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O HOMEM E O FENOMENO RELIGIOSO Introdução Nossas consideraçðes, no presente capitulo, relacionam- -se ainda com o Homem. que vive num contexto urbano-ln- dustrial. Alguém que sente sas modificaçöes e as transtor- maçðes que se operam na cidade cada vez mals dominada pela técnica moderna e pelas novas concepçöes de vida ge- radas no ambiente eno urbano• uma transfoçmaçäq . as_es ru .res_gepgráficas e sociais, nem sð uma questão de aumen- esnfrit.os de culturR e cie valorpq equ$!o que se refere. em nossa transforma vida religiosa. do ùrifica 'de ma con e ão ma ca do mundo- e de s e ti öes ain adesão $é cada vez ma s pessoai' e O erosa. isso. não de Por outra parte, multidöes cada vez mals numerosas afastam-se praticamente da religiäo. Ao contrário dos tempos passados, negar Deus ou religiäo,.ou — 55 — abstrair de ambos, não é mais algo de insólito e individual. Com eteitA tais atitudes se raramente como se fossem exigencias ou de cer-to humanismo novo. Todas essas coisas, em muitas regiões.são expressas não somente nas máximas dos filósofos, mastambém atingem amplamente as letras, as artes, a interpre-tação das ciências humanas e da história e as próprias leis civis, de tal modo que em muitos se pertur-bem" t Propomo-nos, nexe•estudo, sobre o Homem e o Fenó• meno Religioso, fornecer alguns aspectos das atitudes e com- portamentos do homem-urbano relacionados com a proble- mática do Sagrado ou Religioso. Trata-se, pois, de um tex-to que apresenta algumas pistas de reflexäo sobre o proble- ma religioso e suas manifestações em nossa wciedade. 1. Q fenómeno religioso Observando as manifestaçöes e as dos atasreligiosos: poderíamos descrever a Religião do seguinte mo- do: 4_3eligiäo compõem-se basicamente de três elementos: um_poder. ou poderes_que_näo de- o hom 2 um sentimento de dependência emxeiaçäo a eše ou -eres;_ ven 2_ três numa só--ro- dellrdñarnos 4 Religião a num ou em várips poderes superiores homem. dn qual d? a) uma organim#o; atas concretosï c) uma regu— lamentação de vida a estaþelecer relações favorá- veis entre o homem',£.• o 'poder ou poderessuperiores em questão. 4as mals diversas número de. pessoas•que os freqUentam, evidenciam a presença bem viva do Fpnð. qual tem-EidA—L- de presença e religiosos na v_ida do homem brasileiro? Mais especifica-mente. como esses grupos religiosos trahsmitem sua merus$- o atitudes tomam aian- Que repercussões sam na sociedade? — Ou então: como o homem-urbano cau- se posiciona diante do Fenömeno Religioso manifestado Ias várias denominações existentes em nosso meio? Que valor dá a todas essas manifestações? Qual a sua opção diante das diferentes mensagens religiosas, que se aprcscn. tam de forma tão policrðmica em nossa cidade? 2. A presença da religião em nossa História A Religião, sobretudo o Catolicismo, desempenhou, des- de o inicio da formação da sociedade nacional, funções de extrema importância na configuração e no desenvolvimen- to da cultura brasileira. Candido Procópio F. de Camargo observa: "A católica implantada no Brasu_constituiu, desde da primórdios do sécù XX, -careeteæar-de— aeristmdade' devido aos tãtöš vincuTðs Igreja e giosa do povo brasileirq Observe-se que as duas exceçöes a esse quadro referem-se a categorias e culturais que vieram a se constituir nas camadas mais pobres e des- privilegiadas da populaçao. Assim grupos indígenas, con- tinuamente deslocados pela colonização para áreas mais afas- tadas dos centros desenvolvidos do território nacional, con- seguiram manter tradições religiosas próprias. De modo análogo, a importação do trabalho escravo veio trazer a tradição cultural de ræligiöes africanas, úlåmo resquicio de identificação húmana do contingente escravizado. de al séculos de rsistência como e subterrane eme atualmente nas cidades brasile , sob forma de Um- þanda, a herança cul -reli osa de cana com funcðes sociais renovadas . 