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CAPÍTULO 1

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CAPÍTULO 1 
 
Fundamentos e formação histórica do Direito do Trabalho. Tendências atuais do 
Direito do Trabalho. Flexibilização. Desregulamentação. 
 
 
1. Nota de explicativa: 
 
 
É de fundamental importância conhecer os fatos econômicos, sociais, políticos, culturais 
e religiosos, ou seja, as fontes materiais que influenciaram na formação de um ramo 
jurídico, pois só assim será possível compreender, interpretar e aplicar suas normas. 
 
Iniciaremos, portanto, o estudo do Direito material do trabalho pela sua origem e 
formação histórica. 
 
 
2. Surgimento do Direito do Trabalho. 
 
 
Todo e qualquer ramo do direito possui como ponto central uma relação jurídica. Em 
torno da mesma são elaboradas normas, princípios, institutos. O Direito do Trabalho 
não escapa à regra, tendo a relação de emprego como categoria básica. 
 
Além de se caracterizar pela posição nuclear que ocupa na seara trabalhista, a relação de 
emprego foi fundamental na emancipação do Direito do Trabalho. Iniciou-se a 
especialização deste segmento jurídico a partir do momento que a força de trabalho 
tornou-se livre e subordinada.1 Apenas nesse quadro contextual, é possível identificar a 
relação de emprego e, consequentemente, o surgimento do referido ramo jurídico. 
 
Nesse sentido, passamos a sumariar a evolução histórica das relações de trabalho, 
buscando alcançar o surgimento do Direito do Trabalho. 
 
 
 
1 Ao se afirmar que a força de trabalho tornou-se livre e subordinada, pretende-se dizer que: o trabalhador 
tornou-se juridicamente livre com o seu desligamento frente aos meios de produção, entretanto, passou a 
ser subordinado, no âmbito laboral, ao empregador. 
2.1 Origem e evolução da relação de trabalho 
 
O trabalho humano sempre existiu. O emprego da energia pessoal em função de outrem 
é contemporâneo às primeiras civilizações. O trabalho, no início, tinha como escopo 
apenas a sobrevivência, buscando atender às necessidades mais primárias e 
irrenunciáveis. 
 
A partir do momento que o ser humano deixou de ser nômade e fixar-se em uma região, 
iniciaram-se conflitos entre grupos de diferentes locais. Os choques entre grupos sociais 
rudimentares, resolvidos, de início, pela simples eliminação física dos vencidos, 
passaram a resolver-se pela submissão aos vencedores, para satisfazer as suas 
necessidades. 
 
Portanto, com o desenvolvimento do racionalismo, o homem começou a utilizar a 
energia laboral alheia para interesses não tão vitais como no seu primórdio. Foi nesse 
momento histórico que surgiu a Escravidão. 
 
Da escravidão, a relação de trabalho humano passou, de forma gradativa, para a 
servidão (à pessoa ou à gleba), que imperou na Idade Média, e desta para o remanso do 
humanismo renascentista e do Iluminismo da Idade Moderna, até chegar à relação de 
emprego concebida no ventre da Revolução Industrial. 
 
Somente na sociedade industrial pode-se vislumbrar o surgimento da relação 
empregatícia. Antes disso, não é possível encontrar qualquer vínculo jurídico apto a ser 
identificado como relação de emprego, uma vez que predominava o trabalho não-livre, 
sob a forma escrava, servil ou corporativa. 
 
Vale ressaltar que o Direito Romano regulamentava duas formas de trabalho livre: 
locatio operis e locatio operarum. No entanto, nenhuma delas era capaz de enquadrar-se 
na figura jurídica “relação de emprego”. 
 
A primeira caracterizava-se pela contratação de um trabalho especificado segundo o seu 
resultado – a obra. Assemelhava-se ao instituto contemporâneo da empreitada, garantia 
a autonomia ao prestador do trabalho, bem como lhes transferia o risco do seu labor. 
 
Na locatio operarum, não importava a locação da obra (do resultado), mas os serviços 
contratados, ou seja, o trabalho prestado. Essa figura aproximava-se, desse modo, à 
moderna prestação de serviços (trabalho autônomo). Nesta modalidade de contrato, o 
risco do resultado transferia-se ao contratante do serviço.2 
 
Feito o devido recorte metodológico, lembrando que só possível falar em relação de 
emprego e Direito do Trabalho no período da Revolução Industrial, discorreremos de 
forma singela acerca das relações de trabalho escravo, servil e corporativa. 
 
2.1.1 Escravidão, servidão e corporações de ofício 
 
Como observado no tópico anterior, a escravidão é oriunda das lutas travadas entre 
tribos rivais. Ao invés de sacrificar os vencidos, percebeu-se ser mais vantajoso 
escravizá-los com o objetivo de utilizar a sua energia de trabalho e de sua prole. Quando 
o número de escravos tornava-se excessivo, eram vendidos, trocados ou alugados. 
 
A relação jurídica existente entre escravo (res) e o seu proprietário era de direito real. 
Os escravos eram considerados coisas, e como tais, além de não possuírem direitos, os 
produtos do seu trabalho eram do seu proprietário. 
 
O trabalho escravo ajudou a atrelar ao trabalho o sentido de sofrimento, de dor, de 
atividade subalterna e indigna. Com o advento do Cristianismo, a prática escravocrata 
sofreu temperamentos e recrudescimento. Nomes como Santo Agostinho e São Tomás 
de Aquino contribuíram para a mudança da visão sobre o trabalho humano, passando a 
ser considerado uma atividade dignificante, um mandamento de Deus, além de 
colaborar para o desenvolvimento do trabalho servil. 
 
