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AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) REVISÃO - Epitélio escamoso: ectocérvice. - Epitélio colunar: endocérvice. O pH vaginal modifica esse epitélio, fazendo que haja proliferação do epitélio sub colunar (metaplasia escamosa), com substituição do epitélio colunar evertido. - Junção escamocolunar (JEC): ponto de encontro entre os epitélios escamoso e colunar do colo uterino. É um limite dinâmico que se modifica conforme a estimulação hormonal. - Zona de transformação: região entre a JEC nova e JEC antiga, é o local mais comum para a displasia cervical. AFECÇÕES DO COLO UTERINO 1. HPV (Papiloma Vírus Humano) ● Epidemiologia - Os adolescentes e adultos sexualmente ativos apresentam maior risco. - Em 90% dos casos, o sistema imunológico consegue eliminar ou controlar o vírus (clearance viral). - O vírus pode permanecer em estado latente (podendo ser reativado com queda da imunidade) ou ainda podendo haver reinfecção (novo contato com HPV). - O HPV está envolvido no câncer de colo uterino em 99,7% dos casos. ● Etiologia - É um vírus DNA da família Papilomaviridae. - Há cerca de 200 subtipos, e destes, 40 infectam o sistema anogenital (vulva, vagina, colo uterino, uretra, pênis, escroto e ânus) nos humanos. ● Classificação - Baixo risco oncogênico (Tipo 6 e 11): principais causadores de verrugas genitais. Outros tipos: 40, 42, 43 e 44. - Alto risco oncogênico (Tipo 16 e 18): responsáveis pelos casos de câncer de colo uterino. Outros tipos: 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 66. ● Transmissão - Ocorre pelo coito, contato pele a pele dos genitais dos parceiros, contato oral-genital, contato manual-genital. - O uso regular de preservativo consegue aproximadamente 60% de proteção. - Pode ocorrer também através do parto (devido a lesões genitais durante a passagem), caso a mãe esteja infectada. - Papilomatose respiratória recorrente: doença rara com formação de tumores benignos, semelhantes a verrugas, nas vias aéreas, principalmente na laringe. Os sintomas incluem rouquidão, tosse crônica e dificuldade para respirar, sendo mais grave em crianças e não tendo cura definitiva - A transmissão via objetos é rara. ● Fatores de riscos - Quantidades de parceiros sexuais; - Relação sexual desprotegida; - Início da atividade sexual precoce; - Imunossupressão (inclui HIV); - Presença de IST’s; - Desnutrição; - Cânceres; - Anticoncepcional oral de alta dosagem; - Tabagismo. ● Quadro clínico A infecção pelo HPV é descrita em três formas de apresentação: 1. Latente: não há manifestações clínicas, citológicas ou morfológicas. O vírus é identificado por meio de exames de detecção do DNA viral (biologia molecular) 2. Lesões clínicas: lesões visíveis a olho nu - Verrugas cutâneas: envolve os tipos HPV-2 e HPV-4. - Papiloma oral: é uma lesão benigna na boca, geralmente assintomática, que se manifesta como uma protuberância com aparência de "couve-flor" na língua, lábios ou palato, e é transmitida por contato direto, incluindo sexo oral. - Verrugas anogenitais (condiloma aculminado): podem ser únicas ou AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) múltiplas, de tamanhos variáveis (pápulas, placa, filiforme, verrucosas e granulares. Geralmente assintomáticos, mas podem ser pruriginosas, dolorosas ou friáveis. 3. Lesões subclínicas: não é visível a olho nu. Ocorre por microlesões causadas pelo HPV identificadas através da alteração citológicas (exame de Papanicolau, colposcopia e peniscopia ou aplicação de lugol e ácido acético). ● Diagnóstico O diagnóstico das verrugas anogenitais é clínico. - Exame físico: a lesão pode se manifestar como uma úlcera superficial na ecto ou endocérvice. - Toque vaginal: avalia o volume do colo, tamanho do útero, fundo de saco e paredes vaginais. - Toque retal: avalia o esfíncter anal, paramétrios e tumores na mucosa. - Tumores internos resultam em colo uterino aumentado, liso e endurecido (colo em barril). 