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biosseguridade em avicultura controle integrado de doencas 000fyh9f5g002wx5ok0pvo4k3glwvvhl

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BIOSSEGURIDADE EM AVICULTURA: controle integrado de doenças 
 
Luiz Sesti, Méd. Vet., MSc, PhD 
Gerente de Desenvolvimento Técnico 
Multimix Nutrição Animal Ltda 
Campinas, SP, Brasil 
lacs@multimix.com.br 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O que significa controle integrado de doenças na moderna avicultura industrial? 
Inicialmente, se faz necessário entender-se o que significa o termo “integrado”. De 
acordo com Houaiss et al (2001) “integrar” significa, entre outras definições, “ ... 
incluir-se um elemento num conjunto, formando um todo coerente; ... adaptar 
(alguém ou a si mesmo) a um grupo, uma coletividade; ... unir-se formando um todo 
harmonioso; completar-se, complementar-se; ... “. Portanto, podemos certamente 
concluir que um controle integrado de enfermidades significa na verdade um 
conjunto de medidas cientificamente embasadas que visem prevenir a ocorrência de 
doenças em um sistema de produção ou visem controlar/erradicar determinadas 
doenças que já existam ou que consigam entrar no sistema. Estas medidas devem 
estar completamente integradas entre si, e com seus executores, de modo que 
funcionem como um todo perfeitamente integrado. 
 
 
2. CONSCIENTIZAÇÃO 
 
Embora constantemente ignoradas, algumas máximas de nosso dia a dia, velhas 
conhecidas nossas, são portadoras de enorme sabedoria exatamente pela sua 
extrema singelez e profundidade. Algumas delas dizem respeito e podem ser 
utilizadas diretamente com referência à BIOSSEGURIDADE e SAÚDE ANIMAL na 
indústria avícola. São elas: 
 
√√√√ Vale mais a pena (e é sempre muitíssimo mais barato) prevenir do que remediar. 
√√√√ Seguro morreu de velho. 
√√√√ A construção de uma casa de 30m2 ou de um edifício de 100 andares começa 
pela fundação (a não ser que sejam já construídos para cair como certas 
construções [leia-se programas de biosseguridade] realmente o são). 
√√√√ Uma caminhada de 1000 km começa com o primeiro passo. 
√√√√ O maior cego é exatamente aquele que não quer ver. 
 
Já se vão pelo menos duas décadas desde a época na qual a expressão “aldeia 
global” era algo nebuloso e relacionado com filmes de ficção científica. Estamos já, 
e cada vez mais sem passagem de volta, realmente vivendo em uma única 
comunidade mundial. Nesta, o crescimento da população mundial, as conseqüentes 
mudanças no meio-ambiente e as facilidades de fluxo de pessoas, materiais e 
animais fazem com que esteja permanentemente ocorrendo uma enorme mistura 
e/ou troca mundial de hábitos, costumes, idiomas, interesses econômicos e 
principalmente, de doenças de animais e humanos. 
 
Biosseguridade (conceitos e definições são detalhadas no item 4 abaixo) na 
indústria avícola já não é, há muito anos (desde pelo menos 1992; L. Sesti, 
comunicação pessoal) quando ocorreu a primeira apresentação formal do conceito 
“biosseguridade” no Brasil), uma tecnologia que poucas empresas de maior porte 
faziam de maneira parcial. É hoje, algo absolutamente primordial, essencial para a 
sobrevivência de todos os tipos de sistemas de produção e industrialização de aves. 
Por incrível que pareça, infelizmente, muitos empresários e médicos veterinários da 
indústria avícola ainda hoje não se deram conta desta verdade. 
É absolutamente essencial médicos veterinários, produtores, e demais profissionais 
envolvidos em avicultura tenham sempre em mente suas responsabilidades, 
objetivos e comprometimentos com a atividade. 
 
O tremendo crescimento mundial e modernização da indústria avícola nas últimas 
duas décadas tornou claro e evidente a necessidade de uma maior e mais 
detalhada atenção no que diz respeito à saúde dos plantéis. Principalmente porque 
o crescimento desta indústria está baseado em um grande aumento no tamanho 
dos sistemas de produção (granjas ou complexos de granjas e/ou unidades de 
produção) com um conseqüente grande aumento na densidade animal em uma 
determinada área geográfica. Isto se traduz em uma situação ideal para a 
multiplicação, disseminação e perpetuação de vários patógenos de aves (vírus e 
bactérias principalmente) e a ocorrência de surtos de enfermidades que acarretam 
elevados prejuízos econômicos (por exemplo, os recentes surtos de Influenza 
Aviária de alta e média patogenicidade ao redor do mundo). 
 
Um outro aspecto muitíssimo importante na indústria avícola moderna é a 
preocupação com a saúde pública. Ou seja, os consumidores finais de produtos de 
aves estão sujeitos a serem acometidos por enfermidades causadas por patógenos 
(bactérias principalmente) presentes nestes produtos. Estes patógenos podem 
contaminar o produto final de várias maneiras, desde a via vertical, da galinha para 
os ovos férteis (progênie), passando pela contaminação horizontal durante as fases 
de incubação/eclosão e engorda dos frangos e/ou contaminação durante o 
processamento na indústria. 
 
A única maneira de se manter sistemas de produção e seus respectivos rebanhos 
comerciais livres ou controlados no que diz respeito à presença de agentes de 
enfermidades de impacto econômico na produtividade e/ou perigosos para a saúde 
pública (zoonoses) é através da utilização de um efetivo PROGRAMA DE 
BIOSSEGURIDADE. Este deverá contemplar todos os aspectos gerais da medicina 
veterinária preventiva bem com conter aspectos exclusivos direcionados a cada 
sistema de produção em particular. 
 
