Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA´ FACULDADE DE MATEMA´TICA To´picos do Ca´lculo Variacional Cristina Lu´cia Dias Vaz cvaz@ufpa.br UFPA Marc¸o - 2012 Suma´rio Introduc¸a˜o 5 1 Ca´lculo diferencial em espac¸os normados 7 1.1 Espac¸os Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Operadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.2 Espac¸o de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Conjuntos Ortonormais . . . . . . . . . . . . . . 16 Projec¸a˜o ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Base ortonormal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Teorema de Ritz . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Convergeˆncia fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Completamento de espac¸os com produto interno 34 1.3 Espac¸os de func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 O espac¸o C∞0 (Ω) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 O espac¸o Lp(a, b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Func¸o˜es localmente integra´veis . . . . . . . . . . 39 Quase sempre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2 CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 3 Os espac¸os H1,2(a, b) . . . . . . . . . . . . . . . . 41 O espac¸o H1,20 (a, b) . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Lema fundamental generalizado . . . . . . . . . 43 Caracterizac¸a˜o da derivada generalizada . . . . 45 1.4 Absolutamente cont´ınuas . . . . . . . . . . . . . 55 Os espac¸os Hm,p(Ω) e Hm,p0 (Ω) . . . . . . . . . . . 57 Teorema de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Operador Trac¸o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Teorema de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Desigualdade de Poincare´ . . . . . . . . . . . . . 64 1.5 Ca´lculo diferencial no Rn . . . . . . . . . . . . . 65 1.6 Derivada de um funcional . . . . . . . . . . . . . 70 n-e´sima variac¸a˜o de um funcional . . . . . . . . 73 Derivadas de Gaˆteaux e de Fre´chet . . . . . . . 76 Espac¸os das variac¸o˜es admiss´ıveis . . . . . . . . 77 Extremo Local . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 Condic¸o˜es necessa´rias para extremo local . . . 79 Condic¸a˜o suficiente para extremo local . . . . . 81 2 Problemas Variacionais Cla´ssicos 86 2.1 Problemas Variacionais em R . . . . . . . . . . . 86 Equac¸a˜o de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . 86 CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 4 2.2 O problema da Braquisto´crona . . . . . . . . . . 93 2.3 Problemas Variacionais no Rn . . . . . . . . . . 95 Duas varia´veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 Equac¸a˜o de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . 96 Va´rias varia´veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 2.4 O princ´ıpio de Hamilton . . . . . . . . . . . . . 101 3 Me´todos Diretos 103 3.1 Sequ¨eˆncia minimizante . . . . . . . . . . . . . . 103 3.2 O princ´ıpio de Dirichlet . . . . . . . . . . . . . . 105 Existeˆncia do problema de Dirichlet . . . . . . 109 4 Ca´lculo variacional generalizado unidimensional 112 Refereˆncias Bibliogra´ficas 113 Introduc¸a˜o Resolver um problema de otimizac¸a˜o significa, como o pro´prio nome diz, buscar o melhor resultado, de acordo com algum crite´rio pre´-estabelecido. Na Matema´tica os problemas de otimizac¸a˜o sa˜o representados por problemas de ma´ximos e mı´nimos sendo frequentes os termos: lucro ma´ximo, custo mı´nimo, tempo mı´nimo, tamanho o´timo e caminho mais curto. Uma a´rea da Matema´tica que trata de problemas de otimizac¸a˜o e´ o Ca´lculo Variacional, que generaliza a teoria de ma´ximos e mı´nimos do Ca´lculo Diferencial para func¸o˜es cujo domı´nio e´ um conjunto de curvas “admiss´ıveis”. Pela lenda, a Rainha Dido de Cartago, foi aparentemente a primeira pessoa a tratar brilhantemente um desses problemas. Foi prometido a Dido a extensa˜o de terra que ela pudesse cercar com o couro de um boi. Ela preparou uma extensa correia com o couro do boi e cercou um terreno semi-circular, beirando o Mar Mediterraˆneo. Essa e´ a lenda´ria histo´ria da fundac¸a˜o de Cartago contada por Virgilio no livro Eneida. Embora o Ca´lculo Variacional tenha seu in´ıcio na Gre´cia antiga, foi a partir do se´culo XVII, na Europa Ocidental, que um progresso substancial foi feito. Em 1696 Isaac Newton (1642-1727) usou princ´ıpios variacionais para determinar a forma de um corpo que se move no ar com menor resisteˆncia poss´ıvel. Os irma˜os Jacob Bernoulli (1654-1705) e Jean Bernoulli (1667-1748) sa˜o frequente- mente considerados os inventores do Ca´lculo Variacional. Jean por ter proposto, em 1696, o problema da braquisto´crona (encontrar a curva que minimiza o tempo de queda de um corpo, entre dois pontos num plano vertical, liberado de um ponto ini- cial e sujeito apenas a` forc¸a da gravidade) e Jacob por propor e discutir o problema 5 CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 6 das figuras isoperime´tricas (caminhos planos fechados de per´ımetro fixo que delimitam uma a´rea ma´xima). O problema de Dido e´ um exemplo de problema isoperime´trico. Pore´m, os matema´ticos Euler (1701-1783) e Lagrange (1736-1813) foram os cientistas que desenvolveram de forma nota´vel o Ca´lculo Variacional. As primeiras aplicac¸o˜es do Ca´lculo Variacional em Economia surgiram no final de 1920 e in´ıcio de 1930 com Roos, Evans, Hotelling e Ramsey. A Teoria do Controle O´timo, desenvolvida na Ru´ssia por Pontryagin e seus colaboradores no final de 1950, e´ uma generalizac¸a˜o do Ca´lculo Variacional com muitas aplicac¸o˜es. Estas notas tem como objetivo tratar os principais to´picos de Ca´lculo Variacional. Cristina Vaz UFPA-2012 Cap´ıtulo 1 Ca´lculo diferencial em espac¸os normados 1.1 Espac¸os Normados No Ca´lculo variacional trabalhamos com funcionais definidos em espac¸os mais gerais do que o espac¸o Rn, em geral, espac¸os de func¸o˜es. Estes espac¸os tem a estrutura de espac¸os vetoriais normados. Nesta sec¸a˜o vamos tratar as principais propriedades dos espac¸os normados. Definic¸a˜o 1.1 Dizemos que espac¸o vetorial real X e´ um espac¸o “normado” se existe uma func¸a˜o || · || : X → R, chamada “norma”, que satisfaz as seguintes propriedades: ∀u, v ∈ X e ∀α ∈ R (i) ||u|| = 0⇔ u = 0 (ii) ||αu|| = |α| ||u|| (iii) ||u+ v|| ≤ ||u||+ ||v||. Podemos definir no espac¸o normado X uma me´trica do seguinte modo: d(u, v) = ||u−v||. Portanto, um espac¸o normado e´ um espac¸o me´trico com a me´trica proveniente da norma. 7 CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 8 Exemplo 1.1 O espac¸o Cm([a, b]) das func¸o˜es com derivada cont´ınuas ate´ a m, e´ um espac¸o normado com a norma ||u|| = max a≤x≤b { |u(x)|, |u′(x)|, . . . , |u(m)(x)| } (1.1) Exemplo 1.2 O espac¸o C([a, b]) das func¸o˜es cont´ınuas e´ um espac¸o normado com a norma ||u||p = (∫ b a |u(x)|p dx )1/p p ≥ 1. (1.2) Prova: As duas primeiras propriedades (i) e (ii) sa˜o triviais e (iii) (desigualdade triangular) e´ trivial para p = 1. Para p > 1 precisamos dos seguintes resultados: Lema 1.1 (Desigualdade de Young) Se a, b ≥ 0, p, q > 1 e 1 p + 1 q = 1. Enta˜o a b ≤ a p p + bq q Lema 1.2 (Desiguldade de Ho¨lder) Se u ∈ (C([a, b]), || · ||p) e v ∈ (C([a, b]), || · ||q) com p, q > 1 e p−1 + q−1 = 1. Enta˜o, u v ∈ (C([a, b]), || · ||1) e ||u v||1 ≤ ||u||p||v||q Prova do Lema 1.2: Por simplicidade suponha ||u||p 6= 0 e ||v||q 6= 0. Enta˜o pelo Lema 1.1 temos que |u(x)| |v(x)| ‖u‖p ‖v‖q ≤ 1 p |u(x)|p ‖u‖pp + 1 q |v(x)|q ‖v‖qq (1.3) O resultado e´ obtido integrando-se (1.3) em [a, b]. Lema 1.3 (Desiguldade de Minkowski) Se u, v ∈ (C([a, b]), || · ||p) enta˜o u+ v ∈ (C([a, b]), || · ||p) e ||u+ v||p ≤ ||u||p + ||g||p. Prova do Lema 1.3: Note que |u(x) + v(x)|p ≤ ( |u(x)|+ |v(x)| )p ≤ 2p ( |u(x)|p + |v(x)|p ) , ∀x ∈ [a, b] CVazTo´picos do Ca´lculo Variacional 9 Consequ¨entemente |u+ v| ∈ (C([a, b]), || · ||p). Ale´m disso, |u(x) + v(x)|p ≤ |u(x) + v(x)|p−1 |u(x) + v(x)| ≤ |u(x) + v(x)|p−1(|u(x)|+ |v(x)|) ⇒ |u(x) + v(x)|p ≤ |u(x) + v(x)|p−1|u(x)|+ |u(x) + v(x)|p−1|v(x)|. Logo,∫ b a |u(x) + v(x)|p dx ≤ ∫ b a |u(x) + v(x)|p−1|u(x)| dx+ ∫ b a |u(x) + v(x)|p−1|v(x)| dx (1.4) Note que para p−1 + q−1 = 1 temos que (p− 1) q = p o que implica |u+ v|p−1 ∈ (C([a, b]), || · ||q). Usando a desigualdade de Ho¨lder obtemos∫ b a |u(x)| |u(x) + v(x)|p−1 dx ≤ (∫ b a |u(x)|p dx )1/p(∫ b a |u(x) + v(x)|q(p−1) dx )1/q ∫ b a |v(x)| |u(x) + v(x)|p−1 dx ≤ (∫ b a |v(x)|p dx )1/p(∫ b a |u(x) + v(x)|q(p−1) dx )1/q (1.5) Combinando (1.4) e (1.5) tem-se∫ b a |u(x) + v(x)|p dx ≤ (∫ b a |u(x) + v(x)|p dx )1/q( ‖u‖p + ‖v‖p ) e prova do Lema esta´ completa. Observac¸a˜o 1.1 Os resultados dos Lemas (1.2) e (1.3) continuam va´lidos para (C(Ω), || · ||p) com Ω um aberto limitado do Rn com ∂Ω suficientemente regular. Definic¸a˜o 1.2 (Convergeˆncia forte) Seja X um espac¸o normado. Dizemos que a sequ¨eˆncia (xn) de elementos de X converge para x ∈ X se lim n→∞ ||xn − x|| = 0⇔ ∀� > 0,∃n0 ; ||xn − x|| < �, ∀n ≥ n0. (1.6) Usaremos a notac¸a˜o xn → x para indicar a convergeˆncia (1.6). Note que (||xn − x||) e´ uma sequ¨eˆncia nume´rica e logo o limite (1.6) e´ um limite nu´merico, ou seja, convergeˆncia em espac¸os com produto interno (ou normados ou me´tricos) nada mais e´ do que convergeˆncia nume´rica. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 10 Definic¸a˜o 1.3 (Sequ¨eˆncia de Cauchy) Seja X um espac¸o normado. Uma sequ¨eˆncia (xn) de elementos de X e´ chamada sequ¨eˆncia de Cauchy se lim n,m→∞ ||xn − xm|| = 0⇔ ∀� > 0, ∃n0 ; n,m ≥ n0 ⇒ ||xn − xm|| < �. Note que, existem sequ¨eˆncias divergentes que sa˜o sequ¨eˆncias de Cauchy. Por exemplo, a sequ¨eˆncia xn = 1 n e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy que na˜o converge em X = (0, 1]. Definic¸a˜o 1.4 (Espac¸o de Banach) Um espac¸o X normado e´ chamado “espac¸o de Banach” se, e somente se e´ um espac¸o completo, ou seja, toda sequ¨eˆncia de Cauchy de elementos de X converge para um elemento de X. Definic¸a˜o 1.5 (Fecho) Seja X um espac¸o normado. Um elemento x0 dce X e´ chamado “ponto de acumulac¸a˜o” de um subconjunto M de X se toda vizinhanc¸a V (x0, �) = {x ∈ X ; ||x− x0|| < �} conte´m pelo menos um elemento de M distinto de x0. O conjunto dos pontos de M e os pontos de acumulac¸a˜o de M e´ chamado “fecho” de M e e´ representado por M . Definic¸a˜o 1.6 (Denso) Seja X um espac¸o normado. Um conjunto M e´ “denso” em X se ∀ � > 0 e ∀x ∈ X, existe um elemento x¯ ∈M tal que ||x¯− x|| < �. Equivalentemnte, existe uma sequ¨eˆncia (x¯n) em M tal que lim n→∞ x¯n = x⇒ ∀� > 0,∃n0 ; n ≥ n0 ⇒ ||x¯n − x| < �. Em outras palavras, M e´ “denso” em X se M = X, com M o fecho de M . Definic¸a˜o 1.7 (Separa´vel) Seja X um espac¸o normado. Dizemos que o espac¸o X e´ “separa´vel” se X conte´m um subconjunto denso e enumera´vel. Proposic¸a˜o 1.1 Sejam X um espac¸o normado, M 6= ∅ um subconjunto de X e M o seu fecho. Enta˜o, x ∈ M se, e somente, se existe uma sequ¨eˆncia (x¯n) em M tal que x¯n → x. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 11 Operadores Definic¸a˜o 1.8 Sejam X e Y espac¸os normados. Dizemos que F e´ um operador de X em Y se F e´ uma aplicac¸a˜o que a cada elemento x ∈ X associa um e so´ um elemento y ∈ Y . A representac¸a˜o usual de um operador e´ a expressa˜o F : X → Y com F (x) = y. O conjunto X e´ chamado “domı´nio” do operador F e tambe´m e´ representado por D(F ). Quando Y = R chamamos F : X → R de “funcional”. Definic¸a˜o 1.9 Sejam X e Y espac¸os normados e F : X → Y um operador. (a) Limitado: Dizemos que F e´ “limitado” se ∀x ∈ X existe uma constante C > 0 tal que ||F (x)||| ≤ C||x||. (1.7) (b) Cont´ınuo: Dizemos que F e´ “cont´ınuo” em x0 ∈ X se para x ∈ X e � > 0,∃ δ = δ(x0, �) > 0 tal que ||x− x0|| < δ ⇒ ||F (x)− F (x0)|| < �. (1.8) Se δ = δ(�) dizemos que F e´ “uniformemente cont´ınuo”. Dizemos que T e´ cont´ınuo se e´ cont´ınuo em todo elemento de X. (c) Sequencialmente cont´ınuo: Dizemos que F e´ “sequencialmente cont´ınuo” em x0 ∈ X se xn → x0 implica F (xn)→ F (x0) ou equivalentemente lim n→∞ ||xn − x0|| = 0⇒ lim n→∞ ||F (xn)− F (x0)|| = 0. (d) Lipschitz: Dizemos que operador F e´ “Lipschitz” se ∀x1, x2 ∈ X existe uma constante k > 0 tal que ||F (x1)− F (x2)|| ≤ k ||x1 − x2||. (1.9) A constante k e´ chamada “constante de Lipschitz”. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 12 Podemos provar (veja, por exemplo, [19, p.27]) que “cont´ınuo” e “sequencialmente cont´ınuo” sa˜o equivalentes Proposic¸a˜o 1.2 Sejam X, Y espac¸os normados, F : X → Y um operador e x0 ∈ X. F e´ cont´ınuo em x0 se, e somente se, xn → x0 implica F (xn)→ F (x0). Definic¸a˜o 1.10 Sejam X um espac¸o normado, M ⊂ X um conjunto convexo. Dize- mos que o funcional F : X → R e´ “convexo” em M se para x1, x2 ∈ M e t ∈ [0, 1] temos F (tx1 + (1− t)x2) ≤ tF (x1) + (1− t)F (x2). Um funcional e´ “estritamente convexo” em M se para x1, x2 ∈ M , x1 6= x2 e t ∈ (0, 1) tem-se F (tx1 + (1− t)x2) ≤ tF (x1) + (1− t)F (x2). Compacidade Definic¸a˜o 1.11 Seja X um espac¸o normado e M ⊂ X. (i) Dizemos que M e´ “sequencial relativamente compacto” se, e somente se, cada sequ¨eˆncia (xn) ∈ M tem uma subsequ¨eˆncia (xnk) convergente (na˜o necessariamente em M). (ii) Dizemos que M e´ “sequencialmente compacto” se, e somente se, cada sequ¨eˆncia (xn) ∈M tem uma subsequ¨eˆncia (xnk) convergente em M . (iii) Dizemos que M e´ “limitado” se, e somente se, existe r ∈ R+∗ tal que ||x|| ≤ r, ∀x ∈M . Observac¸a˜o 1.2 Por simplicidade vamos abreviar a terminologia e usar “relativa- mente compacto” e “compacto” em vez de “sequencialmente relativamente compacto” e “sequencialmente compacto”, respectivamente. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 13 Proposic¸a˜o 1.3 (i) Um subconjunto M de um espac¸o normado X e´ compacto se, e somente se, e´ relativamente compacto e fechado. (ii) Todo conjunto relativamente compacto e´ limitado. Exemplo 1.3 Sejam ( R, | · | ) e M ⊂ R. M e´ relativamente compacto se, e somente se, e´ limitado. Prova: Se M e´ limitado e (xn) ⊂ M enta˜o pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass cla´ssico existe uma subsequ¨eˆncia (xnk) convergente. Reciprocamente, se M e´ relati- vamente compacto enta˜o pela Proposic¸a˜o 1.3(ii) M e´ limitado. A prova do seguinte resultado de compacidade em C([a, b]) pode ser encontrada em [19]: Teorema 1.1 (Teorema de Arzela`-Ascoli) Seja C([a, b]) com a norma ||u|| = max a≤x≤b |u(x)|. Se M ⊂ C([a, b]) tal que (i) M e´ limitado; (ii) M e´ equicont´ınuo ⇔ ∀ � > 0, ∃ δ > 0 ; ∀u ∈M ||x− y|| < δ ⇒ ||u(x)− u(y)|| < �. Enta˜o, M e´ um subconjunto relativamente compacto de C([a, b]). Teorema 1.2 (Teorema de Weierstrass) Sejam X um espac¸o normado, M 6= ∅ um subconjunto de X e u : M → R. Se M e´ compacto e u(x) cont´ınua enta˜o u(x) tem ma´ximo e mı´nimo em M . Prova: Sejam ρ = inf x∈M u(x) e A = {u(x) ; x ∈ M}. Enta˜o −∞ ≤ ρ < ∞ e se A e´ limitado inferiormente temos ρ > −∞, e se A na˜o e´ limitado inferiormente temos ρ = −∞. Se definic¸a˜o de ρ existe uma sequ¨eˆncia (xn) em M tal que u(xn)→ ρ. Como M e´ compacto existe uma subsequ¨eˆncia (xk) convergente, isto e´, xk → x0. Mas, u(x) e´ cont´ınua e, logo, u(xk)→ u(x0) CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 14 e pela unicidade do limite tem-se ρ = u(x0). Consequ¨entenete, ρ > −∞ e u(x0) = inf x∈M u(x), ou seja, u tem um ponto de mı´nimo em M . Substituindo u por −u obtemos podemos o mesmo resultado para o ponto de ma´ximo. Observe que o Teorema de de Weierstrass e´ um teorema de existeˆncia para o problema de minimizac¸a˜o: encontra o mı´nimo do funcionalcont´ınuo F : M → R no subconjunto compacto M do espac¸o normado X. Infelizmente, este resultado de existeˆncia na˜o se aplica em muitos problemas do Ca´lculo Variacional devido ao seguinte fato importante: Em espac¸os de Banach de dimensa˜o infinita, bolas fechada na˜o sa˜o compactas. Para contornar esta dificuldade propriedades adicionais devem ser exigidas ao funcional, tais como: convergeˆncia fraca, funcional fracamente convergente, funcional convexo, coercividade, entre outras. 1.2 Espac¸o de Hilbert Em va´rias aplicac¸o˜es usamos espac¸os com estrutura geome´trica e propriedades mais interessantes, chamados “espac¸os de Hilbert”. No que segue vamos definir estes espac¸os e algumas de suas principais propriedades. Definic¸a˜o 1.12 Seja X um espac¸o vetorial real. Um “produto interno” sobre X e´ a func¸a˜o < , >: X → R que, para todo u, v, w ∈ X e α ∈ R, satisfaz as seguintes propriedades: (i) < u, v >= 0⇔ u = v. (ii) < u, v >=< u, v >. (iii) < αu, v >= α < u, v >. (iv) < u+ v, w >=< u,w > + < v,w >. Agora, destacaremos algumas propriedades dos espac¸os com produto interno. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 15 Proposic¸a˜o 1.4 (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) Se X e´ um espac¸o com pro- duto interno, α ∈ R e u, v ∈ X enta˜o | < u, v > | ≤ √< u, u >√< v, v >. (1.10) e a igualdade vale se, e somente se, u = αv (isto e´, quando u e v sa˜o linearmente dependentes). Proposic¸a˜o 1.5 Seja X um espac¸o com produto interno < , >. A norma sobre X e´ dada por ||u|| = √< u, u > (1.11) Prova: As propriedades ||u|| = 0 ⇔ u = 0 e ||αu|| = |α|||u|| sa˜o consequ¨eˆncias imediatas da definic¸a˜o de produto interno. Provaremos a desigualdade triangular usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz. Deste modo, ||u+ v||2 =< u+ v, u+ v >= ||u||2 + 2 < u, v > +||v||2 ≤ ||u||2 + 2| < u, v > |+ ||v||2 ≤ ||u||2 + 2||u|| ||v||+ ||v||2 ≤ (||u||+ ||v||)2 Portanto, ||u+ v|| ≤ ||u| ||v||. Observac¸a˜o 1.3 Observe que um espac¸o com produto interno e´ um espac¸o normado com uma norma proveniente do produto interno. Logo, podemos definir uma me´trica proveniente da norma dada por d(u, v) = ||u − v|| = √< u− v, u− v >. Portanto todo espac¸o com produto interno e´ um espac¸o normado e logo um espac¸ao me´trico. Exemplo 1.4 Podemos definir no espac¸o das func¸o˜es cont´ınuas C([a, b]) o seguinte produto interno < u, v >= ∫ b a u(x) v(x) dx (1.12) CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 16 com a norma associada ||u||0 = (∫ b a |u(x)|2 dx )1/2 . (1.13) Exemplo 1.5 Podemos definir no espac¸o das func¸o˜es cont´ınuas C1([a, b]) o seguinte produto interno < u, v >= ∫ b a (u(x) v(x) + u′(x) + v′(x)) dx (1.14) com a norma associada ||u||1 = (∫ b a |u(x)|2 + |u′(x)|2 dx )1/2 . (1.15) Definic¸a˜o 1.13 (Espac¸o de Hilbert) Um espac¸o X com produto interno < , > e´ chamado “espac¸o de Hilbert” se e´ um espac¸o completo com a norma || · || = √< , >. Representaremos um espac¸o de Hilbert por H. Conjuntos Ortonormais Definic¸a˜o 1.14 Seja X um espac¸o com produto interno < , >. Dizemos que os elementos x e y de X sa˜o “ortogonais” se < x, y >= 0. Um conjunto B ⊂ X e´ um “conjunto ortogonal” se quaisquer dois elementos distintos de B sa˜o ortogonais. Um conjunto B ⊂ X e´ um “conjunto ortonormal” se e´ um conjunto ortogonal tal que ||x|| = 1 para todo x ∈ B. Proposic¸a˜o 1.6 Seja X um espac¸o com produto interno < , > e z ∈ X. O funcional F : X → R defindo por F (x) =< x, z > e´ cont´ınuo. Prova: Se z = 0 (0 elemento nulo de X) enta˜o F e´ constante e logo cont´ınuo. Suponha z 6= 0 e seja � > 0. Tomando δ = �/||z|| observe que |F (x1)− F (x2)| = | < x1, z > − < x2, z > | = | < x1 − x2, z > . Pela desigualdade de Schwartz tem-se |F (x1)− F (x2)| ≤ ||x1 − x2|| ||z||. Assim, ||x1 − x2|| < δ ⇒ |F (x1)− F (x2)| < δ||z|| = �. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 17 Exemplo 1.6 Considere as func¸o˜es φ0 = 1√ 2pi , φ2n−1 = cos(nx)√ pi , φ2n = sen(nx)√ pi . para x ∈ R e n = 1, 2, . . .. Enta˜o o conjunto {φ0, φ1, . . .} e´ um conjunto ortonormal do espac¸o C([0, 2pi]) com produto interno (1.14). Soluc¸a˜o: De fato, ||φ0||20 = ∫ 2pi 0 ( 1√ 2pi )2 dx = 1, ||φ2n−1||20 = ∫ 2pi 0 cos2(nx) pi dx = nx+ sen(nx) cos(nx) 2npi ∣∣∣2pi 0 = 1, ||φ2n||20 = ∫ 2pi 0 sen2(nx) pi dx = nx+ sen(nx) cos(nx) 2npi ∣∣∣2pi 0 = 1, < φ0, φ2n−1 > = ∫ 2pi 0 cos(nx)√ 2pi dx = sen(nx) n √ 2pi ∣∣∣2pi 0 = 0, para n = m, < φ2n−1, φ2m > = ∫ 2pi 0 cos(nx)sen(nx) pi dx = −cos(2nx) 4npi ∣∣∣2pi 0 = 0, para n 6= m, < φ2n−1, φ2m > = ∫ 2pi 0 cos(nx)sen(mx) pi dx = − 1 2pi { cos((m+ n)x) m+ n − cos((m− n)x) m− n }2pi 0 = 0. Analogamente para n 6= m temos < φ2n−1, φ2m−1 >= 0 =< φ2n, φ2m > . Proposic¸a˜o 1.7 Sejam {x1, x2, . . . , xn} um conjunto ortonormal do espac¸o com pro- duto interno X e x ∈ X. Suponha que existam escalares c1, c2, . . . , cn tais que x = n∑ k=1 ckxk enta˜o ck =< x, xk > para k = 1, 2, . . . , n. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 18 Prova: De fato, usando as propriedades do produto interno temos < x, xk >= 〈 n∑ j=1 cjxj, xk 〉 = n∑ j=1 cj < xj, xk > . Mas < xj, xk >= 0 se j 6= k e < xj, xk >= 1 se j = k e logo < x, xk >= n∑ j=1 cj < xj, xk >= ck. A Proposic¸a˜o 1.7 estabelece que se um elemento x de um espac¸o com produto in- ternoX e´ uma combinac¸a˜o linear dos membros de um conjunto ortonormal {x1, x2, . . . , xn} de X enta˜o esta combinac¸a˜o e´ u´nica e e´ dada por x = n∑ k=1 < x, xk > xk. Seja {x1, x2, . . . , xn, . . .} um conjunto ortonormal enumera´vel do espac¸o com pro- duto interno X e x ∈ X. Motivados pela Proposic¸a˜o 1.7, podemos forma a se´rie infinita ∞∑ n=1 < x, xn > xn e perguntar quando esta se´rie converge para x, ou seja, quando x = ∞∑ n=1 < x, xn > xn. Esta e´ a pergunta central da Teoria da Se´rie de Fourier. Definic¸a˜o 1.15 Seja X = {x1, x2, . . . , xn, . . .} um conjunto ortonormal enumera´vel do espac¸o com produto interno X e x ∈ X. A se´rie infinita ∞∑ n=1 < x, xn > xn e´ chamada “se´rie de Fourier” de x (com relac¸a˜o ao conjunto X ). O coeficiente < x, xn > e´ chamado o n-e´simo “coeficiente de Fourier” de x (com relac¸a˜o ao con- junto X ). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 19 Exemplo 1.7 Considere o conjunto X ortonormal enumera´vel do espac¸o C([0, 2pi]) dado no exemplo 1.6. Enta˜o a se´rie de Fourier de uma func¸a˜o f ∈ C2([0, 2pi]), com relac¸a˜o a X , e´ dada por ∞∑ n=1 < f, φn > φn(x) = 1√ 2pi ∫ 2pi 0 f(s)√ 2pi ds+ ∞∑ n=1 ( cos(nx)√ pi ∫ 2pi 0 f(s) cos(ns)√ pi ds + sen(nx)√ pi ∫ 2pi 0 f(s) sen(ns)√ pi ds ) . Fazendo an = 1 pi ∫ 2pi 0 f(s) cos(ns) ds n = 0, 1, . . . bn = 1 pi ∫ 2pi 0 f(s)sen(ns) ds n = 1, 2, . . . a se´rie de Fourier de f torna-se a0 2 + ∞∑ n=1 (an cos(nx) + bnsen(nx)). Para respondermos a pergunta sobre a convergeˆncia da se´rie de Fourier devemos dizer claramente o significado de convergeˆncia de se´ries em espac¸os normados. Em particular, em espac¸os com produto interno cuja norma e´ dada por || · || = √< , >. Definic¸a˜o 1.16 Seja X um espac¸o com produto interno < , >. Dizemos que a se´rie de Fourier de x converge para x se ∀� > 0 existe um nu´mero n0 ∈ N tal que n ≥ n0 ⇒ ∥∥∥∥∥x− n∑ k=1 < x, xk > xk ∥∥∥∥∥ < �. (sn) = ( n∑ k=1 < x, xk > xk ) e´ chamada “sequ¨eˆncia da somas parciais” da se´rie de Fourier. Proposic¸a˜o 1.8 Seja X um espac¸o com produto interno < , > e z ∈ X. Suponha que a se´rie ∞∑ n=1 xn converge para x ∈ X. Enta˜o, < x, z >= 〈 ∞∑ n=1 xn, z 〉 = ∞∑ n=1 < xn, z> . CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 20 Prova: Consider a sequ¨eˆncia das somas parciais (sn) = ( n∑ k=1 yk ) . Enta˜o, por hipo´tese, sn → x. Como o produto interno e´ cont´ınuo e, logo, sequencialmente cont´ınuo (veja Proposic¸o˜es 1.2 e 1.6) temos que T (sn) =< sn, z >→ T (x) =< x, z > . Mas, lim n→∞ T (sn) = lim n→∞ 〈 n∑ k=1 xn, z 〉 = lim n→∞ n∑ k=1 < xn, z >= ∞∑ k=1 < xn, z >, T (x) =< x, z >= 〈 ∞∑ k=1 xn, z 〉 . Proposic¸a˜o 1.9 Seja X = {x1, x2, . . . , xn, . . .} um conjunto ortonormal do espac¸o com produto interno X e x ∈ X. Se, para cn ∈ R e n = 1, 2, . . . temos x = ∞∑ n=1 cnxn enta˜o cn =< x, xn >, n = 1, 2, . . .. Prova: Pela Proposic¸a˜o 1.8 e por X ser um conjunto ortonormal temos que < x, xn >= 〈 ∞∑ j=1 cjxj, xn 〉 = ∞∑ n=1 cj < xj, xn >= cn A Proposic¸a˜o 1.9 estabelece que se temos x = ∞∑ n=1 cnxn enta˜o o escalar cn e´ o n-e´simo coeficiente de Fourier de x. Os pro´ximos resultados mostrara˜o que a melhor aproximac¸a˜o de x da forma n∑ k=1 ckxk e´ dada quando ck e´ o k-e´simo coeficiente de Fourier de x. Lema 1.4 Seja X = {x1, x2, . . . , xn, . . .} um conjunto ortonormal do espac¸o com produto interno X e x ∈ X. Se c1, c2, . . . , cn sa˜o escalares e y = n∑ k=1 ckxk enta˜o ||x− y||2 = ||x||2 − n∑ k=1 (< x, xk >) 2 + n∑ k=1 (< x, xk, > −ck)2. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 21 Soluc¸a˜o: E´ consequ¨eˆncias direta dos ca´lculos. Proposic¸a˜o 1.10 Seja X = {x1, x2, . . . , xn, . . .} um conjunto ortonormal do espac¸o com produto interno X e x ∈ X. Se c1, c2, . . . , cn sa˜o escalares e yn = n∑ k=1 ckxk, zn = n∑ k=1 < x, xk > xk enta˜o ||x− zn|| ≤ ||x− yn||. (1.16) Soluc¸a˜o: Tomando ck =< x, xk >, k = 1, 2, . . . , n no Lema 1.4 temos ||x− zn||2 = ||x||2 − n∑ k=1 (< x, xk >) 2. Novamente pelo Lema 1.4 tem-se ||x− yn||2 = ||x||2 − n∑ k=1 (< x, xk >) 2 + n∑ k=1 (< x, xk, > −ck)2. Portanto, ||x− yn||2 = ||x− zn||2 + n∑ k=1 (< x, xk, > −ck)2. Como n∑ k=1 (< x, xk, > −ck)2 ≥ 0, o resultado segue. Temos a seguinte consequ¨eˆncia da desigualdade (1.16): Teorema 1.3 (Desigualdade de Bessel) Seja X = {x1, x2, . . . , xn, . . .} um con- junto ortonormal do espac¸o com produto interno X e x ∈ X. Enta˜o a se´rie ∞∑ n=1 (< x, xn >) 2 converge e ∞∑ n=1 (< x, xn >) 2 ≤ ||x||2. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 22 Prova: Tomando ck =< x, xk >, k = 1, 2, . . . , n no Lema 1.4 temos ||x||2 − n∑ k=1 (< x, xk >) 2 = ||x− y||2 ≥ 0. Portanto, para todo n tem-se ∞∑ n=1 (< x, xn >) 2 ≤ ||x||2, e o resultado segue. Corola´rio 1.1 Seja X = {x1, x2, . . . , xn, . . .} um conjunto ortonormal do espac¸o com produto interno X e x ∈ X. Enta˜o, lim n→∞ < x, xn >= 0. Prova: O resultado e´ uma consequ¨eˆncia do Teorema 1.3 e da continuidade do produto interno. Processo de ortonormalizac¸a˜o de Gram-Schmidt Seja {v1, v2, . . . , vn} um conjunto linearmente independente do espac¸o com pro- duto interno X. Considere x1 = v1 ||v1|| . Se os elementos ortonormais {x1, x2, . . . , xk} (k < n) sa˜o constru´ıdos tais que [{v1, v2, . . . , vk}] = [{x1, x2, . . . , xk}] enta˜o podemos definir yk+1 = vk+1 − k∑ j=1 < vk+1, xj > xj, xk+1 = yk+1 ||yk+1|| . Observe que < xj, xk+1 >= 0, j = 1, 2, . . . , k, ||xk+1|| = 1. e [{v1, v2, . . . , vk+1}] = [{x1, x2, . . . , xk+1}]. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 23 Este procedimento e´ chamado ortonomalizac¸a˜o de Gram-Schmidt. Para v ∈ Vn = [{v1, v2, . . . , vn}] temos que v = n∑ k=1 αkxk. Tomando o produto interno com xj obtemos < v, xj >= n∑ k=1 αk < xk, xj >= αj. Supondo que X 6= Vn, vamos buscar uma aproximac¸a˜o de x ∈ X\Vn do tipo v = n∑ k=1 αkxk. Enta˜o, ||x− v||2 = 〈 x− n∑ k=1 αkxk, x− n∑ k=1 αkxk 〉 = ||x||2 − 2 n∑ k=1 αk < y, xk > + n∑ k=1 |αk|2 = ||x||2 + n∑ k=1 |αk− < x, xk > |2 − n∑ k=1 | < x, xk > |2 ≥ ||x||2 − n∑ k=1 | < x, xk > |2 = ∥∥∥∥∥x− n∑ k=1 < x, xk > xk ∥∥∥∥∥ 2 , ou seja, ||x− v|| ≥ ∥∥∥∥∥x− n∑ k=1 < x, xk > xk ∥∥∥∥∥ . (1.17) Portanto, a melhor aproximac¸a˜o de x ∈ X por um elemento de Vn e´ n∑ k=1 < x, xk > xk. Projec¸a˜o ortogonal Seja X um espac¸o vetorial. Um operador linear P : X → X e´ chamado operador projec¸a˜o se P 2 = P ⇔ P (P (x)) = P (x), ∀x ∈ X. Sejam N(P ) = {x ∈ X ; P (x) = 0}, o nu´cleo de P , e ImP = {y ∈ X ; P (x) = y para algum x ∈ X}, o conjunto imagem de P . O seguinte resultado caracteriza a imagem e o nu´cleo de um operador projec¸a˜o: CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 24 Teorema 1.4 Sejam X um espac¸o vetorial e P : X → X um operador projec¸a˜o. Enta˜o, ImP∩N(P ) = {0}, ou seja, todo elemento de X tem uma u´nica representac¸a˜o x = y + z para algum y ∈ ImP e algum z ∈ N(P ), isto e´, X = ImP ⊕N(P ). Para X um espac¸o com produto interno. O operador projec¸a˜o P : X → X e´ chamado projec¸a˜o ortogonal se ImP ⊥N(P ), isto e´, < y, z >= 0, y ∈ ImP, z,∈ N(P ). Proposic¸a˜o 1.11 X um espac¸o com produto interno. O operador projec¸a˜o ortogonal P : X → X e´ cont´ınuo. Prova: Pelo Teorema 1.4 qualquer x ∈ X e´ da forma x = y + z com y ∈ ImP e z ∈ N(P ). Ale´m disso, < y, z >= 0, pois P e´ um operador projec¸a˜o. Assim, ||x||2 =< y + z, y + z >= ||y||2 + 2 < y, z > +||z||2 = ||y||2 + ||z||2. Mas, P (x) = y, e portanto, ||P (x)||2 = ||y||2 ≤ ||x||2. Logo, P e´ limitado, ou seja, cont´ınuo. O seguinte resultado garante que, dado o subespac¸o V de um espac¸o de Hilbert H podemos definir um operador projec¸a˜o ortogonal P tal que ImP = V . Teorema 1.5 Sejam H um espac¸o de Hilbert e V um subespac¸o de H. Enta˜o, existe um u´nico operador projec¸a˜o ortogonal P : H → H tal que ImP = V . Observac¸a˜o 1.4 Podemos mostrar que se P e´ a projec¸a˜o ortogonal do espac¸o com produto interno X, enta˜o N(P ) = ImP⊥ e ImP = N(p)⊥. Enta˜o combinando os Teoremas 1.4 e 1.5 temos que H = ImP ⊕N(P ) = V ⊕ V ⊥. Teorema 1.6 Sejam H um espac¸o de Hilbert e V um subespac¸o de H. Se P : H → V e´ a projec¸a˜o ortogonal, enta˜o para qualquer h ∈ H tem-se ||h− P (h)|| ≤ ||h− v||, ∀v ∈ V, ou seja, ||h− P (h)|| = inf v∈V ||h− v||. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 25 Prova: Como H = V ⊕ V ⊥ tem-se h = P (h) + v e logo, < h− P (h), P (h)− v >= 0 para todo v ∈ V, pois P (h)− v ∈ V . Assim, ||h− v||2 = ||h− P (h) + P (h)− v||2 = < h− P (h), P (h)− v > = ||h− P (h)||2 + 2 < h− P (h), P (h)− v > +||P (h)− v||2 = ||h− P (h)||2 + ||P (h)− v||2 ≥ ||h− P (h)||2, e o resultado segue. Considere {x1, x2, . . . , xn, . . .} um subconjunto ortonormal do espac¸o de Hilbert H e seja Vn o subespac¸o de H gerado pelos n primeiros elementos x1, x2, . . . , xn, ou seja, Vn = {x ∈ H ; x = n∑ k=1 αkxk, αk ∈ R}. Observac¸a˜o 1.5 Observe que, como Vn e´ um subespac¸o de dimensa˜o finita de H e H e´ completo enta˜o Vn e´ completo. Pelo Teorema 1.5 existe um u´nico operador projec¸a˜o (sobrejetor) de H em Vn. O seguinte resultado e´ uma caracterizac¸a˜o desta projec¸a˜o ortogonal: Teorema 1.7 Sejam H um espac¸o de Hilbert e {x1, x2, . . . , xn, . . .} um subconjunto ortonormal de H. Se Vn = [{x1, x2, . . . , xn}], enta˜o o operador projec¸a˜o ortogonal P : H → Vn e´ dado por P (h) = n∑ k=1 < h, xk > xk. Prova: P e´ claramente linear. Agora, considere P 2(h) = P (P (h)) = P ( n∑ k=1 < h, xk > xk ) = n∑ k=1 < h, xk > P (xk) = n∑ k=1 < h, xk > ( n∑ j=1 < xk, xj > xj ) = n∑ k=1 < h, xk > xk = P (h). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 26 Logo, P e´ uma projec¸a˜o. Obviamente ImP ⊂ Vn e devemos provar que Vn ⊂ ImP . Para isto, seja v ∈ V enta˜o v = n∑ k=1 αkxk e, portanto P (v)= v. Logo, v ∈ ImP . Assim, ImP = Vn. Resta provarmos que P e´ uma projec¸a˜o ortogonal. Para isto, sejam z ∈ N(P ) e v ∈ ImP = Vn enta˜o P (v) = v e < z, v >=< z, P (v) > = ( z, n∑ k=1 < v, xk > xk ) = n∑ k=1 < v, xk >< z, xk > = ( n∑ k=1 < z, xk > xk, v ) = < P (z), v > . Mas, P (z) = 0, e logo, < z, v >=< 0, v >= 0. Portanto, P e´ ortogonal. Observe que P (x) e´ uma aproximac¸a˜o de x no subespac¸o Vn. Se x ∈ Vn enta˜o P (x) = x e a aproximac¸a˜o coincide com o pro´prio x. Ale´m disso, pelo Teorema 1.6 temos que o erro de aproximac¸a˜o ||x− P (x)|| e´ a menor distaˆncia de x ao subespac¸o Vn. Observac¸a˜o 1.6 Pela observac¸a˜o 1.4 e a prova do Teorema 1.7 temos que a projec¸a˜o ortogonal satisfaz < z, P (v) >=< P (z), v > para todo v ∈ V e z ∈ V ⊥. Base ortonormal Definic¸a˜o 1.17 Seja X um espac¸o com produto interno < , >. Um conjunto ortonor- mal {e1, e2, . . . , en, . . .} e´ chamado “base ortonormal” de X se para cada x ∈ X existe uma u´nica sequ¨eˆncia de escalares {α1, α2, . . . , αn, . . .} tal que x = ∞∑ n=1 αn en, ou seja, lim n→∞ ∥∥∥∥∥x− n∑ k=1 αkek ∥∥∥∥∥ = 0. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 27 Proposic¸a˜o 1.12 Os elementos de um conjunto ortogonal {x1, x2, . . . , xn, . . .} de um espac¸o com produto interno X sa˜o linearmente independentes. Prova: Suponha que α1x1 + α2x2 + . . .+ αnxn. Tomando o produto interno com xk e usando a ortogonalidade obtemos < α1x1 + α2x2 + . . .+ αnxn, xk >= ck < xk, xk >= 0. Como < xk, xk >6= 0 tem-se ck = 0, k = 1, 2, . . . , n Exemplo 1.8 O conjunto ortonormal{ 1√ 2pi , cos(nx)√ pi , sen(nx)√ pi } , n = 1, 2, . . . (1.18) e´ uma base ortonormal do espac¸o C2([0, 2pi]) com a norma dada pelo produto interno (1.14). Soluc¸a˜o: Pelo exemplo 1.6 temos que o conjunto (1.18) e´ ortonormal. Ale´m disso, por uma consequ¨eˆncia do Teorema de Weierstrass (veja [11, Teorema 3, p. 145]) temos que toda func¸a˜o cont´ınua ψ no intervalo [a, b] tal que ψ(a) = ψ(b) e´ limite de uma sequ¨eˆncia uniformente convergente de polinoˆmios trigonome´tricos, ou seja, combinac¸o˜es lineares de elementos do conjunto{ 1, cos(2pinx) b− a , sen(2pinx) b− a , n = 1, 2, . . . . } . (1.19) Ale´m disso, qualquer func¸a˜o φ ∈ C2([a, b]) pode ser representada como o limite de uma sequ¨eˆncia de func¸o˜es (ψn) com ψn(x) = φ(x) se a ≤ x ≤ b− 1 n( nφ ( b− 1 n ) − nφ(a) ) (b− x) + φ(a) se b− 1 n ≤ x ≤ b. Logo, todo elemento de C2([a, b]) pode ser aproximado por uma combinac¸a˜o de ele- mentos do conjunto (1.19). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 28 Proposic¸a˜o 1.13 Seja X um espac¸o com produto interno. Se X e´ separa´vel enta˜o existe uma base ortonormal em X. Prova: Seja {v1, v2, . . . , } um conjunto denso de X. Considere Vn = [{v1, v2, . . . , vn}], V = ∞⋃ n=1 Vn. (1.20) Enta˜o, V = X. Eliminando os elementos linearmente dependentes, podemos assunir que dim Vn = n. Pelo processo de ortogonalizac¸a˜o de Gram- Schmidt existe um conjunto ortonormal {e1, e2, . . . , } tal que Vn = [{v1, v2, . . . , vn}]. Seja x ∈ X. Como V e´ denso em X temos que existe uma sequ¨eˆncia (vn) em Vn tal que vn → x. Pela desiqualdade (1.17) temos ||x− vn|| ≥ ∥∥∥∥∥x− n∑ j=1 < x, ej > ej ∥∥∥∥∥ . Fazendo n→∞ obtemos x = ∞∑ j=1 < x, ej > ej. Para provar a unicidade, suponha que x = ∞∑ j=1 αjej. Usando a continuidade do produto interno temos < x, ek >= lim n→∞ 〈 n∑ j=1 αjej, ek 〉 = αk. Observac¸a˜o 1.7 A hipo´tese de “separabilidade da Proposic¸a˜o 1.13 e´ redundante. Sem a hipo´tese de separabilidade existe uma base ortonormal {eτ}τ∈I , mas I na˜o e´ enumera´vel. Para obtermos algumas propriedades u´teis para existeˆncia de base ortonormal precisamos da propriedade de completamento. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 29 Proposic¸a˜o 1.14 Sejam H um espac¸o de Hilbert e o subespac¸o fechado V de H definido em (1.20). Enta˜o, a projec¸a˜o ortogonal P : H → V e´ dada por P (h) = ∞∑ k=1 < h, ek > ek, h,∈ H. Prova: A prova e´ similar a prova do Teorema 1.7 exceto pelo fato que precisamos usar a desigualdade de Bessel para justificar que ∞∑ k=1 < h, αkek >= ( h, ∞∑ k=1 αkek ) . Teorema 1.8 Sejam H um espac¸o de Hilbert e {e1, e2, . . . , en, . . .} um conjunto ortonor- mal de H. Enta˜o, as seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) {e1, e2, . . . , en, . . .} e´ uma base ortonormal; (ii) Se x ∈ H ;< x, en >= 0, ∀n, enta˜o x = 0; (iii) [{e1, e2, . . . , en, . . .}] e´ denso em H; (iv) (Teorema de Paserval): ||x||2 = ∞∑ n=1 | < x, en > |2, ∀x ∈ H. (1.21) Prova: (i) ⇒ (ii): segue da definic¸a˜o de conjunto ortonormal. (ii) ⇒ (iii): seja V = [{e1, e2, . . . , en, . . .}] e suponha que V na˜o e´ denso em H, isto e´, V 6= H. Pela observac¸a˜o 1.4 e o Teorema 1.6 existe x ∈ V ⊥\{0}. Em particular, < x, en >= 0,∀n, o que e´ uma contradic¸a˜o. (iii)⇒ (iv): Na prova da Proposic¸a˜o 1.13 temos que para todo x ∈ H, a sequ¨eˆncia sn = n∑ k=1 < x, en > en converge para x. Ale´m disso, sn e´ ortogonal a (x− sn), e logo, ||x||2 = ||sn||2 + ||x− sn||2 = n∑ k=1 | < x, en > |2 + ||x− sn||2. Fazendo n→∞ obtemos a igualdade de Parseval. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 30 (iv) ⇒ (i): seja x ∈ H. Considere sn = n∑ k=1 < x, en > en e m > n. Enta˜o, ||sm − sn||2 = m∑ k=n | < x, en > |2. Como a se´rie (1.21) e´ convergente temos que a sequ¨eˆncia (sn) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy enta˜o existe y ∈ H tal que sn → y, pois H e´ completo. Ale´m disso, < y, en >=< x, en > e pelo igualdade de Paserval temos ||x− y||2 = ∞∑ k=1 | < x− y, en > |2 = 0. Observac¸a˜o 1.8 Seja X um espac¸o de Banach. Uma sequ¨eˆncia {un}∞n=1 e´ chamada “base de Schauder” de X se para todo x ∈ X existe uma u´nica sequ¨eˆncia de escalares {α1, α2, . . . , αn, . . .} tal que x = ∞∑ n=1 αn un. Um dos mais famosos problemas da teoria dos espac¸os de Banach foi o problema de provar se todo espac¸o de Banach separa´vel tem uma base de Schauder. Este problema foi formulado por S. Banach em 1923 e resolvido (negativamente) por P. Enflo em 1973, quem construiu um espac¸o de Banach separa´vel que na˜o tem base de Schauder. Teorema de Ritz Sejam X e´ um espac¸o com produto interno < , > e z ∈ X um elemento fixo. Podemos sempre definir um funcional linear f : X → R por f(x) =< z, x >, ∀x ∈ X. De fato, a linearidade e´ uma consequ¨eˆncia da linearidade do produto interno e pela desiguldade de Schwarz obtemos |f(x)| = | < z, x > | ≤ ||z||||x|| ⇒ ||f || ≤ ||x||. Ale´m disso, |f(z)| = | < z, z > | = ||z||2 ⇒ ||f || ≥ | < z, z > |||z||2 . Portanto ||f || = ||z||. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 31 O seguinte resultado mostra que se H e´ um espac¸o de Hilbert enta˜o a rec´ıproca deste resultado e´ verdadeira. Teorema 1.9 (Teorema de representac¸a˜o de Riesz) Sejam H um espac¸o de Hilbert e f : H → R um funcional linear cont´ınuo definido em H. Enta˜o existe um u´nico elemento ` ∈ H tal que f(x) =< `, x >, ∀x ∈ H, ||f || = ||`|| (1.22) Observe que o teorema de representac¸a˜o de Riesz mostra que existe um (u´nico) operador F : H → H ′, chamado “operador de Riesz”, com as seguintes propriedades: (a) F e´ um isomorfismo (um operador bijetor); (b) F e´ uma isometria, ou seja, ||Fx|| = ||x||. Portanto pelo Teorema de Riesz os espac¸os H e H ′ sa˜o isometricamente isomorfos e podemos identificar H com o seu dual H ′ usando H ′ = F (H). Representamos este resultado escrevendo H = H ′. Usualmente, fazemos a seguinte identificac¸a˜o f ≡ `. Convergeˆncia fraca Nesta sec¸a˜o vamos tratar de um tipo de convergeˆncia que naturalmente aparece nos problemas variacionais. Para melhor compreensa˜o, considere que espac¸o de Hilbert H tem dimensa˜ofinita e uma base ortonormal {e1, e2, . . . , er}. Enta˜o cada x ∈ H e´ dado por x = r∑ k=1 < x, ek > ek. Se (xn) e´ uma sequ¨eˆncia de elementos de H tem-se, para cada n, xn = r∑ k=1 < xn, ek > ek, e, logo, ||xn − x||2 = r∑ k=1 | < xn − x, ek > |2. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 32 Portanto, xn → x, e e somente se, < xn − x, ek >→ 0 para cada k = 1, 2, . . . , r. Como qualquer elemento h ∈ H e´ uma combinac¸a˜o linear finita de {e1, e2, . . . , er} enta˜o < xn − x, ek >→ 0 sempre que < xn − x, h >→ 0 para cada h ∈ H. Portanto, em dimensa˜o finita temos xn → x⇔ < xn, h >→< x, h > para cada h ∈ H. Em espac¸o de Hilbert de dimensa˜o infinita esta´ equivaleˆncia na˜o e´ verdadeira. De fato, a convergeˆncia forte xn → x implica a convergeˆncia do produto interno, mas a rec´ıproca na˜o e´ verdadeira. Para provarmos esta afiramac¸a˜o vamos aplicar a desigualdade de Bessel e obter ∞∑ k=1 | < ek, h > |2 ≤ ||h||2 <∞, < en, h >→< 0, h >= 0. Mas, en na˜o converge para 0, pois ||en − 0|| = ||en|| = 1, ∀n. Estas observac¸o˜es sugerem a seguinte definic¸a˜o: Definic¸a˜o 1.18 Sejam X um espac¸o com produto interno e (xn) uma sequ¨eˆncia em X. Dizemos que (xn) converge “fracamente” para x ∈ H, representamos por xn ⇀ x, se lim n→∞ < xn, h >=< x, h >, para cada h ∈ H. Em dimensa˜o finita as convergeˆncias forte e fraca coincidem, pore´m em dimensa˜o infinita convergeˆncia forte implica fraca, mas a rec´ıproca na˜o e´ verdadeira. A con- vergeˆncia fraca tem as seguintes propriedades, cujas provas podem ser encontardas em [10, cap´ıtulo 4, p. 256]: Teorema 1.10 Sejam X um espac¸o com produto interno e (xn) uma sequ¨eˆncia em X. Se converge fracamente para x ∈ X enta˜o (i) o limite “fraco” x e´ u´nico. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 33 (ii) Toda subsequ¨eˆncia de (xn) converge fracamente para x. (iii) A sequ¨eˆncia (||xn||) e´ limitada e ||x|| ≤ lim n→∞ inf ||xn||. A prova do seguinte resultado pode ser encontrada em [18, Teorema 2C, p. 50] Teorema 1.11 Sejam H um espac¸o de Hilbert e (xn) uma sequ¨eˆncia em H. Se (xn) e´ limitada enta˜o existe uma subsequ¨eˆncia (xk) de (xn) que converge fracamente em H. Podemos estender a noc¸a˜o de convergeˆncia fraca para espac¸os normados, definindo “espac¸o dual”. Definic¸a˜o 1.19 Seja X um espac¸o normado e f : X → R um funcional linear cont´ınuo. O conjunto de todos o funcionais lineares cont´ınuos f e´ chamado “espac¸o dual” de X e representado por X ′. Definic¸a˜o 1.20 Seja X um espac¸o normado e (xn) uma sequ¨eˆncia de X. Dizemos que (xn) converge fracamente para x ∈ X e representamos por xn ⇀ x, se, e somente se f(xn)→ f(x), ∀f ∈ X ′. Definic¸a˜o 1.21 Sejam X, M um subconjunto M de X e F : M → R um funcional. (a) Fracamente sequencialmente cont´ınuo: Dizemos que F e´ “fracamente sequencialmente cont´ınuo” em x0 ∈M se xn ⇀ x0 implica F (xn)→ F (x0). (b) Semicont´ınuo inferiormente fraco sequencialmente: Dizemos que F e´ “Semicont´ınuo inferiormente fraco sequencialmente” em x0 ∈M se e somente se, xn ⇀ x0 ⇒ F (x0) ≤ lim n→∞ inf F (xn). (c) Fracamente coercivo: Dizemos que F e´ “Fracamente coercivo” se, e so- mente se lim ||x||→∞ F (x) = +∞, em M. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 34 Definic¸a˜o 1.22 Sejam X, M um subconjunto M de X e F : M → R um funcional. Para cada r ∈ R, considere Mr = {x ∈M ; F (x) ≤ r}. (a) Dizemos de F e´ “semicont´ınuo inferiormente” no conjunto fechado Mr se, e somente se, Mr e´ um conjunto fechado para todo r ∈ R. (b) Dizemos que F e´ “quase convexo” no cnjunto convexo M se e somente se, o conjunto Mr e´ convexo para todo r ∈ R. Completamento de espac¸os com produto interno Na˜o e´ nosso objetivo detalhar o processo de completamento de um espac¸o me´trico, para maiores detalhes consulte [9, 10], apenas enunciaremos o principal resultado. Teorema 1.12 Seja W um espac¸o com produto interno. Enta˜o, existe um espac¸o com produto interno completo W , chamado completamento de W, que satisfaz: (i) W ⊂ W ; (ii) W e´ denso em W ; (iii) W e´ u´nico no sentido que se W1 e W2 satisfazem (i) e (ii) enta˜o existem uma correspondeˆncia biu´nivoca entre W1 e W2 tal que < u1, v1 >W1=< u2, v2 >W1 para u1, v1 ∈ W1 e u2, v2 ∈ W2. Seja W um espac¸o incompleto com produto interno < , > e W o seu complete- mento, com norma || · ||. Enta˜o cada u˜ ∈ W e´ uma classe de equivaleˆncia de sequ¨eˆncias de Cauchy de W . Sejam u˜, v˜ ∈ W e (un) e (vn) os representantes das classes u˜ e v˜, respectivamente. Enta˜o∣∣∣ < un, vn > − < u,vm > ∣∣∣ = ∣∣∣ < un − um, vn > − < um, yn − vm > ∣∣∣ ≤ ||vn||||un − um||+ ||um||||vn − vm|| (1.23) CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 35 Como as sequ¨eˆncias de Cauchy (un) e (vn) sa˜o limitadas temos que (1.23) e´ sufi- cientemente pequeno para m e n suficientemente grande. Logo a sequ¨eˆncia nume´rica( < un, vn > ) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy. Como R e´ completo enta˜o ( < un, vn > ) tem limite e este limite independe da escolha dos representantes (un) e (vn) das classes u˜ e v˜, respectivamente. Deste modo podemos definir em W o seguinte produto interno < u˜, v˜ >= lim n→∞ < un, vn > . O nu´mero < u˜, v˜ > depende apenas das classes u˜ e v˜. Em particular, temos ||u˜|| = √ < u˜, v˜ > = lim n→∞ √ < un, vn > = lim n→∞ ||un||. Por simplicidade, usaremos a notac¸a˜o u˜ = u. Portanto, qualquer propriedade que deseja-se provar pode ser primeiro estabelecida em W e depois por um processo de limite em W . O Teorema 1.12 e´ a versa˜o para espac¸os com produto interno, que sa˜o espac¸os normados, enunciaremos o resultado ana´logo e mais geral, para espac¸os me´tricos: Teorema 1.13 Se (X, d) e´ um espac¸o me´trico. Enta˜o existe um espac¸o me´trico (X˜, d˜), chamado completamento de X, tal que: (i) X ⊂ X˜ (ii) X e´ denso em X˜ (iii) O completamento e´ u´nico no sentido que se X˜1 e X˜2 satsifazem as condic¸o˜es (i) e (ii) acima, enta˜o existe uma u´nica isome´tria Φ : X˜1 → X˜2. 1.3 Espac¸os de func¸o˜es Nestas notas, estamos interessados em tratar problemas variacionais “generali- zados”. Para isto, vamos definir os espac¸os de Lebesgue Lp(Ω) e de Sobolev H1,p(Ω) e suas principais propriedades. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 36 O espac¸o C∞0 (Ω) O suporte de uma func¸a˜o v : Rn → R, representado for supp(v), e´ o fecho do conjunto dos pontos para os quais v e´ diferente de zero, ou seja, supp(v) = {x ∈ Rn ; v(x) 6= 0}. Assim, se x0 ∈ supp(v) enta˜o para qualquer vizinhanc¸a de x0 existe um ponto x tal que v(x) 6= 0. Logo, v e´ nula fora do seu suporte. Se o supp(v) e´ um conjunto limitado do Rn, logo, compacto enta˜o dizemos que v(x) tem suporte compacto. A definic¸a˜o de suporte na˜o se altera para v(x) definida em algum subconjunto Ω do Rn. Exemplo 1.9 Determine o suporte da func¸a˜o v(x) = senx se x ∈ (0, 2pi),0 se x ≤ ou x ≥ 2pi. Soluc¸a˜o: Os pontos para os quais v(x) 6= 0 e´ E = (0, 2pi)\pi. Logo, supp(v) = E = [0, 2pi]. Portanto, o suporte da func¸a˜o x 7→ senx, x ∈ R e´ R embora a func¸a˜o seno se anule em x = k pi com k ∈ Z. Note que o suporte da func¸a˜o v(x) = 0 em R e´ vazio. Exemplo 1.10 Determine o suporte, em R, da func¸a˜o v(x) = 0 se x e´ irracional,1 se x e´ racional. Soluc¸a˜o: Como v(x) 6= 0 para x racional, enta˜o o suporte de v(x) e´ o fecho de Q, mas Q = R, e logo, supp(v) = R. Exemplo 1.11 Determine o suporte, em R, da func¸a˜o v(x) = 0 se x 6= 0,1 se x = 0. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 37 Soluc¸a˜o: Neste caso, supp(v) = {x ∈ R ; v(x) 6= 0} = {0} = {0}. Definic¸a˜o 1.23 Sejam Ω ⊆ Rn e v : Ω→ R. Definimos o espac¸o C∞0 (Ω) o conjunto das func¸o˜es de C∞(Ω) com suporte compacto contido em Ω. C∞0 (Ω) e´ um espac¸o vetorial. 1 No seguinte exemplo apresentaremosuma func¸a˜o na˜o trivial de C∞0 (Ω): Exemplo 1.12 Saje a ∈ R a func¸a˜o ϕa : R→ R dada por ϕa(x) = e − 1 a2−x2 se |x| < a, 0 se |x| ≥ 0. pertence ao espac¸o C∞0 (R). Soluc¸a˜o: Claramente, o suporte de ϕa e´ o intervalo fechado e limitado [−a, a]. ϕa e´ infinitamente diferencia´vel2. Logo, ϕa ∈ C∞0 (R). Com a func¸a˜o do Exemplo 1.12 podemos construir va´rios elementos de C∞0 (R). De fato, tomemos qualver func¸a˜o v ∈ C∞(R) enta˜o o produto v ϕa e´ infinitamente diferencia´vel e zera fora do intervalo [−a, a]. Logo, v ϕa ∈ C∞0 (R). De modo ana´logo, no espac¸o Rn podemos definir a func¸a˜o ϕa : Rn → R dada por ϕa(x) = e − 1 a2−r2 se r < a, 0 se r ≥ 0. com r = |x| = √ x21 + x 2 2 + . . .+ x 2 n. A func¸a˜o ϕa e´ infinitamente diferencia´vel em Rn e tem como suporte a bola fechada e limitada Ba(0) = {~x ∈ Rn ; |x| ≤ a}. Logo, ϕa ∈ C∞0 (Rn). O espac¸o Lp(a, b) Nossa primeira aplicac¸a˜o do Teorema 1.12 e´ a seguinte: 1consulte [13, p. 64] 2consulte [13, exemplo1, p. 53] CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 38 Proposic¸a˜o 1.15 O espac¸o das funco˜es cont´ınuas C([a, b]) e´ um espac¸o normado incompleto com a norma ||u||p = (∫ b a |u(x)|p dx )1/p , 1 ≤ p <∞. (1.24) Prova: Seja (un) uma sequ¨eˆncia de func¸o˜es cont´ınuas que converge uniformemente para zero em [a, c − �] e para 1 em [c + �, b] com c ∈ (a, b) um nu´mero fixo. Enta˜o (un) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy em C([a, b]) com a norma (1.24). De fato, como un → 0 e un → 1 em [a, c − �] e [c + �, b], respectivamente temos que ∫ c−� a |un(x)| dx→ 0 em [a, c− �]∫ b c+� |un(x)| dx→ 1 em [c+ �, b], respectivamente. Portanto, ∀� > 0, existe n0 ∈ N tal que∫ b a |un(x)− um(x)|p dx < 2�+ 2� ( max a≤x≤b |un(x)− um(x)| )p , ∀n,m > n0 Logo (un) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy em C([a, b]). Com a ajuda do seguinte resultado auxiliar mostraremos que a sequ¨eˆncia (un) na˜o converge para uma func¸a˜o cont´ınua na norma (1.24). Lema 1.5 Sejam u ∈ C([a, b]), un ∈ C([a, b]), ∀n e [a, b] ⊂ [α, β]. Se un → u em C([a, b]) com a norma (1.24) e un → v uniformente em algum intervalo [α, β] enta˜o u(x) = v(x) em [α, β]. Prova do Lema 1.5: Note que ||un − u||pp = ∫ β α |un(x)− u(x)|p dx ≤ ∫ b a |un(x)− u(x)|p dx→ 0 ||un − v||pp = ∫ β α |un(x)− v(x)|p dx ≤ max α≤x≤β |un(x)− v(x)|p(α− β)→ 0 Portanto ||un−u||p → 0 e ||un−v||p → 0 e pela unicidade do limite temos u(x) = v(x) em [α, β]. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 39 Agora, suponha, por absurdo, que a sequ¨eˆncia (un) converge para a func¸a˜o cont´ınua u(x) em C([a, b]) na norma (1.24) enta˜o temos que u(x) = 0 em [a, c) e u(x) = 1 em (c, b] e pela Lema 1.5 temos uma contradic¸a˜o, pois u(x) na˜o e´ cont´ınua. Portanto, pela Proposic¸a˜o 1.24 o espac¸o ( C([a, b]), || · ||p ) e´ incompleto e pelo Teorema 1.12 temos a seguinte definic¸a˜o: Definic¸a˜o 1.24 Lp(a, b) e´ o completamento de C([a, b]) com relac¸a˜o a norma || · ||p. Lp(a, b) e´ o espac¸o de Lebesgue das func¸o˜es p-integra´veis. Exemplo 1.13 O espac¸o L2(−pi, pi) e´ um espac¸o de Hilbert. E´ separa´vel, pois o conjunto das func¸o˜es cont´ınuas perio´dicas de per´ıodo 2pi e´ denso em L2(−pi, pi) e logo, uma func¸a˜o de L2(−pi, pi) pode ser aproximada por polinoˆmios trigonome´tricos do tipo n∑ k=1 ake ikx. Na˜o e´ complicado verificar que fn(x) = einx√ 2pi , x ∈ (−pi, pi), n ∈ Z, e´ um conjunto ortogonal em L2(−pi, pi) e pelo Corola´rio 1.8 (iii) e´ tambe´m uma base ortonormal de L2(−pi, pi). Func¸o˜es localmente integra´veis Para qualquer subconjunto E ⊂ [a, b] podemos definir a func¸a˜o caracter´ıstica de E por χE(x) = 1 se x ∈ E,0 se x ∈ [a, b]\E. Definic¸a˜o 1.25 O espac¸o das func¸o˜es “localmente p-integra´veis” , representado por Lploc(a, b), e´ o conjunto das func¸o˜es generalizadas v : [a, b] → R tais que para todo conjunto compacto K ⊂ [a, b] tem-se que o produto v χK ∈ Lp(a, b). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 40 Quase sempre Da mesma forma que, constru´ıdo o conjunto dos nu´meros reais por completamento dos racionais, e´ conveniente termos uma caracterizac¸a˜o menos abstrata dos nu´meros irracionais, que e´ a sua representac¸a˜o decimal, queremos obter uma “caracterizac¸a˜o” das func¸o˜es generalizadas dos espac¸os Lp(a, b). Num certo sentido, as func¸o˜es gen- eralizadas podem ser pensadas com func¸o˜es usuais em conjuntos suficientemenste pequenos. Entendemos suficientemenste pequenos no seguinte sentido: Definic¸a˜o 1.26 Dizemos que um subconjunto E de R tem medida nula se E pode ser coberto por uma sequeˆncia de intervalos com comprimento total arbritariamente pequeno. Ou seja, dado � > 0, dizemos que E tem medida nula se podemos encontrar uma sequeˆncia {In, n ∈ N} de intervalos tal que E ⊂ ∞⋃ n=1 In e ∞∑ n=1 `(In) < � com `(In) o comprimento de cada intervalo In. Exemplo 1.14 O conjunto unita´rio {x} tem medida nula. Soluc¸a˜o: Dado � > 0, podemos considerar, por exemplo, I1 = (x − �/4, x + �/4) e In = [0.0] para n ≥ 2. Enta˜o, {x} ⊂ ∞⋃ n=1 In e ∞∑ n=1 `(In) = `(I1) = � 2 < �. Exemplo 1.15 Qualquer conjunto enumera´vel tem medida nula. Soluc¸a˜o: Basta tomarmos In = [xn, xn]. Em particular, Q tem medida nula. Definic¸a˜o 1.27 Dizemos que a propriedade (P ) vale “quase sempre” (q.s) em Ω se o conjunto dos pontos de Ω para os quais (P ) na˜o se verifica tem medida nula. Exemplo 1.16 A func¸a˜o constante v(x) = 1 e a func¸a˜o χE(x) sa˜o iguais quase sempre em E. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 41 Na aplicac¸a˜o do Teorema 1.12 para construc¸a˜o dos espac¸os Lp(a, b) temos que os elementos de Lp(a, b) sa˜o classes de equivaleˆncia de sequ¨eˆncias de Cauchy de func¸o˜es de C([a, b]). Se tomarmos duas sequ¨eˆncias de Cauchy em C([a, b]) associadas ao mesmo elemento de Lp(a, b) (duas sequ¨eˆncias equivalentes) podemos construir, apli- cando o Teorema Teorema 1.12, duas func¸o˜es iguais quase sempre, definido a relac¸a˜o de equivaleˆncia duas func¸o˜es de Lp(a, b) sa˜o iguais quase sempre. Deste modo, a car- acterizac¸a˜o das func¸o˜es generalizadas e´ que elas sa˜o limites quase sempre de sequ¨eˆncias de Cauchy de C([a, b]). Os espac¸os H1,2(a, b) Considere ( C1(a, b), ||·||1,2 ) o espac¸o das func¸o˜es deriva´veis com primeira derivada cont´ınua e a norma || · ||1,2 dada por ||u||1,2 = (∫ b a |u(x)|2 dx+ ∫ b a |u′(x)|2 dx )1/2 (1.25) Sabemos que o espac¸o normado C1([a, b]) e´ incompleto com relac¸a˜o a norma (1.25). Usando o Teorema 1.12 podemos definir Definic¸a˜o 1.28 H1,2(a, b) e´ o completamento de C1([a, b]) com relac¸a˜o a norma || · ||1,2. H1,2(a, b) e´ chamado “espac¸o de Sobolev”. Como consequ¨eˆncia do completamento temos o seguinte resultado: Proposic¸a˜o 1.16 C1([a, b]) e´ denso em H1,2(a, b). Equivalentemente, se u ∈ H1,2(a, b) enta˜o existe uma sequ¨eˆncia un em C 1([a, b]) tal que lim n→∞ ||un − u||1,2 = 0. Seja u ∈ H1,2(a, b), pela Proposic¸a˜o 1.16 existe (un) ⊂ C1([a, b]) tal que lim n→∞ ||un− u||1,2 = 0. Como (un) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy e vale ||un − um||22 ≤ ||un − um||1,2, ||u′n − u′m||22 ≤ |‖un − um||1,2 CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 42 conclu´ımos que as sequ¨eˆncias (un) e (u ′ n) sa˜o sequ¨eˆncia de Cauchy em L 2(a, b). Como L2(a, b) e´ completo existem elementos w, g ∈ L2(a, b) tais que un → w em L2(a, b) u′n → g em L2(a, b). (1.26) Por outro lado, como un → u temos ||un − u||22 ≤ ||un − u||1,2 → 0 e logo un → u em L2(a, b) e pela unicidade do limite obtemos que w = u. Portanto un → u em L2(a, b) (1.27) Deste modo, podemos caracterizar H1,2(a, b) como o conjunto das func¸o˜es de L2(a, b) tais que existem (un) em C([a, b] e u, g ∈ L2(a, b) satisfazendo lim n→∞ ||un − u||2 = 0, lim n→∞||u′n − g||2 = 0. (1.28) Por outro lado, se existe u′ ∈ C([a, b]) podemos mostrar (veja Exemplo 1.17) que g e´ a derivada cla´ssica u′. Isto motiva chamarmos a func¸a˜o g de derivada generalizada de u(x) e representa´-la por u′. Observe que na˜o podemos afirmar que g = u′, pois u ∈ H1,2(a, b) e na˜o sabemos qual e´ o sentido de “derivada” em H1,2(a, b). Pore´m, se u ∈ H1,2(a, b) ∩ C1(a, b), ou seja, u tem derivada no sentido cla´ssico, enta˜o g e´ a derivada cla´ssica de u. De fato, como un → u em H1,2(a, b) e ‖u′n − u′‖L2(a,b) ≤ ‖un − u‖1,2, e logo, un → u′ em L2(a, b) e pela unicidade do limite g = u′. Isso motiva entendermos a func¸a˜o g dada em (1.28) como uma certa generalizac¸a˜o do conceito de derivada para func¸o˜es de H1,2(a, b). Definic¸a˜o 1.29 Seja u ∈ L2(a, b). Dizemos que a func¸a˜o g ∈ L2(a, b) e´ a derivada generalizada (ou derivada no sentido forte) de u se existe uma sequeˆncia {un} em C1([a, b]) tal que lim n→∞ ‖un − u‖L2(a,b) = 0, lim n→∞ ‖u′n − g‖L2(a,b) = 0. (1.29) CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 43 A derivada generalizda g e´ unicamente determinado pelo elemento u e na˜o depende da escolha da particular sequ¨eˆncia de Cauchy (un) que aproxima u. Para provarmos esta afirmac¸a˜o definir o espac¸o H1,20 (a, b) e provar o Lema Fundamental Generalizado. O espac¸o H1,20 (a, b) Proposic¸a˜o 1.17 O espac¸o C∞0 (a, b) e´ incompleto com relac¸a˜o a norma (1.25). Aplicando o Teorema 1.12 podemos definir Definic¸a˜o 1.30 H1,20 (a, b) e´ o completamento de C ∞ 0 ([a, b]) com relac¸a˜o a norma || · ||1,2. Como consequ¨eˆncia do completamento temos o seguinte resultado: Proposic¸a˜o 1.18 C∞0 ([a, b]) e´ denso em H 1,2 0 (a, b). Equivalentemente, se v ∈ H1,20 (a, b) enta˜o existe uma sequ¨eˆncia vn em C ∞ 0 (a, b) tal que lim n→∞ ||vn − v||1,2 = 0. Lema fundamental generalizado O seguinte Lema e´ uma generalizac¸a˜o do Lema fundamental do Ca´lculo Variacional (veja Lema 2.2): Lema 1.6 (Lema variacional generalizado) Seja u ∈ L2(a, b). Se∫ b a u(x)ϕ(x) dx = 0, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]). Enta˜o u(x) = 0 q.s em (a, b). Prova: Como C∞0 ([a, b]) e´ denso em L 2(a, b) temos que existe uma sequ¨eˆncia (un) em C∞0 ([a, b]) tal que lim n→∞ ||un − u||2 = 0. Lembrando que o produto interno < , > e´ cont´ınuo, isto e´, lim n→∞ < un, u >=< u, u > CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 44 e considerando o produto interno < v,w >= ∫ b a v(x)w(x) dx temos que lim n→∞ ∫ b a un(x)u(x) dx = ∫ b a u(x)u(x) dx. Mas, por hipo´tese ∫ b a un(x)u(x) dx = 0, ∀un ∈ C∞0 ([a, b]). Assim, ∫ b a u(x)u(x) dx = ||u||22 = 0⇒ u(x) = 0 q.s em (a, b). Proposic¸a˜o 1.19 O limite g dado em (1.26) e´ unicamente determinado por u(x) e independe da particular escolha da sequ¨eˆncia de Cauchy un ∈ C1([a, b]) que aproxima u(x). Prova: Seja vn ∈ C1([a, b]) outra sequ¨eˆncia de Cauchy tal que vn → u e v′n → h. Fazendo zn = un − vn e z′n = u′n − v′n obtemos que zn → 0 e z′n → g − h. Seja ϕ ∈ C10([a, b]). Aplicando a fo´rmula de integrac¸a˜o por partes e usando que ϕ(a) = ϕ(b) = 0 obtemos ∫ b a znϕ ′ dx = − ∫ b a z′nϕdx. Tomando o limite lim n→∞ ∫ b a znϕ ′ dx = − lim n→∞ ∫ b a z′nϕdx⇔ lim n→∞ < zn|ϕ′ >= − lim n→∞ < z′n, ϕ > e usando a continuidade do produto interno obtemos lim n→∞ < zn, ϕ ′ >=< 0, ϕ′ >= 0 lim n→∞ < z′n, ϕ >=< g − h, ϕ > . Portanto, < g − h, ϕ >= ∫ b a (g − h)ϕdx = 0, ∀ϕ. Pelo Lema variacional 1.6 temos que g = h q.s. Observac¸a˜o 1.9 Lembre que as func¸o˜es de L2(a, b) sa˜o classes de equivaleˆncia de func¸o˜es que sa˜o iguais quase sempre. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 45 Caracterizac¸a˜o da derivada generalizada Agora vamos obter uma relac¸a˜o que caracteriza a derivada generalizada de uma func¸a˜o de H1,2(a, b). Proposic¸a˜o 1.20 A derivada generalizada u′ da func¸a˜o u ∈ H1,2(a, b) satisfaz:∫ b a u′(x)ϕ(x) dx = − ∫ b a u(x)ϕ′(x) dx, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]). (1.30) Prova: Se u ∈ H1,2(a, b) enta˜o, pela densidade, existe un ∈ C1(a, b) tal que lim n→∞ ||un − u||1,2 = 0, ou seja, un → u, u′n → u′ em L2(a, b). Tomando ϕ ∈ C∞0 ([a, b]) e usando integrac¸a˜o por partes obtemos∫ b a u′n(x)ϕ(x) dx = − ∫ b a un(x)ϕ ′(x) dx e, logo lim n→∞ ∫ b a u′n(x)ϕ(x) dx = − lim n→∞ ∫ b a un(x)ϕ ′(x) dx. (1.31) Mas < u′n, ϕ >= ∫ b a u′n(x)ϕ(x) dx e < un, ϕ ′ >= ∫ b a un(x)ϕ ′(x) dx e pela con- tinuidade do produto interno obtemos lim n→∞ < u′n, ϕ >=< u ′, ϕ >, lim n→∞ < un, ϕ ′ >=< u,ϕ′ > Por (1.31) obtemos∫ b a u′(x)ϕ(x) dx = − ∫ b a u(x)ϕ′(x) dx, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]). Proposic¸a˜o 1.21 Se u ∈ H1,2(a, b) e w ∈ L2[−α, α] para todo compacto [−α, α] ⊂ (a, b) tal que ∫ b a w(x)ϕ(x) dx = − ∫ b a u(x)ϕ′(x) dx, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]). (1.32) Enta˜o w = u′ quase sempre em (a, b). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 46 Prova: Combinando (1.30) e (1.32) obtemos∫ b a (w − u′)ϕdx = 0, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]) e pelo Lema variacional w = u′ q.s. Portanto, as Proposic¸o˜es 1.20 e 1.21 mostram que a relac¸a˜o (1.30) caracteriza derivada generalizada de um func¸a˜o do espac¸o H1,2(a, b). Exemplo 1.17 Se a derivada cla´ssica de u existe e e´ cont´ınua enta˜o coincide com a derivada generalizada. Soluc¸a˜o: Seja g a derivada generalizada de u ∈ H1,2(a, b) enta˜o por (1.30) tem-se∫ b a g(x)ϕ(x) dx = − ∫ b a u(x)ϕ′(x) dx, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]). Usando integrac¸a˜o por parte obtemos∫ b a g(x)ϕ(x) dx = ∫ b a u′(x)ϕ(x) dx, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]), o que implica ∫ b a (g − u′)ϕ(x) dx = 0, ∀ϕ ∈ C∞0 ([a, b]). Aplicando o Lema varia- cional generalizado 1.6 temos que g = u′ q.s. Exemplo 1.18 A derivada generalizada da func¸a˜o u(x) = |x| em R, ∀r ∈ R, e´ a func¸a˜o w(x) = 1 se x > 0 r se x = 0 −1 se x < 0 Soluc¸a˜o: Para ϕ ∈ C10(R) temos∫ ∞ −∞ u(x)ϕ′(x) dx = ∫ ∞ −∞ |x|ϕ′(x) dx = ∫ 0 −∞ −xϕ′(x) dx + ∫ ∞ 0 xϕ′(x) dx = −xϕ(x) ∣∣∣0 −∞ + ∫ 0 −∞ ϕ(x) dx+ xϕ(x) ∣∣∣∞ 0 − ∫ ∞ 0 ϕ(x) dx = − (∫ 0 −∞ −1ϕ(x) dx+ ∫ ∞ 0 1ϕ(x) dx ) = − ∫ ∞ −∞ w(x)ϕ(x) dx Note que a func¸a˜o |x| tem derivada cla´ssica em R − {0} e logo a derivada gene- ralizada w(x) coincide com a derivada cla´ssica para todo x 6= 0. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 47 Exemplo 1.19 A func¸a˜o w(x) = 1 se x > 0 r se x = 0 −1 se x < 0 definida no intervalo (−r, r), com r > 0, na˜o tem derivada generalizada. Prova: Suponha, por absurdo, que existe a derivada generalizada de z(x) de w(x). Enta˜o h(x) = ∫ x 0 z(s) ds e h′ = z q.s. Por (1.30) ∫ r −r z(x)ϕ(x) dx = − ∫ r −r w(x)ϕ′(x) dx (1.33) Usando integrac¸a˜o por partes∫ r −r h(x)ϕ′(x) dx = − ∫ r −r h′(x)ϕ(x) dx = − ∫ r −r z(x)ϕ(x) dx (1.34) Combinando (1.33) e (1.34) obtemos∫ r −r (h− w)ϕ′ dx = 0, ∀ϕ ∈ C∞0 (−r, r). Enta˜o, pelo Lema fundamental generalizado 1.6 obtemos w(x) = h(x) + C q.s. Mas, isto e´ uma contradic¸a˜o, pois w(x) e´ descont´ınua e h(x) cont´ınua. Logo, w(x) na˜o tem derivada generalizada. Ale´m disso, observe que∫ r −r z(x)ϕ(x) dx = − ∫ r −r w(x)ϕ′(x) dx = ∫ 0 −r ϕ′(x) dx− ∫ r 0 ϕ′(x) dx = 2ϕ(0) O Exemplo (1.19) mostra que na˜o existe uma func¸a˜o que represente a derivada generalizada da func¸a˜o sinal w(x). Pore´m, temos que a expressa˜o 2 δ com δ a dis- tribuic¸a˜o de Dirac em x = 0 e´ um candidato a derivada de w em algum sentido. Podemos mostrar que w′(x) = 2 δ, ou seja, existe a derivada de w(x) num certo sentido (da Teoria das Distribuic¸o˜es). Podemos introduzir uma outra noc¸a˜o de derivada conhecida como derivada fraca. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 48 Definic¸a˜o 1.31 Seja u ∈ L2(a, b). Dizemos que a func¸a˜o g ∈ L2(a, b) e´ a derivadafraca de u se g satisfaz∫ b a uϕ′ dx = − ∫ b a g ϕ dx, ∀ϕ ∈ C∞0 (a, b). (1.35) Definic¸a˜o 1.32 O espac¸o W 1,2(a, b) e´ o espac¸o das func¸o˜es u ∈ L2(a, b) tal que existe a derivada fraca g de u e g ∈ L2(a, b). Pelos argumentos da prova da Proposic¸a˜o 1.19 temos que se g e´ a derivada generalizada de u enta˜o g e´ a derivada fraca de u. A pergunta natural e´ se a rec´ıproca tambe´m e´ verdadeira. A resposta e´ sim (consulte [9] para a prova) e portanto as duas definic¸o˜es sa˜o equivalentes. Outra caracter´ıstica importante das func¸o˜es deH1,2(a, b) e´ que sa˜o func¸o˜es cont´ınuas. Mais precisamente, a classe de equivaleˆncia u ∈ H1,2(a, b) tem um representante cont´ınuo. Teorema 1.14 (i) Toda func¸a˜o em H1,1(a, b) e´ uniformemente cont´ınua em I. Em particular H1,1(a, b) ⊂ C([a, b]) e tem-se sup x∈[a,b] |u| ≤ 1 b− a ∫ b a |u| dx+ ∫ b a |u′| dx. (1.36) Ale´m disso, Teorema Fundamental do Ca´lculo e´ va´lido, ou seja, u(x)− u(y) = ∫ x y u′(t) dt, ∀x, y ∈ I. (ii) Se u ∈ H1,2(a, b), enta˜o u ∈ C0,1/2(a, b) e tem-se sup x∈[a,b] |u| ≤ ( 1 b− a ∫ b a |u|2 dx ) 1 2 + (∫ b a |u′|2 dx ) 1 2 (b− a)1/2. (1.37) Ale´m disso, para todo x, y ∈ [a, b] temos |u(x)− u(y)| ≤ (∫ b a |u′|2 dx ) 1 2 |x− y|1/2. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 49 Prova: Sejam u ∈ H1,2(a, b) e x, y ∈ [a, b]. Enta˜o existe uma sequeˆncia de Cauchy (un) em C 1(a, b) tal que un → u em H1,2(a, b). Queremos aplicar o Teorema de Arzela`-Ascoli (veja Teorema 1.1). Para isto, vamos provar que (un) e´ equicont´ınua e uniformemente limitada em C([a, b]). Como un ∈ C1(a, b), ∀n, tem-se un(x)− un(y) = ∫ x y u′n(t) dt (1.38) o que implica |un(x)− un(y)| ≤ ∣∣∣∣∫ x y |u′n(t)| dt ∣∣∣∣ , (1.39) |un(x)| ≤ |un(y)|+ ∫ b a |u′n(t)| dt. (1.40) Integrando (1.40) com relac¸a˜o a y em (a, b) tem-se |un(x)| ≤ 1 b− a ∫ b a |un| dt+ ∫ b a |u′n| dt. (1.41) Portanto, devemos mostrar que, para E ⊂ (a, b), a famı´lia de func¸o˜es E 7−→ ∫ E |u′n| dx e´ equiabsolutamente cont´ınua, ou seja, ∀� > 0 existe δ > 0 tal que µ(E) < δ ⇒ ∫ E |u′n| dx < �, ∀n ∈ N. (1.42) De fato, usando (1.42) em (1.39) temos que (un) e´ equicont´ınua em C([a, b]). Ale´m disso, como un → u em L2(a, b), logo, e´ uma sequeˆncia limitada na norma || · ||Lp . Este resultado combinado com (1.42) e (1.41) mostram que (un) e´ uniformemente limitada C([a, b]). Para provarmos (1.42), usaremos da propriedade continuidade absoluta da integral de Lebesgue, ou seja, ∀� > 0 existe δ0 > 0 tal que µ(E) < δ0 ⇒ ∫ E |u′| dx < � 4 . (1.43) CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 50 Da convergeˆncia un → u em H1,2(a, b) temos que existe n0 = n0(�) ∈ N tal que n > n0 ⇒ ‖un − u‖H1,2(a,b) < � 4 . Mas, ‖u′n − u′‖L1(I) ≤ ‖un − u‖H1,1(I), o que implica n > n0 ⇒ ∫ b a |u′n − u′| dx < � 4 . Logo, n > n0 ⇒ ∫ E |u′n − u′| dx ≤ ∫ b a |u′n − u′| dx < � 4 . (1.44) Ale´m disso, ∫ E |u′n| dx ≤ ∫ E |u′n − u′| dx+ ∫ E |u′| dx. (1.45) Combinando (1.43), (1.44) e (1.45) obtemos µ(E) < δ0, n > n0 ⇒ ∫ E |u′n| dx < � 2 . (1.46) Usando novamente a propriedade (1.43) da integral de Lebesgue temos que existem δn > 0 tais que, para δ ∗ = min(δ1, δ2, . . . , δn0), µ(E) < δ∗ ⇒ ∫ E |u′n| dx < � 2 , ∀ n = 1, 2, . . . , n0. (1.47) Escolhendo δ = min(δ0, δ ∗) e combinando (1.46) e (1.47) obtemos µ(E) < δ ⇒ ∫ E |u′n| dx < �, ∀ n ∈ N, o que prova (1.42). Portanto, podemos aplicar o Teorema de Arzela´-Ascoli e obter uma subsequeˆncia (uk) de (un) uniformemente convergente, equivalentemente, existe w ∈ C([a, b]) tal que uk → w em C([a, b]) o que implica u = w q.s. Agora, passando o limite em (1.38) e (1.41) para k → ∞, obtemos o Teorema fundamental do Ca´lculo e a estimativa (1.36). E a prova de (i) esta´ completa. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 51 Para provarmos (ii) aplicamos a desigualdade de Ho¨lder em (1.39) e (1.41) para obter |u(x)− u(y)| ≤ ∣∣∣∣∫ x y |u′| dt ∣∣∣∣ ≤ (∫ x y |u′|2 dt ) 1 2 |x− y|1− 12 ≤ (∫ b a |u′|2 dt ) 1 2 |x− y| 12 sup x∈[a,b] |u| ≤ 1 b− a (∫ b a |u|2 dx ) 1 2 (b− a) 12 + (∫ b a |u′|2 dx ) 1 2 (b− a) 12 ≤ ( 1 b− a ∫ b a |u|2 dx ) 1 2 + (∫ b a |u′|2 dx ) 1 2 (b− a) 12 . Observe que o Teorema 1.14 garante que existe uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b] que pertence a classe de equivaleˆncia [u], ou seja, se u ∈ [u] enta˜o u e´ cont´ınua quase sempre. Portanto, para u ∈ H1,2(a, b) podemos definir u(a) e u(b) do seguinte modo: u(a) = lim x→a+ u(x), u(b) = lim x→b− u(x). No que segue, vamos tratar de duas importantes propriedades dos espac¸os de Sobolev: separabilidade e reflexividade. Teorema 1.15 O espac¸o H1,2(I) e´ um espac¸o separa´vel e reflexivo. Prova: Seja X = L2(a, b)× L2(a, b) um espac¸o normado com ‖w‖X = (‖w1‖2L2 + ‖w2‖2L2) 12 , w = (w1, w2) ∈ X. Considere a aplicac¸a˜o T : H1,2(a, b) −→ X dada por Tu = (u, u′). T e´ claramente uma aplicac¸a˜o linear e ∀u ∈ H1,2(a, b) tem-se ‖Tu‖X = ( ‖u‖pLp(I) + ‖u′‖pLp(I) ) 1 p = ‖u‖H1,p(I). Logo, T e´ uma isometria, ou seja, H1,2(a, b) e W = T (H1,2(a, b)) sa˜o isometricamente isomo´rfos e deste modo podemos identificar H1,2(a, b) e W . CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 52 Como H1,2(a, b) e´ um espac¸o completo temos que W e´ um subespac¸o fechado em X. Mas, X e´ separa´vel e reflexivo, pois e´ produto cartesiano de dois espac¸os separa´veis e reflexivos, logo, sabemos que as propriedades de separabilidade e reflexividade sa˜o propriedades herdadas por subespac¸os fechados de espac¸os de Banach. Logo W e´ separa´vel e reflexivo. Portanto H1,2(a, b) tambe´m e´ separa´vel e reflexivo. Uma consequeˆncia deH1,p(a, b) ser separa´vel e´ que podemos encontrar uma sequeˆncia de subconjuntos Vk de H 1,2(a, b) tal que qualquer u ∈ H1,2(a, b) pode ser escrita na forma u = ∞∑ k=1 αkψk com αk ∈ R e ψk ∈ Vk. Teorema 1.16 (Desigualdade de Poincare´) Sejam (a, b) um intervalo limitado e u ∈ H1,p0 (a, b). Enta˜o ‖u‖L2 ≤ (b− a)‖u′‖L2 . Em particular, ‖u‖1,2 = (∫ b a |u′|2 dx ) 1 2 e´ uma norma em H1,20 (a, b) equivalente a ‖ · ‖H1,2. Prova: Se u ∈ H1,20 (a, b), enta˜o |u(x)| = |u(x)− u(a)| = ∣∣∣∣∫ x a u′ dx ∣∣∣∣ ≤ ∫ b a |u′| dx. Pela desigualdade de Ho¨lder tem-se |u(x)| ≤ (b− a)1− 12‖u′‖L2 , e logo, |u(x)|2 ≤ (b− a)‖u′‖2L2(I). (1.48) Integrando (1.48) com relac¸a˜o a x obtemos o resultado desejado. Teorema 1.17 Se (a, b) e´ um intervalo limitado, enta˜o a seguinte imersa˜o e´ com- pacta: H1,2((a, b)) ↪→ C([a, b]). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 53 Prova: Seja (un) uma sequeˆncia limitada em H 1,2(I), isto e´, existe M > 0 tal que ‖un‖1,2 ≤M, ∀n ∈ N. Pelo Teorema 1.14 tem-se |un(x)− un(y)| ≤ (∫ b a |u′n|2 dx ) 1 2 |x− y|1− 12 , ∀x, y ∈ [a, b]. Logo, |un(x)− un(y)| ≤M |x− y| 12 , ∀x, y ∈ [a, b] o que implica ser (un) equicont´ınua. Enta˜o, pelo Teorema de Arzela´-Ascoli existe uma subsequeˆncia (uk) de (un) que converge uniformemente em C([a, b]). Teorema 1.18 Seja (a, b) um intervalo limitado. Enta˜o a seguinte imersa˜o e´ com- pacta: H1,1(a, b) ↪→ Lq(I), 1 ≤ q <∞. Prova: Seja (un) uma sequeˆncia limitada em H 1,1(a, b), isto e´, existe uma con- stante c > 0 tal que ‖un‖H1,1(a,b) ≤ c, ∀n ∈ N. Mostraremos que (un) tem uma subsequeˆncia que converge forte em L q(I). Para isto, lembremos que um subconjunto E de um espac¸o me´trico completo X e´ relati- vamente compacto se, e somente se, para todo � > 0, existe um conjunto finito de pontos {x(�)1 , . . . , x(�)s } tais que E ⊂ s⋃ i=1 B� ( x (�) i ) . Vamos obter um conjunto finito depontos satisfazendo estas condic¸o˜es. Seja `(I) = b − a a medida do intervalo I. Para � > 0 fixo, considere uma subdivisa˜o de (a, b) dada por uma famı´lia de subintervalos I1, . . . , Is tal que `(Ij) = σ < ( � 4c )q para 1 ≤ j ≤ s, int(Ij) ∩ int(In) = ∅ para j 6= n. Seja un,Ij = 1 σ ∫ Ij un dx, ∀n, ∀j. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 54 Enta˜o, |un,Ij | ≤ 1 σ ∫ Ij |un| dx ≤ 1 σ s∑ j=1 ∫ Ij |un| dx ≤ 1 σ ∫ I |un| dx ≤ 1 σ ‖un‖H1,1(I) ≤ c σ . Considere a famı´lia G de func¸o˜es simples do tipo g(x) = n1�χ1 + . . .+ ns�χs com n1, . . . , ns, inteiros em (−M,M), M > c �σ e χj a func¸a˜o caracter´ıstica de Ij. Mostraremos que existe g ∈ G tal que ‖un − g‖Lp < �. Considere a func¸a˜o u∗n = n∑ j=1 un,Ijχj. Pela desigualdade de Poincare´ e pela relac¸a˜o (1.36) obtemos∫ I |un − u∗n|q dx ≤ s∑ j=1 ∫ Ij |un − u∗n|q dx = s∑ j=1 ∫ Ij |un − un,Ij |q dx ≤ s∑ j=1 ( sup Ij |un − un,Ij | )q−1 ∫ Ij |un − un,Ij | dx ≤ s∑ j=1 ( 1 σ ∫ Ij |un − un,Ij | dx+ ∫ Ij |u′n| dx )q−1 σ ∫ Ij |u′n| dx ≤ s∑ j=1 ( 1 σ σ ∫ Ij |u′n| dx+ ∫ Ij |u′n| dx )q−1 σ ∫ Ij |u′n| dx ≤ s∑ j=1 ( 2 ∫ Ij |u′n| dx )q−1 σ ∫ Ij |u′n| dx ≤ σ2q−1 s∑ j=1 (∫ Ij |u′n| dx )q ≤ σ2q−1 (∫ I |u′n| dx )q ≤ σ2q−1cq. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 55 Por outro lado, pela definic¸a˜o de G encontramos g ∈ G tal que |g(x)− u∗n(x)| ≤ � 2l 1 q , ∀x ∈ I. Portanto, ‖un − g‖Lq(I) ≤ ‖un − u∗n‖Lq(I) + ‖u∗n − g‖Lq(I) ≤ (2q−1cqσ) 1q + (∫ I ( � 2l 1 q )q dx ) 1 q ≤ 2cσ 1q + � 2l 1 q (∫ I dx ) 1 q ≤ 2c ([ � 4c ] 1 q )q + � 2l 1 q l 1 q ≤ � 2 + � 2 = �. 1.4 Absolutamente cont´ınuas Para o caso unidimensional a noc¸a˜o de derivada freca esta´ relacionada com a noc¸a˜o de func¸a˜o absolutamente cont´ınua. Relembremos a definic¸a˜o de func¸a˜o absolutamente cont´ınua3: Definic¸a˜o 1.33 (Func¸a˜o Absolutamente Cont´ınua) Uma func¸a˜o f : [a, b] → R e´ absolutamente cont´ınua em [a, b] se ∀ε > 0 existe δ > 0 tal que para toda colec¸a˜o finita de intervalos abertos, disjuntos dois a dois {(ak, bk)}nk=1 com n∑ k=1 (bk − ak) < δ tem-se n∑ k=1 |f(bk)− f(ak)| < ε (1.49) Representaremos por AC(a, b) o espac¸o das func¸o˜es absolutamente cont´ınua em (a, b). Exemplo 1.20 Toda func¸a˜o absolutamente cont´ınua e´ uniformente cont´ınua. De fato, basta considerar um u´nico subintervalo (a1, b1) tal que b1 − a1 < δ. 3consulte [11, cap´ıtulo 9] CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 56 Por outro lado, sabemos que se u ∈ H1,1(a, b) enta˜o, para todo x, y ∈ [a, b], u(x)− u(y) = ∫ x y u′(t) dt. Logo, u(x+ h)− u(y) h = 1 h ∫ x+h x u′(t) dt. (1.50) Aplicando o Teorema da diferenciac¸a˜o de Lebesgue em (1.50) conclu´ımos que u e´ diferencia´vel q.s em [a, b] no sentido cla´ssico, ou seja, lim h→0 u(x+ h)− u(y) h = u′(x) q.s em [a, b]. Em resumo, Teorema 1.19 Se u ∈ H1,1(a, b) enta˜o u e´ uma func¸a˜o de classe C([a, b]), difer- encia´vel q.s no sentido cla´ssico e sua derivada cla´ssica u′ coincide q.s. com sua derivada fraca w ∈ L1(a, b). Ale´m disso, vale o Teorema Fundamental do Ca´lculo u(x)− u(y) = ∫ x y w(t) dt, ∀x, y ∈ [a, b]. (1.51) Teorema 1.20 Se u ∈ H1,1(a, b) enta˜o u(x) e´ uma func¸a˜o absolutamente cont´ınua. Prova: Pelo Teorema 1.19 temos que a derivada fraca w(x) de u(x) pertence ao L1(a, b) e, portanto a func¸a˜o h(x) = ∫ x a w(s) ds esta´ bem definida, h(x) e´ absoluta- mente cont´ınua e h′(x) = w(x) q.s. (consulte [11, cap´ıtulo 9]). Considere ϕ ∈ C10([a, b]) e use integrac¸a˜o por partes para obter∫ b a h(x)ϕ′(x) dx = − ∫ b a h′(x)ϕ(x) dx = − ∫ b a w(x)ϕ(x) dx (1.52) Mas, u′(x) e´ a derivada fraca de u(x) e logo satisfaz (1.30). Combinando (1.30) e (1.52) obtemos ∫ b a (u− h)ϕ′ dx = 0. Por outro lado, u e h sa˜o diferencia´veis q.s e portanto∫ b a (u− h)′ ϕdx = 0, ∀ϕ ∈ C10([a, b]). CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 57 Pelo Lema variacional 1.6 tem-se (u(x) − h(x))′ = 0 q.s. Logo, u(x) = h(x) + C, o que implica u(x) ser absolutamente cont´ınua. Observe que o Teorema 1.20 afirma que H1,1(a, b) ⊂ AC(a, b), ou seja, toda func¸a˜o de H1,1(a, b), a menos de um conjunto de medida nula, e´ absolutamente cont´ınua. Por outro lado, se u ∈ AC(a, b) temos que u tem derivada cla´ssica q.s que pertence a L1(a, b) e considerada como func¸a˜o de L1(a, b) e´ a derivada fraca de u, portanto AC(a, b) ⊂ H1,1(a, b). Em resumo, Teorema 1.21 AC(a, b) = H1,1(a, b). Ale´m disso, vale (1.51) e podemos dizer que as func¸o˜es de H1,2(a, b) sa˜o as primitivas das func¸o˜es de L2(a, b). Os espac¸os Hm,p(Ω) e Hm,p0 (Ω) Vamos introduzir os espac¸os de Sobolev para func¸o˜es definidas no domı´nio aberto Ω do Rn, n ≥ 1. Para isto vamos considerar a seguinte notac¸a˜o: Considere Zn+ o conjunto das n-uplas de inteiros na˜o negativos α = (α1, α2, · · · , αn) com αj ∈ Z+. Representaremos |α| = n∑ j=1 αj e por D αu a derivada parcial Dαu = ∂|α|u ∂xα11 ∂x α2 2 · · · ∂xαnn Por exemplo, para n = 3, α = (1, 0, 3) temos |α| = 4 e Dαu = ∂4u ∂xα1∂yα2∂zα3 Representaremos por ∑ 0≤|α|≤m Dαu a soma das derivadas parciais de u de ordem m (incluindo m). Por exemplo, na˜o e´ complicado obter que∑ 0≤|α|≤2 Dαu = ∂2u ∂x2 + ∂2u ∂x∂y + ∂2u ∂y2 + ∂u ∂x + ∂u ∂y + u. CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 58 Regularidade da fronteira Sejam x0 ∈ ∂Ω, B�(x0) = {x ∈ Rn ; |x− x0| < �} e (ξ1, ξ2, · · · , ξn) um sistema de coordenadas tal que o segmento ∂Ω ∩B�(x0) pode ser representado na forma ξj = φ(ξ1, ξ2, · · · , ξj−1, ξj+1, · · · , ξn), para algum j Enta˜o o grau de regularidade de ∂Ω em x0 e´ medido pela diferenciabilidade da func¸a˜o φ em x0. Definic¸a˜o 1.34 (a) Dizemos que ∂Ω e´ de classe Cm se a func¸a˜o φ ∈ Cm para todo x0 ∈ ∂Ω; (b) Dizemos que ∂Ω e´ “Lipschitz” se a func¸a˜o φ satisfaz a condic¸a˜o de Lipschitz: para todo x0, y0 ∈ ∂Ω, existe uma constante k > 0 tal que |φ(ξ(x0)− φ(ξ(y0)| < k|x0 − y0|. Exemplo 1.21 Vamos considerar alguns exemplos no plano R2. (a) Um triaˆngulo e´ um domı´nio lipschitz mas na˜o de classe C1. (b) Um disco e´ um domı´nio de classe C1. (c) Se Ω e´ obtido removendo-se da bola B1(0) o subconjunto S = (−1, 0] × {0} enta˜o Ω na˜o e´ Lipschitz. Como o espac¸o Cm(Ω) e´ incompleto com a norma ||u||m,p = ∑ 0≤|α|≤m ∫ Ω |Dαu(x)|p dx 1/p = ∑ 0≤α|≤m ||Dαu||pp 1/p , (1.53) enta˜o, pelo Teorema 1.13, podemos definir o seu completamento: Definic¸a˜o 1.35 O espac¸o Hm,p(Ω) e´ o completamento de ( Cm(Ω), || · ||m,p ) . CVaz To´picos do Ca´lculo Variacional 59 Portanto, se u ∈ Hm,p(Ω) enta˜o existe uma sequ¨eˆncia de Cauchy (un) em Cm(Ω) tal que lim n,k→∞ ||un − uk||m,p = 0 Logo usando-se (1.53) para qualquer multi-´ındice α, |α| ≤ m, temos que ||Dαun −Dαuk||p ≤ ||un − uk||m,p (1.54) Deste modo para o multi-´ındice α = (0, 0, · · · , 0) temos por (1.54) que (un) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy em Lp(Ω). Mas o espac¸o Lp(Ω) e´ completo e logo existe um elemento u´nico u ∈ Lp(Ω) tal que u = lim n→∞ un em L p(Ω). Agora. para outro multi-´ındice α, 1 ≤ |α| ≤ m, fo´rmula (1.54) implica que (Dαun) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy em Lp(Ω) e como este espac¸o e´ completo temos que existe um u´nico elemento wα ∈ Lp(Ω) tal que wα = lim n→∞ Dαun em L p(Ω). Ale´m disso, o elemento wα e´ determinado unicamente por u e na˜o depende da escolha da sequ¨eˆncia (un) que aproxima u. O elemento wα e´ chamado α-e´sima derivada generalizada da func¸a˜o u e representa-se por Dαu. A derivada generalizada Dαu pode
Compartilhar