Apesar de existirem normas heterônomas aplicáveis aos escravos, não podemos falar em 
Direito do Trabalho no período escravocrata. Se já não bastasse o número insignificante 
de normas, o escravo era considerado objeto do direito, o que tornava impossível a 
configuração de relação de emprego, uma vez que esta pressupõe a existência de dois 
 
2 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2004, p. 288. 
levi
Realce
sujeitos de direito: empregado e empregador. Ausente um deles, a relação jurídica está 
fora da tutela trabalhista3. 
 
No servilismo, a relação de direito real do período escravocrata cedeu lugar para a 
relação entre o senhor feudal e o servo da terra. Os servos eram vinculados 
perpetuamente à terra, fornecida pelo senhor feudal, para cultivá-la, mediante uma 
retribuição, que, no início, era em forma de trabalho, passando a ser em produtos da 
terra e, posteriormente, em pecúnia (tributo ao dono da propriedade). Diferente dos 
escravos, os servos possuíam personalidade jurídica completa. Eram “semilivres”, não 
tendo, porém, o direito de abandonar a gleba. 
 
O modelo servil entrou em decadência conjuntamente com o sistema feudal. Diversas 
transformações econômicas, sociais, religiosas e culturais ocorridas na Idade Média 
possibilitaram o surgimento de um novo regime laboral. A transição do trabalho escravo 
para o servil, a consolidação do feudalismo, o êxodo rural, a formação dos burgos e o 
desenvolvimento da atividade comercial. Foi nesse contexto social que nasceram as 
corporações de ofício. 
 
As atividades mais humildes, relacionadas com o trato da terra, eram desempenhadas 
pelos escravos ou servos da gleba. Os artesãos e os burgueses aproveitavam certa 
abertura para constituir associações profissionais denominadas de corporações de ofício. 
 
O regime corporativo, apesar de refletir induvidoso avanço em relação à escravidão e ao 
servilismo, foi um sistema opressor e autocrático.4 A disciplina rígida, o conteúdo 
contratual limitador da liberdade dos prestadores de serviços e a dificuldade para 
ascensão à posição de mestre levaram à extinção das corporações. Os companheiros 
revoltados com a situação supramencionada assumiram uma posição de luta contra os3 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 51. 
4 O artesão não podia exercer livremente sua arte ou ofício, precisando, para tanto, ingressar em uma 
corporação, grupos de produção de tipo autoritário, com rígida hierarquia, no topo do qual estavam os 
mestres; no meio, os companheiros ou oficiais e, no piso, os aprendizes. Para se tornar mestre era 
necessário produzir uma obra prima. (CATHARINO, José Martins. Compêndio de Direito do Trabalho. 
São Paulo: Saraiva, 1981, p. 5.). 
mestres. Formaram o seu próprio grupo, as compagnonnages5, com intuito 
reivindicatório e manifestamente contrário ao regime corporativo. 
 
Com a decadência da nobreza e do feudalismo, inaugurou-se uma nova fase na história 
da humanidade. As revoluções Francesa e Industrial, que vieram na esteira da 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, foram eventos que marcaram e 
influenciaram esse novo período histórico. 
 
Com a Revolução Francesa, a sociedade passou a preocupar-se em suprimir as 
restrições à liberdade e em afirmar os valores da igualdade e fraternidade. 
 
As corporações de ofício e as companhias foram proibidas já que estas reprimiam a 
liberdade individual, um dos princípios da Revolução Francesa. Procurou-se eliminar 
radicalmente todo tipo de organização que pudesse permitir o ressurgimento de 
restrições à liberdade de trabalho e assegurar imediatidade entre o indivíduo e o Estado, 
com a supressão radical de todos os corpos intermediários.6 
 
A liberdade propagada pela Revolução Francesa influenciou no desenvolvimento da 
questão social, um dos fundamentos do Direito do Trabalho. 
 
Apesar de possuir grande influência no surgimento o Direito do Trabalho, a Revolução 
Francesa não tinha como preocupação os trabalhadores. Buscava assegurar a burguesia 
no poder, acabando com qualquer ente intermediário existente entre o Estado 
(burguesia) e o indivíduo. 
 
Dentre os eventos referidos, o que mais influenciou na transformação dos modelos 
laborais existentes na relação de emprego foi a Revolução Industrial. 
 
 
 
5As companhias (compagnonnages) assemelham-se mais aos sindicatos que as próprias corporações de 
ofício. Enquanto estas reuniam em um só órgão mestres (opressores), companheiros e aprendizes 
(oprimidos), as companhias agrupavam profissionais (companheiros) contra o monopólio dos mestres em 
busca de condições melhores de trabalho. (BATALHA, Wilson de Souza; BATALHA, Silvia Marina 
Labate. Sindicatos. Sindicalismo. 2. ed., São Paulo: LTr, 1994, p. 22) 
6 BATALHA, Wilson de Souza; BATALHA, Silvia Marina Labate. Sindicatos. Sindicalismo. 2. ed., São 
Paulo: LTr, 1994, p. 23. 
2.1.2 Revolução Industrial 
 
A Revolução Industrial pode ser conceituada como um fato econômico, de raiz 
simplesmente tecnológica, que alterou profundamente o sensível tecido social e, por 
inevitável decorrência, o tecido jurídico das relações de trabalho, produzindo impactos 
até os dias atuais, em ondas sucessivas batizadas de segunda e terceira Revolução 
Tecnológica.7 
 
A introdução da máquina no processo de produção causou profundas modificações na 
economia e na sociedade. 
 
