Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
f .f A A T U A Ç Â O D O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O D O P E N S A M E N T O C R Í T I C O E M P S I C O L O G I A E E D U C A Ç Ã O ; . I E l e n i l a de Rício T a n a m a c h i ! • • M a r i s a Eugênia M e l i l l o M e i r a O o b j e t i v o d e s t e t e x t o é o d e a p o n t a r ^ 1 j u m a s p o s s i b i l i d a d e s d e intervenção c o n c r e t a m e n t e já e l a b o r a d a s pélas a u t o r a s e q u e s e c o n s - t i t u e m e m expressões d o p e n s a m e n t o críticc l o g i a e Educação. A P s i c o l o g i a E s c o l a r é a q u i e n t e n d i d a : j á construído e m P s i c o - Como área de estudo da Psicologia e de atuação/ formação profissional do psicólogo, que tem no contex- to educacional - escolar ou extrà-escolar, mas a ele re- lacionado - o foco de sua atenção, e na revisão crítica dos conhecimentos acumulados,pela Psicologia como ciência, pela Pedagogia e pela Filosofia da Educação, a possibilidade de contribuir_£arci a superação da^ indefinições teórico-práticas que ainda se colocam nas relações entre ciPsjçqh e ci Echim (Tanamachi, 2002yp.''85J'.' D e s t a f o r m a , o q u e d e f i n e u m p s i c ( 5 i l o g o e s c o l a r n ã c é o s e u l o c a l d e traÉálho, m a s o s e u c o m p r o m i s s o teórico e p r á t i c o com a s questões d a e s c o l a . È)efendemos q u e : O melhòfi lugar para o psicólogo escolar é o lugar possível, sejfi dentro ou fota de uma instituição, des/ie I E L I Í N I T A D E Rfcio T A N A M A C H I E M A R I S A E U G E N I A M E L I L L O MtmA que etc se coloque dentro da educação c assuma um compromisso teórico e prático com as questões da esco- I la, já que indcpcndcnie do espaço profissional que pos- sa estar ocupando, ela deve se constituir no foco prin- cipal de sua reflexão, ou seja, é do trabalho que se de- senvolve em seu interior que emergem às grandes-.ques- tões para as quais deve buscar tanto os recursos explicativos, quanto os recursos metodológicos que posí sam orientar sua ação (Meira, 2000, p. 36). C o n s i d e r a n d o a existência d e d i s t i n t a s referências teórico-filo- sóficas e metodológicas i n i c i a r e m o s o t e x t o c o m a discussão d e a l - g u m a s d a s p r i n c i p a i s questões teóri^co-práticas d a P s i ^ c o l o ^ m n a e d u - cação e m , u m a p e r s p e c t i v a a M t i c a . P a r a t a n t o , a p r e s e n t a r e m o s as"questões m a i s p r o p r i a m e n t e teó- r i c a s d a P s i c o l o g i a n a Educação, a n a l i s a n d o a s f^xplicações t r ^ g l i c i o - 'n9Ís_sobjF&-e-fcacasso e s c o l a r a a s tendênciaà^tuais d o j j e n s a f n e n t o i r í t i co e m P s i c o l o g i a E s c o l a r , d e f e n d e n d o q u e o m o m e n t o a t u a l e x i - g e u m a revisão d o s p r e s s u p o s t o s teórico-filosóficos e metodológicos - s o b r e o h o m e m e m ^ e r a l , a formação d o indivíduo, a s concepções d e Educação e d e P s i c o l o g i a - e a delimitação d e u m n o v o s e n t i d o p a r a a P s i c o l o g i a E s c o l a r . E m s e g u i d a , a p r e s e n t a r e m o s a l g t i m a s reflexões e n f o c a n d o a s p o s s i b i l i d a d e s teórico-críticas d e intervenção d o psicólogo j u n t o à d e m a n d a d e q u e i x a e s c o j a r e e m instituições d e e n s i n o . / " D i s c u t i r e m o s a atiiação e m P s i c o l o g i a E s c o l a r , a n u n c i a n d o u m / n o v o l u g a r p a r a o psicólogo, b u s c a n d o d e l i m i t a r o s e l e m e n t o s d a a v a - liação e d a intervenção, a s estratégias m a i s u t i l i z a d a s e o s r e s u l t a d o s "possíveis. i i m b o i a cOnsidciãiiilo q u e U i n t o n o c a s o d a intervenção j u n t o à U l c n u u i d a dc, q u e i x a e s c o l a r , c | u a i n o e m instituições d e e n s i n o a s q u e s - tões leórico-piVuicas e j f y o l v i d a s e a s e t a p a s d o t r a b a l h o s e j a m a s m e s - m a s , e n i c a d a l i i h d e s s e s m o m e n t o s d e ap re sen t ação n o t e x t o r e t o r n a m o s a e l a s , a o m e s m o t e m p o q u e d e s t a c a m o s a s e s p e c i f i c i d a d e s a e l e s p e r t i n e n t e s . Além d i s s o , p a r a p e r m i t i r u m a compreensão m a i s A A T U A Ç Â O D O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S . A O D O P E N S A M E N T O . . 13 a m p l a d o q u e e s t a m o s c o n s i d e r a n d o c o m o atuação d o psicólogo e s c o - l a r e m u m a p e r s p e c t i v a crítica, e n f o c a m o s , p r i n c i p a l m e n t e n a s e g u n d a p a r t e , u m e x e m p l o d e e n c a m i n h a m e n t o d e ação j u n t o à d e m a n d a d e q u e i x a e s c o l a r e , n a t e r c e i r a p a r t e , a m e t o d o l o g i a e a sistemática e m - p r e g a d a noírabalho e m instituições d e e n s i n o . O s f u n d a m e n t o s teóri- co-filosóficos são r e t o m a d o s e m a m | ) a s . 1. PRINCIPAIS QUJ|TÕES TEÓRICO-PRÁTICAS DA ' < PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO i ^ , i P a r a a p r e s e n t a r a s p r i n c i p a i s questões .teórico-práticas d a P s i - c o l o g i a n a Educação, i n i c i a m o s c o m a análise d a s expLlçaÇÕes t r a d i - c i o n a i s ^ s o b r e , o f r a c a s s o e s c o l a r , c o n s i d e r a n d o t a n t o a r e a l i d a d e e d u - c a c i o n a l b r a s i l e i r a q u a n t o a história d a P s i c o l o g i a e m relação a o m o v i m e n t o d e constituição d a s o c i e d a d e , d a Educação e d a própria P s i c o l o g i a c o m o ciência. An á l i s e c r í t i ca d a s a b o r d a g e n s t r a d i c i o n a i s e m P s i c o l o g i a E s c o l a r D a d o s o b t i d o s p o r p e s q u i s a s r e a l i z a d a s ^ i b h r C o p r o c e s s o d e escolarização n o - B r a s i l ' revelam' .ausência d e e s c o l a p a r a t o d o s , evasão - o v çerrriai1|n6ia'sém'"hada a p r e n d e r (expulsão/exclusão) , , íiidicés a l t o s B e a n a l f a b e t i s m o , m o s t r a n d o q u e a i m p o s s i b i l i d a d e dô. constiturção d a condição h u m a n a p e l a v i a d a educação f o r m a l é a i n d a u m a r e a l i d a d e e m n o s s o País. S i t u a n d o a história d a P s i c o l o g i a e m relação a o m o v i m e n t o d e constituição da^soCièdade, d a Educação e d a própria P s i c o l o g i a c o m o ciência, M a r i a ' H e l e n a P a t t o ( 1 9 9 0 ) a p o n t a - n o s c o m o a P s i c o l o g i a t e m contribuído p a r a j u s t i f i c a r e s s a r e a l i d a d e e d u c a c i o n a l . I B G E (2001J, Otaviano Helene (1-997) e Alceu FeiTaio (1999) 3 14 E L E N I T A nE Ricio T A N . ^ M A C H I E M A R I S A E U G Ê N I A M E L I L L O M E I R A A a u t o r a reporta-sé aoiséculo X I X p a r a a s s i n a l a r o m o m e - n t o n b q u a l a contradição v i y i ^ l a p e l a b u r g u e s i a a t i n g e o a p o g e u , i n t e n s i f i - c a n d o - s e o a b i s m o e n t r e a acumulação d e r i q u e z a s e a s p e q u e n a s c o n q u i s t a s d o proleta'riãdo q u e , s e g r e g a d o p e l a b u r g u e s i a , já não é m a i s s e u a l i a d o . B u s c a r j u s t i f i c a r t a l a b i s m o é também u m a t a r e f a d a s ciências h u m a n a s q u e n a s c e m e s e oficializaní.._nesse período. C o n f o r m e P a t t o ( 1 9 9 0 , p . 1 7 ) , a b u r g u e s i a t r a d u z a s r e i v i n d i c a - ções d a s m a s s a s e m t e r m o s assimiláveis p e l a o r d e m s o c i a l e x i s t e n t e c o m o auxílio d a s ciências. E s s e é o c a m i n h o m a i s e f i c a z p a r a p e r m i - t i r u i V i a participação política, s e m q u e t a i s reivindicações .se t o r n e m ameaças incontroláveis. D e s . s e m o d o , a P s i c o l o g i a , p a r ae x p l i c a r o s a j u s t e s d a o r d e m s o c i a l c a p i t a l i s t a e m função d a s exigências d o s n o v o s m o m e n t o s h i s - tóricos d e s u a recomposição, t e m t r a n s i t a d o e n t r e t e o r i a s e a b o r d a - g e n s q u e n a d a m a i s são d o q u e r e c u r s o s d a P s i c o l o g i a c o m o ciência p a r a a reordenação d o status quo d a própria s o c i e d a d e , d a F i l o s o f i a , d a Sociolo''giã... P o d e m o s c o n c l u i r c o m a a u t o r a q u e , t e n d o s u r g i d o n e s s e perío- d o , a P s i c o l o g i a m a n t 1 ! m - s e até o m o m e n t o p r e s e n t e , h e g e m o - iiiça.mentó,j"epío^^^^ condição, c o n f o r m e o q u a d r o a s e g u i r p e r m i t e v i s u a l i z a r ' . E m b o r a r e c o n h e c e n d o a f o r m a e x t r e m a m e n t e s i m p l i f i c a d a d e apresentação d o s d a d o s c o n t i d o s n o q u a d r o ' , é possível i d e n t i f i c a r q u e a h e t e r o g e n e i d a d e p o r e l e r e v e l a d a é a p e n a s a p a r e n t e . C o n s i d e - r a m o s s e r e s t a a expressão d o p e n s a m e n t o d e P a t t o ( 1 9 9 0 ) , q u a n d o a f i r m a q u e e m b o r a p o r c a m i n h o s teórico-práticos d i f e r e n t e s , a P s i - - o i|iKiiln) IniscLi sisleinalizar, ainda que de niodu baslanie esquemático, alguns dos aspccios que caracterizarn, principalnienie, as relações entie o niovirnento leóiico/ polílico, a concepção teónca e a abordagem presenie em cada um dos niomenlos desse inovimenlo, os procedimenlas, os nalamentos, os termos de referência e onde está situada a origem do problema em cada caso. Embora simpliTicado e inacabado, piclerimos o quadro porque nos permite melhor visualizai o desenvolvimento da Psicologia na Educação, cm relação com o contexto de nossa sociedade. ' Os dados comidos no quadro foram obtidos por meio da leitura de textos de Maria Hilejia Souza Pntto (1990), Newton t)uarte (1996) c troca de ideias entre as autoral e Marilene Proença. i A Ã T U A Ç Á O P O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O no P E N S A M E N T O . 