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DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL André Okano EAD Editora Universitária Adventista Divisão Sul-Americana (DSA) Presidente: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação: Antônio Marcos da Silva Alves Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp Presidente: Maurício Lima Secretário: Charles Rampanelli Tesoureiro/CFO: Telson Vargas Reitor: Martin Kuhn Vice-reitor administrativo: Claudio Knoener Vice-reitor para educação superior e diretor do campus São Paulo: Afonso Ligório Cardoso Vice-reitor e diretor do campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri Vice-reitor para a educação básica e diretor do campus Hortolândia: José Prudêncio Júnior Pró-Reitor Financeiro: Paulo Ricardo Monarin Pró-reitor de graduação: Edilei Rodrigues de Lames Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de gestão integrada: Mauricio Guimarães Lima Pró-reitor de pós-graduação lato sensu: Luis Henrique dos Santos Pró-reitor de desenvolvimento espiritual: João Brito Netto Pró-reitor de educação a distância: Jonas Rafael Nikolay Conselho editorial e artístico: Dr. Martin Kuhn; Me. José Prudêncio Jr.; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Carlos Ferri; Esp. Claudio Knoener; Dr. Allan Novaes; Dr. Edilei Lames; Esp. Evandro Fávero; Me. João Brito; Dra. Lizbeth Kanyat; Dr. Vanderlei Dorneles; Dr. Silvano Barbosa; Dr. Fabio Alfieri; Dra. Silvia Quadros; Esp. Regiane Cardoso de Oliveira; Me. Lucas Alves; Dr. Adolfo Suárez; Esp. Marcelo de Carvalho; Me. Diogo Cavalcanti Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes Editor-assistente: Gabriel A. Costa Responsável editorial pelo EAD: Regiane Cardoso de Oliveira DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL 1ª Edição, 2025 Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP André Okano Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP Okano, André Direitos humanos e legislação social [livro eletrônico] / André Okano. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unasp Virtual, 2025. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-5489-218-6 1. Democracia - Brasil 2. Direitos humanos - Brasil 3. Direitos humanos - História 4. Movimento operário 5. Movimentos sociais 6. O Estado I. Título. 25-290109 CDD-323.0981 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Direitos Humanos : Ciência política 323.098 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427 Direitos Humanos e Legislação Social 1ª edição – 2025 e-book (pdf) Designer Instrucional: Anderson de Souza Analista editorial: Ana Isabel de Castro, João Paulo Alves Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Felipe Rocha, Kenny Zukowski Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Maria Isabela Almeida Slujalkovsky Mestre em Política Social e Territórios pela UFRB Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO FUNDAMENTOS ÉTICO-POLÍTICOS E INSTITUCIONAIS DOS DIREITOS HUMANOS ............................................. 8 Introdução ...................................................................................................................9 Organização da sociedade ............................................................................................9 A evolução dos Direitos Humanos no Brasil .........................................................10 A Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH ........................................12 A teoria geracional e os princípios que fundamentam os direitos humanos ................13 Fundamentação legal e institucional que sustentam a proteção e promoção dos direitos humanos ............................................16 Objetivos do Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH ...........................18 Considerações finais ...................................................................................................19 Referências .................................................................................................................19 LUTAS SOCIAIS E CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DOS DIREITOS ......... 21 Introdução ..................................................................................................................22 Movimentos sociais e formas de resistência da sociedade na luta por direitos ............22 As raízes das lutas sociais no período colonial e imperial .....................................23 Primeira República e o surgimento do movimento operário ................................24 Ditadura militar e a resistência civil .....................................................................24 Movimentos sociais contemporâneos: democracia, inclusão e resistência ...........25 Organização da sociedade capitalista ..........................................................................25 Relação entre os direitos individuais e sociais..............................................................27 Considerações finais ...................................................................................................28 Referências .................................................................................................................28 CONCEPÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS E SISTEMAS DE PROTEÇÃO ..................................................................... 