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[37850 179098]AULA1 ControledeConstitucionalidade1

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Profª Alessandra Malheiros Fava da Silva
Direito Constitucional Econômico e Processo Constitucional
Controle de Constitucionalidade Aula 1
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:
 	O legislador constituinte originário criou mecanismos por meios dos quais se controlam os atos normativos verificando sua submissão aos preceitos previstos na “lei maior”.
 	 A ideia de controle pressupoe um escalonamento normativo onde a Constituição ocupa o grau máximo na relação hierárquica caracaterizando-se como norma de validade para os demais atos normativos do sistema.
 *** Princípio da Supremacia da Constituição significa que a Constituição se coloca no vértice só sistema jurídico do país. As normas de grau inferior somente terão validade se forem compatíveis com a norma de grau superior, a Constituição.
Piramide de Kelsen
A inconstitucionalidade das leis e a regra geral da teoria da nulidade:
 	
 	 A maioria da doutrina brasileira acatou a teoria da nulidade por influência do direito “norte-americano” reputando nula a lei ou ato normativo quando declarada sua inconstitucionalidade, afetando o plano da validade.
 	Trata-se de ato declaratório que reconhece vício pretério, congênito, de nascimento do ato normativo.
 	Cappelletti, ao descrever o sistema “norte-americano”, observa que “... a lei inconstitucional, porque contrária a uma norma superior, é considerada absolutamente nula e, por isto, ineficaz, pelo que o juiz, que exerce o poder de controle, não anula, mas, meramente, declara (preexistente) nulidade da lei inconstitucional”
 	Contra esse entendimento, destaca-se a teoria da anulabilidade da norma inconstitucional defendida por Kelsen e que influenciou a Corte Constitucional austríaca, caracterizando-se como constitutiva a natureza jurídica da decisão que a reconhece.
Segundo Cappelletti, no sistema austríaco, diferentemente do sistema norte-americano da nulidade, “... a Corte Constitucional não declara uma nulidade, mas anula, cassa uma lei que, até o momento em que o pronunciamento da Corte não seja publicado, é válida e eficaz, posto que inconstitucional. Não é só: mas — coisa ainda mais notável — a Corte Constitucional austríaca tem, de resto, o poder discrionário de dispor que a anulação da lei opere somente a partir de uma determinada data posterior de seu pronunciamento, contanto que este diferimento de eficácia constitutiva do pronunciamento não seja superior a um ano...”.
Na linha da teoria da anulabilidade da lei inconstitucional (ineficácia a partir da decisão), no Brasil, em sede doutrinária e minoritária, destacam-se Pontes de Miranda12 e Regina Nery Ferrari.
BREVE ANÁLISE EVOLUTIVA DO SISTEMA BRASILEIRO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Constituição de 1824
No tocante ao sistema brasileiro de controle de constitucionalidade,a Constituição Imperial de 1824 não estabeleceu qualquer sistema de controle, consagrando o dogma da soberania do Parlamento, já que, sob a influência do direito francês (a lei como “expressão da vontade geral”) e do inglês (supremacia do Parlamento), somente o Órgão Legislativo poderia saber o verdadeiro sentido da norma.
Constituição de 1891
A partir da Constituição Republicana de 1891, sob a influência do direito norte-americano, consagra-se, no direito brasileiro, mantida até a CF/88, a técnica de controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo (desde que infraconstitucionais), por qualquer juiz ou tribunal, observadas as regras de competência e organização judiciária. Trata-se do denominado controle difuso de constitucionalidade, repressivo, posterior, ou aberto, pela via de exceção ou defesa, pelo qual a declaração de inconstitucionalidade se implementa de modo incidental (incidenter tantum), prejudicialmente ao mérito.
Constituição de 1934
A Constituição de 1934, mantendo o sistema de controle difuso, estabeleceu, além da ação direta de inconstitucionalidade interventiva, a denominada cláusula de reserva de plenário (a declaração de inconstitucionalidade só poderia ser pela maioria absoluta dos membros do tribunal) e a atribuição ao Senado Federal de competência para suspender a execução, no todo ou em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional por decisão definitiva.
Constituição de 1937