Na economia, a utilização das máquinas a vapor permitiu a produção em larga escala, 
aumentando a oferta de emprego nas cidades – no primeiro momento -, o que levou ao 
êxodo rural e a concentração de elemento humano em torno das fábricas. 
 
A concentração da massa trabalhadora ao redor das fábricas trouxe desdobramentos 
sociais positivos - a formação e urbanização das grandes cidades; formação da 
consciência coletiva da massa operária -, assim como, conseqüências negativas - grande 
contingente de mão-de-obra desqualificada e a super-exploração da mesma; péssimas 
condições de vida e de trabalho. 
 
A liberdade econômica sem limites pregada da Revolução Francesa viabilizou a 
opressão dos mais fracos economicamente, formando uma nova classe social, a classe 
operária. Salários ínfimos, jornadas desumanas, condições de higiene degradantes, com 
graves riscos de acidente e a concentração no ambiente fabril, possibilitaram a 
intercomunicação dos lamentos e formação da consciência coletiva. 
 
A classe operária, consciente da força da coletividade, passou a pressionar o Poder 
Público exigindo uma solução para a “questão social” (repercussão social da Revolução 
Industrial), com a qual também se preocupou a doutrina social cristã8, por meio da 
 
7 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho: noções fundamentais de 
direito do trabalho, sujeitos e institutos de direito individual. 5. ed., São Paulo: LTr, 2003, p. 32. 
8 A doutrina social cristã além de condenar os excessos do capitalismo, socialismo e do comunismo, 
defendia: a intervenção do Estado nas relações de trabalho para assegurar o bem comum; a propriedade 
não é um direito absoluto, e ao dono corresponde, na verdade, uma função de administrador, devendo 
submeter-se às limitações necessárias, dada a sua função social; o trabalho é titulo de honra, que toca a 
Encíclica Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, passando pela Quadragésimo Anno 
(1931) e pela Divini Redemptores (1931), ambas de Pio XI. 
 
Marx e Engels (1848), também preocupados com a “questão social”, passaram a criticar 
as condições de trabalho da época, exigindo mudanças em benefício do proletariado. 
 
Diante da desigualdade econômica e social; das pressões da classe operária, da doutrina 
social cristã e da ideologia socialista/comunista, tornou-se necessária a intervenção do 
Ente Público, por meio de uma legislação predominantemente imperativa, de força 
cogente, insuscetível de renúncia pelas partes, uma vez que o Direito Civil, baseado na 
autonomia contratual das partes e no individualismo, já não suficiente para regular essas 
novas relações de labor. 
 
Paralelamente a esses condicionamentos impostos pelo legislador, o rol de normas 
dispositivas existentes foi reduzido, atenuando-se a autonomia da vontade das partes9. 
Nesse momento, podemos registrar o nascimento do Direito do Trabalho. 
 
 
3. Fundamentos e formação histórica do Direito do Trabalho. 
 
 
Não podemos pensar em Direito do Trabalho antes da Revolução Industrial e do sistema 
capitalista. 
 
Apesar de existirem algumas normas regulando as relações laborais na Antiguidade e na 
Idade Média, o Direito do Trabalho surgiu como ramo jurídico durante a Revolução 
Industrial, na Inglaterra. Somente nesse momento histórico ocorreu a conjunção dos 
pressupostos da relação empregatícia: trabalho livre e subordinado. O trabalhador 
 
dignidade da pessoa humana; o trabalho deve ser justo e suficiente para manter o trabalhador e sua família 
de forma decorosa; o descanso deverá permitir-lhe a reposição de forças e os deveres religiosos; não 
devem ser exploradas as “meias-forças” (mulheres e crianças); trabalhadores e empregadores não devem 
enfrentar lutas de classe; a sociedade deve organizar-se corporativamente e as organizações profissionais 
deverão regular as relações de trabalho; o estado deve intervir para regular e fixar condições em favor de 
quem não conta com outra sorte de proteção. (ALONSO GARCIA, Manuel. Derecho del Trabajo. 
Barcelona: José Maria Bosch Editor, 1960, p. 122). 
9 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 63. 
tornou-se juridicamente livre com o seu desligamento frente aos meios de produção, 
entretanto, passou a ser subordinado, no âmbito laboral, ao empregador.10.Vale ressaltarmos que, o fundamento do Direito do Trabalho não foi a Revolução 
Industrial, e sim, o fato econômico e a questão social existente neste período na 
Inglaterra. Utilizando-se das palavras de José Martins Catharino, afirmamos que o 
Direito do Trabalho é fruto da interação do fato econômico com a questão social, tendo 
sua substância costurada com fios entrelaçados desses dois tecidos.11 
 
O significado da Revolução Industrial para o surgimento e evolução do Direito do 
Trabalho foi “forçar que se encarasse de uma nova maneira a prestação de trabalho 
individual em proveito de outrem”12. Foi um agente catalisador desta mudança. 
 
Outros autores13 acrescentam como fundamento do Direito do Trabalho: a doutrina 
social cristã; a ideologia socialista/comunista de Marxs e Angels; e a consciência 
coletiva da classe operária. 
 
Desta forma são fundamentos do Direito do Trabalho: a) fator econômico; b) questão 
social; c) doutrina social cristã; d) ideologia socialista/comunista de Marx e Angels; e) 
consciência coletiva da classe operária. 
 
