Prévia do material em texto
1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO Denise Matias Soares Silva 2 Denise Matias Soares Silva Mestre em Psicologia do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) (2019). Possui Pós-Graduação em Docência em Ensino Superior, pós-graduanda em Educação Inclusiva e Educação Especial (2019) pela Centro Universitário Internacional (UNINTER), pós-graduanda em Psicanálise e os desafios na Contemporaneidade pela Fa- culdade Pitágoras. Possui graduação em Pedagogia (1998) e Psicologia (2013) pelo Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais (UNILESTE-MG). Atualmente é coordena- dora, tutora e professora conteudista do curso de Educação Especial na Faculdade Única Ipatinga além de atuar como psicóloga clínica de orientação psicanalítica. TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO 1ª edição Ipatinga – MG 2020 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Carla Jordânia G. de Souza Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. S586t Silva, Denise Matias Soares. Transtornos globais do desenvolvimento / Denise Matias Soares Silva. – 1. ed. Ipatinga, MG: Editora Única, 2020. 102 p. il. Inclui referências. ISBN: 978-65-89764-11-3. 1. Transtornos de aprendizagem. 2. Formação de professores. I. Silva, Denise Matias Soares. II. Título. CDD: 371.9 CDU: 37.04 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br http://www.faculdadeunica.com.br/ 6 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo apli- cado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos cientí- fico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblio- teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor- dado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im- portantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determi- nados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques- tões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi- ano. 7 SUMÁRIO TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO ................................. 6 TRANSTORNOS GLOBAIS DE DESENVOLVIMENTO – TGDS.................................... 6 AUTISMO ............................................................................................................... 10 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 15 SÍNDROME DE RETT .................................................................................. 20 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 29 SÍNDROME DE ASPERGER ....................................................................... 34 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 43 SÍNDROME DE HELLER ............................................................................ 48 TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA (HELLER): BREVE HISTÓRICO ... 48 TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA (HELLER): CONCEITO .............. 49 SINTOMAS ............................................................................................................. 50 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 53 TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM59 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 66 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ...................................................... 69 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................... 87 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 88 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 UNIDADE 06 8 CONFIRA NO LIVRO Nessa unidade dialogaremos acerca dos Transtornos Globais do De- senvolvimento (TGDs) e os comprometimentos causados na apren- dizagem, no comportamento e nas relações e interações sociais. Nessa unidade conversaremos sobre a Síndrome de Rett, histórico, sintomas, características mais comuns, comprometimentos, expec- tativa de vida e as questões genéticas envolvidas. Nessa unidade dialogaremos sobre a Síndrome de Asperger, espe- cificidades conceituais, bases teóricas e sua relação com o autismo. Nessa unidade conversaremos sobre outra síndrome que compõem o DSM-5, também considerada um transtorno dentro espectro au- tista, a Síndrome de Heller, conhecida como Síndrome do Desenvol- vimento Desintegrativo da Infância. Nessa unidade trataremos de questões relativas à deficiência inte- lectual, suas características, a importância da família no processo de aprendizagem, a mediação do professor e a necessidade de reconhecer a diversidade e a singularidade de cada sujeito. Nessa unidade conversaremos sobre as dificuldades de aprendiza- gem que estão presentes nas deficiências físicas, transtornos e sín- dromes. Verificaremos quais são os impasses e os grandes desafios para a família e escola. 9 INTRODUÇÃO Todos nós sabemos o quanto as relações humanas são complexas e ao mesmo tempo importantes e fundamentais para que realizemos nossos sonhos, incluindo viver em sociedade, trabalhar, estudar etc. Ao pensarmos em sociedade, pensamos inici- almente em uma das primeiras instituições das quais fazemos parte desde cedo, a escola. Pensar na escola requer ampliar os horizontes socialmente a academica- mente. A escola é o lugar de alunos, professores, diretores, famílias, enfim, é o lugar da interação, interação, diga-se se, de passagem que precisa ser empática. Toda a comunidade acadêmica precisa ser empática com a pessoa com deficiência. Nesse contexto, ser empático, requer saber ouvir, refletir, discutir e rediscutir a relação professor aluno tão complexa e tão necessária para o desenvolvimento das habilidades sociais. É neste espaço que construímos conhecimento, individual e co- letivo, que nós desenvolvemos, aprendemos e ensinamos. O professor nesta2. (FUNDEP - 2018 - Prefeitura de Itatiaiuçu - MG - Psicólogo) A síndrome de Asperger é descrita como um transtorno: 44 a) que envolve a dificuldade de usar e entender as palavras em sentenças, envol- vendo, assim, a linguagem receptiva e a expressiva. b) autista leve em que a criança apresenta linguagem verbal razoável, problemas leves não associados à linguagem e interesses e relacionamentos restritos. c) grave do desenvolvimento que aparece nos três primeiros anos de vida e inclui dificuldades na comunicação e nos relacionamentos sociais e padrões de com- portamentos estereotipados. d) que envolve uma sensação vaga e altamente desagradável de medo e apreen- são. e) que envolve uma sensação vaga e altamente de perda da visão. 3. O documento sobre a Política Municipal de Educação Especial foi elaborado numa perspectiva da educação inclusiva. De acordo com esse documento, os estudantes com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação, deverão ser atendidos da seguinte forma: a) A família cuidará do acesso dos estudantes aos conhecimentos exclusivamente em casa, e a escola realizará somente a avaliação. b) Individualmente, por profissionais especializados, em salas de recursos multifuncio- nais, e não frequentarão o espaço da escola regular. c) Participarão das atividades desenvolvidas com o coletivo da turma e, no contra- turno, frequentarão o Atendimento Educacional Especializado. d) Participarão somente das atividades desenvolvidas com o coletivo da turma, por- que isso configura a igualdade de oportunidades para todos. e) Serão encaminhados para projetos que envolvam atividades clínicas que serão ofertadas em pequenos grupos, e não frequentarão a escola. 4. O artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trata da Educação Especial. Assinale a opção correta sobre essa modalidade de educação escolar. a) É oferecida em instituições especializadas em substituição ao ensino regular e di- recionada àqueles que não se adequam à sala de aula comum. b) É parte integrante da educação regular, destinada aos estudantes com deficiên- cias, Transtornos Globais do Desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. 45 c) A duração do ano letivo na educação especial, independentemente do nível do educando, é diferente da duração do ano letivo na educação regular. d) É uma expectativa de atendimento diferenciado, que isenta as escolas regulares da matrícula compulsória de alunos com deficiência. e) O atendimento educacional especial será feito sempre em classes ou escolas co- muns do ensino regular. 5. (UNOESC - 2018 - Prefeitura de Saudades - SC - Professor de Educação Infantil) A resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, Institui Diretrizes Operacionais para o Aten- dimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Em seu artigo 2º assegura que o AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recur- sos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena parti- cipação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Quanto ao pú- blico alvo do AEE, esta mesma resolução considera: I. Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de na- tureza física, intelectual, mental ou sensorial. II. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometi- mento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem- se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. III. Alunos com dificuldades de aprendizagem na leitura e que apresentam ele- vada tendência de dislexia. IV. Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um po- tencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento hu- mano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e cri- atividade. São consideradas corretas apenas: a) I e II. 46 b) III e IV. c) II, III e IV. d) I, II e IV. e) II e III. 6. De acordo com BRASIL (2006), os estudos de Mazzota (1996) apontam três atitudes sociais que marcaram a história da Educação Especial no tratamento dado às pessoas com deficiência: Assistencialismo, Educação/reabilitação e Marginaliza- ção, sendo: I. Assistencialismo: é uma atitude marcada por um sentido filantrópico, paterna- lista e humanitário, porque permanece a descrença na capacidade de mu- dança do indivíduo, acompanhada pelo princípio cristão de solidariedade hu- mana, que busca apenas dar proteção às pessoas com deficiência. II. Educação/reabilitação: apresenta-se como uma atitude de crença na possibi- lidade de mudança das pessoas com deficiência e as ações resultantes dessa atitude são voltadas para a organização de serviços educacionais. III. Marginalização: é caracterizada como uma atitude de descrença na possibili- dade de mudança das pessoas com deficiência, o que leva a uma completa dedicação da sociedade em relação à organização de serviços para essa po- pulação. Estão corretas: a) I, II e III. b) Somente I e II. c) Somente I e III. d) Somente II e III. e) Somente II 7. Uma professora do Atendimento Educacional Especializado disponibilizou engros- sadores de pinceis, ponteira de cabeça e prancha de comunicação para o aluno 1. Para o aluno 2, ela separou o soroban, a reglete e o punção. Tais recursos po- derão ser benéficos para atender, respectivamente, às necessidades especiais de 47 alunos com a) surdocegueira e múltipla deficiência. b) deficiência intelectual e deficiência múltipla. c) deficiência auditiva e cegueira. d) deficiência mental e deficiência sensorial. e) deficiência física e deficiência visual. 8. Considere o trecho, a seguir, de autoria da Profa. Dra. Teresa Mantoan. “Inclusão implica considerar todos os seres que no momento fazem parte de uma mesma sociedade, mesmo sendo diferentes entre si. Inclusão total tem relação com o direito de ser diferente. O direito é fato e ponto de partida para ações que insiram. Todos em qualquer ambiente ou situação.” Nesse sentido, é correto afir- mar que: a) integração pode ser considerada inclusão porque ambas partem do mesmo con- ceito. b) a inclusão busca diminuir as diferenças, adaptando o sujeito ao meio. c) a luta das associações de pessoas com deficiência é pelo reconhecimento da igualdade. d) a luta dos diferentes movimentos sociais, hoje, não é pela igualdade, é pela dife- rença. e) a integração discute a mudança de sociedade ao reconhecer seus diferentes. 48 SÍNDROME DE HELLER TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA (HELLER): BREVE HISTÓRICO É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática. Paulo Freire Nesta unidade conversaremos sobre outro transtorno que compõem o DSM-V, também considerado um transtorno dentro espectro autista, a Síndrome de Heller, conhecida como Transtorno Desintegrativo da Infância, trata-se também de um Transtorno Global do Desenvolvimento. Como já dito anteriormente, a Síndrome de Heller está atualmente enqua- drada no DSM – V. Ela se constitui por uma perda progressiva das habilidades já de- senvolvidas na infância, por volta dos 02 a 04 anos de idade. Como a história da deficiência é marcada por um modelo clínico terapêutico, no caso da Síndrome de Heller não é muito diferente. O médico Theodor Heller sem- pre esteve às voltascom as questões da deficiência. Parte de sua infância foi ao lado de crianças cegas, pois, o pai era diretor em uma instituição para crianças cegas em Viena. Estudou psicologia e filosofia e dedi- cou-se durante vários anos à psicologia para pessoas cegas. Posteriormente, dedi- cou-se ao trabalho com crianças com problemas mentais (PONDÉ, 2017). Heller se interessava também pela pedagogia, e em 1895 fundou uma escola para crianças com problemas mentais. Em 1914 publicou na comunidade científica a Terapia Pedagógica, abordando a educação em uma vertente curativa, dialo- gando com a educação a psiquiatria (PONDÉ, 2017). De acordo com a autora, na história da educação e da psiquiatria, Heller con- tribuiu muito, tendo sido presidente da Sociedade Alemã de Educação Especial e Fundador da sociedade Austríaca de Educação Especial. Em 1935, já era público o seu descontentamento e preocupação com o des- caso das autoridades alemãs em relação à Educação Especial, contudo, seus apelos UNIDADE 04 49 não foram atendidos. Em 1938, por professar o judaísmo, foi assassinado pelo exército nazista, às crianças com transtornos mentais que ele estava educando em um lugar sigiloso, e elas, tiveram o mesmo destino que o médico austríaco, defensor da Edu- cação Especial. O mesmo aconteceu com sua família. O ato empático do médico com a Educação Especial e a forma covarde com que foi executado pelos nazistas, foi lembrado por um colega, Heinrich Hanselman na abertura do 1º congresso Inter- nacional para Necessidades Educativas em Genebra, 1939, Congresso que ele seria presidente. Em nossos tempos atuais, as fronteiras políticas de países individuais em todo o mundo estão sendo vigorosamente bloqueadas. Tanto mais urgente, por- tanto, toda tentativa de superar a desconfiança e renovar a prova de que as fron- teiras do país não devem ser limites da mente e podem não ser. Porque, para a mente humana, toda autarquia significa ameaça à vida, leva à distrofia e, eventual- mente, à atrofia. Nesta convicção, em 12 de dezembro de 1938, em Viena, nosso altamente respeitado Presidente Honorário, o principal iniciador da fundação de nossa sociedade, o pai da moderna pedagogia curativa na Europa, Theodor Heller, morreu. Seu bom espírito viverá em nós enquanto formos sinceros e tivermos boa von- tade (PONDÉ, 2017). Diante do exposto, percebemos que a Síndrome de Heller ou Transtorno Desin- tegrativo da Infância, apresenta uma história mais longa que o autismo. TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA (HELLER): CONCEITO Theodore Heller já descrevia o Transtorno Desintegrativo da Infância desde 1908. Ele relatou 06 casos de crianças que após um desenvolvimento normal nos qua- tro primeiros anos de vida, começaram a apresentar um quadro grave de perda das habilidades comunicativas e sociais. Essa condição foi intitulada pelo médico como “dementia infantilis”. Porém, essa denominação não é suficiente inicialmente, porque não pode ser comparada à demência, já que a perda de memória e das habilidades executivas não são acen- tuadas, em seguida, porque não foram encontradas causas orgânicas. A criança inicialmente começa a falar as primeiras palavras, brinca e interage, não há indícios de nenhuma anormalidade no comportamento ou causas orgânicas. Aos poucos, o quadro de normalidade se modifica (LIMA; DUARTE, 2016) . O que antes era uma brincadeira ou atividade normal do cotidiano, a criança 50 começa a apresentar dificuldades para a interação e realização. Outro sintoma de regressão das habilidades, é que elas perdem o controle dos esfíncteres (LIMA; DUARTE, 2016). Entende-se que apesar de diversas pesquisas, as causas ainda não são total- mente conhecidas. Muitos pesquisadores compreendem o Transtorno Desintegrativo da Infância como um autismo tardio, outros defendem a ideia de que pode existir uma má formação nas placas amiloides ou algum tipo de problema ou deficiência no encéfalo (DUARTE, 2018). Em 2001, o Transtorno Desintegrativo da Infância era considerado um tipo de autismo, com as modificações realizadas pelo DSM-V, ele passa a fazer parte do Transtorno do Espectro Autista. SINTOMAS Como os sintomas não estão relacionados eles tornam a síndrome muito rara. Em cada 50.000 crianças, uma pode desenvolver a síndrome. É considerada tão rara que é cerca de 70 vezes menos comum que o autismo (DUARTE, BEZERRA, 2016). Um fato que dificulta seu diagnóstico precocemente, são algumas semelhan- ças com o autismo. Os primeiros sintomas, devem ser logo observados atentamente e as famílias precisam buscar o mais rápido possível a ajuda médica, a fim de minimi- zar os sintomas que ainda surgirão, pois, a perda das habilidades cognitivas, compor- tamentais e emocionais pode ser gradual ou súbita. Algumas crianças cometidas por pelo Transtorno Desintegrativo da Infância recuperam apenas 20% do que perderam, contudo nos casos mais severos não existe possibilidade de recuperação (LIMA; DUARTE, 2016). Como dito anteriormente, a regressão pode ser muito rápida, com duração aproximada de 4 a 8 semanas. A linguagem perde a expressividade, a criança não consegue mais formar frases e não compreendem também o que as pessoas falam. No que diz respeito ao aspecto motor, a criança sente-se confusa e agitada, pois, antes conseguia andar, correr, comer sozinha, e a partir da regressão das habilidades ela perde completamente a independência, depende dos familiares ou cuidadores. O contato visual com outras pessoas é evitado, não aceita mais carinhos, abraços, beijos. A expressão facial não muda, ou seja, não reflete suas emoções. Apresenta alguns movimentos como estereotipias, sem significado algum. O afeto 51 deixa de existir e a criança se retraí completamente, vivendo em um mundo próprio (LIMA; DUARTE, 2016). Além desses sintomas, a criança ainda apresenta: Perda parcial ou total da linguagem e expressão; Severo déficit na comunicação; Retraimento; Indiferença pelas brincadeiras; Ausência de coordenação motora grossa e fina; Movimentos às vezes estereotipados e repetitivos; Perda de controle dos esfíncteres; Enurese; Ausência de reciprocidade social e emocional. Ausência de condutas adaptativas sociais; Ausência de interação familiar e social; Comportamentos agressivos; Ansiedade; Depressão. Percebemos que a criança após um período normal de evolução, ao ser aco- metida pelo transtorno, regride ao estágio de bebê, ou seja, torna-se completamente dependente de seus pais, sem conseguir realizar qualquer tarefa que exija dela au- tonomia. 