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AULA 1 BUSCA DE CONCEITO 2016

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OPINIÃO PÚBLICA – A BUSCA DO CONCEITO AULA 1
(fragmento do texto de Rejane de Mattos Moreira – UFRJ/ 2005) 
Grécia Antiga: o nascimento do Ocidente 
1.1. Em busca do conceito de Opinião
	Começamos nossa abordagem, revendo e repensando, numa perspectiva histórica, o conceito de opinião. Encontramos no pensamento grego, que efetivamente funda o ocidente, fortes referências a esse termo. foi o nascimento democracia que deu caução ao surgimento de uma nova relação com a palavra que será aqui analisada. 
	Vamos nos debruçar sobre três pensamentos que entendemos ser de suma importância na busca do conceito de opinião: os Sofistas com seus curiosos “jogos verbais”; Platão e o surgimento da doxa relacionada ao “pensamento flutuante”; e finalmente Aristóteles com a problemática da retórica e o quadro geral da persuasão.
1.2. Os Sofistas, para começar : a palavra ligada à vida
	Podemos entender os sofistas como uma espécie de “caixeiros- viajantes”. Eram pensadores que não tinham casa ou referências familiares, e viviam pelo mundo de forma autônoma, espalhando suas vastas habilidades, principalmente a arte de narrar. Neste item, vamos examinar um tipo de palavra singular, vinda dos sofistas, que na própria Grécia se restringiu a um período específico: a concepção da palavra enquanto "coisa-viva". 
	Segundo Detienne (1981), a palavra para se tornar diálogo teve que passar por um processo de laicização. Ela sai do registro corporal e entra num registro simbólico em que será regida pelo discurso. No filósofo Górgias podemos encontrar, ainda, uma certa relação corporal com a palavra. Para ele, a palavra não é simples expressão do ser e sim o próprio ser. Neste sentido, quem diz está em conformidade com o mundo, ou seja, diz o mundo, produz o mundo. A palavra tem poder de produção de mundo.
	Assim temos uma diferença conceitual entre a palavra-diálogo e a palavra coisa-viva. Neste momento, na Grécia, não existia a cisão entre palavra e mundo, por isso o termo opinião não era entendido como expressão de um indivíduo. Posteriormente ao processo de laicização da palavra é que podemos encontrar referências ao termo opinião como expressão de um grupo ou pessoas de uma comunidade. Não havia conformidade entre o enunciado e o enunciador, fórmula que se consagra posteriormente na retórica aristotélica. Acreditamos ser de suma importância definir essas duas relações com a palavra, na medida que em Górgias há uma referência à palavra como encontro e, portanto, uma nova concepção de comunicação.
1.3 Platão: Doxa como “pensamento flutuante”
	Em Platão encontramos um tipo de relação com a palavra regida pelo discurso. Assim, o filósofo separa definitivamente a palavra do corpo e de suas relações simbólicas. Há em suas teses uma legitimação do discurso, que deve ser regido segundo estabelecimento de regras rigorosas a fim de se alcançar a verdade. Assim, não são todos que podem falar, não são todos que são dotados da arte de narrar. Dizer está relacionado a poderes e todo orador – filósofo- deve se afastar do engano, das palavras fugidias que inebriam a razão. Surge assim a doxa como a grande inimiga do homem do pensamento. 
	Neste momento, na Grécia, quem exerce influência sobre a opinião pública são aqueles que com sabedoria dominam a cidade e ditam os seus rumos. Paradoxalmente, a palavra passa a ser soberana, todos podem expor seus juízos sobre os negócios e o Estado. Estamos na Grécia democrática. Todos podem expor sua opinião, mas apenas alguns controlam a opinião. 
	Vamos analisar as implicações do conceito de doxa na filosofia platônica, observando também suas repercussões na contemporaneidade. Platão se refere a doxa como inimiga do pensamento. Parece-nos contudo que hoje é a doxa que movimenta os fluxos sociais. Todos os homens têm opinião, todos precisam ter. A mídia parece ser fonte importante desta produção generalizada de opinião. Cabe-nos assim explorar como esse processo se desenrola contemporaneamente. 
1.4- Aristóteles: a palavra como expressão do ser –quadro da persuasão
	Segundo Bárbara Cassin (1999) Aristóteles irá separar: 1. a opinião da polis 2. a opinião dos escravos e bárbaros. A opinião da polis era proferida por homens da cidade que trocavam idéias sobre o Estado e a vida comum. Por mais que a opinião fosse, como em Platão, da ordem do fugidio, ela era de suma importância para que as relações sociais prosseguissem. No entanto, existia uma outra forma de opinião que vinha dos escravos e bárbaros, necessariamente homens que não eram destituídos da fala, mas que tinham uma relação com o discurso puramente através do que se denominava conversação. A conversação não tinha compromisso com a verdade.
