Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIFACS – Universidade Salvador Disciplina: Equações Diferenciais e Séries / Cálculo III Professora: Ilka R. Freire Texto 02: Equações Diferenciais Ordinárias de 1ª Ordem Equações de Variáveis Separáveis As equações diferenciais de 1 a ordem e 1 o grau são as da forma y f x y( , ) que como já vimos, também podem ser escritas na forma M( x, y ) dx + N( x , y ) dy = 0 ( I ) que é chamada de forma normal, sendo M e N funções contínuas em determinado domínio do plano. Se uma equação ( I ) está na forma A(x)dx + B(y)dy = 0 dizemos que ela é uma EDO de variáveis separadas e se resolve por integração direta, ou seja, Cdy)y(Bdx)x(A Se a equação ( I ) está na forma M 1 (x)N 1 (y) dx + M 2 (x) N 2 (y) dy = 0, dizemos que ela tem variáveis separáveis. Para resolver basta dividir a equação pelo fator M 2 (x)N 1 (y) para "separar" as variáveis: 0 =dy y)(N (y)N dx )x(M (x)M 0dy y)(N )x(M (y)N x)(M dx y)(N )x(M y)(N (x)M 1 2 2 1 12 22 12 11 Exemplos: 1) Encontre a solução geral das seguintes equações diferenciais: A) xy y´ = 1 – x2 Solução: Vamos escrever a equação na forma M( x, y ) dx + N( x , y ) dy = 0 . xy y´ = 1 – x2 0xydydx)x1(x1 dx dy xy 22 . Basta dividir a equação pelo fator x para separar as variáveis: 0ydydx x x1 2 C2yxxln2C 2 y 2 x xlnCydyxdx x dx Cydydx x x1 22 222 Observemos que na solução acima multiplicamos a equação por 2. A constante 2C pode ser renomeada para C1 ou K, etc A solução geral pode ser reescrita como Kyxxln2 22 2 B) ydy = ( 1 +y 2 )cost dt Solução: Para separar as variáveis da equação basta dividirmos por 1 + y 2 . Assim, ydy = ( 1 +y 2 )cost dt Csenty1ln 2 1 tdtcosdy y1 y tdtcosdy y1 y 2 22 C) (y + x 2 y ) dy = ( 2x + 2xy 2 ) dx Solução: Vamos, inicialmente, colocar em evidência y no 1º membro da equação e 2x no 2º membro: (y + x 2 y ) dy = ( 2x + 2xy 2 ) dx dx)y1(x2dy)x1(y 22 Lembremos que o objetivo é separar as variáveis para que a equação fique na forma Cdy)y(Bdx)x(A Logo, vamos dividir a equação acima por )y1)(x1( 22 e assim a equação fica C)x1ln()y1ln( 2 1 dx x1 x2 dy y1 y dx x1 x2 dy y1 y 22 2222 (*) Vamos reescrever a solução geral de forma equivalente e mais compacta usando o fato que a constante C pode ser escrita como logaritmo de algum número real positivo C1. Assim, fazendo C = lnC1, multiplicando (*) por 2 e usando propriedade de logaritmos obtemos: 1 2222 Cln)x1ln(2)y1ln(C)x1ln()y1ln( 2 1 22 1 222 1 2 )x1(C)y1()x1(Cln)y1ln( D) y´ = x – 1 + xy y Solução: y´ = x – 1 + xy y dx)1x( y1 dy )y1)(1x( dx dy )1x(y)1x( dx dy dx)1x( y1 dy C 2 )1x( y1ln 2 3 2) Encontre a solução particular, na forma explícita, da equação y´ = x – 1 + xy y , que satisfaz a condição inicial y(1) = 0 Do exemplo 1 D) temos que a solução geral é C 2 )1x( y1ln 2 . Substituindo x = 1 e y = 0 na solução geral obtemos: C 2 )11( 01ln 2 , o que nos dá C = 0. Logo, a solução particular é 2 )1x( y1ln 2 . Explicitando 2/)1x( 2ey1 . Para a condição dada 1 + y > 0. A solução é, portanto, 1ey 2/)1x( 2 Equações Exatas Antes de apresentarmos as equações exatas vamos relembrar o conceito de diferencial total Definição: A diferencial total ou exata de uma função U(x,y) é dada pela expressão dy y U dx x U dU Exemplos: 