2. CÂNDIDO PROCÓPIO P. DE Católicos, protestantes. Espi.. Presentes se fizeram também em nosso contexto, espe-cialmente nos últimos cem anos. o os vários gru-pos (alguns até mesmo bem dinamicos), o Bu-dismo. o Judalsmo e outras denominaçöes religiosas. Ain-da em data não muito' distante, os estabelecimentos—deensino religiosos marcavam sua presença re-levante dentro de nossa sociedade. u . Não se pode rem. dúvida que a Religiåo. seus ensinamen seus cor• uenc a sua visäo-do- mente. numa época e nos não espaços tinham onde as influências da cultura técnicoLindustriaI entradó.- J. Algumas características da mentalidade mítica É muito freqUente na cultura pré-técnica e tradicional, e que ainda persiste em amplas camadas da populaçäo ur- bana, a formação de uma mentalidade mítica. Poderíamcb defini-la como sendo a tendência de se licarcm os—fEñð- eno sas transnaturais Essas causas recebem nomes diversos, de- pendendo dos contextos; Deus, santos, deuses, orixås, demð- nios. esptritos das mais 'variadas ordens. fluidos etc. na- tureza, o espaço, o tempo, a sociedade. a história humana sio considerados a partir dessa•mentalidade, O homem vive em coñtåto imediato com a natureza, dela dependendo grande parte de suas necessidades de base. Des• tltufdo de defesas culturóis, sente-se facilmente ameaçado por torças incontroláveis e inexplicáveis (secas. enchentes, pes- tes. rome etc.), Instintivamente apela para uma soluçao de tundo religioso ou sacral.i, , Através de ritos religiosos. pro- cura solucionar os Impasses e Perigos nascidos da natureza (doenças, morte. fecundidade, desgraças etc.) e desvendar ou entrar em contato corn'•a densa teia de mistérios que envol- vo vida, mistérios estes explicados sempre partir do so- brenaturul. O mundo estú impregnado de forças transnaturuis, ele é obra do Deus (ou deuses) e manifestn sua açao imediata. O "mundo-do.ulém" deixa-se atingir através dos nspectos na. turais do mundo, us forças transnoturois intervêm com tre• 58 qüëncia nos_ acontecimentos naturais. anhada atitudes de rmssäo de ra e não raro de atitudes má icas. eito de b- Na cultura pré- aturai. Lugares de respeito, de peregrinação, oulugares assombrados. Templos, igrejas. Io-cais de culto, terreiros etc. sio lugares sagrados, parte do espaço profano. Em seu interior, o homem se sente em comunhão com o "além", porque eles são a habitação des-sas forças transna Igualmente, ¥stshræsæ£æ¥åda CIO-OS com o sobrenatural. 4ss próprias estruturas soc!alsse revestem de uma certa sa¿ralidade. toridade hierá uica tem um alor rell loso þridade de origem sagrada. necessário, portanto, obe- decer, sem contestação, ao pal de ao chefe, ao pa- trio. De outra parte, a conformidade aos costumes tradicio- nais é, de certo modo, inquestionável, POIS a tradiçäo é quase que Intocável, tem quase um modo de ser sagrado e. portanto, deve-se conservá-la fielmente. n estabilidade é um valor essencial e as inovaçöes aparecem como desres- peito e degradaçao. 1 ocl dade tem um tun- n li m dou- tud d tolerá - tipo:i. 4. as posições da mentalidade urbano-industrial cultura urbano•industrial começa por questionar essas concepçöes tradicionais, a colocar novas representa• çöes dessas realidades, numa linha que poderíamos chamar de o extraordinário, o muravilhoso. o "soþrenvtur;0" nio é aceito sem mais, sem a diante da mizre= O homem uma atitu& de •rabria- o ao qual ele dá uma atitzde de quase sagrado, a uma ati- Ee a e suas rique- cxs mina de Cerro e até seu ao máximo rendimento. Vai ele exercen• ao u aio esperando mais as do- nio -torças dos mas na aplic•çio de sal e de sua a cidade não aparece como um sina) que leva i Divindzde, mas sim ao Eome:n que a trans- técnica adquire cada vez mais um caráter de de- interfere na ordem natural das coi-' nio ela mistério ou tabu, porque transforma todú em meio'/ "pede:sepediá- ao ÖrätÏório". O ,que constrói máquinas que funcio- nam por si mesmas, da ferramenta que era um paéa ele, tende a representar-se o mun- U do -nio mais tznanstrumento e um das Inten- do mas como uma gigantesca má- quina, quer para depois manipular. ddsde grande, é um migrante. A mobi- lidade é uma no complexo urbano- -Industrial, Xuda freqUentemente de bablta#o, sobretudo qiando ainda n50 ce adaptou completamente ao novo bitate. IÆeomove-se no 'interior da cidade. por razðes de de tamma, de promoçäo social, de profissio. fixista do do pré-técnlco. Nio uma mar- ca de orieit*o•. centro mundo e Noná mais ato nem baim•, o céu nio do.dlvino..O