	Essas duas concepções de opinião partem de um projeto teórico maior de Aristóteles que é o de dar as bases filosóficas para a linguagem. Já que a linguagem expressa o ser, ela deve ser produzida através de regras de raciocínio lógico. O raciocínio é um meio de obter tecnicamente a persuasão. Portanto a retórica, mais que um poder de formular em cada caso o persuasivo, é uma técnica que não se preocupa com a conclusão.
	Neste item, à luz de Aristóteles, analisaremos como a linguagem passa a expressar o ser, sendo assim retirada de sua relação com o corpo e com a vida. Apenas homens do pensamento podem proferi-la de maneira adequada e regrada. 
Parte 2: Um salto histórico: formação, circulação e expressão da opinião pública
	Neste capítulo vamos analisar o conceito de opinião atrelado inequivocamente ao de público, de onde surge o termo opinião pública. Podemos encontrar em diversos pensadores o conceito de opinião pública, de Russel a Hegel. No entanto, nos limitaremos a analisar as implicações da democracia ou da ascensão das massas ao poder para o surgimento do conceito de opinião pública. Certamente dois grandes fatores contribuíram neste processo: o surgimento das ciências humanas e o direito ao voto, que consagra definitivamente os direitos coletivos e individuais. 
	Aqui estudaremos o desdobramento da concepção de opinião e sua relação com a democracia. Só é possível entender a opinião, neste contexto, se ligada a um certo “deixar falar” advindo das conquistas democráticas. Foi assim que, segundo Ortega y Gasset (2002), as massas ocuparam, no início do século XX, o poderio social. Esse evento deve-se à efetivação dos processos democráticos que nos acompanham desde a Revolução Francesa. Neste sentido, opinião pública está ligada à democracia e aos meios de comunicação de massa.
2.1- Falar e representar: as ciências do homem
	Foucault (1990) afirma que mesmo que o homem tenha-se liberado de si com a descoberta de que é não é o centro do universo, nem o núcleo central de toda a vida, certamente as ciências humanas ocuparam lugar de destaque na reelaboração dessa problemática. Neste sentido, estaremos abordando a importância das ciências humanas ou de uma certa “antropologização” das instâncias coletivas na confecção do conceito de opinião. Isto implica questionar o estatuto das ciências do homem. O que propôs? E como trouxe à tona novamente o homem como centro dos estudos? E que relação mantêm com os processos de produção da opinião?
	Vamos nos aprofundar nas teses de Foucault (1990) de que a palavra não representa as coisas e sim instaura determinados regimes de poderes. Neste sentido, estaremos-nos encaminhando para nossa questão central: explicar como a opinião, através de diversos atravessamentos sócio-políticos e econômicos, torna-se na contemporaneidade um vetor eficaz na produção das subjetividades.
2.2 Da Opinião ao Público, uma relação de complementaridade
	Em princípio devemos diferenciar público de multidão. Geralmente podemos definir a multidão a partir do disperso, das diferenças entre paixões e objetivos. São aglomerados de pessoas, reunidas num espaço de forma anônima. Já o público possui outras características. Podemos afirmar que o público prescinde do espaço físico para se conceber como tal. Segundo Tarde (1992), para explicarmoso conceito de público, recorremos corriqueiramente a toda a tradição grega e ao termo polis. No entanto, não há palavras em latim ou grego que correspondam contemporaneamente ao que entendemos por público. 
	Inicialmente podemos afirmar que o público está relacionado a uma certa relação espiritual entre os componentes de uma comunidade. A própria imprensa nos fornece essa medida. Estamos reunidos pela informação dos jornais, mas estamos cada um em nossas casas. Neste sentido, o termo opinião está inexoravelmente relacionado ao de público. É ela que instaura as relações entre a comunidade e vai unir essas relações.	Notamos que o público envolve certa passividade, já que o corpo é totalmente rechaçado dessa relação político-social. Curiosamente autores como Negri (2000) propõem o retorno às multidões, numa tentativa de pensar de forma ativa a relação com a política nos aglomerados sociais. Contemporaneamente, falamos em público consumidor, relacionando sua expansão à velocidade do mercado de informações. Cabe assim nos perguntar: o que une as pessoas na informação? Como pensar o espaço coletivo se o público se une sem se encontrar? Tarde chega a utilizar o termo “clientela flutuante” para designar esse aglomerado de pessoas que não se tocam. Este será um ponto chave para nossas reflexões.
