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SUMÁRIO 
1 APRESENTAÇÃO .................................................................................... 3 
2 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ........................................................ 4 
3 FRACASSO ESCOLAR E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ......... 7 
3.1 Desempenho acadêmico nas atividades escolares ................................ 13 
3.2 Distúrbios de aprendizagem e desenvolvimento da linguagem.............. 15 
3.3 Os distúrbios de comunicação ............................................................... 17 
4 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E SEUS IMPACTOS 
PSICOSSOCIAIS ...................................................................................................... 20 
5 CLASSIFICAÇÃO E INTERVENÇÃO NOS DISTÚRBIOS DE 
APRENDIZAGEM ..................................................................................................... 24 
5.1 Dislexia ................................................................................................... 28 
5.2 Discalculia .............................................................................................. 32 
5.3 Disgrafia ................................................................................................. 37 
5.4 Dispraxia ................................................................................................ 41 
5.5 Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ................ 46 
6 ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA OS DISTÚRBIOS DE 
APRENDIZAGEM ..................................................................................................... 50 
7 INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM ................................. 53 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 59 
 
 
 
 
 
 
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1 APRESENTAÇÃO 
Prezado(a) aluno(a)! 
O Grupo Educacional FAVENI reafirma o compromisso de oferecer uma 
formação de excelência, reconhecendo que a modalidade de Educação a Distância 
(EAD) confere ao aluno autonomia e flexibilidade para organizar seus estudos de 
acordo com suas necessidades e rotina. Nesse contexto, é fundamental que o 
estudante estabeleça uma rotina de estudos disciplinada e consistente, reservando 
horários para leitura, reflexão e realização das avaliações propostas. 
Reiteramos ainda que o ambiente virtual é equiparável ao presencial no que 
concerne à troca de conhecimentos e esclarecimento de dúvidas. Assim como em 
sala de aula, onde a interação acontece espontaneamente, na EAD o diálogo deve 
acontecer por meio dos canais disponíveis no Portal do Aluno. Incentivamos você a 
utilizar esses recursos para questionar, esclarecer dúvidas e aprofundar seu 
entendimento sobre os conteúdos abordados, pois suas perguntas serão respondidas 
de forma ágil e eficiente pelo nosso suporte. 
Lembre-se de que a autonomia no processo de aprendizagem implica também 
responsabilidade. A gestão do seu tempo, o cumprimento dos prazos e a organização 
das tarefas são essenciais para o seu crescimento acadêmico. Aproveite a 
flexibilidade que o curso oferece, estabelecendo uma rotina compatível com seus 
compromissos pessoais e profissionais. 
Desejamos sucesso em sua jornada de estudos e reforçamos nossa disposição 
em apoiá-lo(a) na construção de um aprendizado sólido e significativo. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 
Os termos distúrbios, transtornos, dificuldades e problemas de aprendizagem 
possuem significados distintos. No entanto, na literatura especializada, bem como na 
prática clínica e escolar, essas expressões têm sido frequentemente empregadas de 
maneira imprecisa, sendo utilizadas de forma intercambiável para representar 
diferentes diagnósticos. Embora ainda não haja um consenso na literatura 
especializada sobre uma definição operacional clara, muitos profissionais, 
especialmente da escola norte-americana, já reivindicam definições mais precisas 
para possibilitar diagnósticos assertivos. No contexto brasileiro, entretanto, alguns 
pesquisadores conseguiram estabelecer distinções importantes. 
Os problemas de aprendizagem representam desafios enfrentados por 
indivíduos, mas com possibilidade de desenvolvimento ao longo do tempo. Esses 
problemas podem ser classificados em dois tipos principais: dificuldades de 
aprendizagem, que estão associadas a aspectos pedagógicos, e distúrbios ou 
transtornos de aprendizagem, relacionados a fatores neurológicos. Além disso, as 
dificuldades escolares podem ter um impacto amplo, englobando desde os conteúdos 
pedagógicos e métodos de ensino até o ambiente social e físico no qual o aluno está 
inserido (Lopes et al., 2019). 
Na perspectiva comportamentalista, os termos distúrbio e transtorno são 
considerados equivalentes. No entanto, de maneira mais específica, o conceito de 
"transtorno" refere-se a um conjunto de sinais e sintomas ou padrões de 
comportamento reconhecidos clinicamente, que estão associados ao sofrimento e à 
interferência no funcionamento pessoal. A definição mais amplamente aceita para 
distúrbios de aprendizagem apresenta uma abordagem médica e neurológica, 
relacionando essas dificuldades a disfunções no sistema nervoso central. Esse 
conceito descreve os distúrbios de aprendizagem como um conjunto de desordens 
que afetam a aquisição e o uso da audição, fala, escrita e raciocínio matemático, 
sendo condições intrínsecas ao indivíduo. 
Embora possam ocorrer simultaneamente com outros desafios, como 
distúrbios sensoriais, déficits intelectuais, questões emocionais e sociais, ou serem 
influenciados por fatores externos, como diferenças culturais e métodos de ensino 
 
 
 
5 
 
inadequados, os distúrbios de aprendizagem não são diretamente causados por essas 
circunstâncias. Dessa forma, sua identificação e intervenção devem levar em 
consideração sua origem neurológica e as particularidades de cada caso. 
Não há uma classificação única e padronizada para alunos com distúrbios de 
aprendizagem, pois esses indivíduos apresentam inteligência considerada dentro da 
média, mas enfrentam dificuldades para atingir o desempenho esperado em áreas 
como leitura, escrita e matemática. Em alguns casos, os desafios podem se estender 
para outras esferas, impactando o desenvolvimento acadêmico e social (Lopes et al., 
2019). 
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) identifica os transtornos 
específicos do desenvolvimento das habilidades escolares sob o código F81, incluindo 
condições como dislexia (F81.0) e discalculia (F81.2). A disgrafia, por sua vez, é 
geralmente classificada sob o código F81.8, destinado a outros transtornos do 
desenvolvimento das habilidades escolares. Essas classificações auxiliam no 
diagnóstico e na implementação de estratégias educacionais adaptadas às 
necessidades desses alunos. 
Além disso, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-
V) também inclui os transtornos específicos de aprendizagem, destacando suas 
características e critérios para avaliação. Dessa forma, esses sistemas contribuem 
para uma compreensão mais detalhada das dificuldades enfrentadas e para a 
definição de abordagens eficazes de intervenção, analise a seguir: 
• Transtorno de leitura: esse distúrbio de aprendizagem se caracteriza por uma 
dificuldade específica na compreensão de palavras escritas. Os alunos 
diagnosticados com essa condição apresentam habilidades de leitura inferiores 
às daqueles com baixo rendimento acadêmico. Como leitura e escrita estão 
diretamente relacionadas, muitos desses estudantes também enfrentam 
desafios na produção textual. Com o avanço da complexidade escolar, a baixa 
proficiência nessas áreas dificulta o acompanhamento das demandas 
acadêmicas, comprometendo o desempenho educacional. 
• Transtorno da expressão escrita: esse tipo de dificuldade
quanto a aprendizagem subjetiva, permitindo vivências que 
 
 
 
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envolvem desafios como ganhar ou perder. Essas experiências contribuem para a 
construção de competências matemáticas e sociais, tornando o processo educacional 
mais significativo para o estudante. 
5.3 Disgrafia 
A disgrafia é um transtorno específico de aprendizagem que afeta a escrita 
manual e a organização de pensamentos em palavras escritas. Apesar de 
apresentarem inteligência dentro da média, indivíduos com disgrafia enfrentam 
dificuldades para expressar suas ideias no papel de forma clara e estruturada. Sua 
caligrafia pode ser irregular ou desorganizada, mesmo com esforço significativo, e há 
uma discrepância entre a fluência verbal e a produção escrita (Hudson, 2019). 
Embora a capacidade de leitura desses indivíduos seja preservada, a ortografia 
pode ser comprometida em alguns casos. Estima-se que a disgrafia afete 
aproximadamente 10% da população em diferentes níveis de intensidade, podendo 
atingir tanto meninos quanto meninas. Em algumas situações, ocorre em associação 
com outros transtornos de aprendizagem, mas também pode se manifestar 
isoladamente. Há indícios de predisposição familiar para a condição. A disgrafia pode 
se manifestar em três diferentes formas, e tanto os sintomas quanto as estratégias de 
intervenção variam conforme sua causa específica: 
• Disgrafia espacial: dificuldade no processamento visual e na percepção do 
espaço, o que interfere na organização da escrita. Pode afetar o alinhamento 
das palavras na linha e o espaçamento entre letras. Além disso, ações como 
desenhar e colorir também podem ser comprometidas. Tanto a escrita 
espontânea quanto a cópia tendem a ser desorganizadas e, muitas vezes, 
ilegíveis, embora a ortografia permaneça preservada. 
• Disgrafia motora: deficiência no controle motor fino dos músculos da mão e 
do punho, tornando o ato de escrever um processo exaustivo e pouco preciso. 
Isso pode resultar em uma caligrafia desalinhada ou ilegível, mesmo ao copiar 
textos. Apesar das dificuldades na execução gráfica, a ortografia não sofre 
alterações significativas. 
 
 
 
38 
 
• Disgrafia de processamento (também chamada disgrafia disléxica): 
dificuldade em visualizar mentalmente a formação correta das letras em uma 
palavra, levando a uma escrita desorganizada, com letras malformadas e na 
sequência errada. A produção original escrita costuma ser ilegível, enquanto a 
cópia apresenta qualidade relativamente melhor. A ortografia também é 
comprometida, dificultando a escrita correta das palavras. 
Um aluno com disgrafia geralmente demonstra inteligência e boa comunicação 
verbal, mas a qualidade de sua produção escrita não corresponde ao seu potencial. 
Seus trabalhos podem parecer desorganizados e abaixo do esperado, apesar do 
esforço empregado. Ao observá-lo escrever, é possível notar que o processo exige 
grande esforço, acompanhado de uma postura desalinhada e uma pegada 
inadequada da caneta. Além disso, ele tende a demorar para copiar conteúdos do 
quadro ou de um livro e pode relatar desconforto ou dor na mão ao escrever por 
períodos prolongados (Hudson, 2019). Analise na figura a seguir, alguns sintomas da 
disgrafia. 
Figura 5 – Sintomas da disgrafia 
 
Fonte: adaptado de Pereira, 2020. 
 
 
 
39 
 
A escrita é uma habilidade motora complexa, adquirida ao longo de um 
processo contínuo de aprendizado e prática. Um dos modelos mais aceitos para 
descrever esse processo divide a escrita em três etapas principais. A primeira etapa 
envolve a recuperação de programas motores internalizados, reunindo as informações 
necessárias para a produção dos caracteres a serem escritos. 
Na segunda fase, são definidos os parâmetros visuoespaciais, permitindo o 
posicionamento adequado das letras na página ou linha. A terceira etapa está 
relacionada à determinação do tamanho das letras, seguida pelo recrutamento dos 
músculos responsáveis pela estabilização corporal e pela manipulação da ferramenta 
de escrita. Esse ajuste envolve a aplicação da força necessária, a organização 
espacial dos movimentos e a correção de eventuais erros durante a execução. Esse 
modelo evidencia que a escrita manual depende de diversas funções motoras que 
atuam de forma coordenada para garantir fluidez e precisão. 
O processo da escrita tem início a partir de um estímulo, que pode ser interno, 
como a formulação de pensamentos que despertam o desejo de registrá-los, ou 
externo, como a necessidade de anotar informações importantes durante uma 
palestra. A partir desse estímulo, ativam-se dois grupos de processos: os centrais, 
relacionados à cognição e à linguagem, e os periféricos, responsáveis pelos aspectos 
motores da escrita (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
No nível central, diversas áreas do cérebro participam dessa atividade, 
incluindo o giro fusiforme, giro temporal inferior, médio e superior, giro frontal inferior, 
giro angular e giro supramarginal. Nessas regiões ocorrem funções essenciais para a 
escrita, como a memória ortográfica de longo prazo, a conversão fonema-grafema e 
a memória de trabalho ortográfica. Já no nível periférico, estão envolvidas estruturas 
como o córtex pré-motor dorsal, lobo parietal superior, cerebelo e componentes 
subcorticais, incluindo o caudado, o putâmen e o tálamo. Os processos que ocorrem 
nessas regiões garantem a execução dos movimentos motores necessários para a 
escrita, permitindo precisão e fluidez na produção textual. 
Os estudos sobre disgrafia indicam que indivíduos com esse transtorno 
apresentam comprometimento no controle motor fino e grosso, afetando diretamente 
a coordenação necessária para a escrita. Esses déficits estão relacionados a 
dificuldades no planejamento motor, tornando o processo de escrita menos preciso e 
 
 
 
40 
 
fluido. Além disso, há evidências de uma conexão entre a disgrafia e o sistema 
visuoespacial. Pesquisas mostram que alunos com disgrafia apresentam uma 
ativação cerebral mais ampla durante a escrita, tornando o processo menos eficiente 
em comparação com indivíduos sem o transtorno. Essa ativação elevada envolve o 
sistema visual, evidenciando a relação entre a integração visual-motora e as 
habilidades de escrita (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
Alterações no cerebelo também desempenham um papel significativo, 
interferindo na adaptação de parâmetros de movimento, como o tamanho da caligrafia 
e a coordenação rítmica. Dessa forma, as dificuldades motoras e perceptivas podem 
impactar tanto o produto final da escrita (a legibilidade das palavras) quanto o 
processo de execução dos traços, resultando em desafios na velocidade e clareza da 
produção textual. Existem diversas abordagens para a reabilitação da disgrafia, sendo 
essencial identificar qual método proporciona melhores resultados em tarefas de 
cópia. Modelos que apresentam informações adicionais, como a ordem correta e a 
direção do traço a ser seguido, demonstram maior eficácia em comparação a modelos 
estáticos. 
Da mesma forma, vídeos que mostram o processo de escrita em tempo real 
são mais eficientes do que representações estáticas sem orientações visuais. Por 
outro lado, estratégias como desenhar letras unindo pontos podem ser prejudiciais, 
pois exigem controle visual constante da trajetória, limitando a velocidade e a fluidez 
do movimento. Uma alternativa eficiente é mudar a percepção do escritor sobre sua 
caligrafia. O uso de uma caneta sem tinta, por exemplo, permite que o indivíduo se 
concentre no movimento da mão sem se fixar no traço visual, favorecendo uma escrita 
mais natural e fluida. 
O uso de novas tecnologias, como tablets gráficos e digitalizadores, representa 
uma abordagem inovadora e promissora para a reabilitação da disgrafia. Além de 
despertar o interesse das crianças, a escrita digital permite uma nova percepção sobre 
o processo de escrita, reduzindo a dependência de informações
visuais do produto 
final e ampliando o acesso a estímulos sensoriais. Esse tipo de intervenção pode 
incluir recursos como feedback auditivo complementar ou ajustes em tempo real na 
cor da tinta, conforme determinadas variáveis cinemáticas. Essas adaptações tornam 
o processo de escrita mais dinâmico e criativo, favorecendo o desenvolvimento das 
 
