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Teorias da escrita e da mente

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ICC- Instituto de Ciências Cognitivas 
 CNPJ 03.389.008/0001-80 
 
 
 
Dr. Maurício Aranha icc_brasil@yahoo.com.br 
 
1
 
 
 
PSICOLINGÜÍSTICA – estudo dirigido III 
 
 
 
 
 
Comentário sobre o capítulo: “Teorias da escrita e da mente: de Levy-Bruhl 
a Scribner e Cole”; Olson, David R.; O mundo no papel, São Paulo, Ática, 
1995. 
 
 
Este capítulo faz uma análise da teoria de que o aprendizado da escrita 
poderia dar conta de mudanças sociais e psicológicas. Sobre este assunto autores como 
Havelock, McLuhan, Goody e Watt afirmavam, de modo revolucionário, que o citado 
aprendizado contribuiria para as mudanças. No entanto, o que era tido como 
revolucionário foi contestado com os trabalhos mais recentes de pesquisadores como 
Scribner e Cole que “(...) demonstraram que a introdução da escrita numa sociedade 
tradicional não produz efeitos cognitivos gerais tais como a capacidade de memorizar, 
classificar e derivar inferências lógicas.” (OLSON, 1995, cap. “TEORIAS da...”). 
Deste modo, podemos perceber que o que era revolucionário no início do século XX 
assume um caráter decadente com a contínua pesquisa. 
O texto levanta a questão de que para ser possível admitir que o aprendizado 
da escrita venha influenciar as mudanças sócio-psíquicas é necessário que a escrita 
possua uma historicidade, ou seja, que tenha não só acompanhado o movimento do 
tempo histórico, como também, causado alterações no contexto histórico. Deste modo, 
surge o questionamento: “(...) a racionalidade tem uma história?” (op. cit.). Pois bem, 
se formos exemplificar tal historicidade a partir do desenvolvimento que se observa nas 
etapas de aprendizado da criança poder-se-ia dizer que a cognição tem uma história, 
porém, a criança, à medida que amadurece, aprende, na verdade a desenvolver uma “(...) 
epistemologia, uma nova compreensão de condições do conhecimento (...)” não se trata, 
portanto, “(...) de mais um conhecimento, mas de uma nova atitude com relação a todo 
o conhecimento adquirido até então.” (op. cit.). Concluímos, assim, que com esta 
argumentação somos levados a crer que o fato da cognição se desenvolver mediante 
sucessivos processos de transformações durante a infância, isto não respalda a hipótese 
de que a cognição tenha uma história. 
Outro ponto levantado pelo texto é que embora os povos tenham culturas 
distintas: 
 
“(...) É óbvio que diferentes povos e diferentes culturas têm crenças 
desiguais, mas não é igualmente óbvio que tenham formas diferentes de 
pensar sobre suas crenças, isto é, que tenham epistemologias distintas. Mas 
 
 ICC- Instituto de Ciências Cognitivas 
 CNPJ 03.389.008/0001-80 
 
 
 
Dr. Maurício Aranha icc_brasil@yahoo.com.br 
 
2
se não as têm, se a cognição humana, a racionalidade humana é a mesma 
sempre e em toda parte, neste caso a cognição não tem uma história, e 
podemos descartar a teoria que a relaciona com a escrita.” (op. cit.). 
 