2.3 Opinião Pública como medida: estudos de audiência e suas implicações sociais
	Já no início da década de 30 surge nos Estados Unidos, mais precisamente em Chicago, um grupo de pesquisadores atentos ao crescimento exponencial dos meios de comunicação em escalas global. Num período tão conturbado, onde os desequilíbrios sociais se agravavam por conta de pequenas e grandes guerras, a comunicação começa a aparecer como campo estratégico de poder e saber. Temos assim catalogadas na literatura as primeiras pesquisas de audiência em que o conceito de opinião pública aparece delimitado como uma medida. 
	Podemos apontar, como afirma Augras (1974), que existem dois níveis desse conceito: um nível individual, que se confunde com a atitude do sujeito; e um nível coletivo, em que a opinião aparece ligada a uma tendência política, como as deliberações das assembléias e as realizações dos cidadãos. Neste item nos propomos a desdobrar o conceito de opinião como medida, tanto historicamente quanto epistemologicamente, procurando refletir sobre essas instâncias conceituais. 
2.4 Os meios de comunicação de massa: a opinião pública como produto manufaturado
	Habermas (1984) afirma que a opinião pública vem suprimir o papel importante das instâncias públicas, que são os fóruns de discussão. Certamente um estudo sobre o conceito de opinião pública não pode se limitar a análises puramente empíricas, por isso a Teoria da Ação Comunicativa, concebida pelo autor, procura problematizar o termo em duas frentes: a interpretação da opinião para a comunidade em questão e as instâncias de legitimação de poderes que estão em jogo na formação dessa opinião. Sendo assim, o autor acredita numa manipulação inerente à própria formação da opinião. 
	Neste item, gostaríamos de conectar as análises efetuadas por de Habermas a algumas proposições sobre a relação da opinião pública com os meios de comunicação de massa. Parece-nos ainda que, perpassando a argumentação da Ação Comunicativa, encontramos fortes referências à ideologia e à problemática do controle sobre as esferas públicas. Habermas se questiona sobre o modelo democrático e se ele efetivamente dá caução a uma opinião pública racional, consciencial.
	Ora, entendemos, assim como Habermas, que os meios de comunicação trazem à tona uma relação de consumo com a opinião, que se torna um produto consumido em diversos níveis do campo social. A mídia coloca à disposição do indivíduo, numa grande vitrine, opiniões sobre todos os acontecimentos. Cabe ao consumidor escolher aquela que desejar. No entanto, está também em jogo um aspecto produtivo da opinião pública, na medida em se constitui como vetor na produção das subjetividades. Não há simplesmente um fenômeno de controle das opiniões. Tentaremos questionar Habermas, portanto, na medida em que ele ainda entende o fenômeno da opinião numa relação restrita à consciência e à verdade.
Parte 3: Opinião e Imitação: as dobras do campo social
Aqui proporemos uma análise mais detalhada da conexão entre o termo opinião e as subjetividades. Toda a inspiração desse capítulo partirá das idéias de Gabriel Tarde (1992) que, no final do século XIX, desenvolve uma tese inovadora para o campo da sociologia, até então amparada pelo projeto sociológico durkheimiano. O autor procura entender o laço social sem recorrer a identidades lógicas, rompendo com as fronteiras entre o indivíduo e o social. Um projeto inovador, já que todo o intento da sociologia clássica diferenciava essas duas esferas: o individual representando as estruturas psicológicas e o social representando a exterioridade das atividades coletivas. Para Durkheim, por exemplo, os indivíduos são apenas suporte reflexivo da consciência coletiva, onde estariam a família, escola e trabalho e todas as entidades de controle e cerceamento do social. 
Se partirmos desse projeto durkheimiano, cairemos num duplo problema: o indivíduo se reduz a um espelho do campo social e o social passa a ser o lugar da repressão. Gostaríamos de analisar o conceito de opinião à luz das teses de Tarde que afirma que o social deseja apenas se propagar, numa relação construtiva de sentidos e registros semióticos.