15 c o l o g i a e m s u a s relações c o m a Educação ; t e m s i d o c onduàda p o r f i n a l i d a d e s s e m e l h a n t e s . R e f e r e n d a o status quo d a Educação,è d a própria P s i c o l o g i a c o m o ciência, ^ o c m e i o d a ênfase e m a s p e c t o s i pllTtiçúIarés d o s indivíduos, dás 'famílias o u d o m e i o s o c i o c u l t u r a l q u e ' c a r a c t e r i z a m a m a i o r i a d e s u a s explicações. ' N e s t e c a s o , a única p e r g u n t a possível a o psicólogo r e f e r e - s e a. " p o r q u e o s indivíduos não a p r e n d e m " , a p o n t a n d o p a r a u m a ausência d e c o m p r o m i s s o d a P s i c o l o g i a c o m a condição m u l t i d e t e r m i n a d a d a s circunstâncias n a s q u a i s o s indivíduos s e h u m a n i z a m . , Tendências atuais do pensaftiento crítico em Psicologia Escolar [ A visão t r a d i c i o n a l e hegemónica' d a P s i c o l o g i a n a Educação a c i m a a p r e s e n t a d a , p a s s o u a s . e x - _ s i s t e m a t i c a m e n t e d e n u n c i a o a n o B r a s i l , a p a r t i r d a década d,e'Í980,' m o m e n t o ' r f d q i l a i s e c o n s o l i d a u m a p o s t u r a crítica e m relação à i d e n t i d a d e e à função s o c i a l d o psicólogo e s c o l a r . T e n d o c o m o u m a d a s p r i n c i p a i s referências o t e x - t o d e M a r i a H e l e n a P a t t o ( 1 9 8 4 ) , o m o v i m e n t o d e crítica p a u t a - s e , n e s s e m o m e n t o , p e l a constatação e deniíncia d o s p r e s s u p o s t o s teóri- co-práticos d a P s i c o l o g i a e d a Educação e p e l o diagnóstico e a n a l i s e crítica d a hi.stória d a P s i c o l o g i a n a Educação, e n f a t i z a n d o c o n c e p - ções p r o g r e s s i s t a s e o t r a b a l h o c o l e t i v o , e n t r e o u t r o s . A década d e , 1 9 9 0 ' * a s s i n a l a u m período p r i v i l e g i a d o d e s s e m o - v i m e n t o , m a r c a d o p e l a t e n t a t i v a d e d e s c r e v e r , e x p l i c i t a r , c o n s t r u i r / p r o p o r r e s p o s t a s q u e t r a d u z e m e m ações a s tendências a p o n t a d a s n a década a n t e r i o r . N a a t u a l i d a d e , v e r i f i c a m o s q u e , a p e s a r d e p e r s i s t i r e m a s t e n - dências já a s s i n a l a d a s , têm o c o r r i d o várias t e n t a t i v a s d e r e t o r n o às ^ Para uma análise das tendências atuais do pensamento crítico em Psicologia Escolar, pode-se consultar textos das autoras, publicados no ano de 2000 no livro Psicoloniii e EcliiCíiÇíiii: ílesiifii)': leóiico-práiiins. organizado eni conjunto cotii as professoras Marilene Prjença e Marisa Rocha. Movimento teórico e político Concepçiio teórica Abordagem Procedimentos Tratamento Termo de referência Origem do problema Por que a criança não aprende? Darwinismo social (consolidação da sociedade capitalisla) Teoria do Dom ou das Aptidões Individuais Psicomoteria Testes de Aptidão e Personalidade Educação Especial Criança anormal No indivíduo (determinantes heredológicos) Hereditariedade Movimenlo Higienista (família idealizada) • Ambientalismo (Psicanálise x Beha\) V ' Clínica e Modificação do Comporta- mento \ - Psicodiagnóstico (observação/ entrevista/história de vida) - Condicionar comportamentos adequados e eliminar inadequados Psicoterapia/ Orientação Familiar e Escolar Criança problema ^Ambiente familiar desajustado - Na criança c seus relaciona- mentos (deierininantes da personalida- de) Palores emocionais ou controle inadequado do comportamento Movimento de Saúde E<;colar Organicismo (alteração na ordem natural da aprendiza- gem por anormalidades neurais) Organicista Exame Neurológico e Eletroencefalograma Medicação/ Terapias de reeducação Criança com disiiírbio de aprendizagen Disfunção cerebral/ (determinantes neuropsicológicos) Palores orgânicos ra 2 Reivindicações Interacionismo Teoria da privação/ Testes de Educação Criança Determinantes Aspectos de minorias carência cultural Aptidão e Compensatória carente/ sociais e socioculturais raciais e étnicas Personalidade. (merenda/ deficiente culturais (nível nos EUA Psicodiagnóstico estimulação ou diferente sócio-econônii- (acordos d'». ou Modificação precoce/ co) cooperação de Comporta- antecipação da Brasil X EUA) • f * mento escolaridade / programas especiais para crianças carentes) Mundialização Inatismo, Socioconstrutivista. - Aplicação de - .Aguardar Criança No processo de - Não atingiu (Neoliberalismo Ambientalismo, Sociointeracionista, provas para maturação imatura desenvolvimento maturidade Pós- Interacionismo/ Sbciointeracionismo avaliar desenvol- física das do indivíduo em suficiente Modernidade) Construtivismo Construtivista, vimento/ funções contalo com o.. - Au.sência de Construtivismo capacidade da intelectuais meio adeqtvido ambiente Pós-Piagetiano criança - Avaliação de condições do ambiente - Preparação de ambiente favorável à aprendizagem facilitador I f> EuNiTA D K Rício TANAMAcm E M A R I S A E U G É N I A M E L I L L O M E I R A ( • ' c oncepções t r a d i c i o n a i s , q u e a c a b a m s e n d o i n c o r p o r a d a s a o d i s c u r - s o d a s concepções d e f e n d i d a s p e l o m o v i m e n t o d e crítica, c o m o s e r i a o c a s o p o r e x e m p l o d a g aproximações e n t r e a s t e o r i a s d e P i a g e t e V i g o t sk i , e s t u d a d a s po ! r D u a r t e ( 1 9 9 6 , 2 0 0 0 ) . A , s s i m compreencliÒas, e s s a s tendências a t u a i s d o p e n s a m e n t o e m P s i c o l o g i a e Educação, p o d e m r e a f i r m a r , n e s t e ij.iício d e século, o m o v i m e n t o d e recomposição d a s j u s t i f i c a t i v a s d a ciência psicológica e pedagógica p a r a a manutenção d a r e a l i d a d e e d u c a c i o n a l n o c o n - t e x t o d a s o c i e d a d e m a i s a m p l a , q u a d r o s e m e l h a n t e a o já d e n u n c i a d o p o r P a t t o ( 1 9 8 4 ) . I J e i x a n d o d e s e p o s i c i o n a r d i a n t e d a s dime.n.sões ontológica, epistemológica e lógica d o c o n h e c i m e n t o , ò r e t o r n o às_ex£licações t r a d i c i o n a i s , e n c o b e r t o p o r m e i o d e u m a n o v a l i n g u a g e m , p r e p a r a o cenário ideológico propício às mudanças p a r a a d a p t a r o já e x i s t e n t e a o n o v o m o m e n t o históíico s o c i a l , s e m q u e s e j a necessário q u e s t i o - n a r a s fiiiaíidades d a organização s o c i a l , d a produção d o c o n h e c i - m e n t o e d o s próprios indivíduos. N e s t e c o n t e x t o , a t e s e a q u i d e f e n d i d a r e f e r e - s e a o r o m p i m e n t o c o m e s t a s tendências,"tanto | ; o r m e i o d a explicitação d e f u n d a m e n - t o s teórico-filosóficos e metodológicos q u e p e r m i t a m d i s c u t i r f i n a l i - d a d e s histórico-sociais c o n c r e t a s , q u a n t o p e l a ênfase e m r e f e r e n c i a l a i n d a p o u c o e x p l o r a d o c o m o a l t e r n a t i v o à superação d o s c o n h e c i - m e n t o s e l a b o i a d o s pc\i\a e m relação à Educação. l U m a c o i i c e p ç ã o crítica d e Psicologia E s c o l a r * • T o m a m o s c o m o referência teórico-filosófica e inetodoíógica, o c o n j i u i t o d e elaborações d a P s i c o l o g i a , e f e t i v a d o s a p a r t i r d o ' M a - l e r i a l i s m o Hislóiico Dialético, e n f o c a n d o a s c a t e g o r i a s q u e têm i m - plicações i m e d i a t a s p a r a a compreensão d o p r o c e s s o d e humanização d o s indivíduos n o c o n l e . ^ t o sociohisiórico a t u a l . N o nível d a análise s o b r e o h o m e m e m g e r a l d e s e n v o l v i d a p o r M a . r x , d e s t a c a m o s o i h i b a l h o c o m o a t i v i d a d e v i t a l p o r m e i o dO q u a l o A A T U A Ç Â O D O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O D O P E N S A M E N T O . 19 h o m e m s e r e l a c i o n a c o m a n a t u r e z a e c o m o s o u t r o s h o m e n s , c r i a n - d o a s condições p a r a a produção e reprodução d a h u m a n i d a d e ; o caráter m a t e r i a l e histórico d o d e s e n v o l v i m e n t o h u m a n o q u e p e r - m i t e c o m p r e e n d e r a s relações d e produção c o m o d e t e r m i n a n t e s d a f o r m a e d o conteúdo d a s relações e n t r e o s h o m e n s e , f i n a l m e n t e , a lógica dialética, c u j a s c a t e g o r i a s c e n t r a i s - contradição, t o t a l i d a d e , p a r r i c u l a r i d a d e . . . , v i a b i l i z a m o c o n h e c i m e n t o é 'á ' in íerpretação d a r e a l i d a d e , c o n s i d e r a n d o a o r i g e m m u l t i d e t e r m i n a d a e contraditória d o s fenómenos, a p r e e n d e n d o - o s e m s u a dinâmica h o r i z o n t a l ( s u a história d e d e s e n v o l v i m e n t o ) e v e r t i c a l (articulação e n t r e aparên- c i a e essência) . C o m o a concepção M a t e r i a l i s t a Histórico Dialética f o i g e s t a d a v i s a n d o à análise crítica d a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a , e l a v e i c u l a , p a r a além d e u m visão d e h o m e m e d e s o c i e d a d e , u m a concepção ética. I m p l i c a a r e s p o n s a b i l i d a d e d e s e c o n s t r u i r u m a n o v a o r d e m s o c i a l , c a p a z d e a s s e g u r a r a t o d o s o s h o m e n s u m p r e s e n t e e u m f u t u r o d i g n o s . E x i g e c o m p r o m i s s o p e s s o a l e c o m a construção d e u m c o - n h e c i m e n t o científico c a p a z d e c o n t r i b u i r p a r a q u e o h o m e m s e o b j e t i v e d e f o r m a s o c i a l e c o n s c i e n t e , t o r a a n d o - s e , c a d a v e z m a i s , l i v r e e u n i v e r s a l . Â f i n a l i d a d e explícita é o c o m p r o m i s s o ético-políti- c o c o m a emancipação h u m a n a , e s t a n d o , p o r t a n t o , p r e s e n t e s a s d i - mensões ontológica - formação d o s e r d e n t r o d e d e t e r m i n a d a s c i r - cunstâncias sociohi.stóricas, epistemológica - c o m o s e c o n h e c e «sse p r o c e s s o e.