Saúde animal sempre foi, é, e sempre será, uma das principais, senão a principal 
barreira não tarifária para embargo de nossas exportações ao resto do mundo. 
Assim, BIOSSEGURIDADE é, e será cada vez mais, o certificado básico para a 
qualidade de nossos produtos, tanto para o cada vez mais exigente consumidor 
interno quanto, principalmente, para o mercado externo de exportação. 
 
O presente artigo tem como objetivo específico discutir aspectos conceituais e 
práticos fundamentais para a elaboração de um programa de biosseguridade efetivo 
na avicultura moderna (produção de frangos de corte e postura comercial). 
 
 
3. MODERNA PRODUÇÃO AVÍCOLA E BIOSSEGURIDADE 
 
A galinha doméstica (Gallus gallus) é, das espécies exploradas comercialmente pelo 
homem, a que mais utiliza (em 2o lugar estão os suínos) práticas tais como 
concentração da produção (alta densidade animal por m2 ou Km2) e integração 
vertical, bem como modernas metodologias científicas que objetivam uma maior e 
melhor compreensão das interações entre genética, produção, meio ambiente, 
manejo, nutrição, saúde de rebanho e saúde pública (zoonoses). 
Por causa destas características, a indústria avícola de corte e postura tem crescido 
rapidamente há um enorme volume de produção nas últimas três décadas, para 
suprir a população com proteína animal de altíssima qualidade produzida a custos 
bastante baixos. Este rápido crescimento significou uma rápida mudança à qual, a 
indústria em geral, tem procurado responder o mais adequadamente possível. 
Biosseguridade, de uma forma ou de outra, é geralmente encontrada na indústria 
avícola mundial. Todos os sistemas de criação comercial de frangos praticam algum 
tipo biosseguridade e normalmente todos os envolvidos possuem um maior ou 
menor conhecimento da importância deste conceito/filosofia técnica para a 
viabilidade da produção e segurança e qualidade do produto final (carne de frango e 
seus subprodutos). 
Acontecimentos mundiais recentes (Influenza Aviária e Humana na Ásia) tem 
forçado a indústria a reavaliar seus conceitos e grau de importância concedido à 
biosseguridade. 
Os fatores principais causadores desta pressão para uma reavaliação dos critérios 
de biosseguridade utilizados na indústria avícola são: 
 
1) Globalização e GATT (2004a,b; General Agreement on Tariffs and Trade; Acordo 
Geral sobre Tarifas e Comércio). Estes tem aumentado significativamente o 
potencial de mercado mundial, mas no entanto, tem forçado ainda mais a 
competitividade pelosdólares usados na compra de alimentos. A medida que as 
sociedades se tornam mais afluentes (ricas), com melhor educação e cultura e 
mais exigentes, a expectativa dos consumidores no que se refere à qualidade e 
segurança alimentar muda radicalmente. 
2) Os governos, em um maior ou menor grau, tem respondido às preocupações dos 
consumidores, às expectativas da sociedade a quem servem, à pressão feita 
pela indústria avícola e/ou outros grupos individuais e várias regulamentações e 
legislação pertinente tem sido elaborada. 
3) Preocupação mundial com resíduos químicos e/ou de drogas utilizadas na 
produção animal. 
4) Contaminação bacteriana e/ou viral de produtos avícolas por agentes etiológicos 
de zoonoses. 
 
As características que tem causado as mudanças e o crescimento da indústria 
avícola no passado recente tem também contribuído para muitos dos temas que 
hoje são as principais forças motoras: 
 
- intensificação da produção 
- melhoramento genético 
- expectativas de qualidade por parte dos consumidores 
- preço e disponibilidade 
 
Apesar de haverem óbvias diferenças e especificidades geográficas e/ou regionais, 
a moderna produção de frangos é quase que padronizada ao redor do mundo no 
que se refere à infra-estrutura de produção, potencial genético, manejo operacional 
básico e tipos de desafios à saúde dos rebanhos. Sem qualquer dúvida, a mudança 
mais espetacular ocorrida na avicultura industrial nas últimas décadas foi tremendo 
aumento na taxa de crescimento dos frangos de corte ocorrido nas últimas três 
décadas (Figura 1). Este foi devido ao excelente trabalho realizado pelas várias 
empresas de genética avícola ao redor do mundo juntamente com um apropriado 
conhecimento das necessidades nutricionais destas aves melhoradas. 
 
AQUI FIGURA 1 
 
Todo este melhoramento no potencial genético destas aves não veio sem custos. 
Além dos custos operacionais propriamente ditos, vieram também os custos 
metabólicos. Ou seja, para que ave cresça às taxas atuais é necessário que seu 
metabolismo trabalhe sempre no limite fisiológico. Em verdade, uma das maiores 
causas, se não a maior, de mortallidade entre frangos de corte hoje em dia são 
problemas denominados de uma forma generalista de “desordens metabólicas”. 
Entre as mais importantes temos: a) morte súbita, b) desordens ósseas 
(espondiolistese, valgus & varus e discondroplasia tibial) e, c) ascite. 
Na prática a campo atualmente, é muito comentado por todos os técnicos da 
avicultura moderna o fato de que o frango de hoje parece ser menos resistente aos 
desafios normais do dia a dia da criação (estresses térmicos, alta densidade animal, 
pressão de infecção ambiental, etc...). No entanto, estas observações práticas 
necessitam ainda uma confirmação científica sólida, embora algumas evidências 
iniciais já tem sido publicadas (Kramer et al., 2003). O trabalho de Kramer et al. 
(2003) indica que quando as empresas de melhoramento genético introduzirem na 
rotina trabalho de seleção características indicativas da imunocompetência em 
geral, será muito importante a mensuração de não apenas um, mas vários aspectos 
do sistema imune (principalmente no que concerne à resistência à infecção por 
salmonelas). 
 
