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Aula 3: Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes Tipo Aula Data Revisado? Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes Date 08/09/2025 @8 de setembro de 2025 Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 1 Anotações Tristeza Parasitária Bovina (TPB) É um complexo de duas doenças, formado pela babesiose e pela anaplasmose, ambas as doenças são ocasionadas por agentes intraeritrocitários, destruindo as hemácias. A babesiose pode acontecer pela infecção por Babesia bovis (mais grave) ou Babesia bigemina. Já a anaplasmose ocorre pela infecção por Anaplasma marginale, através do vetor Rickettsia. Epidemiologia O principal vetor da babesiose é o carrapato Boophilus microplus. O Anaplasma marginale pode ser transmitido por via mecânica como moscas, mosquitos, instrumentos. A incubação varia: Babesia spp: 7-10 dias Anaplasma marginale: > 20 dias A babesia bovis é transmitida nos primeiros dias, já na fase larval, diferentemente da babesia bigemina, que é transmitida somente na fase de ninfa (8 dias), sendo mais tardios os casos, podendo coincidir com anasplasmose. Os mais suscetíveis são bovinos adultos não imunes. Sinais clínicos Eles variam de acordo com a espécie, virulência, inóculo, raça, idade e imunidade. As raças europeias são mais suscetíveis que zebuínas, com idade > 10 meses. Além disso, o estresse também pode baixar a imunidade do animal, podendo favorecer à infecção. Os sinais gerais são: febre, anorexia, pelos arrepiados, taquicardia, taquipneia, icterícia, anemia, hemoglobinúria, queda de produção, apatia. B. bovis: sinais nervosos como incoordenação, pedalagem, agressividade, andar cambaleante → babesiose cerebral B. bigemina: hemoglobinúria intensa Anaplasmose: icterícia intensa Patologia Macroscopicamente irá apresentar mucosas anêmicas/ictéricas, fígado/baço escuros e aumentados, linfonodos escuros, rins grandes, vesícula biliar com bile escura, Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 2 hidropericárdio, congestão cerebral (B. bovis), ves. urinária com urina escura. Microscopicamente: fígado com sinusoides cheios e sangue, degeneração de hepatócitos, rins com necrose, cérebro com edema, congestão e hemorragia. Diagnóstico Base: epidemiologia + sinais clínicos + necropsia Confirmação: esfregaço sanguíneo Coleta pode ser feita da veia jugular/coccígea. Quando há suspeita de B. bovis deve ser sangue capilar da ponta da orelha ou cauda. Necropsia: impressões de fígado, rim e cérebro. Sorologia usada em levantamentos epidemiológicos. Os diferenciais devem ser para raiva bovina, encefalopatia hepática e intoxicação por Ateleia glazioviana. Tratamento Babesicidas (diamidinas): 3-3,5 mg/kg Anaplasmicidas (tetraciclinas): 5 mg/kg 4-4 dias consecutivos. Ou dose única 20 mg/kg intervalo de 3-5 dias. Imidocarb: 1,2 mg/kg SC → babesiose; 2,4-3 mg/kg SC → anaplasmose Suporte: hepatoprotetores, soro glicosado, anti-histamínicos Profilaxia Premunição: inoculação de sangue de portadores → risco de perdas altas Quimioprofilaxia: imidocarb em animais importados/adultos → impede doença clínica, mas permite imunidade Vacinas vivas atenuadas 2. Leucose enzoótica bovina (LEB) É causada por um RNA vírus da família Retoviridae, subfamília Oncovirinae (BLV). Os alvos são principalmente linfócitos B. O mecanismo ocorre pela ligação da glicoproteína viral no receptor celular, realiza-se transcriptase reversa, fazendo com que o DNA viral integra-se ao genoma celular → transformação tumoral. Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 3 A maioria dos casos é inaparente, apenas com a sorologia positiva. Alguns casos podem demonstrar linfocitose persistente e poucos podem evoluir para linfossarcoma. Também pode haver a forma aleucêmica, podendo ir direto para linfossarcoma sem apresentar linfocitose. A idade de risco é entre 4-8 anos, ocorrendo principalmente em rebanho leiteiro. Transmissão A transmissão ocorre principalmente horizontal via sangue/linfócitos infectados, por meio de descorna, agulhas reutilizadas. Pode haver transmissão vertical, menos comum e também pelo colostro/leite, porém o colostro pode transmitir anticorpos da mãe para o bezerro, ou seja, ele pode positivar sem a transmissão do agente. Sinais clínicos Formas clínicas: Linfocitose persistente → aumento de linfócitos (nem sempre há linfocitose, deve- se considerar necropsia, histologia e sorologia) Linfossarcoma → tumores em linfonodos e vários órgãos Sintomas principais: Adenomegalia, anorexia, queda do leite, perda de peso Neurológicos: paresia/ataxia Oculares: exoftalmia Reprodutivos: obstrução retal, distocia Cardíacos: ICC → pulso venoso positivo, edema peito/barbela Outros: diarreia, anemia, dispneia, abortos Patologia Tumores firmes, esbranquiçados, homogêneos principalmente em linfonodos, coração (átrio direito), abomaso, útero, rins, intestinos, meninges, reotrobulbar. Histologia com presença de infiltração difusa/nodular de células linfoides Diagnóstico Clínico: difícil (varia conforme a localização) Necropsia: massas brancas em linfonodos e órgãos Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 4 Histopatologia: confirma Sorologia (teste oficial): IDGA → detecta anticorpos (não detectam a doença clínica) Falsos negativos: Animal em fase inicial Período periparto (anticorpos mobilizados) Bezerros até 6 meses que possuem anticorpos colostrais Diagnósticos diferenciais: tuberculose, actinobacilose, raiva, abscessos/traumas medulares, pericardite traumática, peito inchado, intoxicação por Ateleia glazioviana. Controle e Profilaxia Não existe vacina e nem tratamento, a estratégia é realizar o teste e remoção do animal confirmado quando há baixa prevalência. Segregação de animais doentes e saudáveis e manejo quando a prevalência for mais alta, não sendo possível a remoção dos animais infectados. 3. Endocardite A endocardite é a inflamação da superfície mural e valvar do endocárdio. Geralmente é de natureza infecciosa/bacteriana e ocorre pela invasão e proliferação de um microrganismo no endocárdio, principalmente nas valvas cardíacas, o que pode gerar uma insuficiência valvar. Nos equinos, as lesões podem estar associadas à migração das larvas de Strongylus vulgaris ou infecção micótica. A patogenia não é muito bem conhecida, mas os animais afetados geralmente tiveram infecção em outro local e esses microrganismos alcançaram o sistema circulatório, se instalando na região do endocárdio valvar → bacteremia. A destruição do revestimento endotelial, geralmente em válvulas avasculares, permite a aderências e proliferação desses microrganismos, provocando assim uma reação inflamatória e consequente deposição de fibrina,. A endocardite ocorre principalmente na valva mitral, mas pode ocorrer em outras valvas como aórtica, tricúspide e pulmonar. Pode estar associado a episódios de bacteremia como em mastite, metrite, retículopericardite traumática, abscessos de casco ou outras estruturas. O principal microrganismo associado é a Truepella pyogenes, em menos casos Streptococcus spp. A Truepella é uma Actinomyetales, gram-positiva, oportunista e que Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 5 causa infecções supurativas com presença de abscessos, piogranulomas e empiema. Os principais sinais clínicos são: Fadiga Cansaço Intolerância ao exercício (Valva esquerda → mitral) Tosse ruidosa (Valva esquerda → mitral) Dificuldade de respirar (Valva esquerda → mitral) Taquipneia (Valva esquerda → mitral) Edema pulmonar (Valva esquerda → mitral) Ascite (valva direita → tricúspide) Distensão abdominal Febre Anorexia Efusão pleural (valva direita → tricúspide) Edema dos membros (valva direita → tricúspide) Sopro sistólico de regurgitação Arritmias Hipertensão As valvas afetadas vão apresentar nodulações aderentes de tamanhos variados, friáveis, estarão rugosas, com presença de coágulos e fibrina, a cor podevariar entre amareladas e avermelhadas. Quando em casos mais longos, pode-se haver tecido conjuntivo fibroso, formando nódulos que podem ser chamados de “verrugas” ou aspecto de “couve-flor”. O diagnóstico pode ser