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11 Beatriz Oliveira Leão Carneiro Nathália da Costa Sousa PEDIATRIA I PUERICULTURA 2 SUMÁRIO PUERICULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2. Avaliação do crescimento e do estado nutricional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.1. Curvas de referência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3. Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 3.1. Desenvolvimento sensorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.2. Desenvolvimento motor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.3. Marcos do desenvolvimento neuropsicomotor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.4. Desenvolvimento cognitivo-emocional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 4. Alimentação na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 5. Incentivo à prática de atividade física . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Mapa mental . Diagnósticos de normalidade formulados na consulta pediátrica . 26 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Questões comentadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3 PUERICULTURA O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Diagnósticos de normalidade em pediatria: CEVADA. u Avaliação do estado nutricional e do crescimento: curvas da OMS e do Intergrowth 21st para prematuros. u Ganho esperado de peso, comprimento e perímetro cefálico no primeiro ano de vida. u Quando desaparecem os reflexos primitivos. u Os principais marcos do desenvolvimento de cada faixa etária. u Orientação alimentar adequada de acordo com a idade. 1. INTRODUÇÃO BASES DA MEDICINA Um conceito importante que você deve ter em mente quando começa a estudar a pediatria é que a infância pode ser dividida em cinco etapas, que apresentam caracterís- ticas próprias com relação aos cuidados que devem ser depreendidos nas consultas de seguimento e as principais doenças intercorrentes: W Recém-nascido: 0 a 28 dias. W Lactente: 29 dias a 2 anos. W Pré-escolar: 2 a 7 anos. W Escolar: 7 a 10 anos. W Adolescente: 10 a 20 anos incompletos (19 anos, 11 meses e 29 dias). A puericultura é a consulta médica periódica que permite o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento das crianças, apresentando como enfoques: a promoção e a preservação da saúde, a recuperação da criança doente e sua integração na sociedade. Tem por objetivo fornecer assistência de forma integrada e de qualidade, realizando a vigilân- cia do crescimento e do desenvolvimento, monito- rando os fatores de risco ao nascer e os evolutivos, estimulando o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida, complementado até os dois anos de vida, e garantindo a aplicação das vacinas do esquema básico de imunização. Antigamente, a puericultura tinha um caráter meramente educativo, e o médico ditava as condutas mais adequadas para as famílias; mas, atualmente, entendemos que é fundamental construir um bom vínculo familiar para estabelecer, em conjunto com a família, um plano terapêutico e de seguimento da criança que faça sentido. A criança necessita de consultas mais frequentes para que se identifiquem precocemente condições de risco ou desvios da normalidade no processo de crescimento e desenvolvimento. A rotina mínima de consultas preconizada pelo Ministério da Saúde é um pouco diferente da rotina preconizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (Tabela 1). importância/prevalência Puericultura 4 Pediatria Geral Tabela 1. Rotina de consultas de puericultura de acordo com o Ministério da Saúde e com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Ministério da Saúde Sociedade Brasileira de Pediatria Sala de parto/ alta neonatal Sala de parto/ alta neonatal Primeira semana de vida Primeira ou segunda semana de vida 1º mês de vida Mensal até 6 meses 2 meses de vida Trimestral até 2 anos 4 meses de vida Semestral até 5 anos 6 meses de vida Anual dos 5 aos 19 anos 9 meses de vida 12 meses de vida 2 consultas no 2º ano de vida (18 e 24 meses) Anual a partir do 2º ano de vida Fonte: Campos Jr1. A primeira anamnese da puericultura deve ser completa, rastreando todos os possíveis fatores de risco para aquela criança e entendendo a dinâ- mica familiar e o ambiente em que aquela família está inserida (Fluxograma 1). Durante as consultas subsequentes, o pediatra deve avaliar e monitorar todos os aspectos do dia a dia da criança, os quais possam implicar problemas em seu crescimento e desenvolvimento (Quadro 1). Puericultura 5 Antecedentes familiares; Antecedentes pessoais: Gestação: uso de medicamentos, número de consultas no pré-natal, doenças; Nascimento: tipo de parto, motivo do parto, peso e comprimento ao nascer; Período neonatal: tempo de permanência na unidade neonatal, doenças; Patológicos: idade de aparecimento das doenças, duração e tratamentos recebidos, acidentes, cirurgias, internações; Alimentares: período de amamentação exclusiva com leite materno, início e motivo do desmame, época de introdução de alimentos complementares ao leite materno e quais, aceitação dos alimentos, se há intolerância alimentar. Identificação; História atual; Interrogatório sintomatológico. Hábitos Atuais: Alimentares: quem ajuda a criança a comer/ como ela se alimenta, descrição do dia alimentar (detalhar horários e composição de todas as refeições); Intestinais e urinários: frequência e características; Sono: períodos de sono, despertares noturnos, em que quarto e cama dorme, quem a coloca para dormir, se há problemas relacionados ao sono ou à hora de dormir; Banho corporal: número de vezes, produtos utilizados; Higiene bucal: como é realizada a limpeza da boca/ escovação dentária; Lazer e tempo de tela: quais brinquedos mais utiliza, com quem brinca, tempo de uso de telas, frequência de passeios. Desenvolvimento Neuropsicomotor (DPNM): Habilidades motoras (grosseira e fina): época de aparecimento; Aquisição de linguagem (gestual e verbal); Controle esfincteriano; Desenvolvimento socioafetivo: com familiares, amigos e no ambiente escolar. Antecedentes vacinais: Quais já foram aplicadas, número de doses, idade em que foram aplicadas; Questionar acompanhante sobre efeitos adversos (locais e/ou sistêmicos) de cada vacina; Relacionamentos familiares: Relação entre os pais, se a criança foi planejada, significado da criança na vida dos pais; Se pais separados, perguntar de quem é a guarda e como a criança lida com isso; Como os pais dividem o cuidado com a criança; Outros familiares que participam da vida da criança. Habitação: Características do bairro e da rua; Características da casa: • FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS INFECTO-PARASITÁRIAS: relação pessoa-cômodo ≥ 3, ausência de água tratada e esgoto não tratatado; • FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: ventilação inadequada, umidade, poeira associa a diver- sos efeitos benéficos, tanto fisiológicos (como o aumento do volume de ejeção cardíaca, a redução da pressão arterial, o aumento da sensibilidade à insulina, a melhora do perfil lipídico e o aumento da mineralização óssea) quanto psicossociais, como a melhora da cognição e da autoestima. A realiza- ção de atividade física na infância e adolescência contribui para o enfrentamento da obesidade não só pela atuação no equilíbrio do balanço energético, mas também pela instituição do hábito da prática de atividade física, já que jovens ativos se tornam adultos ativos e com menor risco de obesidade e doenças relacionadas. As recomendações quanto ao tipo e à duração da atividade física variam conforme a faixa etária e estão descritas na Tabela 13. Nos dias de hoje, é comum um excesso de atividades sedentárias relacionadas à exposição a telas (televisão, tablet, computador, celular), por isso, a Sociedade Brasi- leira de Pediatria recomenda que o tempo de uso de telas seja de ZERO para lactentes até dois anos, de 1 hora/dia para crianças de 2 a 5 anos (sempre com supervisão), de 1 a 2 horas/dia entre 6 e 10 anos (com supervisão) e idealmente de no máximo 2 a 3 horas/dia para adolescentes de 11 a 18 anos, excetuando-se o tempo gasto para a realização das atividades escolares. Os pais também não devem permitir que as crianças e os adolescentes fiquem isolados nos quartos enquanto fazem uso de telas. Além disso, é recomendado para todas as idades a proibição de telas durante as refeições e desco- nectar 1 a 2 horas antes de dormir. Todas essas orientações visam evitar a dependência digital, problemas de saúde mental, transtornos do déficit de atenção e hiperatividade, transtornos do sono, transtornos de alimentação, sedentarismo, bullying e cyberbullying. Puericultura 25 Tabela 13. Recomendações de prática de atividade física em crianças e adolescentes. Faixa etária Duração Tipo de atividade 0-2 anos 180 min/dia Curtos períodos várias vezes ao dia Atividades leves ou intensas de acordo com seu DNPM*: ficar de pé, rolar, brincar, saltar, pular e correr. 3-5 anos 180 min/dia Brincadeiras ativas: bicicleta, jogos com bola, “pega-pega”. Atividade física estruturada: natação, esportes coletivos, lutas. 6-19 anos 60 min/dia de atividade física moderada vigorosa Escolher a atividade que mais o agrada, sendo a atividade: Vigorosa: 3 vezes/semana Flexível: 3 vezes/semana DNPM: desenvolvimento neuropsicomotor. Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria6. Puericultura 26 Pediatria geral Crescimento Curva estatura/idade Alimentação Adequada ou não Estado nutricional Curvas peso/ idade, peso/ estatura e IMC/idade Desenvolvimento neuropsicomotor Reflexos primitivos e marcos do DNPM Vacinação Puericultura Em dia ou atrasada de acordo com o PNI Ambiente físico e emocional Adequado ou não Mapa mental. Diagnósticos de normalidade formulados na consulta pediátrica. Puericultura 27 REFERÊNCIAS 1. Campos Júnior D, Burns DAR, Lopez FA (orgs). Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. São Paulo: Editora Manole; 2017. 2. Kliegman RM, Stanton BF, St Geme III JW, Schor NF, Behrman RE. Nelson Tratado de Pediatria. 18. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009. 3. WHO. The WHO Child Growth Standards. WHO. [Internet]; 2015. [acesso em 07 nov 2019]. Disponível em: https:// www.who.int/childgrowth/en/. 4. Ministério da Saúde (BR). Caderneta de Saúde da Criança. 2. ed. Brasil; 2020. Versão eletrônica. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 6. Sociedade Brasileira de Pediatria. Grupo de Trabalho em Atividades Físicas. Promoção da atividade física na infân- cia e adolescência. Manual de Orientação do Grupo de Trabalho em Atividades Físicas. Rio de Janeiro: SBP; 2017. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Associação Brasileira de Odontopediatria. Manual de refe- rência para procedimentos clínicos em Odontopediatria. São Paulo: Associação Brasileira de Odontopediatria; 2009. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Bucal. Cadernos de Atenção Básica; 2006. Departamento Científico de Nutrologia. A alimentação com- plementar e o método BLW. Guia prático de atualização do departa-mento científico de nutrologia. Sociedade Brasileira de Pediatria. 2017; 1-6. Ministério da Saúde (BR). Manual de condutas gerais do Pro- grama Nacional de Suplementação de Vitamina A. Brasília: Ministé-rio da Saúde; 2013. Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo. Manual de acom- panhamento da criança. [Internet]; 2015. [acesso em 09/2020]. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/ perfil/gestor/homepage/programa--de-fortalecimento-da-ges- tao-da-saude-no-estado-de--sao-paulo/consultas-publicas/ manual_de_acompanhamento_da_crianca.pdf. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento científico de endocrinologia. Guia prático de atualização: Hipovitaminose D em pediatria: recomendações para o diagnóstico, tratamento e prevenção. Rio de Janeiro: SBP; 2016. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. Manual de Alimentação: orientações para alimenta-ção do lactente ao adolescente, na escola, na ges- tante, na prevenção de doenças e segurança alimentar. 4. ed. São Paulo: SBP; 2018. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento científico de Nutrologia. Guia prático de atualização: Vegetarianismo na infân-cia e adolescência. Rio de Janeiro: SBP; 2017. Sociedade Brasileira de Pediatria. Global Child Dental Fund. Guia de Saúde Oral Materno-infantil. 2018. Sociedade Brasileira de Pediatria. Grupo de trabalho saúde na era digital. Manual de Orientação. #Menos telas #Mais saúde. Dezembro de 2019. Sucupira ACSL. Pediatria em consultório. 5. ed. São Paulo: Sarvier; 2010. Puericultura 28 Pediatria Geral QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE – SP – 2022) Quanto à avaliação nutrológica em pediatria, assinale a al- ternativa correta. ⮦ No primeiro trimestre espera-se um ganho de peso de 400 g/mês. ⮧ Ao final do primeiro ano, o lactente deve ter au- mentado 50% da estatura de nascimento. ⮨ Considerando-se perímetro cefálico adequado os valores que compreendem os escores de Z -3 a +3. ⮩ Até os 3 anos de idade deve-se aferir o compri- mento com a criança em decúbito dorsal. ⮪ Considera-se baixa estatura crianças no escore Z entre 0 e -3. Questão 2 (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR – 2022) Em rela- ção aos reflexos primitivos e posturais da criança, o reflexo presente em uma criança normal aos 3 anos de idade é: ⮦ Reflexo de Moro. ⮧ Reflexo de preensão plantar. ⮨ Reflexo tônico-cervical assimétrico. ⮩ Marcha automática. ⮪ Reflexo do paraquedista. Questão 3 (FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP – 2021) Mãe traz fi- lha de 10 meses de idade à consulta e diz que está orgulhosa, pois ela come bem e todos a acham “fofinha”. Criança nascida a termo, em aleitamen- to materno exclusivo até os 6 meses, atualmente mantém aleitamento e alimentação complemen- tar. Mãe nega oferta de alimentos adoçados ou in- dustrializados e afirma que a criança “nunca está satisfeita”. Nega comorbidades conhecidas. Nega casos de obesidade ou doenças endocrinológicas na família. Ao exame: lactente sem dismorfismos faciais, ativa, normocorada, hidratada, eupneica. Ausculta cardiopulmonar e exame abdominal sem alterações. Estatura: 70cm; peso: 12kg; IMC = 23 kg/ m². Analisando o caso e o gráfico abaixo, respon- da as questões a seguir: Conforme gráfico da OMS de índice de massa corporal versus idade, qual é a classificação nutricional desta paciente? Puericultura 29 ⮦ Sobrepeso. ⮧ Obesidade grave. ⮨ Obesidade. ⮩ Eutrófica para a idade. Questão 4 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - DISTRITO FEDERAL – 2021) Certo recém-nascido (RN) a termo, de parto vagi- nal, com peso ao nascimento de 3.200 gramas, é encaminhado à consulta de puericultura aos sete dias de vida, em aleitamento materno exclusivo. A lactante relata dor extrema ao amamentar. O peso atual do paciente é de 2.600 gramas. Com base nesse caso clínico e nos conhecimentos médicos correlatos, julgue os itens a seguir: A perda de peso do paciente indica que o leite está fraco. ⮦ CERTO. ⮧ ERRADO. Questão 5 (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – RS – 2021) Em relação à introdução da alimentação complementar ao aleitamento materno, aos seis meses de idade, está correto afirmar que: ⮦ A papa principal inicialmente deve ser peneirada ou liquidificada, passando a ser posteriormente amassada com o garfo. ⮧ A papa principal pode conter alimentos de todos os grupos alimentares, com exceção do ovo que deve ser sempre introduzido após um ano de idade pelo risco de desencadear alergia. ⮨ Os pais devem adotar esquemas mais rígidos, como horários e quantidades fixas, para evitar prejuízo ao aleitamento materno. ⮩ É comum o lactente rejeitar alimentos que não lhe são familiares, sendo necessários, em al- gumas situações, várias exposições para uma plena aceitação. Questão 6 (AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR – 2021) A mãe de uma criança de 8 meses, que está em consulta de rotina na UBS, pergunta ao pediatra se pode oferecer mel na alimentação de seu filho que Puericultura 30 Pediatria Geral está com tosse há 3 dias. O pediatra explica que o mel está contraindicado para crianças abaixo de 1 ano de idade devido ao risco de: ⮦ Leptospirose. ⮧ Shiguelose. ⮨ Botulismo. ⮩ Salmonelose. Questão 7 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - DISTRITO FEDERAL – 2021) Um paciente de 30 dias de vida, nascido a termo, de parto vaginal, sem intercorrências, é encami- nhado à consulta de puericultura. Encontra-se em aleitamento materno exclusivo. Ao nascimento, pesou 2.500 g. Na consulta, estava com 3.500 g. A respeito desse caso clínico e considerando os conhecimentos médicos correlatos, julgue os itens a seguir: O paciente apresenta um ganho de peso diário insuficiente para a idade. ⮦ CERTO. ⮧ ERRADO. Questão 8 (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE TERESÓPOLIS COSTANTINO OTTA- VIANO – RJ – 2021) Aos 3 meses de vida, uma criança em aleitamento materno exclusivo comparece ao posto de saúde para consulta de rotina. Tem his- tória confirmada por exame laboratorial que a mãe teve infecção por Zika no último mês de gestação e ela está apreensiva com o crescimento da cabe- ça da criança. Ao nascer, a menina pesou 2780g e perímetro cefálico de 33cm. Os dados atuais são: peso de 4880g e perímetro cefálico de 39cm. Qual a melhor conduta quanto ao crescimento da menina? ⮦ Referenciar imediatamente por atraso no cres- cimento do perímetro cefálico. ⮧ Reavaliar em 15 dias, pois ambos peso e perí- metro cefálico estão baixos. ⮨ Reagendar em 1 semana por apresentar baixo ganho ponderal. ⮩ Considerar crescimento somático normal e tran- quilizar a mãe. ⮪ Solicitar RNM para complementar avaliação já que o perímetro cefálico esta pequeno para a idade. Questão 9 (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FAMEMA – SP – 2021) Em relação aos marcos de desenvolvimento de uma criança na faixa etária de 7 meses, assinale a opção correta. ⮦ Em decúbito dorsal levanta a cabeça, perma- nece sentada sem apoio, sacode o chocalho e troca de mão. ⮧ Da posição sentada passa a postura de pé, apre- senta duplicidade de sílabas no balbucio. ⮨ Permanece de pé, responde ao seu nome, pro- nuncia as primeiras palavras. ⮩ É capaz de realizar a preensão com o polegar e o indicador, engatinha e imita sons. Questão 10 (AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR – 2021) A avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor é fundamental para a assistência infantil em todas as suas fases. Em relação às fases do desenvol- vimento normal da criança, é correto afirmar que: ⮦ Aos 4 meses rola sobre seu eixo e senta com apoio, inclina-se com as mãos à frente, dorso curvado; suporta mais peso; dá saltinhos. Trans- fere objeto de uma mão à outra. ⮧ Aos dez meses senta-se sozinho e sem apoio com dorso ereto por tempo indefinido e se lo- comove para os lados apoiando-se nos móveis. Engatinha. Pega objetos com movimento de pinça e solta objeto em sua mão. Brinca de es- conde e acha. ⮨ Aos 12 meses levanta-se sozinho. Anda com uma das mãos apoiadas, pega com movimento de pinça e entrega objetos sob solicitação, anda sozinho, escala as escadas. Faz torre de 3 cubos. ⮩ Aos 18 meses corre bem, sobe e desce escadas um degrau de cada vez, abre portas, escala os móveis e pula. Forma frases com 3 palavras. Puericultura 31 GABARITO E COMENTÁRIOS Questão 1 dificuldade: Y Dica do professor: Questão que aborda diversos conhecimentos acerca das avaliações nutrológica e pediátrica, um dos principais parâmetros avaliados nas consultas de rotina. A melhor forma de avaliar se o crescimento e o estado nutricional estão ade- quados é por meio das curvas de referências, sendo as mais utilizadas as curvas da Organização Mun- dial de Saúde (OMS). Entretanto, principalmente no primeiro ano de vida, também avaliamos o ganho pondero-estatural e de perímetro cefálico de acor- do com tabelas normativas dos ganhos esperados ao longo dos primeiros trimestres de vida. Vamos às alternativas: Alternativa A: INCORRETA. No primeiro trimestre espe- ra-se um ganho ponderal de 900 g/mês ou 30g/dia. No segundo trimestre o ganho deve ser de 600g/ mês (20g/dia), no terceiro trimestre de 500g/mês (15g/dia) e é apenas no quarto trimestre, entre 9 e 12 meses de vida, que o ganho ponderal mensal esperado é de 400g (12 g/dia). Alternativa B: CORRETA. No nascimento, o compri- mento esperado é de cerca de 50 cm para meninos e 49 cm para meninas. Já o ganho estatural espe- rado é de 3,5cm/mês no primeiro trimestre, 2 cm/ mês no segundo trimestre, 1,5 cm/mês no tercei- ro trimestre e 1,2 cm/mês no quarto trimestre. Ao fazermos as contas temos que o ganho estatural no primeiro ano de vida é de cerca de 25 cm, o que representa realmente um aumento de 50% da es- tatura do nascimento. Alternativa C: INCORRETA. Assim como praticamen- te todos os outros parâmetros antropométricos, o perímetro cefálico é considerado normal quando entre os escores Z – 2 e +2 para o sexo e a idade. Entre -2 e -3 é considerada microcefalia e abaixo do escore Z -3, microcefalia grave. Alternativa D: INCORRETA. O comprimento deve ser aferido com a criança deitada, até cerca de 2 anos, por meio do estadiômetro horizontal. Alternativa E: INCORRETA. A estatura também é con- siderada normal entre os escores Z -2 e +2, sendo baixa estatura apenas se abaixo do escore Z -2 e muito baixa estatura quando abaixo do escore Z -3. ✔ resposta: ⮧ Questão 2 dificuldade: Y Dica do professor: Os reflexos primitivos, respos- tas automáticas e estereotipadas a um determi- nado estímulo externo presentes no nascimento, são inibidos nos primeiros meses de vida, quando surgem os reflexos posturais e a atividade motora voluntária. A presença dos reflexos primitivos in- dica integridade do sistema nervoso central, mas sua persistência sinaliza disfunção neurológica; portanto, além de entender como testar cada um dos reflexos primitivos, é importante conhecer a idade esperada do seu desaparecimento, um dos aspectos mais cobrados desse tema em prova, con- forme visto nesta questão. Vamos às alternativas: Alternativa A: INCORRETA. O reflexo de Moro pode ser testado dando um “susto” no recém-nascido, o que pode ser obtido por um som alto ou ao se deixar cair a cabeça em extensão do recém-nascido que era mantido sentado pelo examinador. Como res- posta a esse estímulo teremos primeiro a abdução dos membros superiores, com abdução e extensão dos dedos, seguida da adução dos membros supe- riores (2ª fase). O reflexo de Moro completo, com as duas fases de abdução e adução dos membros Puericultura 32 Pediatria Geral superiores, desaparece com cerca de três meses, tornando-se incompleto até os seis meses, quando desaparece definitivamente. Alternativa B: INCORRETA. O reflexo de preensão plantar é testado por meio do contato do dedo do examinador contra o sulco metatarso falângico do recém-nascido, o que gera a flexão plantar dos artelhos. É esperado que esse reflexo desapareça até os 11 meses, aspecto essencial para o posterior desenvolvimento da marcha. Alternativa C: INCORRETA. O reflexo tônicocervical assimétrico (ou de Magnus e De Kleijn ou do ESGRIMISTA) é testado com a criança inicialmente em decúbito