 
 
41 
 
habilidades motoras de maneira mais interativa e envolvente (Gorla; Souza; Buratti, 
2021). 
5.4 Dispraxia 
A dispraxia é um distúrbio neurológico que afeta a coordenação e o controle 
dos movimentos, apesar do funcionamento normal dos músculos. Tanto a 
coordenação motora fina, responsável pelos movimentos precisos das mãos, quanto 
a coordenação motora grossa, que envolve o controle do corpo inteiro, pode ser 
comprometida. Além disso, dificuldades na fala também podem estar presentes. A 
condição pode ser classificada em diferentes tipos: 
• Dispraxia motora: caracterizada por dificuldades na coordenação dos 
músculos, afetando tarefas como vestir-se, comer ou andar. Em alguns casos, 
pode estar associada à lentidão para realizar movimentos simples. 
• Dispraxia da fala: dificuldade no desenvolvimento da linguagem, 
comprometendo a pronúncia das palavras, que podem ser faladas de forma 
incorreta ou imperceptível. 
• Dispraxia postural: impacto na capacidade de manter uma postura adequada, 
seja ao ficar de pé, sentado ou caminhando, podendo resultar em 
desalinhamento corporal. 
Esse transtorno impacta habilidades de função executiva, como organização, 
memória de curto prazo, planejamento e interação social, podendo variar em 
intensidade, de leve a grave. No entanto, a dispraxia não interfere na inteligência 
global. A causa do distúrbio ainda não é completamente compreendida, e diversos 
fatores podem estar envolvidos em seu desenvolvimento (Hudson, 2019). 
Há indícios de predisposição genética, e estudos sugerem que até 5% das 
crianças no Reino Unido apresentam algum grau de dispraxia, sendo diagnosticada 
com maior frequência em meninos do que em meninas. Embora seja frequentemente 
associada a crianças, a dispraxia também pode se manifestar em adultos que 
sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) ou um traumatismo craniano, 
comprometendo a coordenação motora e outras funções neurológicas. 
 
 
 
42 
 
O Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) é um termo 
frequentemente utilizado como sinônimo de dispraxia, sendo ambos empregados de 
maneira intercambiável. O uso do termo "desenvolvimento" indica que essa condição 
está presente desde o nascimento, não resultando de lesões ou doenças adquiridas. 
Para facilitar a compreensão, ao longo deste capítulo será adotado o termo "dispraxia" 
para referir-se à condição. 
O TDC é uma condição que afeta a coordenação motora fina e grossa em 
crianças e adultos. Além das dificuldades motoras, indivíduos com dispraxia podem 
enfrentar desafios em áreas como memória, percepção e processamento de 
informações, o que pode impactar significativamente seu cotidiano. Outros aspectos 
comprometidos incluem planejamento, organização e a execução de movimentos na 
ordem correta, tornando tarefas diárias mais complexas. A abordagem multidisciplinar 
no acompanhamento desses indivíduos é essencial para promover estratégias 
eficazes de adaptação e desenvolvimento. 
Observe o aluno que pode entrar na sala apressado e ligeiramente atrasado. 
Ele tende a deixar objetos caírem, perder ou esquecer materiais, além de demonstrar 
inquietação no assento, chegando até a escorregar ou cair da cadeira. Apesar de 
participar ativamente das aulas, seu trabalho escrito costuma ser desorganizado e 
visualmente descuidado, não refletindo plenamente suas capacidades intelectuais. 
Além das dificuldades acadêmicas, ele pode apresentar desafios nos esportes, 
especialmente em atividades que envolvem bolas, sendo frequentemente preterido na 
escolha dos times. Essas características podem indicar a necessidade de um 
acompanhamento mais atento para compreender suas dificuldades e oferecer 
estratégias de apoio. 
Alunos com dispraxia podem manifestar alguns dos sinais mencionados nos 
quadros a seguir, mas não necessariamente todos. Além disso, é importante 
considerar que alguns podem apresentar outros transtornos de aprendizagem 
simultaneamente, o que pode influenciar suas dificuldades e estratégias de 
intervenção. A observação cuidadosa e o acompanhamento adequado são essenciais 
para garantir o suporte necessário ao desenvolvimento desses estudantes (Hudson, 
2019). 
 
 
 
43 
 
Quadro 4 – Manifestação da dispraxia e condições relacionadas 
 
Fonte: adaptado de Hudson, 2019. 
Quadro 5 – Dispraxia e transtornos associados
 
Fonte: adaptado de Hudson, 2019. 
 
 
 
 
 
 
44 
 
Quadro 6 – Desafios em testes e exames 
 
Fonte: adaptado de Hudson, 2019. 
Quadro 7 – Percepção sensorial e impactos 
 
Fonte: adaptado de Hudson, 2019. 
 
 
 
 
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Quadro 8 – Pontos fortes comuns em alunos com dispraxia 
 
Fonte: adaptado de Hudson, 2019. 
Um mentor pode desempenhar um papel fundamental ao auxiliar o aluno na 
identificação de estratégias de enfrentamento mais eficazes para suas necessidades. 
Esse suporte deve ser contínuo ao longo de toda a trajetória escolar, incluindo os 
últimos anos do ensino médio. À medida que novos desafios surgem, o estudante 
pode precisar de apoio adicional na organização da vida escolar, especialmente no 
desenvolvimento de habilidades de gerenciamento de tempo, como a definição de 
prioridades e o cumprimento de prazos (Hudson, 2019). 
Alunos com dispraxia podem se qualificar para ajustes especiais em exames 
públicos, que podem incluir tempo adicional, o uso de um processador de textos ou o 
auxílio de um escriba. Para garantir a implementação dessas medidas, é necessário 
passar por uma avaliação realizada por um especialista. O Senco (coordenador de 
necessidades educacionais especiais) da escola e o aplicador da prova são 
responsáveis por assegurar que as acomodações adequadas sejam devidamente 
aplicadas. Além disso, é essencial que esses alunos tenham acesso a esses ajustes 
 
 
 
46 
 
em provas e testes realizados dentro da própria escola, permitindo que se familiarizem 
com essas condições antes de enfrentar exames oficiais. 
5.5 Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) 
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é caracterizado 
por três principais indicadores comportamentais: desatenção, hiperatividade e 
impulsividade. Trata-se de um distúrbio neurobiológico que, embora não tenha cura, 
pode ser gerenciado por meio de medicamentos, terapia comportamental e ajustes no 
estilo de vida (Hudson, 2019). 
Estima-se que até 5% das crianças e jovens sejam afetados pelo TDAH, 
tornando-o o distúrbio comportamental mais comum no Reino Unido, segundo o “NHS 
Choices”. Sua intensidade varia de casos leves a severos. Estudos indicam que o 
transtorno tende a ocorrer em membros da mesma família, sugerindo influência 
genética, embora fatores ambientais e relacionados ao estilo de vida também possam 
contribuir para seu desenvolvimento. Apesar de não comprometer o intelecto do 
indivíduo, pode impactar seu desempenho acadêmico e social se não for 
adequadamente acompanhado. 
Muitos indivíduos com TDAH apresentam comorbidades, incluindo dificuldades 
específicas de aprendizagem, como dislexia, além de transtornos do 
neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista (TEA). Problemas como 
insônia e ansiedade também são frequentes nesses casos. Durante muito tempo, o 
TDAH não foi amplamente reconhecido como uma condição médica legítima e foi 
erroneamente atribuído a falhas na educação familiar. Atualmente, o TDAH é 
oficialmente reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um 
transtorno neurobiológico que requer acompanhamento especializado. 
 
 
 
47 
 
 
O TDAH é caracterizado
por um padrão persistente de desatenção e/ou 
hiperatividade-impulsividade, impactando o desenvolvimento e comprometendo o 
desempenho social, acadêmico ou profissional. Os sintomas costumam se manifestar 
em diferentes ambientes, como na escola e em casa, e devem estar presentes antes 
dos doze anos de idade. O TDAH pode ser classificado em três tipos, de acordo com 
suas características predominantes: 
• TDAH predominantemente desatento: mais comum em meninas, envolve 
dificuldade de concentração e distração frequente. 
• TDAH misto (desatento e hiperativo/impulsivo): tipo mais recorrente, 
especialmente em meninos, combinando sintomas de desatenção com 
comportamentos impulsivos e inquietação. 
• TDAH predominantemente hiperativo: menos frequente, caracterizado por 
alta agitação e impulsividade. 
O termo "Transtorno do Déficit de Atenção" (TDA), que era utilizado 
anteriormente, foi substituído por "TDAH predominantemente desatento", 
reconhecendo melhor a natureza dos sintomas. O lobo frontal do cérebro desempenha 
um papel fundamental na regulação do comportamento racional e lógico. Ele permite 
que os indivíduos pensem antes de agir, aprendam com experiências passadas e 
inibam respostas emocionais impulsivas. Além disso, essa região é essencial para o 
planejamento, a definição de metas e a construção da personalidade, influenciando 
diretamente quem somos (Hudson, 2019). 
As células cerebrais se comunicam por meio de neurotransmissores, 
substâncias químicas que transmitem informações entre os neurônios. Estudos 
 
 
 
48 
 
indicam que pessoas com TDAH apresentam uma atividade reduzida desses 
neurotransmissores no lobo frontal, o que pode resultar em uma maior propensão à 
impulsividade, tomada de riscos e dificuldade de concentração. 
Identificar um aluno com TDAH pode variar conforme o tipo de manifestação 
do transtorno. Os alunos que apresentam hiperatividade e impulsividade costumam 
ter comportamentos mais evidentes, sendo aqueles que têm dificuldade em 
permanecer quietos, falam alto na sala de aula e constantemente buscam atenção. 
Apesar de serem brilhantes, espirituosos e criativos, necessitam de disciplina 
constante. Quando entediados, podem se tornar o palhaço da classe, mas também 
podem apresentar irritabilidade e explosões de raiva. 
O tipo desatento de TDAH, por outro lado, é mais difícil de reconhecer. Esses 
alunos podem parecer distantes e demonstrar dificuldades para acompanhar 
instruções ou prestar atenção ao que lhes é dito. Geralmente são desorganizados e 
apresentam baixa absorção de informações, evitando tarefas que consideram difíceis 
por sentirem que não conseguirão concluí-las (Hudson, 2019). 
Independentemente do tipo de TDAH, esses alunos costumam ter vontade de 
se sair bem e agradar seus professores, mas enfrentam obstáculos relacionados à 
organização e à execução das atividades escolares. Seu trabalho escrito pode acabar 
incompleto ou desorganizado, apesar de, muitas vezes, começarem com grandes 
ideias. Além disso, podem ter conflitos com colegas, que, em alguns casos, ocorrem 
devido a provocações e importunações. A depressão é um problema comum entre 
esses jovens, pois muitos sentem que nunca conseguirão fazer amigos ou alcançar 
um bom desempenho na escola, o que pode impactar sua autoestima e bem-estar 
emocional (Hudson, 2019). 
As funções executivas são fundamentais para a organização, o planejamento 
e a realização de tarefas de maneira eficiente. Elas auxiliam na definição de metas, 
na aprendizagem a partir de erros e no controle de impulsos. No entanto, alunos com 
TDAH frequentemente enfrentam desafios no desenvolvimento dessas habilidades, o 
que pode impactar seu desempenho escolar. Eles podem ter dificuldades com 
atividades como: 
• recordar detalhes e instruções, além de manter números na memória por tempo 
suficiente para realizar cálculos; 
 
 
 
49 
 
• manter o foco e a atenção de forma consistente; 
• organizar, planejar e estabelecer prioridades de maneira eficiente; 
• avaliar o tempo necessário para concluir um projeto; 
• aprender com experiências passadas e refletir sobre erros cometidos; 
• regular o comportamento considerando as possíveis consequências das ações; 
• tomar decisões de forma racional e consciente; 
• concluir tarefas iniciadas, apesar de terem ótimas ideias, podem ter dificuldade 
em persistir até o final; 
• reagir com lógica em vez de emoção, o que pode impactar as relações 
interpessoais, incluindo amizades e interações com professores; 
• controlar impulsos e evitar padrões de comportamento impulsivo; 
• administrar emoções acumuladas para evitar explosões de raiva. 
Os critérios para o diagnóstico do TDAH presentes no DSM-5 mantêm grande 
parte das diretrizes do manual anterior. Indivíduos com menos de dezessete anos 
precisam apresentar seis dos sintomas listados, enquanto aqueles acima dessa idade 
necessitam de cinco. Além disso, a exigência de que os sinais deveriam surgir até os 
sete anos foi alterada, estabelecendo-se um novo limite de doze anos. Outra mudança 
relevante no DSM-5 é a possibilidade de diagnosticar o TDAH simultaneamente com 
o transtorno do espectro autista (TEA), reconhecendo a coexistência entre essas 
condições. 
Esse transtorno é caracterizado como neurobiológico e de origem genética, 
manifestando-se na infância e acompanhando o indivíduo ao longo da vida. Os 
principais sintomas incluem desatenção, inquietude e impulsividade. O TDAH é um 
quadro heterogêneo de alterações neurológicas que podem aparecer durante o 
desenvolvimento humano, influenciado por fatores genéticos e ambientais. Crianças 
com o transtorno costumam ser descritas como sonhadoras, facilmente distraídas e 
com dificuldade para manter a atenção. 
Estudos indicam que, em atividades metalinguísticas e de leitura, escolares 
com TDAH tendem a apresentar desempenho inferior em tarefas mais complexas, 
como a manipulação de sílabas e fonemas e na leitura de palavras irregulares. No 
entanto, essas dificuldades não são resultado de um déficit cognitivo primário, mas 
 
