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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Organização Juliana Zantut Nutti Autor Marília Segabinazzi Reinig Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 1 INTRODUÇÃO Todos os dias é possível encontrar alguma notícia nos meios de comunicação que envolve tensão entre as pessoas, perda de controle emocional ou situações de extrema comoção popular – quando decisões irracionais são tomadas. Da mesma forma, cada um de nós, em sua vida particular ou profissional, possivelmente terá diferentes situações para lembrar em que tenha agido a partir de um impulso emocional e que, posteriormente, pensou não ter sido a melhor decisão. Também há o popular ditado: “pense duas vezes antes de agir...”, no entanto, quantas vezes agimos duas vezes antes de pensar? Raiva, medo, ciúme, paixão, euforia, decepção: são muitos os estados emocionais que atravessam os seres humanos todos os dias, em seus relacionamentos, seus planos de futuro, suas lembranças do passado etc. Em casa, no trabalho, no trânsito (e até nos momentos em que se está consigo mesmo), o sujeito é como um emaranhado de sentimentos, que podem se misturar, podem parecer contraditórios e até mesmo sumir num curto espaço de tempo – ou ainda persistir por um longo período. No século XX, os estudos sobre Inteligência Emocional (I.E.) ganharam força, principalmente com os trabalhos do americano Daniel Goleman. O autor ficou mundialmente famoso por desenvolver uma importante teoria acerca do que é Inteligência Emocional e quais são os fatores envolvidos em seu bom desenvolvimento. Em seus estudos também defendeu a tese de que altos índices de sucesso pessoal e profissional não estão relacionados somente a bons resultados em testes numéricos, como o famoso Quociente de Inteligência (Q.I.), que mede as habilidades cognitivas dos indivíduos em áreas como matemática, raciocínio lógico e linguística, a partir da idade do indivíduo. Fatores como condições sociais, de saúde e de educação – ou mesmo pura sorte – influenciam no sucesso pessoal. No entanto, a reeducação emocional a partir do bom desenvolvimento da Inteligência Emocional é fator decisivo nas trajetórias de pessoas que superaram grandes desafios ou concretizaram grandes projetos, ou ainda, as que possuem grande capacidade de construir bons relacionamentos interpessoais (GOLEMAN, 2007). A relevância da Inteligência Emocional foi apresentada por Goleman (2007) a partir de um conjunto de evidências científicas, principalmente dos campos da Neurologia e da Psicologia. Essas evidências demonstraram que, apesar de haver mecanismos anatomofisiológicos que comandam nossas emoções, as vivências pessoais e a cultura têm potencial de modificar a forma como experienciamos as emoções, bem como a intensidade com que elas direcionam nossos comportamentos. O desenvolvimento da Inteligência Emocional passa, portanto, por um importante processo de autoconhecimento, ou seja, uma reflexão sobre como você reage às situações a partir das emoções pelas quais está influenciado. Uma inteligência emocional bem desenvolvida está ligada às formas de relacionamento, tanto em relação àqueles que nos trazem sentimentos prazerosos quanto àqueles que nos causam desprazer. A gestão das emoções é, portanto, a base do desenvolvimento da Inteligência Emocional. Esse processo coloca o indivíduo no controle das próprio meio social. Além disso, saber controlar as próprias emoções pode propiciar a diminuição de fatores causadores de stress e ansiedade, bem como aumentar seu potencial de automotivação e de organização em torno de objetivos a curto, médio e longo prazo. Ao pensar sobre suas próprias emoções, num processo de autoconhecimento e na análise de potencialidades versus dificuldades emocionais, os indivíduos podem impactar o modo como percebem a sua própria vida e a realidade que o cerca. É importante destacar também o impacto da inteligência emocional nos processos comunicativos. No início desse texto, mencionamos os meios de comunicação e, por isso, é importante destacar que a velocidade com que esses meios proporcionam a difusão de informações, a simultaneidade de contato entre pessoas e grupos, com sons, imagens e textos requer a habilidade de saber gerenciar as emoções que emergem dessa rede de informações, pois é importante saber agir e sentir diante dessa sociedade informacional e dos conflitos que podem emergir dessa velocidade de contato com o outro. Neste material, portanto, você encontrará aspectos teóricos e práticos para o desenvolvimento da Inteligência Emocional, de modo a poder aplicá-la em seu contexto familiar, de trabalho, na gestão de conflitos e, principalmente, em seu desenvolvimento e na busca de seus objetivos pessoais. 