1) U(x,y) = xy; xdyydxdU 2) U(x,y) = x 2 + xe y ; dyxedx)ex2(dU yy 3) U(x,y) = x 2 y + x + 2y 2 ; dU = ( 2xy + 1 ) dx + ( x 2 + 4y ) dy 4) U(x,y) = cosx tgy + x; dU = ( senx tgy + 1 ) dx + ( cosx sec2y ) dy 5) U(x,y) = xlny + ylnx; dU = ( lny + y/x) dx + (x/y + lnx) dy Definição: Uma EDO M( x, y ) dx + N( x, y ) dy = 0 é chamada de exata, quando existe uma função U ( x, y ), tal que dy y U dx x U dU = M(x,y) dx + N(x,y) dy. Equivalentemente, )y,x(N y U e )y,x(M x U 4 Neste caso, de dU = 0 temos que U (x, y ) = C é a solução geral da equação dada na forma implícita Exemplos: 1) ydx + xdy = 0 é uma equação exata pois existe a função U(x,y) = xy que satisfaz as condiçãoes da definição: y x U = M(x,y) e x y U = N(x,y) . A solução da equação é portanto U(x,y) = C ou seja, xy = C. Esta equação é uma equação a variáveis separáveis que já sabemos resolver. 2) ( 2x + e y ) dx + ( xe y )dy = 0 é uma equação exata pois existe a função U(x,y) = x 2 + xe y que satisfaz as condições da definição: yex2 x U = M(x,y) e yxe y U = N(x,y) A solução da equação é portanto U(x,y) = C ou seja, x 2 + xe y = C. 3) (2xy + 1)dx + (x 2 + 4y ) dy = 0 é uma equação exata pois existe a função U(x,y) = x 2 y + x + 2y 2 que satisfaz as condiçãoes da definição: 1xy2 x U = M e y4x y U 2 = N A solução da equação é portanto x 2 y + x + 2y 2 = C Nos 3 exemplos anteriores exibimos a função U(x,y) que comprova que a equação é exata e dá a sua solução. O nosso objetivo será aprender um método para encontrar a função U(x,y) e conseqüentemente resolver a equação. O Teorema a seguir nos dá a condição necessária e suficiente para uma equação ser diferencial exata. Além dito, a sua demonstração nos apresenta um método para a obtenção da função U (x, y). Não vamos formalizar a demonstração do teorema mas aplicá-lo em casos particulares 5 Teorema: A equação M(x,y)dx + N(x,y) dy = 0 , onde M e N são funções contínuas com derivadas contínuas em determinado domínio D do plano é uma equação diferencial exata se, e somente se, x N y M . Vamos aplicar o Teorema para confirmar que as equações anteriores eram exatas 1) ydx + xdy = 0. M(x,y) = y e N(x,y ) = x. Assim, 1 x N y M 2) ( 2x + e y ) dx + ( xe y )dy = 0. M(x,y) = ( 2x + e y ) e N(x,y) = xe y . Assim, ye x N y M 3) (2xy + 1)dx + (x 2 + 4y ) dy = 0. M(x,y) = ( 2xy + 1) e N(x,y) = x 2 + 4y. Assim, x2 x N y M Exercício: Verifique se as seguintes equações são exatas 1) 0dyxln y x dxyln x y Solução: y 1 x 1 y M yln x y )y,x(M x 1 y 1 x N xln y x )y,x(N Temos que x N y M , logo a equação é exata 2) (2 + ye xy ) dx (2y xexy) dy = 0Solução: M(x,y) = 2 + ye xy y M = e xy + yxe xy N(x,y) = 2y +xexy x N = e xy + xye xy Temos que x N y M , logo a equação é exata 6 3) ( x 2 y + x) dx + ( xy 2 + y) dy = 0 M(x,y) = x 2 y + x y M = x 2 N(x,y) = xy 2 + y x N = y 2 Temos que y M x N , logo a equação não é exata. O Teorema é equivalente a duas implicações: A) Se a equação é exata, então x N y M . De fato: Se a equação é exata, então existe uma função U(x,y) tal que )y,x(M x U e )y,x(N y U . Logo, xy U y M 2 e yx U x N 2 e portanto como as derivadas mistas são iguais concluímos que x N y M B) Se x N y M , então a equação M(x,y)dx + N(x,y) dy = 0 é exata. Para mostrar que a