A Constituição de 1937, denominada Polaca, já que elaborada sob a inspiração da Carta ditatorial polonesa de 1935, muito embora tenha mantido o sistema difuso de constitucionalidade, estabeleceu a possibilidade de o Presidente da República influenciar as decisões do Poder Judiciário que declarassem inconstitucional determinada lei, já que, de modo discricionário, poderia submetê-la ao Parlamento para o seu reexame, podendo o Legislativo, pela decisão de 2/3 de ambas as casas tornar sem efeito a declaração de inconstitucionalidade, desde que firmasse a validade da lei. Regras que implicavam inevitável fortalecimento do Executivo
Constituição de 1946
A Constituição de 1946, fruto do movimento de redemocratização e reconstitucionalização instaurado no País, flexibilizou a hipertrofia do Executivo, restaurando a tradição do sistema de controle de constitucionalidade. Através da EC n. 16, de 26.11.1965, criou-se no Brasil uma nova modalidade de ação direta de inconstitucionalidade, de competência originária do STF, para processar e julgar originariamente a representação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, federal ou estadual, a ser proposta, exclusivamente, pelo Procurador Geral da República. Estabeleceu-se, ainda, a possibilidade de controle concentrado em âmbito estadual.
Constituição de 1967 e EC n. 1/69
Esta última regra foi retirada pela Constituição de 1967, embora a EC n. 1/69 tenha previsto o controle de constitucionalidade de lei municipal, em face da Constituição Estadual, para fins de intervenção no Município.
Constituição de 1988
 	A Constituição de 1988, elaborada pela Assembleia Nacional Constituinte convocada pela EC n. 26, de 27.11.1985 (DOU de 28.11.1985), trouxe quatro principais novidades no sistema de controle de constitucionalidade:
 	-Ampliou a legitimação para a propositura da representação de inconstitucionalidade, acabando com o monopólio do Procurador-Geral da República;
 	-Estabeleceu-se a possibilidade de controle de constitucionalidade das omissões legislativas;
 	- Criaç̧ão da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), no parágrafo único do art. 102;
 	- Ampliou a legitimação ativa para o ajuizamento da ADC (ação declaratória de constitucionalidade), igualando aos legitimados da ADI (ação direta de inconstitucionalidade), e estendeu o efeito vinculante, que era previsto de maneira expressa somente para a ADC.
Em relação ao controle concentrado em âmbito federal, ampliou a legitimação para a propositura da representação de inconstitucionalidade, acabando com o monopólio do Procurador-Geral da República. Em consonância com o art. 103 da CF/88, o art. 2º da Lei n. 9.868, de 10.11.1999, legalizando o entendimento jurisprudencial da Suprema Corte, estabelece que a ação direta de inconstitucionalidade poderá ser proposta pelos seguintes legitimados: Presidente da República; Mesa do Senado Federal; Mesa da Câmara dos Deputados; Mesa de Assembleia Legislativa ou Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal; Governador de Estado ou Governador do Distrito Federal; Procurador Geral da República; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; partido político com representação no Congresso Nacional; confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Estabeleceu-se a possibilidade de controle de constitucionalidade das omissões legislativas, seja de forma concentrada (ações diretas de inconstitucionalidade por omissão — ADO, nos termos do art. 103, § 2º), seja de modo inci- dental, pelo controle difuso (mandado
de injunção — MI, na dicção do art. 5º, LXXI).
Nos termos do art. 125, § 2º, os Estados poderão instituir a representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedando, contudo, a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.
Pela primeira vez no ordenamento jurídico brasileiro, facultou-se a criaç̧ão da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), no parágrafo primeiro do art. 102.
Finalmente, a EC n. 45/2004 (Reforma do Judiciário) ampliou a legitimação ativa para o ajuizamento da ADC (ação declaratória de constitucionalidade), igualando aos legitimados da ADI (ação direta de inconstitucionalidade), alinhados no art. 103, e estendeu o efeito vinculante, que era previsto de maneira expressa somente para a ADC, agora, também (apesar do que já dizia o art. 28, parágrafo único, da Lei n. 9.868/99 e da jurisprudência do STF), para a ADI. Tudo caminha para a expressa consagração da ideia de efeito dúplice ou ambivalente entre as duas ações, faltando somente a igualação dos seus objetos.