2 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DE SEU BOM DESENVOLVIMENTO Roazzi e Souza (2002, p. 31) nos mostram que quando se pergunta a alguém “o que é inteligência?” De modo geral, as pessoas começam, sem hesitar, a elencar algumas características dessa “importante qualidade humana”. No entanto, é possível pensarmos em um conceito único de Inteligência? No meio científico não há um consenso em torno de um conceito único de inteligência, nem mesmo acerca de quais características marcam o que seria inteligência. A seguir, veja uma definição científica de inteligência: É uma capacidade mental muito geral que, entre outras coisas, implica a habilidade para raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de maneira abstrata e aprender da experiência. Não se pode considerar um mero conhecimento enciclopédico, uma habilidade acadêmica particular ou uma destreza para resolver um teste. Entretanto, reflete uma capacidade mais ampla e profunda para compreender o ambiente – perceber, dar sentido às coisas ou imaginar o que deve ser feito (GOTTFRIEDSON, 1997 apud HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018, p. 22). Cada vez mais as habilidades relacionadas ao desenvolvimento da inteligência emocional vêm sendo valorizadas, com destaque para o ambiente profissional. Em muitas entrevistas de seleção profissional, as organizações têm procurado investigar as habilidades emocionais dos candidatos antes mesmo de passarem à avaliação da capacidade técnica. Podemos dizer, então, que buscar o aprimoramento de sua inteligência emocional pode ser um fator decisivo para seu sucesso profissional. Mesmo que seu objetivo seja construir um negócio próprio ou ir atrás de um sonho que não depende de mais ninguém (o que é muito difícil, pois sempre estamos em contato com muitas pessoas, de diferentes formas) a inteligência emocional vai proporcionar importantes habilidades também para o seu desenvolvimento como ser humano e social. Veja na Figura 1 os cinco pilares da inteligência emocional propostos por Daniel Goleman (2007). A seguir, abordaremos cada um desses conceitos, com exemplos práticos de como melhor colocá-los a serviço da inteligência emocional em seu cotidiano. Você perceberá que todos os elementos que compõem a base da inteligência emocional estão interligados. Além disso, será possível notar que em algumas das práticas que vamos abordar você provavelmente já colocou em prática no seu dia a dia. Isso significa que cada um de nós é dotado de um certo grau de inteligência emocional. Portanto, lembre-se de que você já possui alguns atributos de uma pessoa com esse tipo de inteligência e deve confiar em seu potencial para melhor desenvolver essas habilidades e colocá-las a serviço de seu sucesso pessoal, social e profissional. FIGURA 1 – OS 5 PILARES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL FONTE: Adaptada de Goleman (2007) 2.1 CONHECER AS PRÓPRIAS EMOÇÕES (AUTOCONHECIMENTO) Nieuwhof (2019) explica que o autoconhecimento é o mais importante pi lar da Teoria da Intel igência Emocional proposta por Goleman. O autoconhecimento é uma importante condição para que os demais componentes da IE sejam suficientementedesenvolvidos. Para que se possa embarcar na viagem para dentro de si, em busca do conhecimento das próprias emoções, é importante que se tenha consciência que o caminho para o autoconhecimento, muitas vezes, apresenta armadilhas montadas por nós mesmos. Fellipelli (2021) explica que cada um de nós vai criando confortáveis narrativas a respeito de si mesmo e que precisam ser, no processo do autoconhecimento, colocadas em xeque, a partir de uma análise de nossas forças e fraquezas em relação à visão que temos de nós mesmos e daquilo que realmente nos constitui como sujeitos. Veja o que diz a autora: Conhecer a si mesmo nunca foi uma tarefa fácil, muito ao contrário. E, com o passar do tempo, com as