52 Ao pensarmos em tratamento, ele precisa ser realizado de várias formas, uma vez a que o comprometimento não é apenas cognitivo, mas também motor. A me- dicação exerce um papel fundamental nesse caso, minimizando os sintomas da do- ença bem como a dificuldade para dormir. Existem também terapias que visam a reintegração da criança ao meio em que vive e também a família. Além disso a fisioterapia torna-se uma grande aliada para as questões da mobilidade (MERCADANTE; GAAG; SCHWARTZMAN, 2006). A finalidade das terapias comportamentais se resume em possibilitar a criança experiências em que possa socializar e interagir quando possível, proporcionando qualidade de vida. https://bit.ly/337vA5E https://bit.ly/35gjd9P 53 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (FUNDATEC - 2020 - Prefeitura de Bagé - RS - Pedagogo,) De acordo com a Meta 4 do Plano Nacional de Educação, o atendimento educacional especializado atende a população com: I. Deficiência. II. Transtornos globais de desenvolvimento. III. Altas habilidades ou superdotação. Quais alternativas estão corretas CORRETOS?a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 2. (Gestão de Concursos - 2019 - Prefeitura de Uberlândia - MG - Conhecimentos Bá- sicos - Nível Superior) Analise os itens a seguir: I. Atendimento educacional especializado, realizado no mesmo turno da classe comum, em substituição à escolarização que se processa na sala de aula. II. Transversalidade da educação especial desde a Educação Infantil até a Educação Superior. III. Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação. IV. Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino quando amparada em diagnósticos emitidos após avaliações médicas e aplicação de testes psicométricos. São garantias previstas pela Política Nacional de Educação Especial na Perspec- tiva da Educação Inclusiva a) I e III, apenas. 54 b) II e III, apenas. c) II e IV, apenas d) I, II e IV, apenas. e) todas as alternativas estão corretas. 3. O documento Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais declara que as escolas comuns representam o meio mais eficaz para combater atitudes discriminatórias e ressalta como princípio funda- mental dessa linha de ação que as escolas devem acolher todas as crianças, in- dependentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lin- guísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem-do- tadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações dis- tantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crian- ças de outros grupos e zonas desfavorecidos ou marginalizados. Acerca das polí- ticas de educação especial, fundamentos e princípios da educação inclusiva, analise as afirmativas a seguir: I. Em 1999, o Decreto 3.298, que regulamenta a Lei 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, de- fine a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educa- ção especial ao ensino regular. II. Ao estabelecer objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desen- volvimento e altas habilidades/superdotação, aponta um déficit referente à oferta de matrículas para estudantes com deficiência nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento educacional especializado. III. O atendimento educacional especializado tem como função identificar, ela- borar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas neces- sidades específicas. IV. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado dife- 55 renciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substituti- vas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a for- mação dos estudantes com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. Assinale: a) se todas as afirmativas estiverem corretas. b) se apenas a afirmativa I estiver correta. c) se apenas a afirmativa II estiver correta d) se apenas a afirmativa III estiver correta. e) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. 4. De acordo com a Lei n° 13.146/2015 no que tange ao direito à educação, analise as afirmativas a seguir buscando identificar quais delas representam incumbên- cias que o poder público deve assegurar, criar, desenvolver, implementar, incen- tivar, acompanhar e avaliar. I. Aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena. II. Oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modali- dade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, no projeto pedagó- gico do atendimento educacional especializado. III. Acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar. IV. Adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos as- pectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com de- ficiência. Assinale: 56 a) se somente as alternativas I e II estiverem corretas. b) se somente as alternativas I, II e III estiverem corretas. c) se somente as alternativas I e IV estiverem corretas. d) se somente as alternativas I, III e IV estiverem corretas. e) se somente as alternativas III e IV estiverem corretas. 5. “A inclusão escolar leva em consideração a pluralidade das culturas, a complexi- dade das redes de interação humanas, busca outros modos de conceber o co- nhecimento escolar, revê os sistemas de avaliação, promovendo uma releitura dos processos de ensinar e aprender” Nesse contexto, é correto afirmar que a inclusão escolar: a) visa corroborar com o ensino tradicional e enfatiza apenas o conhecimento cien- tífico. b) deixa de considerar a subjetividade e a multidimensionalidade humana. c) beneficia a todos os alunos e denuncia o caráter excludente do ensino tradicio- nal. d) preocupa-se com a classificação dos alunos de acordo com níveis de desenvol- vimento. e) é uma inovação educacional baseada no modelo cartesiano/positivista das prá- ticas escolares. 6. O movimento em favor da inclusão escolar é mundial, envolve diversos países que defendem o direito de todos, crianças e jovens: a) à educação e condena toda forma de segregação e exclusão. b) ao ensino especial e mantém soluções paliativas para os que têm problemas de aprendizagem. c) à educação, porém defende a substituição do ensino regular pelo especial. d) ao ensino regular, eliminando a educação especial para os que apresentam de- ficiência. e) à educação, mantendo as práticas assistencialistas e terapêuticas nas escolas. 57 7. Segundo Ropoli (2010): As funções do professor de Educação Especial são abertas à articulação com as atividades desenvolvidas por professores, coordenadores pedagógicos, superviso- res e gestores das escolas comuns, tendo em vista o benefício dos alunos e a me- lhoria da qualidade de ensino. Assinale a alternativa correta que aponta um dos eixos dessa articulação. a) Discussão dos planos de AEE com todos os membros da equipe escolar, da co- munidade externa e profissionais voluntários da área da saúde. b) Formação continuada dos professores do AEE, com ênfase nos tópicos do ensino comum, como condição do conhecimento mais detalhado dos alunos a fim de se evitar a exclusão escolar. c) Elaboração conjunta de planos de trabalho, previstos no Projeto Pedagógico, de forma que a Educação Especial integre a programação escolar. d) Desenvolvimento de recursos e materiais didáticos a serem aplicados no aluno da sala comum, e avaliação da utilização dos recursos e do processo de aprendiza- gem. e) Estudo de problema dos alunos com suspeita de necessidade especial e encami- nhamento à equipe multidisciplinar que definirá o trabalho pedagógico a ser de- senvolvido. 8. Conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, assinale a alternativa correta. a) A inclusão escolar tem início no ensino fundamental, onde se desenvolvem as ba- ses necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento glo- bal. Em todas as etapas e modalidades da educação básica,o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alu- nos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino e deve ser realizado no mesmo turno da classe comum, na própria escola. b) O atendimento educacional especializado disponibiliza programas de enriqueci- mento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação 58 e sinalização, ajudas técnicas e tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longo de todo processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. c) As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado são complementares àquelas realizadas na sala de aula comum, sendo substitutivas à escolarização. d) O atendimento educacional especializado ao aluno surdo deve ser ofertado ex- clusivamente na língua de sinais. Devido à diferença linguística, na medida do possível, o aluno surdo deve estar com outros pares surdos em turmas comuns na escola regular. e) N.D.A. 59 TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. Paulo Freire Nessa unidade trataremos de questões relativas à deficiência intelectual, suas características, a importância da família no processo de aprendizagem, a mediação do professor e a necessidade de reconhecer a implicação da diversidade e a singu- laridade de cada sujeito em seu processo de aprendizagem. Para conceituarmos a deficiência intelectual, também conhecida como re- tardo mental, é preciso lembrar inicialmente que ela se caracteriza como um trans- torno neurológico comumente identificado em fases como a infância e adolescên- cia. No DSM-5, o retardo mental é substituído por deficiência intelectual, com início no período do desenvolvimento, com déficits funcionais tanto intelectuais quanto adaptativos nos domínios conceitual, social e prático (DUARTE, 2018). Começaremos a dialogar sobre a deficiência intelectual pensando no tempo em que a criança leva para aprender ou para desenvolver alguma habilidade, isso quer dizer que esse tempo é diferente, é marcado pela lentidão. O papel da família, da educação e da educação especial, especifi- camente, nesse sentido, é determinante, pois são os pilares sobre os quais se construirá uma história de sucesso ou fracasso no desenvolvi- mento e na aprendizagem do aluno com deficiência intelectual. À educação sistematizada cabe a função de disponibilizar os apoios e os serviços necessários para o desenvolvimento de níveis cada vez mais elevados e complexos nas áreas da linguagem, dos cuidados pessoais, da atividade profissional, do conhecimento acadêmico, en- tre outros, ampliando a participação social (FERNANDES, 2013, p. 95- 96). Como já dissemos anteriormente, é preciso compreender o ritmo de aprendi- zagem de cada criança, porque cada uma aprende em um tempo e de um jeito diferente. Se pensarmos no autismo como exemplo, perceberemos que cada sujeito autista aprenderá de uma forma, a deficiência, o transtorno ou a dificuldade de UNIDADE 05 60 aprendizagem podem ser as mesmas, contudo os sujeitos são diferentes. Assim perceberemos que a aprendizagem sofre influências não só do tempo, do ritmo, como também do grau de comprometimento e de quais tipos e quanti- dade de estímulos recebem pela família e pela escola. Sabemos que os estímulos são preponderantes no processo de aprendizagem, sem eles a criança com deficiência mental ou acometida por algum Transtorno Glo- bal do Desenvolvimento, estão condenadas a não se desenvolver de forma digna dentro do que são capazes. As características marcantes da deficiência intelectual envolvem a cognição, comportamento e adaptação, e os sintomas aparecem antes dos 18 anos de idade. As causas podem ser as mais variadas possíveis, desde fatores pré-natais como pós- natais, até problemas de ordem genética. Muitas deficiências estão associadas aos problemas genéticos. Acima de 2 anos, a criança já consegue demonstrar habilidades com deter- minadas brincadeiras e atividades, além de conseguir reconhecer quais são as pes- soas que fazem parte do seu convívio familiar e social. Na escola não é diferente. Ela já consegue demonstrar suas habilidades psicomotoras. Contudo, professores e fami- liares devem estar atentos para alguns sinais discrepantes de um padrão de normali- dade: Desinteresse em sala de aula pelas brincadeiras e atividades; Dificuldade de interação com os colegas, professor e demais profissionais da https://bit.ly/2I2qwbP 61 escola; Dificuldade em atividades que exijam habilidades na coordenação motora fina e grossa; Desenvolvimento insatisfatório da fala; Dificuldades para identificar letras e números; Dificuldades de adaptação em ambientes que não façam parte de sua rotina; Esquecimento do que já aprendeu entre outros sinais. Quando abandonamos um pouco a perspectiva médica, e pensamos nas questões que envolvem a escola, percebemos que essas crianças precisam de estí- mulos desafiadores, que as retirem do equilíbrio emocional, ou seja, que sejam dese- quilibradas cognitivamente e emocionalmente, a fim de que construam e/ou desen- volvam/aprimorem habilidades. Precisam ser estimuladas a superarem suas dificuldades de forma que consi- gam desenvolver a autonomia, elevar a autoestima além, de se apropriar dos co- nhecimentos formais acadêmicos, tão necessários à sua socialização, adaptação, aprendizagem e garantia de permanência no contexto regular de ensino (FERNANDES, 2013). Diante desse ponto de vista, é de suma importância que as escolas e corpo docente repensem a forma de ensinar, a formalização do saber sistematizado, os processos avaliativos e os currículos, para que todos os alunos sejam atendidos ple- namente, independentemente de transtornos de aprendizagem, de desenvolvi- mento ou de deficiências físicas e intelectuais. As práticas pedagógicas devem ser abrangentes e os recursos utilizados em sala de aula, os mais variados possíveis. “O desafio da educação quanto a pessoas com deficiência intelectual reside em incluí-las na escola comum, recriando a edu- cação, uma vez que elas têm formas particulares e dinâmicas de pensamento” (ZILIOTTO, 2015). Assim, é imprescindível que o professor saiba identificar as dificuldades dos alu- nos, para adaptar a sua prática pedagógica de forma a auxiliar o aluno e permitir que ele aprenda por meio de metodologias diferenciadas. Percebemos então que cada aluno dentro da sala de aula é único, possui habilidades diferentes, tempos de aprendizagem que exigem do professor estraté- gias diferenciadas, porque sabemos que é possível que essas crianças aprendam, o 62 desafio é quebrar o paradigma que nem sempre elas vão aprender da forma que a sociedade, a escola e a família desejam. O importante é valorizar cada aprendizado como único e importante. SÍNDROME DE DOWN Você já deve ter ouvido falar em Síndrome Down. Ela é uma deficiência visível, de etiologia genética, em que é possível detectar a trissonomia do cromossomo 21. Para cada 800 crianças nascidas vivas, temos 1 