Médicos veterinários responsáveis pela biosseguridade de um sistema de produção 
de aves (reprodução e/ou produção de frangos e/ou postura comercial) enfrentam 
um significativo desafio ao irem de encontro às demandas competitivas do mercado 
às quais devem ser respondidas com mudanças estratégicas e operacionais no que 
se refere à biosseguridade do sistema de produção. 
Não existe fórmula mágica que determine quanta biosseguridade é suficiente. 
Obviamente, alguma biosseguridade é absolutamente essencial, mas qual é o 
limite? Como identificar excessos de biosseguridade? 
Excessos em biosseguridade significam perdas diretas no lucro líquido da empresa, 
por outro lado, biosseguridade deficiente significa perda de produtividade e de 
nichos de mercado nacionais e internacionais. Ao planejar e desenhar o programa 
de biosseguridade de um sistema de produção, o médico veterinário deverá 
trabalhar em uma muita estreita parceria com seus colegas dos departamentos 
comercial e marketing, para que este programa de biosseguridade reflita o máximo 
possível as necessidades atuais da empresa. No entanto, na atual conjuntura da 
indústria avícola mundial, as mudanças quanto à exigências de saúde de rebanho 
e/ou de saúde pública (zoonoses) pode m ocorrer muito rapidamente, não 
permitindo muitas vezes, que os sistemas de produção se adeqüem em tempo. Por 
esta razão, todos os procedimentos de biosseguridade devem ser rotineiramente 
revisados e adaptados de acordo com as exigências atuais do mercado e mesmo 
daquelas que deverão vir a curto e médio prazo (planejamento estratégico). 
 
 
4. BIOSSEGURIDADE 
 
4.1 Conceitos e Nomenclatura Apropriada 
 
Biosseguridade é uma palavra relativamente nova em nosso vocabulário (±10-12 
anos de uso na produção animal intensiva) e não é encontrada, com exceção de 
Blood & Studdert (1999), em dicionários gerais e/ou especializados. 
Em seu sentido geral ela significa o estabelecimento de um nível de segurança de 
seres vivos por intermédio da diminuição do risco de ocorrência de enfermidades 
agudas e/ou crônicas em uma determinada população. 
Este conceito geral é aplicável à populações de qualquer espécie animal. 
Em produção de aves, um programa de biosseguridade significa o desenvolvimento 
e implementação de um conjunto de políticas e normas operacionais rígidas que 
terão a função de proteger os rebanhos contra a introdução de qualquer tipo de 
agentes infecciosos, sejam eles vírus, bactérias, fungos e/ou parasitas. Uma vez 
que ocorra uma solução de continuidade na biosseguridade de um sistema de 
produção e determinado patógeno(s) contamina(m) o(s) rebanho(s) é necessário 
que o programa de biosseguridade seja imediatamente redesenhado e adaptado à 
nova situação de saúde do sistema em questão. Isto é, se for econômica, técnica e 
legalmente possível conviver com os agentes infecciosos agora presentes no 
sistema, o programa de biosseguridade deverá preconizar normas (e.g., novas 
vacinas, diferentes fluxos de produção, separação das fases de produção, etc…, 
etc…) que possibilitem o máximo controle da multiplicação e disseminação destes 
agentes bem como um mínimo impacto na produtividade do sistema. 
 
Existem certamente muitas variações sutis, outras nem tanto, quando as pessoas 
definem biosseguridade, mas de um modo geral, todas as definições de 
biosseguridade devem, obrigatoriamente, incluir os seguintes princípios: 
 
♦ Controle da multiplicação de agentes biológicos endêmicos. Um crescimento 
descontrolado na população destes organismos poderá ocasionar um efeito 
negativo crônico (diminuição) na desempenho e produtividade dos rebanhos. 
♦ Prevenção da contaminação dos rebanhos por organismos altamente 
contagiosos e potencialmente letais. Estes podem ter efeitos devastadores no 
sistema de produção. 
♦ Controle (e prevenção) daqueles agentes infecciosos de importância na saúde 
pública (zoonoses). A presença de alguns destes agentes, por exemplo 
salmonelas, pode passar desapercebida porque nem sempre irão afetar o 
desempenho dos animais contaminados. 
♦ Controle (e prevenção) daqueles agentes infecciosos de transmissão vertical que 
podem não somente afetar o desempenho e a produtividade da progênie como 
podem ser facilmente disseminados em uma grande área geográfica e afetar 
muitos sistemas de produção independentes. 
 
Biosseguridade é um conceito técnico, ou ainda, uma filosofia técnica aplicada à 
saúde de seres vivos animais, e no presente caso, a rebanhos da moderna 
avicultura industrial. Pela especificidade e ao mesmo tempo abrangência de sua 
conceituação técnica, o termo biosseguridadetorna-se muito mais apropriado 
quando o assunto for saúde animal. Certas ditas “expressões técnicas” as quais 
vem sendo utilizadas há muitas décadas, tais como: 
 
“manejo sanitário”, “controle sanitário”, “sanidade animal”, “sanidade dos suínos”, 
“barreira sanitária”, ”programa sanitário”, “programa de sanidade” e “sanidade de 
rebanho” 
 
... entre muitíssimas outras variações, tornam-se irrelevantes e sem sentido quando 
as comparamos com o conceito e filosofia de biosseguridade e seus termos 
correlatos. 
 