experiências de vida que vamos tendo, os afazeres, as responsabilidades, as distrações somando-se umas às outras e ocupando nossa memória, cada vez temos mais conteúdo mental a processar a partir de situações novas que vamos vivendo, e, com isso, mais complexas e multifacetadas se tornam nossas imagens mentais. Cada vez mais, portanto, vão se sofisticando os modos de elaborarmos nossas próprias narrativas na vida, especialmente se somos pessoas que dedicam algum tempo, cotidianamente, a pensar, a refletir sobre o que se passa conosco e com o mundo (FELLIPELI, 2021, p. 11). Pessoas que buscam desenvolver o autoconhecimento também passam a ter mais segurança de si mesmo, pois estão cientes de seu mundo interior e, com isso, sabem gerenciar melhor as críticas que recebem, bem como os elogios recebidos em sua família, trabalho ou rede de amigos. É importante ressaltar que a busca do autoconhecimento não é um processo que possui um prazo final, ou que seja não possível alguém dizer que encerrou seu processo de autoconhecimento num determinado dia e horário. Essa é uma caminhada que nos acompanhada por toda a vida, até porque nossa dinâmica interna vai, de alguma forma, sempre sendo alterada. O próprio processo de autoconhecimento acaba gerando algum nível de transformação externa, que demandará, em algum momento, uma nova revisão e reflexão. Também não é possível estabelecer uma única rota possível na trilha do autoconhecimento, pois somos feitos de muitos sentimentos, memórias, dificuldade – o importante é que se esteja aberto a olhar para dentro de si como um verdadeiro explorador de tesouros, pronto para encontrar em qualquer possível caverna escura, um grande tesouro! Veja, na Figura 2, alguns exemplos de dimensões do autoconhecimento. Sugerimos que você identifique quais dessas dimensões você já buscou conhecer em seu interior, que ainda não refletiu e quais poderiam ser acrescentadas aqui e que fazem sentido em sua subjetividade. FIGURA 2 – DIMENSÕES DO AUTOCONHECIMENTO FONTE: A autora É possível fazer esse processo sozinho ou com a ajuda de algum profissional, como um psicoterapeuta, por exemplo. Aliás, faz parte do processo de autoconhecimento saber os limites da autossuficiência, ou seja, aquilo que conseguimos acessar sozinhos em nós próprios e aquilo que vai demandar o auxílio de alguém capacitado a nos guiar nessa trajetória. 2.2 CONTROLE DAS PRÓPRIAS EMOÇÕES (AUTOCONTROLE) Anteriormente, falamos sobre tomar consciência das suas próprias emo- ções. Agora, vamos falar do gerenciamento dessas emoções. Tendo em vista que o processo de autoconhecimento não é algo que possa ter uma data final, dizemos que, à medida que a pessoa vai tomando conhecimento das suas emoções, ela precisa começar a refletir acerca de como lidar com seus sentimentos em relação a si, aos outros e às situações. FIGURA 3 – GESTÃO DAS EMOÇÕES FONTE: A autora Podemos dizer que, enquanto o autoconhecimento está mais próximo da reflexão, na gestão das emoções colocamos esse conjunto de reflexões a serviço das ações e do exercício de estabelecer uma mudança de comportamento. Os questionamentos estão sempre presentes, mas, neste momento, eles estão mais direcionados a colocar, de forma estratégica, colocar as emoções positivas a serviço do sujeito, enquanto que e as emoções que impactam negativamente devem ser trabalhadas, para não tenham tanta força de impulsionar comportamentos negativos, embora não deixem de existir. Martins (2019) explica que a gestão das emoções tem um impacto no bem-estar do sujeito, pois, quando ele começa a usar suas emoções estrategicamente, passa a evitar conflitos, a se arrepender menos de suas atitudes, pois as tomou com base na reflexão das consequências de seus atos. É importante destacar que esse é um processo de erros e acertos e que nem sempre conseguiremos domar as nossas emoções – e isso faz parte do autoconhecimento e do estabelecimento dos nossos próprios limites. Todavia, à medida que vamos exercitando o controle emocional, tendemos a ir conseguindo melhores resultados. Vejamos, a seguir, um exemplo de exercício prático proposto por Martins (2019, p. 151) nominada de técnica da análise de custo e benefício para tomar decisão e lidar com o medo das escolhas: Pegue duas folhas e divida-as ao meio. Escreva, no alto da página 1, a 1a Alternativa de comportamento e, em cada coluna, escreva e analise os custos e benefícios da escolha do comportamento. Faça o mesmo com a segunda folha. Escreva, no alto da página 2, a 2a Alternativa de comportamento e, em cada coluna, escreva e analise os custos e benefícios da escolha do comportamento. Use seu pensamento racional para avaliar sua emoção, se tomar a segunda decisão. Pergunte-se: vale a pena? O que ganho com isso? O que perco com isso? Tome uma decisão responsável e escolha a alternativa que lhe dê mais benefícios e menos custos. 