Observamos, até o momento, os fatores14 que influenciaram no surgimento do Direito 
Laboral, entretanto, passamos agora a analisar a evolução do referido ramo jurídico. 
 
 
10 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2004, p.85. 
11 CATHARINO, José Martins. Compêndio de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 1981, p. 5 
12 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho: noções fundamentais 
de direito do trabalho, sujeitos e institutos de direito individual. 5. ed., São Paulo: LTr, 2003, p. 26. 
13 V.g.: Evaristo de Morais Filho assevera que as principais causas do aparecimento do ramo jurídico em 
questão são: os vícios e as conseqüências da liberdade econômica e do liberalismo político; o 
maquinismo; a concentração de massas humanas e de capitais; as lutas de classes, com as conseqüentes 
rebeliões sociais com destaques para os ludistas ou cartistas na Inglaterra; as revoluções de 1848 e 1871, 
na França, e de 1848, na Alemanha; livres acordos entre grupos econômicos e profissionais regulando as 
relações entre patrões e operários, mas tarde, reconhecidos pelo Estado como lei; a Encíclica Rerum 
Novarum, de Leão XIII; a guerra (1914-1918), cujo fim (1919) conferiu ao Direito do Trabalho posição 
definitiva nos ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais (MORAES FILHO, Evaristo. 
Introdução ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1971, p. 47.). 
14 Os manuais de Direito do Trabalho apresentam como fundamentos desse ramo jurídico suas primeiras 
fontes materiais. 
Para fins didáticos, o estudo da formação do Direito do Trabalho costuma ser dividido 
em fases ou períodos, assinalados por fatos históricos marcantes em cada data, proposto 
pelos espanhóis Granizo e Rothvoss15. Para eles, a evolução história do ramo jurídico 
em questão pode ser dividida em quatro fases: 1) formação; 2) intensificação; 3) 
consolidação; e 4) autonomia. 
 
1ª Fase: FORMAÇÃO – 1802 (Lei de Moral and Health Act) até 1848 (Comissão de 
Luxemburgo) 
 
O primeiro período vai de 1802 a 184816. Inicia-se em 1802, na Inglaterra, com a 
publicação da Lei de Moral and Health Act (Ato da Moral e da Saúde), proibindo o 
trabalho noturno para crianças e limitando o diurno há 12 horas diárias. Em 1806, na 
França, foram criados por Napoleão os Conselis de prud’hommes, órgãos com a função 
de dirimir, mediante conciliação, os dissídios surgidos no ambiente fabril, considerados 
a manifestação precursora da Justiça do Trabalho. Na Inglaterra, 1824 e 1825, surgiram 
os Combinations Acts, os quais declararam não mais constituir delito a existência de 
 
15 Para Maurício Godinho Delgado, apesar de ser bastante recorrente nos manuais de Direito do Trabalho, 
possui o inconveniente de não permitir uma compreensão mais sistemática sobre o padrão de organização 
do mercado de trabalho e de sua normatização. Apesar de descritiva, não é explicativa da substancia do 
Direito do Trabalho e dos modelos justrabalhistas a que se refere tal periodização. O mesmo divide em 4 
fases a evolução do Direito do Trabalho: a) fase das manifestações incipientes ou esparsas(1802 a 1848); 
b) fase da sistematização e consolidação do Direito do Trabalho (1848 a 1919); c) fase da 
institucionalização do Direito do Trabalho (1919 a 1979); d) fase da crise e transição do Direito do 
Trabalho (1979 até os dias atuais). 
16 Inicia-se, na Inglaterra, com a publicação da Lei de Moral and Health Act (Ato da Moral e da Saúde), 
por iniciativa do Industrial Robert Peel, daí também ser chamada de Lei Peel (1802). Proibiu o trabalho 
noturno para crianças e limitou o diurno a 12 horas diárias, além de ter fixado um rol de deveres alusivos 
à educação e higiene nos ambientes de trabalho. Em 1806, na França, foram criados por Napoleão os 
Conselis de prud’hommes, organismos de composição paritária, com representantes de empregados e 
empregadores, com a função de dirimir, mediante conciliação, os dissídios surgidos no ambiente fabril. 
São considerados a manifestação precursora da Justiça do Trabalho. Em 1813, na França, foi proibido o 
trabalho de menores em minas. Em 1819, na Inglaterra, foi proibido o emprego de menores de 16 anos. 
Também na Inglaterra, 1824 e 1825, surgiram os Combinations Acts, os quais declararam não mais 
constituir delito a existência de associações profissionais. Em 1833, ainda na Inglaterra, foi instituída a 
Inspeção do Trabalho e, afinal, reduzida a jornada dos menores para 8 horas. Na década de 1840 e 1850, 
foi proibido o trabalho feminino nas minas e sua redução para de 10 horas diárias nas indústrias. Em 
1839, na Alemanha, teve início a edição de normas sobre o trabalho feminino e de menores de idade. Na 
França, em 1941, proibiram o trabalho de menores de 8 anos, além de restringir sua duração a 8 horas por 
dia para menores de 12 anos e a 12 horas para os menores de 16anos. Em 1843, na Itália, era proibido o 
emprego de menores de menores de 9 anos de idade, bem como o trabalho noturno para menores de 12 
anos. Em 1848, na França, foi criada a Comissão de Luxemburgo, reconhecendo o Direito do Trabalho e 
diversos direitos dos trabalhadores, tais como: direito ao trabalho, fim do merchandage, jornada de 10 
horas. (OLIVEIRA, José César de. Curso de Direito do Trabalho: estudos em memória de Célio 
Goyatá. Coord. Alice Monteiro de Barros. São Paulo, 1994, p. 71-72). 
associações profissionais. Já em 1848, na França, foi criada a Comissão de 
Luxemburgo, reconhecendo o Direito do Trabalho e diversos direitos dos trabalhadores. 
 
