio da isonomia entre as partes configura-se pela busca de se tratar igualmente os mediados, não privilegiando um deles em detrimento do outro. Desse modo, é importante destacar isso aos mediados, para que entendam que na mediação as partes além de autônomas devem receber tratamento isonômico. Com a instituição do princípio expresso da oralidade, o legislador infraconstitucional quis deixar evidente que na mediação deverá ser priorizada a comunicação verbal, e somente será registrado algum ato realizado através da forma escrita na hipótese das partes pretenderam homologar tal ato judicialmente ou então caso assim optarem expressamente, por exemplo. No princípio da informalidade, pretendeu-se, a bem da verdade, estabelecer também expressamente o que já era um entendimento corriqueiro dentre os estudiosos da mediação de conflitos, no sentido de que na sessão de mediação, não existe um forma previamente estabelecida, mas tudo ali deverá ser conduzido de maneira informal pelos mediados e o mediador. Por fim, o princípio da boa-fé simplesmente tem o condão de se firmar o entendimento de que a mediação não poderá ser utilizada para fins de vingança ou intimidação da outra parte, e nem tampouco de forma falaciosa ou falseando a verdade, mas sim como mecanismo eficiente à pacificação social e resolução de conflitos. Feita a abordagem acerca dos princípios, passemos a observar alguns dos objetivos da mediação de conflitos. 19 2.3. Objetivos de Mediação De Conflitos Antes de adentrar diretamente nos objetivos da mediação de conflitos, é interessante dizer que, dada a amplitude de alcance desta modalidade de solução alternativa de resolução de controvérsias, não se pode esgotar os objetivos, finalidades ou benefícios, entretanto, interessantes para o aprendizado estudar alguns deles, neste sentido, válido observar o magistério de LÍLIA MAIA DE MORAIS SALES (2007, p.34): A solução de conflitos, por meio da facilitação do diálogo, configura-se no objetivo mais evidente da mediação. O diálogo, que é o caminho a ser seguido para se alcançar essa solução, deve ter como fundamento a visão positiva do conflito, a cooperação entre as partes e a participação do mediador como facilitador dessa comunicação. Dentre os objetivos da mediação pode-se destacar: solução de conflitos; prevenção da má administração de conflitos; inclusão social e paz social. Sem dúvida, o primeiro objetivo da mediação é solucionar o conflito através de uma participação ativa e direta dos envolvidos, fazendo com que eles próprios encontrem soluções às controvérsias apresentadas. Não obstante tal aspecto, o conflito somente passou a existir porque foi de alguma forma mal administrado, e é nesse momento que surge a mediação de conflitos como mecanismo eficaz para gerência da controvérsia, atuando como instrumento de prevenção da má administração de conflitos. Nesse aspecto, ressalta com propriedade LÍLIA MAIA DE MORAIS SALES (2003, p. 132): A mediação, por suas características, possui como objetivos a solução e a prevenção de controvérsias, a inclusão e a paz social. Solução e prevenção de conflitos (prevenção da má administração de problemas), quando determina o diálogo pacífico como meio de discussão, incentivando a cooperação e a solidariedade entre as partes. Inclusão social, quando estimula a participação ativa dos indivíduos na busca pelo entendimento pela decisão do caso, além de representar acesso à Justiça. Objetiva, por fim, a paz social, visto que previne a má administração dos conflitos, já que entende o conflito como algo próprio do ser humano e necessário para o progresso das relações, estimulando a comunicação pacífica e ainda conscientiza os indivíduos da sua 20 responsabilidade individual e social, já que recai sobre eles a responsabilidade pela decisão e cumprimento do discutido. Com efeito, a inclusão e a paz social, que, na verdade, se complementam, fortalecem o sentido de que através da mediação de conflitos procura-se pacificar a sociedade, já que, as próprias pessoas envolvidas encontram respostas à solução da controvérsia. Vistos estes objetivos, no próximo tópico iremos observar a importância do mediador e quais competências que deve dotar-se. 2.4. Características do Mediador O mediador, como já se disse, funciona como a pessoa responsável para intermediar o conflito social, para tanto, não é indispensável que se submeta a algum curso ou habilitação prévia, também não é necessário curso superior, diploma ou certificado para exercer tal mister, mas, a bem da verdade, a doutrina que discute o assunto sustenta que o