2.3 CAPACIDADE DE MOTIVAR A SI MESMO (AUTOMOTIVAÇÃO) Frequentemente, as pessoas buscam alternativas externas como fonte: de motivação, seja por meio de uma ajuda especializada ou mesmo recorrendo a pessoas do círculo de relações de amizade, trabalho, dentro do núcleo familiar ou religioso, os quais parecem possuir o dom de trazer uma boa dose de motivação nos momentos em que se está precisando tomar uma decisão ou mesmo sentir-se melhor. Há, ainda, aqueles que buscam em figuras públicas como personalidades ou celebridades a força motivacional. Essas alternativas externas, embora sejam muito importantes no processo de motivação, acabam colocando o sujeito sempre suscetível a um terceiro para que se sinta impulsionado a agir ou sentir-se bem. Ocorre que em algum momento esses agentes externos podem vir a não desempenhar mais esse papel, ou ainda, exercerem uma força contrária e desmotivadora. Por essa razão, dizemos que a relação entre agentes externos e motivação é algo impossível de ser controlado e, ainda passível de gerar consequências negativas ao sujeito em alguns casos, principalmente quando o agente externo se torna elemento de competição ou comparação. Dessa forma, a força motivacional que deve, em primeiro plano, ser desenvolvida no sujeito é a de automotivação. A capacidade de motivar a si mesmo está diretamente relacionada com o exercício do autoconhecimento, do qual falamos anteriormente e da capacidade de controle das próprias emoções. Dizemos que quando o sujeito consegue ser sua própria fonte de motivação ele está pronto para utilizar das forças externas como auxiliares de motivação. Perceba que estamos falando em força auxiliar, e não em parâmetro de comparação ou competição. Atenção! Quando dizemos que forças externas são forças auxiliares no processo motivacional, estamos considerando indivíduos que não apresentem nenhum indício de sofrimento psíquico. Qualquer estado persistente de desesperança, tristeza ou desmotivação devem sempre ser acompanhado e acompanhados por um profissional habilitado para realizar uma avaliação diagnóstica. Então como desenvolver a capacidade de automotivação? A motiva- ção não está estruturada em um conceito inflexível, ou seja, nem todas as pessoas têm a capacidade de motivarem-se pelas mesmas coisas, nem todas elas alcançarão os mesmos resultadosem torno de algo que almejam, por uma série de fatores, que veremos a seguir, mas principalmente porque cada pessoa é um ser complexo, com uma história próprias, com desejos particu- lares e com sentimentos diversos e individuais. Por mais que um grupo de pessoas possa se motivar em torno de um foco comum, cada uma delas vai vivenciar esse processo de forma estritamente pessoal. No campo da Gestão de Pessoas, por muito tempo pensou-se que bas- tavam recompensas financeiras ou materiais para elevar o nível de motivação dos funcionários. Hoje, a compreensão de que os elementos motivadores são subjetivos e, conforme afirma Bergamini (2002), não existe uma forma única de motivação, sendo necessário encontrar, antes de qualquer coisa, o potencial motivacional específico de cada um. Por essas razões, dizemos que o processo de autoconhecimento é o pri- meiro passo para o desenvolvimento da automotivação. Para isso, é importante ser capaz de saber, primeiramente, para qual finalidade desejamos estar mo- tivados. Podemos pensar em três dimensões da motivação (ROBBINS, 2005): • Intensidade: é a quantidade de esforço motivacional investido em torno de uma meta, ação ou comportamento. • Direção: é o ajuste do foco do objetivo da motivação. • Persistência: é a duração temporal da motivação. Após a reflexão dessas três dimensões da motivação é muito importante que se tome conhecimento dos fatores intrínsecos e extrínsecos que podem se tornar facilitadores