Senão, vejamos as definições literais destes termos (Houaiss et al, 2001): 
 
“Sanidade. S.f. (xXIII cf. FichIVPM) 1. Qualidade ou virtude do que é são. 2. 
Conjunto de condições que conduzem ao bem-estar e à saúde. 3. Normalidade, 
estabilidade física ou mental. ETIM lat. San�tas, �tis ‘saúde’;” 
 
“Sanitário. Adj. (1844 cf. AGC)1. Relativo à saúde pública ou individual, ou à higiene 
(cuidados). 2. Relativo a banheiro, aposento com todo o aparelhamento (louça s.) /// 
sm. 3. Vaso sanitário, 4. p.met. local público ou privado, equipado com vaso 
sanitário; toalete, mictório, banheiro. ETIM sanit- + -ário; cp. fr. Sanitaire (1801). Ver 
sinonímia de latrina” 
 
Tais expressões não expressam de modo algum a idéia e o conceito de saúde 
animal e medicina veterinária preventiva (ambos claramente relacionados com 
programas de biosseguridade para sistemas de produção animal) e devem ser 
substituídas por outras mais cientificamente apropriadas e esclarecedoras, 
tais como por exemplo, as seguintes recomendações: 
 
♦ “manejo sanitário”, “controle sanitário” substituídas por Normas de 
Biosseguridade. 
♦ “sanidade animal” substituída por Saúde Animal ou Saúde das Aves ou a 
espécie animal em questão. 
♦ “sanidade avícola” substituída por Saúde Avícola. 
♦ “barreira sanitária” substituída por Barreira de Saúde Animal. 
♦ ”programa sanitário”, “programa de sanidade” substituídas por Programa de 
Biosseguridade ou Programa de Saúde do Rebanho e 
♦ “sanidade de rebanho” substituída por Saúde de Rebanho. 
 
Um dos exemplos mais típicos de expressões tecnicamente não apropriadas é o 
nosso muito conhecido “Vazio Sanitário” o qual, embora seja largamente utilizado, 
não tem o menor sentido como conjunto de palavras e é impossível de ser definido 
como tal. Certamente, a grande maioria dos médicos veterinários que trabalham na 
avicultura sabem que esta expressão significa um determinado período de tempo 
(dias, semanas, meses), após a retirada de um lote de aves de uma instalação e 
realizada completa limpeza e desinfecção, durante o qual a(s) instalação(ões) 
fica(m) completamente vazia(s), sem a presença de qualquer espécie animal. Com 
absoluta certeza existem outros termos mais apropriados e corretos para expressar 
este mesmo procedimento de biosseguridade, como por exemplo: vazio das 
instalações (galpão, granja, etc…), descanso das instalações, intervalo entre 
lotes, etc…, etc… . 
 
Biosseguridade versus Biossegurança 
 
O termo biossegurança é freqüente e erradamente utilizado em substituição à 
biosseguridade. Estes termos tem conceitos diferentes (Blood & Studdert, 1999) 
embora a primeira vista pareçam significar o mesmo. 
Biosseguridade (já bem definida acima) é um conceito geral e refere-se à saúde 
animal. 
Já biossegurança refere-se quase que exclusivamente a assuntos de saúde humana 
e pode ser definida como “prevenção à exposição a agentes de enfermidades e/ou a 
produtos biológicos/químicos/radioativos capazes de produzir doenças em seres 
humanos. Deste modo, o termo biossegurança deve ser utilizado, quando por 
exemplo, em referencia à: 
 
• Normas de prevenção de contaminação de pessoas trabalhando em laboratórios 
de virologia e/ou microbiologia e qualquer outro tipo de laboratório. 
• Normas de prevenção à contaminação por radiação. 
• Normas de utilização de produtos modificados geneticamente (vegetais ou 
animais). 
• Normas de manuseio e utilização de substâncias químicas em geral, substâncias 
carcinogênicas, 
• Outras situações similares ............. 
 
Ambos termos, ,biossegurança e biosseguridade, são traduções literais das palavras 
originais em inglês (“biosafety” e “biosecurity”, respectivamente; Figura 2). 
 
AQUI FIGURA 2 
 
Biossegurança, de uma maneira geral, indica aquelas normas e procedimentos 
relacionados com a saúde humana as quais são permanentes e normalmente 
inflexíveis, a não ser para se tornarem ainda mais restritivas. Já biosseguridade, 
indica diretamente algum tipo de procedimento que visa prevenir determinado 
evento relacionado com saúde animal. Estes procedimentos devem sempre, 
rotineiramente, serem revisados, e imediatamente modificados quando necessário, 
de acordo com mudanças nos objetivos econômicos, legais e de produtividade do 
sistema de produção animal em questão. 
 
 
A medicina veterinária, assim como todas as outras ciências correlatas da 
área biomédica, está em constante evolução não somente sob o ponto de vista 
técnico mas igualmente sob o ponto de vista filosófico/conceitual. É essencial 
que os profissionais desta área sejam capazes de reconhecer e assimilar esta 
evolução e adaptar-se rapidamente à mesma. Somente agindo deste modo é 
que estes profissionais terão amplas condições de implementar e 
operacionalizar novos conceitos e procedimentos técnicos a medida que os 
mesmos forem sendo desenvolvidos e validados. 
O fato de que determinada nomenclatura técnica errada e/ou equivocada é 
utilizada oficialmente (por exemplo, na legislação brasileira de saúde animal) 
NUNCA pode ser utilizado como argumento para a continuidade e perpetuação 
de tal tipo de erro de comunicação. É essencial que estas falhas sejam sempre 
apontadas e soluções oferecidas para a prevenção de erros futuros. Deste 
modo as novas gerações de técnicos estarão continuamente sendo 
submetidos aos conceitos corretos e, assim, formando já desde o início de 
suas carreiras profissionais um embasamento teórico cientificamente correto 
e apropriado. 
 
4.2 Componentes da Biosseguridade 
 
Como relatado acima, biosseguridade são procedimentos desenhados para 
principalmente prevenir a entrada e a disseminação de enfermidades em um 
sistema de produção animal ou manter sob controle doenças existentes no sistema. 
Isto é alcançado via mantença de o menor fluxo possível de organismos biológicos 
(vírus, bactérias, parasitas, fungos, roedores, animais silvestres, pessoas, etc…., 
etc….) através das divisas do sistema de produção. Nenhum programa de 
prevenção de doenças será efetivo sem este procedimento básico. 
Biosseguridade tem basicamente nove componentes operacionais técnicos 
principais que funcionam como elos de uma corrente. Ou seja, um programa de 
biosseguridade somente alcançará pleno sucesso quando todos os elos desta 
corrente estiverem firmemente unidos uns aos outros. Cada um destes elos 
necessita permanente manutenção e revisão para evitar-se pontos de 
enfraquecimentos na corrente e conseqüente falha na biosseguridade do sistema. 
Ou seja, a efetividade de um programa de biosseguridade será sempre igual à 
resistência do elo (componente) mais fraco da corrente (Figura 3). 
 