bom mediador deverá ser detentor das seguintes características: empatia; paciência; inteligência; criatividade; confiabilidade; humildade; objetividade; habilidade na comunicação e imparcialidade em relação ao processo e ao resultado. No tocante a figura do mediador, pondera JUAN CARLOS VEZZULLA (2003, pág. 116):Consulta-se um mediador para que não se resolva nem diga o que deve ser feito. Pelo contrário, pede-se a intervenção de um mediador para que facilite o exercício da autodeterminação, para que possibilite a abordagem de um conflito conhecido e por meio do trabalho dos próprios mediados se consigam soluções desejadas e satisfatórias que podemos dizer já estavam em estado de latência, aguardando serem despertadas. Não obstante o disposto no parágrafo anterior é válido ressaltar que quando entrar em vigor a Lei nº 13.140, de 26.06.2015, já abordada em nosso estudo, haverá pode-se dizer dois tipos de mediador, quais sejam: o mediador extrajudicial e o mediador judicial, sendo que, para este último será exigido dentre outros curso superior e capacitação específica. Para perceber melhor esta questão observemos os artigos 9º , 10 e 11 da Lei, senão, vejamos: 21 Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos. Parágrafo único. Comparecendo uma das partes acompanhada de advogado ou defensor público, o mediador suspenderá o procedimento, até que todas estejam devidamente assistidas. [.....] Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça. Com efeito, o mediador deverá ter, sobretudo, a chamada escuta ativa. ESCUTA ATIVA A excelência no saber ouvir é tecnicamente conhecida como “Escuta ativa”, ou seja, deixar os envolvidos livres para falar (respeitando-se). Demonstrar-se realmente interessado, com atenção e respeito ao que é colocado. Valorizar as colocações e parabenizar os possíveis elogios que as pessoas façam entre si. Enfim é doar-se e acolher os envolvidos. Agora iremos observar nitidamente a prática operacional da mediação de conflitos, conforme pontos a seguir. 22 2.5. Procedimentos da Mediação de Conflitos No processo de mediação, o mediador deverá adotar alguns procedimentos, que evidentemente poderão ser alterados a critério das partes, tais como: a) descrever o processo de mediação para as partes é importante, logo no início da sessão de mediação, indicar e esclarecer às partes como funciona o instituto da mediação, os efeitos positivos que poderá trazer no sentido de resolver de forma consensual e amigável o conflito social apresentado; b) definir, com os mediados, todos os procedimentos pertinentes ao processo o mediador, além de tentar intermediar o conflito social, visando a sua pacificação, deverá compartilhar com as partes o melhor procedimento a ser utilizado na sua solução; c) esclarecer quanto ao sigilo dizer também logo às partes mediadas que os debates ou soluções apresentadas pelas partes não serão objeto de publicidade, mas ficarão sujeitas ao sigilo; d) assegurar a qualidade do processo, utilizando todas as técnicas disponíveis e capazes de levar a bom termo os objetivos da mediação poderão ser utilizadas nos procedimentos relacionados à mediação de conflitos a gravação, a digitalização, elaboração de ata com a síntese do que foi discutido, além de outros métodos que sirvam a busca integralmente a pacificação social e a facilitação do diálogo das partes ; e) sugerir a busca e/ou participação de especialistas na medida em que suas presenças se façam necessárias a esclarecimentos para a manutenção da equanimidade nada obsta que se as partes ou os mediadores não conseguirem esclarecer dúvidas técnicas relacionadas ao conflito social apresentado pelas partes, que seja elaborado um laudo pericial por um experto, tratando das questões mais técnicas ali delineadas; f) interromper o processo frente a qualquer impedimento ético ou legal se o mediador constatar a necessidade de interrupção do procedimento de mediação, poderá evidentemente interromper a sessão e remarcá-la para outra data; g) suspender ou fiscalizar a mediação quando concluir que sua continuação possa prejudicar qualquer dos mediados ou quando houver solicitação das partes demonstrar- se-á às partes que aquilo conflito social não tem condições de sujeitar-se aos parâmetros da mediação de conflitos; 23 h) fornecer às partes, por escrito, as conclusões da mediação quando por elas solicitado poderão ser elaborado pelo mediador um documento por escrito e entregue às partes, contendo um resumo do que foi resolvido na sessão de mediação de conflitos. Todas as ações acima apresentadas apresentam-se bem