dorsal com a cabeça na linha média, braços e pernas estendidas, procedendo-se em se- guida com a rotação da cabeça a 90 graus, o que desencadeia a extensão do braço ipsilateral à ro- tação e flexão do braço contralateral. Esse reflexo deve desaparecer até os 3 meses, o que permite que o lactente aprenda a rolar. Alternativa D: INCORRETA. O reflexo da marcha é testado com a criança suspensa pelo examinador e apoiada na superfície de uma mesa, seguindo-se da inclinação anterior do tronco, o que desencadeia o aparecimento de passos curtos e ritmados sem extensão de joelho e quadril. Esse reflexo deve de- saparecer até cerca de 2 meses de vida. Alternativa E: CORRETA. O reflexo do paraquedista pode ser testado virando a criança de ponta cabe- ça, como resposta teremos a extensão dos braços para frente, como se para amparar a queda. Este é o último reflexo postural a aparecer e está presen- te apenas a partir dos 8 a 9 meses de vida, sendo obrigatório aos 12 meses. ✔ resposta: ⮪ Questão 3 dificuldade: Y Dica do professor: Questão clássica de prova de residência. Segundo o gráfico da OMS de IMC para a idade, nossa paciente encontra-se acima do es- core Z + 3, o que nos indica que ela deverá ter seu estado nutricional classificado como obesidade. Até os 5 anos de idade, consideramos um escore Z +3 como obesidade. É impor- tante lembrar que o termo “obesidade grave” só é utilizado a partir dos 5 anos de idade, em que não teremos a classificação “risco de sobrepeso”, que já se torna sobrepeso, enquanto a faixa de sobrepeso se torna obesidade, e por fim, a faixa de obesidade se torna obesidade grave. ✔ resposta: ⮨ Questão 4 dificuldade: Y Dica do professor: A afirmação “A perda de peso do paciente indica que o leite está fraco” pode ser considerada como ERRADA. Primeiramente, te- mos que considerar que dentro dos 10 primeiros dias de vida é esperado que a criança perca cerca de 10 a 15% do seu peso de nascimento de forma fisiológica, começando a recuperar a partir desta data até o final do primeiro mês. Além disso, como a mãe relata muita dor ao amamentar, pode-se pensar que esteja havendo um erro de técnica de amamentação, que pode estar fazendo com que o bebê consuma quantidade insuficiente de leite ma- terno. Dito isto, o leite materno quando oferecido de forma correta e adequado é sempre suficiente, não existe leite “fraco”. ✔ resposta: ⮧ Questão 5 dificuldade: Y Dica do professor: O tema “Introdução à Alimen- tação Complementar” é um dos mais cobrados na parte de puericultura nas provas de residência médica. Além de ser importante para a sua prova, é muito útil para a sua vida pessoal e também profis- sional como médico (a). Vamos para as alternativas? ALTERNATIVA A: INCORRETA. As papas principais e as frutas não devem ser peneiradas e nem liquidi- ficadas, já que é importante que a criança tenha contato com as mais diversas texturas alimentares e se adapte a elas. Além disso, a quantidade das fibras alimentares diminui significativamente após os processos de peneiragem e liquidificação. A orientação é que as papas e as frutas sejam amas- sadas e ofertadas para a criança ao iniciar a sua Puericultura 33 alimentação complementar. Aos poucos, a consis- tência do alimento ofertado evolui e a criança não mais precisará do alimento amassado. ALTERNATIVA B: INCORRETA. Antigamente, a orien- tação dada para as famílias era a de não introduzir o ovo antes de um ano de idade. As novas orienta- ções, entretanto, estimulam que todos os grupos de alimentos devam ser ofertados para a criança de forma gradual e conforme a aceitação da mesma. A variedade dos alimentos sempre deve ser esti- mulada, a partir do consumo de frutas, verduras e legumes nas refeições. Os alimentos alergênicos, como ovo, podem ser oferecidos, porém com um intervalo de 3 a 5 dias entre eles, para a vigilância de possíveis sinais de alergia alimentar e para evi- tar fatores confundidores. ALTERNATIVA C: INCORRETA. A introdução da alimen- tação complementar deve ser um período tranquilo para os pais e para a criança. É um momento de transição de uma dieta láctea para uma dieta com uma enorme variedade de sabores, cores, texturas e odores. O paladar da criança tem preferência por alimentos adocicados e precisa se adaptar aos novos sabores. É um período que exige muita paciência por parte da família e não devemos dar orientações de condutas rígidas de esquemas, quantidades e tempo. Devemos respeitar o paladar e o momento de adaptação da criança, lembrando-se de comple- mentar as refeições com o leite materno ou fórmula láctea para a idade, se houver necessidade. ALTERNATIVA D: CORRETA. Conforme dito anterior- mente, tudo é novidade para a criança na alimenta- ção complementar. São necessárias cerca de dez exposições a um determinado alimento com recusa ou não aceitação por parte da criança para dizer- mos que o alimento oferecido não foi tolerado ou bem aceito. Lembre-se sempre que a criança está conhecendo os alimentos e se familiarizando com a sua nova rotina alimentar. ✔ resposta: ⮩ Questão 6 dificuldade: Y Dica do professor: O mel é considerado uma pos- sível fonte de contaminação pelo Clostridium bo- tulinum, responsável pelo botulismo, sendo crian- ças menores de um ano as mais susceptíveis ao desenvolvimento da doença pela imaturidade da flora intestinal, que ao ingerir o alimento, no caso o mel, contendo esporos desta bactéria, permite a germinação, multiplicação e produção da neuroto- xina botulínica no intestino. Vale lembrar que, além do risco de botulismo nos menores de 1 ano, o mel também é um açúcar que, a rigor, não deve ser ofe- recido para crianças menores de 2 anos. ✔ resposta: ⮨ Questão 7 dificuldade: Y Dica do professor: O ganho ponderal esperado para o primeiro trimestre de vida do bebê é de 25- 30g por dia. A criança ganhou 1000g no primeiro mês, ou seja, 33g/dia. O ganho de peso está acima do esperado, e, portanto, não é insuficiente, o que indica que a afirmativa está ERRADA. ✔ resposta: ERRADA Questão 8 dificuldade: Y Dica do professor: Infecções maternas no período da gravidez podem acarretar quadros de infecções congênitas, sendo necessário observação e ava- liação do lactente. Na infecção congênita por Zika pode ocorrer microcefalia congênita, alterações auditivas e oftalmológicas, entre outros impor- tantes achados. A questão envolve a avaliação do crescimento do lactente mediante os aspectos de perímetro cefálico e peso, estes que podem estar alterados em um quadro de infecção congênita por Zika. De forma geral, considerando um lactente com 3 meses de vida (primeiro trimestre), espera-se um ganho ponderal de 20 a 30g/dia, o que seria entre 600 e 900 gramas por mês (ganho aproximado de 1800 a 2700 gramas aos 3 meses de vida quando comparado ao nascimento) e um crescimento do perímetro cefálico de cerca de 2 cm por mês (ganho aproximado de 6 cm aos 3 meses de vida quando comparado ao nascimento). Logo, para a criança com peso de 2780g e perímetro cefálico de 33 cm ao nascimento era esperado por volta de 5480g de peso e 39 cm de perímetro cefálico aos 3 meses de vida. Dito isto, avalia-se as alternativas abaixo. Puericultura 34 Pediatria Geral Alternativa A: INCORRETA. O perímetro cefálico espe- rado aos 3 meses de idade para este lactente seria por volta de 39 cm, portanto apresenta-se compa- tível com o quadro descrito. Alternativa B: INCORRETA. O perímetro cefálico e peso encontram-se compatíveis com o esperado para o lactente de três meses de idade. Alternativa C: INCORRETA. O lactente não apresenta baixo ganho ponderal, encontrando-se adequado para três meses de idade. Alternativa D: CORRETA. O desenvolvimento da crian- ça, ao avaliar perímetro cefálico e peso, encontra- -se adequado. Considerando três meses de idades o esperado seria por volta de 39 cm de perímetro cefálico e um peso entre 4580 e 5480 g de peso, conforme descrito na questão. Alternativa E: INCORRETA. O perímetro cefálico não se encontra diminuído para idade do lactente. ✔ resposta: ⮩ Questão 9 dificuldade: Y Dica do professor: Aos 7 meses, é esperado que a criança brinque de “esconde-achou”, transfira obje- tos de uma mão para outra, duplique as sílabas e sente-se sem apoio. Lembre-se que levantar a ca- beça é uma função motora adquirida previamente a sentar sem apoio. Alternativa A: CORRETA. Aos 7 meses espera-se que a criança em decúbito dorsal levante a cabeça, per- maneça sentada sem apoio, sacuda o chocalho e o troque de mão. Alternativa B: INCORRETA. Geralmente, ficar em pé a partir da posição sentada ocorre a partir dos 9 meses. Alternativa C: INCORRETA. Geralmente, a criança co- meça a pronunciar palavras a partir dos 12 meses. Engatinhar ocorre geralmente a partir dos 9 meses. Alternativa D: INCORRETA. A pinça é feita a partir dos 9 meses e torna-se mais delicada (polpa-polpa) por volta dos 12 meses. ✔ resposta: ⮦ Questão 10 dificuldade: Y Dica do professor: O cuidado com a saúde da crian- ça, por meio do acompanhamento do desenvolvi- mento infantil nos primeiros anos de vida, é tarefa essencial para a prevenção de agravos e a identifica- ção de atrasos no desenvolvimento neuropsicomo- tor. Este acompanhamento nos dá maior garantia de acesso, o mais cedo possível, à avaliação, ao diag- nóstico diferencial, ao tratamento e à reabilitação, inclusive à estimulação precoce das crianças que necessitam de cuidados especializados. Alternativa A: INCORRETA. Aos 4 meses a criança é capaz de manter o apoio das mãos com o cotove- lo estendido e de se estender contra a gravidade deixando apenas o abdome no apoio. Além disso, tem a tendência de cair para os lados, rolando aci- dentalmente para supino. A transferência de obje- tos de uma mão para a outra acontece apenas por volta dos 6 meses, enquanto aos 4 meses o espe- rado é que a criança leve as mãos e os objetos até a linha média. Alternativa B: CORRETA. Ao final do 10° mês, a criança consegue se transferir de sentado para posição de joelhos, semiajoelhado e tracionar-se para de pé. Engatinha ou desloca-se através da posição “tipo urso”, com apoio nas mãos e pés, mantendo joelhos estendidos. Sentado, apresenta extensão protetora para trás, roda em círculos. Inicia marcha lateral com apoio nos móveis e é capaz de caminhar quando segurado pelas mãos. Alternativa C: INCORRETA. Aos 12 meses existe a capacidade de elevar-se estendendo ativamente membros inferiores, transfere da posição ortostática para sentado dissociando movimentos de membros inferiores, inicia ficar de pé sem apoio e realizada os primeiros passos independentes. Na fase inicial da marcha independente, a criança assume uma base alargada de apoio nos pés, abdução dos bra- ços e fixação do tronco superior. Apresenta passos curtos e acelerados, com cadência aumentada em função do déficit de equilíbrio. Entretanto, realizar uma torre de 3 cubos é uma habilidade esperada apenas para os 18 meses de vida. Alternativa D: INCORRETA. A partir dos 18 meses existe melhora do equilíbrio e desempenho de mar- cha: realiza choque de calcanhar no início do apoio, Puericultura 35 diminui cadência e aumenta a velocidade. A crian- ça é capaz de ficar sentada sozinha numa cadeira, sobe e desce escadas segurando-se no corrimão e começa a saltar sobre os dois pés. O ato de colocar um pé de cada vez no degrau, apenas para subir, é esperado entre os 30 e 36 meses. Além disso, a formação de frases com 2 a 3 palavras ocorre em geral apenas por volta dos 2 anos. ✔ resposta: ⮧ Fixe seus conhecimentos! 