A base para a hipótese de Tarde é o que o autor denomina “imitação”, uma espécie de contágio entre partes (social e individual) não muito bem delineadas, já que elas mesmas são definidas por agenciamentos. É pela imitação, que não se confunde com um sistema geral, que o social se propaga. Os fluxos de inovação acompanham esse processo imitativo. Para Tarde, o laço social não se realiza por regras previamente demarcadas, como o contrato social de que falava Durkheim, mas numa constante agitação de forças subjetivas. Assim, o autor procura entender o próprio fenômeno da opinião, como uma expressão dessas relações transversais entre o social e o indivíduo.A opinião não é do indivíduo, nem do social, ela é uma interseção entre acontecimentos e se propaga ininterruptamente. 
3.1. Micropoderes e reproduções de signos
	O homem é um ser inventivo. Produz constantemente fluxos, promove agenciamentos e se constitui socialmente pela imitação. Segundo Tarde, o grande deslize de toda sociologia tradicional (seguramente os estudos de Durkheim) é não observar essa característica fragmentária e dispersiva do tecido social. Pelo contrário, a sociologia sempre procurou analisar o corpo social na sua estabilidade, na sua identidade e equilíbrio. As redes aparentes da sociedade – família, escola, linguagem - , segundo o autor, não podem ser tomadas como pontos de referência para o estudo do coletivo e individual. Mesmo essas duas esferas - o público e o privado - não podem ser concebidas como elementos privilegiados das relações humanas. Parafraseando Foucault, elas apenas apresentam a ponta do iceberg e escondem uma série de outros componentes de constituição dos fluxos socais. 
	Sendo assim, não é possível entender as sociedades sem se debruçar sobre o problema da subjetividade. Se concebermos a subjetividade como processo, distinta e fora do sujeito, poderemos sair de uma “macrossociologia”, que procura entender os acontecimentos na sua estabilidade, para uma “microssociologia”, que oferece ao pesquisador a possibilidade de percorrer os interstícios da formação do campo social, procurando relacionar os registros sociais aos micropoderes institucionais.
	Neste item, desdobraremos as conexões, aparentes e não aparentes, do problema da opinião ligada aos registros sociais. Será necessário percorrer as implicações sócio-econômicas e políticas da opinião pública na formação dos coletivos. 
	
3.2. Propagação de idéias e formação do tecido social
	As subjetividades se constituem conectadas a variadose heterogêneos componentes. É neste sentido que procuraremos relacionar a questão da produção de subjetividade à problemática da constituição da opinião. O corpo social, suas instituições, a linguagem tornam-se, assim, alguns desses componentes heterogêneos na formação dos grupamentos. Componentes mais ou menos privilegiados neste processo construtivo e ininterrupto de propagação do social.
	Segundo Tarde (1990), a opinião pública está irremediavelmente ligada à imitação, que é um componente de grande importância para a constituição do tecido social. Portanto não há como formar um grupamento social sem a repetição, ou imitação. As idéias, as opiniões operam nesta sistemática “evolutiva”; constantes e incessantes fluxos inventivos acompanhados de uma repetição inerente ao corpo social. 
	O que o autor denomina por “coletividade social” é um somatório mais ou menos específico de vontades individuais, mas o indivíduo no pensamento tardeano ainda assim é privilegiado. Para que haja efetivamente inovação das idéias, o indivíduo, dotado de uma consciência, deve escapar momentaneamente das instituições sociais. Tarde afirma: “Para inovar, para descobrir, para acordar um instante de seu sonho familiar ou nacional, o indivíduo deve escapar momentaneamente à sua sociedade” (Tarde, s.d: 113).
	Neste item, portanto, gostaríamos de analisar as implicações dos processos de formação das opiniões na constituição do tecido social. Em Tarde, podemos encontrar fortes referências à atividade comunicacional como intermediária dessa propagação de idéias. Há uma tentativa de conceber os mass media como instrumentalizadores de um aspecto visível de manipulação das massas. Neste sentido, o autor não nega o papel despótico dos jornalistas na formação das opiniões. 
3.3. Controle e Produção de Subjetividades
Neste item, caberá revisitar o tema do controle, amplamente debatido desde de 1995,a partir do momento em que Deleuze apontou originalmente a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle. Deleuze, no pequeno Post-scriptum sobre a sociedade de controle, atenta para novas formas de dominação no capitalismo, ligadas às inovações tecnológicas. Da disciplina para o controle, uma passagem não linear, mas que tem como característica técnicas próprias de poder, lógicas próprias de saber. Enquanto as sociedades disciplinares organizam-se em torno dos meios de confinamento, as chamadas sociedades de controle, geridas principalmente geridas à velocidade da luz alargam seus limites, produzem-se a céu aberto, liberando novos discursos e práticas. 