AQUI FIGURA 3 
 
Os elos da cadeia de biosseguridade já tem sido descritos, em diferentes níveis de 
detalhamento, em outras publicações (Sesti, 1998, 2001, 2003, 2004) e o presente 
artigo se limitará especificamente a alguns aspectos gerais principais relacionados 
com programas de biosseguridade para granjas de frangos de corte. No entanto, é 
importante enfatizar que todos os aspectos aqui discutidos podem, em sua 
totalidade, serem aplicados à granjas de engorda de perus. 
 
 
5. DEFINIÇÃO DE DESAFIO E RISCOS 
 
Antes da elaboração e implantação de qualquer PROGRAMA DE 
BIOSSEGURIDADE, é necessário que seja realizada uma análise e definição dosriscos e desafios aos quais o sistema de produção de frangos está sujeito. Ou seja, 
as seguintes perguntas devem ser respondidas organizada e detalhadamente: 
 
- quais os desafios à saúde do rebanho (presença de agentes etiológicos e/ou 
ocorrência de sintomatologia e doença clínica) que devem ser prevenidos e/ou 
controlados pelo programa de biosseguridade para evitar perdas de 
produtividade e lucratividade? 
- Quais as doenças (e seus agentes) que devem ser prevenidas e/ou controladas 
por força de legislação? 
- Quais as doenças (e seus agentes etiológicos) que devem ser prevenidas e/ou 
controladas por força de exigência de clientes estrangeiros importadores? 
- Quais as doenças (e seus agentes etiológicos) que devem ser prevenidas e/ou 
controladas por força de exigência de clientes nacionais? 
- Quais as doenças (e seus agentes etiológicos) com possibilidade de tornarem-
se, a curto ou médio prazo, de controle obrigatório (por exemplo, Campilobacter 
sp.) devem ser prevenidas e/ou controladas por força de legislação? 
- Quais as possíveis formas de entrada e manutenção/perpetuação 
(epidemiologia) destas doenças (e seus agentes etiológicos) no sistema de 
produção? 
- Quais as falhas do sistema de produção em questão com base nas respostas 
das questões anteriores? 
 
Com base nas respostas das perguntas acima, o médico veterinário do sistema 
poderá desenhar um programa de biosseguridade direcionado especificamente às 
necessidades do sistema. Este será efetivo somente ao sistema em questão e não 
poderá ser simplesmente transferido para outro sistema de produção. Somente os 
princípios operacionais básicos de um programa de biosseguridade (Figura 2) são 
aplicáveis a qualquer sistema de produção animal. Todas as normas operacionais 
(veja detalhes em Sesti, 2004) relacionadas com cada um dos princípios devem 
obrigatoriamente ser ajustadas, modificadas e adaptadas para as necessidades do 
sistema de produção (galpão, núcleo de galpões, granja, núcleo de granjas, etc...) 
onde serão implantadas especificamente. 
A avaliação de riscos deve ser parte integral de um programa de biosseguridade 
bem elaborado. Os riscos de introdução de um agente bem como os riscos à 
produtividade do plantel e ao desempenho comercial (vendas dos produtos finais) 
devem ser avaliados simultaneamente. Avaliar riscos é um processo difícil, e muitas 
vezes um grande número de aspectos devem ser assumidos, embora sempre 
devam ser assumidos com base em conhecimento epidemiológico científico. 
Existem algumas metodologias oficiais (protocolos, fórmulas, índices, etc...) para a 
análise de riscos de entrada de doenças em sistemas de produção animal (Pérez-
Guatiérrez, 2003). No entanto, embora estas metodologias sejam bem 
documentadas e confiáveis, normalmente se mostram muito mais efetivas e práticas 
para avaliações governamentais de risco de âmbito nacional e internacional. O 
ponto principal é que o médico veterinário responsável pelo programa de 
biosseguridade tenha algum tipo formal de avaliação dos riscos de biosseguridade 
do sistema de produção (por exemplo, escores ou índices de: a) infestação por 
roedores, b) nível de biosseguridade das instalações, c) nível biosseguridade da 
fábrica de ração, etc... . Somente assim, o programa de biosseguridade poderá 
realmente contemplar o maior número possível de falhas e brechas do sistema. 
 
Duas das mais importantes ferramentas que propiciam o sucesso de um 
programa de biosseguridade é a metodologia HACCP (do inglês: Hazard 
Analysis and Critical Control Points; Análise de Perigos [ou Riscos] e Pontos 
Críticos de Controle) e o GMP (do inglês: Good Management Practices; Boas 
Práticas de Manejo). O HACCP é uma metodologia científica de processos que 
visam identificar e minimizar perigos (riscos) biológicos e/ou microbiológicos, 
químicos ou físicos associados com a fabricação e operações de serviços da 
área de alimentação. Já o GMP é a metodologia utilizada na descrição de 
procedimentos e práticas que visam prevenir a introdução de patógenos que 
possam afetar a saúde das aves e/ou causar problemas de saúde pública. 
Ambas metodologias, HACCP e GMP, aplicadas à produção de frangos, estão 
muito bem descritas por Grando et al. (2004) e devem ser atentamente 
estudadas por todos aqueles envolvidos na elaboração, implantação e 
manutenção de um programa de biosseguridade. 
 