postadas no que se chama de Pré-mediação e Fases da Medição de Conflitos, o que passamos a reproduzir e que conduzirão ao aprendizado e visualização ainda mais completo. Como visto a mediação trata-se de um procedimento que não obstante buscar o caminho da simplicidade e da desburocratização para solução do conflito, precisa ser trabalhado com técnica segura e roteiro estabelecido. Por meio de experiências vivenciais diversas, os estudiosos chegaram a um consenso acerca de um processo ideal de mediação que passa por duas etapas: Pré-mediação e Mediação. Pré-mediação O mediador realiza uma conversa separadamente com cada envolvido para que tenha conhecimento do conflito do ponto de vista deles. Aqui também é explicado o que é o processo de mediação e abre-se o leque para a confiança mediador-mediados. Mediação A mediação por sua vez divide-se em quatro fases: Primeira Fase O mediador abre a palavra para os envolvidos falarem qual o conflito e suas causas; Segunda Fase O mediador faz um resumo do que escutou solicitando que os mediados intervenham se algo estiver fora do contexto 24 Terceira Fase O mediador, sem impor qualquer obrigação, solicita dos mediados que apresentem soluções para o conflito e instiga a busca pelo caminho mais benéfico para ambos; Quarta Fase O mediador com o consenso dos envolvidos materializa por escrito a decisão que eles mesmos tomaram. Para que o mediador consiga proporcionar aos envolvidos a possibilidade de dialogar entre si, o poder de enxergar um novo prisma e a capacidade de civilizadamente chegar a uma solução, faz-se necessário que tenha pleno conhecimento, habilidade e atitude para cumprir com excelência tanto a pré-mediação como a mediação. Percebe-se nitidamente que se trata de algo processual que tem início, meio e fim. Uma das virtudes do mediador é a sábia paciência, isto é, saber onde, quando e como argumentar. Inexiste tempo certo para uma sessão de Mediação, aliás, o fato pode ser resolvido em uma única sessão, em várias sessões ou até mesmo, não ser resolvido. Neste último caso, não se entende como fracasso, pois, a valorosa tentativa de pacificamente resolver um conflito já é por si só uma ação vitoriosa. Para aprofundar melhor o seu aprendizado faça o exercício de fixação para concluir a unidade 2. Na Unidade 3 iremos estudar dentre outros a abrangência da mediação de conflitos e o seu alcance mundial. Exercício de Fixação 01) Diga o que entende por mediação de conflitos e cite dois de seus princípios? 02) Destaque três objetivos mais relevantes da mediação de conflitos e comente cada um deles. 03) É necessário curso ou habilitação superior para que um cidadão comum possa figurar como mediador em sessão de mediação de conflitos? Fundamenteas respostas nas características inerentes ao mediador de conflitos. 25 04) O que é a Pré-mediação? 05) Cite e explique as fases da mediação de conflitos. UNIDADE 3 – FORMAS DE EXPRESSÃO E MODELOS DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: 3.1. Abrangência da Mediação De Conflitos no Brasil, existem várias formas de expressar a mediação de conflitos, sendo as mais comuns na seara familiar, penal, trabalhista, hospital, escolar e comunitária, dentre outras. Evidentemente, é importante destacar que a mediação de conflitos vem se consolidando como mecanismo consensual de resolução de conflitos, independentemente da área ou setor, mas, contanto, que as partes consigam voltar a dialogar. Com bastante lucidez e objetividade diz ADOLFO BRAGA NETO (2003, pág. 21): Assim e que ao se falar em mediação, busca-se maior pacificação na solução privada dos mesmos, abrindo-se a possibilidade do indivíduo exercer a cidadania plena, por intermédio de sua capacitação na resolução de suas próprias controvérsias. No campo familiar, a mediação de conflitos é importante porquanto se discutirá a responsabilidade de cada uma no conflito originado, situação que muitas vezes é afastada em decorrência do aspecto eminentemente emocional que prima os conflitos familiares, dificultando inicialmente qualquer diálogo entre as partes. Considera-se relevante, além disso, o fato de que na mediação não se procurará adversários, mas no sentido de que os envolvidos devem conjuntamente procurar uma solução pacífica e satisfatória ao conflito social. LILIA MAIA DE MORAIS SALES (2007, p. 144) diz com muita propriedade que: São justamente nos conflitos familiares que são vividos sentimentos como: hostilidade, vingança, depressão, ansiedade, arrependimento, ódio, mágoa etc., dificultando a comunicação entre os mediados. Durante uma