Diante da limitação proposta ao nosso trabalho, não iremos apontar todas as normas 
trabalhistas surgidas nesse período, todavia, podemos observar que as condições de 
trabalho e a jornada foram os principais alvos da regulamentação, assim como a 
proteção aos menores e as mulheres. 
 
 
2ª Fase: INTENSIFICAÇÃO – 1848 (Manifesto Comunista) até 1890. 
 
 
O período de Intensificação vai de 1848 a 1890. Nesta fase, podemos apontar como 
principais acontecimentos o Manifesto Comunista (1848) de Marx e Engels, a 
implantação da primeira forma de seguro social na Alemanha (1883) 
 
O Manifesto Comunista despertou a consciência da classe trabalhadora, percebendo que 
seu trabalho agrega valor à mercadoria, passando a reivindicar e resistir. O Manifesto 
serviu de base para a luta operária. 
 
Nesta fase, o Direito do Trabalho já existe como ramo jurídico, no entanto, começa a 
intensificar a sua produção normativa. 
 
3ª Fase: CONSOLIDAÇÃO – 1890 (Encíclica Rerum Novarum) até 1919 
 
O terceiro período, denominado de Consolidação (1890 a 1919), é caracterizado pela 
publicaçãoda principal Encíclica Papal, a Rerum Novarum (Leão XIII), que defendia a 
melhoria das condições sociais do proletariado e o justo salário, bem como pela 
Conferência de Berlim (1890), quando 14 países discutiram medidas sobre a duração de 
trabalho, descanso semanal e férias. Em 1900, surgiu a associação internacional para a 
proteção legal dos trabalhadores, firmando os primeiros tratados internacionais de 
trabalho17. 
 
 
 
17 OLIVEIRA, José César de. Curso de Direito do Trabalho: estudos em memória de Célio Goyatá. 
Coord. Alice Monteiro de Barros. São Paulo, 1994, p. 72 
4ª Fase: AUTONOMIA – 1919 (Tratado de Versailles) até a presente data 
 
Na quarta fase, intitulada de período da Autonomia (1919 até a presente data), o Direito 
do Trabalho adquiriu autonomia científica. 
 
Encerrada a primeira grande guerra, foi celebrado o Tratado de Versailles (1919), o qual 
desempenhou papel importante ao não admitir que o trabalho fosse tratado como 
mercadoria, assegurando a jornada de 8 horas, a isonomia salarial para trabalho de igual 
valor, salário mínimo, repouso semanal, inspeção do trabalho, tratamento especial ao 
trabalho da mulher e do menor trabalhadores. 
 
O referido tratado instituiu a OIT (Organização Internacional do Trabalho/1919), a qual 
desenvolveu um excelente trabalho de universalização do Direito do Trabalho. 
 
Nesse mesmo período, começa a constitucionalização do Direito do Trabalho 
(Constituição de Weimar/ 191918). 
 
Na primeira parte da fase da autonomia (1919 a 1979), o Direito do Trabalho 
desenvolveu-se, aprimorou-se e alcançou o patamar constitucional. As fontes 
autônomas e heterônomas ganharam larga consistência e autonomia. 
 
Na segunda parte desta fase (1979 até os dias atuais), o Direito do trabalho passa por 
uma crise. Conjugação de fatores (a crise do petróleo, o elevado índice de desemprego, 
renovação tecnológica, globalização, queda do Estado do Estar-Social) levou a uma 
acentuada informalização e desorganização do mercado de trabalho, trazendo à tona a 
discussão sobre a flexibilização e desregulamentação trabalhista, temas que serão 
analisados em tópico posterior. 
 
3.1 Evolução histórica do Direito do Trabalho no Brasil 
 
 
O surgimento do Direito do Trabalho, no Brasil, deu-se de forma outorgada. Não nasceu 
diretamente das reivindicações da classe operária, em que pese a existência de alguns 
 
18 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 64. 
movimentos sociais isolados, mas sim, de uma série de medidas legislativas, de caráter 
populista, editadas por Getúlio Vargas. 
 
A doutrina costuma dividir a evolução histórica do Direito do Trabalho em três grandes 
fases. 
 
1ª Fase: 1822 (Independência) até 1888 (Abolição da escravatura) 
 
A primeira fase inicia-se com a independência (1822) e vai até a abolição da escravatura 
(1888). Antes deste período não existia legislação trabalhista de forma sistematizada 
(1500 a 1822). 
 
O trabalho escravo frustrava o desenvolvimento de uma legislação trabalhista 
específica. Todavia, foi promulgada, dentro desta fase, a primeira lei que regulou o 
contrato escrito sobre prestação de serviço, dirigido os brasileiros e estrangeiros. Em 
1837, foi estabelecida norma sobre o contrato de prestação de serviço entre colonos 
dispondo sobre justas causas de ambas as partes. Em 1850, o Código Comercial 
estabeleceu preceitos alusivos ao aviso prévio e às faltas graves permissivas de 
rompimento do contrato. 
 