equação é exata devemos exibir uma função U(x,y) tal que )y,x(M x U ( I ) e )y,x(N y U ( II) Vamos construir esta função a partir das condições (I) e (II) Da condição ( I ) obtemos que )y(gdx)y,x(MU , onde a integral está sendo calculada em relação à variável x, ou seja, y é considerado “constante”. Por isso, aparece a função g(y) desempenhando o papel da “constante de integração” . Se encontrarmos a função g(y) a nossa função U(x,y) está completa e o problema resolvido, já que a solução da equação diferencial é U(x,y) = C Para encontrarmos a função g(y) aplicamos a condição ( II ), ou seja, derivamos U em relação a y e igualamos a N. Chegamos a uma expressão para g´(y ) e através de integração obtemos g(y). 7 Podemos garantir que a constante de integração g(y) é de fato uma função apenas da variável y quando aplicamos a condição x N y M Vamos aplicar estas condições para encontrar uma função U(x,y) para equações que já sabemos serem exatas. Exemplos: 1) A equação (2xy + 1)dx + (x 2 + 4y ) dy = 0 é exata, como vimos. Logo, existe uma função U(x,y) tal que 1xy2M x U ( I ) e y4xN y U 2 ( II ) Consideremos a condição (I) 1xy2 x U . Podemos integrar a função, considerando y constante e obter )y(gdx)1xy2(U . A “constante” de integração é uma função g(y), uma vez que consideramos y constante na integração. Logo, U = x 2 y + x + g(y). Se encontrarmos a função g(y) o problema está resolvido. Para isto, aplicamos a condição (II) y4xN y U 2 . Derivando U em relação a y e igualando a N obtemos: x 2 + g´(y) = x 2 + 4y . Logo, g ´( y ) = 4y e g(y) = 2y2ydy4 + K Logo, a função U(x,y) = x 2 y + x + 2y 2 + K e a solução da equação fica U(x,y) = C, ou seja, x 2 y + x + 2y 2 = C ( A constante K foi asociada à constante C) 2) A equação ( 2x + e y ) dx + ( xe y )dy = 0 é exata, como vimos. Logo, existe uma função U(x,y) tal que yex2M x U ( I ) e yxeN y U ( II ) Consideremos a condição (I) yex2 x U . Podemos integrar a função, considerando y constante e obter )y(gdx)ex2(U y . A função g(y) é a “constante” de integração, uma vez que consideramos y constante na integração. Logo, U = x 2 + xe y + g(y). Se encontrarmos a função g(y) o problema está resolvido. 8 Para isto, aplicamos a condição (II) yxeN y U . Derivando u em relação a y e igualando a N obtemos: xe y + g´(y) = xe y . Logo, g ´( y ) = 0 e g(y) = K A solução da equação é portanto U(x,y) = C , ou seja, x 2 + xe y = C Observação: O mesmo resultado pode ser obtido tomando-se g(x)y)dyN(x, y),U(x e depois derivando em relação a x e igualando a M. Em geral é indiferente por que caminho se obtém U mas, pode ocorrer que a integral que se tem que resolver seja mais simples por um dos caminhos tomados Equações Redutíveis a Exatas – Fator de Integração Consideremos a equação 0xydy2dx1yx 22 ( I ). Temos que y2= x N e y2 y M Assim, a equação não é exata. No entanto, multiplicando ( I ) pelo fator x2 obtemos a equação ) II ( 0y)dy(x,Ny)dx(x,M = 0dy x y 2dx x 1 x y 1 212 2 . A equação ( II ) é exata. De fato: 2 1 2 1 x y2 x N e x y2 y M . Além disso, ( II ) contém as soluções de ( I ). O fator 2x é chamado de fator de integração ou fator integrante da equação ( I ). Definição: Dada a equação M ( x, y ) dx + N ( x, y ) dy = 0 ( I ) com M y N x , se ( x, y ) é uma função tal que a equação ( x, y) M (x,y) dx + ( x, y) N (x,y) dy = 0 é exata, então ( x, y) é chamado de um fator de integração ou fator integrante da equação ( I ). 