36 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento! Puericultura Introdução Avaliação do crescimento e do estado nutricional Curvas de referência Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor Desenvolvimento sensorial Desenvolvimento motor Marcos do desenvolvimento neuropsicomotor Desenvolvimento cognitivo-emocional Alimentação na infância Incentivo à prática de atividade física Mapa mental. Diagnósticos de normalidade formulados na consulta pediátrica. Referências Bibliografia consultada Questões comentadas (tapetes, pelúcia), animais e plantas; • FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS DERMATOLÓGICAS: presença de insetos e outros animais. Fluxograma 1. Anamnese da 1ª consulta pediátrica. Puericultura 6 Pediatria Geral Quadro 1. Aspectos que devem ser abordados durante a consulta pediátrica. Aspectos que devem ser avaliados na consulta pediátrica Queixas atuais e história da doença atual Condições do meio ambiente e psicossociais Estado vacinal Recordatório alimentar Desenvolvimento neuropsicomotor Desempenho escolar Prática de atividades físicas Capacidade visual e função auditiva Saúde bucal Qualidade do sono Exposição à mídia Fonte: Elaborado pela autora. DIA A DIA MÉDICO Existem diversas estratégias de interação desenvolvidas com o objetivo de estreitar a relação médico-paciente, como a do grupo Bright Futures, que orienta que a pue- ricultura sempre deve ser baseada nas demandas da criança e da família, utilizando-se de ferramentas como a empatia, a individualização (chamar sempre os pais e familiares pelo nome), a abolição do uso de jargão médico para passar as informações durante a consulta e a criação de uma parceria efetiva com a família, reco- nhecendo suas capacidades e dividindo, inclusive, tarefas e responsabilidades. A consulta requer não só uma anamnese, mas também um exame físico completo, com especial atenção às medidas antropométricas (Tabela 2). O momento do exame físico pode ser uma fonte de estresse para a criança e a família, sendo papel do pediatra torná-lo o mais agradável possível. Para isso, recomenda-se a explicação do que será realizado para a criança e os pais, assim como a apresentação prévia dos instrumentos (estetoscópio, otoscópio, fita métrica) para a criança. Uma boa estratégia é examinar a criança no colo dos pais, principalmente entre os nove meses e os dois anos, idade em que caracteristicamente ocorre o “medo de estranhos”. Outra dica é sempre começar pela ausculta pulmonar e cardíaca, deixando momentos mais estressantes, como a otoscopia e a oroscopia, para o final. Tabela 2. Modo de aferição das principais medidas antropométricas realizadas na pediatria. Peso Aferido na balança horizontal até os 2 anos ou 25 kg e, depois, na balança vertical. Comprimento Aferido até os 2 anos com o lactente deitado com o estadiômetro horizontal (manter a haste fixa na cabeça e a haste móvel abaixo do pé). Estatura Aferida com a criança em pé em frente a um estadiômetro vertical (de preferência fixo) com os pés unidos, calcanhar tocando a base do estadiômetro e a cabeça reta com a linha de visão paralela ao chão. Perímetro cefálico Aferido com fita métrica posicionada ao redor da cabeça ao nível da proeminência occipital e da glabela. Fonte: Elaborada pela autora. O exame físico dos primeiros meses de vida apre- senta algumas particularidades, tal qual o segui- mento de condições características do período neonatal, como a icterícia neonatal, a avaliação das fontanelas e dos reflexos neurológicos primitivos (Tabela 7). A fontanela anterior tem formato losan- gular, mede de um a quatro centímetros e sempre estará aberta ao nascimento, fechando apenas após o 9º ao 18º mês de vida. Já a fontanela posterior é triangular, mede cerca de meio centímetro e se fecha até o segundo mês de vida. O abaulamento e a depressão das fontanelas refletem o estado hemodinâmico e a pressão no sistema nervoso central do lactente. A aferição da pressão arterial deve ser realizada a partir dos três anos de idade pelo menos uma vez por ano, exceto na presença de fatores de risco para hipertensão arterial (como malformações renais, car- diopatias congênitas, prematuridade no segundo tri- mestre de gestação e prossegue até os três anos para os dentes decíduos (“dentes de leite”) e vai até os 25 anos para os dentes permanentes. A erup- ção, etapa mais questionada pela família, começa pelos incisivos centrais inferiores (mandibulares) e progride lateralmente (Tabela 4). Já a queda inicia ao redor dos seis anos e continua até os 12 anos, sendo que a erupção dos dentes permanentes pode ocorrer logo após a queda ou em até quatro ou cinco meses. Tabela 4. Cronologia da erupção e da queda dentárias. Idade de erupção do dente Idade de queda do dente Maxilar Mandibular Maxilar Mandibular Dentes decíduos Incisivos centrais 6-8 meses 5-7 meses 7-8 anos 6-7 anos Incisivos laterais 8-11 meses 7-10 meses 8-9 anos 7-8 anos Caninos 16-20 meses 16-20 meses 11-12 anos 9-11 anos Primeiros molares 10-16 meses 10-16 meses 10-12 anos 10-12 anos Segundos molares 20-30 meses 20-30 meses 10-12 anos 11-13 anos Dentes permanentes Incisivos centrais 7-8 anos 6-7 anos Incisivos laterais 7-9 anos 8-10 anos Caninos 11-12 anos 9-11 anos Primeiros pré-molares 10-11 anos 10-12 anos Segundos pré-molares 10-12 anos 11-13 anos Primeiros molares 6-7 anos 6-7 anos Puericultura 9 Segundos molares 12-13 anos 12-13 anos Terceiros molares 17-22 anos 17-22 anos Fonte: Kliegman2. Considera-se retardo na erupção dentária a ausência de dentes aos 13 meses de idade, que pode ser de origem idiopática (etiologia mais comum) ou decor- rente de patologias sistêmicas (hipotireoidismo e hipoparatireoidismo familiar) ou locais (como aglomerados e fibrose gengival, que determinam um bloqueio mecânico). Já as quedas dentárias preco- ces também podem ser idiopáticas ou decorrer de processos patológicos sistêmicos (histiocitose X, neutropenia cíclica, leucemias) ou locais (trauma dentário). DIA A DIA MÉDICO Embora o Ministério da Saúde recomende a higiene da cavidade oral desde o início da vida (com tecido limpo ou gaze embebida em água filtrada), a Associação Brasileira de Odontopediatria recomenda a higienização bucal a partir da erupção dos dentes decíduos, com escovação pelo menos duas vezes ao dia (de manhã e à noite antes de dormir) com pasta de dentes infantil fluoretada, com concentração de flúor em torno de 1.100 ppm. Como nessa idade as crianças não sabem cuspir, recomenda-se o uso de uma quantidade bem pequena de pasta (0,1 g, o que corresponde ao tamanho de um grão de arroz cru). Crianças maiores e que já cospem podem utilizar quan- tidades maiores de pasta de dentes, cerca de 0,3 g, que corresponde ao tamanho de um grão de ervilha. Além disso, a escova de dentes deve ter tamanho adequado à boca da criança e cerdas macias. 2 .1 . CURVAS DE REFERÊNCIA BASES DA MEDICINA Durante muito tempo, foram utilizadas as curvas de referência construídas pelo National Center for Health Statistics (NCHS), por uma compilação de dois estudos da população americana em diferentes períodos. O Fels Longitudinal Study, realizado em Ohio, de 1929 a 1975, avaliou o crescimento de crianças abaixo de dois anos alimentadas com fórmula láctea e com introdução de alimentos complementares antes dos quatro meses. Já a curva de crescimento dos dois aos 18 anos foi cons- truída baseada em estudos de 1963-1974, que incluíram todos os grupos étnicos e classes sociais. As curvas do NHCS apresentavam algumas limitações pela associa- ção de dois estudos não contínuos e pelas diferenças no padrão de crescimento de crianças com aleitamento materno exclusivo, misto ou artificial. Por isso, em 2006, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma nova curva baseada em um estudo multicêntrico realizado em seis países (Brasil, Estados Unidos da América, Gana, Omã, Noruega e Índia) em crianças com até cinco anos de idade e em ótimas condições do início da vida (sem intercorrências gestacionais e neonatais, com aleitamento materno exclusivo pelo menos até os quatro meses e pos- terior alimentação complementar adequada), vacinação e prevenção de infecção adequadas e mães não fumantes. A melhor forma de avaliar se as medidas de peso e comprimento da criança estão dentro do esperado é por meio das curvas de referência. Atualmente, as curvas mais utilizadas em todos os serviços brasileiros, e presentes na Caderneta de Saúde da Criança, são as curvas da OMS (Tabela 5). Tabela 5. Curvas de referência da Organização Mundial da Saúde disponíveis para o acompanhamento pediátrico. Crescimento/ estatura Comprimento/estatura para a idade até os 5 anos Estatura para a idade dos 5 aos 19 anos Estado nutricional Peso para a idade até os 10 anos Peso para a estatura até os 5 anos IMC* para a idade até os 19 anos Perímetro cefálico Perímetro cefálico para a idade até os 2 anos IMC: índice de massa corpórea. Fonte: Elaborada pela autora. Quanto ao método estatístico utilizado na constru- ção das curvas de referência, temos: u Escore Z: considera o peso, a altura ou o IMC como valor de distribuição normal, tal qual uma curva de Gauss, na qual o pico é, ao mesmo tem- po, a média, a mediana e a moda. Consideramos normal, em geral, entre o escore Z +2 e –2. Puericultura 10 Pediatria Geral u Percentil: organiza as medidas antropométricas da população em ordem progressiva, sendo a mediana o percentil 50. Sendo assim, uma crian- ça com peso no percentil 50, por exemplo, tem o peso superior a 50% das crianças daquela po- pulação. Pode ser feita uma correlação entre os escores Z e os percentis (Tabela 6). Tabela 6. Correlação entre os valores de escore Z e os percentis. Escore Z Percentil Z +3 p99,9 Z +2 p97/p95 Z +1 p85 Z 0 p50 Z –1 p15 Z –2 p3/p5 Z –3 p0,1 Fonte: Elaborada pela autora. As curvas de referência servem como ferramenta para identificar os indivíduos de maior risco para distúrbios nutricionais ou outras doenças que este- jam comprometendo o crescimento. Quanto mais distantes dos valores considerados normais, maior o risco. Além disso, as curvas servem para fazer a avaliação longitudinal do processo de crescimento, isto é, se segue dentro do esperado ou não (cruzando percentis ou escores Z para cima ou para baixo, nos casos de aceleração ou de desaceleração do crescimento, por exemplo). De acordo com a locali- zação da medida do peso, da estatura ou do IMC da criança na curva, é possível inferir um diagnóstico de crescimento ou nutricional (Figuras 1 a 4). Note que a classificação do estado nutricional quanto à magreza ou obesidade é obtida apenas pelo uso das curvas de IMC por idade ou de peso por esta- tura. As curvas de peso por estatura apresentam as mesmas classificações utilizadas para as curvas de IMC por idade. Figura 1. Classificação do comprimento/estatura para idade. Fonte: Acervo Sanar. Puericultura 11 Figura 2. Classificação do peso para idade. Fonte: Acervo Sanar. Figura 3. Classificação do Índice de Massa Corpórea para idade em crianças menores de cinco anos. Fonte: Acervo Sanar. Puericultura 12 Pediatria Geral Figura 4. Classificação do Índice de Massa Corpórea para idade em crianças de cinco a dezenove anos. Fonte: Acervo Sanar. DICA Note que a classificação do IMC muda de acordo com a faixa etária. Para nunca mais errar isso, lembre-se de que é considerado eutrofia do escore Z –2 aos +1. A partir daí, teremos o risco para o so- brepeso apenas nos menores de 5 anos, enquanto os maiores de cinco anos já se classificam como sobrepeso e possuem obesidade grave se o IMC para a idade es- tiver acima do escore Z +3. O perímetro cefálico deve ser medido em todas as consultas até os dois anos de idade, período em que ocorre o maior crescimento do cérebro. Além de avaliar se o ganho está dentro do esperado (Tabela 3), também podemos