30 Introdução ..................................................................................................................31 Definição e diferenciação das concepções moderna e contemporânea dos direitos humanos ......................................................31 A concepção contemporânea dos Direitos Humanos ............................................32 Organização dos sistemas internacional, regional e local de proteção aos direitos humanos ....................................................................35 Organização das Nações Unidas e seu papel na garantia dos direitos humanos .......................................................................36 Sistemas global e regional de proteção ...............................................................38 Dispositivos legais na defesa dos direitos humanos .............................................40 Considerações finais ...................................................................................................41 Referências .................................................................................................................41 O ESTADO BRASILEIRO E A CONSTRUÇÃO DE DIREITOS.......................... 42 Introdução ..................................................................................................................43 O cenário dos direitos humanos no Brasil ....................................................................43 Instrumentos e políticas de efetivação dos direitos humanos no Brasil ...............46 Violações a direitos humanos no brasil ........................................................................47 Avanços e retrocessos na garantia da efetivação dos direitos humanos no Brasil ..................................................................49 Considerações finais ...................................................................................................50 Referências .................................................................................................................51 EMENTA Compreensão dos fundamentos ético-políticos, legais e institucionais dos direitos humanos. Análise das lutas sociais, dos processos de resistência e da construção sócio- histórica dos direitos individuais e sociaisno contexto da organização da sociedade capitalista. Definição das concepções moderna e contemporânea dos direitos humanos e da organização dos sistemas internacional, regional e local de proteção. Análise do processo de organização da sociedade e do Estado brasileiro como parte dos avanços e retrocessos na construção de direitos. UNIDADE 3 CONCEPÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS E SISTEMAS DE PROTEÇÃO 31 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL INTRODUÇÃO Os direitos das pessoas, em suas relações com a sociedade, como você já deve saber, resultam de uma construção social, de conteúdo ético, advindo de um processo histórico e dinâmico de conquistas e de con- solidação de espaços emancipatórios da dignidade humana. Conforme sintetiza Doreto (2021), após alguns acontecimentos históricos, foi elaborada e aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela repre- senta uma tentativa de contribuir com a luta da sociedade contra situações de discriminação, preconceito e opressão, valorizando a noção de igualdade entre todos os indivíduos e a dignidade humana. A evolução dos Direitos Humanos ao longo dos tempos pode ser melhor entendida de acordo com a Teoria Geracional (ou Dimensional). Nela, os direitos são classificados em até quatro ou cinco gerações, con- forme o entendimento de alguns doutrinadores. Neste estudo, construiremos a concepção moderna e contemporânea a partir da DUDH e dos concei- tos extraídos da já conhecida Teoria. Além disso, conheceremos as instituições internacionais, regionais e locais de defesa e promoção dos direitos humanos. Por fim, há diversas organizações no mundo todo que se dedicam a defender e proteger os direitos humanos, denunciando toda e qualquer forma de violação, e nós estudaremos sobre elas. Os objetivos desta unidade são: • Compreender a concepção moderna e contemporânea dos direitos humanos; • Compreender os Direitos Humanos diante das evoluções históricas da sociedade; • Conhecer as instituições internacionais, regionais e locais de defesa e promoção dos direitos humanos. Bom estudo! DEFINIÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DAS CONCEPÇÕES MODERNA E CONTEMPORÂNEA DOS DIREITOS HUMANOS Como já estudamos, os direitos humanos são fruto de um processo de construção que envolveu e en- volve os interesses de toda a sociedade, tanto governos quanto sociedade civil. Têm por objetivo assegurar a dignidade e evitar o sofrimento humano, por meio de um espaço de luta e ação social, algo que deve ser sempre reivindicado. Segundo Bobbio (2004 apud Doreto): pois