Qualquer médico veterinário envolvido na prática com o conceito “biosseguridade” 
tem certamente pleno conhecimento de uma velha conhecida chamada “Lei de 
Murphy” (Murphy, 2004ab), ou seja, “...se existe algo de errado que possa ocorrer, 
este algo ocorrerá...” entre outras definições na mesma linha de pensamento. Ou 
seja, na prática, ao desenharmos e implantarmos um programa de biosseguridade 
em um sistema de produção novo que estará sendo populado pela primeira vez com 
lotes de aves livres de doenças importantes ao sistema, tudo o que um bem 
elaborado e implantado e, consequentemente efetivo programa de biosseguridade, 
irá fazer, será atrasar a contaminação dos rebanhos com as doenças para as quais 
era livre inicialmente. Portanto, a contaminação do rebanho é inevitável. Tudo o que 
se pode fazer é utilizar o programa de biosseguridade para que esta contaminação 
ocorra o mais tardiamente possível na vida útil do sistema de produção. Deste 
modo, proporcionando o tempo mais longo possível com máxima lucratividade do 
sistema. 
 
5.1 Principais desafios à granjas de frangos de corte 
 
Os desafios à saúde dos rebanhos de frangos de corte podem ser divididos em três 
categorias distintas (Tabela 1). Estas enfermidades (e seus agentes etiológicos) 
normalmente ocorrem simultaneamente na grande maioria dos sistemas de 
produção. Na verdade, como já sugerido acima, se o programa de biosseguridade 
for direcionado e específico às necessidades do sistema de produção onde está 
implantado especificamente, muitos destes patógenos irão simplesmente passar 
despercebidos se não for objetivo do programa de biosseguridade implantado a 
monitoração dos mesmos. Por exemplo, muitos sistemas de produção de frangos no 
Brasil não tem qualquer tipo de prevenção e/ou controle sobre um importante 
problema de saúde pública que são as bactérias do gênero Salmonela. A razão 
desta não preocupação é simples, ou seja, não há qualquer exigência por parte de 
intermediários e consumidores finais dos frangos produzidos no sistema bem como 
não há exigência legal para controle deste patógenos nos lotes de frangos. Este tipo 
de situação está mudando rapidamente no Brasil e em muitos países em 
desenvolvimento a medida que aumenta o nível cultural (cultura geral) e o poder 
aquisitivo da população. 
 
AQUI TABELA 1 
 
5.2 Patógenos transmitidos verticalmente 
 
Um dos aspectos mais importantes para a prevenção e controle de doenças em 
frangos é fato de que muitas das enfermidades (ou seus agentes etiológicos) de 
frangos, que são alvo de PROGRAMAS DE BIOSSEGURIDADE, são transmitidas 
verticalmente ao frango pela galinha via ovo fértil. Ou seja, o ovo fértil já é posto 
contaminado e o frango também irá eclodir contaminado. Esta contaminação ocorre 
basicamente de três maneiras (para maiores detalhes ver Sesti & Ito, 2000): 
 
1. transmissão trans-ovariana (ocorre no ovário da galinha) 
2. transmissão trans-ovidutal (ocorre durante a formação do ovo ao longo do trato 
reprodutivo) 
3. transmissão trans-casca do ovo (imediatamente antes ou após a postura a 
superfícies externa do ovo é contaminada por patógenos presentes nas fezes da 
galinha na cloaca / presentes no ninho / no armazenamento dos ovos na granja / 
no incubatório e que penetram para o interior do ovo fértil) 
 
Existe um grande número de patógenos cuja transmissão vertical é possível de 
ocorrer (Sesti & Ito, 2000). Aqueles agentes de importância prática naprodução de 
frangos no Brasil são listados na Tabela 2. 
 
AQUI TABELA 2 
 
Portanto, nenhum programa de biosseguridade na produção de frangos será 
plenamente efetivo se em seu espectro de ação não estiverem incluídos os lotes de 
matrizes que originaram os ovos férteis. Obviamente, em muitas ocasiões, o sistema 
de produção de frangos não terá gerência técnico-administrativa sobre os lotes de 
matrizes e/ou incubatório que originaram os pintos de 1 dias alojados no sistema. 
No entanto, o monitoramento diagnóstico dos pintos de 1 dia de idade pode trazer 
fortes indicativos do estado de saúde dos lotes de matrizes que os originaram (por 
exemplo, positividade para as micoplasmoses e salmoneloses, transmissão de 
anticorpos maternais contra os vírus de Gumboro e da Anemia Infecciosa, etc...). 
Deste modo, auxiliando no diagnóstico de problemas de saúde nos rebanhos de 
reprodutores. 
Particularmente com relação às salmonelas que infectam frangos, os dois principais 
fatores de perpetuação desta contaminação em granjas de frangos de corte são: 
 
- alojamento de pintos já contaminados verticalmente pela galinha e/ou no 
incubatório nas primeiras horas após eclosão (poucos pintinhos que venham a 
nascer eliminando salmonelas nas fezes podem contaminar uma enorme 
quantidade de outros pintos que nasceram sem salmonela) 
- população de roedores contaminados vivendo nos galpões de frangos 
 
Recentemente, embora com alguns anos de atraso, o Brasil deu um enorme salto à 
frente na luta contra as salmonelas de interesse na saúde pública presentes na 
produção avícola. O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) 
liberou oficialmente a utilização de vacinas inativadas contra a Salmonela Enteritidis 
(MAPA, 2003). Esta vacina se constitui em uma efetiva ferramenta para a 
diminuição da taxa de transmissão vertical de Salmonela Enteritidis para ovos férteis 
em lotes de matrizes pesadas ou leves (confere também proteção cruzada contra 
outros sorotipos de importância na saúde pública, por exemplo, a Salmonelas 
Typhimurium) para ovos férteis. E, além disso, ao diminuir também a taxa de 
eliminação de salmonelas no meio ambiente, a utilização da vacina será de grande 
valia para um eventual trabalho de erradicação de salmonelas em granjas de 
reprodutores. Relatos extra oficiais verbais de algumas indústrias avícolas 
brasileiras e de outros países das América do Sul indicam significativo decréscimo 
na porcentagem de carcaças de frangos contaminadas por salmonela (algo como 
23-28% para 5-11%) após a implantação de programas de vacinação contra 
Salmonela Enteritidis em granjas de reprodutores. No entanto, ainda há no Brasil 
uma total falta de dados confiáveis da epidemiologia e das taxas de contaminação 
por salmonelas na indústria avícola. Importante ter sempre em mente que qualquer, 
absolutamente qualquer tipo de vacina ou programa de vacinações são 
simplesmente apenas um dos muitos aspectos essenciais que compõe um 
programa de biosseguridade. Vacina nenhuma irá algum dia ser substituto de 
qualquer procedimento de biosseguridade. 
 