2ª Fase: 1888 (Abolição da escravatura) até 1930 (Revolução de 1930) 
 
A segunda fase vai da abolição da escravatura até a Revolução de 1930. A abolição da 
escravatura encarna uma radical mudança nas condições de utilização da mão-de-obra. 
 
Além da abolição da escravatura, a Proclamação da República influenciou na produção 
legislativa deste período. Espelhou os ideais de proteção e respeito ao trabalhador, 
inspirações do absolutismo e da doutrina social cristã. 
 
Além do fator interno (abolição da escravatura), fatores externos como a 1ª Grande 
Guerra, o Tratado de Versailles, a Convenção de Genebra, a criação da OIT, a 
Constituições Mexicana e Alemã (Weimar) influenciaram no desenvolvimento do 
Direito do Trabalho brasileiro. 
 
Os diplomas de maior relevância foram: a legislação sobre a sindicalização profissional 
na agricultura (1903) e dos trabalhadores urbanos (1907); o Código Civil contendo um 
capítulo sobre locação de serviços; a lei sobre acidente de trabalho (1919); a Lei Eloi 
Chaves que disciplinou a estabilidade dos ferroviários, a qual foi estendida, 
posteriormente, aos demais trabalhadores. 
 
3ª Fase: 1930 (Revolução de 1930) até os dias atuais 
 
O terceiro período começou com a Revolução de 1930 e prossegui até os dias atuais. 
Até então, era tímida a produção legislativa em nosso país no âmbito trabalhista. A 
Revolução de 1930 abriu as portas do Brasil para os efeitos da Revolução Industrial. 
 
Como afirma José Augusto Rodrigues Pinto, pressentindo a necessidade de queimar 
etapas, Getúlio Vargas, em lugar de apenas esperar ou, mesmo estimular a formação 
espontânea de um ambiente propício ao desenvolvimento do Direito do Trabalho entre 
nós, plantou-o praticamente inteiro, sob forma de direito positivo, intensificando a 
produção da legislação ordinária e a adoção da regulamentação internacional do 
trabalho existente naquele momento. 
 
Esse período é subdividido em dois outros. De 1930 até 1946, fase esta que se 
implantou o modelo trabalhista no Brasil. De 1946 até a presente data, fase de 
aperfeiçoamento do sistema implantado. 
 
Durante a fase de implementação, foram promulgadas as Constituições de 1934 e 1946 
e outorgada a Constituições de 1937. Neste período foram criados, por exemplo: “o 
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e a Justiça do Trabalho; a Previdência 
Social, abrangendo todos os trabalhadores subordinados (à exceção, originalmente, dos 
rurais e domésticos); implantou-se toda uma legislação trabalhista, até então inexistente 
ou desprovida de sistematização, afinal representada pela Consolidação das Leis do 
Trabalho [...]”, além da constitucionalização, pelas constituições citadas, de diversos 
direitos laborais. 
 
A queima de etapas na construção do Direito do Trabalho gerou conseqüências positivas 
e negativas. Positivamente, podemos apontar para um desenvolvimento dos direitos 
laborais de forma não tão conflituosa como ocorrido na Inglaterra e na França. 
Negativamente, destacamos o salto na implementação do Direito do Trabalho, o que 
causou distorções na evolução do mesmo, tais como: Direito Coletivo do Trabalho não 
desenvolvido, marcado pelo corporativismo e por uma massa proletariada sem 
consciência coletiva. 
 
Grande parte das críticas feitas ao Direito Material do Trabalho, em especial ao Direito 
Coletivo do Trabalho, decorre da adoção das diretrizes corporativistas imantadas na 
Carta Del Lavoro italiana, diploma que serviu de base para a elaboração da CLT (1943). 
 
De 1946 até os dias atuais, o Direito do Trabalho vem se aperfeiçoando. Durante este 
período, foram promulgadas as Constituições de 1967 e 1988, ampliando cada vez mais 
seu o âmbito de proteção, apesar das tentativas de flexibilização e desregulamentação. 
 
Nesta etapa observou-se uma nítida mudança de rumo, conteúdo e tendência no Direito 
do Trabalho19, a qual será trabalhada no próximo tópico. 
 
 
A CF/88 (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988), além de elevar 
inúmeros direitos trabalhistasao nível constitucional, fortaleceu o princípio da liberdade 
de organização e de administração sindical, como também ampliou a legitimidade dos 
entes coletivos. 
 
Tudo isso indica a abertura de amplo caminho para a expansão do Direito Coletivo 
dando às categorias um teor de autodeterminação até agora um tanto sufocado pela 
tutela paternalista da legislação de Direito Individual e conferindo-lhes, paralelamente, 
responsabilidade de saber regular seus interesses, sobretudo através da convenção 
 
19 José Augusto Rodrigues Pinto, nesse mesmo sentido, assevera que: “A radical mudança de estrutura da 
Previdência Social, a alteração do sistema de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o declínio 
conseqüente da garantia do emprego, através da estabilidade definitiva, a nova regulamentação do direito 
de greve, a inclusão, mesmo tímida, do empregado doméstico na órbita da tutela trabalhista, a integração 
do empregado rural à disciplina da Consolidação das Leis do Trabalho, a instituição do Programa de 
Integração Social (PIS), a criação de um regime previdencial para os domésticos e rurais, a reformulação 
de todo o Capítulo concernente à medicina e segurança do Trabalho na CLT são provas palpáveis de que 
se abriu uma perspectiva de amplas mudanças no Direito do Trabalho, suficiente para marcar o período 
respectivo com sinais peculiares que o tornam distinto, ainda que integrado, do todo evolutivo”. (PINTO, 
José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho: noções fundamentais de direito 
do trabalho, sujeitos e institutos de direito individual. 5. ed., São Paulo: LTr, 2003, p.45). 
coletiva de trabalho, ajustando-se ao atual movimento de idéias conhecido como 
flexibilização do Direito do Trabalho.20. 
 