á dimensão lógica - lógica i n e r e n t e a e s s a p e c u l i a r i d a d e e q u e precísa s e r a p r o p r i a d a . ^ N e s s e s e n t i d o , concordamos'í^ite a concepção científica s o b r e o h o m e m e m g e r a l , ná|visão d e M a r x , p o d e d a r sustentação'a^bs e s t u - d o s s o b r e a i n d i v i d u a l i d a d e / s u b j e t i v i d a d e , u m a t a r e f a p a r a a P s i c o l o - g i a , a s s u m i d a p o r Sève ( 1 9 7 9 ) , V i g o t . s k i ( 1 9 9 6 ) , L e o n t i e v ( 1 9 7 8 ) , e n - t r e o u t r o s . " N o nível d a formação d a i n d i v i d u a l i d a d e , e n f o c a m o s o s f u n d a - l i i e n t o s d a concepção histórico-social d o s e r h u m a n o , t a l c o m o p r o - põe L e o n t i e v ( 1 9 7 8 ) , n o t e x t o " O h o m e m e a c u l t u r a " . A o e x p l i c i t a r o m o m e n t o d e constituição d a n a t u r e z a s o c i a l d o h o m e m , o a u t o r 2 0 E L E N I T A D E Rfcio T A N A M A C H I E N U R I S A E U G Ê N I A M E L I L L O M E T O A e x p l i c a c o m o s e dá o p r o c e s s o d e apropriação d a s objetivações h i i - maiio-genéricas q u e p e r m i t e a objetivação d o indivíduo, o l u g a r d a comunicação e d a ediicação ( e m g e r a l e e s c o l a r ) n e s s e p r o c e s s o , s e m d e i x a r d e c o n s i d e r a r q u e t u d o i s s o o c o r r e e m u m a d e t e r m i n a d a circunstância, n o c a s o , a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a q u e t e m a alienação c o m o u m a d e s u a s m a r c a s . C o m o não há u n i d a d e ^ n o r e f e r i d o p r o - c e s s o d e apropriação, p o r q u e e s t a f o r m a d e organização s o c i a l ê c a r a c t e r i z a d a p o r diferenças n a s condições d e v i d a ( f r u t o d a . d e s i * g u a l d a d e económica , d e c l a s s e e d e re lação c o m a s aquis ições sociohistóricas), a constituição d a i n d i v i d u a l i d a d e está c o n d i c i o n a d a à superação d o p r o c e s s o d e alienação. D i s c u t i n d o a alienação económica e c u l t u r a l , o a u t o r a p o n t a e l e - m e n t o s p r o g r e s s i . s t a s e reacionários d a c u l t u r a i n t e l e c t u a l , o u s e j a , o s e l e m e n t o s q u e s e r v e m a o d e s e n v o l v i m e n t o d a h u m a n i d a d e e a q u e l e s c j u e s e r v e m a o i n t e r e s s e d a s c l a s s e s n o p o d e r . E x p l i c i t a , f i n a l m e n t e , a r u p t u r a e n t r e a s gigániescas p o s s i b i l i d a d e s d e s e n v o l v i d a s p d i o gé- n e r o h u m a n o e a p o b r e z i a e e s t r e i t e z a q u e c a b e a o s h o m e n s i n d i v i d u - a l m e n t e c o m o a contradição q u e c a r a c t e r i z a a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a . D e f e n d e q u e e s s a situação não é e t e r n a p o r q u e não o são a s r e l a - ções .socioeconómicas q u e l h e s dão o r i g e m , c o l o c a n d o a superação d e s s a r e a l i d a d e c o m o u m a p o s s i b i l i d a d e n o c o n t e x t o a t u a l . Concluímos, a p a r t i r d a análise d o a u t o r , q u e a superação d aalienação só s e c o n s t i t u i u m a p o s s i b i l i d a d e q u a n d o a c o m p r e e n d e - m o s p o r contradição ( p o r q u e o c i u e o s indivíduos p r e c i s a m p a r a d e l a s e l i b e r t a r está n o m e s m o c o n t e x t o q u e a p r o v o c a ) , q u a n d o c o n s i d e - r a m o s a historicidade,dçs f a t o s h u m a n o s e q u a n d o p o d e m o s e n t e n - d e r p a r a t r a n s f o r i n a r a s circunstâncias. Além d i s s o , é p r e c i s o c o n s i - d e r a r t a n t o u m p r o c e s s o d e educação p a r a p e r m i t i r a humanização ( q u e i m p l i c a c o m p r o r t i i s s o c o m a superação d a alienação), q u a n t o u m a concepção d e P s i c o l o g i a q u e p o s s a d a r sustentação, n o q u e a e l a c o m p e t e c o m o ciência, a e s s e p r o c e s s o d e educação. E i n relação à Edticação, e n c o n t r a m o s n a Concepção Histórico- crííica d e S a v i a n i ( 2 0 0 0 ) a explicitação d e f i n a l i d a d e s t r a n s f o r m a d o r a s pí.'>a a Educação e pará a P s i c o l o g i a . A A T U A Ç Â O D O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O D O P E N S A M E N T O . . . 21 A o d i s c u t i r a s f i n a l i d a d e s d a educação e s c o l a r , d e s t a c a o cará- t e r c o n s e r v a d o r e a o m e s m o t e m p o contraditório d o p r o j e t o burguês d e e s c o l a , p e n s a n d o p o r contradição t a n t o a s relações d a e s c o l a c o m a s o c i e d a d e j q u a n t o a função d a e s c o l a e o s t e m a s r e l a t i v o s a o p r o - c e s s o e d u c a t i v o (conteúdos, métodosi relação p r o f e s s o r / a k i n o ) . T o m a o p r o c e s s o d e democratização da-^dircação n o s e n t i d o f o r m a l e s u b s - t a n c i a l , d e f e n d e n d o a | g a r a n t i a d e a c e s s o e permanência n a \ ; s c o l a , c o m o u m a condição d ^ humanização n o s e n t i d o d a " o n i l a t e r a l i d a d e " ' ' . O a u t o r p e r m i t e ^ a p r e s e n t a r , c o i r i o e l e m e n t o s q u e g a r a n t a m a transformação d a e . s c o l a e m i n s t r u m e n t o d e emancipação: • a n a t u r e z a e a e s p e c i f i c i d a d e d o t r a b a l h o d a e s c o l a , e n f a t i z a n d o a keleção e organização d o s conteúdos c o m b a s e n o s a b e r u n i v e r s a l (clássico/erudito), o m o v i m e n t o d e c o n t i n u i d a d e ( c o m a q u i l o q u e o a l u n o já s a b e ) e r u p t u r a ( q u a n d o o p r o f e s s o r a p r e s e n t a , i n t r o d u z n o - v o s c o n h e c i m e n t o s ) e a discussão s o b r e a s práticas diárias,, ( o q u e / c o m o / p a r a q u e f a z e r , a f i m d e g a r a n t i r a transformação a p a r t i r d a educação e s c o l a r ) ; • a competência técnico-pedagógica d o p r o f e s s o r p a r a s e l e c i o - n a r o s conteúdos e o s p r o c e d i m e n t o s d e e n s i n o e o c o m p r o m i s s o político c o m o s p r e s s u p o s t o s e a s f i n a l i d a d e s d e emancipação; • o l u g a r d o p r o f e s s o r c o m o c o o r d e n a d o r d a ação e d u c a t i v a e o., t r a b a l h o c o l e t i v o ; • a compreensão d a e s c o l a c o m o u m loca l / éc r n e s m o t e m p o , c o n s e r v a d o r e revolucionário q u e d i f u n d e a c u l t u r a , q u e é a o m e s m o t e m p o fictícia e v e r d a d e i r a . A s práticas pedagógicas imprescindíveis a u m a educação e s c o - l a r emancipatória, e n f o c a d a s p o r G i r o u x ( 1 9 8 6 ) , a c r e s c e n t a m a s - p e c t o s i m p o r t a n t e s a r e s p e i t o d a n a t u r e z a a t i v a d a participação d d ? a l u n o s e d o s p r o f e s s o r e s n o espaço d a educação e s c o l a r . P r o p o n d o o p r o f e s s o r c o m o m e d i a d o r e n t r e os a l u n o s e o c o n h e c i m e n t o e o c o n h e c i m e n t o c o m o mediação e n t r e os q u e a p r e n d e m , o a u t o r a n u n - c i a q u e a s relações e m s a l a d e a u l a d e v e m g a r a n t i r a a p r e n d i z a g e m ' Para aprofiiiKlar essa discussão, ler Manacorda (1989). E L B N I T A ni- Rícic T A N A M A C H I E M A R I S A E U G Ê N I A M E L I L L O M E I R A I ; d o p e n s a m e n t o crítico. I ^ r o f e s s o r e s e a l u n o s d e v e m i r além d o r a c i - ocínio f r a g m e n t a d o , b i i s j c a n d o a o r i g e i n d o c o n h e c i m e n t o p a r a p e r - m i t i r a a u t o r i a d o s próprios a t o s . D e v e m a p r e n d e r p o r q u e c e r t o s v a - l o r e s são imprescindíveis à v i d a h u m a n a , i n d i g n a n d o - s e d i a n t e d a s forças c o n t r a r i a s à q u a l i d a d e d a existência h u m a n a , d e s p e r t a n d o paixão e o t i m i s m o e m relação às p o s s i b i l i d a d e s de„um m u n d o m e - l h o r . C o n f o r m e S u c h o d o l s k i ( 1 9 8 4 ) , o p r o c e s s o d e formação g e r a l e e s p e c i f i c a d o s indivíduos d e v e levá-los a r e s p o n s a b i l i z a r - s e p e l a t r a n s - formarão d a r e a l i d a d e sociohistórica a t u a l . A i n d a discutiiído o espaço específico - e possível n a s c i r c u n s - tâncias a t u a i s - d a e s c o l a n o p r o c e s s o d e transformação d a s o c i e d a - d e , P u c c i ( 1 9 9 5 ) s i n a l i z a n a direção d a construção d e u m a t e o r i a c o m p r o m e t i d a c o m a transformação h u m a n a e s o c i a l , d e s t a c a n d o : • a educação d a s consciências , p a r a q u e o s indivíduos p o s s a m tomar 'd is tânc ia d o i T t a t e r i a l a s e r i n t e r p r e t a d o , a o m e s m o t e m p o a p r e e n d e n d o n o h i a t o e n t r e u m p r e s e n t e e u i n f u t u r o r a d i c a l m e n t e d i f e r e n t e s , a s contradições a s e r e m s u p e r a d a s p o r ação i n d i v i d u a l e s o c i a l ; • a n e