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CÂNCER DE ESÔFAGO CIRURGIA 1 CÂNCER DE ESÔFAGO CÂNCER DE ESÔFAGO As neoplasias do esôfago são doenças graves que apresentam uma taxa de sobrevida muito baixa em 5 anos, em média de cerca de 19%. A compreensão dos tipos histológicos e dos fatores de risco associados a essas neoplasias é fundamental para o diagnóstico e tratamento adequados. TIPOS HISTOLÓGICOS Os tipos histológicos principais das neoplasias do esôfago são o adenocarcinoma e o carcinoma espinocelular (CEC). O adenocarcinoma é o tipo mais comum, seguido pelo CEC. Em uma proporção muito menor, encontram-se os sarcomas, os tumores neuroendócrinos e os tumores benignos. A maioria dos adenocarcinomas se desenvolve no terço distal do esôfago, enquanto os CEC`s são mais comuns nos dois terços proximais. FATORES DE RISCO No caso do adenocarcinoma, o principal fator de risco é a presença da doença do refluxo gastroesofágico, que leva à formação de uma metaplasia intestinal no esôfago distal, conhecida como esôfago de Barrett. O esôfago de Barrett é considerada uma lesão pré-maligna e que se não tratada adequadamente evoluirá com a formação de um adenocarcinoma de esôfago. Os fatores de risco para os carcinomas espinocelulares são diferentes. O principal fator de risco para o CEC é o tabagismo, seguido de perto pelo consumo de álcool. 2 ESÔFAGO DE BARRETT O esôfago de Barrett é uma condição na qual ocorre uma mudança nas células do revestimento da 1/3 inferior do esôfago, transformando o epitélio escamoso normal do esôfago para epitélio colunar, típico do estômago e do intestino. Esta condição é geralmente uma complicação da doença do refluxo gastroesofágico. Essa condição é conhecida como metaplasia intestinal. O diagnóstico é suspeito por meio da Endoscopia Digestiva Alta com o achado de uma área de mucosa de coloração vermelho salmão, semelhante a uma invasão digitaliforme de mucosa gástrica no esôfago distal, com aumento da vascularização no local da lesão. Essa alteração na cor e textura da mucosa é um sinal de metaplasia intestinal, uma mudança nas células do revestimento do esôfago. A confirmação por biópsia da área suspeita demonstrando a metaplasia intestinal na análise histológica (substituição do epitélio estratificado pavimentoso próprio do esôfago, por epitélio colunar especializado). O tratamento do esôfago de Barrett consiste basicamente no tratamento da doença do refluxo gastroesofágico, na maioria das vezes indicando a cirurgia antirrefluxo (fundoplicatura à Nissen). CÂNCER DE ESÔFAGO 3 CLASSIFICAÇÃO DE PRAGA A Classificação de Praga é um sistema endoscópico usado para descrever a extensão da metaplasia intestinal no esôfago. Esta classificação é baseada em duas medidas: a extensão circunferencial (C) e a extensão máxima (M) do epitélio colunar. • Extensão Circunferencial (C): Refere-se à extensão do esôfago de Barrett ao redor da circunferência completa do esôfago. É medida em centímetros a partir da linha Z (a junção entre o esôfago e o estômago) até a extensão mais proximal do epitélio colunar que envolve completamente a circunferência do esôfago. • Extensão Máxima (M): Refere-se à extensão máxima do esôfago de Barrett, incluindo áreas onde o epitélio colunar não envolve completamente a circunferência do esôfago. É medida em centímetros a partir da linha Z até a extensão mais proximal do epitélio colunar. Portanto, um paciente com esôfago de Barrett pode ser classificado como C2M5, por exemplo, onde C2 indica que o epitélio colunar envolve completamente a circunferência do esôfago por 2 cm, e M5 indica que a extensão máxima do epitélio colunar é de 5 cm. CÂNCER DE ESÔFAGO 4 QUADRO CLÍNICO Clinicamente, esses tumores se apresentam principalmente por uma disfagia progressiva. Inicialmente para alimentos sólidos e progressiva para líquidos. Por último atingem um grau de afagia (sem possibilidade de se alimentar por via oral). Estes pacientes acabam indo ao pronto- socorro com desnutrição grave. A rouquidão e a tosse constante podem ocorrer quando o tumor invade os nervos laríngeos recorrentes. Geralmente em tumores dos 2/3 proximais do esôfago e portanto, provavelmente carcinomas espinocelulares. Anemia é outro sintoma que pode estar presente devido ao sangramento destes tumores. Podem se apresentar no pronto socorro com quadro sugestivo de hemorragia digestiva alta (exteriorização por hematêmese ou melena). DIAGNÓSTICO: O diagnóstico é confirmado com a realização de uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA) com biópsia da lesão. Normalmente são encontradas lesões friáveis, com algum grau de estenose esofágica associada. CÂNCER DE ESÔFAGO 5 CÂNCER DE ESÔFAGO ESTADIAMENTO Antes de definir o melhor tratamento para o paciente com neoplasia esofágica é necessário estadiar a doença. O estadiamento da neoplasia de esôfago é um processo que envolve várias etapas e exames, e