utilizar as curvas da OMS de perímetro cefálico para a idade (Figura 5), sendo normal o perímetro cefálico que se classifica entre os escores Z –2 e +2. O perímetro cefálico também deve ser correlacionado com as curvas de peso/comprimento, já que se espera que a ascensão do traçado do perímetro cefálico esteja relacionada com a ascensão do traçado do peso/comprimento. Também devemos considerar a possibilidade de macrocefalia quando ocorrer o crescimento isolado do perímetro cefálico. Puericultura 13 Figura 5. Classificação do perímetro cefálico para idade. Fonte: Acervo Sanar. Os recém-nascidos prematuros devem ter peso, comprimento e perímetro cefálico avaliados em curvas específicas, de acordo com a idade gesta- cional, e não de acordo com a idade cronológica. Por exemplo, um recém-nascido de 30 semanas de idade gestacional deve ter seu peso com um mês de vida avaliado em relação ao peso de um recém-nascido de 34 semanas de idade gestacional, e não de uma criança com um mês de vida. Essa correção de idade gestacional deve ser feita até a quadragésima semana, quando seria considerado o termo e, a partir daí, avaliamos em relação à idade pós-termo. Por exemplo, o mesmo recém-nascido de 30 semanas de idade gestacional com 3 meses de vida deve ter seu peso avaliado de acordo com um recém-nascido de 15 dias de vida, já que ele apresenta, nesse momento, 2 semanas de idade pós-termo, ou seja, 2 semanas após completar as 40 semanas de idade gestacional. O cálculo da idade gestacional corrigida deve ser realizado até os dois anos de vida, período em que o recém-nascido prematuro, em geral, demora para realizar o catch up do crescimento em relação ao que seria espe- rado para as crianças nascidas a termo. As curvas mais utilizadas para a avaliação do crescimento de prematuros, atualmente, são as do Intergrowth 21st, um projeto multicêntrico internacional que produziu curvas longitudinais de crescimento de recém-nas- cidos prematuros a partir de 27 semanas, avaliados por ultrassonografia e após o nascimento. Essas curvas permitem a avaliação do peso, do compri- mento e do perímetro cefálico para as diferentes idades gestacionais. DIA A DIA MÉDICO Para o acompanhamento do crescimento de portadores de síndromes genéticas, como a Síndrome de Down, devem ser utilizadas curvas específicas. Puericultura 14 Pediatria Geral 3. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR BASES DA MEDICINA O conceito de desenvolvimento é amplo e abrange os vários aspectos interligados que caracterizam a evolução dinâmica do ser humano a partir de sua concepção, como o crescimento, a maturação, a aprendizagem e os aspectos psíquicos e sociais. O tecido nervoso cresce e amadurece, sobretudo nos primeiros anos de vida, período em que, embora o lactente esteja mais vulnerável aos agravos, também se caracteriza por melhor resposta aos estímulos e intervenções devido à sua grande plasticidade, sendo, por isso, essencial o rastreio cuidadoso dos atrasos do desenvolvimento nessa fase. A avaliação do desenvolvimento é um processo con- tínuo de acompanhamento das atividades relativas ao potencial de cada criança, que deve atravessar cada fase seguindo uma sequência apropriada (marcos do desenvolvimento). A avaliação pode ser feita por meio do questionamento da mãe ou de cuidadores com relação às aquisições da criança, ou por meio da observação da criança durante a consulta e o exame físico. É importante avaliar o vínculo afetivo entre os pais e a criança, bem como questionar com relação ao estímulo oferecido para aquela criança, já que a aquisição dos marcos pode estar relacionada a esses fatores. Além disso, é essencial identificar os fatores de risco perinatais para os distúrbios do desenvolvimento (Quadro 2) e detectar precocemente os desvios ou atrasos. Quadro 2. Fatores de risco perinatais para distúrbios do desenvolvimento. Fatores de risco para distúrbios do desenvolvimento Gravidez não desejada Ausência de pré-natal Infecções durante a gestação Depressão durante a gestação Uso materno de drogas ou álcool Intercorrências durante o parto Fatores de risco para distúrbios do desenvolvimento Prematuridade Baixo peso ao nascer Icterícia neonatal grave Hospitalização no período neonatal Fonte: Elaborado pela autora. O desenvolvimento pode ser dividido em diferentes domínios de função: u Sensorial: compreende os sentidos, como a vi- são e a audição. u Motor: subdividido em: W Grosseiro: habilidades motoras gerais, como sustentar a cabeça, sentar-se e andar. W Fino: habilidades cada vez mais precisas com os de- dos das mãos, permitindo ações progressivamente mais delicadas. Por exemplo, o lactente tem pega palmar aos quatro meses, pega radial aos sete me- ses e pega em pinça aos nove meses. u Linguagem: capacidade de compreender e exprimir sensações e pensamentos. Não compreende apenas as reações verbais (balbucio, fala), mas também as reações não verbais, como sorriso ou choro. u Social: reações da criança frente a outras pes- soas, como os pais, o médico e outras crianças. u Adaptativo: reações da criança frente aos dife- rentes estímulos, como levar a boca ao mordedor que lhe foi apresentado. Depende da interação das capacidades motora, sensorial, de coorde- nação e cognitiva. u Emocional. u Cognitivo. DIA A DIA MÉDICO Durante a consulta pediátrica, diferentes escalas podem ser utilizadas para avaliar o desenvolvimento neuropsi- comotor, como o teste de Gesell, o teste de triagem de Denver II e a escala de desenvolvimento infantil de Bayley. A Caderneta de Saúde da Criança do Ministério da Saúde disponibiliza uma sistematização para a avaliação do desenvolvimento até os três anos, contendo os principais marcos e permitindo o acompanhamento dos ganhos do DNPM conforme o crescimento da criança (Figuras 6 e 7). Puericultura 15 Figuras 6 e 7. Marcos do desenvolvimento infantil. Tabela disponível na Caderneta de Saúde da Criança. 45 D E C R IA N Ç A S D E ZER O A 1 2 M ES ES R egistre n a escala: P = m arco p resen te A = m arco au sen te N V = m arco n ão verificad o Id ad e (m eses) M arco s d o d esenvo lvim en to C o m o p esq u isar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Postura: barriga para cim a, pernas e braços fletidos, cabeça lateralizada D eite a criança em superfície plana, de costas; observe se seus braços e pernas ficam flexionados e sua cabeça lateralizada. O bserva um rosto Posicione seu rosto a aproxim adam ente 30cm acim a do rosto da criança e observe se ela olha para você, de form a evidente. R eage ao som Bata palm a ou balance um chocalho a cerca de 30cm de cada orelha da criança e observe se ela reage com m ovim entos nos olhos ou m udança da expressão facial. Eleva a cabeça Posicione a criança de bruço e observe se ela levanta a cabeça, levantando (afastando) o queixo da superfície, sem se virar para um dos lados. Sorriso social quando estim ulada Sorria e converse com a criança; não lhe faça cócegas ou toque sua face. O bserve se ela responde com um sorriso. A bre as m ãos O bserve se em alguns m om entos a criança abre as m ãos espontaneam ente. Em ite sons O bserve se a criança em ite algum som que não seja choro. C aso não seja observado, pergunte ao acom panhante se ela faz em casa. M ovim enta ativam ente os m em bros O bserve se a criança m ovim enta ativam ente os m em bros superiores e inferiores. R esposta ativa ao contato social Fique à frente do bebê e converse com ele. O bserve se ele responde com sorriso e em issão de sons com o se estivesse “conversando” com você. Pode pedir que a m ãe/cuidador o faça. Segura objetos O fereça um objeto tocando no dorso da m ão ou dedos da criança. Esta deverá abrir as m ãos e segurar o objeto pelo m enos por alguns segundos. Em ite sons Fique à frente da criança e converse com ela. O bserve se ela em ite sons (gugu, eeee etc.). D e bruço, levanta a cabeça, apoiando-se nos antebraços C oloque a criança de bruço, num a superfície firm e. C ham e sua atenção à frente com objetos ou seu rosto e observe se ela levanta a cabeça apoiando-se nos antebraços. Busca ativa de objetos C oloque um objeto ao alcance da criança (sobre a m esa ou na palm a de sua m ão) cham ando sua atenção para o m esm o. O bserve se ela tenta alcançá-lo. Leva objetos à boca C oloque um objeto na m ão da criança e observe se ela o leva à boca. Localiza o som Faça um barulho suave (sino, chocalho etc.) próxim o à orelha da criança e observe se ela vira a cabeça em direção ao objeto que produziu o som . R epita no lado oposto. M uda de posição ativam ente (rola) C oloque a criança em superfície plana de barriga para cim a. Incentive-a a virar para a posição de bruço. Brinca de esconde-achou C oloque-se à frente da criança e brinque de aparecer e desaparecer, atrás de um pano ou de outra pessoa. O bserve se a criança faz m ovim entos para procurá-lo quando desaparece, com o tentar puxar o pano ou olhar atrás da outra pessoa. Transfere objetos de um a m ão para a outra O fereça um objeto para a criança segurar. O bserve se ela o transfere de um a m ão para outra. Se não fizer, ofereça outro objeto e observe se ela transfere o prim eiro para a outra m ão. D uplica sílabas O bserve se a criança fala “papa”, “dada”, “m am a”. Se não o fizer, pergunte à m ãe/cuidador se ela o faz em casa. Senta-se sem apoio C oloque a criança num a superfície firm e, ofereça-lhe um objeto para ela segurar e observe se ela fica sentada sem o apoio das m ãos para equilibrar-se. Im ita gestos Faça algum gesto conhecido pela criança com o bater palm as ou dar tchau e observe se ela o im ita. C aso ela não o faça, peça à m ãe/cuidador para estim ulá-la. Faz pinça C oloque próxim o à criança um a jujuba ou um a bolinha de papel. C ham e a atenção da criança para que ela a pegue. O bserve se, ao pegá-la, ela usa o m ovim ento de pinça, com qualquer parte do polegar associado ao indicador. Produz “jargão” O bserve se a criança produz um a conversação incom preensível consigo m esm a, com você ou com a m ãe/cuidador (jargão). C aso não seja possível observar, pergunte se ela o faz em casa. A nda com apoio O bserve se a criança consegue dar alguns passos com apoio. H alpern e R osânia A raújo. 