acometida pela Síndrome de Down. Diferentemente de alguns transtornos Globais do Desenvolvimento em que a incidência maior é em meninos e em outros casos meninas, a Síndrome de Down ou Trissomia do 21 afeta meninos e meninas, independente de classe social ou etnia. Uma vez afetadas pela trissomia 21, as crianças apresentam QI abaixo da mé- dia, apresentam hipotonia, braquicefalia, macroglossia, fissuras palpebraisoblíquas, língua protusa, prega palmar única e malformações de múltiplos órgãos e/ou siste- mas. Essas crianças apresentam grande capacidade expressiva, e podem surpreen- der com suas habilidades. https://bit.ly/3ibSaA6 63 Se verificarmos nas mídias encontraremos várias pessoas com Síndrome de Down que trabalham, estudam e tem uma vida normal. Tudo isso dependerá de como os familiares e a escola conhecem e respeitam as limitações e potencializam as habilidades compreendendo a diversidade e fortalecendo-a em nossa socie- dade. MICROCEFALIA Nos anos de 2015 e 2016, tivemos no Brasil um surto de crianças apresentando microcefalia e a Síndrome de Guillain-Barré, decorrentes do Zika Vírus. A região Nor- deste foi a que mais sofreu com a incidência do surto. A partir de então diversos es- tudos foram desenvolvidos para identificar quais eram as causas que provocaram a microcefalia e a Síndrome. Em 2015 a proliferação do Zika Vírus foi muito grande. Nesse período verificou- se que muitas crianças que estavam nascendo estavam sendo diagnósticas com mi- crocefalia A epidemia de microcefalia surgiu em outubro de 2015, meses depois da transmissão do Zika vírus no Brasil, a partir do aumento inesperado de nascimento de crianças com microcefalia, inicialmente, em Per- nambuco, posteriormente, em todo o país. Do início da epidemia até 2016, a 11 Região Nordeste apresentava o maior número de casos confirmados de microcefalia pelo Zika vírus. Em 2017, as regiões Cen- tro-oeste e Norte apresentaram as maiores taxas de incidência: 38,2 casos/100 mil habitantes e 12,2 casos/100 mil habitantes, respectiva- mente (FÉLIX; FARIAS, 2018, p. 03). Ocorreu uma grande preocupação por parte das famílias e das gestantes nesse período, que esperavam bebês saudáveis e perfeitos, mas, o surto estava cau- sando o contrário. A chegada de um bebê diferente do esperado afeta a dinâmica da família, provocando sofrimento e frustração (FÉLIX; FARIAS, 2018). Mas, afinal, o que é a microcefalia? https://bit.ly/328Yhj3 https://bit.ly/3bAECfh 64 As microcefalias podem decorrer de anomalias congênitas ou terem origem após o parto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a microcefalia é caracterizada pela medida do crânio ao nas- cer, em que o perímetro cefálico apresente medida de 31,9 cm, para menino, e igual ou inferior a 31,5 cm, para menina. As causas das mi- crocefalias envolvem fatores genéticos e ambientais. Os bebês aco- metidos pela microcefalia podem apresentar atraso no desenvolvi- mento e déficit intelectual, convulsões e limitações físicas, dificuldades auditivas e visuais. Todavia, algumas dessas crianças terão um desen- volvimento neurológico normal (FÉLIX; FARIAS, 2018, p. 03). Apesar de algumas crianças apresentarem desenvolvimento normal conforme afirmam os autores, raras tiveram ou têm essa sorte, dadas as condições graves da doença. Foram observados também além da microcefalia, perdas auditivas, proble- mas oculares, microcalcificações cerebrais e malformações ósseas e musculares (FÉLIX; FARIAS, 2018). A prevenção é ainda a única forma de precaução, evitando o contágio. Veja abaixo a rotina de uma criança de 3 anos acometida por microcefalia, devido ao contágio de Zika Vírus. SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB) A Síndrome de Guillain-Barré é caracterizada por uma evolução rápida de fra- queza de membros, pode evoluir em 4 semanas, com insuficiência respiratória em grande parte dos casos. As sequelas são graves e geralmente podem ocorrer óbitos (NÓBREGA et al., 2018). Inicialmente surge uma infecção, em seguida SGB. https://bit.ly/3bAG5Cj 65 Frequentemente, a SGB é precedida por uma infecção. Há também relatos de SGB após vacinação ou trauma, como cirurgias, embora ambas as situações sejam consideradas raras e discutíveis. O agente mais comumente associado à infecção anterior é a bactéria Campylobacter jejuni, seguida de infecções por citomegalovírus, vírus Epstein-Barr (EBV), Mycoplasma pneumoniae, Haemophilus influenzae, vírus da influenza A, hepatite B e E, e vírus da imunodeficiência hu- mana (HIV). Atualmente, também há registros de casos de SGB asso- ciados a infecções pelos vírus da dengue, chikungunya e Zika (NÓBREGA et al., 2018, p. 02) Combater a doença só é possível caso o diagnóstico seja realizado precoce- mente, possibilitando o combate sem deixar sequelas. Por isso, e pela gravidade da doença é importante a família a escola estarem atentas às alterações do organismo das crianças. A síndrome de Guillain Barré (GBS) tem sido uma das complicações mais preocupantes da infecção por ZIKV em adultos. A SGB é uma doença autoimune caracterizada por vários graus de fraqueza, anor- malidades sensitivas e disfunção autonômica decorrente de lesão do nervo periférico ou raiz nervosa, causando fraqueza motora e parali- sia. Paralisia ou fraqueza muscular podem durar dias ou semanas, mas a maioria dos pacientes se recupera adequadamente. Nos casos mais graves, porém, ocorre paralisia total, causando desconforto respirató- rio, distúrbios da deglutição e morte (DIAS et al., 2018, p. 266, tradução nossa). Cabe à escola e professores auxiliar e orientar as famílias, solicitando que ob- servem o comportamento das crianças e auxiliando com informações nos possíveis diagnósticos. https://bit.ly/3h9M2XS 66 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ACAFE - 2011 - FCEE-SC) A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defici- ência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário, estabelece que os Estados Parte devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta de: a) inclusão de crianças no Ensino Funda- mental privado. b) inclusão plena. c) inclusão de crianças na Educação Infantil. d) inclusão de jovens no Ensino Profissionalizante. e) inclusão de jovens no Ensino Médio. 2. (ACAFE - 2011 - FCEE-SC) conforme definição nos documentos do MEC/SEESP, as adaptações de acesso ao currículo são definidas como: a) alterações espaciais e materiais que venham a facilitar os alunos com necessida- des educacionais especiais a desenvolver o currículo escolar. b) alterações ou recursos exclusivamente de comunicação que venham a facilitar os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver o currículo esco- lar. c) alterações ou recursos espaciais, materiais ou de comunicação que venham a fa- cilitar os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver o currí- culo escolar. d) alterações ou recursos espaciais, materiais ou financeiro que venham a facilitar os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver o currículo esco- lar. e) alterações ou recursos de transporte que venham a facilitar os alunos com neces- sidades educacionais especiais a desenvolver o currículo escolar. 3. (METROCAPITAL - 2018 - Prefeitura de Cerquilho - SP - Professor de Ensino Funda- mental II - Educação Especial) no que se refere ao atual processo de inclusão, pode-se afirmar que, atualmente, ele preconiza o reconhecimento: 67 a) da igualdade de direitos e acessos. b) do direito à diferença e à restrição. c) da deficiência intelectual enquanto deficiência física. d) da incapacidade intelectual. e) do deficiente intelectual enquanto incapaz. 4. (METROCAPITAL - 2018 - Prefeitura de Cerquilho - SP - Professor de Ensino Funda- mental II - Educação Especial) Assinale a alternativa que apresenta um direito as- segurado por lei ao público-alvo da educação especial: a) Ensino fundamental gratuito e compulsório, incluindo adaptações condizentes com as necessidades de cada indivíduo.b) A educação especial exclusivamente na rede regular de ensino. c) Efetividade no uso de medidas de apoio coletivas, excluindo as individualizadas por dificuldade de aplicação. d) Um sistema educacional inclusivo apenas na Educação Básica, sem discriminação e baseado na igualdade de oportunidades. e) A admissão unicamente em escola ou classes especiais. 5. (METROCAPITAL - 2018 - Prefeitura de Cerquilho - SP - Professor de Ensino Funda- mental II - Educação Especial) não compete ao professor do Atendimento Educa- cional Especializado: a) acompanhar o estudante nas atividades de casa. b) encaminhar o estudante à escola comum. c) orientar colegas e professores. d) oferecer oportunidades de aprendizagem. e) constatar a necessidade do estudante. 6. (METROCAPITAL - 2018 - Prefeitura de Cerquilho - SP - Professor de Ensino Funda- mental II - Educação Especial) No que se refere ao aluno com deficiência intelec- tual, é correto afirmar o seguinte: 68 a) Os alunos com deficiência intelectual necessitarão de acompanhamento psiquiá- trico complementar ao atendimento educacional. b) O teste de quociente de inteligência é o principal instrumento que identifica a de- ficiência intelectual. c) A definição de deficiência intelectual considera a interação entre as limitações e as possibilidades de adaptação ao meio social. d) As barreiras encontradas para a inclusão de alunos com deficiência intelectual requerem a acessibilidade física. e) Os alunos com deficiência intelectual não requerem atenção especial, uma vez que são tão capazes quanto os alunos sem deficiência. 7. (METROCAPITAL - 2018 - Prefeitura de Cerquilho - SP - Professor de Ensino Funda- mental II - Educação Especial) Concernente à legislação nacional, o Poder Público deve estimular o acesso dos alunos da modalidade educação especial ao Aten- dimento Educacional Especializado (AEE) de forma: a) substitutiva ao ensino regular. b) complementar ou suplementar ao ensino regular. c) adaptado ao ensino regular. d) integrada ao ensino regular. e) alternativa ao ensino regular. 8. (Instituto Machado de Assis - 2018 - Prefeitura de São Bernardo - MA - Professor - Educação Especial) A deficiência intelectual é uma das deficiências mais encon- tradas em crianças e adolescentes, atingindo 1%da população jovem (VASCON- CELOS, 2004). A deficiência intelectual é caracterizada: a) como uma doença ou um transtorno psiquiátrico. b) como uma redução no desenvolvimento cognitivo, ou seja, no QI. c) como um prejuízo das funções cognitivas que acompanham o desenvolvimento diferente do cérebro. d) como um funcionamento intelectual inferior à média, QI de aproximadamente 70 ou abaixo. e) nenhuma das alternativas. 69 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem te- oria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria têm-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade. Paulo Freire Nessa unidade conversaremos sobre as dificuldades de aprendizagem, que em muitos casos se fazem presentes nas deficiências físicas, transtornos e síndromes. Verificaremos quais são os impasses e os grandes desafios da família e da escola. Geneticamente quando a criança nasce ela não está programada para aprender, para ser social, para falar, escrever, brincar, se alimentar sozinha, ir ao ba- nheiro entre outras coisas. A família como primeira instituição social, ensina a criança a viver em sociedade, humaniza-a e a insere no mundo da educação formal. A partir disso não podemos pensar que a escola ou que a educação formal não deve ser vista de forma isolada e descontextualizada da cultura, da sociedade e da realidade como um todo. Portanto é importante pensar a educação como um todo, pensar a escola como aquela que não só produz sujeitos em “larga escala”, mas, como a que transforma o sujeito em um ser autônomo, independente, capaz de pensar. Se dentro de todas essas perspectivas ainda considerarmos a diversidade será possível superar os desafios impostos pela sociedade, pela falta de conhecimento e empatia. CONCEITO DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Vamos conceituar dificuldade de aprendizagem. Para alguns estudiosos ela é denominada como problemas de aprendizagem, transtorno de aprendizagem, dis- túrbio ou até mesmo fracasso escolar. UNIDADE 06 70 Será que essas expressões são diferentes, semelhantes ou são sinônimas? Va- mos aprofundar um pouco no assunto. O documento intitulado Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva preconiza que: A escola historicamente se caracterizou pela visão da educação que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem apresen- tado características comuns nos processos de segregação e integra- ção, que pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar. A partir da visão dos direitos humanos e do conceito de cidadania fun- damentado no reconhecimento das diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma identificação dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na regulação e produção das desigual- dades. Essa problematização explicita os processos normativos de dis- tinção dos estudantes em razão de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional de educação escolar (BRASIL, 2008, p. 06, grifo nosso). Além disso a lei Brasileira de Inclusão LBI 13.146 de julho de 2015 em Art. 2º que Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua par- ticipação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicosso- cial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e conside- rará: I - Os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - Os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - A limitação no desempenho de atividades; e IV - A restrição de participação. (BRASIL, 2015, p. Art. 2º). Por outro lado Nunes, e Silveira (2009) explicam que o fracasso escolar pode ser alterado, modificado, porque está ligado aos conhecimentos defendidos pela sociedade, marcados por um período histórico específico. O que representa o fra- 71 casso para a escola? O fracasso escolar está vinculado à ideia de que em um deter- minado momento a criança não aprendeu e não atendeu à expectativa da escola, ou seja, precisa de medidas, estratégias para “corrigir” a situação. Essa expressão fracasso escolar é muito conhecida, enraizada em nossa cul- tura excludente, como se o aluno fracassasse como um todo, e não apenas em uma disciplina/conteúdo, sem nenhum tipo de progressão em seu desenvolvimento pes- soal. Segundo Bossa (2000) o fracasso escolar é recente, surgiu com a instauração da escolarização no século XIX e consequentemente ocupou um lugar significativo em formato de preocupação para a comunidade escolar. Com relação à expressão a expressão “Problemas de Aprendizagem” sabe- mos o quanto ela tem sido utilizada indiscriminadamente, como já foi dito anterior- mente. Atualmente utilizamos Transtornos de Aprendizagem, o que não modifica em nada a forma como a criança é rotulada. Essas crianças são inteligentes, mas, apresentam dificuldades de processar as informações, principalmente aquelas que são transmitidas por símbolos gráficos, nú- meros,ou que exigem que elas se organizem sensorialmente e espacialmente. De acordo com o neuropediatra Clay Brites, a escola necessita reformular seu currículo, capacitar seus professores, estabelecer parcerias com as famílias para que consiga eficientemente se adaptar às necessidades dos alunos (BOSSA, 2000). A parceria com a família reside na ideia que inicialmente um diagnóstico rea- lizado por uma equipe de profissionais é importante e que a partir daí a papel da família ou cuidadores é primordial, monitorando a aprendizagem das crianças para otimizar o processo de desenvolvimento (BOSSA, 2000). Dessa forma é possível combater o fracasso escolar a evasão e minimizar os problemas, possibilitando e permitindo a criança o acesso a aprendizagem, isso quer dizer respeitar sua individualidade, dificuldades e o esforço realizado pelas crianças para a absorção do conteúdo (BOSSA, 2000). Mas, vamos pensar o que realmente pode ser abarcado por essa nomencla- tura atualmente: Destacam-se alguns problemas de aprendizagem mais comuns na atualidade: Dislexia, Disgrafia, Discalculia e Disortografia. 