 Valendo-se das palavras de José Afonso da Silva, “o Brasil seguiu o sistema norte-americano, evoluindo para um sistema misto e peculiar que combina o critério difuso por via de defesa com o critério concentrado por via de ação direta de inconstitucionalidade, incorporando também, agora timidamente, a ação de inconstitucionalidade por omissão (arts. 102, I, a e III, e 103). A outra novidade está em ter reduzido a competência do Supremo Tribunal Federal à matéria constitucional. Isso não o converte em Corte Constitucional. Primeiro porque não é o único órgão jurisdicional competente para o exercício da jurisdição constitucional, já que o sistema perdura fundado no critério difuso, que autoriza qualquer tribunal e juiz a conhecer da prejudicial de inconstitucionalidade, por via de exceção. Segundo, porque a forma de recrutamento de seus membros denuncia que continuará a ser um Tribunal que examinará a questão constitucional com critério puramente técnico-jurídico, mormente porque, como Tribunal, que ainda será, do recurso extraordinário, o modo de levar a seu conhecimento e julgamento as questões constitucionais nos casos concretos, sua preocupação, como é regra no sistema difuso, será dar primazia à solução do caso e, se possível, sem declarar inconstitucionalidades”
ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE:
Inconstitucionalidade por ação e por omissão:
 	Quando a norma infraconstitucional padece do vício de inconstitucionalidade poderá dar-se em razão de ato comissivo ou por omissão do Poder Público.
 	Fala-se, em inconstitucionalidade por ação (positiva ou por atuação), a ensejar a incompatibilidade vertical dos atos inferiores (leis ou atos do Poder Público) com a Constituição, e, em em inconstitucionalidade por omissão, decorrente da inércia legislativa na regulamentação de normas constitucionais de eficácia limitada.
 A inconstitucionalidade por ação pode-se dar:
a) do ponto de vista formal (nomodinâmica) 
Na medida em que o vício formal decorre de afronta ao devido processo legislativo de formação do ato normativo (isso nos dá a ideia de dinamismo, de movimento) ou ainda em razão de sua elaboração por autoridade incompetente.
b) do ponto de vista material (nomoestática) - por ser um vício de matéria, de conteúdo, a ideia que passa é de vício de substância, estático.
Obs.: Pedro Lenza: Vício de decoro parlamentar
Inconstitucionalidade Formal (nomodinâmica)
Inconstitucionalidade formal orgânica: A inconstitucionalidade formal orgânica decorre da inobservância da competência legislativa para a elaboração do ato. Nesse sentido, para se ter um exemplo, o STF entende inconstitucional lei municipal que discipline o uso do cinto de segurança, já que se trata de competência da União, nos termos do art. 22, XI, legislar sobre trânsito e transporte.
Inconstitucionalidade formal propriamente dita: Decorre da inobservância do devido processo legislativo. Trata-se de vício no procedimento de elaboração da norma, verificado em momentos distintos: na fase de iniciativa ou nas fases posteriores.
 	- Vício formal subjetivo: o vício formal subjetivo verifica-se na fase de iniciativa. 
Ex.: Algumas leis são de iniciativa exclusiva (reservada) do Presidente da República, como as que fixam ou modificam os efetivos das Forças Armadas, conforme o art. 61, § 1º, I, da CF/88. Iniciativa privativa, ou melhor, exclusiva ou reservada do Presidente da República.
 	- Vício formal objetivo: o vício formal objetivo será verificado nas demais fases do processo legislativo, posteriores à fase de iniciativa. 
 	Exemplo: uma lei complementar sendo votada por um quorum de maioria relativa quando deveria ser por maioria absoluta.
Inconstitucionalidade formal por violação a pressupostos objetivos do ato normativo:
Ex.: Edição de medida provisória sem a observância dos requisitos da relevância e urgência (art. 62, caput) ou a criação de Municípios por lei estadual sem a observância dos requisitos do art. 18, § 4º.
Vício material ou Nomoestática (de conteúdo, substancial ou doutrinário)
 Diz respeito à “matéria”, ao conteúdo do ato normativo. 
Aquele ato normativo que afrontar qualquer preceito ou princípio da Lei Maior deverá ser declarado inconstitucional, por possuir um vício material. 
Não nos interessa saber aqui o procedimento de elaboração da espécie normativa, mas, de fato, o seu conteúdo. 
Exemplo: uma lei discriminatória que afronta o princípio da igualdade.
MOMENTOS DE CONTROLE:
-Controle prévio ou preventivo: é o controle realizado durante o processo legislativo de formação do ato normativo. 	 
O controle prévio é realizado pelo Legislativo (próprio parlamentar e CCJ- Comissões de Constituição e Justiça), pelo Executivo (veto- art. 66§4º CF/88) e pelo Judiciário (MS impetrado por parlamentar).
Controle posterior ou repressivo: será realizado sobre a lei, e não mais sobre o projeto de lei, como ocorre no controle preventivo.
Os órgãos de controle verificarão se a lei, ou ato normativo, ou qualquer ato com indiscutível caráter normativo, possuem um vício formal ou vício material.
 