ou verdadeiras barreiras para a automotivação. Sobre isso, podemos pensar em duas dimensões de fatores: os fatores objetivos e os fatores subjetivos. FIGURA 4 – EXEMPLO DE FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS PARA AUTOMOTIVAÇÃO Exemplos de fatores intrínsecos e extrínsecos para automotivação Subjetivos Objetivos Facilitadores Experiências positivas anteriores ponto; expectativa de resultados; autoconfiança reforçada; sentimentos como alegria, empolgação, bem-estar em relação ao foco da motivação, alto potencial de foco e persistência Rede de apoio motivacional; aspectos financeiros e materiais; muito tempo disponível Barreiras Insegurança, experiências negativas anteriores; desesperança; baixa autoconfiança; dificuldade de lidar com adversidades, baixa capacidade de foco e persistência. Baixo apoio no círculo de pessoas externas; aspectos financeiros e materiais, pouco tempo disponível FONTE: A autora Conhecer esses fatores é importante para que se possa refletir acerca daqueles em que podemos mudar e aqueles sobre os quais não temos gerência. Essa atividade de refletir acerca dos aspectos da motivação também faz parte do que explicamos anteriormente, sobre controlar as próprias emoções, pois, ao estarmos cientes de que não é possível controlar alguns fatores relacionados aos aspectos motivacionais, podemos diminuir a ansiedade ou a dificuldade de lidar com eles, caso se tornem uma grande barreira ao processo de automotivação. Já aqueles fatores sobre os quais temos algum poder de mudança, conhecê-los e traçar estratégias para a mudança também diminui o nível de ansiedade e gera mais confiança em torno da meta, aumentando o potencial de motivação e a confiança no resultado. Como dissemos anteriormente, o processo motivacional é sempre de ordem pessoal e variável, desse modo, os fatores exemplificados na Figura 4, podem variar de acordo com o contexto de cada um. Você pode construir um quadro parecido com esse sempre que quiser refletir acerca dos fatores intrínsecos e extrínsecos ligados ao seu processo de automotivação. 2.4 EMPATIA A palavra empatia tem ganhado espaço, principalmente nas redes sociais. É comum nos depararmos com pedidos de empatia para com alguém ou alguma situação difícil. O que significa essa expressão? Empatia é derivada da palavra alemã Einfühlung (ein = em e fühlung = sentir) significando “sentir dentro o outro” (MANGANARO, 2002 apud RANIERI; BARREIRA, 2012). A empatia é, frequentemente, descrita como a capacidade de se colocar no lugar do outro, essa ideia, no entanto, não reflete realmente o princípio da empatia. A atitude empática não tem como referencial o sujeito empático, mas sim aquele que demanda empatia. Uma atitude empática implica em olhar o sujeito a partir da perspectiva dele, buscando compreender as suas necessidades, seus desejos ações e, sobretudo, o conjunto de emoções que está vivenciando. A empatia “real” nada mais é do que compreender que as outras pessoas podem viver em um mundo completamente diferente do nosso, portanto, devemos experimentar a realidade do outro, compreendendo que estamos em uma perspectiva externa. Fabossi (2019) diferencia a ideia de simpatia e empatia. Para o autor, simpatia diz respeito a dar às pessoas aquilo que elas estão esperando. Podemos pensar, então, que a simpatia se relaciona mais com algo que parte das nossas próprias emoções em direção ao outro. Já empatia é dar às pessoas aquilo que elas precisam e não necessariamente sabem que precisam. Isso se relaciona mais com a demanda do outro do que com as nossas próprias emoções. Veja que para desenvolver um comportamento empático também é muito importante o autoconhecimento, pois é preciso que no momento de experimentar o encontro com o outro através da prática da empatia saibamos separar nossas emoções daquilo que pertence ao outro. Isso não significa que não colocaremos nossas próprias emoções a serviço do outro, porém é preciso ter sempre em mente que a atitude empática diz respeito ao acolhimento e compreensão do outro a partir do que ele está vivenciando, e não a partir do que nós estamos sentindo ou interpretando de uma situação, comportamento ou necessidade. FIGURA 5 – DESENVOLVENDO A EMPATIA FONTE: A autora Conforme mencionamos ao longo desta apostila, os elementos que reforçam a construção dos pilares para a inteligência emocional são, em alguma medida, variáveis de acordo com as pessoas e as situações. Você pode, por exemplo, ter outras práticas que auxiliem no desenvolvimento da atitude empática, que podem ser acrescentados à figura anterior. 