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SAFIRA BEZERRA AMMANN IDEOLOGIA do / SENVOLVIMENTO / de COMUNIDADE / no BRASIL / CAPITULO I Concebe-Se o desenvolvimento de comunidade com base em supostos acrfticos e aclassistas (1950-59) 1.1 G6nese do Desenvolvimento de Comunidade Qualquer incurs5o te6rica que pretenda lograr um nine} consis- tente de explica5o sociol6gica sobre as origens do Desenvolvimento de Comunidade sup6e o retorno s condi6es hist6ricas mundiais ento vigentes, bem como exige a anlise das media6es inseridas no jogo dos interesses internacionais e de seus desdobramentos no Brasil. Institucionalizado pela ONU ap6s a Segunda Guerra Mundial o Desenvolvimento de Comunidade postulado num momento hist rico em que as grandes potncias - lideradas pelos Estados Unidos e Russia - deflagram a chamada "Guerra Fria" pela conquista do primado politico, econ6mico e ideol6gico de um mundo supostamen te bipolarizado. A consolidao do bloco socialista e sua expanso aos pafses orientais comeam a representar um perigo crescente para os paises capitalistas simultaneamente atingidos pela perda de suas col6nias. Passa ento a recm-criada ONU a desfraldar a bandeira da social-de- 46 SAFIRA BEZERRA AMMANN mocracia e a buscar estratgias capazes de garantir a ordem social e de preservar o "mundo livre" dos regimes e ideologias consagradas como n5o democrticas. Sob o argumento de que "a pobreza um entrave e uma ameaa tanto para essas popula6es (pobres) como para as reas mais pros- peras;1 de que "na atual luta ideol6gica os povos famintos tm mais receptividade para a propaganda comunista internacional do que as na6es pr6speras"; de que "o esfoo de ajudar os povos a alcanarem um nivel de Vida mais sadio e mais economicamente produtivo elimi- naria os locos de comunismo em potencial";2 de que "a melhoria das condi6es socials e econ6micas em qualquer parte do mundo livre redundaria em beneffcio dos Estados Unidos"3 este pafs se proclama lider do mundo pela boca de seu presidente: "Creio que devemos oferecer aos paises amigos da paz", afirmava Truman em seu discur- so de posse, "os beneffcios do nosso cabedal de conhecimentos tcni- cos e ajud los a realizar suas aspira6es por uma Vida melhor".4 A ideia que inspira a criao da Organizao dos Estados Ame- ricanos (OEA), como chega mesmo a expressar um dos representan- tes do Brasil, de que "o continente conta com o mais rico, o mais desenvolvido e o mais poderoso pals do mundo - os Estados Unidos que aliado ao Canad lidera o progresso cienffflco e tecnol6gico. Logo temos dentro do pr6prio continente os meios e os instrumentos indispensveis ao nosso desenvolvimento".5 Imbufdo de tais convic6es o governo americano inicia a partir da Segunda Grande Guerra extenso programa de assistncia tmica 1. BEATTY, Willard W. Li6es colhidas nos programas internacionais e bilaterais de educa- o comuniia. In: HEN RY, Nelson B, (Org.). Edi/cao comulzitdria. Rio de Janeiro: Usaid, 1965. p. 160, O pantese nosso 2, SCANLON, David. Rafzes histicas do Desenvolvimento e Educa5o Comunitjria, In: HENRY, Nelson. Op. cit,, p. 58. 3. MAU c K, Willfred. Os programas bilaterais americanos de educa5o corn\mila. In: HENRY, Nelson. Op. cit, p. 167. 4. Memoirs of Harry S, Truman. In: BEATTY, Willard, Op. cit., p. 160. 5, LXM A, Hermes. A confencia econ6mica da OEA. Rev/Sta Brasileira de Politica llttemacio- Ital, v, I, n, 1, p. 111-'3, 1958. IDEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE NO BRASIL 47 aos pafses pobres, principalmente aqueles situados na Amica Lati- na. No caso do Brasil, j em 1942 celebrado connnio entre sen governo e o dos Estados Unidos para incremento da produo de gneros alimentfcios em nosso pafs, como resposta certamente preocupao de que "os povos famintos tm mais receptividade propaganda comunista"... Mediante proposta do vice-presidente executivo do Instituto de Assuntos Interamericanos - general Dunham o Acordo prorrogado em 1944 e o governo americano continua a manter sen quadro de tcnicos junto ao Ministrio de Agricultura, para assessoria comisso de produo de alimentos.6 Segue-Se, em 1945, o Acordo sobre a educao rural, que prepara mais diretamente a entrada ao Desenvolvimento de Comunidade no pafs. Resultante de cooperao estabelecida entre o Ministrio da Agricultura do Brasil e a "Inter-American Educational Foundation, Inc."7 o Acordo se prop6e a estabelecer "maior aproxima5o interame- ricana, mediante intercmbio intensivo de educao, ideias e modos pedag6gicos entre os dois pafses".8 Dele resulta a cria5o da "Comis- soBrasileiro-Americana de Educao das Popula6es Rurais" (CHAR) )unto ao Ministrio da Agricultura, composta por tnicos americanos e brasileiros responseis pela execuo do programa. Como fundo financiador, a CHAR conta com US$ 250.000,00 de fontes americanas e US$ 750.000,00 do oramento da Unio. Em adio, os Estados Uni- dos p6em `a disposio da CHAR um corpo de especialistas em edu- cao e extenso rural alm de concederem bolsas de estudo para o "adestramento" de brasileiros naquele pais. Como tmica a ser utilizada para o trabalho em campo, o Acor- do sugere a adoo de miss6es rurais, ao lado de recursos tais como rdio, cinema, bibliotecas, museus circulantes etc. 6. BRAsIL. Ministrio das Retas Exteriores. Atos Internacionais (205). Rio de Janeiro, 19[4,
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