 
 
50 
 
sim de um efeito secundário da desatenção, que impacta diretamente o aprendizado. 
Ainda há uma carência de instrumentos validados para a análise do perfil motor de 
crianças com TDAH no Brasil, tornando essa questão pouco explorada na população 
nacional. 
Ainda não há um consenso na literatura científica sobre quais áreas específicas 
do cérebro são afetadas pelo TDAH. No entanto, pesquisas indicam diferenças 
estruturais e funcionais significativas no cérebro de indivíduos com o transtorno, 
principalmente no hemisfério direito, córtex pré-frontal, gânglios da base, corpo caloso 
e cerebelo. Além disso, estudos apontam que o córtex pré-frontal medial e a amígdala 
desempenham um papel relevante na manifestação dos sintomas do TDAH. A 
neurotransmissão de catecolaminas nessas áreas está associada a dificuldades como 
distração, esquecimento, desorganização e impulsividade (Gorla; Souza; Buratti, 
2021). 
Além disso, diversas teorias já foram propostas para explicar a neuropatologia 
do TDAH, mas as vias envolvidas ainda não foram totalmente esclarecidas. Isso 
reforça que os mecanismos neurobiológicos do transtorno são complexos e não 
dependem exclusivamente de um único neurotransmissor. Da mesma forma, não há 
evidências da existência de um único "gene do TDAH". Em vez disso, acredita-se que 
uma combinação de múltiplos genes com efeitos menores possa contribuir para uma 
predisposição ou vulnerabilidade ao desenvolvimento do transtorno. 
6 ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 
Na educação infantil, é fundamental proporcionar um ambiente de 
aprendizagem inclusivo desde os primeiros anos, estimulando o desenvolvimento 
integral e respeitando as características únicas de cada criança. Para alcançar esse 
objetivo, é necessário adotar práticas e intervenções que favoreçam a aprendizagem,
garantindo um espaço acolhedor que valorize e respeite a diversidade individual. 
Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n.º 9.394, 
de 20 de dezembro de 1996, e a Lei n.º 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que 
institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do 
Espectro Autista, asseguram que a educação deve ser inclusiva, garantir atendimento 
 
 
 
51 
 
especializado e respeitar as diferenças individuais, promovendo a equidade no ensino 
(Brasil, 1996, 2012). 
No Brasil, a educação especial é voltada para o atendimento de alunos com 
diversas condições, incluindo deficiências físicas, sensoriais, intelectuais e múltiplas, 
além do Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, é essencial ressaltar que 
transtornos funcionais específicos, como TDAH, discalculia, disgrafia e dislexia, assim 
como dificuldades de aprendizagem, não são classificados como deficiência no censo 
escolar. Embora esses casos exijam suporte especializado para garantir o progresso 
acadêmico, eles não se enquadram nos critérios oficiais de deficiência. Portanto, para 
promover um ambiente educacional inclusivo e acolhedor, o papel de profissionais 
como psicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e educadores 
especializados é fundamental, permitindo a adaptação do ensino às necessidades 
individuais dos alunos e incentivando seu pleno desenvolvimento. 
Na educação infantil, garantir a inclusão de alunos com necessidades 
educacionais específicas em turmas regulares requer práticas docentes adaptativas e 
inclusivas. Para que essas crianças recebam o suporte necessário e possam 
desenvolver plenamente suas habilidades, é fundamental adotar estratégias 
pedagógicas que considerem a diversidade e respeitem as particularidades de cada 
aluno. 
O planejamento diferenciado é um dos pilares da educação inclusiva, 
permitindo que os planos de aula sejam elaborados de forma a atender às variadas 
necessidades dos estudantes. Isso envolve o uso de diferentes metodologias e 
recursos, abrangendo diversas formas de aprendizagem e proporcionando 
oportunidades equitativas para todos. Em vez de seguir um único método, os 
educadores combinam abordagens visuais, auditivas e práticas, garantindo que cada 
aluno tenha acesso ao ensino de maneira eficaz. Dessa forma, o planejamento deve 
incluir atividades adaptadas e materiais de apoio que incentivem a participação ativa 
dos alunos, respeitando seus ritmos individuais e promovendo um ambiente de 
aprendizado acessível e acolhedor. 
Para atender às diferentes necessidades, como as das crianças com dislexia, 
os professores podem adotar atividades multissensoriais, tornando o aprendizado 
mais acessível e estimulante. Em aulas de linguagem, estratégias como escrever 
 
 
 
52 
 
letras na areia para estimular o tato, ler livros ilustrados para fortalecer a percepção 
visual e ouvir histórias gravadas para reforçar a audição mostram-se eficazes. Além 
disso, o uso de blocos de construção com letras e jogos de correspondência entre 
imagens e palavras facilita a associação dos conceitos e aprimora o reconhecimento 
das estruturas da linguagem. 
A adaptação de materiais didáticos também desempenha um papel 
fundamental no suporte aos alunos com dificuldades de leitura. Livros com textos 
ampliados e espaçados, recursos audiovisuais, como vídeos legendados, e 
ferramentas de leitura assistiva, que reproduzem o texto em áudio, podem contribuir 
significativamente para o desenvolvimento da alfabetização. Outras alternativas 
incluem softwares que destacam palavras à medida que são lidas, além da criação de 
materiais com fontes mais legíveis e alto contraste, garantindo uma melhor 
visualização e compreensão do conteúdo (Moreira, 2024). 
A implementação de estações de aprendizagem na sala de aula é uma 
estratégia eficaz para atender às diversas necessidades dos alunos. Cada estação 
pode ser planejada com um objetivo específico, como atividades práticas de 
matemática utilizando materiais manipulativos, jogos interativos para reforçar a leitura 
e práticas de escrita com apoio visual. Além disso, incluir uma estação voltada para 
atividades de movimento, como jogos educativos que permitam às crianças se 
movimentarem enquanto aprendem, torna o processo mais dinâmico e envolvente. 
A formação contínua dos professores também é essencial para garantir um 
ensino inclusivo e eficaz. A atualização constante sobre as melhores práticas e 
estratégias voltadas para alunos com necessidades educacionais especiais capacita 
os educadores a lidar com desafios e promover um ambiente escolar mais acessível 
e adaptado às diversas formas de aprendizagem. A capacitação contínua por meio de 
cursos, oficinas e a troca de experiências com especialistas é essencial para manter 
os conhecimentos atualizados e aprimorar práticas pedagógicas fundamentadas em 
evidências (Moreira, 2024). 
Para fortalecer a educação inclusiva, a organização e participação em cursos 
voltados para inclusão e necessidades educacionais especiais são fundamentais. Por 
exemplo, uma oficina focada em estratégias para o ensino de crianças com TDAH 
 
 
 
53 
 
pode oferecer técnicas específicas para promover a atenção e gerenciar a 
impulsividade de maneira eficaz. 
Acompanhar pesquisas e artigos atualizados é fundamental para ampliar o 
conhecimento sobre práticas inclusivas na educação. Isso envolve explorar novas 
abordagens para o ensino de crianças com disgrafia e analisar tecnologias assistivas 
que podem ser incorporadas ao ambiente escolar, favorecendo o aprendizado e a 
autonomia dos alunos. Além disso, a colaboração multidisciplinar desempenha um 
papel essencial nesse processo. O trabalho conjunto entre educadores, psicólogos, 
terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros especialistas proporciona um 
suporte mais completo e personalizado, garantindo que cada aluno receba a 
assistência necessária para seu desenvolvimento acadêmico e social. 
As intervenções pedagógicas para alunos atípicos exigem flexibilidade, 
criatividade e colaboração, com foco na personalização do ensino e na comunicação 
aberta para ajustes contínuos. A construção de um ambiente escolar inclusivo é 
essencial para garantir o desenvolvimento e o aprendizado de todos os alunos. Em 
síntese, práticas educacionais inclusivas, fundamentadas em uma abordagem teórica 
sólida, promovem um espaço que respeita e apoia a diversidade das necessidades 
dos estudantes. Ao adotar estratégias adaptativas e colaborativas, os educadores 
possibilitam que todas as crianças, independentemente dos desafios que enfrentam, 
tenham acesso a um aprendizado significativo. 
Considerando os objetivos propostos, como o reconhecimento dos principais 
distúrbios e transtornos em crianças pré-escolares, a relação desses desafios com o 
desenvolvimento da aprendizagem e a identificação de intervenções pedagógicas 
adequadas, os exemplos práticos demonstram como a inclusão pode ser aplicada de 
maneira eficaz no contexto educacional. 
7 INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM 
Para Meneghetti e Souza (2017), no contexto atual, observa-se uma tendência 
crescente de transferência da responsabilidade pela educação dos filhos para a 
escola. Muitas famílias acreditam que os professores devem não apenas ensinar 
conteúdos acadêmicos, mas também transmitir valores morais, regras de conduta e 
 
 
 
54 
 
hábitos cotidianos, como higiene e boas maneiras. Essa percepção está relacionada 
ao aumento da carga de trabalho dos pais, que frequentemente alegam não dispor de 
tempo suficiente para dedicar-se à educação dos filhos. 
A escola, como instituição, tem o dever de garantir a efetividade do processo 
educacional e de criar espaços que incentivem a participação da família nas decisões 
administrativas e pedagógicas. Essa colaboração é essencial para promover o 
desenvolvimento integral dos
estudantes e depende do envolvimento ativo dos 
familiares, que devem acompanhar e apoiar o crescimento dos filhos em todas as suas 
dimensões. 
A família exerce papel fundamental na aprendizagem, sendo os pais os 
primeiros educadores. Suas atitudes diante das demandas e desafios enfrentados 
pelas crianças influenciam diretamente suas formas de aprender. A repetição 
constante de comportamentos e respostas por parte dos responsáveis contribui para 
a formação dos estilos de aprendizagem das crianças. 
A parceria entre escola e família é imprescindível para o sucesso educacional. 
No entanto, para que seja efetiva, é necessário que os familiares estejam 
verdadeiramente envolvidos na vida escolar dos filhos. Esse engajamento fortalece o 
vínculo afetivo com a criança ou adolescente, gerando um sentimento de segurança 
e valorização emocional, o que favorece seu desenvolvimento socioafetivo. 
A concepção ampliada de família inclui não apenas os vínculos sanguíneos, 
mas também aqueles formados por laços afetivos, constituindo grupos unidos pelo 
desejo de conviver, construir relações e se complementar mutuamente. Por meio 
dessas interações, os indivíduos desenvolvem maior capacidade de cuidado e 
receptividade, aprendendo a lidar de forma saudável com as dinâmicas afetivas. 
Para que essa adaptação emocional ocorra de forma equilibrada, é 
fundamental que existam referências positivas que estabeleçam os limites 
necessários para o desenvolvimento de uma individualidade saudável. Crianças e 
adolescentes encontram nessas referências — sejam pessoas, palavras ou gestos — 
elementos que favorecem a construção de analogias e a compreensão do mundo ao 
seu redor. A harmonia vivenciada nos momentos familiares contribui para o 
comprometimento com a qualidade escolar e o desenvolvimento humano pleno 
(Meneghetti; Souza, 2017). 
 