2.5 BOM RELACIONAMENTO INTERPESSOAL Quando falamos sobre empatia, já apresentamos a relação com o outro como um fator importante para Inteligência Emocional. No entanto, qual é a implicação dos nossos relacionamentos para uma boa inteligência emocional? Todos nós somos atravessados ao longo da vida por diferentes momentos de relacionamento uns com os outros. Esses relacionamentos se referem a redes sociais diferentes: a rede familiar, a rede profissional, os amigos próxi- mos, os amigos virtuais, até mesmo os desafetos. São muitos os encontros e desencontros que temos todos os dias com diferentes pessoas. A qualida- de dessas relações, apesar de não dependerem somente de nós, podem ser melhoradas a partir do gerenciamento das emoções e da atitude empática. Muitas vezes, as pessoas recebem alguns “rótulos” de acordo com a forma com que constroem os relacionamentos interpessoais. Quantas vezes você já conheceu alguém que a forma de se relacionar precede qualquer tipo de apresentação, pode ser uma pessoa do círculo de amigos que todos “rotulam” como uma pessoa difícil, inflexível ou mesmo retraída? Ou aquela pessoa que ninguém sabe como abordar quando precisa comunicar um assunto delicado, pois todos temem a reação? Assim, a questão dos relacionamentos interpes- soais fica parecendo uma questão imutável na vida do sujeito. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, é muito possível transformar a forma de relacionamento, a partir de exercícios e reflexão para ação. Como você pode ver, os pilares da inteligência emocional estão total- mente interligados, pois não é possível melhorar a qualidade dos relaciona- mentos sem passar pelos processos de autoconhecimento, gestão das próprias emoções e desenvolvimento do potencial empático. Minicucci (2001, p. 32) traz um outro importante fator para os rela- cionamentos interpessoais: a “flexibilidadede comportamento”, ou seja, a capacidade de agir de diferentes formas, de acordo com uma situação ou pessoa específica. Isso significa, segundo o autor, que diferentes pessoas ou diferentes situações exigem que se reflita acerca de qual o comportamento mais adequado. Quando falamos em flexibilizar o comportamento de acordo com pessoas ou situações não significa dizer que você deve tratar as pessoas de forma diferente por interesses ou tomado por emoções como simpatia ou antipatia. O que queremos evidenciar é a necessidade de analisar as situações ou as pessoas de acordo com a realidade que se apresenta, levando em consideração a singularidade de cada um. Para ilustrar a questão da flexibilidade de comportamento, reflita se é possível agir da mesma forma: se Maria – criança de cinco anos me agride; se Paulo – um adolescente de 13 anos me agride; se meu pai – um adulto me agride; se meu chefe – também adulto, me agride; se minha namorada – a quem amo, me agride... (MINICUCCI, 2001, p. 32). O exemplo anterior ilustra como o controle das emoções – que tam- bém já discutimos anteriormente – é importante em qualquer tipo de rela- cionamento interpessoal. Uma mesma situação (no caso do exemplo acima, o ato agressivo) pode ter origem em diferentes contextos relacionais, o que vai demandar de você uma análise crítica da situação e uma autorreflexão e autogestão das próprias emoções. O relacionamento interpessoal tem um importante papel no desempenho profissional, pois como já explicamos no início deste material, tão importante quanto o desempenho técnico de uma pessoa é seu potencial de inteligência emocional e as habilidades que a compõem. No ambiente de trabalho, cada vez mais está sendo valorizada a capacidade de manter um bom relaciona- mento entre os colegas, bem como a habilidade de se tornar um mediador ou uma ponte, seja no relacionamento com clientes ou nos momentos em que há tensão entre a equipe. Alguns comportamentos podem ser aplicados em todos os tipos de re- lação; já outros devem ser evitados em relações de trabalho ou com pessoas com quem temos pouca intimidade. Veja: você dificilmente vai tratar todas as pessoas de seu ambiente de trabalho da mesma forma, ou