Mencionados órgãos variam de acordo com o sistema de controle adotado pelo Estado (país) podendo ser político, jurisdicional, ou híbrido.
Controle político: verifica-se em Estados onde o controle é exercido por um órgão distinto dos três Poderes, órgão esse garantidor da supremacia da Constituição. Tal sistema é comum em países da Europa, como Portugal e Espanha, sendo o controle normalmente realizado pelas Cortes ou Tribunais Constitucionais.
Controle Jurisdicional:
O sistema de controle jurisdicional dos atos normativos é realizado pelo Poder Judiciário, tanto através de um único órgão (controle concentrado) como por qualquer juiz ou tribunal (controle difuso).
O Brasil, como veremos, adotou o sistema jurisdicional misto, porque realizado pelo Poder Judiciário tanto de forma concentrada (controle concentrado) como por qualquer juiz ou tribunal (controle difuso).
Controle híbrido: No controle que chamamos de híbrido, temos uma mistura dos outros dois sistemas jurisdicional e político.
 	Assim, algumas normas são levadas a controle perante um órgão distinto dos três Poderes (controle político), enquanto outras são apreciadas pelo Poder Judiciário (controle jurisdicional).
SISTEMAS E VIAS DE CONTROLE JUDICIAL
Sob o aspecto subjetivo o controle judicial de constitucionalidade poderá ser difuso ou concentrado:
 	O sistema difuso de controle significa a possibilidade de qualquer juiz ou tribunal, observadas as regras de competência, realizar o controle de constitucionalidade. 
 O sistema concentrado,
como o nome já diz, o controle se “concentra” em um ou mais de um (porém em número limitado) órgão. Trata-se de competência originária do referido órgão. 
Sob outra perspectiva, do ponto de vista formal, o sistema poderá ser pela via
incidental ou pela via principal:
 No sistema de controle pela via incidental (também chamado pela via de exceção ou defesa), o controle será exercido como questão prejudicial e premissa lógica do pedido principal. (crítica ao uso da terminologia “pela via de exceção ou defesa”, na medida em que será possível que a via incidental (análise de questão prejudicial) se dê, também, como fundamento da pretensão do autor, desta- cando-se a exemplo do mandado de segurança.)
Já no sistema de controle pela via principal (abstrata ou pela via de “ação”), a análise da constitucionalidade da lei será o objeto principal, autônomo e exclusivo da causa.
***Mesclando as duas classificações, verifica-se que, regra geral, o sistema difuso é exercido pela via incidental e o sistema concentrado é exercido pela via principal.
CONTROLE DIFUSO
O controle difuso, repressivo, ou posterior, é também chamado de controle pela via de exceção ou defesa, ou controle aberto, sendo realizado por qualquer juízo ou tribunal do Poder Judiciário. 
O controle difuso verifica-se em um caso concreto, e a declaração de inconstitucionalidade dá-se de forma incidental (incidenter tantum), prejudicialmente ao exa- me do mérito.
Pede-se algo ao juízo, fundamentando-se na inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ou seja, a alegação de inconstitucionalidade será a causa de pedir processual.
Exemplo: na época do Presidente Collor, os interessados pediam o desbloqueio dos cruzados fundando-se no argumento de que o ato que motivou tal bloqueio era inconstitucional. O pedido principal não era a declaração de inconstitucionalidade, mas sim o desbloqueio!
Controle difuso nos tribunais e a cláusula de reserva de plenário (art. 97 da CF/88)
No tribunal competente, distribuído o processo para uma turma, câmara ou seção (depende da organização interna do tribunal a ser estabelecida em seu regimento interno), verificando-se que existe questionamento incidental sobre a constitucionalidade de lei ou ato normativo, suscita-se uma questão de ordem e a análise da constitucionalidade da lei é remetida ao pleno, ou órgão especial do tribunal, para resolver aquela questão suscitada.
Nesse sentido é que o art. 97 da CF/88 estabelece que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. Temos aqui a chamada cláusula de reserva de plenário.
A regra do art. 97 destaca-se como verdadeira condição de eficácia jurídica da própria declaração de inconstitucionalidade dos atos do Poder Público. Nesse sentido, destaca-se a Súmula Vinculante 10/STF:
“Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”.
No entanto, enaltecendo o princípio da economia processual, da segurança jurídica e na busca da desejada racionalização orgânica da instituição judiciária brasileira, vem-se percebendo a inclinação para a dispensa do procedimento do art. 97 toda vez que já haja decisão do órgão especial ou pleno do tribunal, ou do STF, o guardião da Constituição sobre a matéria.
Obs.: “O STF exerce, por excelência, o controle difuso de constitucionalidade quando do julgamento do recurso extraordinário, tendo os seus colegiados fracionários competência regimental para fazê-lo sem ofensa ao art. 97 da CF” (RE 361.829-ED, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 02.03.2010, 2.a Turma, DJE de 19.03.2010).
EFEITOS DA DECISÃO NO CONTROLE DIFUSO: inter partes
Como regra geral, os efeitos de qualquer sentença valem somente para as partes que litigaram em juízo, não extrapolando os limites estabelecidos na lide.
No momento que a sentença declara que a lei é inconstitucional (controle difuso realizado incidentalmente), produz efeitos pretéritos, atingindo a lei desde a sua edição, tornando-a nula de pleno direito. Produz, portanto, efeitos retroativos.
Assim, no controle difuso, para as partes os efeitos serão: a) inter partes e b) ex tunc.
Cabe alertar, contudo, que o STF já entendeu que, mesmo no controle difuso, poder-se-á dar efeito ex nunc ou pro futuro.
Em relação ao efeito inter partes haveria alguma forma de estender o efeito da decisão para todas as pessoas que estivessem em igual situação?
Existe um mecanismo: Art. 52, X CF/88.
Declarada inconstitucional a lei pelo STF, no controle difuso (recurso extraordinário), desde que tal decisão seja definitiva e deliberada pela maioria absoluta do pleno do tribunal (art. 97 da CF/88), o art. 178 do Regimento Interno do STF (RISTF) estabelece que será feita a comunicação, logo após a decisão, à autoridade ou órgão interessado, bem como, depois do trânsito em julgado, ao Senado Federal, para os efeitos do art. 52, X, da CF/88.
 O art. 52, X, da CF/88, por sua vez, estabelece ser competência privativa do Senado Federal, mediante o instrumento da resolução, suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF.
Em se tratando de lei municipal ou lei estadual confrontadas perante a Consti- tuição Estadual, em face do princípio federativo, “pode e deve o Tribunal de Justiça após declarar a inconstitucionalidade, remeter essa declaração à Assembleia Legislativa para que esta suspenda a execução da lei (evidentemente, nos Estados em que as Constituições confiram essa competência à Assembleia)”.
CONTROLE CONCENTRADO
 O controle concentrado de constitucionalidade de lei ou ato normativo recebe tal denominação pelo fato de “concentrar-se” em um único tribunal. Pode ser verificado em cinco situações:
 	