é baseado no sistema TNM da American Joint Committee on Cancer (AJCC) 8ª edição. Sistema TNM: O sistema TNM utiliza três critérios para avaliar o estágio do câncer: • T (Tumor): Indica o tamanho do tumor primário e se disseminou para outras áreas. • N (Nódulos linfáticos): Descreve se existe disseminação da doença para os linfonodos regionais próximos. • M (Metástase): Indica se existe presença de metástase em outras partes do corpo. • Os principais exames utilizados para o estadiamento do câncer de esôfago incluem: • Ultrassonografia Endoscópica (EUS): Este exame é usado para avaliar a extensão do câncer em relação à profundidade da parede e se ele se espalhou para os linfonodos mediastinais; • Tomografia Computadorizada (TC): A TC de tórax e abdome com contraste é usada para avaliar se existe alguma disseminação da doença para outros órgãos ou linfonodos. • Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET-CT): O PET-CT é útil para identificar a localização dos pontos de metástases da doença, como fígado, ossos ou alguns outros órgãos. Estadiamento Geral: Depois que as categorias T, N e M são determinadas, essas informações são combinadas em um processo denominado estadiamento geral. O câncer de esôfago inicial é denominado estágio 0 (displasia de alto grau) e, em seguida, os estágios variam de 1 a 4, onde o estágio 4 significa que a doença está mais disseminada. Para neoplasias esofágicas do 1/3 médio e 1/3 proximal (provavelmente os carcinomas espinocelulares), a broncoscopia também tem papel importante no estadiamento, já que pode haver invasão de via aérea pela neoplasia esofágica. 6 TRATAMENTO Após concluir o estadiamento é possível classificar o paciente com neoplasia esofágica em 3 grupos: doença precoce, localmente avançada e doença metastática. A neoplasia precoce é aquela que não tem doença linfonodal associada e risco de acometimento linfonodal é baixo. Isto acontece nas neoplasias esofágicas que não atingem a submucosa (é nesta camada que encontram-se os capilares linfáticos). Tumores com este perfil podem ser submetidos ao tratamento endoscópico e realização da mucosectomia endoscópica. Esse é o tratamento preconizado para neoplasias Tis e T1a. Quando há invasão da submucosa (a partir de T1b) o risco de doença linfonodal já é alto. Anteriormente, quando não havia suspeita de doença linfática, indicava-se a esofagectomia + linfandenectomia. Entretanto atualmente, os tumores T1b tem sido tratados de forma semelhante aos tumores localmente avançados (doença linfonodal – N positivo – ou T2 a T4). Neste caso está recomendada a terapia TRIMODAL. Já foi demonstrado que a combinação de quimiorrradioterapia pré-operatória, ressecção cirúrgica com linfadenectomia e quimioterapia adjuvante melhora o desfecho oncológico destes pacientes. Portanto, pacientes com tumores de esôfago localmente avançados, invadindo estruturas ressecáveis ou com doença linfonodal, devem ser submetidos a terapia trimodal (quimioterapia / radioterapia / esofagectomia). Para os pacientes com tumores metastáticos resta o tratamento sist6emico com quimioterapia, tratamentolocal com radioterapia e o tratamento das complicações, sendo a principal delas a afagia. A principal via alimentar cirúrgica a ser realizada é a gastrostomia. Entretanto lembrem-se que se o paciente não estiver com doença metastática, o estômago é o principal órgão para realizar a reconstrução do trânsito intestinal após a esofagectomia (tubo gástrico) e se for necessária uma via alimentar ele (principalmente a grande curvatura) deve ser preservado. CÂNCER DE ESÔFAGO 7 TIPOS DE ESOFAGECTOMIA • Esofagectomia Trans-Hiatal: nesta abordagem é realizada uma incisão cervical esquerda e um acesso abdominal (laparotomia/laparoscopia). A dissecção esofágica e a linfadenectomia são realizadas por estes dois acessos. Normalmente é uma esofagectomia indicada para doenças benignas, pois apresenta uma linfadenectomia menor que as outras duas. A anastomose continua sendo realizada na região cervical, reduzindo o risco de mediastinite em caso de deiscência da anastomose. • Esofagectomia Ivor-Lewis: a grande diferença para a técnica anterior a realização de uma anastomose intra-torácica. A deiscência desta anastomose geralmente evolui com uma grave mediastinite e potencial chance de óbito. • Esofagectomia de 3 Campos (McKeown): também conhecida como esofagectomia tri-incisional. Aqui são realizados 3 acessos: cervical esquerdo, torácico direito e abdominal (associado ou não a laparoscopia). Desta forma é possível dissecar todo o esôfago intratorácico sob visão e realizar uma ampla linfadenectomia. Deve ser a técnica de escolha para tratamento da neoplasia esofágica. CÂNCER DE ESÔFAGO O QUE ACHOU DESSE RESUMO? RESPONDA AQUI! Queremos garantir que sua experiência com esse resumo tenha sido positivo e proveitoso. 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