O grande impacto de doenças (ou seus agentes etiológicos) de transmissão vertical 
na produção de frangos é exatamente o enorme poder multiplicador da pirâmide de 
produção da avicultura de corte (Tabela 3). 
 
AQUI TABELA 3 
 
No topo da pirâmide (nível 1) encontra-se a granja de melhoramento genético e 
multiplicação de linhas genéricas puras (linhas macho e fêmea). Normalmente, em 
programas de melhoramento genético de matrizes pesadas, cada uma destas 
populações de linhas puras estão divididas em vários grupos de acasalamento 
consistidos cada um de 1 macho e 10 fêmeas. Durante o período (normalmente 6-8 
semanas) em que as aves de um destes grupos está contribuindo (ovos férteis) para 
o programa de melhoramento genético, aproximadamente 15 bisavós são 
produzidas por cada fêmea de linha pura do grupo de acasalamento, totalizando um 
número de 150 bisavós (nível 2). Cada uma destas, durante sua vida reprodutiva 
normal, irá produzir em torno de 40 avós o que perfazerá um total de 6 mil avós 
(nível 3). Do mesmo modo, estas avós irão multiplicar e produzir um total de 330 mil 
matrizes pesadas (55 matrizes por avó; nível 4) as quais por sua vez produzirão 
aproximadamente 45 milhões de frangos de corte (142 pintos de um dia por matriz 
menos 4% de mortalidade até o abate; nível 5). Ao abate destes frangos, serão 
produzidas em torno de 75 mil toneladas de carne de frango (peso vivo médio ao 
abate de 2,4 kg com 70% de rendimento de carcaça; nível 6). 
É portanto, bastante evidente que qualquer microorganismo patogênico sendo 
transmitido verticalmente ao longo desta pirâmide de produção poderá causar 
imensos prejuízos econômicos aos produtores e indústria. Além disso, se o 
patógeno transmitido verticalmente for de importância na saúde pública 
(salmonelas), as perdas para o mercado avícola poderão ser multiplicadas várias 
vezes pelo impacto da opinião pública e diminuição do consumo de produtos 
avícolas. 
 
 
6. PROGRAMA DE BIOSSEGURIDADE, A RAÇÃO CONSUMIDA PELAS AVES E 
A SAÚDE PÚBLICA 
 
Não há qualquer dúvida de que os patógenos encontrados na produção avícola 
considerados zoonóticos (causadores de enfermidade, zoonoses, no homem) 
tornaram-se, nos últimos 10-15 anos, o alvo principal da mídia e consumidores em 
geral com relação à exigências de qualidade microbiológica de produtos avícolas. 
Assim, a contaminação de aves e seus produtos por diferentes sorotipos de 
bactérias do gênero Salmonela deve ser alvo principal de um programa de 
biosseguridade na produção de frangos. 
A importância das salmonelas nas toxi-infecções alimentares em humanos pode ser 
bem analisada no monitoramento contínuo realizado nos Estados Unidos pela rede 
de monitoramento ativo de toxi-infecções alimentares (Foodnet, 2004) realizado pelo 
órgão governamental CDC (Center for Disease Control; Centro para Controle de 
Doenças). 
A carne de frango e seu sub-produtos são elencados como a principal fonte de 
contaminação das pessoas. As estatísticas de contaminação de carcaças e sub-
produtos de frangos podem ser encontradas em FSIS (2004). 
Com relação ao Brasil, não existem dados estatísticos oficiais nem extra oficiais 
confiáveis (sob os pontos de vista estatístico & epidemiológico) sobre os dados de 
ocorrência de toxi-infecções alimentares causadas por agentes presentes em carne 
de aves e produtos avícolas industrializados e muito menos sobre as taxas de 
contaminação por salmonelas em carcaças de frangos de corte. 
 
Experiência de campo e algumas investigações científicas conduzidas em vários 
países da América e Europa demonstram claramente que o alimento administrado 
às aves pode ser uma das maiores, senão a maior (para alguns patógenos em 
particular) fonte de contaminação de rebanhos em sistemas industriais de produção 
de aves. Particularmente, contaminações por Salmonela sp, Clostridium sp, várias 
cepas patogênicas ou não de Escherichia coli e fungos produtores de micotoxinas. 
Já há muito tempo tem sido reconhecido que agentes infecciosos são mais 
efetivamente disseminados em um sistema de produção de aves via aves 
contaminadas ou alimento contaminado. Portanto, o controle da contaminação do 
alimento ingerido pelas aves tem grande efeito não somente sobre a saúde das 
aves, como também na saúde pública via controle da contaminação das aves e 
consequentemente menor taxa de contaminação de carcaças ao abate e dos 
produtos avícolas industrializados (Blackman et al, 1993; Coma, 2001). 
 