1. Técnica de biologia molecular: - Genotipagem do HPV por PCR - Teste molecular DNA-HPV (padrão ouro para detecção e tipo de HPV). - Coleta de células do colo uterino (ecto e endocérvice) com escovinha/espátula, igual ao Papanicolau. - Passou a ser em 2025 o método principal de rastreio de câncer de colo de útero, substituindo a citopatologia (Papanicolau). - Captura híbrida de 2ª geração. 2. Citopatologia (Papanicolau): - Em 2025 passou a servir de como um exame complementar em caso de HPV oncogênico detectado (tipos ≠ 16/18) = (citologia reflexa), após teste molecular DNA-HPV. - Estratifica o risco e decide se a paciente precisa de colposcopia imediata ou se pode apenas repetir exame molecular DNA-HPV no futuro. - Examina apenas as células isoladas (sua morfologia). - Após coleta das células da ectocérvice e endocérvice, são analisadas no microscópio, permitindo a classificação (Sistema Bethesda): - Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade (NILM). - ASC-US → células escamosas atípicas de significado indeterminado. - ASC-H → células escamosas atípicas, não sendo possível excluir lesão de alto grau. - AGC → células glandulares atípicas. - Lesão de baixo grau (LSIL): inclui NIC I (Neoplasia Intraepitelial cervical grau 1). Corresponde a mudanças displásicas leves, associadas a infecção inicial pelo HPV, geralmente transitórias. Não é considerada lesão precursora do câncer de colo de útero. - Lesão de alto grau (HSIL): inclui NIC II e NIC III. Corresponde a alterações displásicas moderadas/severas, são lesões pré-neoplásicas. - AIS → adenocarcinoma in situ. - Carcinoma invasor. Cuidados antes da coleta - Abstinência sexual de 2 a 3 dias. - Não utilizar duchas vaginais nos 2 dias que antecedem o exame. - Não utilizar cremes vaginais por no mínimo 3 dias antecedendo o exame. AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) OBS: - A coleta recomendada pelo MS é dupla, ou seja, da endocérvice e ectocérvice. - Não é recomendada a coleta no período menstrual, sendo o período periovulatório a melhor época para coleta. 3. Colposcopia: - Indica ao examinador o local mais adequado para a realização da biópsia, na presença de citologia com alterações pré-malignas e malignas, avaliando a extensão e gravidade das lesões. - É utilizado para avaliar o colo uterino e a zona de transformação de forma magnificada (ampliação de 6 a 40 vezes). Teste do ácido acético (3-5%): áreas com maior densidade nuclear (lesões intraepiteliais) tornam-se acetobrancas. Teste de Schiller: Utiliza solução de Lugol (iodo + iodeto de potássio). Áreas com pouco ou nenhum glicogênio (como metaplasia imatura, inflamação, atrofia ou neoplasia) não coram, permanecendo amarelas/esbranquiçadas. - Iodo positivo -> teste de Schiller negativo (cor marrom escuro). - Iodo negativo -> teste de Schiller positivo (cor amarelo mostarda). Achados e conduta (colposcopia): 4. Histopatológico: - Padrão ouro para diagnóstico das lesões causadas pelo HPV. - O exame histopatológico é feito a partir de biópsia de lesão suspeita (colo do útero, vulva, vagina, ânus ou orofaringe). - Confirma se há lesão intraepitelial e qual seu grau (NIC I, II, e III). - Avalia não só as células, mas também a arquitetura do tecido (camadas, invasão, profundidade). 