c e s s i d a d e d e r o m p e r c o m a autoconfiança e a a u t o - s a t i s - fação d o s e n s o c o m u m p a r a r e s i s t i r / s u p e r a r o e s t a d o e s t a b e l e c i d o d a s c o i s a s , i n d i g n a n d o - s e c o m a r e a l i d a d e ; • o r e s t a b e l e c i m e n t o d a s condições d e a u t o n o m i a , l i b e r d a d e e consciência d o s indis'íduos, t r a b a l h a n d o c o m o c o n h e c i m e n t o n e c e s - sário a o r o m p i m e n t o d a consciência d o m e s t i c a d a p e l a v i a d a f o r m a - ção c u l t u r a l ; • a importância d a conscientização d o s m e c a n i s m o s s u b j e t i v o s d a dominação e d o s m o t i v o s q u e l e v a m a e l a , p a r a q u e a submissão se t o r n e insuportável e o d e s e j o d e v i v e r m e l h o r t o m e c o n t a d o s indivíduos. N e s t e coníexlo . c o n s i d e r a m o s j u n t a m e n t e c o m Sève ( 1 9 7 9 ) , D i u i r i e ( 1 9 9 . ^ ) e V i g o t s k i ( 1 9 4 6 ) q u e c a b e à P s i c o l o g i a o f e r e c e r s u b - sídios p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a concepção científica d o indiví- d u o , e n t e n d i d o c o m o síntese d a história s o c i a l d a h u m a n i d a d e , d e c u j o d e s e n v o l v i m e n t o d e v e c o n s c i e n t e m e n t e p a r t i c i p a r p a r a a s s e g u - A A T U A Ç . Ã O no P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O D O P E N S A M E N T O . , 2 3 r a r s u a emanc ipação . T r a t a - s e d e t o m a r c o m o t a r e f a l ambém d a P s i c o l o g i a o e s t a b e l e c i m e n t o d e mediações e n t r e o d e s e n v o l v i m e n t o histórico-social d a h u m a n i d a d e e a v i d a p a r t i c u l a r d o s indivíduos. E s e n o m o m e n t o a t u a l a s relações e n t r e o s h o m e n s têm f a v o r e - c i d o a alienação, d e v e - s e r e s s a l t a r q u e e s t a s mediações teóricas não p od e m a p e n a s e x p l i c a r c o m o e p o r q u e o s indivíduos a g e m o u são d e u m a o u d e o u t r a m a n e i r a , m a s deverão também, b u s c a r r e s p o n d e r c o m o e p o r q u e o s indivíduos p o d e m v i r a a g i r ou' ío- ' iarem-se s e r e s e m a n c i p a d o s . A concepção d e P s i c o l o g i a d e V i g o t . s k i f ' ( 1 9 9 6 , 1 9 9 8 , 2 0 0 0 , 2 0 0 1 ) e n f r e n t a e s s e d e s a f i o , i n a r c a d a p o r princípios q u e c a r a c t e r i z a m a elaboração d e e s t u d o s d a P s i c o l o g i a , d e s e n v o l v i d o s a p a r t i r d o M a - t e r i a l i s m o Histórico Dialético. E n t e n d e n d o - a c o m o ciência q u e s e propõe a e x p l i c a r c o i n o a p a r - t i r d o m u n d o o b j e t i v o ( q u e é histórica e s o c i a l m e n t e d e t e n n i n a d o ) s e constrói o m u n d o s u b j e t i v o d o indivíduo, V i g o t s k i e o s d e m a i s a u t o r e s c i t a d o s a c i m a e x p l i c i t a m t a n t o a concepção filosófico-metodológica q u e e m b a s a a s análises d a P s i c o l o g i a , q u a n t o o s p r o c e d i m e n t o s e a s funções d e t a l c o n h e c i m e n t o ; não r e d u z e m " o p e n s a m e n t o e á ação h u m a n a a determinações d o p s i q u i s m o i n d i v i d u a l " , não p a r t e m , p o r - t a n t o , " d e u m erróneo p r i m a d o ontológico d o indivíduo", m a s d a s r e l a - , > ções s o c i a i s p a r a c h e g a r à " b i o g r a f i a " d o indivíduo e r e t o r n a r a o s o c i - a l ; não r e d u z e m o c o n c e i t o d e indivíduo à descrição d a s característi- c a s d e indivíduos e m g e r a l (indivíduos empíricos)^. O p r o j e t o p r i n c i p a l d e V i g o t s k i ( 1 9 9 6 ) c o n s t i t u i u - s e n o e . s t u d o d o s p r o c e s s o s d e transformação d o , d e s e n v o l v i m e n t o h u m a n o e m '' Aqui rizemos um recoile n | intenor da Psicologia Soíiéiica, para siluar Í.L^ conuibuições de Vigotski, que estudou pi|nf:ipalmente aqueles temas que nos peimitem aproximar a Psicologia da Educação. Elvire outros, poderíamos ainda buscar as coiítribuições de Alexander Romanovich liuria e de Alexei Nicolaevich Leontiev e de outros representantes da Psicologia Soviética, tais coiro Zinchenko. Petroviski, Davidov, Andréeva, conlorme indicação de Marta Shuare (1990). ' Para analise dos princípios que caracterizam os estudos da Psicologia, desenvolvidos a partir do Materialismo Histórico Dialético, consultar as fontes utilizadas para as citações, alérii dos textos de Lucien Sève - Marxismo e a Teoria da Personalidade (1979) e do texto de Newton Duarte - A Individualidade para-si (199^.'. „ 24 E L E N I T A ni; Rício T A N M I A C H I E M A R I S A E D G E N I A M E L I L L O M E I R A s u a d imensão filogenética, histórico-social e ontongenética, b u s c a n - d o c h e g a r até à dimensão micro-genética - formação e m a n i f e s t a - ção d e d e t e r m i n a d o p r o c e s s o psicológico. P r i o r i z o u a s funções p s i - cológicas s u p e r i o r e s - c o n t r o l e c o n s c i e n t e d o c o m p o i t a m e n t o / a t e n - ção/pensamento a b s t r a t o / c a p a c i d a d e d e p l a n e j a m e n t o , a s mudanças q u a l i t a t i v a s d o c o m p o r t a m e n t o , a educação e m g e j r a l e e s c o l a r e o s e u p a p e l n o d e s e n v o l v i m e n t o . A f i n a l i d a d e d e s e u t r a b a l h o e r a r e d e f i n i r o método d e compreensão d o fenómeno h u m a n o , p a r a d e s - c o b r i r o m e i o p e l o q u a l a n a t u r e z a s o c i a l s e t o r n a a psicológica d o f indivíduos. P a r a t a n t o , d e s t a c a d o cérebro c o m o órgão m a t e r i a l d a a t i v i d a d e m e n t a l , q u e também s e a d a p t a às transformações n o m e i o físico e s o c i a l ; o p r o c e s s o d e | internalização q u e p e r m i t e a apropriação d e c o n c e i t o s , v a l o r e s e s i g n i f i c a d o s , a p a r t i r d a a t i v i d a d e c o g n i t i v a e d a consciência e m relação à a t i v i d a d e e x t e r n a ; o c o n c e i t o d e mediação, possível p o r m e i o d o s s i s t e m a s simbólicos q u e r e p r e s e n t a m á r e a l i - d a d e ( i n s t r u m e n t o s e l i n g u a g e m , q u e r e g u l a m a s ações . s o b r e J D S o b - j e t o s e s o b r e o p s i q u i s r l i o r e s p e c t i v a m e n t e ) . C o n c l u i q u e o s p r o c e s - s o s d e f u n c i o n a m e n t o ' m e n t a l d o h o m e m são f o r n e c i d o s p e l a c u l t u r a ( n o p l a n o social-interp^icológico), p o r m e i o d e i n s t r u m e n t o s psicoló- g i c o s são i n t e m a l i z a d o s ( m o v i m e n t o intrapsicológico), p r o d u z i n d o o m o v i m e n t o d e i nd iv iduação ( q u e é s i n g u l a r , m a s s o c i a l m e n t e construído). E s t u d a n d o p r i n c i p a l m e n t e a relação p e n s a m e n t o / l i n g u a g e m , a relação a p r e n d i z a g e m / d e s e n v o l v i m e n t o , a consciência e a s emoções, o a u t o r s u p e r a a s concepções i n a t i s t a s , a m b i e n t a l i s t a s e i n t e r a c i o n i s t a s q u e reforçam a i d e i a d e d e t e r m i n i s m o prévio ( i n a t o o u a d q u i r i d o ) , d e f e n d e n d o a p e r s p e c t i v a sociohistórica o u histórico-cultural p a r a e x p l i c a r t a i s t e m a s r e l a t i v o s a o d e s e n v o l v i m e n t o h u m a n o . T o m a o p e n s a m e n t o e a l i n g u a g e m c o m o p r o c e s s o s d e o r i g e m biopsicológicadiferentes e d e s e n v o l v i m e n t o i n d e p e n d e n t e , m a s q u e s e r e l a c i o n a m p a r a p e r m i t i r o f u n c i o n a m e n t o psicológico s u p e r i o r . A l i n g u a g e m , i m p u l s i o n a d a p e l a n e c e s s i d a d e d e comunicação , e x - p r e s s a o p e n s a m e n t o e a g e c o m o o r g a n i z a d o r a d o m e s m o e n o A A T U A Ç Â O no P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S À O no P E N S A M E N T O 25 p r o c e s s o d e internalização, m e d e i a a ação d o s indivíduos. P o r t a n - t o , p a r a o a u t o r , a comunicação é f a t o r d e d e s e n v o l v i m e n t o . D e v e s e r c l a r a , p r e c i s a , p r o v o c a r dúvidas e o d e s e j o d e i n i c i a r n o v o s p r o c e s s o s c o n s t r u t i v o s . N o q u e s e r e f e r e à relação a p r e n d i z a g e m / d e s e n v o l v i m e n t o , e x - p l i c a q u e a í ^ rend izagem ( e s c o l a r e e x t r a - e s c o l a r ) p o s s i b i l i t a e m o - v i m e n t a o p r o c e s s o d e d e s e n v o l v i m e n t o e q u e e l e é dinâmico (não g r a d a t i v o , n e m d e evolução p r o g r e s s i v a o u d e acumulação.quant i - t a t i v a , c o m o n o c a s o ' | l a s o u t r a s concepçôek), n o q u a l estágios d e r e l a t i v a e s t a b i l i d a d e . s u c e d e m períodos d e mudanças r a d i c a i s , c o m ênfase n o s m o m e n t o s d e c r i s e . D e s a c o r d o c o m a p e r s p e c t i v a sociohistórica, o d e s e n v o l v i m e n t o o c o r r e n o nível r e a l ( a q u i l o q u e o indivíduo já é c a p a z d e f a z e r só) e p o r m e i o d a Z o n a d e D e s e n v o l - " * v i m e n t o Próximo - o b t i d a p e l a diferença e n t r e o q u e é c a p a z d e f a z e r só e a q u i l o q u e f a z c o m a j u d a e q u e e x p l i c a a p o s s i b i l i d a d e d e n o v a s a p r e n d i z a g e n s . N e s s e c a s o , a educação e s c o l a r d e v e p r o d u z i r d e s e n v o l v i - m e n t o - q u e s e g u e a a p r e n d i z a g e m e c r i a a Z o n a d e D e s e n v o l v i - m e n t o P róx imo. O e n s i n o d e v e e s t a r v o l t a d o p a r a n o v o s c o n h e c i - m e nt o s . E a P s i c o l o g i a d e v e e s t u d a r c o m o o s indivíduos e l a b o r a m c o n c e i t o s , e n f a t i z a n d o a s es t ra tégias , o s e r r o s , o p r o c e s s o d e ge- .