 	Assim sendo, com base no conceito acima, as normas do ADCT só deveriam vigorar por algum tempo.
 	De fato, alguns dos seus dispositivos nos dão essa impressão, como, por exemplo, o caput do artigo 77, in verbis: Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e serviços públicos de saúde serão equivalentes: (...).
 	Conforme podemos verificar, a referida norma constitucional teve uma vida efêmera, pois, na presente data, já deixou de vigorar. 
 	Por outro lado, diz o artigo 15 da ADCT, in verbis: Fica extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, sendo sua área incorporada ao Estado de Pernambuco.
 	Não há como dizer que o dispositivo acima é uma norma temporária, pelo contrário, ele acaba com as discussões que existiam em torno da propriedade de Fernando de Noronha, passando o ex-Território para os domínios do Estado de Pernambuco de forma definitiva, não apenas por um prazo determinado.
 
Assim, não se pode dizer que:
 O ADCT traz normas de pouca duração ou que se trata de local para normas passageiras, porque seria o mesmo que, a contrario sensu, afirmar que as demais normas são permanentes, o que não é verdade, pois, tirando as Cláusulas Pétreas, todos os demais dispositivos da nossa atual Constituição podem ser modificados pelo poder constituinte derivado reformador, podendo então vir a deixarem de existir. 
 