No plano do Direito Individual há demonstrações da tendência em ampliar o campo de 
proteção trabalhista, v.g.: ao equiparar os avulsos aos empregados, ao conferir diversos 
direitos aos trabalhadores domésticos, bem como ao ampliar a competência da Justiça 
do Trabalho para julgar os conflitos decorrentes da relação de trabalho. Quanto a esta 
última inovação normativa, a mesma não alterou o direito material aplicável aos 
trabalhadores não subordinados, apenas possibilitou que os seus dissídios sejam 
julgados por uma Justiça especializada (Justiça do Trabalho), o que para nós, é um 
indício da aplicação do Direito do Trabalho para todo trabalhador subordinado (jurídica 
ou economicamente). 
 
 
4. Tendências atuais do Direito do Trabalho: flexibilização e 
desregulamentação. 
 
 
A doutrina costuma apresentar como tendências do Direito do Trabalho os seguintes 
fenômenos: a) Flexibilização e Desregulamentação; b) Ampliação dos sujeitos 
protegidos pelo Direito do Trabalho; c) Atribuição da qualidade de direito fundamental 
social a algumas normas trabalhistas. 
 
 
O Direito do Trabalho surgiu no período da Revolução Industrial, em um contexto 
social de desigualdade e opressão. 
 
Percebendo ser impossível garantir a livre manifestação da vontade quando há 
desigualdades entre as partes contratantes (empregado x empregador), ou seja, manter o 
dogma da autonomia da vontade, princípio basilar do Direito Civil à época, tornou-se 
necessário a intervenção estatal na regulamentação do trabalho, criando normas de 
proteção ao operário. 
 
No âmbito trabalhista, sempre se buscou a proteção do mais fraco, com a intenção de 
atingir a isonomia substancial entre as partes. Até de forma inconsciente, utilizava-se 
 
20 20 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho: noções fundamentais 
de direito do trabalho, sujeitos e institutos de direito individual. 5. ed., São Paulo: LTr, 2003, p.47. 
dos princípios da função social do contrato, da boa-fé objetiva, da dignidade da pessoa 
humana como mecanismo de proteção contra a coação sofrida pelo empregado21. 
 
Onde há desigualdade 22, existe uma tendência à opressão contra a parte hipossuficiente. 
É justamente na tendência à opressão que o Estado deve atuar, evitando qualquer lesão 
a direitos. Para atingir tal objetivo, foram atribuídas às normas trabalhistas as qualidades 
de irrenunciáveis e garantidoras das condições mínimas de labor. 
 
Entretanto, o paradigma e o contexto histórico no qual o Direito Laboral foi construído 
já não são os mesmos. As relações individuais de trabalho vêm sofrendo alterações nos 
últimos anos, em face da conjugação de fatores como: a crise econômica no início de 
1970, desencadeada pela alta o petróleo; inovação tecnológica; as modificações radicais 
na organização da produção; a necessária competitividade com paises orientais e a 
necessidade de combater o desemprego, entre outros. 23 
 
Com a falência do Estado do Bem-Estar Social e o crescimento da política neoliberal, a 
discussão sobre a flexibilização trabalhista ganhou força. Muitos sustentam que o 
predomínio de normas imperativas trabalhistas é o fato gerador da crise das empresas, 
retirando-lhes a possibilidade de adaptarem-se a um mercado turbulento e competitivo. 
 
Todavia, sabemos que o grande problema das empresas nacionais é a alta carga 
tributária e não os encargos trabalhistas. Ademais, nos países em que se adotou a 
flexibilização ou a desregulamentação trabalhista, os problemas supramencionados não 
foram solucionados, demonstrando que o calcanhar de Aquiles não é a legislação 
trabalhista. 
 
 
21 É valido consignar a convergência das rotas dos “ramos”: Direito Civil e Direito do Trabalho. A 
autonomia privada da vontade, tão exaltada pelo Direito Civil, hoje vêm sendo desejada por doutrinadores 
juslaboralistas ao defender a flexibilização. Da mesma forma, os princípios da função social do contrato 
de trabalho, da boa-fé e da dignidade da pessoa humana do trabalhador, adotados desde o primórdio do 
Direito do Trabalho, vêm sendo conclamados pelos civilistas modernos. 
22 De acordo com Teresa Negreiros, com base na sua teoria do “paradigma da essencialidade”, os 
contratos que versem sobre a aquisição ou utilização de bens que, considerando a sua destinação, são 
tidos como essenciais estão sujeitos a um regime tutelar, justificado pela necessidade de proteção da parte 
mais vulnerável. É possível concluirmos que a referida teoria possui ampla aplicação no âmbito laboral, 
pois a necessidade de colocação da energia do trabalhador em função de outrem de forma subordinada 
para a sobrevivência sua e de sua família, demonstra a essencialidade do objeto do contrato de trabalho, 
impondo, consequentemente, um maior dirigismo estatal nas relações laborais. (SARMENTO, Daniel. 
Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Lúmen Iures, 2004, p. 218.). 
23 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 79-80. 
A flexibilização reclamada pelos empregadores, buscando diminuir os custos sociais, 
nada mais é do que um reflexo da globalização, onde se pretende amoldar, por 
negociação coletiva, as normas trabalhistas, sem ferir as garantias mínimas do 
empregado. No entanto, para que isso não ocorra, é imprescindível termos sindicatos 
fortes, o que não possuímos. 
 