- i nera l ização. A t e o r i a d e V i g o t s k i l e m b r a a i n d a q u e a formação d a consciên- c i a i n d i v i d u a l e n v o l v e a s relações e n t r e p e n s a m e n t o / l i n g u a g e m , d e - s e n v o l v i m e n t o / a p r e n d i z a g e m , o s i g n i f i c a d o das-^réf-iias e o s a f e t o s e emoções q u e o f e r e c e m a s condições p a r a s u a elaboração. D e s s e m o d o , p a r a o a u t o r , o p e n s a m e n t o t e m o r i g e m n a e s f e r a m o t i v a c i o n a l ( d e s e j o s , n e c e s s i d a d e s , i n t e r e s s e s , a f e t o s . . . ) q u e e x p l i c a m o porquê d e s u a existência. O s a s p e c t o s d a t e o r i a d o a u t o r a q u i r e s s a l t a d o s p e r m i t e m e x p l i c i t a r espaços m u i t o b e m d e l i m i t a d o s p a r a a P s i c o l o g i a e p a r a a Educação, n o c o n t e x t o d a constituição histórico-social d o s indivídu- o s . E m a m b o s o s c a s o s , a f i n a l i d a d e s e r i a f a v o r e c e r o s p r o c e s s o s d e humanização e a reapropriação d a c a p a c i d a d e d e p e n . s a m e n t o crítico. I ! 2 6 E L F N T T A ni: RIcio T A N A M A C H I r M V H I S A E U C È N I A M E L I L L O M E D Í A N o q u e se r e f e r e à educação, e s t e o b j e t i v o c o n c r e t i z a - s e p o r m e i o d a valorização d o p a p e l d a e s c o l a p a r a t r a b a l h a r c o m o q u e a i n d a não está f o r m a d o n o a l u n o ( a d i a n t a n d o - s e a o s e u d e s e n v o l v i m e n t o ) ^ . c o m o c o n t r o l e d a s a t i v i d a d e s . - s e m p r e p r i v i l e g i a n d o a a u t o n o m i a , a c r i a t i v i d a d e , a auiomotivação e a diferenciação. A i n d a , a ênfase n o p a p e l d o ] 5 r o - f e s s o r c o m o m e d i a d o r n a dinâmica d a s relações úpterpessoaís e n a relação d a criança c o m o s o b j e t o s d o c o n h e c i m e n t o , r e s s a l t a n d o u i n l u g a r i m p o r t a n t e p a r a a imitação e p a r a o b i i n q u e d o . E m relação a o espaço d a P s i c o l o g i a , c a b e u m p o s i c i o n a m e n t o d i a n t e d a s f i n a l i d a d e s s o c i a i s d a Educação e d a própria P s i c o l o g i a c o m o ciência, s e m p r e p a q t a d o n a explicitação e c o n h e c i m e n t o d o s p r e s s u p o s t o s teórico-filosóficos e metodológicos q u e f u n d a m e n t a m s u a ação e reflexão; a redefinição d o s e u o b j e t o d e e s t u d o , e n f o c a n d o o m o d o c o m o a a t i v i d a d e d o s a l u n o s é d e t e r m i n a d a p e l a Educação e a d e s c o b e r t a d a s l e i s psicológicas q u e r e g e m e s s e p r o c e s s o . C a b e , a i n d i i , a consideração d o s d e t e r m i n a n t e s s o c i a i s e d o s a s p e c t o s s u b - j e t i v o s i n e r e n t e s à organização e s c o l a r e à definição d o s p r o b l e m a s d e e n s i n o - a p r e n d i z a g e m , v i s a n d o a transformação d o t r a b a l h o d a e s c o l a . A atuação dò psicólogo d e v e v i s a r u m a m u l t i p l i c i d a d e d e ações, u m a v e z q u e í\e p r o f i s s i o n a l está n a s f i n a l i d a d e s a s e r e m a t i n g i d a s p o r r e c u r s o s teóricos e práticas d i f e r e n c i a d a s ; a p e s q u i s a não p o d e s e const i tu írem m e r a investigação científica, d e v e p r o d u z i r e f e i t o s , e p e r m i t i r a participação d e t o d o s n o p r o c e s s o d e transformação d o s r e s u l t a d o s e m ações c o n c r e t a s p a r a t r a n s f o r m a r a r e a l i d a d e . P o d e m o s então c o n c l u i r q u e o r e f e r e n c i a l a q u i a p r e s e n t a d o p e r - m i t e o r e c o n h e c i m e n t . o d e l u g a r e s específicos n o i n t e r i o r d o p r o c e s - s o d e humanização d o s indivíduos, à F i l o s o f i a c a b e n d o a s f i n a l i d a d e s ( p o r q u e e p a r a q u e t a l p r o c e s s o ) ; à P s i c o l o g i a , a explicação d e c o m o a a p r e n d i z a g e m e o d e s e n v o l v i m e n t o o c o r r e m e à Educação E . s c o l a r , a efetivação d a educação/aprendizagem p o r m e i o d e r e c u r s o s p e d a - gógicos c o n c r e t a m e n t e o r g a n i z a d o s p e l o p r o f e s s o r . \ S e e s t a m o s c o n s i d e r a n d o q u e a Educação é o p r i n c i p a l p i j o - c e s s o p o r m e i o d o q u a l o s indivíduos s e o b j e t i v a m c o m o hdmanós , A A T U A Ç Ã O ni> P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O no P E N S A M E N T O . , 27 a p r o p r i a n d o - s e d o s b e n s p r o d u z i d o s p e l o c o n j u n t o d o s h o m e n s . Q u e a P s i c o l o g i a é a c iência q u e s e propõe a e x p l i c a r c o m o a p a r t i r d o m u n d o o b j e t i v o s e constrói o m u n d o s u b j e t i v o d q indiví- d u o , então o s p r o c e s s o s d e subje t ivação/obje t ivação d o m u n d o s o c i a l p e l o s indivíduos são o s e u o b j e t o d e ' | e s t u d o . E a P s i c o l o g i a não p o d e d e s c o n s i d e r a r a d imensão e d u c a t i v a e m q u a l q u e r d e s u a s áreas d e es tudo/a tuação/ formação . A P s i c o l o g i a E s c o l a r não p o d e s e r c o m p r e e n d i d a c o m o e s p e c i a l i d a d e n a fonnação d o [ p s i - có logo, e m b o r a t e n h a e s p e c i f i c i d a d e s . N e c e s s a r i a m e n t e , há q u e s e r e v e r a P s i c o l o g i a n a Educação , a t r i b u i n d o - l h e u m n o v o s e n t i - d o , a lém d e u i n o u t r o l u g a r a o ps icó logo. • ' ^ • • 2. A ATUAÇÂO DO PSICÓLOGO JUNTO A DEMANDA DE QuEDíA ESCOLAR S i t u a m o s o psicólogo c o m o m e d i a d o r n o p r o c e s s o d e e l a b o r a - ção d a s condições necessárias p a r a a superação d a q u e i x a e s c o l a r , u m a d e m a n d a f r e q u e n t e m e n t e p r e s e n t e e m n o s s o t r a b a l h o . P a r a t a n t o , d e f e n d e m o s a a p r e n d i z a g e m d o s c o n c e i t o s c o t i d i a - n o s e científicos c o m o a a t i v i d a d e p r i n c i p a l d a criança p a r a g a r a n t i r o s e u p r o c e s s o d e humanização, u m a v e z q u e e l a p o s s i b i l i t a e m o v i - m e n t a o p r o c e s s o d e d e s e n v o l v i m e n t o d o p e n s a m e n t o , t e n d o a l i n - g u a g e m , a consciência e a s emoções c o m o m e d i a d o r a s d e S t a ação. A s s i m , p o d e m o s t o m a r c o m o o b j e t o d e estudo/intervenção d a P s i c o - l o g i a n a Educação, o m o d o c o m o e s t a a t i v i d a d e d a criança é d e t e r - m i n a d a p e l a Educação e m g e r a l e / o u e s c o l a r , além d a d e s c o b e r t a d a s l e i s psicológicas q u e r e g e m e s t e p r o c e s s o . N o q u e c o m p e t e à ação d o psicólogo, p r o p o m o s a descrição e análise d a relação e n t r e o p r o c e s s o d e produção d a q u e i x a e s c o l a r e o s processô'S d e subjetivação/obj^etij/ação d o s indivíduos n e l e e n v o l - v i d o s , c o m o u m a mediação nec3ssá,ria à superação d a s histórias d e f r a c a s s o e s c o l a r , t • " \ ' : 2 S E L E N I T A D E Rfcio T A N A N I A C E D E M A R I S A E U G Í N I A M E L I L L O M E I R A Herbert''^ tinha dois anos de idade quando, em con- dições precárias de saúde e financeiras de sua família, , foi levado por sua madrinha para morar na casa dela. O marido da madrinha e as filhas não queriam a ado- ção, mas esta foi feita á revelia de todos, inclusive dos pais biológicos^ Restabelecido, todas as vontades satisfeitas eouvin- do desde as primeiras artes e desobediências que não poderia ser diferente mesmo, afinal seu futuro é ser um catador de papel como o pai biológico, chegou a hora de ir para a escola... a mesma na qual também estudam seus irmãos biológicos. A mãe adotiva cipressa-se em contar sua história, para a direção/coordenação e professores da escola. Trata- se de uma criança que inspira cuidados... A últitna-birrà, que ele fez foi qucuido estava em consulta médica de rotina. O médico, amigo da família, recomendou que consultassem um neurologista porc/ue o menino é muito nervoso. A ele foi prescrito calmante e antidepressivo que o fazem oscilar entre a apatia total e a euforia, de- pendendo do tnedicamento tomado (dortne tarde, não tem sono na hora em que todos donnem; na escola fica'pros- trado ou bate, briga, não para quieto...). Logo ao fim do primeiro cuio, a escota que já fuivia conversado senfanahnente com a mãe adotiva. faz o en- caminhamento da "queixa" para o Centro de Psicolo- gia, para a Psicologia Escolar Nesse mom.ento, Herbert encontra-se com 8 cmos, é agressivo, desobediente, não tem concentração na seda de ' As análises teórico-práticas da atuação do psicólogo serão acompanhadas, no decorrer do texto, de trechos retirados do relatório de um trabalho desenvolvido em 2001 e 2002 pelas estagiárias Aline Luzia Pavan e Célia Regina da Silva do curso de graduação em Psicologia da UNESP-Bauru, respectivamente e supervisionado por Elenita de Rício Tanamaclii. Para evitar identificação, o nome do cliente foi substituído. A A T U A Ç Â O no P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S À O no P E N S A M E N T O . 