crise, os familiares não conseguem conversar de forma ordenada e pacífica para resolver suas 26 controvérsias. Assim, a mediação familiar incentiva a comunicação entre as partes, responsabilizando-as pela formação de uma nova relação baseada na mútua compreensão. A Mediação de Conflitos também abrange o universo penal, máxime ao manter um diálogo construtivo entre vítima e infrator, bem como proporcionar uma percepção da dimensão real do problema pelo infrator e pela vítima, sendo, portanto, alternativa à justiça repressiva, com a denominada Justiça Restaurativa. Há, ainda, a possibilidade da denominada Mediação Hospitalar, que trata do aspecto da mediação, em nível pessoal, organizacional e em nível do paciente. Por conseguinte, abrange-se também a Mediação Escolar, com a finalidade de tratar da Mediação de conflitos na escola. De fato cada vez mais este campo da mediação avança, inúmeros são os conflitos entre alunos e alunos, professores e alunos, etc. Se não trabalhados estes “desentendimentos” pode acontecer inclusive o agravamento com conseqüências graves, inclusive, agressões físicas. Por fim, existem situações atuação de plena aplicação da mediação na seara da Segurança Pública, com a ação integrada das policias e guardas, das comunidades e dos técnicos. Mais adiante iremos observar diversas experiências de mediação e segurança pública. No próximo tópico interessante observar os modelos, espécies e técnicas de mediação de conflitos. 3.2. Modelos e Técnicas de Mediação de Conflitos São considerados Modelos de Mediação, segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP): a) Modelo Tradicional-Linear (Harvard) → busca-se chegar a um acordo satisfatório para as partes; b) Modelo Transformativo (Bush e Folger) → as próprias partes percebem o conflito e encontram a solução, sendo então as próprias protagonistas da mediação; c) Modelo Circular-Narrativo (Sara Cobb) → encontra suas bases na comunicação, nos elementos verbais, corporais e gestuais. 27 Já as técnicas utilizadas na concretização da mediação de conflitos são dentre outras: a escuta ativa; a observação das expressões; as perguntas abertas; as anotações; a gravação e a filmagem. Aplicar-se-ão, assim, as técnicas da mediação mediante aos seguintes momentos: no primeiro, fala-se sobre o conflito; no segundo, o mediador faz um resumo do conflito; no terceiro: apresentação de soluções pelos mediados; e, por fim, o mediador materializa por escrito, se for o caso, a decisão tomada pelos mediados. 3.3. Espécies de Mediação de Conflitos Também em conformidade com os ensinamentos da SENASP, as Espécies de Mediação quanto à metodologia são: a) Técnica → é bastante útil em contextos complexos; b) Comunitária→ forte estímulo à solidariedade, sendo um facilitador do estabelecimento de cooperação entre as partes. Independentemente de ser Técnica ou Comunitária, prevalecem em ambas os objetivos, princípios da mediação, ou seja, proporcionar o diálogo para que os envolvidos encontrem a pacificação social. Para entender melhor o alcance da mediação de conflitos não só no Brasil como no mundo, válido assistir o vídeo abaixo onde se apresenta experiência de mediação, inclusive nos Estados Unidos da América na Universidade de Columbia. Vídeo 1 – A mediação e seus horizontes. 28 Com o conteúdo deste tópico e também com as diretrizes do vídeo, com vistas ao seu maior aprendizado, faça o exercício de fixação antes de iniciar a Unidade 4, na qual, serão observados aspectos práticos da mediação de conflitos no campo da segurança pública. Exercício de Fixação 01) Quais as áreas podem abranger a mediação de conflitos? 02) Como se aplica a mediação de conflitos na seara familiar? 03) Quais são os modelos de mediação de conflitos segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP)? 04) Na seara penal, como poderá ser aplicada a mediação de conflitos? 05) Quais são as espécies de mediação de conflitos? UNIDADE 4 – AS EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS DA CRIAÇÃO DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA SEARA DA SEGURANÇA PÚBLICA: Há muitas experiências exitosas de utilização da mediação de conflitos na seara da Segurança Pública. Passou-se o tempo de pensar Segurança Pública no aspecto eminentemente repressivo ou ostensivo, mas deve-se visualizá-la sob o aspecto de futuro. E, então, sob tal contexto que se considera a possibilidade de buscar soluções para os conflitos sociais de forma pacificadora e amigável, através da aplicação da mediação de conflitos na seara da Segurança Pública. Com o fito de justificar