5. Imunoistoquímica: - Exame complementar útil em casos duvidosos ou quando se deseja maior precisão prognóstica. - Utiliza principalmente o marcador p16INK4a, superexpresso quando o HPV de alto risco integra seu DNA na célula hospedeira. Correlaciona ao NIC II e III.● Tratamento verrugas - Os tratamentos disponíveis são para as condições causadas pelo HPV, e não contra o vírus. - Atua sobre as lesões verrucosas com o objetivo de melhorar os sintomas, erradicação das lesões e interromper a transmissão. Tratamento domiciliar - Realizado pelo próprio paciente. 1. Imiquimode 50 mg/g creme: - É um imunomodulador tópico que estimula resposta imune inflamatória, AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) promovendo destruição das células infectadas pelo HPV. - O tratamento deve ser mantido até o desaparecimento da verruga ou por um período máximo de 4 meses. - Para verrugas externas genitais/anais, usar em dias alternados. 2. Podofilotoxina: - Possui propriedades antimitóticas. - Ciclo de tratamento: aplicação por 3 dias consecutivos (pela manhã e à noite), seguido por 4 dias sem aplicação. - Outro ciclo de tratamento é indicado se verruga remanescente. - Recomenda-se 4 ciclos de tratamento. Tratamento ambulatorial 1. Ácido tricloroacético (80-90% em solução): - Agente cáustico que promove a desnaturação de proteínas e coagulação química do tecido, levando à necrose e destruição da lesão. - Deve-se evitar contato com a mucosa normal, e esperar que a solução seque. - Pode ser usado em gestantes. - Aplicar semanalmente até a destruição completa da lesão. 2. Podofilina 10-25% solução: - Atua inibindo a mitose. - Deve-se evitar contato com a mucosa normal, e esperar que a solução seque. - Não pode ser usado em gestantes, lactentes e áreas extensas. - Aplicar semanalmente até a destruição completa da lesão. 3. Eletrocauterização. 4. Exérese cirúrgica. 5. Crioterapia: - Uso de nitrogênio líquido (-196 °C) ou óxido nitroso. - Destrói as verrugas por congelamento tecidual, sendo segura, eficaz e indicada inclusive na gravidez. ● Prevenção - Pessoas vivendo com HIV, transplantados de órgãos/sólidos ou medula e pacientes oncológicos (até 45 anos). CÂNCER DE COLO UTERINO ● Epidemiologia - É o 3° câncer mais comum entre as mulheres. - Para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 17.010 casos novos, o que representa uma taxa bruta de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres. - É um câncer evitável, visto que o estágio pré-invasor é longo. ● Oncogenese - Infecção pelo HPV → persistência viral → integração do DNA viral ao genoma da célula hospedeira → expressão das oncoproteínas virais (E6 e E7) → inativação das proteínas supressoras tumorais (p53 e pRb) → perda do controle do ciclo celular → proliferação descontrolada e acúmulo de mutações. - Pode haver disseminação: - Direta: é a mais comum. Pode envolver o corpo uterino, vagina, paramétrios, cavidade peritoneal, bexiga e reto. - Linfática: o risco de metástase de linfonodo pélvico aumenta com a profundidade de invasão. - Hematogênica: os locais mais comuns são os pulmões, fígado e ossos. ● Histopatologia - A maioria dos cânceres de colo uterino são do tipo epidermóide/espinocelular/carcinoma de células escamosas (HPV 16 é o tipo mais encontrado), representando 70-75% dos casos. - Origina-se das células da JEC, apresentando na região de ectocérvice. - Os adenocarcinomas, incluindo o carcinoma adenoescamoso, representam 25% dos casos. Nestes, o tipo HPV 18 é mais comum. - Origina nas células colunares da endocérvice. Tem difícil diagnóstico devido sus localização interna. AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) ● Fatores de risco - O HPV é responsável por 99,7% dos casos de câncer de colo de útero. ● Quadro clínico - Em fases iniciais, o câncer invasor, bem como