29 aula e apesar de copiar muito bem quando quer, não sabe ler nada. Só vai pas.mr de ano devido à progressão conti- nuada..., afirma o encaminhamento feito pela escola. E n t e n d e m o s a " q u e i x a " c o m o u m a síntese d e miáitiplas d e - te rminações - re lações f a m i l i a r e s , g r u p o s d e a m i g o s , c o n t e x t o s o c i a l e e s c o l a r , p o r t a n t o , c o n s i d e r a m o s q u e a superação d a s c o n - dições n a s q u a i s a " q u e i x a " é a p r e s e n t a d a d e p e n d e d a ação c o m - p r o m e t i d a e c o n s c i e n t e d e t o d o s a q u e l e s c o m e l a e n v o l v i d o l , m e d i a d a p e l o ps icó logo . A; escola diz que o ideal seria Herbert ir para uma classe especial, afinal ele tem "problemas" porque é adotivo.médico confifmii, receitando medicamentos consideradoÁiad^^quados para o caso. A mãe cu{otiva diz que sem (^s remédios não dá para "agiientá-lo", ele bate nela..., | o 5 colegas da escola, não obedece, vai ; para a diretofia, não faz o que a professora pede... As irmãs adotivas,/dizem que é muito mimo, que ele tem tudo o que elas não tiveram. Junto com o pai adotivo elas acham que ele deve voltar a morar com os pais biológi- ."• COS. A mãe adotiva e as professoras acham que tudo fica pior quando Herbert encontra .com os irmãos e os pais biológicos... Quando ele vai brincar na casa dos amigos, ele briga e tem. de voltar para casa. Os pais dos amigos não querem mais que os filhos brinquem com Herbert. Na escola, quando tem. passeios, os pais já per- guntam se o Herbert vai... E s c o l a , p r o f e s s o r e s , p a i s , a m i g o s , a criança e o próprio psicólo- g o p r e c i s a m c o m p r e e n d e r q u e a " q u e i x a " é a p e n a s a aparência, o nível i m e d i a t o q u e s e c a r a c t e r i z a c o m o u m a r e p i ' e vè'dtáção i s e n t a d e análise, c a b e n d o a o psicólogo m e d i a r a compreensão d a essência d o q u e f o i a p r e s e n t a d o c o m o " q u e i x a " , p o r i n e i o d a investigação/expli- cação/ação c o n j u n t a . • kK 30 E L E N I T A DE Rfcio T A N A M A C H I E M A R I S A E U G Ê N I A M E L I L L O M E I R A A professora disse que Herlyert tem problemas para aprender porque viveu em precárias condições até 2 anos de vida. Noutro dia. disse que tem problema porque é adotado..., é traumatizado por se sentir abandonado pelos pais biológicos e é mitnado pela mãe adotiva que tenta conq)ensar as carências... v . . v; P e r g u n t a m o s s o b r e o s c o n t e i l d o s e s c o l a r e s , p r o c u r a m o ? e n t e n - d e r c o m o são t r a b a l h a d o s n a s a l a d e a u l a e i n v e s t i g a m o s c o m a e s - c o l a ( e m c o n v e r s a C o m p r o f e s s o r a / c o o r d e n a d o r a / d i r e t o r a e . e m o b - servações n a e s c o l a ) o q u e a c o n t e c e q u a n d o a p r o f e s s o r a e n s i n a , o q u e e n s i n a , q u a n d o o s a l u n o s a p r e n d e m , q u a n d o não a p r e n d e m . O q u e o c o r r e q u e às v e z e s não dá v o n t a d e d e e n s i n a r , d e a p r e n d e r ? O q u e a c o n t e c e q u a n d o o s a l u n o s f a z e m u m a p a r t e d o q u e é s o l i c i t a d o ? Q u a n d o o a l u n o é e n c a m i n h a d o a o médico, a o psicólogo?... O q u e o c o r r e q u a n d o o j j r o f e s s o r p e d e a j u d a ? . . . j A mãe adotiva disse que a professora não sabe ensi- nar, que a escola chama os pais toda semana para co- brar que façam aquilo que é trabalho da escola... que a professora deveria ser mais enérgica. Em outro momen- to disse que coèra demais... Ela também acha que o me- nino possui, problemas por ser adotivo. "Ele tem proble- ma de cabeça, por isso não aprende", disse em um dos encontros com a psicóloga... As irmãs 'adotivas e o pai culpam a mãe adotiva por dar atenção demais ao menino. O pai já decretou, ele vai ser como os pais biológicos, não tem jeito. F i z e m o s , c o m a família a d o t i v a , u m a l i s t a d o c jue H e r b e r t f a z , p a r a de.ítacar q u e a família só o b s e r v a a q u i l o q u e c o n s i d e r a e i r a d o , n e g a t i v o . E .se p e n s a m o s n o s a f a z e r e s domésticos já r e a l i z a d o s , n a s t a r e f a s e s c o - l a r e s q u a n d o e l e r e a l i z a , n o s c a r i n h o s f e i t o s a t o d o s . . . ? O q u e f a z c o m q u e a mãe a d o t i v a o t r a t e d e m o d o d i f e r e n t e d o q u e o f a z c o m a s d e m a i s f i l h a s ? O q u e fíiz o p a i a d o t i v o a c h a r q u e .será i g u a l a o s p a i s biológicos? I A A T U A Ç Â O no P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S À O no P E N S A M E N T O 31 Herbert não quer falar, nem vivenciar qualquer situ- ação que se assemelhe à escola. Qucmdo os temas refe- rem-se a outras situações de seu dia-a-dui, ele esbofeteia os .-bonecos, .xinga a psicóloga, diz que ela não sabe de nada e que não vai fazer nada porque está com sono. Diz qWe não sabe ler kèmi escrever Outras vezes diz que vai à escolh., para aprender.. ....-^ A psicóloga insiste para que ele faça um desenho, corite uma história. Leia ou. ouça a leitura de um livri- nho, escreva o seu nome oíi alguma letra que conhece, brinque de escolinha. Embora irritado com esta condição insuportável que todos (pais, escola, a psicóloga e ele próprio, que não consegue ver sua realidade de outro modo, já que é im- pedido de vivenciá-la...) insistem como sendo a única possibilidade... (se conhecessem, outras formas de ané- fise talvez tivessem elementos para romper com essas já cristaliz.adas)... Herbert vai à aula, acredita que é lá que irá aprender, quando a professora passa atividades iguais as dos colegas, ele se empenha e participa ao menos. Quando a psicóloga diz que ele não precisa fay zer a atividade, mas que ela vai realizá-la... e joga '^cm os pais adotivos, ou lê e escreve... \-':é'fÉr.tm na atividade e mostra tudo o que já é capaz de fazer.. Herbert adora encontrar os irmãos biológicos. Ele quer ir na casa deles... ver os pais biológicos... A escolae os pais adotivos não querem que isso ocorra.,., mas não falam sobre isso... A mãe adotiva tem medo de perdê- lo... A professora acha que desconcentra... Os irmãos adotivos e o pai acham que tem de ir e ficar.. A psicólo- ga não sabe a hora exata de suas intervenções. Como contar esta história a todos? Esquece-se que a história poderia ser elaborada por todos, desde que cada um deixasse de entender que esta é tarefa exclusiva dele... E L E N I T A D E R Í C I O T A N . - U V I A C E U E ^ L ^ K I S A E U C C N I A M E L I L L O M E I U A Herbert, sem conhecer estas expectativas e análisvs, só quer ficar com todos, quer desfrutar da riqueza d'e pos- sibilidades qiie sua condição de vida lhe permite. Impe- dido, irrita-se... A professora desiste, a mãe está cansa- da e não sabe mais o que fazer O pai e as irmãs adoti- vas acham que deve voltar para a famílfa biológica. Um dia a mãe adotiva viajou, ele quis bater numa dasfrmãs adotivas, ela ficou brava e ele fugiu e foi parar ná casa da fanulia biológica... A avaliação e a intervenção não p o d e m s e p a u t a r p o r métodos q u e v i s e m e n c o n t r a r n o s indivíduos a explicação p a r a a " q u e i x a " . Não .se t r a t a d e d e s f o c a r a criança, p a r a c u l p a b i l i z a r a família e / o u a e s c o l a . M u d a m o s a p e r g u n t a , e m v e z d e n o s d i r i g i r m o s a p e s s o a s o u situações i s o l a d a s - o q u e t e m e f e i t o p a r a l i s a d o r - b u s c a m o s a s circunstâncias, p o r q u e k s t a s p o d e m s e r t r a n s f o r m a d a s . S e c o n s i d e r a m o s q u e a s u b j e t i v i d a d e só s e c o n s t i t u i a p a r t i r d a s condições c o n c r e t a s d e v i d a d o s indivíduos, é a h i s t o r i c i d a d e d o s f a t o s a p r e s e n t a d o s c o m o " q u e i x a " q u e deverá .ser i n v e s t i g a d a . T r a - t a - s e d e b u s c a r m o s , c o m t o d o s o s e n v o l v i d o s , a s ações, o s a c o n t e c i - m e n t o s , a s concepções q u e " p r o d u z i r a m " a " q u e i x a " e " m o t i v a r a m " s e u e n c a m i n h a m e n t o , c o n f o r m e n o s i n d i c a M a c h a d o ( 2 0 0 0 ) . A avaliação a q u i a d q u i r e caráter i n v e s t i g a t i v o e não c l a s s i f i - catório, d o q u e concluímos q u e a ba .se d e n o s s a avaliação é o r e s g a t e histórico d a s situações c o n c r e t a s q u e p e r m i t i r a m a existência d a " q u e i - x a " . I d e n t i f i c a r a s p o s s i b i l i d a d e s c o n c r e t a m e n t e e x i s t e n t e s p a r a a superação d e s s a condição, c o n s t i t u i - s e n o d e s a f i o d a intervenção. C o n f o r m e V i g o t S k i ( D u a r t e , 2 0 0 0 , p . 