entendimentos nesse sentido, exemplifica-se, logo de início, que a cidade de Joinville criou um Núcleo de Mediação de Conflitos da Polícia Militar, um projeto considerado pioneiro no Brasil, com a pretensão de se resolver pequenos desentendimentos entre pessoas com algum grau de relacionamento, como parentes, vizinhos e amigos, dispensando-se, para isso, a burocracia policial. Em tal núcleo, ficou determinado que o atendimento seria realizado por policiais militares, que passarão a intervir entre os envolvidos com a finalidade de gerenciar a crise e buscar acordo, prevenindo a violência, com o comparecimento voluntário das pessoas envolvidas em 29 conflitos, através de uma chamada que poderá ser feita por telefone, e-mail ou carta. Outra experiência prática de criação do instituto da mediação de conflitos na seara policial diz respeito à criação de um Núcleo de Mediação Comunitária no quartel da Polícia Militar em Tabapuã, São Paulo, com o objetivo de tentar uma maior aproximação da população com a Polícia, através da conversa e do diálogo, e que funcionou inicialmente no sentido de que em toda ocorrência policial ou atendimento público que se identifique a existência de um conflito que esteja relacionado em um rol de ocorrências passíveis de mediação (tais como injúria, calúnia, difamação, dano, exercício arbitrário das próprias razões, outras fraudes, conflitosfamiliares e de vizinhança, etc), e as partes litigantes serão consultadas quanto ao interesse em promover a solução do conflito, em data oportuna, no núcleo de mediação. E, então, coexistindo o interesse de ambas as partes, o mediador agendará uma sessão para mediação e as partes serão ouvidas e concitadas a buscarem uma resolução pacífica do conflito, evitando assim burocracias e demoras em processos. Experiência também interessante ocorreu com a inauguração do Núcleo de Mediação Comunitária de Votuporanga, também em São Paulo, os quais serão pontos para atendimento do público em geral, nas Organizações Policiais Militares, nos casos em que houver a necessidade de mediação comunitária de conflitos. Funcionarão sob mediação de um policial militar capacitado pela SENASP, focados em gerir os problemas sociais derivados de comportamentos reprováveis, antevendo conflitos e empregando práticas preventivas que minimizem a incidência de manifestações violentas. O objetivo, então, é atuar nos delitos de ação penal público privada, que só terão continuação se as partes quiserem, máxime em crimes como injúria, calúnia, difamação, dano, exercício arbitrário das próprias razões, outras fraudes, conflitos familiares e de vizinhança, dentre outros. Também tivemos experiência com êxito durante um período no Estado do Ceará, quando no ano de 2010, na Delegacia do 30º Distrito Policial de Fortaleza, no bairro São Cristóvão, em parceria entre a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e a Universidade de Fortaleza (UNIFOR), estudantes do curso de Mestrado em Direito exerceram as suas atividades perante o núcleo de mediação na tentativa de resolver conflitos sociais dos moradores da região do populoso bairro em que se localizava a Delegacia, detentor de um grande histórico de violência. 30 Vídeo 2 – Experiência de Mediação – 30ª DP A semente plantada no 30º Distrito surtiu efeito e hoje temos novas iniciativas como o Projeto atualmente em desenvolvimento no 2º Distrito, O projeto conta com logomarca própria e tem as ações exitosas expostas a partir de uma conta criada na rede social Instagram (@calmavamosconversar). Nesse perfil, são divulgados os acordos firmados nas sessões de mediação, bem como as partes, em vídeos e declarações, manifestam a plena satisfação com a possibilidade de resolver a demanda em curto espaço de tempo. Funcionando em uma sala do 2ºDP, desde o dia 1º de outubro de 2019, sob a supervisão dos Delegados Felipe Porto Segundo e Maria do Socorro Portela Alves do Rêgo e coordenado pela Escrivã Ana Paula Lima Cavalcante, o Núcleo Consensual de Mediação estruturou e deu forma a atendimentos e acordos que em outras delegacias eram feitos de forma intuitiva e sem qualquer metodologia ou registro oficial. Atendendo os bairros compreendidos pela circunscrição do 2ºDP (Aldeota, Varjota, Meireles e Praia de Iracema), o projeto prevê, em linhas gerais, o agendamento de audiência entre partes envolvidas em conflitos de natureza criminal que dependam de 31 representação ou queixa crime, ou até mesmo fatos atípicos que tenham potencial para, futuramente, se transformar em delitos. Na sessão de mediação, a escrivã coordenadora