bem, o que distingue o momento atual em relação às épocas precedentes e reforça a demanda por novos direitos é a forma de poder que prevalece sobre todos os outros. A luta pelos direitos teve como primeiro adversário o poder religioso; depois, o poder político; e, por fim, o poder econômico. Hoje, as ameaças à vida, à liberdade e à segurança podem vir do poder sempre maior que as conquistas da ciência e das aplicações dela derivadas dão a quem está em condição de usá-las. Entramos na era que é chamada de pós-moderna e é caracterizada pelo enorme progresso, vertiginoso e irreversível, da transformação tecnológica e, consequentemente, também tecnocrática do mundo. Desde o dia em que Bacon disse que a ciência é poder, o homem percorreu um longo caminho! O crescimento do saber só fez aumentar a pos- sibilidade do homem de dominara natureza e os outros homens (p.28). 32 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL Doreto (2021) explica que uma forma de representar a evolução dos direitos humanos ao longo do tempo conforme os contextos de cada momento é utilizar-se da classificação dos direitos humanos por meio de “gera- ções/dimensões”, uma vez que as categorias propostas se baseiam no momento histórico de sua construção. Relembrando a Teoria geracional/dimensional que você já deve conhecer, conforme explica Doreto (2021), a primeira geração traz ideias de liberdade, relacionadas especialmente aos direitos civis e políticos. Os direitos conquistados restringiam-se a determinados indivíduos e, assim, não eram aplicados a toda a sociedade. A autora acrescenta ainda que, nessa geração, o Estado deveria limitar sua intervenção na ação humana, considerando o direito à liberdade de todos, sendo exemplos de direitos assegurados a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, o direito à privacidade, entre outros. Os direitos humanos considerados de segunda geração têm como marco oficial a Primeira Guerra Mun- dial (1914–1918), crescendo paralelamente à ideologia do estado de bem-estar social. Nessa lógica, Doreto (2021) explica que a proposta é que os direitos, até então limitados a uma classe, sejam expandidos para todos os indivíduos por meio de políticas públicas que garantam saúde, trabalho, moradia, direito ao voto e a participar da vida pública, entre outros. Assim, nessa geração, fica evidente a necessidade de se exigirem do Estado condições iguais para todos, com a finalidade de que tenham uma vida mais digna. A terceira geração de direitos surge na década de 1960 e tem como foco principal os ideais de solida- riedade e fraternidade. Nesta geração, conforme explica Doreto (2021), além da proteção aos grupos mais vulneráveis (mulheres, pessoas com deficiência, e outros), inclui-se na proposta a proteção ao meio ambiente. Na atualidade, há discussões entre os intelectuais sobre a inclusão da quarta e quinta geração de di- reitos, que envolve informática e bioética, mas eles ainda divergem opiniões e tal geração não está de fato estabelecida (Doreto, 2021). Em paralelo, conforme esclarece Bobbio (2004 apud Doreto, 2021), a elaboração e a promulgação da DUDH tiveram por objetivo primordial responder às atrocidades e à barbárie totalitária, trazendo uma concepção con- temporânea de direitos humanos, que é reconhecida pela universalidade e indivisibilidade desses direitos. A DUDH abrange, de forma universal, os direitos humanos, fundamentada no princípio de que ser humano é o único requi- sito para que os direitos sejam exercidos, considerando que se trata de um ser essencialmente moral, dotado de existência e dignidade. Piovesan (2004) sintetiza a concepção contemporânea de direitos humanos pelos proces- sos de universalização e internacionalização desses direitos, compreendidos sob o prisma de sua indivisibilidade. A CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DOS DIREITOS HUMANOS Conforme se extrai do artigo “Pela implementação dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – Pro- postas e Perspectivas” de Alessandra Passos Gotti, a concepção contemporânea de direitos humanos foi intro- duzida pela Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. A DUDH surgiu como um código de princí- pios e valores universais a serem respeitados e protegidos pelos Estados, demarcando a concepção inovadora de que os direitos humanos são direitos universais, cuja proteção não deve se reduzir ao domínio reservado do Estado, por revelar tema de legítimo interesse internacional. A nova concepção dos direitos humanos introduzida pela Declaração aponta para duas importantes consequências: 1. A revisão da noção tradicional de soberania absoluta do Estado, que passa a sofrer um proces- so de relativização, à medida em que são admitidas intervenções no plano nacional em prol da proteção dos direitos humanos e; 33 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL 2. A cristalização da ideia de que o indivíduo deve ter direitos protegidos na esfera internacional, na condição de sujeito de direito. A Declaração Universal dos Direitos Humanos envolve a proteção do indivíduo e o respeito à sua dig- nidade de forma