Nossos sindicatos não têm a força necessária para lutar com os entes patronais, 
deficiência esta legada do nosso Direito do Trabalho outorgado. 
 
Em nossa CF/1988, a flexibilização é prevista em situações específicas (art. 7º, incs. VI, 
XIII e XIV). Em tais hipóteses é necessária a devida motivação de que a adoção pela 
flexibilização justifica-se em proteção do próprio trabalho como valor social24. 
 
A desregulamentação trabalhista, também denominada de flexibilização radicalou 
heterônoma, consiste na abolição da legislação protetora do trabalho, para que toda a 
regulamentação seja estabelecida pelos próprios atores sociais. Com isso estaria 
resgatada a autonomia da vontade das partes. Segundo esta corrente, a humanidade já 
evoluiu o bastante para dispensar a intervenção estatal nas relações de trabalho25. 
 
Enquanto a flexibilização busca abrandar a rigidez dos fundamentos do Direito do 
Trabalho, sem despojá-lo inteiramente do seu núcleo tutelar, realizando a redução e/ou 
adaptação das condições e direitos laborais, a desregulamentação atua no âmbito 
externo ao contrato, perseguindo uma radical auto-regulação pelos grupos e indivíduos 
envolvidos, uma vez que afasta toda a regulamentação estatal protetiva do trabalhador. 
 
Devemos ressaltar que, diante o exposto, o Direito do Trabalho e o Direito Civil cada 
dia se aproximam. O Direito do Trabalho, que era funcionalizado e protetor, vem 
exaltando a autonomia coletiva das partes. Já o Direito Civil, que era baseado na 
autonomia das partes, vem buscando implementar a função social nos seus institutos. 
 
 
24 Nesse mesmo sentido a ementa do seguinte acórdão: TRT/SP 02990131366 RO - Ac. 8ª T - 
20000223713 - DOE 30.05.2000 - Rel. Juíza Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva. 
25 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do Trabalho e processo trabalhista. São 
Paulo: LTr, 2004, p. 38. 
Apesar de parecer paradoxal, podemos apontar como tendência o aumento dos sujeitos 
protegidos pela legislação juslaboral. A equiparação dos avulsos aos empregados, a 
atribuição de diversos direitos aos trabalhadores domésticos, bem como a ampliação da 
competência da Justiça do Trabalho para julgar os conflitos decorrentes da relação de 
trabalho são indícios desta tendência. Quanto a esta última inovação normativa, a 
mesma não alterou o direito material aplicável aos trabalhadores não subordinados, 
apenas possibilitou que os seus dissídios sejam julgados por uma Justiça especializada 
(Justiça do Trabalho), o que para nós, é um indicativo da futura aplicação do Direito do 
Trabalho para todo trabalhador subordinado (jurídica ou economicamente). 
 
Podemos ainda apresentar como tendência a adoção das teorias da flexissegurança, da 
parassubordinação e da subordinação objetiva ou estrutural. As duas últimas serão, 
posteriormente, estudadas em capítulo específico. 
 
A flexissegurança (ou flexiseguridad ou flexicurity), idéia oriunda da Dinamarca, 
pretende conciliar dois valores sensivelmente antagônicos, quais sejam: a flexibilidade 
do mercado de trabalho e a segurança dos trabalhadores contra o desemprego26. 
 
Apresenta-se como uma espécie de terceira via entre o modelo americano de total 
desregulamentação e a segurança do emprego surgida no modelo de 
constitucionalização dos direitos sociais. Basicamente deseja, de um lado, flexibilizar 
ainda mais a mobilidade do emprego, facilitando as formas flexíveis de contratação e a 
dispensa sem ônus e, de outro, compensar a classe trabalhadora (trade-off), através de 
um robusto seguro-desemprego aliado a uma rigorosa política de recolocação de 
trabalho (outplacement). 
 
Para José Affonso Dallegrave Neto, apesar da idéia de flexissegurança ter obtido êxito 
na Dinamarca, a mesma não emplacaria no Brasil em face das condições 
socioeconômicas serem completamente diversas da Dinamarca 
 
Por fim, ressaltamos mais uma tendência, a de atribuir a algumas normas trabalhistas a 
qualidade de direito fundamental. 
 
26 O Livro Verde sobre Relações Laborais da União Européia (2006) e a Diretiva n.º 21 da União 
Européia propugnam pela adoção da flexibilidade combinada com segurança. 
 
 
O Direito do Trabalho foi constitucionalizado, em especial, com a Constituição Federal 
de 1988. Com a sua constitucionalização, grande parte dos direitos laborais adquiriu a 
qualidade de direito fundamental, com as suas respectivas eficácias (imediata, 
vinculante, horizontal e vertical). 
 
Impõe-se aos juristas uma interpretação da legislação laboral conforme os direitos 
constitucionais trabalhistas, ou seja, uma releitura do ordenamento jurídico laboral 
(filtragem constitucional27 e interpretação conforme a Constituição) com novas lentes, 
oxigenando as antigas normas, que a luz dos valores da dignidade humana, da igualdade 
substancial e da justiça social, passam a ter outros significados e alcances. 
 
 
27 SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem Constitucional. Construindo uma nova dogmática jurídica. 
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1999, p. 147-148.

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