 
 
55 
 
As interações sociais contínuas exigem que os indivíduos reflitam criticamente 
sobre seus padrões de comportamento e costumes, desenvolvendo consciência e 
responsabilidade diante de um mundo cada vez mais complexo, interdependente e 
desafiador. Essa postura evita visões unilaterais e preconceituosas, valorizando 
perspectivas alternativas, as relações interpessoais e o respeito aos direitos e valores 
humanos. 
Apesar das diversas dificuldades enfrentadas, as possibilidades de atuação 
conjunta entre escola e família são amplas e relevantes, especialmente para alunos 
com dificuldades de aprendizagem. Um exemplo de aprimoramento seria a 
implementação de um processo de triagem no início do ano letivo para identificar 
essas crianças, permitindo seu encaminhamento precoce para turmas específicas de 
apoio. Essa medida possibilita um acompanhamento mais eficaz e fortalece a 
continuidade do trabalho da equipe pedagógica. 
A participação integrada da família, da comunidade e da escola no processo 
educativo fortalece a confiança na construção de um ambiente propício à 
aprendizagem. Essa colaboração é indispensável para oferecer aos estudantes 
condições adequadas, acolhedoras e saudáveis, promovendo o bem-estar e 
contribuindo para a melhoria da qualidade da educação formal e social, com impactos 
positivos no desenvolvimento integral dos alunos (Meneghetti; Souza, 2017). 
A família e a escola são essenciais na formação dos futuros cidadãos, sendo 
necessário que as instituições de ensino compreendam a importância da família como 
o primeiro ambiente de socialização e aprendizado da criança. Antes de ser aluno, 
cada indivíduo é um filho que recebe formação desde o nascimento, o que torna 
fundamental a parceria entre a escola e a família para garantir um processo 
educacional eficaz. Os educadores devem reconhecer as características individuais 
dos alunos, integrando conhecimentos sobre seu desenvolvimento cognitivo e 
socioafetivo ao contexto em que estão inseridos. A valorização das experiências 
familiares pode contribuir significativamente para a construção das habilidades 
necessárias ao letramento. 
O contato com diferentes ambientes e vivências auxilia no desenvolvimento da 
interpretação de textos, da escrita e de outras competências fundamentais para a 
aprendizagem formal. Além disso, a estrutura familiar tem grande impacto na 
 
 
 
56 
 
permanência escolar, podendo influenciar diretamente a evasão ou a repetência dos 
alunos. Fatores como hábitos de estudo, frequência às aulas e comportamento são 
determinantes nesse processo. Por isso, a colaboração entre família e escola é 
indispensável para criar um ambiente educacional inclusivo e adequado às 
necessidades de cada estudante. 
Estudos apontam que alguns professores, ao se depararem com o baixo 
rendimento escolar de seus alunos, tendem a atribuir a causa a famílias consideradas 
"desestruturadas", baseando-se apenas em um conhecimento superficial sobre suas 
realidades. No entanto, cada família possui suas próprias dinâmicas e características, 
e é fundamental analisar essas relações dentro de seus contextos específicos para 
evitar preconceitos que possam impactar negativamente o aprendizado das crianças. 
Para compreender melhor as influências familiares na aprendizagem, é 
essencial que a escola desenvolva um vínculo mais próximo com as famílias, pois são 
elas que oferecem informações valiosas sobre o aluno. O diálogo entre professores e 
pais possibilita uma troca significativa, ajudando a identificar as verdadeiras 
necessidades educacionais da criança e promovendo estratégias mais eficazes para 
seu desenvolvimento. Muitos professores relatam que só conseguem conhecer 
melhor o contexto familiar dos alunos quando precisam entrar em contato com os pais 
para tratar de questões como comportamento, desempenho acadêmico ou 
dificuldades na aprendizagem. 
No entanto, a ausência das famílias em reuniões escolares pode dificultar esse 
diálogo e o acompanhamento do desenvolvimento dos alunos. Para superar esse 
desafio, é essencial que as instituições de ensino promovam um ambiente de 
comunicação aberta e acessível com os responsáveis. A criação de espaços de 
interação mais flexíveis, como encontros informais, canais digitais e atividades que 
envolvam a participação da família, pode contribuir para fortalecer esse vínculo e 
garantir que pais e professores compartilhem informações sobre o progresso dos 
alunos (Arcega, 2018). 
Estabelecer essa conexão é fundamental para construir um suporte eficaz ao 
aprendizado, garantindo que a escola compreenda as influências externas que 
impactam o desempenho dos alunos e adapte suas abordagens de ensino de forma 
mais inclusiva e colaborativa. A profissão do educador exige uma constante 
 
 
 
57 
 
reelaboração pessoal e profissional, pois ensinar vai além da transmissão de 
conteúdos; envolve também a construção de valores e experiências. Mas essa 
responsabilidade não recai apenas sobre os professores formais. Os pais também 
exercem um papel fundamental na educação dos filhos, contribuindo para o 
desenvolvimento intelectual, emocional e social das crianças por meio de suas 
interações diárias. 
No entanto, diversos fatores podem dificultar o envolvimento dos responsáveis 
na trajetória escolar dos filhos. Muitas famílias enfrentam desafios relacionados à falta 
de tempo, desinteresse, baixa escolaridade ou mesmo despreparo para auxiliar nas 
atividades escolares. Em alguns casos, há a percepção equivocada de que a 
educação deve ser exclusivamente responsabilidade da escola. 
Além disso, pesquisas indicam que a renda familiar influencia 
significativamente o acesso à educação e a participação dos pais no processo escolar. 
Com grande parte da população dependendo de auxílios governamentais para manter 
seus filhos na escola, os desafios relacionados à educação se tornam ainda mais 
complexos. A construção de uma parceria entre escola e família pode ser uma 
estratégia essencial para minimizar essas dificuldades e garantir um desenvolvimento
educacional mais efetivo para as crianças. Apesar dos desafios atuais, os pais 
reconhecem a importância de participar da vida escolar dos filhos e, dentro de suas 
possibilidades, buscam formas de acompanhar esse processo (Arcega, 2018). 
Pesquisas realizadas sobre o tema indicam que, mesmo enfrentando 
dificuldades como falta de tempo ou desconhecimento das metodologias escolares, 
muitos responsáveis adotam estratégias para apoiar a aprendizagem das crianças. 
Entre as ações mais mencionadas estão incentivar os filhos a estudar, verificar o 
material escolar, perguntar sobre as aulas e os conteúdos aprendidos, além de buscar 
informações com os professores por meio de bilhetes, telefonemas ou mensagens. 
Outra prática comum é envolver os irmãos mais velhos no auxílio às tarefas escolares 
dos mais novos. Além disso, os pais demonstram preocupação com o desempenho 
acadêmico, ajudam na leitura e cobram resultados, contribuindo, dentro de suas 
possibilidades, para o desenvolvimento educacional dos filhos. 
O envolvimento da família no processo educacional influencia diretamente o 
desempenho e o comportamento dos alunos. Quando os responsáveis acompanham 
 
 
 
58 
 
de perto a trajetória escolar, incentivam os estudos e demonstram interesse pelo 
aprendizado, os estudantes tendem a apresentar maior comprometimento, disciplina 
e rendimento acadêmico. 
Por outro lado, a ausência desse suporte pode impactar negativamente a 
motivação e o engajamento da criança, dificultando seu progresso na aprendizagem. 
O acompanhamento familiar, seja por meio de diálogos sobre as atividades escolares, 
auxílio nas tarefas ou incentivo à leitura e ao estudo, contribui significativamente para 
o desenvolvimento intelectual e emocional do aluno. Fortalecer essa parceria entre 
família e escola é essencial para criar um ambiente educacional mais inclusivo e 
estimulante, garantindo que os alunos tenham melhores oportunidades de 
aprendizado e crescimento (Arcega, 2018). 
Para garantir uma educação inclusiva e eficaz, é essencial que professores, 
famílias e especialistas trabalhem em conjunto, promovendo estratégias pedagógicas 
diversificadas e oferecendo suporte emocional aos alunos. Além disso, o uso de 
tecnologias assistivas e metodologias inovadoras pode ampliar o acesso ao 
aprendizado, respeitando as particularidades de cada estudante. 
Compreender e atuar sobre os distúrbios de aprendizagem é um passo 
fundamental para construir uma educação mais equitativa, onde todas as crianças 
tenham oportunidades de desenvolver suas capacidades e alcançar seu potencial 
máximo. A colaboração entre escola e família, associada a práticas pedagógicas 
eficazes, é essencial para que cada aluno supere barreiras e tenha um percurso 
educacional enriquecedor. 
 
 
 
59 
 
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estatístico de transtornos mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. E-
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Bezerra. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 
VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos 
psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
não se limita 
apenas à ortografia ou à caligrafia, mas geralmente envolve uma combinação 
de desafios. Entre eles, estão dificuldades na composição de textos, presença 
 
 
 
6 
 
frequente de erros ortográficos, gramaticais e de pontuação, além de 
problemas na organização dos parágrafos, afetando a clareza e a estrutura da 
escrita. 
• Transtorno da matemática: esse transtorno não está diretamente ligado à 
ausência de habilidades matemáticas básicas, como a contagem, mas sim à 
dificuldade da criança em associar esses conceitos ao seu entorno. Além disso, 
atividades que exigem raciocínio lógico, resolução de problemas e 
interpretação de relações numéricas também podem ser comprometidas, 
impactando o desempenho escolar e a compreensão matemática de forma 
mais ampla. 
A educação escolar é influenciada por diversos fatores que, de maneira direta 
ou indireta, impactam o processo de aprendizagem dos alunos. Entre esses fatores, 
destacam-se os transtornos funcionais específicos, que envolvem dificuldades 
significativas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio, 
habilidades matemáticas, atenção e concentração. Diversas abordagens teóricas 
buscam classificar estudantes que apresentam dificuldades específicas de 
aprendizagem dentro do ambiente escolar. No contexto institucional, a Secretaria de 
Estado da Educação, por meio do Departamento de Educação Especial e Inclusão 
Educacional (SEED/ DEEIN), segue como referência a nomenclatura adotada pelo 
Ministério da Educação para definição desses casos (Lopes et al., 2019). 
Os distúrbios de aprendizagem apresentam diferentes formas de manifestação, 
podendo variar quanto às causas e níveis de gravidade. Apesar dos avanços na área, 
ainda há muitas lacunas sobre sua origem. Alguns indícios apontam para a 
possibilidade de lesão cerebral decorrente de acidentes, falta de oxigenação durante 
a gestação ou no período neonatal, além de fatores genéticos envolvidos. No entanto, 
a ausência de evidências físicas ou diagnósticos médicos concretos sobre danos no 
sistema nervoso central dificulta um prognóstico preciso, podendo levar à exclusão de 
indivíduos afetados. Vale ressaltar que, com intervenções adequadas, o impacto 
dessas dificuldades pode ser minimizado ou até mesmo corrigido. 
Smith (2008) ressalta que usar termos como “suposta lesão cerebral” e 
“hipóteses de disfunção no sistema nervoso central” podem levar a conclusões difíceis 
 
 
 
7 
 
de comprovar e até equivocadas. Utilizar expressões que sugerem lesão cerebral, 
como “dislexia”, em vez de termos mais neutros como “distúrbios de leitura”, pode criar 
a impressão de que tais dificuldades são irreversíveis. Isso pode desmotivar pais, 
educadores e os próprios alunos a buscarem intervenções, além de gerar expectativas 
reduzidas em relação ao potencial de desenvolvimento. 
Pesquisas educacionais indicam que metas baixas tendem a limitar o progresso 
dos estudantes, pois eles geralmente alcançam, mas raramente superam, o que lhes 
é esperado. Assim, quando as expectativas para crianças com dificuldades de 
aprendizagem são muito modestas, seu pleno potencial pode nunca ser explorado. 
Por essas razões, muitos profissionais da educação especial preferem evitar termos 
médicos associados a lesões para descrever essas condições. 
3 FRACASSO ESCOLAR E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 
No âmbito da educação inclusiva, a atuação dos docentes e a organização do 
trabalho pedagógico vêm sendo amplamente estudadas, especialmente diante do 
aumento de casos de estudantes com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem nas 
escolas brasileiras. A falta de formação inicial e continuada dos educadores, a 
escassez de infraestrutura adequada e a ausência de suporte de profissionais 
especializados no diagnóstico e na intervenção são fatores que podem comprometer 
o aprendizado e contribuir para o fracasso escolar. 
Patto (2015) destaca que o fracasso escolar no Brasil foi influenciado por 
fatores como o Movimento Escolanovista e o sistema capitalista, que contribuíram 
para a manutenção da estrutura de classes e a consolidação das elites. A pedagogia 
escolanovista tornou-se a base das principais reformas educacionais do país e 
também serviu como referência para pesquisas sobre o fracasso escolar da época. 
Embora tenha proposto mudanças significativas para a educação, o escolanovismo 
recebeu diversas críticas, especialmente por evidenciar o fracasso escolar ao buscar 
o máximo desenvolvimento das potencialidades individuais sem considerar a 
necessidade de maior capacitação dos docentes e a articulação com os 
conhecimentos científicos acumulados ao longo da história. 
 
 
 
8 
 
As práticas educacionais eram estruturadas com base na observação das 
habilidades individuais dos alunos. Aqueles que apresentavam dificuldades para 
aprender determinados conteúdos eram considerados em atraso em relação aos 
colegas com maior desempenho acadêmico. Nesse contexto, a psicologia teve um 
papel fundamental ao buscar compreender essas diferenças e avaliar o potencial de 
cada estudante por meio da psicometrização, que consistia na aplicação de testes e 
avaliações estruturadas para mensurar processos psicológicos. Essa abordagem se 
baseava em uma análise quantitativa das características dos indivíduos, permitindo 
que os professores recebessem orientações sobre metodologias de ensino mais 
adequadas e acessíveis aos alunos. 
Com o apoio da psicologia, iniciou-se um processo de separação ou exclusão 
dos estudantes com menor desempenho, utilizando a psicometria como justificativa 
para atribuir-lhes a responsabilidade pelo fracasso escolar. Essa abordagem, ao invés 
de promover soluções inclusivas, reforçou desigualdades educacionais, impactando 
negativamente o desenvolvimento acadêmico e social dos alunos que não se 
encaixavam nos padrões estabelecidos. 
Conforme Patto (2015), na era do capitalismo, prevaleceu uma explicação 
psicologizante para as dificuldades escolares, que acabou suplantando, sem eliminá-
la, a abordagem pedagógica tradicional do fracasso escolar. Ela observa que tanto a 
pedagogia moderna quanto a psicologia científica surgiram com uma perspectiva 
liberal, voltada para identificar e valorizar os alunos considerados mais capazes, 
independentemente de sua origem social ou étnica. Essa visão, porém, tende a 
individualizar as causas do fracasso, desviando o foco das condições estruturais e 
pedagógicas que também influenciam o rendimento escolar. 
Nesse cenário, as dificuldades e os distúrbios de aprendizagem começaram a 
se tornar mais evidentes, impulsionadas pela distinção entre os diferentes níveis de 
apropriação do conhecimento pelos estudantes. A percepção de que alguns 
indivíduos assimilavam os conteúdos escolares em um ritmo mais lento levou à 
caracterização dessas dificuldades como distúrbios de aprendizagem. A partir do 
início do século XX, alunos que apresentavam esse perfil passaram a ser rotulados 
como “crianças problema” ou “anormais escolares”. Nesse período, as explicações 
para os problemas de escolarização deixaram de ser exclusivamente biológicas ou 
 
 
 