bastante ampla. No entanto, a autora ressalta a necessidade do conhecimento da sociedade acerca desses direitos e de sua importância para que eles sejam de fato assegurados e para que se possam evitar violações (Doreto, 2021). Além disso,conforme ela explica, a garantia dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa, tendo em vista a característica de indivisibilidade dos direitos humanos. Nesse sentido, se um deles for violado, os demais também o são. Portanto, a autora conclui os direitos humanos como uma unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, conjugando os di- reitos civis e políticos aos direitos sociais, econômicos e culturais (Doreto, 2021). Segundo Flávia Piovesan (1996 apud Gotti, [s.d.]), os direitos civis e políticos perdem sua efetividade quando não estão acompanhados dos direitos econômicos, sociais e culturais, que, por sua vez, também não têm pleno significado se não forem garantidas as liberdades fundamentais em sua forma mais abrangente. A autora defende que liberdade e justiça social são inseparáveis e que é impossível conceber uma sem a outra. Para ela, os direitos humanos formam um todo indivisível e integrado, em que cada dimensão está interligada e depende das demais. Hector Gros Espiell (1986 apud Piovesan, 2004), ao analisar a natureza dos direitos humanos, destaca que apenas a garantia plena de todos os direitos — civis, políticos, econômicos, sociais e culturais — assegura a concretização real de cada um deles. Ele argumenta que a ausência de efetividade dos direitos sociais e eco- nômicos torna os civis e políticos apenas formais, e o contrário também é verdadeiro: sem liberdade ampla e efetiva, os demais direitos perdem sua relevância. O autor enfatiza que a noção de totalidade, interdependência e indivisibilidade desses direitos já es- tava presente na Carta das Nações Unidas, sendo reforçada posteriormente por documentos internacionais como a Declaração Universal de 1948, os Pactos de 1966, a Proclamação de Teerã de 1968 e a Resolução da Assembleia Geral de 1977. A ordem contemporânea assinala sete desafios centrais à implementação dos direitos humanos, se- gundo Piovesan (2005 apud DORETO, 2021): 1. Universalismo vs. relativismo cultural (o que traduz o questionamento acerca do próprio fundamento dos direitos humanos e da existência de um mínimo ético irredutível; isto é, se a fonte dos direitos humanos é a dignidade humana ou é a cultura); 2. Laicidade estatal vs. fundamentalismos religiosos (debate que impacta, sobretudo, os direitos humanos das mulheres, no que se refere à sexualidade e à reprodução); 3. Direito ao desenvolvimento vs. assimetrias globais (em um mundo em que 85% da renda mundial concentra-se em poder dos 15% mais ricos, enquanto os 85% mais pobres retêm apenas 15% da renda mundial); 4. Proteção dos direitos econômicos, sociais e culturais vs. desafios da globalização econô- mica (o que aponta ao temerário processo de flexibilização dos direitos sociais e de redefini- ção de políticas públicas em uma ordem acentuadamente assimétrica); 34 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL 5. Respeito à diversidade vs. intolerâncias (o que implica o desafio de assegurar a igualdade com respeito à diferença e às diversidades); 6. Combate ao terror vs. preservação de direitos e liberdades públicas (o que acena aos desafios da agenda pós 11 de setembro, tendencialmente restritiva dos direitos humanos); 7. Unilateralismo vs. multilateralismo (em uma ordem marcada pela existência de uma única superpotência mundial e pelo esforço de resgate de organismos multilaterais) (p.29). Como os direitos são uma construção, as violações a esses direitos também o são, ou seja, as violações, as exclusões, as discriminações e as intolerâncias são produtos da construção do processo histórico e das ações humanas. Assim, podemos dizer que, conforme menciona Doreto (2021) é necessário romper com a cultura que se formou sobre a naturalização e a banalização das expressões da questão social. Nesse contexto, Piovesan (apud Doreto, 2021) defende que é necessário fortalecer o Estado de Direito e promover a paz — tanto em nível global quanto regional e local — por meio de uma cultura de direitos hu- manos. Para ela, essa cultura deve funcionar como uma forma de resistência e como o único caminho possível para a emancipação humana em nosso tempo. Consoante exemplifica Doreto (2021, p.30), a realidade brasileira, analisada historicamente, ainda está distante da garantia à inviolabilidade dos direitos humanos, ao observarmos, por exemplo: • violência policial e sua impunidade; • superlotação do sistema prisional; • proliferação de doenças; • acesso inadequado à saúde; • tortura; • trabalho escravo; • impedimento do exercício do direito à vida, à liberdade, ao trabalho, à moradia, à saúde, à edu- cação e à previdência social; • injustiças; • discriminações; • perseguições; • genocídios; • tráfico de pessoas; • outras violações à dignidade do ser humano. 