Correntemente, devido ao seu impacto na saúde pública e aceitação de produtos 
avícolas pelos consumidores, Salmonela sp são os microorganismos alvo de 
qualquer tratamento antimicrobiano em rações de aves e/ou suas matérias primas. 
Em geral, é assumido que os procedimentos para controle da contaminaçãopor 
Salmonela sp nos alimentos das aves e/ou suas matérias primas, quando efetivos, 
irão também controlar/reduzir a população de outros microorganismos importantes 
(E. coli, Campilobacter jejuni, Clostridium sp, etc...) para níveis aceitáveis à atividade 
avícola industrial. 
 
Dados de publicações técnicas e experiências de campo na indústria avícola 
(McIlroy, 1998; L. Sesti, dados não publicados) mostram que 2-12% do total de 
todas as partidas de matérias primas recebidas em uma fábrica de ração para aves 
e que em torno de 4% do total de amostras de ração final estão contaminadas com 
Salmonela sp (vários sorotipos ocorrem, incluindo Salmonela enteritidis, 
typhimurium, kentucky, hadar, agona, heidelberg, montevideo e seftenberg, entre 
outros). 
Portanto, qualquer sistema de produção que queira controlar efetivamente (obter 
baixa taxa de contaminação) ou mesmo manter-se livre ou erradicar (quando já 
contaminados) algum sorotipo específico de salmonela, jamais terá sucesso sem a 
implantação de procedimentos de biosseguridade direcionados ao controle da 
contaminação microbiana da ração final e/ou suas matérias primas. 
Salmonela enteritidis e/ou typhimurium tem sido isoladas de uma grande variedade 
de matérias primas de rações de origem vegetal, por exemplo, farelo de soja, milho, 
óleo degomado, farelo de trigo. E ainda, as salmonelas também tem sido 
freqüentemente isoladas de matérias primas de origem animal (farinha de carne e 
ossos, farinha de sangue, farinha de vísceras), especificamente naquelas 
produzidas, armazenadas e/ou transportadas de maneira imprópria, ou seja, com 
enorme falta de higiene. 
 
Os princípios básicos para o controle de contaminação de alimentos das aves e das 
fábricas de ração onde são fabricados são: 
 
• Diminuir significativamente a contaminação da ração final e/ou matérias primas 
• Prevenir multiplicação dos microorganismos na ração final e/ou matérias primas 
• Prevenir a recontaminação da ração final e/ou matérias primas 
 
Contaminações pesadas (alta concentração de microorganismos) em alimentos de 
aves requerem medidas extremas para a destruição destes microorganismos. Estas 
medidas extremas não somente causam prejuízo ao conteúdo nutricional das rações 
e/ou matérias primas bem como também estas medidas extremas custam muito 
mais caro. Na verdade, cada um dos três princípios básicos listados acima são 
interdependentes e devem ser operacionalizados simultaneamente. 
 
 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Os aspectos básicos operacionais de um programa de biosseguridade efetivo são: 
 
- flexibilidade 
- melhor (não menor) relação custo:benefício possível 
- treinamento 
- bom senso 
 
Auditorias de rotina em todos aspectos de um programa de biosseguridade em 
funcionamento são parte essencial do processo (Figura 3). É através destas 
auditorias que muitas adaptações, ajustes e melhorias estarão sempre sendo 
realizados no programa de biosseguridade. Por isto, ele deve sempre ser flexível 
(Figura 2). Idealmente, estas auditorias devem ser realizadas por médicos 
veterinários com sólida experiência em biosseguridade e externos, ou seja, não 
envolvidos com o dia a dia do sistema de produção. Somente assim, as muito 
normais “falhas da rotina” poderão ser identificadas e corrigidas. 
 
Uma avaliação da relação custo:benefício de alguns procedimentos ou de todo o 
programa de biosseguridade é muitas vezes algo totalmente empírico, onde muitos 
aspectos devem ser simplesmente assumidos (por exemplo, ocorrência ou não de 
surtos de doenças). Por isto, esta avaliação deve ser realizada pelos responsáveis 
das diversas áreas (saúde animal, produção e comercial) para que os custos de 
cada procedimento possam receber a melhor avaliação possível de implantados ou 
não. Jamais se deve tentar diminuir custos através da implantação e/ou 
operacionalização parcial de determinada regra de biosseguridade. Tal 
procedimentos irá invalidar a efetividade da regra (procedimento operacional), criar 
um elo fraco na corrente (Figura 3) e por risco todo o programa de biosseguridade. 
Isto pode ser definido como “querer tapar o sol com uma peneira” e ainda por cima 
pagar muito caro. Biosseguridade significa sempre assumir algum tipo de risco. 
Filosofias do tipo “Princípio da Precaução” jamais podem fazer parte de um 
programa de biosseguridade, pois isto obviamente tornaria o sistema inviável 
comercialmente. 
 
Via de regra, quase todas as pessoas de níveis operacionais (em todas as áreas de 
atividade do sistema de produção) tendem fortemente a incorporar normas e 
procedimentos de biosseguridade dentro das atividades de trabalho normais. Como 
biosseguridade normalmente não é considerada como parte da descrição das 
atividades dos cargos destes funcionários do sistema, rapidamente esquecem a 
atenção e cuidado especiais que devem ser dedicados à estas normas e 
procedimentos e começam a incorrer em “falhas da rotina” (procedimentos que por 
alguma razão são operacionalizados erradamente em determinado momento, a 
falha não é identificada e passa a fazer parte da rotina do dia a dia). Somente um 
programa permanente de treinamento (e re-enfatização) do pessoal operacional 
envolvido poderá manter um programa de biosseguridade realmente efetivo. 
 
Bom senso é definido como ... capacidade, poder ou aptidão de distinguir o 
verdadeiro do falso, o bom do mau, o bem do mal, em questões corriqueiras, que 
não careçam de soluções técnicas, científicas ou não exijam raciocínio elaborado ... 
(Houaiss et al., 2001). Muitos programas de biosseguridade já foram inutilizados por 
pequenas decisões tomadas intempestivamente sem qualquer bom senso. 
 
 
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