da forma que trata seus familiares. Ainda, quando estamos conhecendo alguém em um relacionamento afetivo, tendemos a nos comportar de uma forma um pouco diferente de como nos relacionamos com amigos de infância. O desenvolvimento do bom relacionamento interpessoal desperta a qualidade da liderança. O verdadeiro líder não é necessariamente aquele que está em uma posição inicial de chefia, mas, ao longo do tempo, a pessoa com essa qualidade passa a ocupar a posição de destaque e de influência em uma equipe ou grupo de pessoas, o que no ambiente de trabalho acaba sendo um dos fatores mais importantes para a promoção e sucesso profissio- nal. Veja, na Figura 6, algumas das competências de um líder com uma boa inteligência emocional. FIGURA 6 – COMPETÊNCIAS DE UM LÍDER COM BOA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL FONTE: A autora 3 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E COMUNICAÇÃO Os meios de comunicação, por exemplo, computadores, aparelhos celulares, tablets, Smart TVs, entre outros, e as formas de comunicação, tais como redes sociais, podcasts, mensagens de vídeo, áudio, “posts” estão se desenvolvendo e mudando a forma e a velocidade da comunicação como nunca se viu antes na história dos seres humanos. Toda essa conectividade e possibilidade de contato simultâneo entre pessoas de diferentes partes do planeta têm trazido consequências emocionais para usuários dessas tecnologias. Hoje mesmo nos programas de rádio e televisão, há uma maior possibilidade de interação síncrona, ou como se costuma dizer, ao vivo. Essa rapidez com que se entra em contato com o outro ou ainda com muitos outros (veja o exemplo do alcance de uma publicação nas redes sociais) pode causar emoções positivas, como também pode gerar graves consequências emocionais negativas. Nesse veloz cenário possuir uma boa inteligência emocional é decisivo para a forma como seremos impactados por todos esses fenômenos. A comunicação não se refere somente ao momento em que estamos falando com alguém ou publicando algo nas redes sociais. Diz respeito à forma que selecionamos e checamos a veracidade de conteúdo para consumir (sim, somos consumidores de conteúdo!) e para difundir (esse é um ponto bastante importante no ambiente de trabalho e no uso das redes sociais). Todos os aspectos que discutimos sobre a inteligência emocional aqui são colocados a serviço das interações comunicacionais, sobretudo, no que diz respeito ao impacto que vamos gerar nos outros e a forma como os outros vão impactar nossas emoções quando nos comunicamos. Atualmente, usa-se o termo Comunicação Não Violenta (CNV) para classificar o tipo de comunicação desejável. A CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros. Nossas palavras, em vez de repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando. Somos levados a nos expressar com honestidade e clareza, ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa e empática. Em toda troca, acabamos escutando nossas necessidades mais profundas e as dos outros. A CNV nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de identificar) os comportamentos e as condições que estão nos afetando. Aprendemos a identificar e a articular claramente o que de fato desejamos em determinada situação. A forma é simples, mas profundamente transformadora (ROSENBERG, 2003). A comunicação não violenta é um exercício diário e gradual e depende intensamente do desenvolvimento da inteligência emocional, mas também podemos dizer que, à medida que vamos desenvolvendo um modo de comunicação menos violento, estamos fortalecendo os aspectos da nossa inteligência emocional. Assim, o exercício da comunicação não violenta vai acontecendo junto ao desenvolvimento da inteligência emocional, até o momento em que você já vai ter incorporado esse estilo de se comunicar – e se relacionar com o mundo em seu cotidiano, influenciando, inclusive, outras pessoas a seguirem essas mesmas ideias. Veja, na Figura 7, a seguir os passos da comunicação não violenta proposta por Rosenberg (2003). Procure perceber como é possível exercitar a CNV a partir do desenvolvimento da Inteligência Emocional. FIGURA 7 – COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA FONTE: Adaptada de Rosenberg (2003) Por fim, queremos destacar que a CNV é um estilo de comunicação que deve ser aplicada em todas as formas de relação, em seu ambiente familiar, profissional, social e até mesmo naquela breve troca de palavras em uma parada de ônibus. 