72 https://glo.bo/3jCmgh9 73 De acordo com Nogueira e Leal (2018) os transtornos de aprendizagem se ex- pressam nas áreas da leitura, linguagem, escrita e habilidades matemáticas. Sabe- mos que os transtornos de aprendizagem ocorrem em diversas fases do desenvolvi- mento escolar, o que nos leva a refletir que eles são sintomas e não as causas das dificuldades. Diante do exposto, não podemos negligenciar as questões culturais, sociais, econômicas e principalmente a diversidade, isso quer dizer que elas não são sinôni- mas de dificuldades ou de transtornos de aprendizagem, mas, podem ser fatores que potencializam os problemas. A investigação é crucial nesse processo (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Nesse contexto o educador exerce um papel fundamental, auxiliando a cri- ança, mediando os encaminhamentos para possíveis avaliações a serem realizadas por equipes multiprofissionais, orientando pais/cuidadores, pois, na função de edu- cador ele consegue perceber pelo convívio diário as dificuldades e os transtornos apresentados pelos alunos. Todo processo de aprendizagem é complexo, e passa por 4 níveis diferentes, denominados por Visca (1987) esquema evolutivo da aprendizagem, que vai desde o nascimento até a morte: Protoaprendizagem ou nível 1 de aprendizagem: momento da aprendizagem das primeiras relações de vínculos afetivos entre a mãe e a criança; Deuteroaprendizagem ou nível 2 de aprendizagem: entendimento acerca do mundo sobre suas relações, visão de mundo; Aprendizagem assistemática ou nível 3 de aprendizagem: aquisição de técni- cas que permitem a criança se desempenhar em uma comunidade; Aprendizagem sistemática ou nível 4 de aprendizagem: interação com a es- cola, seja no nível infantil, fundamental, médio ou superior. Para o autor é possível que a criança estabeleça um vínculo negativo em qualquer um desses níveis, consequentemente produzindo comprometimentos em seu desenvolvimento, parcialmente ou totalmente. Ainda segundo o autor esses obs- táculos chamados déficits podem ser organizados em quatro tipos: 74 Epistemológico: conceito de Bachelard, que representa a resistência em acei- tar conhecimentos que entrem em contradição com a concepção de mundo; Epistemofílico: de origem psicanalítica consiste na dificuldade de aceitar o novo por medo da perda, possui causas emocionais, que geram dificuldades de aprendizagem; Epistêmico: conceito de origem piagetiana. Cada sujeito tem uma estrutura cognitiva e que delimita o nível de conhecimento; Funcional: as formas como se dá o pensamento do sujeito são chamadas de obstáculos funcionais. Passam por evoluções que permite ao sujeito que está observando as dificuldades de aprendizagem utilizá-las como hipótese auxilia- res para se valer de diagnósticos. Pensando em tudo isso, entende-se que antes de qualquer diagnóstico é pre- ciso que uma investigação criteriosa em todos os níveis seja realizada, verificando quais são as dificuldades, os obstáculos e concomitantemente as consequências de tudo isso em sala de aula: problemas na escrita, compreensão de texto resolução de problemas matemáticos, questões comportamentais entre outros fatores, que po- dem ser agravados por problemas sociais, familiares oriundos da história de vida de cada aluno. A seguir, conversaremos sobre alguns transtornos de aprendizagem. DISGRAFIA E DISORTOGRAFIA Como já sabemos a escrita é um processo que converte nosso pensamento em símbolos gráficos sequenciais. Para Ciasca (2009) a escrita representa não so- mente a última e mais complexa habilidade adquirida durante o processo de desen- volvimento, mas também é a mais vulnerável a danos, perdas e influências adversas genéticas. Podemos considerar a disgrafia como a principal dificuldade de escrita ma- nual É considerada uma falha no processo do desenvolvimento ou da aqui- sição da escrita. Está relacionada a uma disfunção na inteiração entre dois sistemas cerebrais, que permitem que a pessoa transforme uma atividade mental em linguagem escrita (CIASCA, 2009, p. 187). A pessoa que apresenta disgrafia é considerada como aquela que não pro- duz uma escrita dentro dos padrões culturais aceitáveis, mesmo não tendo nenhum 75 prejuízo intelectual, passar pelo processo de alfabetização, não apresenta nenhum déficit sensorial ou lesões neurológicas específicas (CIASCA, 2009). Causas da disgrafia [...] a sequencialização que implica na falha perceptual, provocando dificuldades no processamento sequencial da informação recebida e na sua forma de organização e processamento”. As dificuldades de processamento advêm de perdas auditivas, relacionadas a aprendi- zagem e compreensão da linguagem-aprendizagem verbal-, e de ori- gem visual, estando relacionada à dificuldades no processo visual da informação, aprendizagem não verbal (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 76). Na escrita digráfica encontramos as seguintes manifestações: Traços incontrolados e imprecisos; Traços fortes que chegam a vincar o papel; Grafismos que não são diferenciados quanto a forma e o tamanho; Escrita irregular e desorganizada; Escrita muito lenta ou muito rápida; Desorganização por não possuir organização espacial. Em casos de disgrafia, podemos encontrar também distúrbios de motricidade ampla e fina, distúrbios de coordenação visiomotora e dificuldades na organização tempo espacial, lateralidade e direcionalidade. A disgrafia é diagnosticada antes do fim do primeiro ano e o diagnóstico deve ser realizado por um psicopedagogo. Figura 2: Exemplo de escrita disgráfica Fonte: Bagis, (2018, online) Por outro lado, a disortografia consiste na falta e capacidade em transcrever corretamente a linguagem oral. 76 Caracteriza-se pelas trocas ortográficas e confusões com as letras. Esta dificuldade não implica a diminuição da qualidade do traçado das letras. Essas trocas são normais nas primeiras séries do ensino fun- damental, porque a relação entre a palavra impressa e os sons ainda não está totalmente dominada. Porém, após estas séries, se as trocas ortográficas persistirem repentinamente, é importante que o professor esteja atento já que pode se tratar de disortografia (CRENITTE; GONÇALVES, 2009, p. 197-198). Na disortografia encontramos os seguintes indicadores: Substitui letras parecidas (b/d); Troca o “n” por “m” antes do “p” e “b”; Junta ou separa as palavras incorretamente; Omite, acrescenta ou inverte letras; Confunde as sílabas; Dificuldade para perceber pontuação, parágrafo e acentuação. Observamos que a produção textualfica comprometida. Soletrar, atividades ortográficas, composições e consciência morfológica são estratégias que auxiliam no desenvolvimento das habilidades escritas. Figura 3: Escrita do livro "A casa mal assombrada" Fonte: Cardoso (2019, online) 77 Figura 4: Diferenças Disponível em: https://bit.ly/2NIzkGI. Acesso em: 26 jul. 2020. DISLEXIA A dislexia está relacionada ao campo da leitura, refere-se, portanto, a um comprometimento severo no reconhecimento das palavras e compreensão da lei- tura. No século XIX a dislexia foi identificada pelos oftalmologistas ingleses Hins- helwood e Morgane como cegueira verbal (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Para os especialistas no cérebro existiam diferentes tipos de memórias separa- das por áreas, ou seja, teríamos uma memória visual geral, uma memória de letras e por fim, uma memória visual de palavras. Eles acreditavam que as crianças que apre- sentavam dificuldades para ler, as causas estavam relacionadas a um deteriora- mento do cérebro, que comprometeria a memória visual de palavras, causando a cegueira verbal congênita (HOUTE; ESTIENE, 2001). Posteriormente Samuel Orton, explicou que a o comprometimento da leitura https://bit.ly/2NIzkGI 78 ocorria devido a uma disfunção cerebral congênita, produzida quando inexiste uma dominância adequada hemisférica (HOUTE; ESTIENE, 2001). Segundo os autores, a dominância hemisférica era fundamental para a aqui- sição e aprendizagem da leitura. Quando a criança aprende a ler ela armazena e registra as informações nos dois hemisférios do cérebro. Mas, como isso se processa? Hemisfério dominante: armazenamento ordenado. Hemisfério não dominante: armazenamento desordenado e confuso, como uma imagem invertida no espelho. Mas, na prática, como isso ocorre? No processo de leitura o hemisfério domi- nante anularia a informação do hemisfério não dominante. Se essa operação de dá de forma diferente, em função da ausência de uma dominância nos hemisférios in- cidiria em erros, inversões, omissões substituição de sons, leitura em espelho entre ou- tros (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Em 1990 Ajuriaguerra após estudar a função e os sintomas das lesões em cada hemisfério, concluiu que as lesões direitas se relacionam com problemas gnósico-práxicos, visi- oespaciais, apraxias construtivas, perturbações somato-gnósicas, en- quanto que as lesões esquerdas estão relacionadas com as funções simbólicas, problemas de linguagem alexia e agnosia das cores (ROTTA; PEDROSO, 2006, p. 41). Após tantos estudos, a dislexia foi definida como um distúrbio neurológico con- gênito, encontrada em crianças sem nenhum comprometimento intelectual, sem dé- ficits sensoriais, mas, que apresentam dificuldades severas em adquirir a habilidade da leitura e escrita (ROTTA; PEDROSO, 2006). Antes do diagnóstico final, a família começa a perceber as dificuldades da criança no processo de alfabetização, desinteresse pela leitura e escrita. A avaliação deve ser realizada por meio de testes de escrita, consciência fonológica, memória, fluência verbal, avaliação neurológica, processamento auditivo entre outros (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Diante do exposto, como podemos pensar o tratamento da dislexia? Por meio da reeducação da linguagem escrita, e o psicopedagogo a partir do diagnóstico completo fará um atendimento planejado e individualizado, orientando a escola e a família para as adaptações pedagógicas necessárias, pois, sabemos que não há 79 cura para a dislexia. Observe a escrita de uma criança disléxica: Figura 5: Escrita de uma criança disléxica Fonte: Lima, Salgado e Ciasca (2011) https://bit.ly/2OJDwX1. Acesso em: 26 jul. 2020. . Acesso em: 26 jul. 2020. https://bit.ly/2OJDwX1 https://bit.ly/2Fj3qw0 80 DISCALCULIA Apesar de inúmeros estudos realizados em torno das dificuldades de aprendi- zagem, inclusive dos descritos anteriormente, as dificuldades na matemática não ga- nham espaço e atenção significativa nos estudos e pesquisas. Isso nos permite com- preender porque não encontramos literatura específica para a discalculia. A discalculia é um transtorno de aprendizagem, de origem genética caracte- rizada pela falta de habilidade e capacidade de refletir ou raciocinar tarefas que envolvam conceitos matemáticos e números. Essa dificuldade é percebida logo no início da escolarização, pois, exige-se da criança tarefas que que envolvem a matemática. Não podemos confundir a dificul- dade com a matemática com uma insegurança ou medo de aprender a disciplina e seus conteúdos. Uma criança que que apresenta discalculia tem dificuldade de compreender noções de quantidade, conceitos numéricos, pouca destreza na relação conceitos matemáticos e resolução de problemas. Isso não implica dizer que essas crianças tenham comprometimento intelec- tual, ao contrário, são inteligentes e capazes de desempenhar outras tarefas na es- cola, sem, no entanto, conseguir acompanhar as demais crianças na matemática. O diagnóstico é realizado por uma equipe multidisciplinar, envolvendo espe- cialistas das áreas da psicopedagogia, neuropsicologia e neuropediatria. https://bit.ly/3bFWcOJ. Acesso em: 26 jul. 2020 Acesso em: 26 jul. 2020 https://bit.ly/3bFWcOJ https://bit.ly/3383WW5 81 Figura 6: Discalculia Disponível em: https://bit.ly/2NIzkGI. Acesso em: 26 jul. 2020. https://bit.ly/2NIzkGI 82 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (VUNESP - 2020 - Prefeitura de Piracicaba - SP - Professor de Ensino Fundamental) Telma Weisz, ao analisar a relação entre a disponibilidade da informação externa e a possibilidade de construção interna pela criança, afirma que quando os me- ninos jogam juntos, há um determinado momento, precioso no processo de cada criança, em que aquilo que seu colega ao lado está fazendo, e que é reconhe- cido como mais avançado, se torna observável para ela. Para a autora, quando a criança percebe tal situação, é porque: a) o professor reproduz e mostra o que o colega faz melhor. b) detém o conhecimento que brota de dentro para fora. c) percebe que o conhecimento existe no mundo, no meio ambiente. d) já construiu a lógica necessária para poder aprender. e) já possui a heteronomia necessária para aprender. 2. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática,) Segundo José Carlos Libâneo, utilizando como critério a posição que adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, as tendências pedagógicas forma classificadas em liberais e progressistas.. Considere as afirmativas sobre o papel da escola, a atuação do professor e os conteúdos de ensino na tendência pedagógica crítico-social dos conteúdos. I. A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio de aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. II. Os conteúdos não devem ser apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana e so- cial. III. A forma de conceber os conteúdos estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular ou espontânea, numa relação de descontinuidade. IV. O papel de mediação em torno da análise dos conteúdos é exercido pelo pro- fessor sempre de forma não-diretiva, evitando a intervenção pedagógica. 83 Estão CORRETOS apenas os itens: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) III e IV. 3. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática,) De acordocom a legislação vigente, as escolas devem desenvolver práticas inclusivas. Con- sidere as seguintes afirmativas com relação à perspectiva da educação inclusiva no espaço escolar. I. A escola deve evitar o contato entre estudantes que não apresentam deficiên- cias e os que apresentam. II. A escola deve promover o contato entre estudantes que não apresentam defi- ciência e os que apresentam, atuando de forma a evitar situações que envol- vam intimidação vexatória. III. O professor deve acompanhar, sem o auxílio de outros profissionais, a aprendi- zagem dos estudantes com deficiência, e altas habilidades/superdotação e Transtornos globais do desenvolvimento. IV. A escola deve elaborar uma proposta pedagógica que atenda aos grupos e às necessidades individuais. Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) III e IV. 4. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática,) A mobili- dade escolar ou a conhecida transferência é objeto de regramento na LDB e em 84 outros instrumentos normativos do CNE e dos Conselhos de Educação Estaduais e Municipais. As mobilidades, de modo geral, ocorrem por necessidade dos adultos responsáveis pelo menor que não pode deixar de ser atendido frente a uma esco- lha que não foi sua. Nesse sentido, não há como recusar matrícula em algum es- tabelecimento de ensino que favoreça o deslocamento do aluno transferido. Mas, acima dessas questões administrativas, não há como recusar a continuidade dos estudos iniciados em outra escola, de forma que o aluno não se sinta desprepa- rado para avançar em seu percurso de aprendizagem ou que não se sinta retro- cedendo em conquistas já efetivadas. Em observações e acompanhamento de alguns estudos, indicam que essa questão tem sido descuidada gerando, inúme- ras vezes, nos alunos transferidos, uma sensação de abandono ou descaso. Por tudo isso, ao tratar da mobilidade interséries e interescolas ou sistemas e, pensando prioritariamente na dimensão pedagógica que envolve o currículo escolar e a avaliação, a LDB estabeleceu no § 1° do art. 23 que: a) poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para qualquer componente curricular. b) a escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais. c) o calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climá- ticas e econômicas a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas. d) nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento es- colar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequên- cia do currículo. e) a classificação em qualquer série ou etapa por promoção, para alunos que cur- saram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, em qualquer escola. 5. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática,) A Nota técnica nº4/2014 do MEC orienta quanto a documentos comprobatórios de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas Habilidades/su- perdotação no Censo Escolar. Segundo essa nota técnica, cabe ao professor que atua no Atendimento Escolar Especializado: 85 a) elaborar o plano de Atendimento Educacional Especializado. b) estabelecer como condição para a matrícula a apresentação de um diagnóstico clínico. c) evitar contato com as famílias e com os demais profissionais de saúde. d) garantir o atendimento somente a partir do acesso da escola ao diagnóstico clí- nico. e) realizar estudo de caso somente se houver a apresentação de laudo médico do aluno. 6. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática,) Em um de- bate sobre as relações entre processos de aprendizagem e desenvolvimento, foi defendida, entre outras, a seguinte posição: É necessário esperar a criança apresentar um nível de desenvolvimento particular para começar a educação escolar. Considerando a noção de zona de desenvolvimento proximal apresentada por Vygotsky, sobre esse posicionamento é correto afirmar que: a) está baseado na noção de zona de desenvolvimento proximal que desconsidera as interações sociais no desenvolvimento. b) não seria o mais produtivo, pois não existe relação entre processos de aprendiza- gem, educação escolar e desenvolvimento. c) não seria o mais produtivo, pois a exposição a novas aprendizagens pode funcio- nar como fator construtivo do desenvolvimento. d) não seria o mais produtivo, pois a exposição a novas aprendizagens pode funcio- nar como fator construtivo do desenvolvimento. e) seria o mais produtivo, pois a exposição a novas aprendizagens não é considerada um fator construtivo de desenvolvimento. 7. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática,) Considere as seguintes afirmativas com relação às metodologias ativas. I. A função do professor deve ser atuar como mediador entre o conhecimento e 86 os alunos, estimulando essa interação e ajudando nas dificuldades. II. O professor perde a sua função e pode ser substituído pela tecnologia ou perder sua razão de existir. III. A aprendizagem baseada em projetos e a aprendizagem baseada em proble- mas são práticas de ensino-aprendizagem comuns nas metodologias ativas. IV. Nessas metodologias, o aprendizado está centrado na figura do professor. Estão CORRETOS apenas os itens: a) I e II. b) I e III. c) I e IV. d) II e III. e) III e IV. 8. (VUNESP - 2020 - Prefeitura de Piracicaba - SP - Professor de Ensino Fundamental) A Resolução CNE/CEB 04/2010 (Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu- cação Básica) determina em seu artigo 13, que a organização curricular da edu- cação básica deve garantir “um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na aprendi- zagem e no gosto de aprender, subsidiada pela consciência de que o processo de comunicação entre estudantes e professores é efeti- vado por meio de práticas e recursos diversos”. Nesse sentido está se referindo: a) à abordagem didático-pedagógica interdisciplinar. b) às redes de aprendizagem. c) ao tratamento transdisciplinar na organização do percurso formativo do aluno. d) ao uso das tecnologias de informação e comunicação na educação. e) à organização da matriz curricular. 87 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 01 UNIDADE 02 QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 E QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 A UNIDADE 03 UNIDADE 04 QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 E QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 B QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 D QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 C QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 C UNIDADE 05 UNIDADE 06 QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 C QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 B QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 B 88 REFERÊNCIAS ASPERGER, H. Autistic psychopathy in chlidhood. Londres: Cambridge University Press, 1943. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT. Síndrome de Rett. Associação Brasileira da Síndrome de RETT, 24 Setembro 2020. Disponível em: https://bit.ly/3jC5jDl. Acesso em: 25 ago. 2020. ASSUMPÇÃO JR., F. B.; KUCZYNSKI, E. Autismo Infantil: Novas Tendênciase Perspectivas. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2015. ASSUMPÇÃO, F. B. Conceito e classificação das síndromes autistícas. In: SCHWARTZMAN, J. S.; ASSUMPÇÃO JR, F. B. Autismo infantil. São Paulo: Memnon, 1995. p. 3-13. AUTISM SPEAKS INC. Manual para síndrome de Asperger. Autism Speaks, [S. l.], 64 p., 2010. Disponível em: https://bit.ly/33ClbjU. Acesso em: 25 ago. 2020. BAGIS, J. Disgrafia, o que é?. Profª Jac Bagis, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2GDWVEN. Acesso em: 20 jul. 2020. BERCHERIE, P. A clínica psiquiátrica da criança. In: CIRINO, O. Psicanálise e psiquiatria com crianças: desenvolvimento ou estrutura. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 129- 144. BOSSA, N. A. Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como tratá-las? São Paulo: Artmed, 2000. BRASIL. Portaria Nº 555/2007, prorrogada pela Portaria nº 948/2007. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Ministerio da Educação, [2008]. Disponível em: https://bit.ly/3h5lSFK. Acesso em: 15 ago. 2020. BRASIL. Lei Nº 13.146 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Brasília, DF: Diário Oficial, [2015]. Disponível em: https://bit.ly/2GiIIgi. Acesso em: 15 ago. 2020. CARDOSO, A. R. B. Diferença entre Disgrafia e Disortografia. Psicologia com Amor, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2F2BFbD. Acesso em: 25 jul. 2020. CIASCA, S. M. Disgrafia. In: MONTIEL, J. M.; CAPOVILLA, F. C. Atualização em transtornos de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2009. COSTA, K. Palmas, pra que te quero? 1. ed. São Paulo: Labrador, 2019. 144 p. CRENITTE, P. A. P.; GONÇALVES, T. D. S. Disgrafia e linguagem escrita. In: MONTIEL, J. M.; CAPOVILLA, F. C. Aualização em transtornos de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2009. DIAS, Í. K. R. et al. Zika virus: – a review of the main aspects of this type of arbovirosis. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 51, n. 3, p. 261-269, may/jun. 2018. Disponível em: https://bit.ly/32bMcdf. Acesso em: 14 jul. 2020. 89 DUARTE, R. C. B. Deficiência intelectual na criança. Resid Pediatr., Rio de Janeiro, v. 8, n. supl 1, p. 17-25, 2018. Disponível em: https://bit.ly/339I6RT. Acesso em: 20 jul. 2020. FARIAS, E. R. S. D.; GRACINO, E. R. Dificuldades e distúrbios de aprendizagem. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2019. 194 p. FÉLIX, V. P. D. S.; FARIAS, A. M. Microcefalia e dinâmica familiar: a percepção do pai frente à deficiência do filho. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 12, 2018. FERNANDES, S. Fundamentos oara a Educação Especial. Curitiba: Intersaberes, 2013. FRITH, U.; GONZALEZ, C. Autismo/ Autism: Hacia una explicacion del enigma. Madrid: Alianza Editorial Sa, 2007. 285 p. GOMES, L. P. et al. Inventário de Depressão Infantil (CDI): uma revisão de artigos científicos brasileiros. Contextos Clínicos, online, v. 6, n. 2, p. 95-105, jul./dez. 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cclin/v6n2/v6n2a04.pdf. Acesso em: 15 jul. 2020. HOUTE, A. V.; ESTIENE, F. Dislexias. Porto Alegre: Artmed, 2001. KANNER, L. Autistic Disturbances of Affective Contact. Nervous Child, [S. l.], v. 2, p. 217- 250, 1943. LIMA, J. B. B.; DUARTE, S. M. Síndrome de Heller: um Mistério Sobre as Possíveis Causas do Transtorno Desintegrativo da Segunda Infância. Psicologado, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3lvCzgn. Acesso em: 25 ago. 2020. LIMA, R. F. D.; SALGADO, C. A.; CIASCA, S. M. Associação da dislexia do desenvolvimento com comorbidade emocional: um estudo de caso. Rev. CEFAC. , São Paulo, v. 13, n. 4, p. 756-762, jul./ago. 2011. Disponível em: https://bit.ly/35uLkCD. Acesso em: 25 jul. 2020. MARÇAL, P. O que é a Síndrome de Asperger?. Nova Escola, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3jXVwas. Acesso em: 11 jul. 2020. MERCADANTE, M. T.; GAAG, R. J. V. D.; SCHWARTZMAN, J. S. Transtornos invasivos do desenvolvimento não-autísticos: síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 28, n. 1, p. 12-20, maio 2006. Disponível em: https://bit.ly/3i0JwEJ. Acesso em: 28 jul. 2020. NÓBREGA, M. E. B. D. et al. Surto de síndrome de Guillain-Barré possivelmente relacionado à infecção prévia pelo vírus Zika, Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, 2015. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, v. 27, n. 2, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3bDUIVj. Acesso em: 25 jul. 2020. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. Curitiba: Intersaberes, 2018. 90 NUNES, A. I. B. L.; SILVEIRA, R. N. Psicologia da aprendizagem: processos teorias e contextos. Brasília: Liber Livro, 2009. ORRÚ, S. E. Síndrome de Asperger: aspectos científicos e educacionais. Revista Iberoamericana De Educación, [S. l.], v. 53, n. 7, p. 1-14, out. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3h6DEZn. Acesso em: 15 jul. 2020. PADOVANI, C. R.; ASSUMPÇÃO JR., F. B. Habilidades sociais na síndrome de Asperger. Bol. - Acad. Paul. Psicol., São Paulo, v. 30, n. 1, jun. 2010. PONDÉ, M. P. Tratamento do Autismo: a importância de Theodor Heller. Instituto Priorit, 2017. Disponível em: https://bit.ly/33f39mq. Acesso em: 18 jul. 2020. PREMACK, D.; WOODRUFF, G. Does the chimpanzee have a theory of mind? Behavioural and Brain Science, [S. l.], n. 1, p. 515-526, 1978. Disponível em: https://bit.ly/2GmDUqU. Acesso em: 25 ago. 2020. ROTTA, N. T.; PEDROSO, F. S. Transtorno da linguagem escrita: dislexia. In: ROTTA, N. T.; OHLWEILLER, L. R. R. D. S. Transtornos da aprendizagem. Porto Alegre : Artmed, 2006. SOUZA, I. G. S. D. et al. Dificuldades no diagnóstico de TDAH em crianças. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro , v. 56, p. 14-18, ago. 2007. Disponível em: https://bit.ly/2R7ZwsR. Acesso em: 26 jul. 2020. TRANCOSO, B. S. Deficiência intelectual: da eliminação à inclusão. Curitiba: Intersaberes, 2020. UNTOIGLICH, G. Oportunidades clínicas com crianças com sinais de autismo e seus pais. Estilos clínicos, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 543-558, dez. 2013. Disponível em: https://bit.ly/2QRxm5b. Acesso em: 26 jul. 2020. VISCA, J. Clínica Pedagógica: Epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. ZILIOTTO, G. S. Educação especial na perspectiva inclusiva: fundamentos psicológicos e biológicos. 1. ed. Curitiba : Intersaberes , 2015. 136 p.relação é aquele que incentiva a construção da autonomia, que conhece as teorias de Aprendizagem, as competências, as habilidades de seu aluno, é aquele que pensa nos objetivos de aprendizagem, que vê a limitação como um desafio, que enxerga a deficiência como a diferença e diversidade, que é capaz de proporcionar o desenvolvimento social e acadêmico. Diante do exposto, surgem inúmeras dúvidas e inseguranças, quando pensa- mos em uma educação de qualidade para todos, a partir da equidade. Por isso, esse livro foi pensado com base nas práticas pedagógicas desenvolvidas nas escolas re- gulares junto aos alunos que fazem parte da educação especial, seja com deficiên- cia e mais especificamente nesse caso com Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs). Sabemos da complexidade, pois, envolve aspectos culturais, sociais, psicoló- gicos e sem deixar de mencionar e dar a devida importância, os aspectos pedagó- gicos. Conheceremos os Transtornos Globais do Desenvolvimento, bem como seus impactos no âmbito acadêmico, a necessidade de mediação do professor e por fim, as estratégias para a inclusão! Vamos lá, rumo a outros conhecimentos? 6 TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO TRANSTORNOS GLOBAIS DE DESENVOLVIMENTO – TGDS "Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, acei- tando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino“ Renata Vilela Nesta unidade dialogaremos acerca dos Transtornos Globais do Desenvolvi- mento (TGDs) e os comprometimentos causados na aprendizagem, no comporta- mento e nas relações e interações sociais. O TGD é caracterizado como um distúrbio nas interações sociais, e se mani- festa na infância, logo nos cinco primeiros anos de vida da criança. Suas principais características são os padrões estereotipados e repetitivos, além do desinteresse pe- las atividades (GOMES et al., 2013). Conforme definido na Classificação Internacional das Doenças (CID-10), os TGDs caracterizam-se pela condição de alterações qualitativas das interações soci- ais recíprocas e, ainda, das modalidades de comunicação, sendo característico um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo (ZILIOTTO, 2015, p. 95). AUTS: projeto multiplataforma ajuda crianças com autismo O projeto “AUTS” começou como uma iniciativa familiar e hoje comporta um ambiente de apoio à criança com autismo. A ONU – Organização das Nações Unidas revela que 1% da população mundial é autista, o equivalente a 70 milhões de pessoas. Mas o universo autista é muito mais amplo! Por isso, Auts proporciona experiências incríveis e divertidas no desenvolvimento da criança e na sua interação com o mundo! Conheça a plataforma Auts! UNIDADE 01 7 A luta pelos direitos à inclusão escolar existe desde a Antiguidade. Nos 20 últi- mos anos vem ocorrendo o aumento progressivo no diagnóstico de TGDs. Estudos indicam supostamente que sua origem é neurobiológica. O aumento do número de diagnósticos em TGD, de alguma forma provocou uma categorização de Transtornos do Espectro Autista (UNTOIGLICH, 2013). Com relação às modificações referentes às classificações dos TGDs, na publi- cação do Novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V, Lo- tufo (2014) explica que os Transtornos Globais do Desenvolvimento que anteriormente incluíam o Transtorno Desintegrativo da Infância, Síndromes de Asperger, Autismo e Rett, foram abarcadas por um mesmo diagnóstico: Transtornos do Espectro Autista. O que mudou então? Para a ciência todos esses transtornos apresentam a mesma condição, divididas em dois grupos de sintomas: Déficit na comunicação e interação social; padrão de comportamentos e interesses e atividades restritos e repetitivos. Ou- tros sintomas descritos no manual são: Dificuldades na comunicação e atraso na fala; Atraso motor para engatinhar, andar, e na escola dificuldades com a coor- denação motora grossa e fina; Dificuldades na socialização; Interesses restritos, dificuldades na aprendizagem. Muitas são as críticas nesta área. Especialistas acreditam que algumas diferen- ças são muito significativas entre os transtornos. A APA (Associação Psiquiátrica Ame- ricana) entende que essa separação nos diagnósticos não trouxe nenhuma vanta- gem nos diagnósticos ou na prática terapêutica, muito ao contrário, dificultou a or- ganização do diagnóstico clínico, possibilitando enganos e prejuízos para a criança, 8 família e escola. Portanto, em 2013 a mudança no DSM – V englobou todos os diagnósticos das síndromes, passando todas a pertencer ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Un- toiglich (2013) explica que o DSM – V (APA,2012) propôs a substituir “Transtorno Global do Desenvolvimento” por “Transtorno do Espectro Autista (TEA)”. A partir da mudança os critérios para a identificação se tornaram abrangen- tes, possibilitando a partir de então o aumento do diagnóstico de autismo. A ciência ainda desconhece as reais causas do autismo. Para o autor milhões de crianças que apresentam características autistas estão sendo incluídas em uma categoria comum. Ele ainda assevera que mediante o exposto, não podemos pensar para o autismo uma única causa. Muitas linhas de estudo se desenvolveram ao longo das décadas, e com isso diferentes hipóteses, contudo, a grande maioria concorda que “trata-se da combi- nação de múltiplos fatores, que não necessariamente devem repetir-se de forma idêntica em todos os sujeitos” (UNTOIGLICH, 2013, p. 545). A seguir, algumas caracte- rísticas muito comuns do TGD apresentadas pelas crianças: Mudança de humor repentina; Preferência por brincadeiras individuais; Ecolalia; Dificuldades para iniciar ou sustentar um diálogo; Aversão ao toque; Sensibilidade a luz e odor fortes; Estereotipias; Falta de concentração; Dificuldade de manter contato visual. Portanto, trata-se de algo muito delicado ao realizar um diagnóstico de uma criança com suspeita de algum tipo de Transtorno do Espectro Autista. Ele deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, por meio de avaliações e testes. Zilotto (2015) esclarece que pedagogicamente a situação ainda é mais com- plexa, porém a escola é o lugar propício para identificar o TGD em uma criança, em função das características apresentadas. Por isso, as intervenções pedagógicas de- vem ter como foco inicialmente o ensino e a aprendizagem do domínio de rotinas, 9 familiarização com o ambiente, estabelecimento de vínculos, estratégias de comu- nicação/antecipação, estabelecimento de rotinas em grupo, auxilio na aprendiza- gem de autorregulação etc. É muito importante para a criança as rotinas e a antecipação, ou seja, ela precisa aprender a prever a rotina da escola e da sala de aula. Estas intervenções e aprendizagens permitem que a criança amplie sua flexibilidade mental diante dos imprevistos. É um grande desafio para a escola inicialmente. Todos os profissionais precisam encontrar equilíbrio entre o acolhimento, as ne- cessidades educacionais do aluno e a oferta da rotina e vivência escolar, sem, no entanto, provocar mudanças drásticas na rotina que comprometam o alcance das habilidades sociais. O termo TGD foi muito utilizado em famílias que apresentavam dificuldades para assumir o diagnóstico de autismo, por associá-lo a uma patologia severa. Con- tudo hoje, estudos e informações estão sendo mais divulgados, ampliando as possi- bilidades dentro do TEA e, portanto, quase não se usa mais o termo TGD. Essas orientações podem ser utilizadas e aplicadas em qualquer tipo de Trans- torno Global do Desenvolvimento, sem nunca perder de vista o cuidado, estudo e o conhecimento acerca dassingularidades e subjetividades de cada criança. [...] o comprometimento dos indivíduos é tão complexo que fica difícil um tratamento que seja satisfatório e que funcione em todos os casos. O conhecimento humano é limitado, desde a etiologia da doença até a intervenção, para assegurar à criança uma qualidade de vida (SOUZA et al., 2007, p. 29). Os desafios encontrados por professores e alunos são muitos, apesar dos movi- mentos sociais e leis direcionadas à inclusão, os resultados ainda não são os espera- dos pelas famílias e pela escola. Não podemos esquecer que a ação do professor no processo de inclusão de crianças com TGD é de suma importância, ele é a ponte entre o aluno e o mundo. Para tanto é necessário que esteja preparado, porque nessa relação, a parte mais afetada é a criança. A integração entre família, escola, professor, sociedade e gru- pos de estudo possibilita aos alunos maiores e melhores oportunidades de aprendiza- gem, socialização e inserção social. 