44 IN S TR U M EN TO D E V IG ILÂ N C IA D O D ES EN V O LV IM EN TO R egistre n a escala: P = m arco p resen te A = m arco au sen te N V = m arco n ão verificad o Id ad e (m eses) M arco s d o d esenvo lvim en to C o m o p esq u isar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Postura:barriga para cim a, pernas e braços fletidos, cabeça lateralizada D eite a criança em superfície plana, de costas; observe se seus braços e pernas ficam flexionados e sua cabeça lateralizada. O bserva um rosto Posicione seu rosto a aproxim adam ente 30cm acim a do rosto da criança e observe se ela olha para você, de form a evidente. R eage ao som Bata palm a ou balance um chocalho a cerca de 30cm de cada orelha da criança e observe se ela reage com m ovim entos nos olhos ou m udança da expressão facial. Eleva a cabeça Posicione a criança de bruço e observe se ela levanta a cabeça, levantando (afastando) o queixo da superfície, sem se virar para um dos lados. Sorriso social quando estim ulada Sorria e converse com a criança; não lhe faça cócegas ou toque sua face. O bserve se ela responde com um sorriso. A bre as m ãos O bserve se em alguns m om entos a criança abre as m ãos espontaneam ente. Em ite sons O bserve se a criança em ite algum som que não seja choro. C aso não seja observado, pergunte ao acom panhante se ela faz em casa. M ovim enta ativam ente os m em bros O bserve se a criança m ovim enta ativam ente os m em bros superiores e inferiores. R esposta ativa ao contato social Fique à frente do bebê e converse com ele. O bserve se ele responde com sorriso e em issão de sons com o se estivesse “conversando” com você. Pode pedir que a m ãe/cuidador o faça. Segura objetos O fereça um objeto tocando no dorso da m ão ou dedos da criança. Esta deverá abrir as m ãos e segurar o objeto pelo m enos por alguns segundos. Em ite sons Fique à frente da criança e converse com ela. O bserve se ela em ite sons (gugu, eeee etc.). D e bruço, levanta a cabeça, apoiando-se nos antebraços C oloque a criança de bruço, num a superfície firm e. C ham e sua atenção à frente com objetos ou seu rosto e observe se ela levanta a cabeça apoiando-se nos antebraços. Busca ativa de objetos C oloque um objeto ao alcance da criança (sobre a m esa ou na palm a de sua m ão) cham ando sua atenção para o m esm o. O bserve se ela tenta alcançá-lo. Leva objetos à boca C oloque um objeto na m ão da criança e observe se ela o leva à boca. Localiza o som Faça um barulho suave (sino, chocalho etc.) próxim o à orelha da criança e observe se ela vira a cabeça em direção ao objeto que produziu o som . R epita no lado oposto. M uda de posição ativam ente (rola) C oloque a criança em superfície plana de barriga para cim a. Incentive-a a virar para a posição de bruço. Brinca de esconde-achou C oloque-se à frente da criança e brinque de aparecer e desaparecer, atrás de um pano ou de outra pessoa. O bserve se a criança faz m ovim entos para procurá-lo quando desaparece, com o tentar puxar o pano ou olhar atrás da outra pessoa. Transfere objetos de um a m ão para a outra O fereça um objeto para a criança segurar. O bserve se ela o transfere de um a m ão para outra. Se não fizer, ofereça outro objeto e observe se ela transfere o prim eiro para a outra m ão. D uplica sílabas O bserve se a criança fala “papa”,“dada”,“m am a”. Se não o fizer, pergunte à m ãe/cuidador se ela o faz em casa. Senta-se sem apoio C oloque a criança num a superfície firm e, ofereça-lhe um objeto para ela segurar e observe se ela fica sentada sem o apoio das m ãos para equilibrar-se. Im ita gestos Faça algum gesto conhecido pela criança com o bater palm as ou dar tchau e observe se ela o im ita. C aso ela não o faça, peça à m ãe/cuidador para estim ulá-la. Faz pinça C oloque próxim o à criança um a jujuba ou um a bolinha de papel. C ham e a atenção da criança para que ela a pegue.O bserve se,ao pegá-la,ela usa o m ovim ento de pinça,com qualquer parte do polegar associado ao indicador. Produz “jargão” O bserve se a criança produz um a conversação incom preensível consigo m esm a, com você ou com a m ãe/cuidador (jargão). C aso não seja possível observar, pergunte se ela o faz em casa. A nda com apoio O bserve se a criança consegue dar alguns passos com apoio. Fonte:A daptação da tabela contida no M anual de C rescim ento do M inistério da Saúde/2002 por A m ira Figueiras,R icar N ota:A s áreas am arelas indicam as faixas de idade em que é esperado que a criança desenvolva as habilidades testadas. Puericultura 16 Pediatria Geral 47 D E C R IA N Ç A S D E 1 2 M ES ES A 3 A N O S R egistre n a escala: P = m arco p resen te A = m arco au sen te N V = m arco n ão verificad o Id ad e (m eses) M arco s d o d esenvo lvim en to C o m o p esq u isar 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 M ostra o que quer A criança indica o que quer sem que seja pelo choro, podendo ser com palavras ou sons, apontando ou estendendo a m ão para alcançar. C onsidere a inform ação do acom panhante. C oloca blocos na caneca C oloque 3 blocos e a caneca sobre a m esa, em frente à criança. Estim ule-a a colocar os blocos dentro da caneca, m ediante dem onstração e fala. O bserve se a criança consegue colocar, pelo m enos, um bloco dentro da caneca e soltá-lo. Fala um a palavra O bserve se durante o atendim ento a criança diz, pelo m enos, um a palavra que não seja nom e de m em bros da fam ília ou de anim ais de estim ação. C onsidere a inform ação do acom panhante. A nda sem apoio O bserve se a criança já anda bem , com bom equilíbrio, sem se apoiar. U sa colher ou garfo A criança usa colher ou garfo, derram ando pouco fora da boca. C onsidere a inform ação do acom panhante. C onstrói torre de 2 cubos O bserve se a criança consegue colocar um cubo sobre o outro sem que ele caia ao retirar sua m ão. Fala 3 palavras O bserve se, durante o atendim ento, a criança diz pelo m enos três palavras que não seja nom e de m em bros da fam ília ou de anim ais de estim ação. C onsidere a inform ação do acom panhante. A nda para trás Peça à criança para abrir um a porta ou gaveta e observe se dá dois passos para trás sem cair. T ira a roupa O bserve se a criança é capaz de rem over algum a peça do vestuário, tais com o: sapatos que exijam esforço para a sua rem oção, casacos, calças ou cam isetas. C onsidere a inform ação do acom panhante. C onstrói torre de 3 cubos O bserve se a criança consegue em pilhar 3 cubos sem que eles caiam ao retirar a sua m ão. A ponta 2 figuras O bserve se a criança é capaz de apontar 2 de um grupo de 5 figuras. C huta a bola O bserve se a criança chuta a bola sem se apoiar em objetos. Veste-se com supervisão Pergunte aos cuidadores se a criança é capaz de vestir algum a peça do vestuário tais com o: cueca, m eias, sapatos, casaco etc. C onstrói torres de 6 cubos O bserve se a criança consegue em pilhar 6 cubos sem que eles caiam ao retirar sua m ão. Fala frases com 2 palavras O bserve se a criança com bina, pelo m enos, 2 palavras form ando um a frase com significado, que indique um a ação. C onsidere a inform ação do acom panhante. Pula com am bos os pés O bserve se a criança pula com os dois pés, atingindo o chão ao m esm o tem po, m as não necessariam ente no m esm o lugar. Brinca com outras crianças Pergunte ao acom panhante se a criança participa de brincadeiras com outras crianças de sua idade. Im ita linha vertical O bserve, após dem onstração, se a criança faz um a linha ou m ais (no papel), de, pelo m enos, 5cm de com prim ento. R econhece 2 ações O bserve se a criança aponta a figura de acordo com a ação, por exem plo: “quem m ia?”, “quem late?”, “quem fala?”, “quem galopa?”. A rrem essa a bola O bserve se a criança arrem essa a bola acim a do braço. H alpner e R osânia A raújo. 46 IN S TR U M EN TO D E V IG ILÂ N C IA D O D ES EN V O LV IM EN TO R egistre n a escala: P = m arco p resen te A = m arco au sen te N V = m arco n ão verificad o Id ad e (m eses) M arco s d o d esenvo lvim en to C o m o p esq u isar 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 M ostra o que quer A criança indica o que quer sem que seja pelo choro, podendo ser com palavras ou sons, apontando ou estendendo a m ão para alcançar. C onsidere a inform ação do acom panhante. C oloca blocos na caneca C oloque 3 blocos e a caneca sobre a m esa, em frente à criança. Estim ule-a a colocar os blocos dentro da caneca, m ediante dem onstração e fala. O bserve se a criança consegue colocar, pelo m enos, um bloco dentro da caneca e soltá-lo. Fala um a palavra O bserve se durante o atendim ento a criança diz, pelo m enos, um a palavra que não seja nom e de m em bros da fam ília ou de anim ais de estim ação. C onsidere a inform ação do acom panhante. A nda sem apoio O bserve se a criança já anda bem , com bom equilíbrio, sem se apoiar. U sa colher ou garfo A criança usa colher ou garfo, derram ando pouco fora da boca. C onsidere a inform ação do acom panhante. C onstrói torre de 2 cubos O bserve se a criança consegue colocar um cubo sobre o outro sem que ele caia ao retirar sua m ão. Fala 3 palavras O bserve se, durante o atendim ento, a criança diz pelo m enos três palavras que não seja nom e de m em bros da fam ília ou de anim ais de estim ação. C onsidere a inform ação do acom panhante. A nda para trás Peça à criança para abrir um a porta ou gaveta e observe se dá dois passos para trás sem cair. T ira a roupa O bserve se a criança é capaz de rem over algum a peça do vestuário, tais com o: sapatos que exijam esforço para a sua rem oção, casacos, calças ou cam isetas. C onsidere a inform ação do acom panhante. C onstrói torre de 3 cubos O bserve se a criança consegue em pilhar 3 cubos sem que eles caiam ao retirar a sua m ão. A ponta 2 figuras O bserve se a criança é capaz de apontar 2 de um grupo de 5 figuras. C huta a bola O bserve se a criança chuta a bola sem se apoiar em objetos. Veste-se com supervisão Pergunte aos cuidadores se a criança é capaz de vestir algum a peça do vestuário tais com o: cueca, m eias, sapatos, casaco etc. C onstrói torres de 6 cubos O bserve se a criança consegue em pilhar 6 cubos sem que eles caiam ao retirar sua m ão. Fala frases com 2 palavras O bserve se a criança com bina, pelo m enos, 2 palavras form ando um a frase com significado, que indique um a ação. C onsidere a inform ação do acom panhante. Pula com am bos os pés O bserve se a criança pula com os dois pés, atingindo o chão ao m esm o tem po, m as não necessariam ente no m esm o lugar. Brinca com outras crianças Pergunte ao acom panhante se a criança participa de brincadeiras com outras crianças de sua idade. Im ita linha vertical O bserve, após dem onstração, se a criança faz um a linha ou m ais (no papel), de, pelo m enos, 5cm de com prim ento. R econhece 2 ações O bserve se a criança aponta a figura de acordo com a ação, por exem plo:“quem m ia?”, “quem late?”,“quem fala?”,“quem galopa?”. A rrem essa a bola O bserve se a criança arrem essa a bola acim a do braço. Fonte:A daptação da tabela contida no M anual de C rescim ento do M inistério da Saúde/2002 por A m ira Figueiras,R icardo N ota: A s áreas am arelas indicam as faixas de idade em que é esperado que a criança desenvolva as habilidades testadas. Fonte: Ministério da Saúde4. Puericultura 17 3 .1 . DESENVOLVIMENTO SENSORIAL BASES DA MEDICINA O olho de um RN a termo tem cerca de 65% do tamanho que terá na vida adulta, sendo o crescimento acelerado nos primeiros três anos de vida e reduzido até a puber- dade. Lactentes apresentam uma hipermetropia que irá se corrigir até os 14 anos. O recém-nascido é capaz apenas de focalizar um objeto a poucos centímetros e tem preferência por rostos humanos, especialmente femininos, sendo uma das primeiras reações visuais de um lactente a observação da face materna durante a amamentação. Até a segunda semana de vida, o RN já demonstra interesse por objetos grandes e, da oitava até a décima semana de vida, já con- segue seguir um objeto a uma amplitude de 180 graus, técnica que pode ser utilizada para avaliar a acuidade visual. A acuidade visual é máxima em torno de dois a três anos. Lactentes apresentam uma coordenação imperfeita do movimento e do alinhamento ocular nas primeiras semanas de vida, que geralmente é corrigida em até três a seis meses de vida. Desvios persistentes devem motivar o encaminhamento para o oftalmologista, já que o estrabismo pode prejudicar o desenvolvimento do córtex visual, dando origem à ambliopia. Com relação à audição, o feto já escuta desde o quinto mês de gestação, estando inclusive fami- liarizado com as vozes da mãe e dos familiares ao nascer. Podemos utilizar esse aspecto para avaliar a acuidade auditiva, questionando se o lactente se assusta e chora com sons altos repentinos, se procura a origem do som e se fica mais calmo com a voz da mãe. A avaliação da visão e da audição nos primeiros meses de vida durante a consulta de puericultura é realizada de forma subjetiva, por meio da observação das reações do lactente frente aos estímulos visuais e auditivos. Recém-nascidos com fatores de risco para deficiência auditiva ou com triagem auditiva ou teste do reflexo vermelho anormais devem ser encaminhados para uma avaliação complementar mais objetiva. 