3 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E CONFLITOS Agora que já traçamos o caminho para o desenvolvimento da Inteligência Emocional e para o exercício da comunicação não violenta em nosso coti- diano, conversaremos sobre um desafio quando se trata da interação entre pessoas: conflitos e os caminhos para a mediação e resolução deles. Vale lembrar que os relacionamentos são poderosas ferramentas de desenvolvimento de nossas personalidades, por conta do aprendizado que viabilizam. Na vida pessoal, é comum nos associarmos às pessoas que de- monstram afinidade conosco (REGATO, 2014). Apesar de termos dito que é comum os relacionamentos por afinidade, em muitos momentos nos depa- ramos com pessoas que possuem modos de pensar e de se comportar muito diferentes de nós. Os conflitos surgem quando uma ou mais pessoas possuem incom- patibilidade ou divergência entre as formas de pensar, de agir ou de desejar alguma coisa. Cabe destacar que o conflito é um fenômeno natural da relação entre pessoas, pois como já mencionamos anteriormente, as pessoas não são iguais, possuem visão de mundo diferentes, objetivos e níveis de inteligência emocional variados. Considerando, então, o conflito como algo presentenas relações humanas, pensaremos nas formas de torná-lo menos prejudicial à interação das pessoas e nas formas de mediar as relações conflituosas, buscando sempre a solução mais benéfica a todos os envolvidos. A busca pela solução dos conflitos ou a atitude de mediar conflitos que nos rodeiam vai ser mais bem desempenhada a medida que vamos aprimorando as técnicas de comunicação não violenta, difundindo-as entre as pessoas com quem nos relacionamos e, claro, ao passo que nossa inteligência emocional esteja cada vez mais aprimorada. Os resultados dos conflitos em que você se envolve ou busca mediar é que irão demonstrar quão bem você está desenvolvendo suas habilidades, pois se os conflitos humanos são inevitáveis, a busca por uma resolução pacífica é uma escolha inteligente que se deve fazer. Claro que isso não depende só de nós, mas sempre se colocar a serviço das relações pacíficas é o melhor caminho ao interagir com os que nos cercam. Ter a clareza de que muitas pessoas não buscam desenvolver a inteli- gência emocional é um primeiro passo para buscar a solução de um conflito, pois quando você for se colocar na posição de exercitar uma atitude empá- tica (sim! devemos ser empáticos mesmo com aqueles com quem estamos conflitando) lembre-se da diferença entre empatia e simpatia, que vimos anteriormente. Veja algumas dicas para a gestão de conflitos: • Para administrar conflitos, crie um clima adequado, separe as pessoas dos problemas, esclareça as percepções, concentre-se nos interesses e não nas posições. Busque criar opções que satisfaçam às duas partes, FONTE: <encurtador.net/frxY4>. Acesso em: 16 ago. 2021 Diante disso, podemos dizer que a Inteligência Emocional é a base para qualquer ação e reflexão dos indivíduos, pois o conhecimento e controle das emoções estão diretamente ligados à forma como vemos a nós próprios e como os outros nos enxergam. Entretanto, atenção: não é porque você chegou até aqui que o seu percurso acabou: esse é um exercício que nos acompanha durante toda a vida, pois nunca deixamos de nos transformar, assim como nunca é tarde para, a partir do nosso crescimento pessoal, transformar positivamente a realidade que nos cerca! É caminhando que se faz o caminho. Boa sorte e bom trabalho! FIGURA 8 – LEMBRETES PARA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL FONTE: A autora insista em critérios objetivos e mantenha o seu comportamento sob controle. Coloque-se no lugar do outro e fale sobre o futuro, a fim de procurar estabelecer acordos de benefícios mútuos. • Ao lidar com conflitos, deve-se mostrar as semelhanças ao invés das divergências. As partes começarão a ver a situação de maneira mais otimista. Também use a ponderação nos conflitos que você administrar, pois nem todos valem seu esforço; principalmente, avalie quem está envolvido no conflito – conheça os envolvidos para que não entre em batalhas de antemão perdidas. 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