oportuniza a possibilidade de acordo, de forma que situações que antes demandavam a polícia civil e o judiciário por meses ou até anos, passaram a ser resolvidas em poucos dias. O que, seguramente, contribui para a prevenção da violência e da criminalidade, bem como para fortalecer, ainda mais, a imagem da Polícia Civil cearense. No total, em pouco mais de um ano, já foram realizados mais de 500 (quinhentos) atendimentos, os quais resultaram em 177 (cento e setenta e sete) procedimentos instaurados, com um percentual de 93,47% de acordos firmados nas sessões de mediação realizadas. Dessa forma, o projeto surge como uma alternativa eficaz na resolução de pequenos conflitos encaminhados a esta delegacia, possibilitando que o efetivo policial restante se concentre nos casos mais gravosos. Não obstante, as situações práticas e os meios já criados em alguns estados no tocante à mediação de conflitos na seara policial, o Ministério da Justiça vem estimulando a instituição de ações relacionadas ao denominado policiamento comunitário, que, dentre outros, institui a mediação de conflitos no âmbito da segurança pública. Segundo informações extraídas do próprio site do aludido Ministério, “a Justiça Comunitária é uma ação do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - PRONASCI que estimula a comunidade a construir e a escolher seus próprios caminhos para a realização da justiça, de forma pacífica e solidária. A Secretaria de Reforma do Judiciário apóia projetos, por meio de convênios com defensorias públicas, governos estaduais, municipais, ministérios públicos, tribunais de Justiça e sociedade civil que possuam como foco e objetivo o desenvolvimento de formas negociadas de resolução de conflitos e dos direitos do cidadão. A mediação comunitária é uma das mais importantes ferramentas para a promoção do empoderamento e da emancipação social. Tal política pública, denominada Justiça Comunitária, visa a implantação ou o fortalecimento de núcleos por meio do financiamento de atividades de capacitação de agentes de mediação comunitária, aquisição de equipamentos, contratação de profissionais e adequações de espaços físicos”. Portanto, vê-se de forma clara com tal projeto, o interesse manifesto do Governo Federal em contribuir na difusão dos programas de mediação de conflitos na seara policial, o que certamente acarretará uma nova visão da sociedade no tocante à aplicação da importância do mecanismo consensual de mediação de conflitos, que não deve se ater 32 somente ao Poder Judiciário, mas deverá transpor barreiras, e ser efetivamente implementada também nas ações desenvolvidas pelo Estado em relação à Segurança Pública, corroborando, por sua vez, com as ações ostensivas, preventivas e investigatórias naturalmente vinculadas à segurança. No mesmo sentido, vem defendendo o Ministério Público, como inclusive se pode constatar no Estado do Ceará, onde a Procuradoria Geral de Justiça do Estado já mantém há alguns anos, os denominados “Núcleos de Mediação Comunitária”, através de programa específico, que visa promover a pacificação social, o fortalecimento das bases comunitárias e a prevenção e solução de conflitos. Veja agora um vídeo que mostra de forma bastante clara como funciona um Núcleo de Mediação Comunitária. Vídeo 3 – Núcleo de Mediação Comunitária Com a instituição de tal programa, o Ministério Público Estadual resolveu, então, instituir uma normatização própria, em decorrência da ausência de normas federais ou estaduais acerca da mediação. Nesse sentido, resolveu normatizar tal mecanismo, ao estabelecer, por exemplo, na Resolução nº 01, de 27 de junho de 2007, oriunda do Colégio dos Procuradores de Justiça do Estado do Ceará, meios a serem seguidos na criação e no funcionamento do Programa de Incentivo à implementação de núcleos de mediação no âmbito das Promotorias de Justiça do Estado do Ceará. Foi instituído, além disso, no Estado do Ceará, o Dia Estadual do Mediador Comunitário, a ser celebrado, anualmente, no dia 13 de setembro, consoante se extrai da Lei Estadual nº 14.620, de 18 de janeiro de 2010. Já no município de Fortaleza, também instituiu mediante a Lei Municipal nº 9.853, de 11 de novembro de 2011, o Dia Municipal do Mediador Comunitário. 33 Com base no aprendizado adquirido, faça o exercício de fixação para aprimorar ainda mais vosso aprendizado. Exercício de Fixação 01) É possível aplicar a mediação de conflitos na seara da Segurança Pública? 02) Como se implementou o Núcleo de Mediação de Conflitos da Polícia Militar na cidade de Joinville? 03) De que forma o Estado do Ceará