 	 Desse modo, acredita-se que quando o constituinte originário utilizou-se da expressão “transitória”, ele quis dizer que as referidas normas buscavam a transição de um ordenamento jurídico para outro, uma vez que a Constituição de 1988, decorrente do poder Constituinte originário, que como sabemos é autônomo, fez com que passássemos a ser regidos por outra ordem jurídica totalmente desvinculada
da Constituição anterior.
Função do ADCT:
 	 A função maior da ADCT é justamente fazer uma transição entre o ordenamento jurídico que se vai com o ordenamento jurídico que chega.
O autor francês Paulo Roubier sintetiza a função e utilidade do ADCT ao dizer que “as disposições transitórias  têm por finalidade estabelecer um regime intermediário entre duas leis, permitindo a conciliação das situações jurídicas pendentes com a nova ordem legislativa” (ROUBIER, apud FERRAZ, 1999, p. 56)
FINALIDADE:
 	 
 A maior finalidade do ADCT é fazer um elo de ligação entre duas constituições, evitando, assim, um colapso decorrente da referida transição.
 	Vejamos: O que teria acontecido se o nosso Texto Magno não trouxesse o artigo 19 (conhecido como Trem da Alegria)?
 Porém, a feitura do referido artigo 19 teve suma importância, pois seria nefasto para o andamento da administração pública se todos os funcionários públicos não concursados fossem demitidos, vez que não haveria material humano para tocar o país durante o tempo necessário para a realização de novas seleções públicas.
 Veja que se pode pensar: Porque não os mantiveram por período provisório? Respondem os estudiosos constitucionalistas que o país correria o risco de não se interessarem em continuar um trabalho sem estabilidade.
Resume-se: que os dispositivos do ADCT têm natureza jurídica de normas constitucionais de transição, sejam temporárias ou não.
 