10 AUTISMO Antes de conversarmos sobre o autismo, você sabe quais são os Transtornos do Espectro Autista? Quando falamos em Transtornos do Espectro Autista, não necessa- riamente estamos falando de autismo, mas de uma das formas do autismo. O autismo é considerado um Transtorno Global do Desenvolvimento, muito co- nhecido, pelo aumento do número de diagnósticos na atualidade. Vamos conhecer um pouco sobre a história do autismo. Em 1911, Bleuler, psiquiatra suíço, traz para a literatura científica o termo “au- tismo”. Para ele o autismo se equiparava a uma alteração muito próxima da esqui- zofrenia, dadas as características do isolamento e fuga da realidade externa. “do grego, autos: si mesmo; ismo: sufixo que se refere a como está: autismo (UNTOIGLICH, 2013). Em 1943, Kanner avança nas pesquisas e afirma que o “autismo infantil pre- coce” é diferente da esquizofrenia infantil. Para chegar a essa conclusão, ele obser- vou 11 pacientes que apresentavam as mesma características: dificuldade/incapa- cidade para estabelecer relações, alterações na linguagem; dificuldades com mu- danças na rotina e no ambiente, persistência para manter padrões, em alguns casos, surgimento de interesse e conhecimento acerca de um determinado assunto; pouco comprometimento do potencial cognitivo, porém com limitações a determinados in- teresses, e por fim, aspecto físico normal com aparecimento dos primeiros sintomas desde o nascimento (UNTOIGLICH, 2013). A partir desse estudo Kanner passou a denominar esse conjunto de caracterís- ticas como quadro de “Autismo Infantil Precoce”. Ele descreve esse quadro como uma condição de enorme dificuldade no contato social com as pessoas, desejo ob- sessivo de preservação tanto de coisas, quanto de ambientes e situações, alterações marcantes na linguagem, entre o mutismo total a deficiência na comunicação 11 (PADOVANI; ASSUMPÇÃO JR., 2010). Observe como Leo Kanner descrevia o autismo: Quadro 1: Autismo Relações Sociais afetivas Extrema solidão autista que impede que a criança se relacione com o mundo. O contato físico, movimentos ou ruídos que ameaçam invadir a solidão são ignora- dos. Apesar de ignorados são sentidos de forma pe- nosa e dolorosa. Comunicação e linguagem Ausência de linguagem, mutismo em muitas crianças. As que utilizam a linguagem existe a presença da eco- lalia. Ambiente e rotina Querem manter tudo no mesmo lugar e do mesmo jeito, sem alterações, somente a própria criança pode romper com esses padrões. Memória Enorme capacidade para memorizar grande quanti- dade de informações de interesse próprio. Hipersensibilidade a estímulos Sensibilidade a ruídos e alguns objetos. Fonte: Kanner (1943) Conforme o vídeo e os autores, essas são as características mais comuns e pre- sentes nas pessoas que apresentam autismo. Com certeza os estudos de Kanner foram muito importantes para as descober- tas sobre o autismo, porém, isso não quer dizer que ele não foi questionado acerca de suas ideias e proposições. Até a década de 70 seus estudos influenciaram o diag- nóstico do autismo: Como o termo “autismo já havia sido utilizado para se referir a esquizofrenia, postulou-se uma correlação indevida entre os diagnósticos; Ele não considerou a idade na manifestação do quadro como fator impor- tante no diagnóstico assertivo, o que levou a diagnósticos incorretos, con- fundidos com autismo; Estudos posteriores aos de Kanner, reduziram as características mais obser- https://bit.ly/3k6mDl5 12 váveis do quadro, outros consideraram algumas como secundárias, nova- mente incorrendo em diagnósticos que não estavam relacionados ao au- tismo. Enfim, para chegar próximo de um estudo mais consistente muito se fez. Hoje sabemos que no início da infância, a maior parte das interações sociais se dão pela interação física, troca de afetos, possibilitando os pais e até mesmo os professores das creches perceberem a falta de interesse pelas brincadeiras, trocas de carinhos e a intolerância ao contato físico. Com o passar do tempo por volta dos 2 ou três anos de vida a ausência de habilidades sociais torna-se mais evidente, principalmente se a criança for comparada a outras. A fala da criança autista ocorre muitas vezes tardiamente, outras nunca usa- rão a linguagem como forma de comunicação. No segundo caso, elas não apresen- tam expressões faciais, devido ao grave comprometimento na comunicação. Quando conseguem desenvolver a linguagem, ainda assim a comunicação é defi- ciente podendo apresentar ecolalia. Como a intensidade das características já aparecem logo na infância, quanto mais rápido o diagnóstico melhor e menos comprometimentos na aprendizagem, so- cialização e interações sociais. O acompanhamento médico da criança desde o seu nascimento é de suma importância para o diagnóstico precoce de qualquer do- ença, distúrbio ou transtorno. Quanto antes diagnosticado, mais rápido ocorrem as intervenções necessárias e consequentemente minimizam-se os impactos negativos para a criança. Infelizmente até hoje o autismo é definido por meio de critérios comportamen- tais, já que não existem estudos que comprovem problemas de cunho biológico, que caracterize a “incapacidade de relacionar-se” naturalmente com as pessoas desde 13 o início da vida (PADOVANI; ASSUMPÇÃO JR., 2010). Quadro 2: Parece Autismo, Mas, Não É! Definição Quando surge Semelhança Diferenças Hiperlexia Habilidade precoce em decodificar palavras sem a presença de instrução formal. Entre 02 e 03 anos de idade demonstrando capacidade de leitura antes dos 05 anos. Existem compor- tamentos sociais atípicos, o que faz com que seja confundida com a Síndrome de As- perger. Tendem a per- der as carac- terísticas autis- tas conforme desenvolvem as habilidades de linguagem. Hiperatividade Estado exces- sivo de ativi- dade mental ou física. Durante a infân- cia. Em pessoas com TEA, a hiperativi- dade é ritmada Não há dificul- dades de soci- alização, ape- nas de con- centração e, aprendiza- gem. X-Frágil Condição ge- nética associ- ada a debili- dades intelec- tuais, proble- mas de aprendiza- gem e de comporta- mento. Pode ser diag- nosticada du- rante o pré-na- tal por meio da análise do DNA. Ansiedade, com- portamento hipe- rativo ou impul- sivo, afeta a co- municação. Pode ser iden- tificado por exame gené- tico e pelas características físicas. Depressão Doença psi- quiátrica que provoca alte- ração no hu- mor. Manifesta-se entre 06 e 12 anos de vida. Dificuldade de concentração, falta de iniciativa isolamento, apa- tia, cansaço, fra- queza e agressivi- dade.Não há estere- otipias moto- ras. Síndrome de Rett Doença ge- nética associ- ada à muta- ção no gene. Entre 02 e 04 anos de vida. Comprometi- mento da lingua- gem, dificuldade de interação so- cial nos anos inici- ais. Desacelera- ção do cresci- mento crani- ano, perda de habilidades manuais volun- tárias adquiri- das. Dislexia Dificuldade das áreas de escrita, leitura e soletração. Identificada tar- diamente du- rante a alfabeti- zação. Ocorre incapaci- dades linguísticas. Não há pre- sença de com- portamentos repetitivos e estereotipados Fonte: Elaborado pelo Autor (2020) Podemos ousar dizer que é uma forma muito específica de ser e que deve ser 14 respeitada, afinal o desenvolvimento, o entendimento cerca do mundo e as intera- ções são diferentes do que estamos acostumados. Na próxima unidade conversaremos sobre a Síndrome de Rett, sintomas, ca- racterísticas e semelhanças com o autismo. https://bit.ly/3uhGm5M. https://bit.ly/35iHdJN https://bit.ly/3uhGm5M 15 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (CPCON - 2018 - Prefeitura de Serra Branca - PB - Cuidador Educacional). Carac- terizam-se como público alvo do Atendimento Educacional Especializado: I. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometi- mento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem- se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. II. Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um po- tencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento hu- mano combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade. III. Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de na- tureza física, intelectual, mental ou sensorial. IV. Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um po- tencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento hu- mano isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e cri- atividade. V. Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos definitivo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. Está CORRETO o que se afirma apenas em: a) II, III e IV. b) I, II e III. c) I, III e IV. d) I, III e V. e) I, II e V. 2. (IBADE - 2018 - Prefeitura de Ji-Paraná - RO - Técnico Educacional em Saúde Men- tal) O Transtorno do Espectro Autista é um novo transtorno do DSM-5 que engloba o Transtorno Autista (autismo), o Transtorno de Asperger, o Transtorno Desintegra- tivo da Infância, o Transtorno de Rett e o Transtorno Global do Desenvolvimento 16 sem outra especificação do DSM-IV. Ele é caracterizado por déficits em dois domínios centrais, na: a) fala e habilidades motoras; gestos estereotipados e repetitivos. b) comunicação e internalização pessoal; padrões restritos e rítmicos. c) fala dialógica e integração social; gestos estereotipados e repetitivos. d) movimentação e domínio corporal; padrões repetitivos e restritos. e) comunicação e interação social; padrões repetitivos e restritos. 3. (CONPASS - 2018 - Prefeitura de Serra Grande - PB - (Professor de Educação Espe- cial) Estudos mais recentes sobre o autismo ampliam a sua definição e os seus níveis de manifestações. Trabalhos realizados por M. Rutter e D. Cohen nos finais dos anos 60 traduzem o autismo como um transtorno do desenvolvimento. Com base nesses estudos, entende-se como Transtorno Global do Desenvolvimento não apenas o autismo, mas diferentes transtornos que afetam as funções do desenvolvimento das pessoas. A saber: I. Autismo; II. Síndrome de Rett; III. Transtorno ou Síndrome de Asperger; IV. Transtorno Desintegrativo da Infância; V. Transtorno Global do Desen- volvimento sem outra especificação A esse respeito são considerados Transtorno Global do Desenvolvimento: a) Todas as afirmativas estão corretas. b) Apenas I e V. c) Apenas II e III. d) Apenas IV e V. e) Apenas III, IV e V. 4. (CONPASS - 2018 - Prefeitura de Serra Grande - PB - (Professor de Educação Espe- cial) As primeiras descrições do autismo foram realizados na década de 40. Os as- pectos então priorizados para estudos e os pontos de vista a partir dos quais o quadro foi descrito e compreendido influenciaram as abordagens práticas de ajuda e tratamento. A descrição realizada por Leo Kanner em 1943 define o autismo como: 17 a) a impossibilidade para relacionar-se normalmente com as pessoas e as situações. b) a agressividade constante ao se relacionar com as pessoas. c) as condições pessoais favoráveis para lidar com as diferentes situações e pessoas. d) algumas dificuldades de realizar as atividades educativas e com possibilidades de desenvolver outros tipos de ações do cotidiano. e) a incapacidade para relacionar-se normalmente com as pessoas e as situações. 5. (FGV - 2018 - MPE-AL - Psicólogo) O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, transtorno que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro, é celebrado no dia 02 de abril. Sobre os critérios essenciais para o diagnóstico desse transtorno, presentes nas suas diferentes formas de manifestação, analise os itens a seguir: I. Altas habilidades e inteligência acima da média. II. Padrões restritos e repetitivos de comportamento. III. Déficits na comunicação e na interação social. IV. Surgimento dos sintomas na primeira infância. Está CORRETO o que se afirmar em: a) II e III, apenas. b) III e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 6. (CONSCAM - 2018 - FREA - Professor de Educação Infantil) “Bem recentemente ele (Eugen Bleuler) mostrou que o próprio termo “pensamento autístico" deu margem a muitos equívocos. Passou-se a inserir nesse conceito um conteúdo que aproxi- mava o pensamento autístico do autismo esquizofrênico, a identificá-lo com o pensamento egoísta, etc. Por isso Bleuler propôs chamar o pensamento autístico de pensamento _____________ [...]". (VYGOTSKY. A construção do pensamento e da Linguagem, p. 37, adaptado). Assinale a alternativa que indica a forma como Bleuler propôs chamar o “pensa- mento autístico": 18 a) realista. b) promissor. c) imaturo. d) irrealista. e) exacerbado. 7. (COPEVE-UFAL - 2017 - Prefeitura de Roteiro - AL - Psicólogo,) Durante muitos anos houve uma controvérsia sobre se o autismo era um transtorno separado ou apenas um caso de esquizofrenia na infância. No entanto, atualmente, concorda-se que, em geral, o autismo infantil e a esquizofrenia na infância são transtornos separados. Dadas as afirmativas sobre uma variedade de fatores que distinguem o autismo infantil da esquizofrenia na infância: I. As crianças com autismo raramente têm uma história familiar de esquizofrenia, mas as pessoas com esquizofrenia frequentemente têm uma história familiar dessa doença. II. As crianças com autismo frequentemente apresentam uma falta de desenvol- vimento intelectual, mas esse não é o caso de crianças que sofrem de esqui- zofrenia. III. As crianças com autismo têm fala limitada, enquanto as crianças com esqui- zofrenia têm habilidade de fala normal. IV. O autismo fica aparente quase ao nascimento, enquanto a esquizofrenia de- senvolve-se posteriormente. Verifica-se que está(ão) correta(s): a) I, II, III e IV. b) II, III e IV, apenas. c) I e IV, apenas. d) I e II, apenas. e) III, apenas. 8. (2017 - Prefeitura de Monteiro - PB - Professor - Educação Fundamental I - A. E. E.)O documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2004) elaborado pelo MEC, 19 através da Secretaria de Educação Especial, reúne importantes fascículos sobre o Atendimento Educacional Especializado para a pessoa com deficiência. No que diz respeito ao autismo, algumas características poderão ser perceptíveis pelo pro- fessor, entre elas, se destacam: I. Ausência de linguagem verbal, ou linguagem verbal pobre. II. Hiperatividade, ou seja, constante agitação e movimento (ocorre em um grande número de crianças) ou extrema passividade (ocorre em um menor número de criança). III. Contato visual deficiente, ou seja, a criança raramente olha nos olhos, do pro- fessor, dos pais ou de outras crianças. IV. Ausência de interesse por materiais ou atividades de sala de aula. As afirmativas CORRETAS são: a) Apenas I e III. b) Apenas II. c) Apenas IV. d) Apenas III. e) Todas estão corretas. 