8 7 ) , d e v e m o s : - S a b e r d e s c o b r i r s o b o a s p e c t o e x t e r n o d o p r o c e s s o s e u cimloúdo inlçnio. s u a n a t u r e z a e s u a o r i g e m . T o d a a d i f i c u l - t l a d e (.la anájiso ciciKífica l a t l i c a n o f a t o d a essência d o s o b ) e i o s , isíolé, s i i a aulêiitic:', e v e r d a d e i r a correlação não c o i n c i d i r dirétamente c o m a f o r m a d e s u a s manifestações e x t e r n a s e pòi:. i s s o é p r e c i s o a n a l i s a r o s p r o c e s s o s ; é p r e c i - A A T U A Ç Â O nòfPsicóLoao C O M Ó E X Í > R E S S À O D O P E N S A M E N T O . . . '''^ 3 3 -4 . i ' •; s o d e s c o b r i r por e s s e m e i o a v e r d a d e i r a relação q u e s u b j a z n e s s e s p r o c e s S o s p o r detrás dá f o r m a e x t e r i o r d e s u a s i n a - nifestações. D e s v e l a r e s s a s relações é a missão q u e há d e : ! - c u m p r i r a análi.se. • í - • P a r a d a r c o n t a des . se t r a b a l h o , C o l l a r e s e Moysés ( 1 9 9 7 ) s u g e - r e m q u e o psicólogo d e v e o l h a r não p a r a o q p e a crianç.i não t e m e não s a b e , m a s p a r a o q u e e l a s a b e e g o s t a d e f a z e r . A s s i m c o m o i n d i c a M e i r a ( 2 0 0 0 ) , o p r o f i s s i o n a l d e v e a r t i c u l a r o p r o c e s s o d e a v a - liação/intervenção a p a r t i r d a q u i l o q u e t o d o s a p r e s e n t a m c o m o d a - d o s c o n c r e t o s , j á c o n h e c i d o s , c p m o e n t e n d e m e a g e m n a s situações a p r e s e n t a d a s . * • N e s s e c a s o , c o m a criança o b s e r v a m o s n a s a t i v i d a d e s r e a l i z a - d a s d u r a n t e o s e n c o n t r o s , o s a s p e c t o s q u e estão r e l a c i o n a d o s c o r > i n o s s a investigação, e l e m e n t o s q u e r e v e l a m s e u pc^éncia' d e a p r e n d i - z a g e m q u a n d o c o l o c a d a d i a n t e d e situações-problerrii., d e s a f i o s . C o m a fatnília e a e s c o l a , i n v e s t i g a m o s a s concepções, a s hipóteses s o b r e a " q u e i x a " , o q u e f a z e m p a r a superá-la e q u a i s são s u a s e x p e c t a t i - v a s . A v a l i a m o s e m o b i l i z a m o s , p o r t a n t o , a s objetivações, o s s i g n i f i - c a d o s , o s s e n t i d o s atribuídos o u a s e r e m atribuídos, v i s a n d o p r e p a r a r a apropriação d e n o v a s p o s s i b i l i d a d e s . , A intervenção tem dois eixos principais que não po- dem ser trabalhados em separado. O primeiro eixo refe- re-se à relação desenvolvimento/aprendizagem em Herbert e em todas as pessoas envolvidas, na perspecti- va da constituição das condições de humanização pela via do conhecimento de conteúdos pertencentes tanto 5 * educação escolar, quanto ci Psicologia. O segundo eixo refere-se à elaboração de afetos/emoções como motivos compatíveis com a formação da consciência. Quando a professora desiste de ensinar Herbert, aprendizagem dele em relação a novos conhecimentos, ficci:^lefasada..., Constata-se ausência de mediação da linguagem (verbal e escfith}.:'. Ele não pede, empurra... E L E N I T A m Rfcio T A N A M A C H I E M . \ R I S A E U C É N L A M E L I L L O M E I R A ele "manda" a psicóloga, ou a mãe e o pai escreverem o resultado dos jogos... Ele não utiliza a linguagem como um recurso nqs' relações cotidianas ou mesmo escola- res... As pessoas não conversam com ele, não explicam o que está acontecendo... Ele também não quer escrever o que já sabe, precisa aprender que cj^iem sabe utna parte, com ajuda, poderá saber o todo. Precisa ser de- safiado a ouvir ai explicações, precisa ser cobrado... Necessita entender-se dentro do processo de alfabetiz.a- ção, pode estabelecer uma outra relação com o seu pro- cesso de aprender a ler, escrever, contar.. Pela via do conhecimento, os motivos começam a ser compatíveis com novas possibilidades de aprender.. Um dia a psicóloga deixou o nome dos colegas de Herbert e o dele próprio na lousa da sala de atendimen- to. Qucmdo ele\ ela disse "vou cqjagar aquic P'^'j que será que deixaram a lousa assim?... o que será que] estavam faz.cndo? Me ajude aqui!" Ele diz "olha ó' meu nome aqui! Ta cheio de nome...", e reconheceu mais al- guns nomes. "Herbert, o que você está fazendo?" "Es- tou lendo nomes!" "Lembra quando você dizia que não sabia ler? Li agora?" "Agora eu já sei"... A psicóloga continua... "^uem sabe ler cdguns nomes, pode lêr ou- tros, pode esàrever também. E só ter alguém que ensine; para isto existe a escola, projéssor, ninguém nasqe sa- bendo..." Avc^Uando o dia, pergunta: "o que aconteceu de bom hoje?" Herbert apressa-se...: "descobri que sei ler e que posso escrever" e a psicóloga diz "quem preci- sa saber disso? Vcunos pensar como contar e vamos fo- tograj'ar, desenhai- este tnomento"... No mestno dia, faz uma reunião com a família adotiva, na qual Herbert con- ta tudo o quí\ Depois, as jótos e desenlios vão para a escoíp... Todos precisam entender e analisar o que aconteceu paraincorporar o fato em sua relação A A T U A Ç Â O D O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S À O no P E N S A M E N T O . 35 com Herbert e em outras circunstâncias semelhantes... Ele quer contar tudo isso para a família biológica e pede à psicóloga "você vai comigo?"... , lodos precisam também entender que a adoção não é limite, mas uma condição, assim não pode ser causa da não-aprendizagem, da agressividade, do mesmo modo que o trabcdho do professor, da família e mesmo do psicólogo podem ser condições a serem preserva- das ou superadas. Se tomados como limites, podem imobilizar. Quais são as possibilidades concretas existentes para a superação dessa história que já não é mais somente a histó/ia de Herbert? Mas, a dele em relação à da pro- fessora, dos pais, da psicóloga em formação... Do que efetívamente 'iiãó dá pai-á, 4brir tnão? Herbert j^eçisa por sua descpberta a servido da aprendizageniidè conhecimentos úteis a uma vida, cada •vez mais, auÇônoma e participativa - ele vai fazer 10 anos e só,j.p(Mt sair de casa acompanhado, não pode ver os pais biológicos qucmdo quer não faz as ativida- des escolares como os colegas... A família adotiva precisa reconhecer a legitirriidade da relação de Herbert com a família biológica e que o fato de ter duas famílias enriquece sua história. Ele não precisa escolher uma... Isso deixa todos mais se- guros! Deve ainda entender que a adoção não é cau- sadora de dificuldade para aprender.. Convencer-se de que ele é capaz de aprender., que a escola pode^ deve ensinar.. A escola, de posse daquilo que Herbert já é capaz de fazer, precisa desafiá-lo na direção do qtie ainda não sabe realizar só, solicitando-o, pL'ssíiindn.,t-'!-efcts, co- brando sua realização, avaliando, oferecóndo modelos, apresentando conceitos, ensinando... 3 6 EuNiTA D E RIciq T A N A M A C H I E M A R I S A E U C Í Í N I A M E L I L L O M E U Í A O psicólogo,. como mediador na efetivação de todos esses objetivos, deve superar a condição de "resolvedor de problemas" - que espera a aprovação de Herbert no fim do ano, a reconciliação entre as famílias, enfim fi- nais felizes pára encerrar "o caso", para saber que como as finalidades da Psicologia nãò^-^são as da Edu- cação e nem as das famílias, essa atuação já pode ter se encerrado... O retorno à especificidade da Psicologia, por meio da intervenção, constitui-se em mais uma etapa de seu trabalho. F a l e m o s , a i n d a , s o b r e a s p r i n c i p a i s estratégias u t i l i z a d a s : • • Temas/situações g e r a d o r e s ' ^ d e p o s s i b i l i d a d e s d e t r a b a l h o : c o n - dições necessárias p a r a p r o v o c a r , d e s a f i a r a s p e s s o a s e n v o l v i d a s , e m b u s c a d a superação d a s condições p o s t a s n o m o m e n t o , pôr m e i o d a " c ] u e i x a " ; g e r a d o r e s , e n f i m , d a a t i v i d a d e p r i n c i p a l d a criança e d a condição d e participação d e p a i s , p r o f e s s o r e s e crianças. y , i • Um dia Herbert entra na sala de atendimcntp e vai em direção a, um carrinho de bombeiros lá esquecido... A psicóloga tnha planejado outro encaminhamento para avaliar o conceito de número, mas sabendo de sua rejei- ção aos conteúdos escolares, substitui a atividade. man- tendo a fincdidade prevista. Arremessou o quebrci-cabe- ça numérico ao chão, anunciando um incêndio^e cha- numdo pelo bombeiro... que chegou p.-)ntamentt. Seus olhos bi-ílhavat}\!... Estava preparada a situação gera- dora de niuilus possibilidades... Descobriu, junto com - !'aiie da furulaiiienlação jeórica utilizada para a organização dessa estratégia foi apropriada do conjunto de elaborações desenvolvidas por Celestin Freinet e Paulo Freire. A A T U A Ç . V O no P S I C Ó I O G O C O M O E X P R E S S Ã O nqPENSAMENTO., Herbert, motivos para aprender a trabalhar com núme- ros; depois puderam contar isto para os pais e para a professora... Cada peça do quebra-cabeça era uma casa destruída em parte pelo fogo, de modo que para reconstruí-la te- ria que utilizá-la adequadamente (conforme as regras do quebra-cabeça, adequadas para o trabalho com con- ceitos numéricos...). Herbert puxou um tapete com os números do quebra- cabeça, colocou-os em sequência e, assim, numerou as casas a serem restaufadas. Disse que as casas ficavam em uma rua... E como a cena montada não podia ficar • . f i / ) ( / sala de atendimento, a psicóloga sugeriu que fosse construída com cartolina, para poder guardar.. A maquete teria de ser completa e Herbert caprichou... fez placas, sinal de trânsito e escreveu "PAE" (pare), tem umkposto e escreveu "POT"... e fez o convite para a reiftauguraçãoida rua, pediu o alfabeto móvel e come- çou a Organj^X^f o conviÍAsX escreveu tudo o que ja sabia com ajuda '^a psicóloga, fez todo o convite. Indagado sobre o que faziam, disse "escrevemos". "Então, já sabe escrever? Vamos fotografar;- registrar O que vamos fa- [ zer?" O menino diz: "vou bontar pro meu pai, minha ,: • mãe e minha professora". "Como?" "Mandando o con- •í vite de reinauguração da rua para eles". • - • > • J o g o s c o l e t i v o s , c o m o estratégias p a r a a compreensão d a s contradições não e x p l i c i t a d a s n a " q u e i x a " o u p a r a evidenciá-las. A psicóloga marcou o encontro de Herbert junto com o de outra criança atendida por sua colega... e plane- ':\ um jogo... . ,-• , ; ; Herbert ensinou o menino a jogar, o menino ganhou o jogo e ele xingou o menino... 