as lesões precursoras, são assintomáticos. A lesão é descoberta pelo rastreio ou colposcopia. - As manifestações mais comuns em mulheres sintomáticas, são: - Sangramento irregular; - Corrimento vaginal mucoide ou com odor (achado inespecífico); - Sinusorragia (sangramento pós-coito). - O câncer avançado pode apresentar-se com: - Dor pélvica, com irradiação para extremidades; - Sintomas urinários e intestinais devido à invasão ou compressão tumoral. ● Estadiamento O estadiamento no pré-tratamento define a terapia e o prognóstico. - O estadiamento mais recente: Federação Internacional de Ginecologia e Obstétrica (FIGO) de 2018. - O diagnóstico do estádio IA (IA1 ou IA2) é feito por meio do exame anatomopatológico de procedimento excisional e este deve ter margens livres. - Também pode ser feito em amostra de traquelectomia (colo do útero) ou histerectomia (útero inteiro). - É importante que no exame anatomopatológico conste se há envolvimento do espaço linfovascular (IELV). Esse dado não altera o estadiamento, mas modifica o tratamento. IMAGEM - Identifica os fatores prognósticos adicionais, para melhor modalidade de tratamento. 1. Ressonância Magnética (RM): - Método de escolha para tumores > 10 mm. - Avalia localização, tamanho, profundidade e extensão (vaginal, parametrial, vesical, retal). - Alto valor preditivo negativo para invasão vesical/retal → muitas vezes dispensa cistoscopia e endoscopia. 2. US pode substituir a RM se houver contraindicação. 3. PET-CT: - Mais preciso para detecção de metástases linfonodais > 10 mm. - Acometimento linfonodal classifica paciente como estádio IIIC, com pior prognóstico. 4. Exames complementares: - Carcinoma invasivo → radiografia de tórax + avaliação de hidronefrose (US, TC, RM ou pielografia). - Cistoscopia e sigmoidoscopia → apenas em pacientes sintomáticas ou com crescimento endocervical em “barril”/invasão da parede vaginal anterior. AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) ● Rastreamento Diretriz, 2025: DIRETRIZ ANTIGA 1. Citopatologia População alvo: - Mulheres ativas com idade de 25-64 anos. - O primeiro e o segundo exame são feitos anualmente, e se negativo, o rastreamento é feito a cada 3 anos. - Se mulher com idade superior a 64 anos que nunca realizou citologia, são feitos dois testes em um intervalo de 1-3 anos. Se os dois testes forem negativos, está excluída do rastreio. Situações especiais: - Gestante: o exame não tem contraindicações e deve seguir normalmente. - Mulheres na pós-menopausa: devem realizar o teste normalmente. Em caso de atrofia secundária ao hipoestrogenismo, proceder a estrogenização antes da coleta. - Mulheres submetidas à histerectomia total por lesões benignas, sem história prévia de diagnóstico ou tratamento de lesões cervicais de alto grau, podem ser excluídas do rastreamento, desde que apresentem exames anteriores normais. - Mulheres sem história de atividade sexual não devem ser rastreadas. - Mulheres imunossuprimidas: teste semestral no primeiro ano, seguido de testes anuais. - HIV: rastreio a cada 6 meses. Recomendações: ● Diagnóstico O rastreamento detecta risco, mas o diagnóstico definitivo depende de: DIRETRIZ ANTIGA - Rastreio: citologia. - Diagnóstico: colposcopia + biópsia (anatomopatológico). ● Tratamento 1. Tratamento destrutivo: Destruição do tecido lesionado. Não é possível realizar biopsia e há dificuldade em destruir toda lesão em profundidade. - Eletrocoagulação (anestesia local). - Criocoagulação: congelamento do tecido por meio de óxido nítrico. - Vaporização com laser. 