9 
 
orgânicas e passaram a enfatizar o próprio indivíduo, responsabilizando também suas 
famílias e o contexto social no qual estavam inseridos. 
Nesse contexto, as famílias mais pobres passaram a ser vistas como 
responsáveis pela formação de crianças consideradas problemáticas, uma vez que 
não forneciam os estímulos necessários para que seus filhos se adequassem à cultura 
dominante. Essa visão reforçou a percepção de inadequação dessas famílias em 
relação ao modelo social vigente. 
Com isso, a psicologia ganhou destaque e passou a estar profundamente 
integrada ao sistema educacional. Havia a crença de que apenas por meio dos 
instrumentos de psicometrização seria possível esclarecer as dificuldades de 
escolarização, deslocando a responsabilidade pelos
resultados acadêmicos dos 
estudantes para suas próprias condições individuais. Assim, a escola e o trabalho 
pedagógico dos docentes foram isentados de culpa, enquanto os alunos com 
dificuldades de aprendizagem eram frequentemente rotulados, reforçando práticas 
excludentes dentro do ambiente escolar. 
Ao analisar o contexto histórico do fracasso escolar, torna-se essencial refletir 
sobre o papel do professor no enfrentamento dos desafios educacionais que se 
tornam cada vez mais frequentes nas escolas brasileiras. Nesse cenário, a atuação 
docente diante das dificuldades e distúrbios de aprendizagem, quando fundamentada 
na pedagogia histórico-crítica, pode desempenhar um papel significativo no 
desenvolvimento das capacidades humanas dos estudantes. Essa abordagem 
pedagógica busca não apenas transformar a realidade educacional, mas também 
superar o fracasso escolar por meio de práticas pedagógicas eficientes e teoricamente 
fundamentadas (Freitas, 2022). 
Seu objetivo central é promover a transformação social, garantindo que o 
processo de ensino-aprendizagem seja inclusivo e acessível a todos os alunos, 
respeitando suas individualidades e potencializando suas habilidades. A pedagogia 
histórico-crítica destaca a importância de que o trabalho docente esteja alinhado às 
demandas sociais e fundamentado em um conhecimento abrangente sobre os modos 
de produção. Essa abordagem busca superar um ensino fragmentado e desconectado 
da realidade, promovendo práticas pedagógicas que considerem as necessidades 
específicas de cada estudante. Ao enfatizar uma perspectiva crítica, essa pedagogia 
 
 
 
10 
 
visa transformar os processos educacionais, garantindo que o ensino seja um meio 
de inclusão e desenvolvimento integral dos alunos. 
Essa teoria se alinha ao pensamento de Vigotsky (2009), que ressalta a 
importância da ação docente e do trabalho educativo na humanização dos sujeitos, 
permitindo que o conhecimento sistematizado historicamente seja disseminado e 
assimilado pelos estudantes. Dessa forma, a pedagogia histórico-crítica propõe uma 
abordagem pedagógica transformadora, centrada na construção do conhecimento e 
na superação dos desafios educacionais. Vigotsky (2009) estabelece a existência de 
dois tipos de funções psicológicas: elementares e superiores. 
• As funções psicológicas elementares: possuem um caráter biológico e são 
determinadas pela estimulação ambiental, sendo identificadas por meio da 
percepção. 
• As funções psicológicas superiores: envolvem processos mais complexos, 
como memória, atenção, percepção e formação de conceitos. Essas funções 
se desenvolvem por meio da interação social, destacando o papel da cultura e 
da sociedade na construção do conhecimento. 
Para compreender o desenvolvimento dessas funções superiores, Vigotsky 
(2007) introduz o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que se refere ao 
espaço entre o que o indivíduo já é capaz de realizar de forma independente e aquilo 
que ele pode alcançar com auxílio de um mediador mais experiente. Ele definiu a zona 
de desenvolvimento proximal como: 
A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar 
através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento 
potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de 
um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (Vigotsky, 
2007, p. 58). 
A atuação docente deve, por meio de um planejamento eficaz das atividades 
de ensino-aprendizagem, estabelecer a conexão entre os conhecimentos 
espontâneos, adquiridos na educação informal, e os científicos, que correspondem 
aos saberes teóricos sistematizados ensinados na escola. Essa integração deve 
ocorrer por meio de atividades práticas, interação social e reflexão, promovendo o 
alinhamento entre teoria e prática e contribuindo para o desenvolvimento das funções 
 
 
 
11 
 
psicológicas superiores. Nesse sentido, o papel do professor é essencial, pois sua 
atuação se torna um elemento de humanização, possibilitando a construção de novos 
conhecimentos e aprendizagens, além de estimular o desenvolvimento integral dos 
alunos. 
Diante dessas reflexões, é importante que o professor, ao lidar com dificuldades 
e distúrbios de aprendizagem, não os perceba como questões isoladas, atribuídas 
apenas às características individuais dos alunos ou ao contexto familiar. Como 
responsável pela organização do trabalho pedagógico, o docente deve planejar 
cuidadosamente os conteúdos e selecionar metodologias adequadas que favoreçam 
a assimilação do conhecimento por todos os estudantes. A criação de estratégias 
eficazes de ensino e mediação pedagógica é essencial para garantir que cada aluno 
tenha acesso à aprendizagem de forma inclusiva e significativa, contribuindo para sua 
formação acadêmica e social. 
A análise da queixa escolar, seja relacionada às dificuldades e distúrbios de 
aprendizagem ou a outros desafios, deve considerar o contexto social em que foi 
gerada, servindo como um meio de compreensão e não de justificativa. É fundamental 
que os professores evitem a culpabilização dos alunos ou a atribuição de rótulos pelos 
problemas de escolarização, pois isso pode reforçar barreiras ao aprendizado. Em vez 
de buscar explicações exclusivamente em causas orgânicas ou emocionais, é 
necessário investir na construção de estratégias pedagógicas eficazes e teoricamente 
fundamentadas, que favoreçam um ensino inclusivo e acessível a todos os 
estudantes. 
No contexto educacional, é essencial atender às necessidades dos estudantes 
com dificuldades e distúrbios de aprendizagem, garantindo um ensino mais inclusivo 
e eficaz. Para isso, destaca-se a importância de uma maior capacitação dos 
professores e da equipe pedagógica, permitindo que adquiram conhecimentos e 
estratégias adequadas para lidar com esses desafios (Freitas, 2022). 
Além disso, a colaboração entre docentes é fundamental, possibilitando a troca 
de ideias e melhores práticas de ensino. Também se faz necessário um tempo 
adequado para o planejamento das ações educativas, assegurando que o ensino seja 
organizado e intencional. A formação de turmas com um número apropriado de 
estudantes contribui para a realização de um trabalho pedagógico estruturado, 
 
 
 
12 
 
permitindo um atendimento mais eficiente a todos. Por fim, o suporte de profissionais 
especializados de diferentes áreas é indispensável, oferecendo sugestões e 
orientações para intervenções pedagógicas mais eficazes, fortalecendo o processo 
de ensino-aprendizagem. 
Ao estruturar o trabalho pedagógico diante dos distúrbios e dificuldades de 
aprendizagem, o professor deve manter o foco no estudante, respeitando suas 
necessidades, limitações e diversidades. É essencial que o planejamento contemple 
possíveis adequações curriculares, conforme especificado em laudos ou programas 
educacionais individualizados (PEI), garantindo uma abordagem inclusiva e acessível. 
A prioridade deve ser sempre o desenvolvimento integral do aluno, reconhecendo que 
todos são capazes de aprender, independentemente dos desafios educacionais que 
possam surgir. Essa perspectiva reforça a importância de práticas pedagógicas 
fundamentadas na mediação e no suporte adequado, promovendo um ensino 
significativo e estimulante. Smith e Strick (2012) propõem diretrizes para uma 
organização eficiente do trabalho pedagógico, que estão detalhadas no Quadro 1. 
Quadro 1 – Diretrizes para o trabalho pedagógico 
 
Fonte: adaptado de Smith e Strick, 2012. 
A importância do conhecimento abordado nesta seção torna-se evidente ao 
destacar a importante função do professor no planejamento da ação educativa diante 
das dificuldades de aprendizagem. Esse processo deve envolver a busca por 
 
 
 
13 
 
informações aprofundadas sobre os transtornos e dificuldades de aprendizagem, a 
mediação eficaz do ensino e a intencionalidade educativa,
sempre com foco no 
desenvolvimento integral dos estudantes. Ao proporcionar um ensino que eleve o 
conhecimento dos alunos a níveis mais avançados, torna-se possível estimular o 
avanço cognitivo e superar os desafios relacionados ao aprendizado. 
3.1 Desempenho acadêmico nas atividades escolares 
Algumas crianças apresentam distúrbios de aprendizagem leves e, com o 
devido suporte, conseguem acompanhar o currículo escolar padrão até a 
universidade. Por outro lado, aquelas com dificuldades mais severas necessitam de 
assistência contínua e intensiva ao longo da trajetória acadêmica e, muitas vezes, na 
vida adulta. Os alunos com distúrbios de aprendizagem possuem características 
distintas em relação aos seus colegas, uma vez que cada indivíduo apresenta 
diferenças em seus potenciais, fragilidades, estilos de aprendizagem e personalidade. 
Entretanto, essas dificuldades impactam diretamente o desempenho escolar (Figura 
1), resultando em um rendimento abaixo do esperado, que tende a se agravar com o 
tempo (Lopes et al., 2019). 
Figura 1 – Dificuldades de aprendizagem nos alunos 
 
Fonte: //x.gd/L1LlE. 
Há uma preocupação crescente no âmbito educacional e social em relação à 
frequência de reprovações, já que essa medida não contribui para a melhora do 
 
 
 
14 
 
aprendizado e pode estar associada ao aumento da evasão escolar. Por isso, 
estratégias inclusivas e metodologias adaptativas são fundamentais para garantir que 
esses alunos tenham um desenvolvimento acadêmico adequado. Smith (2008) 
identifica diversas características comportamentais decorrentes desses distúrbios, as 
quais impactam diretamente tanto o processo de aprendizagem quanto o desempenho 
escolar dos alunos: 
• Falta de motivação ou pouco senso de responsabilidade: anos de 
frustração e dificuldades escolares podem impactar negativamente a 
motivação dos alunos, levando-os a acreditar que são incapazes de alcançar o 
sucesso. Quando internalizam a expectativa de fracasso, tornam-se 
excessivamente dependentes dos outros, o que reduz suas chances de 
realizações. Ao se perceberem como "incapazes", muitos deixam de se 
esforçar, pois nunca tiveram experiências de sucesso acadêmico que os 
incentivassem a continuar tentando. 
• Desatenção: a desatenção e a impulsividade são características frequentes, 
podendo comprometer significativamente o desempenho acadêmico. Esses 
fatores dificultam a capacidade dos alunos de identificar e compreender 
elementos essenciais dos problemas que precisam resolver ou das atividades 
que precisam executar. Como resultado, podem ter dificuldades em manter o 
foco, interpretar instruções corretamente e organizar o raciocínio para concluir 
tarefas de maneira eficiente. 
• Dificuldade na aplicação de conhecimentos: muitos alunos com distúrbios 
de aprendizagem enfrentam desafios para aplicar ou adaptar seus 
conhecimentos a novas habilidades ou contextos, o que pode comprometer seu 
desempenho acadêmico e sua capacidade de resolver problemas em 
diferentes situações. 
• Falha no processamento de informação: muitas pessoas com distúrbios de 
aprendizagem enfrentam desafios significativos na aquisição da leitura e da 
escrita, na compreensão da linguagem falada e na expressão verbal. Essas 
dificuldades podem impactar diretamente a comunicação e o desempenho 
acadêmico, exigindo abordagens adaptativas para promover o 
desenvolvimento dessas habilidades. 
 
 
 
15 
 
• Habilidades insuficientes para resolver problemas: esses alunos 
frequentemente apresentam dificuldades em desenvolver um raciocínio 
estratégico, o que compromete sua capacidade de resolver problemas de 
maneira eficiente. A falta de habilidades para estruturar o pensamento e aplicar 
estratégias adequadas pode impactar tanto o desempenho acadêmico quanto 
a tomada de decisões em diversas situações do dia a dia. 
Nem todos os indivíduos com distúrbios de aprendizagem apresentam 
dificuldades no desenvolvimento das habilidades sociais, mas muitos enfrentam 
desafios nessa área. A combinação entre baixo rendimento escolar e comportamento 
distraído pode afetar significativamente seu status social, levando à percepção de 
dependência excessiva, menor cooperação e dificuldades na interação com colegas 
(Lopes et al., 2019). 
Essa falta de integração nos grupos sociais resulta em dificuldades para 
estabelecer amizades, causando sentimentos de isolamento e solidão. Além disso, a 
rejeição e as limitações nas habilidades sociais tendem a persistir durante a 
adolescência e podem afetar a vida adulta. Por isso, a identificação precoce dos 
desafios enfrentados por esses indivíduos e a implementação de intervenções 
adequadas são essenciais para minimizar impactos negativos ao longo da vida. 
Quanto mais cedo forem aplicadas estratégias de suporte e inclusão, maiores são as 
chances de promover um desenvolvimento saudável e equilibrado. 
3.2 Distúrbios de aprendizagem e desenvolvimento da linguagem 
A linguagem constitui a base para o desenvolvimento de diversas habilidades 
de aprendizagem. A leitura, a escrita, o raciocínio e, posteriormente, as competências 
matemáticas dependem diretamente da aquisição e do aprimoramento da linguagem. 
As dificuldades ou distúrbios de aprendizagem são frequentemente associadas a um 
histórico de atraso no desenvolvimento da linguagem ou a outros transtornos de 
comunicação durante a fase pré-escolar. Essas condições podem impactar a 
aquisição de habilidades fundamentais, como leitura, escrita e raciocínio, 
influenciando o desempenho acadêmico ao longo da vida escolar (Lopes et al., 2019). 
 
