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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Doença celíaca ↠ A doença celíaca (DC) é uma intolerância à ingestão de glúten, contido em cereais como cevada, centeio, trigo e malte, em indivíduos geneticamente predispostos, caracterizada por um processo inflamatório que envolve a mucosa do intestino delgado, levando a atrofia das vilosidades intestinais, má absorção e uma variedade de manifestações clínicas (SILVA; FURLANETTO, 2010). As proteínas do glúten são relativamente resistentes às enzimas digestivas, resultando em derivados peptídeos que podem levar à resposta imunogênica em pacientes com DC (SILVA; FURLANETTO, 2010). A dermatite herpetiforme ocorre em 10% a 20% dos pacientes e é uma manifestação patognomônica (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ Há importante predisposição genética nos pacientes com DC, caracterizada pelos marcadores de superfície HLA-DQ2 e HLA-DQ8. O glúten interage com os marcadores HLA, causando uma resposta imune anormal da mucosa e lesão tecidual (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ A investigação diagnóstica de DC deve ser realizada antes da introdução do tratamento que é a dieta isenta de glúten, pois a dieta pode alterar negativamente os resultados dos testes sorológicos e melhorar a histologia (SILVA; FURLANETTO, 2010). Teste sorológico positivo sugere o diagnóstico de DC, mas a biópsia duodenal ainda é o padrão-ouro (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ Os marcadores sorológicos são úteis para identificar os indivíduos que deverão ser submetidos à biópsia de intestino delgado (via EDA). SOROLÓGICOS Antitransglutaminase tecidual (anti-tTG IgA) ↠ O anti-tTG é o anticorpo contra a transglutaminase tecidual (a enzima responsável pela deaminação da gliadina na lâmina própria) (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ Esse teste é realizado pelo método de ELISA o (sensibilidade 90% e especificidade 95,3%) (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ Isoladamente, é o mais eficiente teste sorológico para detecção de DC (SILVA; FURLANETTO, 2010). Antiendomísio IgA (EMA) ↠ Anticorpos EMA IgA ligam-se ao endomísio, o tecido conjuntivo ao redor do músculo liso, produzindo um padrão característico. É detectado por imunofluorescência indireta (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ É reconhecido que a presença do EMA é preditiva de progressão para atrofia de vilosidades (SILVA; FURLANETTO, 2010). Não é específico. Indica lesão da fibra muscular (mucosa intestinal). Anticorpos Antigliadina (AGA IgA) ↠ Este é o marcador mais antigo e é determinado pelo método ELISA. Os valores de referência não são constantes entre os laboratórios. Sua eficácia é difícil de definir, pois os dados disponíveis na literatura são heterogêneos e não permitem a comparação (SILVA; FURLANETTO, 2010). Deficiência seletiva de IgA ↠ Deficiência de IgA é a mais comum imunodeficiência humana e é 10-15 vezes mais comum em pacientes com DC. Entretanto, a dosagem de IgA só deve ser realizada se houver alta suspeição desta deficiência (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ Aproximadamente 3% dos pacientes com DC tem essa deficiência, que pode causar falso-negativo nos testes sorológicos EMA, anti-tTG IgA e AGA IgA, baseados em IgA (SILVA; FURLANETTO, 2010). ↠ Nos pacientes com deficiência seletiva de IgA pode ser realizada a sorologia com IgG, tanto o EMA IgG quanto o tTGA IgG têm excelente sensibilidade (próxima de 100%) e especificidade. Porém, testes baseados em IgG têm menor sensibidade e especificidade em relação aos baseados em IgA, naqueles com níveis normais de IgA (SILVA; FURLANETTO, 2010). Lab. 02– patologia CLÍNICA e farmacologia 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck BIÓPSIA DUODENAL ↠ O número adequado de fragmentos de biópsia da segunda porção duodenal ou mais distal está entre 4 e 6 (SILVA; FURLANETTO, 2010). HISTOPATOLÓGICO: A histopatologia caracteriza-se por um número aumentado de linfócitos T CD8+ intraepiteliais (linfocitose intraepitelial), hiperplasia da cripta e atrofia vilosa. Essa perda da área de superfície da mucosa e da borda em escova contribui para a má absorção. Intolerância