2. Tratamento excisional (exérese de zona de transformação: Padrão ouro para tratamento de HSIL. - Permite a biópsia. - Mulheres NIC II e III devem realizar procedimento excisional. AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADODE GINECOLOGIA) - Conização cervical: é realizada exérese de zona de transformação (EZT) tipo 3, ou seja, boa parte do canal endocervical (2-2,5 cm) é retirada. É diagnóstica e, também, terapêutica. - Traquelectomia: visa à remoção total do colo uterino, com manutenção do útero. É realizada em mulheres com câncer de colo uterino estágio IA2 ou estágio IB1, com desejo de preservação da fertilidade. Pode ser realizada via abdominal ou vaginal. - Histerectomia: procedimento de retirada do útero. É a cirurgia ginecológica mais realizada no mundo. Só tem indicação quando lesão benigna, sendo necessário a excisão prévia para excluir foco de malignidade. - Exenteração pélvica: ressecção, em monobloco, dos órgãos genitais femininos, em conjunto com os do trato urinário inferior e/ou reto e sigmoide. Pode ser uma opção de tratamento nos raros casos do estádio IVA, sem envolvimento da parede pélvica (prognóstico ruim), ou nos casos de recidiva, após radioterapia primária. 3. Radioterapia: - Radioterapia primária: é considerado padrão inicial de tratamento para os estádios IB3, IIA2, IIB, III e IV. - Radioterapia adjuvante: utilizada como adjuvante nas pacientes submetidas a tratamento cirúrgico com os seguintes fatores de risco para recorrência: 4. Quimioterapia: - Geralmente, administrada com cisplatina de agente único ou a combinação de cisplatina mais fluorouracil. - Redução do risco de morte, com melhoria absoluta de 10% na sobrevida; - Redução do risco de recorrência; - Redução do risco de recorrência local. SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO: - Nos primeiros 2 anos: citologia a cada 3 meses. - Próximos 3 anos: citologia a cada 6 meses. - Rastreio anual após esses 5 anos. ● Prevenção - Prevenção primária: vacinação em crianças e adolescentes sem vida sexual ativa e medidas educativas para promoção de sexo seguro; - Prevenção secundária: buscar lesões precursoras de câncer de colo uterino; - Prevenção terciária: tratamento da doença já instalada. AFECÇÕES DA VULVA 1. Líquen escleroso: - Conceito: Dermatose crônica, inflamatória, não infecciosa, de provável origem autoimune. - Etiologia: Associação frequente com doenças autoimunes (vitiligo, tireoidite, lúpus, artrite reumatoide, doença celíaca). - Manifestações clínicas: Prurido vulvar crônico (principal sintoma), dor, dispareunia, disúria; lesões branco-nacaradas em “figura de oito”; pele fina e enrugada (“papel de cigarro”); pode causar sinéquias e estenose do introito. - Diagnóstico: Clínico; biópsia em casos duvidosos ou suspeita de malignidade. AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) - Tratamento: Corticoides tópicos de alta potência (clobetasol 0,05% ou mometasona 0,1%); orientações de higiene íntima e uso de emolientes. 2. Líquen plano: - Conceito: Dermatose mucocutânea crônica, inflamatória, autoimune. - Etiologia: Imunomediada, associada a doenças autoimunes (vitiligo, anemia perniciosa, tireoidite autoimune). - Manifestações clínicas: Mais comum entre 30-60 anos; na vulva, forma erosiva com erosões violáceas, atrofia, exsudato vaginal abundante, dor, dispareunia; presença de estrias brancas (estrias de Wickham). - Diagnóstico: Clínico; biópsia (quando necessária) deve ser feita na borda da lesão. - Tratamento: Corticoides tópicos potentes (clobetasol, mometasona); emolientes, anestésicos tópicos (xilocaína) e anti-inflamatórios para controle da dor. 3. Líquen simples crônico: - Conceito: Dermatose resultante de coçadura crônica → espessamento da pele e liquenificação. - Etiologia: Causada pelo ciclo prurido-coçadura; pode ser desencadeada por irritantes locais. - Manifestações clínicas: Prurido intenso, espessamento da pele vulvar, lesões localizadas ou difusas; maior risco de infecção secundária. - Diagnóstico: Clínico. - Tratamento: Quebrar o ciclo prurido-coçadura: higiene íntima adequada, anti-histamínicos sedativos, corticoides tópicos potentes. 