 
 
16 
 
O que significa comunicar-se e como esse processo acontece? Para 
compreender os distúrbios de comunicação, é essencial primeiro entender o 
funcionamento da comunicação humana. Esse processo está diretamente ligado à 
linguagem e à interação, exigindo, no mínimo, duas pessoas dispostas a trocar 
informações: um emissor e um receptor. Inicialmente, o emissor formula um 
pensamento ou uma ideia e o transmite por meio de um código compartilhado pelo 
receptor. A comunicação só se concretiza quando a mensagem é compreendida por 
quem a recebe, garantindo uma troca eficiente de informações. Confira o esquema 
apresentado na figura abaixo. 
Figura 2 – Esquema de uma situação de comunicação 
 
Fonte: Lopes et al., 2019. 
De maneira simplificada, o processo de comunicação envolve os seguintes 
elementos essenciais: 
• Emissor: também chamado de locutor ou falante, é quem transmite a 
mensagem para um ou mais receptores. 
• Receptor: o interlocutor ou ouvinte que recebe e interpreta a mensagem 
enviada pelo emissor. 
• Mensagem: representa o conteúdo ou conjunto de informações comunicadas 
pelo emissor. 
• Código: conjunto de signos utilizados na mensagem, possibilitando a 
compreensão pelo receptor. 
• Canal de comunicação: meio pelo qual a mensagem é transmitida, como voz, 
língua de sinais, gestos ou escrita. 
 
 
 
17 
 
• Contexto ou referente: situação comunicativa em que emissor e receptor 
estão inseridos. 
• Ruído na comunicação: qualquer interferência que dificulte a compreensão 
da mensagem, como barulho ambiente, voz baixa ou desconhecimento do 
código utilizado. 
O código, com seus sinais, símbolos e regras próprias, compõe a linguagem, 
permitindo que ela tenha significado. A comunicação pode ser comprometida ou até 
mesmo não ocorrer caso o emissor ou receptor não consigam utilizar a linguagem de 
maneira adequada ou apresentem limitações na emissão ou recepção da mensagem. 
De acordo com Smith (2008), é essencial diferenciar três conceitos inter-relacionados: 
comunicação, linguagem e fala: 
• Comunicação: processo de troca de conhecimento, ideias, opiniões e 
sentimentos por meio da linguagem verbal ou não verbal, como gestos. 
• Linguagem: método regulador fundamental da comunicação, que envolve a 
compreensão e o uso de sinais e símbolos para representar
ideias. 
• Fala: produção vocal da linguagem. 
3.3 Os distúrbios de comunicação 
Os distúrbios de comunicação podem ser classificados em dois grandes 
grupos: 
• Distúrbios da fala – afetam a capacidade de pronunciar palavras com clareza 
e podem envolver alterações na voz, como timbre, volume ou qualidade. 
• Distúrbios da linguagem – relacionados à dificuldade de compreender 
palavras faladas ou escritas, afetando diretamente o conteúdo da mensagem 
transmitida. 
Embora os distúrbios da fala e da linguagem possam coexistir, eles não são 
necessariamente interligados. Um indivíduo pode apresentar apenas um desses 
distúrbios ou ambos simultaneamente. Além disso, as dificuldades ou distúrbios de 
aprendizagem não se restringem apenas a questões de comunicação e linguagem. 
Elas podem estar associadas a fatores pedagógicos, neurológicos e intelectuais. Um 
 
 
 
18 
 
dos exemplos mais conhecidos é o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade 
(TDAH), uma condição neurobiológica que afeta a atenção, provoca inquietude e 
impulsividade, interferindo diretamente no desempenho acadêmico e no 
desenvolvimento social. 
De acordo com Smith (2008), a fala é considerada anormal quando se torna 
ininteligível, desagradável ou interfere na comunicação, afetando a compreensão por 
parte do ouvinte. Três principais problemas podem comprometer esse processo: 
• Problemas de articulação: ocorre quando a produção dos sons é inadequada, 
resultando em pronúncias incorretas. A articulação da fala está influenciada por 
fatores como idade, cultura e ambiente social. 
• Problemas de fluência: relacionados ao ritmo e à fluidez da fala, podendo 
incluir hesitações ou repetições que interferem na comunicação, como no caso 
da gagueira. 
• Problemas de voz: envolvem alterações no tom ou volume da voz, tornando-
a perceptivelmente incomum ou inapropriada para o contexto comunicativo. 
Essas dificuldades podem impactar significativamente a interação social e o 
desenvolvimento acadêmico. Além disso, esses problemas podem ter causas 
diversas, incluindo fatores neurológicos, ambientais e genéticos. Algumas condições, 
como distúrbios motores ou alterações anatômicas, podem afetar diretamente a 
produção vocal, enquanto aspectos emocionais e psicológicos também 
desempenham um papel relevante no desenvolvimento da fluência e da articulação 
da fala. 
A intervenção precoce, por meio de acompanhamento fonoaudiológico e 
estratégias adaptativas, é fundamental para minimizar os impactos dessas 
dificuldades e melhorar a qualidade da comunicação, permitindo que os indivíduos 
desenvolvam maior confiança na expressão oral e ampliem suas interações sociais e 
acadêmicas. Confira abaixo alguns transtornos da fala: 
• Disartria: distúrbio articulatório caracterizado pela dificuldade em executar 
movimentos necessários para a emissão verbal, podendo comprometer a 
clareza da fala. 
 
 
 
19 
 
• Disfemia: dificuldade na fluência da expressão verbal, resultando em 
interrupções bruscas no ritmo da fala. O tipo mais comum de disfemia é a 
gagueira, também conhecida como tartamudez. 
• Disfonia: alteração na qualidade ou na emissão da voz, podendo estar 
associada a disfunções orgânicas ou funcionais das cordas vocais, bem como 
a problemas respiratórios. Manifesta-se por rouquidão, soprosidade ou 
aspereza vocal. 
• Dislalia: transtorno específico da articulação da fala, caracterizado por atraso 
ou desvios na aquisição dos sons da linguagem, levando a dificuldades como 
má articulação, omissões, distorções ou substituições dos fonemas. 
• Rinolalia: modificação na ressonância nasal da fala, podendo resultar em uma 
voz excessivamente nasalizada ou abafada. Suas causas incluem problemas 
nas vias respiratórias, presença de vegetação adenoide, lábio leporino ou 
fissura palatina. 
A linguagem é um sistema sofisticado que possibilita a comunicação dos 
pensamentos entre indivíduos. Sua utilização envolve diversas regras sobre o que 
pode ou não ser dito, o momento e o local adequados, o interlocutor e o propósito da 
mensagem (Lopes et al., 2019). Além disso, o conhecimento linguístico permite a 
formulação de enunciados gramaticalmente estruturados. Os três principais aspectos 
da linguagem são: 
• Forma: conjunto de regras que regem todas as linguagens, garantindo sua 
estrutura e coerência. 
• Conteúdo: refere-se à intenção e ao significado das expressões faladas ou 
escritas, proporcionando clareza na comunicação. 
• Uso: diz respeito à aplicação da linguagem em diferentes interações, 
adaptando-se ao contexto social e comunicativo. 
Confira abaixo alguns transtornos da linguagem, que podem afetar a 
comunicação, a aprendizagem e a interação social, exigindo adaptações e suporte 
adequados para minimizar seus impactos: 
• Afasia: transtorno da linguagem decorrente de uma lesão cerebral, ocorrida 
após a aquisição total da linguagem ou durante seu desenvolvimento. Pode 
 
 
 
20 
 
causar perda parcial ou total da capacidade de expressão dos pensamentos e 
da compreensão da comunicação. 
• Discalculia: caracterizada pela dificuldade ou incapacidade de processar 
informações relacionadas a números e conceitos matemáticos, afetando o 
raciocínio lógico e a resolução de problemas. 
• Dislexia: surge no início do processo de alfabetização e compromete a 
capacidade de identificar símbolos gráficos, impactando diretamente a leitura e 
a escrita, além de outras áreas que dependem dessas habilidades. 
• Disgrafia: perturbação da linguagem escrita que afeta as habilidades 
mecânicas da escrita, dificultando a organização das palavras e a clareza da 
expressão textual. 
É importante destacar que um desenvolvimento deficiente da linguagem pode 
estar associado a fatores ambientais, como a falta de estímulo adequado e a 
experiência limitada na aquisição da língua. A identificação precoce e a intervenção 
apropriada podem minimizar os impactos dessas dificuldades, promovendo uma 
comunicação mais eficaz e um aprendizado significativo. 
Algumas crianças enfrentam dificuldades no desenvolvimento da linguagem 
devido à ausência de modelos adequados de interação. Muitas passam longos 
períodos sozinhas, sem estímulo comunicativo, enquanto outras não recebem 
incentivo para participar de conversas. Há também aquelas que são punidas por falar 
ou ignoradas quando tentam se expressar, o que desencoraja ainda mais sua 
comunicação. Além disso, a falta de experiências significativas e de motivos para se 
comunicar pode comprometer o desenvolvimento da linguagem. Esses fatores 
aumentam consideravelmente o risco de surgirem distúrbios linguísticos que podem 
afetar a socialização e o aprendizado ao longo da vida. 
4 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E SEUS IMPACTOS PSICOSSOCIAIS 
Para compreender e intervir nas causas das dificuldades de aprendizagem, é 
essencial considerar as relações nas quais a criança está inserida. Essas dificuldades 
resultam de múltiplos fatores que, em determinados momentos, interagem e podem 
comprometer seu desenvolvimento. Bossa (2007) destaca que o método de ensino 
 
 
 
21 
 
pode ser um dos fatores que contribuem para os problemas de aprendizagem. O 
professor pode enfrentar desafios relacionados à instituição de ensino e às interações 
estabelecidas dentro dela, seja com sua equipe de trabalho ou com os alunos. 
A relação pedagógica, por sua vez, constitui um campo social no qual podem 
emergir conflitos, cujas representações estão ligadas à instituição, ao docente e aos 
estudantes. As instituições, sendo formadas por um conjunto de atos e ideias dos 
indivíduos que as compõem, refletem costumes, modos, preconceitos e crenças que 
influenciam diretamente as dinâmicas educacionais. 
O ser humano deve ser compreendido no contexto das relações coletivas, pois 
sua interação com o grupo influencia e é influenciada por diversos fatores. O sujeito, 
sendo um ser holístico, constrói sua identidade
e aprendizado a partir da convivência 
em comunidade. Além disso, os fenômenos da vida não possuem causas isoladas, 
mas resultam de uma rede de interações, refletindo um processo contínuo de 
influência mútua dentro do meio social. 
Os alunos com dificuldades escolares frequentemente enfrentam desafios 
familiares, emocionais e socioeconômicos, como instabilidade doméstica e condições 
adversas. No entanto, não se pode estabelecer uma relação direta de causa e efeito 
entre esses fatores e a capacidade de aprender, pois o aprendizado ocorre dentro de 
um conjunto de interações e relações. O comportamento e o desenvolvimento 
acadêmico dos estudantes variam de acordo com o contexto em que estão inseridos. 
Assim, as intervenções educacionais devem considerar não apenas o indivíduo, mas 
também o meio no qual ele circula, promovendo estratégias que envolvam seu 
ambiente social e escolar (Dusik, 2022). 
Os trabalhos diagnósticos devem priorizar a análise das relações e práticas 
cotidianas, reconhecendo-as como fatores que influenciam diretamente os fenômenos 
observados. Em vez de adotar um olhar exclusivamente classificatório, que 
estabelece graus de deficiência e definições individualizadas para cada criança, é 
fundamental considerar aspectos como a metodologia de ensino, a interação entre 
professores e alunos, e a trajetória escolar do estudante. Essa abordagem busca 
fortalecer processos que favoreçam o desenvolvimento e o potencial dos alunos, 
promovendo estratégias educacionais mais inclusivas e eficazes. 
 
 
 
22 
 
Mesmo as abordagens mais organicistas e fundamentadas na neuropsicologia 
reconhecem que distúrbios mentais podem ser intensificados por um ambiente 
desestruturado e por uma dinâmica familiar instável. Nessas condições, crianças 
hiperativas tendem a manifestar maior hiperatividade, crianças deprimidas podem 
apresentar agravamento dos sintomas, e crianças com transtorno do espectro autista 
podem enfrentar desafios ainda mais complexos. Além disso, é essencial considerar 
os impactos emocionais dessas dificuldades, que podem comprometer ainda mais o 
desenvolvimento da criança. Um rendimento escolar abaixo do esperado pode levar 
à percepção de fracasso por parte dos professores, colegas e até mesmo da própria 
família, afetando diretamente a autoestima da criança. 
Essa situação pode ser evitada com o apoio adequado da família e por meio 
de intervenções eficazes que promovam um ambiente mais favorável ao aprendizado 
e ao bem-estar emocional. A inteligência, o desejo, a família e os sintomas da 
aprendizagem estão interligados, formando um sistema de influências mútuas. Se o 
problema de aprendizagem fosse exclusivamente biológico ou intelectual, sua 
resolução não exigiria a participação da família. Por outro lado, se as dificuldades 
escolares fossem apenas um reflexo do equilíbrio familiar, o diagnóstico e a 
intervenção poderiam ocorrer sem considerar o sujeito individualmente (Dusik, 2022). 
Fonseca (2016) define a dificuldade de aprendizagem como um obstáculo ao 
desempenho intelectual, frequentemente vinculado a questões emocionais e conflitos 
familiares não resolvidos. Além dos desafios nos relacionamentos, outros fatores 
podem impactar negativamente o aprendizado, como abuso, negligência, dificuldades 
na adesão a tratamentos, obesidade, comportamento antissocial e simulação. De 
maneira geral, a dificuldade de aprendizagem resulta de fatores biopsicossociais, 
fundamentados em aspectos individuais, familiares, escolares e sociais. O 
desenvolvimento acadêmico da criança acontece dentro de um contexto no qual 
múltiplas variáveis interagem e influenciam sua trajetória educacional. 
Bossa (2007) aponta diversos fatores que podem prejudicar o aprendizado de 
uma criança na escola, entre eles: 
• falta de valorização da educação por parte da família, o que pode levar a uma 
percepção de que estudar não é essencial. 
 