Em que medida podemos ligar esse tema à questão da opinião pública? Será preciso afirmar que, após as conquistas democráticas, desse desejado “deixar falar”, novas formas de relação foram concebidas e novos dispositivos de poder se agregaram ao campo social. Hoje não podemos simplesmente realizar uma análise sobre a mídia utilizando como caução teórica a manipulação. Como afirma Deleuze há uma sofisticação do poder. Não é no cerceamento e sim na produção de discursos que devemos entender a opinião. O controle aponta para este novo momento do poder, em que as relações parecem se liberar, mas continuam sendo legitimadas por diversas instâncias de poderes institucionais. 
Parte 4: A máquina de redundância: uma caixa de ressonância
4.1.A opinião como palavra de ordem
	Caberá neste capítulo entender o conceito de opinião pública à luz do que Deleuze denomina "palavra de ordem". Neste sentido procurar-se-á desatrelar o conceito de opinião de uma leitura clássica que a liga a um “livre arbítrio”. Procuraremos pensar como essa leitura ajuda a constituir um “coletivo homogêneo”, ou seja, na sociedade democrática eu posso ser árabe e você judeu e ainda assim termos alguma coisa em comum: o respeito pela opinião. Segundo Deleuze, as palavras são pequenas “sentenças de morte”. O autor afirma que as palavras foram feitas para se obedecer, acreditar nelas. Assim, entendemos que a opinião pública funciona neste registro primeiro da palavra de ordem, elas são sentenças produzidas por fluxos inventivos e concomitantemente imitativos. 
	Na imitação dizemos e nos relacionamos através de palavras e dizeres que se constituem em cima de outros tantos dizeres. Por isso há uma certa natureza tirânica das palavras de ordem, o que faz produzir uma caixa de ressonância nos processos de constituição da opinião pública. 
	Assim, entendemos a opinião como elemento de grande utilidade para o poder e uma faceta de extrema importância para seu funcionamento, já que ela está empregada no regime da palavra de ordem.
4.2. Repetir para ficar igual
	Não é difícil perceber que o funcionamento geral das notícias dos jornais procedem por “dizeres de dizeres”. Bourdier já havia salientado as dificuldades enfrentadas pelos jornalistas na busca por informações. Com as agências de notícias, que operam na distribuição das informações, a apuração quase desapareceu, deixando um vácuo na confecção da notícia. O autor denomina esse processo de “circulação circular de informação”. Os jornalistas se lêem, se referem uns aos outros e promovem uma grande caixa de ressonância informacional. Portanto a redundância torna-se elemento fundamental do corpus comunicacional. Paradoxalmente, a informação que deveria trazer o novo, traz na realidade o mesmo.
	A palavra de ordem é em si mesma redundância. Assim, gostaríamos de averiguar como a redundância constitui também a opinião pública, tanto em níveis coletivos quanto individuais. Vamos destacar alguns enunciados dos jornais em que observamos que a “opinião pública” interfere nos processos sociais. Parece-nos que a repetição no jornal funciona para produzir o mesmo e manter um sistema qualquer de enunciados.
Conclusão, como circundar e pôr em variação. 
A conclusão deverá resumir o conteúdo total da tese, apontando e ressaltando questões importantes. Prosseguiremos nossa crítica à sociedade comunicacional. Vamos examinar a homogeneização da opinião pública ligada aos meios de comunicação. Buscaremos fazer uma crítica “à tomada da opinião” pelos meios de comunicação, na medida em que a expressão do campo social, como afirma Tarde, hoje está concentrada no discurso jornalístico em geral. 
Tarde nos apresenta originalmente como os meios de comunicação podem “controlar” os fluxos sociais. Ora, claro que de forma sofisticada o poder não mais é visível e consistente. Ele funciona capilarmente, nos interstícios interpessoais e coletivos. Portanto é na análise minuciosa das subjetividades que poderemos entender como evolui, como se instaura o poder e como há sempre escapatória desses processos homogeneizantes. Sempre está em jogo uma certa criação de si e do mundo, devires intensivos que destroem aparentemente essas demarcações. 
Vamos apontar como os fluxos inventivos da opinião estão sempre conectados com aspectos de controle. A mídia ocupa lugar de destaque nessa formação. Vamos analisar também, como o consumo de opiniões ofertadas pela mídia pode ser um ponto crucial da nossa pesquisa. Ao final do trabalho esperamos poder esclarecer como o homem contemporâneo tem certa relação de consumo com a opinião. 
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