à lactose ↠ A intolerância à lactose é a repercussão clínica da diminuição dos níveis da enzima lactase (ꞵ-D- Galactosidase) na mucosa intestinal. As microvilosidades do intestino delgado, principalmente no jejuno, é onde se localiza a lactase, quando essa enzima não é absorvida, seu efeito osmótico na luz do íleo terminal do intestino e, principalmente, cólon faz com que a água e eletrólitos se elevam, aumentando o peristaltismo, dor abdominal, diarreia, além de outros sintomas (OLIVEIRA et al., 2019). ↠ O diagnóstico é clínico, sendo confirmado pelo exame de sangue, através da curva glicêmica, ou urina, ou fezes, ou hidrogênio expirado que é o padrão ouro (OLIVEIRA et al., 2019). TESTE DE ABSORÇÃO DA LACTOSE ↠ O teste de tolerância à lactose (curva glicêmica) é realizado pela ingestão em jejum de uma dose concentrada de lactose e durante duas horas é feito vários exames de sangue (com 30, 60 e 90 minutos) com o intuito de medir a glicose, a qual reflete a digestão do açúcar do leite (OLIVEIRA et al., 2019). ↠ Quando a lactose não é degradada, não haverá aumento no nível de glicose (glicemia menor que 20 mg/%), e assim, o diagnóstico é confirmado. Crianças pequenas não devem realizar esse exame (OLIVEIRA et al., 2019). Geralmente o pico é com 60 minutos, se não aumentar indica o quadro de intolerância à lactose. TESTE DE HIDROGÊNIO EXPIRADO ↠ O teste de hidrogênio expirado é o padrão ouro, consiste em um exame que mede a quantidade de hidrogênio expirado pelo pulmão, sendo que em situações normais é pequena. Entretanto, no intestino delgado quando as bactérias fermentam a lactose que não foi digerida geram gases, incluindo hidrogênio, o qual é absorvido e expirado pelos pulmões (OLIVEIRA et al., 2019). ↠ Na realização do exame, o hidrogênio expirado é medido em intervalos regulares após a ingestão de uma solução de lactose, sendo que níveis elevados de hidrogênio significa uma digestão inadequada de lactose (OLIVEIRA et al., 2019). Alergia à proteína do leite da vaca ↠ A alergia alimentar é uma patologia clínica resultante da sensibilidade de um indivíduo a uma ou mais proteínas alimentares, absorvidas através da mucosa intestinal permeável (MACITELLI, 2011). ↠ O leite de vaca é o alérgeno alimentar mais representativo para o grupo etário pediátrico, não apenas por ser o mais utilizado, como também pelo seu forte potencial alergênico. O mesmo contém mais de 20 componentes protéicos, dotados de diferentes graus de atividade antigênica (MACITELLI, 2011). ↠ Estudos recentes demonstram que a fração beta- lactoglobulina é a que mais frequentemente induz sensibilização e ela é precisamente uma fração ausente no leite humano (MACITELLI, 2011). Apesar de se designar frequentemente "alergia à proteína do leite", na verdade o leite de vaca possui várias proteínas que podem causar alergia. Os nomes dessas proteínas do leite que mais frequentemente causam alergia são: caseína (proteína do coalho), alfa- lactoalbumina e beta-lactoglobulina (proteínas do soro). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ O diagnóstico da APLV é baseado basicamente em uma história detalhada dos sintomas, em exames laboratoriais e testes clínicos (MACITELLI, 2011). Investigação de sensibilização IgE específica ↠ A pesquisa de IgE específica ao alimento suspeito pode ser realizada tanto in vivo, por meio dos testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (TC), como in vitro, pela dosagem da IgE específica no sangue (SOLÉ et al., 2018). • IgE esp. Alimentos – Alfa lactoalbumina • IgE esp. Alimentos – Beta lactoglobulina • IgE esp. Alimentos – Caseína • IgE esp. Alimentos – Leite: amplo. Referências SILVA, T. S. G.; FURLANETTO, T. W. Diagnóstico de doença celíaca em adultos. RevistaAssociação Médica Brasileira, n. 56, v. 1, p. 122-6, 2010. OLIVEIRA et al. Diagnóstico e manejo da intolerância à lactose. Brazilian Journal of Sugery and Clinical Research, v. 29, n. 1, p. 111-115, 2019. MACITELLI, M. R. Alergia à proteína do leite de vaca. Trabalho de conclusão de curso, título de Residência Médica, São Paulo, 2011. SOLÉ et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 2 – Diagnóstico, tratamento e prevenção. Arquivos de Asma, alergia e imunologia, v. 2, n. 1, 2018.