 
 
23 
 
• influência do histórico familiar, onde a criança pode acreditar que, se seus pais 
não precisaram estudar, ela também não precisará. 
• dificuldade em lidar com normas e regras sociais, impactando sua adaptação 
ao ambiente escolar. 
• ausência de regras e limites estabelecidos pelos pais, comprometendo o 
desenvolvimento da disciplina. 
• sentimentos de rejeição em relação à escola, como associá-la à separação 
familiar ou à ausência dos pais. 
• problemas de saúde que interferem no desempenho escolar e na capacidade 
de aprendizagem. 
• desorganização extrema, resultando na perda de materiais, atrasos e 
dificuldades para manter o ritmo acadêmico. 
• dificuldades específicas na aprendizagem, onde a criança pode demonstrar 
inteligência em diversas áreas, mas enfrentar obstáculos em habilidades como 
leitura e escrita. 
• métodos de ensino inadequados, que não respeitam o estilo de aprendizado 
da criança. 
• falta de conexão entre os conteúdos escolares e sua aplicação prática na vida 
cotidiana. 
• qualidade do ensino comprometida pela falta de preparo ou motivação do 
professor, impactando negativamente o aprendizado. 
Esses exemplos ilustram algumas das situações que podem ocorrer no 
processo de avaliação das dificuldades de aprendizagem, demonstrando a 
complexidade dos fatores envolvidos. Cada contexto exige uma análise cuidadosa 
para compreender as causas e definir estratégias eficazes de intervenção. Bossa 
(2007) ainda ressalta esse ponto, destacando a complexidade dos fatores que 
influenciam a aprendizagem: 
Só para você ter uma ideia, eu poderia ficar o dia inteiro escrevendo sobre as 
coisas que podem atrapalhar uma criança na escola. Mesmo assim não 
terminaria. Por isso, pode ser que o que atrapalha a criança na escola nem 
esteja escrito aqui. Mas se ela está com dificuldades para aprender, 
certamente tem um bom motivo para isso. O que o psicopedagogo pode fazer 
é descobrir esse motivo e ajudar você e a escola a encontrarem formas de 
 
 
 
24 
 
solucionar esse problema. Pode, ainda, evitar que essas coisas cheguem a 
atrapalhar a aprendizagem escolar (Bossa, 2007, p. 60). 
5 CLASSIFICAÇÃO E INTERVENÇÃO NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 
Com a publicação do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais, 5ª Edição), pela Associação de Psiquiatria Americana (APA), os distúrbios 
de aprendizagem, caracterizados por dificuldades persistentes no desempenho 
escolar causadas por fatores biológicos, passaram a ser classificados como 
transtornos do neurodesenvolvimento. 
Os transtornos do neurodesenvolvimento englobam condições que podem ser 
identificadas já nos primeiros anos da infância. Em geral, essas condições se 
manifestam antes da entrada da criança na escola, sendo marcadas por déficits que 
afetam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Esses déficits 
podem variar desde dificuldades específicas no aprendizado ou na regulação de 
funções cognitivas até comprometimentos mais amplos em habilidades sociais e 
intelectuais (APA, 2015). Os transtornos do neurodesenvolvimento englobam diversas 
condições, observe o quadro a seguir (Dusik, 2022). 
Quadro 2 – Condições dos transtornos do neurodesenvolvimento 
 
 
 
 
25 
 
 
Fonte: adaptado de Dusik, 2022. 
Os critérios diagnósticos envolvem a identificação de sintomas, padrões 
comportamentais, funções cognitivas, traços de personalidade, sinais físicos e 
combinações de síndromes, além da duração do problema. A avaliação requer perícia 
clínica para distinguir essas condições das variações naturais da vida e das respostas 
temporárias ao estresse, que não se enquadram como transtornos ou distúrbios. 
Para que o transtorno específico da aprendizagem seja diagnosticado, é 
necessário atender a quatro critérios: A, B, C e D. A avaliação deve ser realizada com 
base em uma análise clínica abrangente, considerando o histórico de 
desenvolvimento, aspectos médicos, familiares e educacionais do indivíduo, além
de 
relatórios escolares e uma avaliação psicoeducacional. Caso algum desses critérios 
não seja identificado, o diagnóstico não pode ser confirmado. A seguir, são 
apresentados os critérios para essa avaliação (APA, 2015): 
• Critério A: pelo menos um dos seguintes sintomas deve estar presente por um 
período mínimo de seis meses, mesmo após intervenções direcionadas: 
dificuldade na leitura de palavras, com imprecisão, lentidão ou esforço 
excessivo; problemas na compreensão do significado do que é lido; erros 
ortográficos frequentes e dificuldades na escrita correta das palavras; desafios 
na expressão escrita, incluindo erros gramaticais ou de pontuação, além de 
pouca clareza na comunicação das ideias; dificuldades para compreender 
 
 
 
26 
 
conceitos numéricos, memorizar fatos matemáticos ou realizar cálculos; déficits 
no raciocínio para resolver problemas quantitativos. 
• Critério B: as habilidades acadêmicas comprometidas estão significativamente 
abaixo do esperado para a idade do indivíduo, interferindo de forma marcante 
nas atividades diárias. Essa dificuldade é confirmada por meio de testes 
padronizados aplicados individualmente e por uma avaliação clínica detalhada. 
• Critério C: os prejuízos acadêmicos se manifestam desde os primeiros anos 
escolares ou se tornam evidentes posteriormente, quando as demandas 
educacionais ultrapassam as capacidades do indivíduo. 
• Critério D: as dificuldades acadêmicas não podem ser atribuídas a deficiência 
intelectual, problemas não corrigidos de visão ou audição, outros transtornos 
mentais ou neurológicos, fatores psicossociais adversos, falta de fluência na 
língua de ensino ou práticas educacionais inadequadas. 
Quando os quatro critérios são atendidos, o diagnóstico deve detalhar todos os 
domínios acadêmicos afetados. Caso haja comprometimento em mais de um domínio, 
cada um deve ser identificado separadamente, seguindo os especificadores 
adequados: 
• Prejuízo na leitura (dislexia): dificuldades na precisão da leitura de palavras, 
na velocidade e fluência da leitura, além da compreensão do texto. 
• Prejuízo na expressão escrita (disgrafia): comprometimento na ortografia, 
gramática e pontuação, além de pouca clareza ou organização na escrita. 
• Prejuízo na matemática (discalculia): dificuldades no senso numérico, na 
memorização de fatos aritméticos, na precisão e fluência do cálculo, bem como 
no raciocínio matemático. 
Além disso, é necessário determinar o grau de gravidade do transtorno, 
classificando-o como leve, moderado ou grave, com base na capacidade do indivíduo 
de compensar suas dificuldades ou de se adaptar quando recebe suporte adequado, 
especialmente durante a fase escolar (APA, 2015). As dificuldades no domínio dessas 
habilidades acadêmicas fundamentais também podem impactar o aprendizado de 
outras disciplinas, como história, ciências e estudos sociais. 
 
 
 
27 
 
No entanto, esses desafios são considerados consequências indiretas das 
dificuldades de aprendizagem. As habilidades acadêmicas se distribuem de forma 
contínua, sem um ponto de corte preciso para distinguir quem possui ou não um 
transtorno específico da aprendizagem. Por isso, qualquer critério utilizado para definir 
um desempenho significativamente abaixo do esperado para a idade é, em grande 
medida, arbitrário. A abordagem multidisciplinar é fundamental para compreender as 
dificuldades de aprendizagem, uma vez que suas causas e manifestações são 
diversas e exigem investigação em diferentes áreas do conhecimento. Por isso, o 
diagnóstico não deve se limitar apenas à listagem de sintomas, mas sim considerar 
uma análise detalhada da aplicação desses critérios em cada caso específico. 
Embora a identificação sistemática dos critérios diagnósticos contribua para 
uma avaliação mais precisa, a gravidade e a relevância de cada critério no diagnóstico 
dependem do discernimento clínico. Assim, a formulação clínica do caso deve integrar 
informações contextuais e diagnósticas, permitindo a construção de um plano 
terapêutico abrangente e alinhado ao contexto cultural e social do indivíduo. Aspectos 
culturais, como significados, costumes e tradições, podem tanto reforçar estigmas 
quanto oferecer suporte na resposta social e familiar ao transtorno (Dusik, 2022). 
O contexto em que o indivíduo está inserido desempenha um papel 
fundamental, contribuindo para a construção de estratégias de enfrentamento que 
fortalecem a resiliência ou incentivam a busca por auxílio e alternativas de assistência 
à saúde. Além disso, o ambiente influencia diretamente a aceitação ou rejeição de um 
diagnóstico, bem como a adesão ao tratamento, impactando a evolução da condição, 
o processo de recuperação e as decisões terapêuticas. Esses fatores são 
determinantes para o prognóstico e a trajetória clínica do indivíduo. 
Os distúrbios de aprendizagem representam desafios que podem comprometer 
o desenvolvimento acadêmico e influenciar aspectos emocionais e sociais do 
indivíduo. A dificuldade em acompanhar o ritmo escolar pode resultar em sentimento 
de frustração, baixa autoestima e desmotivação para o aprendizado. Por esse motivo, 
a intervenção não deve se limitar à adaptação pedagógica, mas envolver abordagens 
multidisciplinares que contemplem suporte psicológico, orientação familiar e 
metodologias de ensino especializadas. A compreensão detalhada de cada distúrbio 
permite a implementação de estratégias eficazes, favorecendo o desenvolvimento das 
 
 
 
28 
 
habilidades individuais e promovendo a inclusão educacional. A seguir, serão 
apresentados os principais distúrbios de aprendizagem. 
5.1 Dislexia 
A dislexia, um dos Transtornos Específicos de Aprendizagem mais conhecidos, 
interfere na interpretação dos sinais gráficos que representam as palavras por escrito 
(Figura 3). Essa dificuldade ocorre em indivíduos com inteligência dentro da média, 
sem comprometimentos físicos ou psicológicos, e que tiveram acesso a oportunidades 
de aprendizagem adequadas. A criança com dislexia é capaz de ler e escrever, porém 
realiza essas tarefas sem automatização, exigindo grande esforço cognitivo e 
energético. Isso leva a uma fadiga precoce, dificultando o acompanhamento do ritmo 
escolar e resultando em um maior número de erros (Barbera, 2024). 
Figura 3 – Dislexia: um transtorno do neurodesenvolvimento 
 
Fonte: //x.gd/P7d8w. 
Muitos desses estudantes apresentam uma leitura fragmentada, pausada e 
com dificuldade de antecipação visual das palavras. O olhar permanece fixo na sílaba 
ou palavra a ser pronunciada, tornando a articulação lenta e hesitante. Além disso, a 
pontuação frequentemente não é respeitada, o tom de voz soa monótono e 
inexpressivo, dificultando a fluência textual. Além das dificuldades na leitura e escrita, 
a dislexia pode impactar diversas outras áreas da vida do indivíduo, afetando não 
 
 
 
29 
 
apenas o desempenho acadêmico, mas também o cotidiano e a interação social 
(Barbera, 2024). 
Essa condição se caracteriza por um déficit na velocidade e na precisão da 
leitura, afetando a automatização da correspondência entre sinais e sons, sem 
comprometer, necessariamente, a capacidade de compreensão. A velocidade de 
leitura, medida em sílabas por segundo, é um parâmetro utilizado para avaliar o 
desempenho de um estudante em relação aos valores esperados para sua idade 
escolar. Ao término de cada ano inicial do Ensino Fundamental, os índices estimados 
de fluência leitora são: 
• Final do 1º ano: 1,4 sílabas por segundo; 
• Final do 2º ano: 2,48 sílabas por segundo; 
• Final do 3º ano: 3,35 sílabas por segundo; 
• Final do 4º e 5º anos: 3,69 sílabas por segundo. 
Esses valores servem como referência para acompanhar o desenvolvimento 
da leitura e podem auxiliar na identificação de dificuldades que requerem intervenção 
pedagógica. Quanto maior for o desvio na velocidade de leitura em relação aos valores 
esperados,
mais severa será a dificuldade apresentada pelo estudante. Geralmente, 
ao final do 2º ano, as crianças atingem uma velocidade de decodificação suficiente 
para dar início ao estudo autônomo, estimada em 2,5 sílabas por segundo. Nos casos 
de dislexia com gravidade média-leve, o crescimento natural da fluência leitora 
costuma ser de aproximadamente um quarto de sílaba por segundo (entre 0,25 e 0,3 
síl./seg.) ao longo de um ano. Já nos quadros mais graves, o aumento é mais lento, 
alcançando cerca de 0,15 sílaba por segundo no mesmo período (Barbera, 2024). 
Em relação à correção, os erros podem ser classificados como fonológicos, 
ortográficos ou fonéticos. Os erros fonológicos decorrem da falta de correspondência 
entre fonema e grafema, enquanto os ortográficos envolvem a escrita convencional 
das palavras. Já os erros fonéticos estão relacionados à percepção da duração e 
intensidade dos sons. Confira a seguir o quadro detalhado com essas classificações. 
 