20 SÍNDROME DE RETT SÍNDROME DE RETT: BREVE HISTÓRICO “Não se pode falar de educação sem amor. ” Paulo Freire Nesta unidade conversaremos sobre a Síndrome de Rett, histórico, sintomas, características mais comuns, comprometimentos, expectativa de vida e as questões genéticas envolvidas. No final da década de 50 e início da década de 60, dois médicos iniciaram suas pesquisas interessados em conhecer um quadro clínico que apresentava uma condição muito peculiar, e que, mais tarde seria denominada Síndrome de Rett (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT, 2020). Nesse cenário destaca-se o médico Andréas Rett, pediatra austríaco que em seus estudos e pesquisas percebeu que algumas crianças do sexo feminino apresen- tavam um padrão de desenvolvimento neurológico muito característico e peculiar após um período de desenvolvimento, a primeira infância. Figura 1: Andreas Rett Disponível em: https://bit.ly/2ZtWh33. Acesso em: 10 jul. 2020 UNIDADE 02 https://bit.ly/2ZtWh33 21 O que ele observou? Essas meninas em determinado momento da infância iniciavam: Desaceleração do perímetro cefálico; Perda a funcionalidade das mãos (apraxia manual); Perda das habilidades de comunicação (linguagem e interação social); Desenvolvimento de movimentos estereotipados incomuns (esfregar ou ba- ter as mãos, ou levá-las e batê-las na boca). A curiosidade do médico não o permitiu parar suas pesquisas, muito ao con- trário, ele viajou para a Europa levando consigo todos os registros dos estudos reali- zados e começou a participar de vários eventos científicos, sua ideia, era despertar na comunidade científica o interesse pelas suas pesquisas e observações. Outro ponto que merece destaque, é que esse “despertar” da comunidade científica le- varia outros médicos a observarem se eles haviam notado em seus pacientes carac- terísticas similares às que ela já observava há algum tempo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT, 2020). Seu trabalho foi tão grandioso que parte da sua produção científica foi publi- cada em periódicos locais em Viena. Apenas uma produção em inglês foi publicada no Manual de Neurologia Clínica, em que ele além características e sintomas já ob- servados inclui a hiperamonemia. Como já dito anteriormente, outro médico, o pediatra sueco Bengt Hagberg no mesmo período que Andreas Rett também pesquisa o mesmo assunto. Ele tam- bém percebeu que as meninas apresentam padrões de comportamentos muitos si- milares. Diferentemente do Dr. Andréas Rett, ele não se preocupou em publicar os casos que cuidadosamente documentou, apenas os categorizou como crianças com deficiência mental e motora inespecífica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT, 2020). Por coincidência, no final da década e 1970, os médicos se encontraram no Canadá em um evento científico. Foi nesse evento que a “desordem” já conhecida e documentada por esses médicos foi amplamente divulgada e recebeu atenção dos pesquisadores norte-americanos. A partir de então com a divulgação da Síndrome de Rett, ela passou a ser diagnosticada nos Estados Unidos, recebendo o apoio do Instituto Nacional de Saúde 22 em apoiar programas de pesquisa que trouxessem novas informações acerca da sín- drome. Não somente médicos e instituições se mobilizaram pela causa, a sociedade também se organiza, criando a primeira associação de pais e interessados, IRSA - International Rett Syndrome Association. Os esforços não foram em vão, resultaram em inúmeras pesquisas que buscavam informações sobre as causas e as caracterís- ticas clínicas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT, 2020). No Brasil, as informações chegaram um pouco mais tarde. Os primeiros casos foram publicados pelo Dr. Sérgio Rosemberg, em 1986. Em 1990 a comunidade fun- dou no Rio de Janeiro a Associação Brasileira de Síndrome de Rett. Após diversas pesquisas, muito neurologistas infantis acreditavam que existia uma natureza genética na Síndrome de Rett, pois, ela era detectada quase exclusi- vamente no sexo feminino, irmãs gêmeas, tia/sobrinha, e em um caso documentado de uma mulher acometida pela Síndrome de Rett ter sido estuprada e dado a luz a uma criança com a mesma síndrome (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT, 2020). Evidentemente, os resultados dos estudos, principalmente em famílias, restrin- giram as pesquisas para uma conclusão sobre a porção mais final do braço longo do cromossomo X, denominada Xq28. Os estudos se intensificaram ao se descobrir que no Paraná havia uma família com 5 filhas, com a Síndrome de Rett, uma delas falecida. Os resultados dessa pes- quisa saíram em 1999, e descobriu-se que havia uma associação dessa condição com mutações no gene MECP2 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA SÍNDROME DE RETT, 2020). Desde então o mundo inteiro se dedica a pesquisas que nos possibilitem uma maior compreensão das manifestações clínicas e dos medicamentos que amenizem os sintomas. Em 2007 na Escócia, Bird e colaboradores evidenciaram que é possível reverter alguns sinais e sintomas da Síndrome, isso permite novas possibilidades e maior quali- dade de vida, além de uma mudança na história da ciência, das famílias e das pes- soas que têm Síndrome de Rett. 23 SÍNDROME DE RETT: CONCEITO Após diversos estudos e eventos científicos, a Síndrome de Rett foi definida como uma desordem muito rara no desenvolvimento neurológico, tendo sido reco- nhecida mundialmente no final da década de 70 e início da década de 80. Atualmente, as pesquisas e estudos indicam que ela pode ocorrer em qual- quer grupo étnico, sem diferenças significativas de um grupo étnico para outro. Em cada 10.000 a 20.000 pessoas do sexo feminino, uma possui Síndrome de Rett. Sabe- se que a síndrome possui uma origem genética, que culmina em uma desordem. Em 1999 constatou-se que o grupo mais afetado é o das meninas e mulheres que apre- sentam mutações no gene MECP2. Apesar de tantos estudos, a Síndrome de Rett ainda é desconhecida por mé- dicos, professores, famílias, terapeutas entre outros. Em alguns casos pessoas já ouvi- ram falar, mas não têm informações corretas e aprofundadas do que realmente seja a Síndrome. CAUSAS A Síndrome de Rett está associada a mutações no gene MECP2, localizado no cromossomo X, assim, possui causas genéticas. O MECP2 controla outros genes, a proteína codificada por ele “desliga” alguns genes durante o desenvolvimento neu- ronal, assim, algumas fases do desenvolvimento podem ficar muito comprometidas. Compreendendo melhor! O gene MECP2 ao sofrer mutações, codificará uma proteína defeituosa, que por sua vez não será mais capaz de cumprir o seu papel “silenciar os genes (“desligá-los”) em algumas fases do desenvolvimento. Dessa forma os neurônios permanecem ativos(“ligados”)causando comprometimento do sistema nervoso central. Uma das explicações para os casos de Síndrome de Rett é que a mutação 24 ocorre no alelo do pai. Isso explica porque as meninas são acometidas pela síndrome, uma vez que os meninos não herdam o cromossomo do pai, e sim o da mãe. São raros os casos em que a mutação ocorre no gene da mãe, o que repre- senta a ausência do quadro da síndrome em meninos. A análise do gene MECP2 da paciente e da mãe, possibilita verificar de a mu- tação foi herdada do lado materno, e, portanto, buscar aconselhamento genético. Se existir algum caso de Síndrome de Rett na família é importante pensar que pode haver uma recorrência. Nesse caso, o diagnóstico pré-natal é muito importante. QUADRO CLÍNICO A Síndrome de Rett (SR) se caracteriza por desordens neurológicas evolutivas. Isso resulta no comprometimento progressivo motor e intelectual da criança, modifi- cando seu padrão de desenvolvimento, regressões na fala, no crescimento e com- prometendo os aspectos motores (ZILIOTTO, 2015). A Síndrome de Rett é um distúrbio neurobiológico que ocorre quase que exclusivamente em mulheres. Foi descrita em 1966 por Andreas Rett, neuropediatra austríaco. Após um período de desenvolvimento, inicialmente normal, pacientes afetados experimentam a perda da fala, estereotipias manuais e anormalidades na marcha. As caracte- rísticas adicionais incluem a desaceleração do crescimento da ca- beça, convulsões, características autistas e anormalidades respirató- rias (ZILIOTTO, 2015, p. 97). Clinicamente a SR é organizada em quatro etapas, de acordo com Merca- dante (MERCADANTE; GAAG; SCHWARTZMAN, 2006). https://bit.ly/2NIk2S2. Acesso em: 10 jul. 2020. https://bit.ly/2NIk2S2 25 Estagnação precoce: 6 a 18 meses, estagnação do desenvolvimento, o crescimento do perímetro cefálico desacelera, surgimento de uma tendência ao isolamento social; Rapidamente destrutiva; Regressão psicomotora entre o primeiro e terceiro ano de vida, choro sem mo- tivos aparentes, irritabilidade, perda da fala adquirida, movimentos estereoti- pados das mãos, comportamento autista, dificuldades respiratórias e epilep- sia. Pseudoestacionária: Pode haver algum tipo de melhora de alguns sintomas entre os três e dez anos de vida. Nesse período pode ocorrer um avanço no contato social. Presença de ata- xia bruxismo, apraxia, esplasticidade e escoliose. Podem ocorrer episódios de perda de fôlego. Deterioração motora tardia: Tem início aproximadamente aos 10 anos de idade, comprometimento cogni- tivo grave, e progressão lenta de prejuízos motores, chegando alguns casos a neces- sitar de cadeira de rodas. DIAGNÓSTICO CLÍNICO O diagnóstico da Síndrome de Rett deve ser realizado por exames clínicos e laboratoriais para pesquisa do MECP2 ou alterações dos genes. Nas últimas décadas o diagnóstico foi padronizado no mundo inteiro: Nascimento normal; Desenvolvimento inicialmente normal; Desaceleração do perímetro cefálico pós nascimento; Regressão psicomotora; desinteresse social, dificuldades na comunicação, perdas de palavras já aprendidas, comprometimento cognitivo; Movimentos estereotipados das mãos; Disfunção de marcha: prejuízos na comunicação; 26 Cientificamente foi condensado outros diagnósticos para padrões variantes (formas não clássicas): CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DE FORMAS VARIANTES DA SR Preencher pelo menos dos 3 critérios maiores; Preencher pelo menos 5 dos critérios menores; CRITÉRIOS MAIORES Ausência/redução das habilidades manuais; Redução/perda da fala; Redução/perdas das habilidades comunicativas; Desaceleração do crescimento cefálico; Estereotipias manuais; Regressão seguida de recuperação das habilidades sociais em contraste com a regressão neuromotora. CRITÉRIOS MAIORES Dificuldades respiratórias; Distensão abdominal; Bruxismo; Comprometimento da locomoção; Escoliose; Contato visual intenso; Perda da sensação de dor; Episódios de gritos/risadas Crescimento comprometido; Pés arroxeados, hipotermia; Terrores noturnos, dificuldades para dormir; Formas variantes ou atípicas de Síndrome de Rett incluem: Precoce manifestação de epilepsia; Variante com fala preservada com manutenção da linguagem funcional 27 Sintomas e características apresentadas tardiamente. As meninas com SR normalmente apresentam os padrões descritos e evolução dos sinais clínicos. APRENDIZAGEM Cientificamente existem poucas informações sobre o desenvolvimento e aprendizagem das crianças com Síndrome de Rett. Estudos realizados em 2002 e 2003 sugerem a utilização da tecnologia de rastreamento de olhar para a avaliação e intervenção das habilidades dessas crianças. De acordo com os estudos, parece que existe uma intencionalidade no olhar das meninas, porém, ainda é difícil a avaliação até os 36 meses de idade, e até em idades mais avançadas. Recomenda-se que até os 05 ou 6 anos de idade que apresente frequente a Educação Infantil, sem, contudo, ser exposta a riscos para que não haja comprome- timento da saúde física. Esse espaço garantirá a aprendizagem das habilidades bá- sicas para a interação e socialização. A partir dos sete anos de idade e dos avanços da síndrome, cabe a família escolher entre manter a criança na escola regular ou solicitar o atendimento educa- cional especializado. Se for definido que a criança permanecerá na escola regular, 28 deverá acontecer um acompanhamento pedagógico juntamente com outros pro- fissionais e parceria com a família, a fim de que haja desenvolvimento, aprendizagem e qualidade de vida para a criança com SR. Contudo a escolarização da criança com SR, deve ser bem pensada pela fa- mília, sobre os objetivos do processo de aprendizagem, o rendimento escolar, o res- peito às singularidades da criança e a estrutura física e pedagógica oferecida pela escola. Na próxima unidade dialogaremos sobre a Síndrome de Asperger, histórico, sintomas e aprendizagem. https://bit.ly/3pyqTLb. Acesso em: 10 jul. 2020. https://bit.ly/3bsQT5b https://bit.ly/3k5ypMH https://bit.ly/3pyqTLb 29 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (Instituto Machado de Assis - 2018 - Prefeitura de Caxias - MA - Professor da Educa- ção Básica - Atendimento Educacional Especializado) Uma das características dos alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) é o apego a rotinas e rituais. Assim, no decorrer dos primeiros dias, é fundamental que o professor tenha em mente que: I. O cotidiano escolar possui rituais que se repetem diariamente. A organização da entrada dos alunos, do deslocamento nos diversos espaços, das rotinas em sala de aula, do recreio, da organização da turma para a oferta da merenda, das aulas em espaços diferenciados na escola, da saída ao final das aulas e outros, são exemplos de rituais que se repetem e que favorecem a apropriação da experiência escolar para a criança com TGD. II. É importante, na tentativa de acolhimento dessa criança, não proporcionar a ela vivências que não farão parte da sua rotina no futuro. III. A inflexibilidade e o apego a rotinas poderão levar a criança a estabelecer ro- tinas inadequadas no interior da escola, que causarão dificuldades posteriores para os profissionais e para a própria criança quando forem reformuladas. Acerca dos itens acima, marque a alternativa CORRETA. a) Os itens I, II estão corretos. b) Os itens I, II e III estão corretos. c) Apenas o item III está correto. d) Apenas os itens II e III estão corretos. e) Todas as alternativasestão corretas. 2. (EXCELÊNCIA - 2018 - Prefeitura de Coroados - SP - Professor - Educação Especial - AEE) São considerados transtornos globais do desenvolvimento (TGDs): a) Síndrome de Asperger. b) Espectro Autista. c) Síndrome de Rett. 30 d) Transtorno desintegrativo da infância. e) Todas as alternativas estão corretas. 3. (CEFETBAHIA - 2017 - Prefeitura de Irecê - BA - Pedagogo) Sobre os educandos que são considerados com necessidades especiais, de acordo com a resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, analise as opções a seguir e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas. ( ) Educandos altas habilidades/superdotação com grande facilidade de apren- dizagem, que os levem a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. ( ) Educandos com dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicá- veis. ( ) Educandos com dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das ativida- des curriculares. Como por exemplo, aquelas relacionadas a condições, dis- funções limitações ou deficiências. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é: a) V, V, V b) V, F, V c) V, F, F d) F, V, V e) F, F, V 4. Sobre o que deve ser previsto na organização do Projeto Pedagógico da escola de ensino regular na institucionalização da oferta do Atendimento Educacional Especializada, de acordo com a resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, analise as opções a seguir e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas. (X) Cronograma de atendimento aos alunos. (X) Avaliações de rendimento diferenciadas para alunos com necessidades especiais. 31 ( ) Identificação das necessidades educacionais específicas dos alunos, defini- ção dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas. ( ) Sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos. ( ) Tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e lo- comoção. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é: a) V V F V F b) b) V F F F V c) V F V V V d) F V V F V e) F F V V F 5. (GUALIMP - 2020 - Prefeitura de Quissamã - RJ - Professor Supervisor Educacio- nal,) De acordo com a Lei de diretrizes e bases da educação nacional – Lei nº 9394/1996, os sistemas de ensino devem assegurar para os educandos com defici- ência, transtornos globais do desenvolvimento, e altas habilidades ou superdota- ção, as seguintes condições de aprendizagem: I. Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades. II. Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os super- dotados. III. Professores sem especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular sem qua- lificação especifica para docência desses educandos nas classes comuns. IV. Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem ca- pacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os 32 órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora. Qual (is) alternativa (s) que apresenta (m) a (s) afirmativa (s) CORRETA (S)? a) I, apenas. b) I, II, IV. c) I, III, IV. d) I e III. e) Nenhuma das alternativas. 6. A Síndrome de Rett (SR) se caracteriza por desordens neurológicas evolutivas. Isso resulta no comprometimento progressivo motor e intelectual da criança, modifi- cando seu padrão de desenvolvimento, regressões na fala, no crescimento e com- prometendo os aspectos motores (Zillioto, 2015). Acerca da informação acima assinale a alternativa CORRETA. a) A Síndrome de Rett é um distúrbio neurobiológico que ocorre quase que exclusi- vamente em mulheres. b) A Síndrome de Rett é um distúrbio neurobiológico que ocorre exclusivamente em mulheres. c) A Síndrome de Rett é um distúrbio neurobiológico que ocorre quase que exclusi- vamente em homens. d) A Síndrome de Rett é um distúrbio neurobiológico que ocorre exclusivamente em mulheres. e) A Síndrome de Rett é um distúrbio neurobiológico que ocorre em homens e mulhe- res adultos. 7. São características comuns da Síndrome de Rett: a) Dificuldades respiratórias. b) Distensão abdominal. c) Bruxismo. 33 d) Comprometimento da locomoção. e) Todas as alternativas. 