4. Cisto da glândula de Bartholin - Conceito: Obstrução do ducto da glândula de Bartholin com acúmulo de muco. - Etiologia: Obstrução do ducto → retenção de secreção. - Manifestações clínicas: Geralmente unilateral, indolor, 1–3 cm; pode causar desconforto em cistos maiores. - Diagnóstico: Exame ginecológico de rotina. - Tratamento: - Assintomático e 3 cm → drenagem + cateter de Word ou marsupialização. 5. Abscesso da glândula de Bartholin - Conceito: Infecção do cisto de Bartholin. - Etiologia: Principal agente: E. coli; também gonococo, clamídia, anaeróbios. - Manifestações clínicas: Dor intensa, eritema, edema, dificuldade para caminhar ou ter relação sexual; febre em alguns casos. - Diagnóstico: Clínico; coleta de secreção para cultura. - Tratamento: Incisão e drenagem + cateter de Word/marsupialização; antibióticos de amplo espectro (ex.: sulfametoxazol-trimetoprima + metronidazol). 6. Neoplasia intraepitelial vulvar (NIV) - Conceito: Lesão pré-maligna da vulva com presença de células escamosas anormais. - Etiologia: - NIV usual/HSIL: associada ao HPV oncogênico (principalmente 16), tabagismo e imunossupressão. - NIV diferenciada: relacionada ao líquen escleroso, típica em idosas. - Manifestações clínicas: Prurido (mais comum), dor, verrugas, áreas esbranquiçadas ou queratóticas; pode ser multifocal. - Diagnóstico: Padrão-ouro = histopatológico (biópsia). - Tratamento: - NIV diferenciada → excisão cirúrgica com margens. - NIV usual (HSIL) → terapias medicamentosas ou excisionais individualizadas (para preservar a anatomia e função). 7. Câncer de vulva - Conceito: Neoplasia maligna da vulva (5–6% dos cânceres ginecológicos). - Etiologia: HPV oncogênico (principalmente 16), líquen escleroso, idade avançada. - Manifestações clínicas: Lesão vulvar visível, muitas vezes percebida pela paciente; pode ser assintomática, ou causar prurido, dor, sangramento. - Diagnóstico: Exame clínico + biópsia (confirmação histológica). - Tratamento: Cirúrgico (excisão local ampla ou vulvectomia parcial/total conforme extensão); pode associar linfadenectomia e radioterapia em casos avançados. AFECÇÕES DA VAGINA 1. Neoplasia intraepitelial vaginal (NIVA) AFECÇÕES DE COLO UTERINO, VULVA E VAGINA @diogeneshnl - MED T31 (FEBRASGO, TRATADO DE GINECOLOGIA) - Conceito: Alteração displásica do epitélio vaginal (lesão pré-maligna). - Etiologia: HPV oncogênico; histerectomia prévia por NIC; imunossupressão; radioterapia; exposição ao DES intraútero. - Manifestações clínicas: Geralmente assintomática; pode haver alteração de citologia, corrimento ou sinusorragia. - Diagnóstico: Citologia alterada + vaginoscopia; confirmação por biópsia (histopatologia). - Tratamento: Semelhante à NIC, dependendo do grau (NIVA 1–3): observação, tratamento local destrutivo ou excisional. 2. Câncer de vagina - Conceito: Neoplasia maligna primária rara (80% dos casos são metástases de outros tumores). - Etiologia: HPV oncogênico, ISTs, irritação crônica, radioterapia, exposição ao DES. - Manifestações clínicas: Sangramento vaginal (mais comum); corrimento fétido, sinusorragia, massa vegetante no introito vaginal; pode ser assintomático. - Diagnóstico: Exame clínico + colposcopia/vaginoscopia; confirmação por biópsia. - Tratamento: Cirurgia (ressecção local ou exenteração pélvica em casos avançados), radioterapia e/ou quimioterapia conforme estadiamento.