 “Significa que todas as normas contidas numa Constituição formal têm igual dignidade (não há normas só formais, nem hierarquia de supra-infra-ordenação dentro da lei constitucional)”. (CANOTILHO, 1982, p.190)
Da divisão de José Afonso da Silva :
 	José Afonso da Silva (SILVA, 2005, p. 44 e 45) traz uma divisão muito esclarecedora dos elementos das constituições, senão vejamos:
1) Elementos orgânicos, são os elementos que regulam a estrutura do Estado e do Poder, como os dispositivos que regulam as Forças Armadas. 
2) Elementos limitativos, são os que trazem a substância dos direitos e garantias fundamentais, como os direitos individuais e suas garantias. 
3) Elementos Sócio-ideológicos, regulam a relação do Estado individualista com o Estado Social, como o Título que trata Da Ordem Econômica e Financeira. 
4) Elementos de estabilização constitucional, tratam de buscar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, como o Título que regula o Estado de Defesa. 
5) Elementos formais de aplicabilidade, são os que trazem as regras da constituição, como o preâmbulo e a ADCT. 
 
Tendo em vista a divisão apresentada por José Afonso da Silva chega-se à conclusão que considerou as normas do ADCT como regras de aplicabilidade, ou seja, elas ajudariam a Constituição de 1988 a ter eficácia. 
 
 
 	As regras transitórias em tela protegem o novo ordenamento jurídico, elas dão uma base de sustentação para que os dispositivos constitucionais possam vir a ser aplicados, haja vista que só um ordenamento jurídico em perfeito funcionamento é capaz de suportar novas regras.
As normas das disposições transitórias fazem parte integrante da Constituição. Tendo sido elaboradas e promulgadas pelo constituinte, revestem-se do mesmo valor jurídico da parte permanente da Constituição (SILVA, 1982, p.190). 
 		Se o fim precípuo do ADCT é evitar um colapso entre um ordenamento jurídico e outro não teria o mínimo sentido qualquer modificação nas suas normas após a sua criação, uma vez que só existe mudança no ordenamento jurídico quando uma nova constituição é criada.
 	Acontece que boa parte das nossas emendas constitucionais modificou os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, como as de número 10, 21 e 29.
A mutabilidade do ADCT:
Não existe dúvida de que o Supremo Tribunal Federal – STF aceita a possibilidade do ADCT ser modificado, caso contrário muitas emendas constitucionais teriam sido declaradas inconstitucionais. Mas qual é a explicação para esse fenômeno? 
 	As normas inseridas nas referidas disposições são normas constitucionais, de modo que não existe hierarquia entre elas e os demais dispositivos da Carta Magna brasileira. Desta feita, ao que parece, elas só poderiam não ser modificadas se estivessem inseridas dentre as Cláusulas Pétreas, pois elas teriam mais “força” ou mais importância do que as demais normas constitucionais. 
Acontece que se o ADCT tem como função evitar um colapso quando da mudança de ordenamento jurídico não deveria haver utilidade em suas normas serem alteradas, ou seja, essas modificações desvirtuam o fim do instituto. Nesse sentido, Anna Cândida da Cunha Ferraz, após reconhecer a possibilidade das Disposições Transitórias serem reformadas, afirma que elas enfrentam o seguinte limite: o da compatibilidade da “modificação” com a “finalidade” do regramento contido em suas disposições.(FERRAZ, 1999, p.60).
 
 	Se a finalidade da ADCT é trazer normas com fito de fazer uma tranquila transição entre um ordenamento jurídico e outro, poderemos considerar que as emendas não poderão inserir normas com outros objetivos. 
 
 	As emendas devem respeitar o ato jurídico perfeito, não podendo alterar as normas das Disposições Transitórias que já surtiram efeito. Como o já citado artigo 48, uma vez que o Código de Defesa do Consumidor já foi criado. Pensar de outra seria ferir um dos mais comezinhos princípios do Direito, qual seja, o da segurança jurídica.

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