8. Com base no texto A educação especial no contexto do Plano Nacional de Edu- cação (MORAES, 2017), analise as seguintes afirmativas, assinalando com V as ver- dadeiras e com F as falsas. ( ) O termo educação inclusiva define o processo educacional que visa a desen- volver, em cada cidadão, consciência solidária e atitudes concretas que o tornem um agente social compromissado com a qualidade de vida de quem está ao seu lado. ( ) O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 busca, predominantemente em sua Meta 4, ampliar o atendimento escolar aos estudantes com deficiên- cia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdota- ção, de preferência nas escolas especiais. ( ) O Brasil realiza levantamentos estatísticos acerca da educação especial desde 1974. Embora haja abundância de dados oficiais que oferecem infor- mações completas sobre pessoas com deficiência, ainda há dificuldade no diagnóstico educacional do público-alvo dessa modalidade de ensino. ( ) O monitoramento da inclusão no contexto escolar em termos de aumento ou não de matrículas é válido, no entanto, tão importantes quanto o número de matrículas são os investimentos na formação de educadores e no aprimora- mento das práticas pedagógicas para o público-alvo da educação especial. Assinale a sequência CORRETA. a) V, F, F, V. b) F, V, F, V. c) V, F, V, F. d) F, V, V, F. e) V, V, F, F. 34 SÍNDROME DE ASPERGER SÍNDROME DE ASPERGER: BREVE HISTÓRICO Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade. Paulo Freire. Nessa unidade dialogaremos sobre a Síndrome de Asperger, especificidades conceituais, bases teóricas e sua relação com o autismo. Retomaremos alguns pontos históricos Leo Kanner (1943) e Asperger (1943) que faziam estudos independentes sobre suas observações acerca do autismo. Inicial- mente, os estudos eram independentes, cada pesquisador tinha sua linha de traba- lho e hipóteses. O estudo realizado por Léo Kanner em 1938 com 11 crianças, resultou em um artigo intitulado “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, contudo, segundo Uta Frith esse quadro não era desconhecido, apenas não havia sido nomeado. Os estudos e pesquisas de Kanner se tornaram conhecidos pela comunidade científica, porém, os estudos e publicações de Asperger permaneceram no anoni- mato durante muito tempo. Para Schwartzman (2006) tal anonimato se justifica porque os estudos de As- perger foram escritos em alemão, apenas nos anos 70 trouxeram para a comunidade científica as descobertas de Asperger. No início do século XX, o psiquiatraEugen Bleuler já havia introduzido o termo autismo, referindo-se à limitação de relações interpessoais e com o mundo externo típico da esquizofrenia (FRITH; GONZALEZ, 2007). Assim podemos pensar que o termo “autismo” não é uma coincidência entre os estudiosos. “Autismo” e “autista” são termos muito utilizados desde muito tempo para des- crever as limitações e restrições da vida social, como um retraimento em si mesmo, do grego autos, que significa “si mesmo”. Em 1944, Hans Asperger fez algumas observações em um grupo de 04 crianças. Ele percebeu que todas apresentavam dificuldades de interagir com outras pessoas UNIDADE 03 35 próximas e do cotidiano. A inteligência das crianças estava preservada aparente- mente, entretanto, as habilidades de comunicação verbal e não verbal eram pouco desenvolvidas. Com relação à empatia, essas crianças não conseguiam demonstrá- las e fisicamente eram um pouco desajeitadas. O interesse estava completamente voltado para um determinado assunto e a fala era desarticulada ou muito formal. Por volta de 1949, Kanner descreve o quadro como “Autismo Infantil Precoce”, como uma limitação no contato com as pessoas, obsessão em preservar as coisas e situações, alterações na linguagem, com variações entre mutismo e deficiência na comunicação. A partir dessa descrição, conseguiu estabelecer alguns critérios para definir a síndrome, que ocorria nos três primeiros anos de vida e estava relacionada à esquizofrenia infantil (ASSUMPÇÃO, 1995). Vale ressaltar que diferentemente da esquizofrenia apresentada por Bleuler, as crianças que Asperger e Kanner observaram, apresentavam prejuízo desde o início da vida (FRITH; GONZALEZ, 2007). Ainda segundo o autor, ao longo dos anos e das pesquisas o transtorno foi denominado “autismo infantil precoce” ou “autismo infantil”. Entretanto, foram des- consideradas por sugerirem pensar eu ouro tipo de autismo, o adulto. Com o aprofundamento dos estudos, o autismo passa a ser considerado uma síndrome maior do que o que se apresentava, com características que variavam en- tre a idade e a capacidade intelectual. Na década de 70 foram retomados os estudos e modificaram o conceito do autismo para síndrome de base biológica, com alterações no desenvolvimento mar- cado por transtornos de sociabilidade, mobilidade e linguagem. Após a mudança conceitual. Consequentemente, mudou-se também a compreensão, para transtor- nos de base cognitiva, com comprometimentos das funções executivas e déficits de aprendizagem. Após a construção histórica da Síndrome de Asperger de uma forma geral, apresentaremos o conceito de Asperger e suas semelhanças a seguir. SÍNDROME DE ASPERGER: CONCEITO Como já visto anteriormente na história, a Síndrome de Asperger e o Autismo se aproximam muito, pelas descobertas científicas e características. A Síndrome de Asperger é considerada como um Transtorno do Espectro Autista. 36 Em 1944, Hans Asperger, médico pediatra a descreveu inicialmente como ‘do- ença’, uma psicopatia autística. Se pensarmos no Autismo Clássico perceberemos que suas características diferem muito significativamente: Caracteriza-se por prejuízos na interação social, bem como por inte- resses e comportamentos limitados, mas seu curso de desenvolvi- mento precoce está marcado por uma falta de qualquer retardo cli- nicamente significativo na linguagem falada ou na percepção da lin- guagem, no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades de autocui- dado e na curiosidade sobre o ambiente (ORRÚ, 2010, p. 2). A Síndrome de Asperger é classificada como um Transtorno Global do Desen- volvimento (TGD), mas com um grau de comprometimento menos severo tanto da fala quanto do desenvolvimento cognitivo, quando comparado com o Autismo. De acordo com Nadal (2018) crianças com a síndrome não exibem atrasos amplos no progresso da fala e sequer padecem com compromisso cognitivo preocupante. É muito comum encontrar a Síndrome de Asperger em meninos, principal- mente em situações que já existem casos na família (ORRÚ, 2010). A Síndrome de Asperger é considerada mais leve que o autismo, mas, que pro- voca sintomas que causam sofrimento por comprometer a interação social, ou seja, uma grande dificuldade de interagir e se relacionar socialmente com as pessoas. Portanto, quanto mais cedo o diagnóstico, maior a qualidade de vida da pessoa que apresenta a síndrome. A seguir, conheça a história, a experiência e dificuldades en- frentadas por Willian Chimura em seu diagnóstico tardio da Síndrome de Asperger. DIAGNÓSTICO Como pode ser visto no vídeo acima, as pessoas que sofrem de Síndrome de Asperger não necessariamente apresentam algum comprometimento cognitivo, ou de desenvolvimento da fala, contudo, por falta de conhecimento acerca do assunto e padrões sociais estabelecidos, são consideradas pessoas estranhas. Muitas vezes o diagnóstico é tardio, porém, com alguns avanços da medicina e da psicologia, as intervenções são mais eficazes. https://bit.ly/3k51oA0 37 Muitas famílias têm dúvidas ao receberem o diagnóstico de Asperger, se os filhos são ou não autistas. Sabemos que a Síndrome de Asperger é classificada como autismo. Em 2013 o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-V) de Transtornos Mentais trouxe mudanças para a comunidade médica, principalmente no que diz respeito aos diagnósticos, nomes e doenças catalogadas. A partir de então tanto o Autismo como a Síndrome de Asperger foram classi- ficados como Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para classificar se temos um caso de Autismo ou Síndrome de Asperger, a dife- rença básica está no nível de comprometimento e interação social. Ou seja, o Asper- ger é um tipo de autismo leve, que não afeta radicalmente a habilidade de comuni- cação e de interação da criança, possibilitando que ela tenha uma vida normal. Vale ressaltar que para se ter uma “vida normal” ela necessitará de um diag- nóstico correto e do acompanhamento de profissionais. Cabe lembrar, que o diag- nóstico não poderá em hipótese alguma ser realizado por um professor ou peda- gogo. As observações do professor podem ser muito importantes para o diagnóstico final, mas, como já dito não cabe a ele realizar o mesmo. De acordo com o DSM - V as características essenciais do transtorno do espectro autista são prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social (Critério A) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário (Critérios C e D). O transtorno do espectro autista engloba transtornos antes chamados de au- tismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funciona- mento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especifica- ção, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger. 38 Manifestações do transtorno também variam muito dependendo da gravi- dade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica; daí o uso do termo espectro. Os diagnósticos são mais válidos e confiáveis quando baseados em múltiplas fontes de informação, incluindo observações do clínico, história do cuidador e, quando possível, autorrelato. Conforme o DSM – 5, a síndrome é considerada como autismo de nível leve, por não comprometer severamente as funções verbais, comunicativas e intelectuais. Embora seja muito semelhante ao Autismo, pessoas com Asperger não sofrem atrasos na fala, nem apresentam déficits acentuados. Conforme vimos no vídeo, uma das características marcantes do Asperger é o hiperfoco, ou seja, uma preocupação ou interesse exacerbado por um tema ou assunto. Um dos grandesdesafios que encontramos na Síndrome de Asperger está no diagnóstico, infelizmente na grande maioria dos casos ele ocorre de forma tardia, possivelmente na idade escolar. Outro ponto a se destacar, é que seu diagnóstico pode em alguns casos ser confundido com o Déficit de Atenção e Aprendizagem (TDAH). A incapacidade de se organizar e socializar provocadas pelo TDAH, podem levar os especialistas a um diagnóstico incorreto, pela semelhança de algumas características. Diferentemente do autismo crianças acometidas por essa síndrome apresen- tam uma linguagem muito típica e um vocabulário muito rico, contudo, durante a interação suas habilidades linguísticas podem ser usadas de forma inadequada. Observe alguns sintomas/características que as crianças com Asperger po- dem apresentar: Interação impróprias; Fala robótica ou repetitiva; Habilidades de comunicação verbal e não verbal acima da média, ou, muito da média; Podem falar muito alto; Dificuldades severa de compreender frases corriqueiras; Ausência de contato visual, ou conversa com ele mesmo; Interesse obsessivo por temas de interesse; Movimentos estereotipados ou desajeitados. 39 Pessoas com Asperger apresentam uma incapacidade muito grande de com- preender ações ou comportamentos das pessoas, sejam elas próximas ou não. Eles não conseguem entender as implicações das frases, gestos, expressões de duplo sen- tido, um sorriso, uma reprovação visual por não conseguirem desenvolver habilidades de comunicação não-verbal (FRITH; GONZALEZ, 2007). A não compreensão verbal, provoca uma não inserção social por elas não compreenderem como o mundo funciona e o que as pessoas “realmente” querem dizer com frases, gestos, sorrisos expressões, pontos de vista, etc. Isso torna o mundo confuso, gerando ansiedades e potencializando todas as características já citadas (FRITH; GONZALEZ, 2007). O mundo não verbal não permite a pessoa com Asperger realizar previsões e compreender “o mundo” das demais pessoas. Elas podem chegar a uma igreja com os pais e começar a falar muito alto, por não compreender que socialmente naquele local não é permitido gritar ou falar alto. Embora a literatura afirme que os sintomas são leves, eles não deixam de pro- vocar dúvidas nos especialistas quanto ao diagnóstico, incertezas nos professores com como trabalhar pedagogicamente com essas crianças, e sofrimento para elas e paras as famílias por saberem que não existe cura, apenas tratamentos que ainda não são acessíveis para todos os níveis sociais. TEORIA DA MENTE O termo teoria da mente surgiu na década de 70, a partir de pesquisas com animais. A psicologia cognitiva nessa época se tornou referência para explicar o de- senvolvimento e modelos explicativos para esse termo. O termo “Teoria” explica que alguns estados não são observáveis, necessitando de uma teorização de quem “in- fere um estado mental em outro indivíduo” (PREMACK; WOODRUFF, 1978). Para o ser humano, a teoria da mente é imprescindível, porque ela nos permite teorizar o estado mental das pessoas, ou seja, compreendemos o que elas pensam, suas intenções e como vão agir, ela nos permite antecipar e prever o que está para acontecer. A partir disso conseguimos modelar nossas ações, reações e comportamento social, bem como desenvolver a empatia em relação as pessoas. Premack e Woodruff (1978) propuseram um modelo para explicar o sistema de 40 leitura da mente. Tal sistema postula quatro mecanismos que interagem para produzir tal leitura: o detector de intencionalidade, o detector de direcionamento do olhar, o mecanismo de atenção compartilhada e o mecanismo de Teoria da Mente. Explicando cada um desses mecanismos: Detector de intencionalidade: interpreta estímulos móveis, desejos e metas; Detector da direção do olhar: detecta e presença e a direção do olhar, sua função é interpretar o olhar das pessoas, se ela vê “aquilo”; Mecanismo de atenção compartilhada; esse mecanismo recebe informações dos outros dois, sua função é estabelecer relações entre o eu e os outros, os seja, eu e você vemos o mesmo? Por fim, o mecanismo da Teoria da Mente: responsável pela junção do desejo, intenção, atenção, crença de forma coerente e mentalista, em um contexto de representações e simbolizações mentais. Estudos comprovaram em autistas a teoria da cegueira de mente. No período de aprendizagem, as crianças aprendem por meio da mentalização a compreender crenças e enganos. Ao atingir a idade aproximada de 5 anos ela já possui “rudimento de uma teoria da mente pronto e direto” o que naturalmente é ausente na criança autista (FRITH; GONZALEZ, 2007). A teoria da mente é uma ferramenta muito utilizada para os sujeitos conside- rados “normais”, pois, ela baseia-se na compreensão da interação social. Essa ferra- menta é chamada teoria da mente, capaz de possibilitar o homem a predizer rela- ções entre os estados externos das coisas e os estados mentais internos (FRITH; GONZALEZ, 2007). Consiste em uma automatização inconsciente de anunciar o que o outro irá fazer. Nos autistas podemos dizer que a teoria da mente não funciona muito bem, pois, eles apresentam dificuldades de automatizar determinados pensamentos, isso é chamado de “cegueira da mente” (FRITH; GONZALEZ, 2007). O primeiro estudo testando a hipótese de “cegueira da mente” ou “falta de mentalização” no autismo foi realizado por Baron-Cohen (1988), conhecido como experimento de Sally e Ann. A teoria da mente envolve estados mentais bem como falsas crenças. Crianças e adultos com autismo apresentam déficits na compreensão, como da ironia, da linguagem não verbal e da decepção (FRITH; GONZALEZ, 2007, p. 58). 41 Outros estudos com adolescentes autistas que não apresentam problemas na articulação da linguagem, demonstraram que a dificuldade se encontra na adequa- ção da linguagem, descontextualizando-a no cotidiano. A seguir observe o quadro que resume os pontos fortes e os desafios encontra- dos pelas pessoas com síndrome de Asperger. 42 https://bit.ly/2ZgWgjb 43 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado sistema edu- cacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilida- des físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com defici- ência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discrimina- ção. Incumbindo ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, in- centivar, acompanhar e avaliar. Analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta: I. Sistema educacional inclusivo para o ensino fundamental, bem como o apren- dizado ao término dos seus estudos. II. Pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas pe- dagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnolo- gia assistiva. III. Projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especiali- zado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. a) Somente as afirmativas I e II estão corretas. b) Somente as afirmativas II e III e estão corretas. c) Somente a afirmativa II está correta. d) Todas as alternativas estão corretas e) Nenhumas das afirmativas estão corretas.