 
 
 
 
 
30 
 
Quadro 3 – Classificação dos erros na dislexia 
Tipo de erro Descrição Exemplos 
Fonológicos Considerados os mais graves, 
envolvem a não correspondência 
entre fonema e grafema. 
• Substituição de letras fonologicamente 
semelhantes: “faso” → “vaso”, “poca” → 
“boca”. 
• Omissão/acréscimo de letras ou sílabas: 
“migo” → “amigo”, “escoula” → “escola”. 
• Inversões: “áuga” → “água”, “cadreno” → 
“caderno”. 
• Grafemas inexatos: “cassa” → “caixa”, 
“iscola” → “escola”. 
Ortográficos 
(não 
fonológicos) 
Relacionados à representação 
ortográfica da palavra, sem 
alteração na relação entre fonema 
e grafema. 
• Separações incorretas: “a trás” → “atrás”. 
• Fusões incorretas: “derepente” → “de 
repente”. 
• Troca de grafema homófono não homógrafo: 
“chicara” → “xícara”, “ceção” → “seção”. 
• Omissão/acréscimo de “h”: “ora” → “hora”. 
Fonéticos Indicam dificuldades na percepção 
da duração ou intensidade do 
som. 
• Omissão/acréscimo de acentos: “musica” → 
“música”. 
• Omissão/acréscimo de encontros 
consonantais: “tiste” → “triste”, “larranja” → 
“laranja”. 
Fonte: adaptado de Barbera, 2024. 
Diversos estudos indicam que, com o tempo, a velocidade de leitura das 
crianças com dislexia tende a melhorar, embora permaneça abaixo da média dos 
colegas. Por outro lado, a precisão na leitura se aproxima do desempenho dos demais 
estudantes. Com base nos parâmetros de rapidez e correção, é possível identificar 
três perfis distintos de dislexia: 
• Lentidão e boa correção: este é o perfil mais comum, pois a estrutura 
ortográfica da língua italiana e da língua portuguesa facilita a recuperação 
fonológica das palavras, mesmo quando a memória não permite o 
reconhecimento imediato. 
• Rapidez adequada e baixa correção: caracteriza leitores que possuem um 
ritmo rápido, mas comprometem a precisão na leitura. São crianças que 
 
 
 
31 
 
cometem principalmente erros semânticos, antecipando palavras ou trechos 
sem interpretar corretamente o significado. 
• Perfil misto: apresenta tanto lentidão quanto baixa precisão, dificultando o 
equilíbrio entre velocidade e correção na leitura. As crianças nesse grupo não 
conseguem estabelecer uma compensação entre os dois aspectos, tornando o 
processo de leitura mais desafiador. 
A dislexia frequentemente ocorre junto a outros Transtornos Específicos da 
Aprendizagem (TEAp), como a disgrafia (dificuldade na escrita de forma legível e 
fluente), a disortografia (comprometimento na conversão dos sons em símbolos 
gráficos), a discalculia (dificuldade na realização de cálculos mentais ou escritos) e a 
dispraxia (déficits na coordenação e controle dos movimentos). A presença simultânea 
de múltiplos TEAp em um mesmo indivíduo é conhecida como comorbidade. 
Durante a trajetória escolar, muitos estudantes enfrentam dificuldades nas 
habilidades fundamentais, como leitura, escrita e cálculo, que podem variar em 
intensidade e impactar sua motivação. O sofrimento psicológico associado, a baixa 
autoestima e as estratégias de adaptação muitas vezes são interpretadas 
erroneamente como falta de dedicação, preguiça ou apatia. Os Transtornos 
Específicos da Aprendizagem (TEAp) são definidos com base em critérios 
diagnósticos estabelecidos por dois principais manuais internacionais: a CID-10 e o 
DSM-5. 
A padronização desses critérios facilita a comunicação entre profissionais da 
saúde e educação, permitindo um melhor entendimento do fenômeno. No DSM-5, os 
TEAp são categorizados em nível dimensional, abrangendo transtornos da leitura, da 
expressão escrita e da matemática. Já na CID-10, eles são classificados dentro dos 
transtornos do desenvolvimento psicológico, sob a nomenclatura de transtornos 
específicos das habilidades escolares, incluindo transtornos específicos de leitura, 
soletração, habilidade em aritmética e transtorno misto. 
A dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a aquisição da 
leitura e escrita, sendo caracterizada por dificuldades na fluência e precisão na 
decodificação de palavras. Embora não esteja associada a déficits intelectuais ou 
 
 
 
32 
 
sensoriais, impacta significativamente o desempenho escolar e a autoestima dos 
indivíduos afetados. 
A dislexia tende a ocorrer em famílias, o que indica uma possível influência 
genética. Em alguns casos, pode estar associada a condições alérgicas, como asma, 
eczema e febre do feno. Estudos de neuroimagem mostram que pessoas com dislexia 
processam informações de maneira diferente, privilegiando o pensamento visual em 
vez da leitura textual e estabelecendo conexões rápidas entre conceitos. Essa forma 
de processamento pode ser vantajosa em determinados contextos e áreas do 
conhecimento. Embora problemas auditivos na infância, como a otite média com 
efusão, e dificuldades visuais relacionadas ao rastreamento ocular não sejam causas 
diretas da dislexia, podem atuar como fatores que contribuem para desafios adicionais 
na aprendizagem da leitura e escrita (Hudson, 2019). 
Os estudos indicam que a dislexia tem uma base genética e neurobiológica, 
envolvendo diferenças na ativação de áreas cerebrais relacionadas ao processamento 
da linguagem. Além das dificuldades na leitura, pode coexistir com outros transtornos 
específicos da aprendizagem, como a disgrafia e a discalculia, formando um quadro 
de comorbidade que exige abordagens pedagógicas especializadas. A intervenção 
precoce, aliada a estratégias educacionais adaptadas, é essencial para minimizar os 
impactos da dislexia na vida acadêmica e social do estudante. Métodos 
multissensoriais, recursos tecnológicos e um ambiente escolar inclusivo 
desempenham um papel fundamental na promoção do aprendizado e na autonomia 
dos disléxicos (Hudson, 2019). 
5.2 Discalculia 
A discalculia é um transtorno específico que afeta a aprendizagem da 
aritmética, comprometendo o domínio de operações fundamentais como adição, 
subtração, multiplicação e divisão. Sua manifestação está mais relacionada às 
dificuldades no processamento de cálculos básicos do que ao entendimento de 
conceitos matemáticos abstratos, como os presentes na álgebra, trigonometria e 
cálculo (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
A discalculia é caracterizada por um desempenho significativamente inferior ao 
esperado na realização de operações aritméticas, considerando a idade, a capacidade 
 
 
 
33 
 
intelectual e a escolaridade do indivíduo. Esse transtorno impacta diretamente o 
desempenho acadêmico e atividades cotidianas que demandam habilidades 
matemáticas. Diversas competências podem ser afetadas, incluindo habilidades 
linguísticas e perceptuais, como o reconhecimento de símbolos numéricos e a 
organização de objetos em conjuntos (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
Além disso, dificuldades podem surgir na atenção, comprometendo a correta 
cópia de números, a observação de sinais de operação e o processamento de cálculos 
envolvendo retenção de valores. Também
há desafios nas habilidades matemáticas 
propriamente ditas, como seguir etapas sequenciais em cálculos, contar objetos de 
forma precisa e memorizar as tabuadas de multiplicação. 
A discalculia pode impactar diversas habilidades matemáticas, dificultando a 
compreensão de conceitos numéricos e operações básicas. Crianças com esse 
transtorno podem ter dificuldades em visualizar conjuntos dentro de um grupo maior, 
entender a conservação da quantidade (por exemplo, reconhecer que 1 quilo equivale 
a quatro pacotes de 250 gramas) e sequenciar números corretamente. Além disso, 
podem apresentar desafios na identificação de antecessores e sucessores, na 
classificação de números, na compreensão dos sinais matemáticos (+, -, ÷, ×) e na 
construção de operações. A dificuldade se estende à assimilação dos princípios de 
medida e à retenção das etapas necessárias para resolver cálculos. Também pode 
haver obstáculos na contagem usando números cardinais e ordinais. 
Estudos indicam que entre 3% e 6% das crianças apresentam esse transtorno 
de aprendizagem matemático, podendo manifestar diferentes graus de 
comprometimento. Os subtipos incluem variações que afetam aspectos cognitivos 
específicos da matemática, exigindo abordagens diferenciadas para diagnóstico e 
intervenção. A discalculia se subdivide em seis subtipos, que podem ocorrer 
isoladamente ou em combinação com outros transtornos de aprendizagem, são elas: 
• Discalculia verbal: dificuldade para nomear números, quantidades, símbolos 
matemáticos, termos e relações. 
• Discalculia practognóstica: desafio em enumerar, comparar e manipular 
objetos reais ou representações visuais de conceitos matemáticos. 
• Discalculia léxica: comprometimento na leitura de símbolos matemáticos. 
 
 
 
34 
 
• Discalculia gráfica: dificuldades na escrita e representação gráfica dos 
símbolos numéricos. 
• Discalculia ideognóstica: limitação na realização de cálculos mentais e na 
compreensão de conceitos matemáticos abstratos. 
• Discalculia operacional: obstáculos na execução de cálculos e operações 
matemáticas básicas (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
Estudos genéticos, neurobiológicos e epidemiológicos indicam que a 
discalculia, assim como outros transtornos de aprendizagem, tem origem em 
diferenças na estrutura e no funcionamento cerebral. No entanto, fatores como ensino 
inadequado e privações ambientais podem influenciar seu desenvolvimento. Esse 
transtorno afeta diversas áreas do cérebro, incluindo o lobo parietal, responsável pela 
representação de quantidades, funções verbais e espaciais, além do foco de atenção 
para cálculos matemáticos. Outras regiões envolvidas incluem o lobo occipital e as 
áreas relacionadas à memória de trabalho visual e espacial. O giro angular 
desempenha um papel fundamental no processamento numérico, na linguagem, na 
cognição espacial, na recuperação de memórias e na atenção (Figura 4). 
Figura 4 – Discalculia, o distúrbio numérico 
 
Fonte: //x.gd/zEu05. 
As dificuldades mais acentuadas costumam ocorrer nas áreas terciárias do 
hemisfério esquerdo, comprometendo a leitura, a interpretação de problemas 
 
 
 
35 
 
matemáticos e a compreensão de conceitos numéricos. Nas regiões occipitoparietais 
esquerdas, déficits no funcionamento cerebral afetam a discriminação visual de 
símbolos matemáticos, enquanto o lobo temporal esquerdo influencia a realização de 
cálculos básicos e a memorização de sequências numéricas. 
Os processos cognitivos afetados pela discalculia incluem dificuldades na 
memória de trabalho, especialmente em tarefas não verbais, comprometendo a 
retenção e manipulação de informações numéricas. Também pode haver desafios na 
soletração de não palavras, impactando algumas funções de escrita, apesar da 
ausência de problemas fonológicos evidentes. A dificuldade na memória de trabalho 
interfere diretamente na contagem e no processamento sequencial de números, além 
de comprometer habilidades visuoespaciais, essenciais para a interpretação de 
símbolos matemáticos e a organização de elementos em um espaço. Aspectos 
psicomotores e perceptivo-táteis também podem ser afetados, tornando a execução 
de cálculos e operações numéricas mais desafiadora. 
A manifestação da discalculia pode variar conforme as regiões cerebrais 
envolvidas, resultando em diferentes perfis cognitivos. As funções desempenhadas 
por cada área cerebral influenciam diretamente os tipos de dificuldades apresentadas, 
exigindo abordagens diferenciadas para diagnóstico e intervenção. Como diversos 
fatores podem influenciar o desenvolvimento da discalculia, é essencial uma avaliação 
criteriosa para garantir um diagnóstico preciso. Em muitos casos, dificuldades 
matemáticas podem estar associadas a questões sociais, emocionais ou até mesmo 
à imaturidade cognitiva, exigindo uma análise aprofundada para diferenciar a 
discalculia de outros desafios no aprendizado. 
Por conta das dificuldades impostas pela discalculia, o indivíduo pode 
desenvolver uma percepção negativa sobre seu próprio progresso, o que gera 
insegurança e receio diante de novas experiências de aprendizagem. Além disso, 
essa falta de confiança pode resultar em comportamentos inadequados, como 
agressividade, apatia ou desinteresse, impactando seu desempenho acadêmico e 
social (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
A intervenção na discalculia deve abranger estímulos em diferentes dimensões, 
incluindo aspectos motores, sociais, cognitivos e afetivos, garantindo um 
desenvolvimento integral do indivíduo. Para que a evolução da maturidade ocorra de 
 
 
 
36 
 
forma adequada, é essencial um acompanhamento multidisciplinar, envolvendo 
profissionais da educação e da saúde, que orientem a criança, seus familiares e a 
escola sobre as estratégias pedagógicas mais eficazes. Além disso, é importante 
esclarecer os impactos cognitivos e os fatores neurobiológicos e genéticos 
relacionados ao transtorno. 
A dislexia e a discalculia também apresentam conexão com transtornos de 
lateralidade e a estruturação do esquema corporal. A lateralidade desempenha um 
papel fundamental nas interações entre a motricidade e a organização psíquica, 
influenciando o desenvolvimento da aprendizagem. Os transtornos psicomotores, 
incluindo dificuldades na lateralização e na construção do esquema corporal, podem 
estar associados às dificuldades na leitura e escrita, pois afetam a percepção espacial 
da criança em relação ao seu meio e influenciam sua formação cognitiva. 
Essas alterações psicomotoras impactam diretamente as atividades escolares, 
como leitura, escrita e cálculos matemáticos. No período de alfabetização, crianças 
entre seis e sete anos podem apresentar dificuldades de aprendizagem decorrentes 
não apenas de questões específicas da leitura e escrita, mas também da interação 
entre a vivência corporal e os processos cognitivos necessários para a construção do 
conhecimento (Gorla; Souza; Buratti, 2021). 
A lateralidade é um fator essencial para o desenvolvimento das habilidades de 
aprendizagem, mas sua alteração não está presente em todas as crianças que 
enfrentam dificuldades nesse processo. A consciência da lateralidade e a distinção 
entre direita e esquerda ajudam no reconhecimento do próprio corpo em relação ao 
espaço e ao tempo, sendo um aspecto consolidado por meio da educação corporal. 
Para crianças com discalculia, as intervenções devem ser adaptadas às suas 
dificuldades específicas, e os jogos lúdicos se destacam como uma estratégia eficaz. 
Essas atividades estimulam áreas neurológicas e cognitivas, promovendo o 
desenvolvimento motor, a organização, o raciocínio lógico, a destreza e o 
planejamento, além de ativar emoções e pensamentos, tornando o aprendizado mais 
dinâmico e envolvente. 
Os jogos também funcionam como ferramentas motivacionais, favorecendo 
tanto a aprendizagem objetiva, como a contagem, a classificação e o reconhecimento 
de padrões numéricos,

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