3 .2 . DESENVOLVIMENTO MOTOR BASES DA MEDICINA O DNPM está intimamente ligado ao desenvolvimento do sistema nervoso central que acontece nos primeiros anos de vida, sendo um dos principais eventos a mieli- nização, que permite a aquisição de movimentos mais coordenados e complexos. No lactente nascido a termo, logo ao nascimento, já há mielinização no tronco cere- bral dorsal, pedúnculos cerebelares e perna posterior da cápsula interna. A substância branca cerebelar começa a se mielinizar por volta do primeiro mês e se completa no terceiro mês. Já a substância branca subcortical dos córtex parietal, frontal posterior, temporal e da calcarina está parcialmente mielinizada aos três meses. Antes de vermos os marcos do desenvolvimento motor, é importante entendermos o padrão normal de um recém-nascido. O RN apresenta um padrão motor muito imaturo, com postura assimétrica, predomínio do tônus flexor nos membros e intensa hipotonia na musculatura paravertebral. Os movi- mentos são geralmente reflexos controlados pelos centros subcorticais, pelo tronco encefálico e pela medula. Nessa fase, é essencial avaliarmos os reflexos primitivos e as respostas automáticas e estereotipadas a um determinado estímulo externo presentes ao nascimento e, posteriormente, inibidos nos primeiros meses de vida, quando surgem os reflexos posturais e a atividade motora voluntária. A presença dos reflexos primitivos indica integridade do sistema nervoso central, mas sua persistência sinaliza disfunção neurológica; portanto, além de entender como testar cada um dos reflexos primi- tivos, é importante conhecermos a idade esperada do seu desaparecimento (Tabela 7). Puericultura 18 Pediatria Geral Tabela 7. Modo de avaliação dos reflexos primitivos do recém-nascido e tempo esperado de duração. Reflexo Idade Posição de teste Estímulo Resposta esperada Reflexo do apoio plantar 0-2 meses Criança suspensa verticalmente pelo examinador Apoio plantar dos pés em superfície plana Extensão de joelho e quadril Reflexo da marcha 0-2 meses Criança suspensa pelo examinador e apoiada na superfície da mesa Inclinação anterior do tronco Passos curtos e ritmados sem extensão de joelho e quadril Reflexo de colocação das pernas (ou placing) 0-2 meses Criança suspensa verticalmente pelo examinador Tocar o dorso do pé da criança na borda da mesa Criança realiza o movimento de “subir degraus” Reflexo de busca (ou de procura) 0-2 meses Qualquer, exceto decúbito ventral Leve toque nas comissuras labiais Cabeça e língua se movem em direção ao estímulo Reflexo de sucção 0-5 meses Qualquer, exceto decúbito ventral Introdução do dedo do examinador dentro da boca do lactente Sucção Reflexo de preensão palmar 0-4 meses Qualquer Contato do dedo do examinador com a palma da mão do lactente Flexão dos dedos ao redor, persiste até a retirada do estímulo Reflexo de preensão plantar 0-11 meses Qualquer, exceto em pé Contato do dedo do examinador contra o sulco metatarso falângico Flexão plantar dos artelhos Reflexo de Moro 0-6 meses Examinador mantém a criança sentada Deixar cair a cabeça em extensão 1ª fase: abdução dos MMSS* com abdução e extensão dos dedos 2ª fase: adução dos MMSS Reflexo tônico-cervical assimétrico (ou de Magnus e De Kleijn ou do esgrimista) 0-3 meses Criança em decúbito dorsal com a cabeça na linha média, braços e pernas estendidas Rotação da cabeça a 90° Extensão do braço ipsilateral à rotação e flexão do braço contralateral Reflexo de encurvamento do tronco (ou de Galant) 0-4 meses Criança em prona com o tronco apoiado pela mão do examinador Estímulo tátil na região do dorso lateral Encurvamento do tronco ipsilateral ao estímulo MMSS: membros superiores. Fonte: Kliegman2. DICA O reflexo de Moro completo, com as duas fases de abdução e adução dos membros superiores, desaparece com cer- ca de três meses, tornando-se incompleto até os seis meses, quando desaparece de- finitivamente. Nos primeiros meses de vida, ocorre uma redução progressiva do tônus flexor, com substituição pelo padrão extensor no sentido craniocaudal. A partir do segundo semestre, não ocorre mais predomínio de quaisquer dos dois padrões (flexor ou extensor), de forma que a criança consegue, por alternância Puericultura 19 entre os tônus, rolar e, posteriormente, até passar da posição deitada para a sentada. As aquisições motoras ocorrem sempre no sentido craniocaudal e proximodistal, das aquisições mais simples para as mais complexas. Assim, a primeira musculatura a ser controlada é a ocular. Depois, há o controle progressivo da musculatura para a sustentação da cabeça e, depois, do tronco. O apoio progressivo na musculatura dos braços permite o apoio nos antebraços e as primeiras tentativas de engatinhar. No entanto, não é incomum algumas crianças andarem sem ter engatinhado, sem que isso indique algum tipo de anormalidade. O desenvolvimento motor fino se dá no sentido proximodistal. Ao nascimento, a criança fica com as mãos fechadas na maior parte do tempo. Por volta do terceiro mês, em decorrência da redução do tônus flexor, as mãos ficam abertas por mais tempo e as crianças conseguem agarrar os objetos, embora ainda sejam incapazes de soltá-los. Entre o quinto e o sexto mês, conseguem apreender um objeto voluntariamente e iniciam o movimento de pinça, que será aprimorado progressivamente até se tornar completo, polpa com polpa, em torno dos 12 meses. 3 .3 . MARCOS DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR Durante o acompanhamento, é importante avaliar a da aquisição dos marcos de cada um dos domí- nios do desenvolvimento neuropsicomotor. Exis- tem diversas tabelas para identificar quando uma determinada aquisição deve ocorrer, mas seu uso deve ser cauteloso, levando-se em consideração as condições específicas de cada criança quanto às diferenças sociais, culturais, geográficas e de estímulos ofertados pelos pais e cuidadores. As tabelas seguintes identificam os principais marcos de cada domínio do desenvolvimento neuropsico- motor, servindo como um guia durante o acompa- nhamento pediátrico. Tabela 8. Marcos dos desenvolvimentos motores grosseiro e fino. Idade Habilidade motora grosseira 1 mês Postura assimétrica com predomínio do tônus flexor 3 meses Sustenta o pescoço e junta as mãos na linha média 4 meses Postura simétrica com as mãos abertas (desaparece o reflexo tônico-cervical assimétrico) 6 meses Senta-se com apoio e rola para decúbito ventral 7 meses Senta-se com o tronco inclinado para frente e as mãos apoiadas 9 meses Senta-se sem apoio com o tronco ereto e engatinha 10 meses Fica de pé com apoio 12 meses Anda com apoio 18 meses Corre firmemente, sobe e desce escadas 2 anos Salta e pula, sobe em móveis 3 anos Para em um pé só, anda de velocípede Idade Habilidade motora fina 4 meses Pega palmar, leva a mão à linha média e os objetos à boca 6 meses Transfere objetos de uma mão para a outra 7 meses Pega de três dedos (com o polegar e mais dois dedos) 9 meses Pega em pinça (com o polegar e o indicador) 12 meses Vira as páginas de um livro 15 meses Constrói torre de três cubos 2 anos Constrói torre de sete cubos e rabisca círculos Fonte: Kliegman2. Puericultura 20 Pediatria Geral Tabela 9. Marcos do desenvolvimento da comunicação e da linguagem. Idade Habilidade de comunicação e linguagem 1 mês Sorri em resposta a um rosto, emite sons guturais 4 meses Vocalização (“aaaa”) 7 meses Lalação (“bababa”), inibe-se com um “não” 10 meses Atende ao seu nome, aponta para objetos 12 meses Fala uma ou duas palavras 15 meses Fala o nome dos objetos 2 anos Forma frases de duas a três palavras e obedece a ordens simples 3 anos Responde a perguntas simples 4 anos Conta histórias 5 anos Pergunta o significado das palavras Fonte: Kliegman2. Tabela 10. Marcos do desenvolvimento social. Idade Habilidade social 1 mês Olha para as pessoas que o observam e sorri, movimenta o corpo em cadência com a voz de outras pessoas 3 meses Sustenta o contato social, fica atento a músicas 4 meses Ri alto, pode mostrar desaprovação quando interrompido o contato social 7 meses Prefere a mãe 10 meses Tem medo de estranhos, brinca de esconde-esconde, faz “tchau” com a mão 12 meses Brinca com bola, chora quando os pais saem de perto 15 meses Indica desejos apontando, abraça os pais 18 meses Come sozinho, brinca de boneca, explora sozinho, mas quer os pais por perto 2 anos Ajuda a se despir, copia o que os outros estão fazendo 3 anos Participa de brincadeiras simples com outras crianças Fonte: Kliegman2. DIA A DIA MÉDICO Uma vez realizada a avaliação do desenvolvimento da criança, podemos dizer que estamos diante de: W Desenvolvimento adequado: presença dos marcos esperados para a faixa etária. Manter o seguimento habitual. W Desenvolvimento adequado com fatores de risco: pre- sença dos marcos esperados, porém com um ou mais fatores de risco associados. Informar aos cuidadores sobre a adequação do desenvolvimento e orientar sinais de alerta, reavaliando a criança mensalmente. W Alerta para o desenvolvimento: ausência de um ou mais marcos para a faixa etária. Orientar sobre a estimulação da criança e marcar retorno em 30 dias. W Provável atraso do desenvolvimento: perímetro cefálico anormal (abaixo do escore Z –2 ou acima do escore Z +2), presença de três ou mais alterações fenotípi- cas ou ausência de dois ou mais marcos esperados para a idade. Encaminhar o paciente para avaliação neuropsicomotora. 3 .4 . DESENVOLVIMENTO COGNITIVO-EMOCIONAL Existem diversas teorias sobre as etapas do desen- volvimento cognitivo-emocional, e a maioria delas divide a infância em diferentes estágios de desen- volvimento (Tabela 11). As teorias de Freud e de Erikson são psicanalíticas, já as teorias de Piaget e Kohlberg são cognitivas. Puericultura 21 Tabela 11. Teorias clássicas dos estágios de desenvolvimento cognitivo-emocional. Teoria Lactente (0-1 ano) Início da marcha (2-3 anos) Pré-escolar (3-6 anos) Escolar (6-12 anos) Adolescente (12-20 anos) Psicossexual de Freud Oral Anal Fálica Latência Genital Psicossocial de Erikson Confiança básica versus desconfiança Autonomia versus vergonha e dúvida Iniciativa versus culpa Engenhosidade versus inferioridade Identidade versus difusão de papel Cognitiva de Piaget Sensório-motor Pré-operacional Operações concretas Operações formais Moral de Kohlberg — Pré-convencional: evitar punição/obter recompensa Conformidade convencional Lei e ordem convencionais Pós- convencional: princípios morais Fonte: Kliegman2. No centro da teoria freudiana está a ideia de impul- sos biologicamente dirigidos (sexuais), que mudam de foco ao longo do desenvolvimento e que podem conflitar com as regras da sociedade, sendo a saúde emocional da criança e do adulto dependente da solução adequada desses conflitos. Erikson remode- lou os estágios de Freud em termos da personalidade emergente, dizendo que, à medida que a criança passa pelos diferentes estágios, ela é defrontada com diferentes desafios interiores que devem ser adequadamente trabalhados para o desenvolvimento esperado. A teoria cognitiva de Piaget mostra a mudança da cognição ao longo dos estágios não apenas em termos de quantidade, mas também de qualidade, com diferentes tarefas que são executadas pela criança a cada etapa. Com base no conhecimento cognitivo, Kohlberg desenvolveu uma teoria de desenvolvimento moral, que orienta cada estágio do desenvolvimento infantil até a vida adulta. Na teoria comportamental contemporânea, acredi- ta-se que há uma modificação gradual no comporta- mento com acúmulo de competências pela criança até a vida adulta, ocorrendo de forma mais frequente os comportamentos reforçados positivamente e menos frequentemente os comportamentos refor- çados negativamente ou ignorados. Nesse modelo não é feita a divisão rígida em estágios. 