35 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL Por fim, Doreto (2021) reflete, de forma assertiva, vivermos hoje um caos às avessas, em que muitas vezes nos questionamos: em que/onde estão os direitos humanos? Porém, como lembra Neiva (2012 apud DORETO, 2021, p.31), “é preciso lembrar todos os dias que direitos humanos são para todos e todas. Isso signi- fica que independe de gênero, raça, etnia, idade, origem, classe, orientação sexual, condição física, presos ou livres”. Assim, não deve haver distinção no exercício dos direitos, como proclama a desigualdade de classes sociais, pois todos os seres humanos nascem livres e iguais. ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS INTERNACIONAL, REGIONAL E LOCAL DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS A partir da aprovação da Declaração Universal de 1948, e da concepção contemporânea de direitos hu- manos por ela introduzida, começa a se desenvolver o direito internacional dos direitos humanos, mediante a adoção de inúmeros tratados internacionais voltados para a proteção de direitos fundamentais (Piovesan, 2004). Desse momento em diante, os crimes contra os direitos humanos fundamentais que não são tratados de forma justa pelas nações tornam-se casos de Direito Internacional. Os sistemas de proteção se apresentam de forma global e regional. Essa forma de organização busca defender os direitos humanos em âmbito internacional ou por grupo de países que, por maior proximidade física e cultural, conseguem atender, de forma mais rápida e eficiente, às demandas da humanidade na ga- rantia dos seus direitos. A questão dos direitos humanos é tratada pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas não somen- te por ela. Com o desenvolvimento da sociedade e a crescente violação contra os direitos humanos, tornou-se necessário que novas instituições independentes atuassem em parceria com a ONU. Um exemplo disso é a criação de tribunais internacionais. Esse processo foi se desenvolvendo com o tempo até se chegar a um tribunal penal internacional permanente, demonstrando, assim, que a luta pela garantia dos direitos humanos é uma luta social, política e jurídica. O Tribunal Penal Internacional, que tem sede em Haia, na Holanda, é um órgão independente, atua em parceria com a ONU e tem por objetivo investigar e julgar indivíduos acusados de crimes que preocupam a comunidade internacional, que são: • genocídio; • crimes de guerra; • crimes contra a humanidade; • crimes de agressão. Conforme ensina Doreto (2021), as ações só chegam até o Tribunal Penal Internacional caso a nação não esteja atuando sobre o caso, esteja protegendo os indivíduos acusados, ou não tenha como organizar um processo dessa magnitude. Isso demonstra que há sempre um respeito à soberania nacional, mas, quando essa soberania se sobrepõe aos direitos humanos fundamentais, os sistemas de proteção podem denunciar a situação para investigação e julgamento de casos que são objeto do Tribunal Penal Internacional. 36 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIALOs indivíduos condenados por esse tribunal são reclusos também na Holanda, em prisão específica para pessoas julgadas culpadas. As vítimas, além de ouvidas, são protegidas pelo Tribunal Penal Internacional. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E SEU PAPEL NA GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS A ONU foi criada como forma de garantir o consenso internacional em questões que envolvem o desenvolvimento econômico, social, cultural e principalmente a defesa dos direitos humanos e das liberdades indivi- duais (Freitas, 2016 apud Doreto, 2021). A partir da criação da DUDH em 1948, foram organizados diversos dispositivos de controle proteção dos di- reitos humanos em dois sistemas de proteção: o global e o regional. Conforme ensina Doreto (2021), a ONU exerce papel importante na defesa e promoção dos direitos humanos por ser o órgão representativo internacionalmente que toma decisões que refletem em todos os povos, sem discriminação de cor, etnia ou classe social. Ela foi fundada a partir da Carta das Nações Unidas, em que foram expressos os ideais e os propósitos dos povos cujos governos se uniram para constituir as Nações Unidas. É uma organização internacional forma- da por países que se reuniram para imprimir ações voltadas para a paz e o desenvolvimento mundiais. A ONU foi oficialmente instituída em 24 de outubro de 1945. O Sistema de Direitos Humanos da ONU consiste em quatro entida- des permanentes, que atuam de forma interligada, e algumas entidades temporárias, como comissões de inquérito independentes. Os quatro orga- nismos permanentes de direito são (Doreto, 2021, p.34): • Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão subsidiário da Assembleia Geral, com 47 Estados-membros eleitos por um período de 3 anos. O Brasil foi eleito em 2023 para um manda- to entre os anos de 2024-2026; • Procedimentos especiais (na sua maioria relatores especiais, mas também alguns grupos de trabalho e especialistas independentes); • Organismos de tratados da ONU; • Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), que faz parte do Secretariado da ONU. A ONU internacional e a ONU Brasil possuem alguns documentos para tratar