homem—etá deso- infinitos. O tempo. _catrega irnais a das religiosas.ao • maredojpelo ritmo urbano do trabalho. a_producäo. do consumoa_que X sagrado 3-adi<0QN. A urbano-indu.striai produz também uma ruptura com o modelo tradicional da sociedade, hierarqui- ado e rotineiro. As práticas religiosas já não encontram mais, no mundo ambiente, o mesmo respaldo de que go- avam anteriormente. A tolerância, a tranaiiila_ iri co f desa a. reær o Exclusivismo doutrinal e religioso, dando ao homem o sentimento de que seu sistema relizioso ou de pensar nãQ é senão entre outros. Instaura-se um certo relativismo: há várias maneiras legitimas de pensar, cada um livre em suas Sistemas religiosos. as instituicöes sacrais vassprn Num mundo onde a técnica penetra. onde a ciência é a de alguns estarem con- vencidos que ela há de destruir todo mistério, o Sagrado, o Religioso sio profundamente 5. Secularização mudanças e transformações, por mtergor mente descritas, vio especialmente no rnt.ndo ocidental, profundamente marcadas pelo fenðmeño que se convencionou chamar de Secularização. O que seria a Se- cularizaçäo, como podemos defini-la? Para Hanvey Cox, é "a libertacäo do homem da tufe)? tar i a Ita a do "Um tenðmeno segundo o qual as dades constituUvas da vida humana — ti- case culturais, cientificas etc. — tendan a em uma sempre maior autonomia relacio is Instituiçöes dependentes do ambito ou sacro", se: gundo R. Marlé.4 As atenções, portanto, se volÞm ete século (çaecututn = miando), a era da vida humana ræs-r a. A Cidade do Ed. Paz e Terra uda.. 1962. Rio de aneiro. pág. 27. 4. Ctcittå CattoUea (Revista), 1968. te mundo, no qual a "secularizaçio coloca a responsabili- dade pela tormaçäo de valores humanos, bem como elaboraçäo de sistemas poliücos, nas próprias mãos dos ho- mens". s Podemos considerar como típicos da Secularização, en- quanto fenömeno sócio-cultural, conforme nos a re- vista os pontos seguintes: derado como um dado ura- i ri é uma realidade a ser feita. a edi- DO homo contemplativus (que aceita o mundo como espetáculo) o acento se desloca para o homo taber (que experimenta e "faz" o mundo) . b) mundo nio é considerado como um e9aqo (cos- mo, mundo), no o homem se acha colocado mais ou q bomem #irige os acontecimentos. Dohomern estático, o acento se o homem dinâmico. c) atençäo se Centraliza no futuro. O a ele, o mundo nío é go dado e preexistente; embora seu desenvolvimento sejabem condidonado, possibiliÞdo ité certo ponto pelo pasado e pelo presente. Plantado com o olhar no fu- o bomzn o de maneira e in- dQadente. Do o acento se desloca pa- d) Q está profundamente cônscio rir e tarefa -sáveis nas É sável 8as just*, soliarieda- da pessoa e cação proveito de m resumo a Seculariza -o e a resenta com o o revolucionário do homem ara emanci a -s ma e dependencia- Ocorre, em formas e ritmos diferentes. em várias partes do mundo. G. Situações e conseqüências Vivemos. em nossa realidade brasileira, nas grandes cl- dades e nos contextos onde o fenomeno urbano-industrial se faz presente, numa situação em que as posições frente ao Sagrado e ao Religioso näo estäo sempre bem claramente definidas. Mas, poderemos, talvez, já indicar algumas situa- çöes e conseqüências dessa fase de transformações e mu- danças. 6.1. O Ateísmo O Documento "Gaudium et no início deste texto, já notava: .Ao contrário dœ tempos passados, ne- gar Deus ou a religião ou abstrair de ambos não é mais algo de insólito e individual. Com eleito, tais atitudes apre- sentam hoje näo raramente como se fossem exigências do progresso cientifico ou de certo humanismo novo... o mesmo Documento nos adverti te o rio se manifesta. talvez como o de outrora. ;ornent? nas ÿiáxirnas dos filósofos e de algum pensador. mas Ç*prpssa amplamente em varias manifestacóes da cultura literatura nas artes o 4as diversas interpretacöes e a n en tanto Pretende sobretudo e antes de está mais preocupada com -oe humana-<. hi<tårira.s Ateísmo con afirmar o Homem: afirmaçäo do que com a de Deus. Esta é quase que simples aa tão é um Antiteísmo, uma re- clara de Dats, mas, 8 que lhe paree ilus6fla, pois diminÜi ã alie-s 1 li •osos é ele o e não
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