feito através dos sinais clínicos, ultrassonografia cardíaca para visualização dos nódulos, e hemocultura para identificar o agente. O diagnóstico diferencial deve ser feito para: Endocardiose Endocardite micótica Tuberculose Salmonelose Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 6 Sepse Neoplasias pulmonares Pneumonia Bronquite crônica Dirofilariose O tratamento pode sere feito com Penicilina ou ampicilina 10-20 mg/kg BID durante 3 semnas no mínimo ou algum aminoglicosídeo, como a gentamicina ou sulfas como a trimetoprima. Pode ser feito com auxílio de analgésico como o cetoprofeno, que também é um antiplaquetário. 4. Retículo-pericardite Traumática (RPT) A causa principal é a ingestão de um corpo estranho perfurante. Essa ingestão pode estar associada a fisiologia dos bovinos que utilizam a língua e não os lábios para a pastagem, dessa forma, possuem baixa seletividade, podendo ingerir objetos com o alimento. Além disso, também pode estar associado à pastagens de baixa qualidade, fazendo com que o animal tenha deficiências nutricionais, como déficit de minerais como Ca e P, por isso, o animal terá aberração de apetite e irá ingerir objetos estranhos (pedras, metais, ossos), além de precisar pastar mais próximo do solo, o que favorece a ingestão desses objetos. Anatomicamente, os bovinos possuem o retículo próximo do diafragma e pericárdio, com os movimentos ruminais é possível que o objeto presente no retículo seja empurrado para a parede, perfurando a mesma, o diafragma e o pericárdio. A) Patogênese O animal ingere o objeto estranho perfurante ficando preso no retículo. Os movimentos ruminais e a pressão abdominal acabam empurrando o objeto contra a parede do retículo, provocando a sua perfuração, conseguindo perfurar o diafragma e o pericárdio. As complicações desse processo podem ser: Uma reticulite localizada ou peritonite séptica → quando microrganismos do líquido reticular acabam extravasando Pericardite traumática → acúmulo de exsudato fibrinoso/purulento no pericárdio, o que leva à uma compressão do coração Pode haver assim uma evolução para ICCD B) Sinais clínicos Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 7 Os sinais clínicos variam de acordo com a evolução: Sinais clínicos gerais: Febre Anorexia, apatia, queda na produção Emagrecimento progressivo Sinais clínicos locais: Dor abdominal fazendo com que o animal fique em posição arqueada Relutância em se mover Dor exacerbada nos testes do bastão e beliscão dorsal Sinais clínicos digestivos: Atonia ruminal, timpanismo, redução da motilidade Sinais clínicos cardíacos: Bradicardia inicial e depois taquicardia compensatória Sons cardíacos abafados, ruídos de fricção pericárdica Ingurgitamento jugular e pulso venoso (ICCD) Edema submandibular e de peito (ICCD) Pode evoluir para pericardite séptica fatal C) Diagnóstico Clínico: sinais + histórico Testes de dor Detector de metais que pode cofnirmar a presença do corpo estranho, porém não indica perfuração Exames laboratoriais como leucocitose, fibrinogênio aumentado e hiperglobulinemia Líquidos corporais no peritônio ou pericárdio, pode ser confirmado com ultrassonografia ou pericardiocentese/laparotomia exploratória Diagnósticos diferenciais: Timpanismo, vagotomia, indigestão vagal Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 8 Pleurite, pneumonia Abscessos hepáticos, peritonite não traumática ICC não traumática Botulismo D) Tratamento Casos leves: Atb de amplo espectro → ampicilina, penicilina Anti-inflamatórios para reduzir a dor Imã intra-ruminal para prender o corpo estranho Casos graves: Ruminotomia → retirada do corpo estranho Pericardiotomoia → para drenagem do líquido exsudativo Pericardiectomia E) Prognóstico Depende da evolução, em casos onde o diagnóstico é precoce e não houve perfuração extensa é bom. Já em casos de pericardite purulenta, ICCD → ruim. Muitas vezes é necessário realizar o abate humanitário. Além do custo alto para o tratamento, o que faz o pecuarista também optar pelo abate. Aula 3 Enfermidades do sistema circulatório de ruminantes 9