4. ALIMENTAÇÃO NA INFÂNCIA BASES DA MEDICINA O termo programming é definido como a indução, a deleção ou o prejuízo do desenvolvimento de uma estrutura somá- tica ou ajuste de um sistema fisiológico por um estímulo ou agressão que ocorre a um período suscetível (como na vida intrauterina ou no início da infância), resultando em consequências em longo prazo para as funções fisio- lógicas. Um exemplo de programming é a relação entre as más práticas alimentares no primeiro ano de vida e o desenvolvimento da obesidade na vida adulta, sendo o aleitamento materno um importante fator protetor com efeito dose-dependente na redução do risco de obesidade. Discutir sobre a alimentação é papel do pediatra, já que a alimentação adequada permite o cres- cimento e o desenvolvimento adequados, além de prevenir o aparecimento de doenças, como anemia e obesidade. O conceito de programming, desenvolvimento por Dorner em 1974, reforça que fatores nutricionais em fases iniciais da vida têm um papel de programação do sistema metabólico e orgânico, resultando em consequências a longo prazo para as funções fisiológicas. A maioria dos nutrientes tem efeitos indiretos sobre a expressão gênica e proteica (interferindo nas metilações) e, consequentemente, sobre o metabolismo. Puericultura 22 Pediatria Geral O aleitamento materno é um dos pontos mais impor- tantes da alimentação na infância e será discutido em um capítulo à parte, mas é importante relembrar que ele deve ser exclusivo até os seis meses de vida e depois complementado, ou seja, mantido em con- junto com a introdução da alimentação complemen- tar, até os dois anos de vida. A introdução precoce da alimentação complementar (entre três e quatro meses de vida) eleva o risco de alergia alimentar. Tanto o leite materno quanto as fórmulas lácteas têm quantidades insuficientes de vitamina D. É por isso que, desde a primeira semana de vida, recomenda- -se a suplementação vitamínica do recém-nascido na dose de 400 UI/dia de vitamina D até um ano e de 600 UI/dia de um a três anos. Desde que a ali- mentação materna seja adequada, o leite materno contém quantidades suficientes de vitamina A, que são posteriormente complementadas pela ingestão de alimentos ricos em vitamina A (gema de ovo, fígado, vegetais e frutas). Em regiões de alta prevalência de hipovitaminose A (principalmente no Nordeste e em Minas Gerais nos vales do Jequitinho- nha e do Mucuri), recomenda-se a suplementação de megadoses de vitamina A em crianças de 6 a 59 meses, na dose única de 100.000 UI no primeiro ano de vida e 200.000 UI a cada seis meses de 1 a 5 anos de idade. Em 2019 o Ministério da Saúde publicou o “Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos”, no qual discorre sobre os doze passos para uma alimentação saudável, descritos na Tabela 12. Tabela 12. Os 12 passos para uma alimentação saudável. Passo 1 Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente leite materno até 6 meses de vida, sem chá ou água Passo 2 Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses Passo 3 Oferecer água própria para consumo à criança em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas Passo 4 Oferecer comida amassada quando a criança começar a ingerir outros alimentos além do leite materno Passo 5 Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcar à criança até 2 anos de idade Passo 6 Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança Passo 7 Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família Passo 8 Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família Passo 9 Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição Passo 10 Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família Passo 11 Oferecer à criança alimentação adequada e saudável também fora de casa Passo 12 Proteger a criança da publicidade de alimentos Fonte: Ministério da Saúde5. Tradicionalmente, a introdução da alimentação com- plementar é iniciada com frutas aos seis meses de vida, preferindo sempre a fruta in natura em vez do suco (evitar sucos até um ano ou, pelo menos, limitar a ingestão máxima a 100 mL por dia). A papa princi- pal (também chamada de papa salgada, embora se deva evitar a colocação de sal), inicialmente intro- duzida no horário do almoço e, posteriormente, no jantar, deve ser composta por cereais ou tubérculos, leguminosas, carne e hortaliças (verduras e legumes) cozidos e amassados, não devendo ser peneirada ou batida no liquidificador, para manter uma boa consistência. Não é incomum a recusa na introdução de alguns alimentos complementares, mas isso não deve ser interpretado como uma recusa definitiva, pois podem ser necessárias até dez exposições a um novo alimento antes que a criança o aceite definitivamente. O aumento da quantidade e da consistência dos alimentos deve ser gradual, até que a criança receba a comida na mesma consistência da família, o que deve acontecer por volta de um ano de idade. Nas crianças desmamadas em uso de fórmula láctea, o volume deve ser limitado a 600 mL por dia e nunca utilizado como um substituto das Puericultura 23 refeições principais. A ingestão de leite acima de 700 mL por dia se associa à ocorrência de anemia. Além da qualidade dos alimentos oferecidos para o lactente, também devemos nos preocupar com a construção de um ambiente alimentar adequado, com o lactente à mesa (ou em cadeira de alimenta- ção), sem exposição a telas (televisão, tablet, celu- lar) e junto de outros familiares. Nesse momento, também deve ser feito o treinamento do uso de utensílios, oferecendo uma colher para o lactente interagir com o alimento. Outras formas de introdução da alimentação com- plementar têm despontado recentemente. São elas: u Baby-led weaning (BLW): em português, pode ser traduzido como desmame guiado pelo bebê. Idea- lizado pela britânica Gill Rapley. Encoraja os pais a confiarem na capacidade nata que o lactente possui de se autoalimentar. Consiste na oferta de alimentos in natura em pedaços, sem o uso de colher e sem a adaptação da consistência, sempre com o lactente sentado e supervisionado. Permite a interação do lactente a uma variedade de alimentos, mas diversos questionamentos existem com relação a essas técnicas, como o seu possível impacto no crescimento devido à ingestão de alimentos menos calóricos, a in- gestão suficiente de micronutrientes e o risco de engasgos. u Baby-led introduction to solids (BLISS): em por- tuguês, traduzido como introdução de sólidos guiada pelo bebê. Criado por um grupo neoze- landês, consiste na oferta de alimentos cortados em pedaços e previamente testados para evitar engasgos, sempre com o lactente sentado e su- pervisionado. Diferentemente do BLW, nesse caso, existe uma preocupação em garantir o aporte de ferro e calorias na refeição, que se reflete na escolha dos alimentos. O pré-escolar apresenta uma diminuição no ritmo de crescimento, que se associa a uma redução da ingestão alimentar. É nesse período que desponta a preferência por alimentos doces e calóricos e se desenvolvem comportamentos alimentares ina- dequados, como a neofobia e o picky/fuzzy eating. O picky eating é a aceitação de apenas uma pequena variedade de alimentos e costuma ser um problema transitório. A neofobia é a recusa à introdução de alimentos novos após os dois anos de idade. Diante desses problemas comportamentais alimentares, não devemos reforçar o comportamento inadequado, evitando forçar, ameaçar ou premiar com comida. O ideal nessa faixa etária é adequar o tamanho das porções à idade e oferecer a alimentação em horários fixos, sem substituir refeições caso ocorra a recusa. A ingestão de líquidos e de refrigerantes durante as refeições deve ser evitada, assim como o consumo de guloseimas. Nessa idade, também é muito comum a utilização da mamadeira noturna, que deve ser eliminada tanto por interferir na aceita- ção alimentar ao longo do dia quanto por se associar a doenças como otite média de repetição. A partir do momento em que ofertamos uma varie- dade maior de alimentos em consistência habitual, o que geralmente ocorre na idade pré-escolar, temos que estar sempre atentos ao risco de engasgos, devendo evitar alimentos de risco, principalmente uva ou tomate cereja inteiros, balas duras, pipoca, azeitona e amendoim. O escolar está em ritmo de crescimento constante e, em geral, exposto a uma grande quantidade de atividade física. Por isso, devemos oferecer uma alimentação variada, com peixes duas vezes na semana, com oferta adequada de cálcio (600 mL/ dia de leite ou derivados), evitando o consumo de guloseimas e refrigerantes e a substituição das refeições por lanches. Nessa idade, existe um risco importante de desenvolvimento de obesidade pelo consumo em excesso de alimentos calóricos e pouco nutritivos (salgadinhos, fast food, bolachas recheadas, embutidos, enlatados) e o excesso de atividades sedentárias (assistir televisão, jogar no computador, mexer no tablet), que, inclusive, esti- mulam o consumo de alimentos mais calóricos. A preocupação excessiva ou mal conduzida com o ganho de peso nessa fase pode conduzir a trans- tornos alimentares como a anorexia e a bulimia. Na adolescência ocorre a puberdade, um período de aceleração do crescimento longitudinal, aumento e modificação da composição corporal. Com isso, aumenta o consumo de energia e de gorduras, o que pode se refletir no aumento do risco cardiovascular e no desenvolvimento de resistência insulínica. Nessa Puericultura 24 Pediatria Geral fase, é comum o consumo inadequado de vitaminas, minerais e cálcio, já que, além de o adolescente consumir uma menor quantidade de alimentos que contêm cálcio, ele também consome alimentos que interferem na absorção do cálcio, como cafeína, fitatos e oxalatos. O consumo adequado de cálcio é importante, já que quase 50% da massa óssea é adquirida nessa fase, quando ocorre um pico de formação e mineralização ósseas. Nessa idade também aumentam as necessidades de ferro devido ao aumento da massa muscular (mioglobina) e do número de hemácias. Nas meninas, a menarca e as menstruações irregulares são um outro fator importante de depleção de ferro, devendo-se esti- mular o consumo de alimentos ricos em ferro heme, como carnes. Cada vez mais famílias têm adotado o vegetaria- nismo e, ao contrário do que se imaginava anterior- mente, as crianças podem sim ser vegetarianas desde a introdução alimentar, desde que sejam monitoradas a qualidade e a variedade dos ali- mentos oferecidos, com consumo adequado de leguminosas e cereais (ricos em proteínas e ferro), sementes e castanhas (riscos em ácidos graxos essenciais) e realizada a suplementação de certas vitaminas e minerais (como vitamina B12, vitamina D, cálcio e ferro). DIA A DIA MÉDICO O consumo de mel é contraindicado em crianças meno- res de um ano pela possível contaminação por esporos de Clostridium botulinum e pelo risco subsequente de botulismo infantil. Inicialmente ocorre obstipação intes- tinal, que evolui para paralisia da musculatura ocular extrínseca, choro e sucção fracos, face sem expressão e tônus muscular reduzido. A paralisia neuromuscular pode comprometer até os músculos respiratórios, levando à insuficiência respiratória e à morte. A confirmação do diagnóstico é feita por exame de fezes e o tratamento é feito imunoglobulina humana. 5. INCENTIVO À PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA A prática de atividade física se