5 3 8 El E N I T A P E RíCK) A N A N t A C H l E R A R I S A E uGÉN lA M E L I L L O M E I R A • Dinâmicas q u e p e r m i t a m u l t r a p a s s a r o s l i m i t e s i n d i v i d u a i s c o - l o c a d o s p e l a " q u e i x a " . Em uma dinâmica envolvendo uma volta ao passado, os pcds adotivos contaram as suas histórias de vida para a psicóloga e para o Herbert c ele quis^aber a dele... e depois quis conversar cotn os pais biológicos sobre isso... • L e i t u r a e discussão d e t e x t o s e relatórios e p l a n e j a m e n t o c o n - j u n t o d e a t i v i d a d e s . .4 análise e discussão de utn texto sobre aprendiza- gem/desenvolvimento, ajuda o pai adotivo entender que Herbert não é igual ao pai biológico. "Então, não está tudo definido qinuido nasce?" A leitura conjunta dos relatos dos encontros anterio- res e do planejamento do trabalho, após os primeiros encontros, pe.-mite a Herbert posicionar-se "não preci- sa ir lá na escola, eu não vou mais porque sou burro mesmo! O pai falou que eu vou pu.xar carroça"... O pai e a mãe adotivos não querem marcar reunião coiii a fa- mília biológica: "Pode tirar isso do planejamentç"... Ao ver o relatório do encontro no qual o Herb'ert leu e escreveu, a mãe adotiva disse ao pai: "Eu nãç farei que ele esconde o jogo?"... A psicóloga muda o jeito de escrever., faz novo pla- nejamento... Redige texto para leitura e discussão. Etn outro momento, estavatn todos reunidos, em aten- dimento conjunto, família biológica, Herbert, a psicólo- ga, organizando as etapas do trabalho, até onde.^pode- ria chegar d intervenção, qual o lugar de cada um neste processo! , " | • G r u p o d e crianças p a r a p r i v i l e g i a r a relação q u e e l a s têm c o m o q u e s a b e m , g o s t a n d , q u e r e m f a z e r , e n f a t i z a n d o o s c o n h e c i m e n t o s A A T U A Ç Â O no P S I C Ó L O G O C O M O E X P U E S S . Á O no P E N S A M E N T O . 39 d e c a d a u m n o c o l e t i v o - t o m a d o c o m o o espaço d e manifestação d o s d i f e r e n t e s níveis d e c o n h e c i m e n t o . • : > • ; • ' Cada criança seleciona uma atividade que sabe fa- zer e que os demais não conhecem... planeja com o psicólogo os passos para ensinaros colegas e a cada encontro uma delas coordena com a psicóloga os tra- balhos... Herbert fez a lista de material para ensinar a fazer pipa (escreveu o que já sabia e pediu ajuda em casa, na escola e para a psicóloga...), foram comprar e arrumar o nuiterial, pensou com a psicóloga como ensinar aos colegas. No dia da reunião, ele fez passo a passo, mostrando aos colegas... Olhava o trabalho dc cada um... Um menino não conseguiu fazer, ele dei- xou a sua pipa e ajudou o menino até dar certo, depois voltou para a sua... Depois foram escrever o material para todos guar- 4arem. Herbert põe na lousa... Quando pula letras nas palavras, outro-folega vai lá e completa. A lista fica pron- ta... Na avaliação, todos disseram: "o Herbert ensinou a fatiar certinho... as pipas subiram... ele sabe fazer.." ^ • \i 1 ' • G r u p o d e p a i s : ^arà d i s c u t i r d i f e r e n t e s f o r m a s d e o c u p a r s e u espaço n a educação e s t i o l a r d o f i l h o e p a r a s e p o s i c i o n a r e m e m r e - lação às questões d a e s c o l a , d a P s i c o l o g i a , d a medicalização e o u - t r a s t a n t a s q u e s u r g e m - n o d e c o r r e r d o t r a b a l h o . Eni uma das reuniões mensais, a atividade inicial ' era ler um texto em alemão, para entender como os : ;• • filhos podem sentir-se em situações variadas na es-"^ cola ou em casa... quando exige-se a tarefa pronta, quando se pede para fazer o que já for possível... Na avaliação, um pai concluiu: "quando você sabe que pode fazer o que dá, descobre que já sabe muita 40 E L E N I T A D E RIcio T A N A M A C H I E M A R I S A E I ' O Ê N I A M E L I L L O M E I R A Noutra reunião, a mãe couta que o filho não tomava o remédio que o neurologista passou (ela descobriu que ele jogava no lixh) e concluiu: "ele não podia estar mais calmo por catisa do comprimido (...). Eu não insisti mais para ele tomar". Outro dia, uma mãe disse à mãe dc''-Herbert: "Lá em casa eu falo: venha comer! e ponho o prato. Se não vier na hora, fica sem comer e ele não faz mais isso! Não sei porc/ue tem de ser diferente para o Herbert! Experimen- te fazer as.sítn ". No primeiro encontro, as psicólogas contaram quem é o psicólogo, o que ele faz. •• Uma mãe disse: "naquele que eu ia antes não era assim, aqui é diferente-.^.." Foi possível falar de formas diferentes de atiiar e dè finali- dades para cada luna delas, disciititulo as finalidadfs do trabaliio que fazemos. • G r u p o d e p r o f e s s o r e s e reuniões n a e s c o l a p a r a c o l o c a r o s c o n h e c i m e n t o s d a P s i c o l o g i a a serviço d o t r a b a l h o pedagógico. Em atividade conjunta, a professora de Herbert fa- lou para a psicóloga que "não chama ele na lousa, para ele não passar vergonha..." A psicóloga perguntou: "quem quer vir à lousa?" Herbert Jói o primei rol. "Es- creve aí, Herbert... professora". Ele escreve po.... cha- ma o colega e pede ajuda e escreve corretamente. Todos lêem "professora "... Assim planejam e discutem inúmeras situações. A psi- cóloga prepara texto para explicar a lógica de sua in- tervenção... A professora pede para apresentar em reu- nião. Psicóloga e professora preparam e coordenam a reunião na escola... • V i s i t a s d o m i c i l i a r e s e a o b a i r r o : p a r a i n v e s t i g a r e c o m p r e e n d e r a dinâmica f a m i l i a r e a s relações e n t r e o b a i i T O e a e s c o l a . A A T U A Ç Ã O D O P S I C Ó L O G O C O M O E X P R E S S Ã O D O P E N S A M E N T O . 41 ^ Herbert queria ir à casa da família biológica. A psi- cóloga marca reunião na casa da família adotiva para discutir a visita. A mãe fala: "se for, tenho medo de que não volte"; as irmãs e o pai "é bom que fique";... Herbert fala: "eu só quero passar o dia com eles, eu gosto de vocês". A mãe diz: "ele não sabe o caminho". A psicólo- ga não aceita que a mãe explique, deixando que ele a conduza; chegam certinho. Conversam muito, ele brinca com os irmãos biológi- • cos. Todos falam com minto respeito da família adotiva. Nq volta, muita coisti para contar e analisar! • E v e f i t o s científicjos p a r a e n t e n d e r q u e t o d o s o s p a r t i c i p a n t e s d o t r a b a l h o c o n t r i b u e r r ^ c o m a eIab|)ração d o s a b e r / f a z e r P s i c o l o g i a E s c o l a r . M : •' ' : > ''^ ' 1 . ••••• ' ^ Em um i^piigresso na universidade, para fazer o pai- nel do trabalho desenvolvícti^ junto à demanda de "quei- xa escolar"., tínhamos fotos dos grupos de crianças e de ^ pais. Precisávamos de autorização para a exposição. Levamos o painel para os grupos de pais e crianças. Contamos sobre o evento, para que servia e que sem eles a formação dos psicólogos não se efetiva como jul- gamos que deva ser Uma mãe disse: "anota'aí, você ^esqueceu de contar aquele dia que eu descobri que mi- nha filha tião tinha nascido com problema, mas que se alguém tivesse ensinado antes ela teria aprendido, ago- ra ela sabe". O pai adotivo de Herbert disse: "ele quer ir lá, posso levar?". Na apresentação do painel, lá estava Herbert, o pai adotivo e a estagiária. Quando conieç^nmi a chegar os observadores, Herbert chamou um griip.> de alunos de Psicologia e a supervisora do estágio: "vem cá ver a foto do meu grupo... este aqui sou eu! Sabe por que eu estou aqui?... " E contou a história do trabalho para todos, junío E L E N I T A D E R l c i o ' T A N A M A C H I E M A R I S A E U G Ê N I A M E L I L L O M E I R A com a psicóloga e o pai. Nos detalhes dizia: "Este aqui foi o dia que eu descobri que sabia ler e escrever e agora que não preciso mais ir no CPA, falo com a psicóloga por carta ou por e-mail. quando dá saudade". O e n v o l v i m e n t o d a s p e s s o a s r e l a c i o n a d a s às s i tuações d e escolarização e m questão, c o m p r e e n d e n d o - a s e t r a n s f o r m a n d o - a s , é o r e s u l t a d o g e r a l d a s investigações. O s p r o f e s s o r e s a p r o p r i a m - s e d e p e c u l i a r i d a d e s d e s e u t r a b a l h o e d o s a l u n o s q u e não h a v i a m c o m p r e e n d i d o . i O s p a i s d e s c o b r e m c a p a c i d a d e s e e s p e c i f i c i d a d e s d e .<ieus íjlhos e d e s u a própria relação f a m i l i a r . ' • A s crianças a p r o p r i a m - . s e d e s u a s p o s s i b i l i d a d e s d e ' a p r e n d e r . O psicólogo d e f i n e s e u l u g a r n e s s e p r o c e s s o e o r g a n i z a n o v o s c o - n h e c i m e n t o s s o b r e a P s i c o l o g i a n a Educação, q u a n d o r e t o r n a à t e o r i a . C o n s i d e r a m o s q u e e s t e t r a b a l h o é a expressão c o n c r e t a d o r e f e r e n c i a l a n u n c i a d o , p o i s e n f o c a a s d i f e r e n t e s relações d a s q u a i s a criança p a r t i c i p a , m o b i l i z a t o d o s o s e l e m e n t o s p r e s e n t e s n e s s a s r e l a - ções e põe o psicólogo e m condições d e m e d i a r , j u n t o c o m o p r o f e s - s o r , a construção d o s e n t i d o p e s s o a l e s o c i a l d o p r o c e s s o fde e n s i n a r e d e a p r e n d e r d e t o d o s o s p a r t i c i p a n t e s . 3. A ATUAÇÀÒ DO PSICÓLOGO EM INSTITUIÇÓES DE ENSINO i ' T o m a n d o c o m o f u n d a m e n t o a s c a t e g o r i a s d o p e n s a m e n t o críti- c o e s u a s expressões n o s p r e s s u p o s t o s d a P e d a g o g i a histórico críti- c a e d a P s i c o l o g i a sociohistórica, d e f e n d e m o s q u e o o b j e t o d o psicó- l o g o c m u n i a insiiiuição d c e n s i n o - e s c o l a s d e educação i n f a n t i l , e n s i n o f u i u h i m c n i a l c médio; c r e c h e s ; u n i v e r s i d a d e s ; p r o j e t o s e d u - c a c i o n a i s l i g a d o s a dilereiíies instituições
Compartilhar