dos direitos humanos, que são: 1. DUDH (1948); A ONU busca o consenso interna- cional principalmente em relação à defesa dos direitos humanos . Fonte: AdobeStock 37 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL 2. Guia Prático Campo de ação da sociedade civil e o sistema dos direitos humanos das Nações Unidas; 3. Mapa do Encarceramento — os jovens do Brasil; 4. Relatório do Subcomitê de Prevenção da Tortura (SPT) sobre o Brasil (2012); 5. Diretrizes para a Observação de Manifestações e Protestos Sociais; 6. Guia de Orientação das Nações Unidas no Brasil para Denúncias de Discriminação Étnico-racial; 7. Relatório sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias e Arbitrárias (2007); 8. Declaração de Durban (2001). IMPORTANTE “Cabe à ONU consolidar mecanismos de monitoramento, como relatórios e reforço de articulação das diversas instâncias, voltados para os direitos humanos. Todas as decisões tomadas na ONU são resultados de negociações entre os Estados-membros, em que várias estratégias são utilizadas, como a pressão e a persuasão, que velam também motivações nobres e éticas, de cooperação de natureza política, estratégica ou econômica. As decisões também são estabelecidas por meio do diálogo, da moderação e da razão, favorecendo o desenvolvimento de uma ética com foco na tolerância e na razão” (Doreto, 2021, p.33). Desde 1947, a ONU tem representação fixa no Brasil, e sua apresentação varia de acordo com as de- mandas de cada governo. “Seu principal objetivo é maximizar, de maneira coordenada, o trabalho da ONU, para que o Sistema possa proporcionar uma resposta coletiva, coerente e integrada às prioridades e necessi- dades nacionais, no marco dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e dos demais compromissos internacionais” (ONU, [20—b] apud Doreto, 2021, p. 35). Doreto (2021) ensina que o Sistema das Nações Unidas no Brasil tem por objetivo alinhar os seus ser- viços às necessidades de um país dinâmico, multifacetado e diversificado, contribuindo para o desenvolvi- mento humano sustentável, o crescimento do País e o combate à pobreza. Como resultado, a ONU Brasil tem elaborado alguns artigos técnicos nos diferentes campos do conhecimento para incitar o debate e a reflexão sobre os desafios de uma sociedade cada vez mais heterogênea e a necessidade de soluções inovadoras para tais desafios. Alguns artigos técnicos já publicados são: • Direitos humanos das mulheres; • Trabalho escravo; • Adolescência, juventude e redução da maioridade penal; • Trabalho infantil: uma agenda rumo ao cumprimento das metas de erradicação; • Avanços e desafios da proteção aos refugiados no Brasil; 38 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL • Inclusão social e os direitos das pessoas com deficiência no Brasil: uma agenda de desenvolvi- mento pós-2015; • População e direitos: Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD) para além de 2014. Desde a sua criação, a ONU tem realizado diversas iniciativas para garantir os direitos humanos e pro- mover o seu desenvolvimento em sintonia com o progresso da sociedade. Nesse sentido, a ONU desempenha um importante papel quanto à garantia do acesso aos direitos, uma vez que as cartas constitucionais dos países vão seguir também os princípios dos direitos humanos definidos pela referida instituição. SISTEMAS GLOBAL E REGIONAL DE PROTEÇÃO O sistema global de proteção é um conjunto de tratados, declarações e instrumentos originados pela Carta das Nações Unidas escrita em 1945, que marca a criação da ONU e é considerada a primeira norma legal do Direito Internacional. Esse sistema busca assegurar os direitos e as liberdades fundamentais dos indiví- duos em detrimento da soberania nacional (Freitas, 2016 apud Doreto, 2021). O sistema global de proteção funciona por meio de mecanismos convencionais e extraconvencionais. Os mecanismos convencionais são formados pelas Convenções de Direitos Humanos, que são tratados internacionais assinados pelos países que se comprometem a atender ao que determina o consenso ratifi- cado pela convenção. Essas convenções são organizadas pela ONU, nas quais o secretário-geral “[...] é encar- regado de depositar instrumentos de ratificação dos tratados e de informar os Estados Parte sobre novas ratificações, reservas ou propostas de emenda” (Mohallem et al., 2015 apud Doreto, 2021, p.42). Existem nove convenções cardeais de direitos humanos, que são os principais tratados que orientam, de forma geral, as ações de direitos humanos em âmbito internacional. São elas: 1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965); 2. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); 3. Pacto Internacional dos Direitos Civil e Políticos (1966); 4. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979); 5. Convenção Internacional contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984); 6. Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças (1999); 7. Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e os Membros de suas Famílias (1990); 8. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006); 9. Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados (2006). 39 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL Essas nove convenções são apresentadas como as principais pautas que necessitavam de uma organi- zação pela ONU e do compromisso dos países-membros de atuarem junto a essas minorias. Cada país orga- niza sua arquitetura legalpara atender a essas questões. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 se apresenta a partir da defesa dos direitos humanos. Segundo Mo- raes (2011 apud Doreto, 2021), o Brasil assinou todos esses tratados. Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, um tratado internacional assinado pelo Brasil e aprovado pelas duas câmaras têm status de emenda constitucional, ou seja, já é parte da arquitetura jurídica nacional que todos os entes federados devem respeitar. Os mecanismos extraconvencionais têm como único documento norteador a DUDH, na qual a violação dos direitos humanos fundamentais é inadmissível, mesmo que a nação não tenha assinado qualquer tratado em conjunto com outros países. O direito humano fundamental é superior a qualquer nação e independe de sua legislação nacional. Assim, Moraes (2011 apud Doreto, 2021) aponta: O importante é realçar que os direitos humanos fundamentais relacionam-se diretamente com a garantia de não ingerência do Estado na esfera individual e a consagração da dignidade da pessoa humana, tendo um universal reconhecimento por parte da maioria dos Estados, seja em nível constitucional, infraconstitu- cional, seja em nível de direito consuetudinário ou mesmo por tratados e convenções internacionais. A pre- visão desses direitos coloca-se em elevada posição hermenêutica em relação aos demais direitos previstos no ordenamento jurídico, apresentando diversas características: imprescritibilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, universalidade, efetividade, interdependência e complementariedade. (p. 43). Esse sistema global se organiza por meio de mecanismos convencionais, nos quais a ONU atua como fiscalizadora dos tratados assinados pelas nações por meio de comitês temáticos ratificados nas convenções cardeais. Assim, os países que assinaram esses tratados devem atender, em seus territórios, as questões com as quais se comprometeram. O mecanismo extraconvencional se baseia na DUDH e, por meio do Conselho de Direitos Humanos, exige de todas as nações o cumprimento dos direitos humanos fundamentais, indepen- dentemente de suas leis internas. Complementando o sistema global, temos também o sistema regional de proteção, que se organiza por continentes. Assim, temos os seguintes sistemas: • africano; • interamericano; • europeu; • árabe; • asiático. Em relação ao sistema global, o sistema regional tem menos países envolvidos, assim, conforme ensi- na Doreto (2021), o debate é mais rápido. Além disso, questões regionais e culturais são compreendidas de forma mais abrangente por esses países devido à proximidade entre as nações. Assim, o respeito à cultura local, a seus costumes e crenças — aliado à análise política, econômica e social desse bloco — complementa a análise macro dos direitos humanos, sem desconsiderar o regionalismo. Os sistemas regionais são complementares ao sistema global, cabendo ao indivíduo escolher reclamar os seus direitos no sistema que melhor o atender, considerando sempre o princípio da norma mais favorável 40 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL à vítima. Em um sistema regional, o consenso acaba por ser mais célere, como também as decisões. Isso sig- nifica que esses conselhos costumam apresentar formas mais ágeis de monitoramento das ações em favor dos direitos humanos. DISPOSITIVOS LEGAIS NA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS O Brasil aceita o que promulgam as Convenções Internacionais de Direitos Humanos que são assinadas pelo País. Depois de aprovadas pela maioria das duas casas legislativas federais, essas decisões têm caráter de emenda constitucional. Assim, no ordenamento jurídico nacional, as Convenções Internacionais de Direitos Humanos estão abaixo apenas da Constituição Federal, representando, assim, o compromisso brasileiro com a pauta internacional na defesa dos direitos humanos fundamentais Nesse sentido, no Brasil, todas as legislações devem se pautar na defesa intransigente dos direitos hu- manos e na garantia da dignidade da pessoa humana. Assim, o Judiciário responde a essas questões em sua organização judiciária tanto na justiça comum quanto na especial. Conforme ensina DORETO (2021), os sistemas regionais monitoram os compromissos assinados pelas suas nações, visto que conseguem perceber as violações mais de perto. Eles também recebem denúncias de entidades jurídicas sobre descumprimento das nações participantes. Quando o país não pertence a nenhum sistema regional, cabe à organização se dirigir diretamente ao sistema global de proteção. Salientamos que não há como impetrar uma denúncia individualmente. Segundo Piovesan (2004, apud Doreto, 2021): Faz-se ainda fundamental que todos os tratados possam contar com uma eficaz sistemática de monitoramento, prevendo os relatórios, as