 
 Esta afirmação leva-nos ainda a questionar o fato de que se existem estudos 
que se propõem a analisar formas de discurso que caracterizam o pensamento e os 
grupos sociais de determinado período histórico (como é o caso de disciplinas como a 
história), sobre que alicerces esta pesquisa se fundamenta, uma vez que a história possui 
dois períodos distintos: (1) antes da escrita e (2) depois da escrita. Isto nos leva a um 
novo questionamento, qual seja: o pensamento vem antes ou depois da escrita? 
Tal fato suscita ainda um ponto de relevância: de que modo somos todos 
iguais, cognitivamente? E a resposta a esta pergunta aguarda maior desenvolvimento 
técnico-científico que nos permitam uma percepção mais cristalina sobre o assunto, pois 
se voltarmos nossa atenção para o pensamento, através da óptica cultural, onde as 
culturas acumulam práticas, conceitos e categorias para o ato de pensar, diremos que o 
pensamento tem uma história; no entanto, se visualizarmos tais aspectos como forças 
que criam nosso modo de pensar, poderemos dizer que privilegiamos umas em 
detrimento de outras, assim agindo, não seriam estes elementos históricos e sim 
aspectos sociais adotados por uma determinada cultura, num dado período e com um 
propósito definido. Esta forma de pensar encontra respaldo no texto que menciona que 
“(...) Os estudiosos do conhecimento argumentam que a necessidade por si só leva à 
criação de conceitos; os conceitos, e não só as instituições, são inventadas pelas 
pessoas(...)” e conclui, “(...) As condições sociais podem determinar melhor quais os 
conceitos que vão ser adotados ou rejeitados.” (op. cit.). Portanto, nesta abordagem, o 
aprendizado passa a ser vinculado ao “momento” social e não à escrita. Estas 
implicações têm suas bases no pensamento desenvolvido pelos teóricos sociais como: 
Marx, para quem “(...) a natureza e a capacidade do homem eram sempre secundárias 
em relação aos modos de produção: o que se faz determina a maneira como se pensa.” 
(op. cit.); assim como para Durkheim que afirmou que “(...) a vida lógica tem raízes na 
vida social(...)”(op. cit.); e, Max Weber que viu no desenvolvimento e transformações 
sociais de sua época elementos que vinculavam a lógica uma forma de racionalidade 
entre meios e fins. Mais tarde Vygotsky e Luria corroborariam com esta linha de 
pensamento ao afirmarem que “(...) “os processos mentais superiores” envolvem 
sempre o emprego de signos socialmente inventados: (...)”(op. cit.). Porém, ao defender 
tais preceitos, esses autores abrem perspectivas para uma outra abordagem, qual seja: 
oferecem sugestões sobre como o domínio da escrita, uma vez que são símbolos 
inventados, sociais, e que produzem efeitos sobre a sociedade, influenciam as operações 
e atividades cognitivas, além de lançarem propostas de possíveis explicações sobre o 
desenvolvimento da forma de pensamento desde de épocas primitivas até as atuais. 
Outro ponto, ainda relativo ao papel do social e não da escrita no 
desenvolvimento cognitivo, é o fato de que as “mentes primitivas ou selvagens” se 
valeriam, para pensar, da noção de “representação coletiva”, assim definida por Levy-
Bruhl: 
 
 “(...)[...] os primitivos não percebem nada como nós. O meio social que 
os cerca é diferente do nosso e, precisamente por isso, o mundo exterior que 
eles percebem difere do que nós aprendemos. Não há dúvida de que eles têm 
os mesmos sentidos [...] e sua estrutura cerebral é como a nossa. Mas 
 
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precisamos levar em conta aquilo que suas representações coletivas instilam 
em tudo o que percebem [...] {para eles} todas as coisas têm uma existência 
invisível além da visível.” (op. cit.). 
 
 
Deste modo, Levy-Bruhl dizia que “(...) a mente não estabelece distinção 
entre signo e causa.” (op. cit.) e por isso afirmava também que o pensamento 
tradicional tinha dificuldade de lidar com a relação entre a coisa e sua representação, 
isto acarretava uma relação “mágica” entre o significado e o significando, guardando 
uma relação que podemos denominar de metonímia. Por assim ser, aqui também o papel 
da escrita fica em segundo plano. 
Diante do exposto, todas essas teorias têm sua importância e validade, 
porém “(...) todas elas deixam de mostrar exatamente como a escrita pôde provocar 
mudanças cognitivas. Ou seja, como pôde permitir que surgissemnovos conceitos, pois 
são os novos conceitos que produzem a nova consciência. (...)”(op. cit.). 
Concluímos que diante de abordagens tão distintas é preciso avaliar as 
diversidades deixando espaço para a possibilidade da co-existência de várias abordagens 
que venham a estabelecer conecções entre os diversos campos de estudo e do 
conhecimento humano como: público, população e, até mesmo, crenças e sentimentos 
individuais, no que concerne a investigação científica do papel da escrita na cognição. 
 
 
Comentário sobre o capítulo: “O poder mágico da música de carnaval 
(Decifrando mamãe eu quero)”; Damatta, Roberto; Conta de mentiroso – 
sete ensaios de antropologia brasileira, Rocco, [19__] . 
 
 O autor propõe uma análise da música popular brasileira sobre os aspectos 
das motivações políticas, relações sociais e valores expressos. 
O autor descorda do fato de que a música popular espelha uma “crítica 
suave” dos costumes, por entender que elas não ironizam de modo superficial e 
inconseqüente às realidades sociais. Entende o autor que a música é profunda e densa de 
significado; diz ele que a música “(...) tanto quanto a política, a economia, a religião, a 
literatura erudita, as leis e os costumes, os sentimentos, as técnicas, os gestos e as artes 
– é veículo através do qual a sociedade se revela, deixando-se perceber como 
totalidade dinâmica, viva e concreta: como um universo eventualmente dotado de 
identidade.” (DAMATTA, [19__]) 
A música popular, deste modo, passa a ter importância como “ (...) 
instrumento de dramatização da vida política, dos valores sociais, dos papéis sexuais, 
do poder, dos infortúnios, da morte e da doença, do amor e do ciúme, da vingança e da 
indiferença, do trabalho, do trabalhador, da boemia e da malandragem, da cidade e do 
campo, etc.” (op. cit.). Isso nos faz refletir sobre a importância da audição em 
detrimento da visão nas camadas de menor recurso econômico social, pois, enquanto a 
burguesia se utiliza da literatura como instrumento, a massa popular se vale da música 
para dar forma aos seus pensamentos, angústias e expectativas. O autor nos chama a 
tenção para este último fato quando nos lembra que o alvo de perseguição dos “regimes 
políticos de força” foram os artistas da música, bem como, as letras cantadas em suas 
canções. 
 
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Por assim ser, a música não é algo superficial e inconseqüente, pelo 
contrário “(...) a música revela um plano através do qual podemos (re)construir o 
mundo e, assim fazendo, ouvir, dialogar e, sobretudo, senti-lo e “enxerga-lo” como 
algo concreto, repleto de sentido e intencionalidade.” (op. cit.), por isso, a música 
permite a veiculação de certos tipos de comportamentos revelando modalidades 
tradicionais ou estereotipadas distinguindo-se papéis, atitudes, posição social e 
sentimento dos mais diversos. 
Com isso, ao tomar como referencial a música “Mamãe eu quero”, o autor 
abre um parêntese para mostrar que a “música de carnaval” tem um papel relevante na 
cultura brasileira, uma vez que ela permite uma dupla integração: “(...) primeiro, a 
integração motora ou física do ouvinte com a melodia e com a letra da música; depois, 
do músico com a audiência, (...)”(op. cit.), esta relação entre o músico e a audiência 
permite que a troca de lugar acarrete o envolvimento da platéia o que leva à superação 
de tabus como a divisão de classe social. Pois, observa-se que na música erudita a 
música tem “um fim em si mesma”, uma vez que nos remete à contemplação; enquanto, 
a música popular se volta para os “meios” liberando emoções reprimidas, produzindo 
intensa participação e abrindo espaço a manifestação do ato volitivo. Corrobora para tal 
análise o comentário do autor onde nos diz que “(...) uma das maiores atrações 
exercidas pela música popular é certamente a sua capacidade sedutora e mágica de 
encapsular, num só veículo, idéia, emoção, palavra e ação.” e em seguida completa: 
“(...) O que a transforma num veículo capaz de exprimir sentimentos complexos (como 
o amor, a inveja, o ódio, o ciúme, a nostalgia ou o desprezo...), (...)”(op. cit.), portanto 
na música e, principalmente na de carnaval, é possível, pela simplicidade, a participação 
de todos tanto na música e como na ação que ela implica. As letras da música de 
carnaval destacam assuntos unânimes apresentando mensagens de caráter universais, 
deste modo a música de carnaval tem o mérito de poder falar de tudo, mesmo aqueles 
assuntos que as autoridades cerceariam, se ainda pudessem, sem que haja reprimendas 
ou atos coercitivos. 
Conclusivamente estas músicas acabam por afirmarem verdades gerais e 
profundas da sociedade brasileira permitindo a abordagem direta e não preconceituosa 
de temas que ainda possuem repercussões sociais e psíquicas de abordagem complexas 
que fora deste contexto musical, provavelmente, causariam desconforto. Assim sendo, a 
música popular permite ao ser humano lidar com todas as facetas do “si mesmo” e da 
sociedade funcionando como um “elixir” que equilibra os aspectos instintivos (liberto 
de todas as amarras, tradições e padronizações) e “civilizatórios” (arraigados a padrões 
pré-definidos, moralmente constituídos e que cerceiam as manifestações volitivas). 
 
 
OBRAS CONSULTADAS: 
 
Lyons, John. Linguagem e lingüística, uma introdução, Rio de Janeiro, 
Guanabara, 1992, cap. “A linguagem e a mente” e “Linguagem e cultura”. 
 
Olson, David R. O mundo no papel, São Paulo, Ática, 1995, cap. “Teorias 
da escrita e da mente: de Levy-Bruhl a Scribner e Cole”. 
 
 
 ICC- Instituto de Ciências Cognitivas 
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Damatta, Roberto; Conta de mentiroso – sete ensaios de antropologia 
brasileira, Rocco, [19__] . 
 
 
 
________________________ 
Dr. Maurício Aranha - Médico pela Universidade Federal de Juiz de Fora; Especialista em Neurociência e 
Saúde Mental pelo Instituto de Neurociências y Salud Mental da Universidade da Catalunya; Pesquisador 
do Núcleo de Psicologia e Comportamento do Instituto de Ciências Cognitivas. E-mail: 
dr_mauricioaranha@yahoo.com.br

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