petições individuais e as comunicações interestatais. Insiste-se na adoção do meca- nismo de petição individual por todos os tratados internacionais de proteção de direitos humanos, já que esse mecanismo permite o acesso direto de indivíduos aos órgãos internacionais de monitoramento (p.49). Além disso, a autora explica que a possibilidade de peticionar de forma individual somente ocorre junto ao sistema regional de proteção. Junto ao sistema global de proteção, apenas instituições podem pe- ticionar denúncias. As denúncias devem ser referentes a violações de direitos humanos que não são tratadas de forma justa por Estados, fazendo parte ou não dos sistemas regionais e global de proteção. O sistema regional de proteção interamericano possui dois órgãos que monitoram as obrigações con- traídas pelas nações participantes da OEA: a CIDH e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (IDH). As petições encaminhadas à CIDH devem apresentar as violações dos direitos humanos e especificar se o papel do Estado-Nação na questão ocorre por ação — quando o Estado promove a violação ou é conivente com indivíduos que cometem crimes contra a humanidade — ou por omissão — quando a não atuação dos comandantes políticos possibilita que os direitos humanos sejam desrespeitados. Se a petição for aceita por todos os caminhos, seguirá para uma atuação consensual, tanto por respei- tando a soberania nacional quanto porque a comissão não possui o poder de punição. Já a IDH não recebe petições individuais, apenas da CIDH e dos Estados-membros. Essa Corte é uma instituição de caráter jurídico que tem a função de julgar os casos não resolvidos de forma consensual pela CIDH. A sede da IDH fica em São José, Costa Rica. A IDH é composta por juízes eleitos pelos Estados-Membros, e sua atribuição é “interpretar e aplicar a Convenção Americana e outros tratados interamericanos de direitos humanos, em particular por meio da emissão de sentenças sobre casos e opiniões consultivas” (Mohallem et al., 2015 apud Doreto, 2021, p.50). 41 CoNCEpçõEs Dos DIrEItos HUmANos E sIstEmAs DE protEção DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO SOCIAL O Brasil, mesmo com seu ordenamento jurídico organizado na defesa dos diretos humanos em sua his- tória, apresenta diversos momentos de violações que nem sempre são julgados de forma coerente por nosso Judiciário. Assim, conhecer e reconhecer os dispositivos legais para que se possa cobrar o compromisso pú- blico com os direitos humanos é papel de todos os cidadãos brasileiros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os conhecimentos adquiridos até aqui nos permitiram aprofundar o entendimento sobre os desafios enfrentados na efetivação dos direitos humanos no Brasil, especialmente em relação aos sujeitos historica- mente marginalizados, como mulheres, população negra, povos indígenas, e pessoas em situação de vulne- rabilidade social. Ao longo do estudo, foi possível compreender como as lutas sociais, os movimentos orga- nizados e as políticas públicas vêm atuando como instrumentos fundamentais de resistência e promoção da dignidade humana. Ao conectar os marcos legais às demandas sociais, percebemos que o Direito não pode se limitar à suadimensão normativa, devendo assumir um papel transformador. Mais do que conhecer a legislação, é neces- sário compreender os contextos sociais que moldam as lutas por reconhecimento e justiça. Assim, conclui-se que a atuação jurídica comprometida com os direitos humanos deve estar alinhada à escuta de vozes muitas vezes silenciadas e à construção de práticas inclusivas. A promoção da cidadania plena, como princípio norteador, impõe ao futuro jurista o dever de enfrentar, com responsabilidade e cons- ciência histórica, os mecanismos de exclusão ainda presentes na sociedade brasileira. REFERÊNCIAS DORETO, D. T. Direitos humanos e legislação social. Porto Alegre: SAGAH, 2021. GOTTI, A. P. Pela Implementação dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – Propostas e Perspectivas. DHNET. Disponível em: https://www.dhnet.org.br/direitos/dhesc/gotti.html. Acesso em: 14 jul. 2025. PIOVESAN, F. Direitos sociais, econômicos e culturais e direitos civis e políticos. Revista Internacional de Direitos Humanos. Ano 1. n. 1. jan./jun. p. 20-47. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sur/a/ vv3p3pQXYPv5dhH3sCLN46F/?format=pdf&lang=pt . Acesso em: 14 jul. 2025. https://www.dhnet.org.br/direitos/dhesc/gotti.html https://www.scielo.br/j/sur/a/vv3p3pQXYPv5dhH3sCLN46F/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/sur/a/vv3p3pQXYPv5dhH3sCLN46F/?format=pdf&lang=pt Referências Concepções dos Direitos Humanos e Sistemas de Proteção Introdução Definição e diferenciação das concepções moderna e contemporânea dos direitos humanos A concepção contemporânea dos Direitos Humanos Organização dos sistemas internacional, regional e local de proteção aos direitos humanos Organização das Nações Unidas e seu papel na garantia dos direitos humanos Sistemas global e regional de proteção Dispositivos legais na defesa dos direitos humanos Considerações finais Referências