9 Pode-se mostrar que que toda equação diferencial do tipo M ( x, y ) dx + N ( x, y ) dy = 0 , satisfazendo à determinadas condições, possui uma infinidade de fatores integrantes Infelizmente não existe um método que nos permita encontrá-los para qualquer equação diferencial. Temos método para achar fatores integrantes que dependem de apenas uma variável.(Consulte algum livro de Equações Diferenciais da bibliografia indicada) A Equação Linear de 1a Ordem Uma equação é linear de 1ª ordem se ela pode ser escrita na forma )x(fy)x(a dx dy , onde a(x) e f(x) são funções na variável x, contínuas em determinado domínio. Muitas das equações que já resolvemos são lineares para a(x) e f(x) constantes e podem ser classificadas também como equações a variáveis separáveis. Vejamos alguns exemplos: 1) kQ dt dQ ( equação do decaimento radioativo ). A equação pode ser escrita como 0kQ dt dQ Linear nas variáveis Q e t. Neste caso a(t) = k e f(t) = 0 2) gv m k dt dv (equação do movimento em queda livre). Linear nas variáveis v e t. m k )t(a e f(t) = g 3) L E I L R dt dI ( equação do circuito RL). Linear nas variáveis I e t. L E f(t) e L R )t(a 4) R E q RC 1 dt dq ( equação o circuito RC ). Linear nas variáveis q e t. R E f(t) e RC 1 )t(a 5) k ,TTk dt dT ( equação da Lei do Resfriamento de Newton ). A equação é reescrita como akTkT dt dT Linear nas variáveis T e t. akTf(t) e k)t(a 10 A equação linear de 1 a ordem é uma equação redutível à exata, ou seja, ela tem um fator de integração dado pela expressão dx)x(ae = (x) . Consideremos a equação )x(fy)x(a dx dy ( I ). Reescrevendo, inicialmente, a equação na forma Mdx + Ndy = 0 obtemos: (a(x)y – f(x)) dx + dy = 0. (II). Multiplicando pelo fator obtemos 0dy)x(fedx))x(fy)x(a(e dx)x(adx)x(a que é exata. (Verifique!!) Resolvendo a equação como exata encontramos a solução. Podemos também chegar a uma expressão geral para asolução da equação ( I ) da seguinte maneira: Multiplicamos a equação ( I ) pelo fator de integração dx)x(ae = (x) obtendo )x(fey)x(ae dx dy e dx)x(adx)x(adx)x(a ( III) Observemos que o lado esquerdo da igualdade acima corresponde à derivada do produto de duas funções, ou seja, dx)x(aye dx d . Assim, a equação ( III ) fica dx)x(aye dx d = dx)x(ae)x(f . Integrando os dois lados da igualdade obtemos: Cdxe)x(fye dx)x(adx)x(a Ce)x(fey dx)x(adx)x(a que é a solução geral . Observações: 1) Na equação linear as funções a(x) e f(x) são supostas contínuas em determinado intervalo . 2) Podemos resolver a equação linear aplicando diretamente a expressão obtida anteriormente, ou, já tendo a garantia de que ela é redutível a exata, multiplicar a equação na forma (a(x)y – f(x)) dx + dy = 0 pelo seu fator de integração dx)x(ae = (x) e resolvê-la pelo processo da equação exata visto anteriormente. 3) A equação linear pode estar na forma )y(fx)y(a dy dx e a solução fica: Ce)y(fex dy)y(ady)y(a 11 Exemplo: Encontre a solução geral das seguintes equações lineares: 1) senxy tgx y´ Solução: Temos que a(x) = tgx e f(x) = senx. Vamos aplicar a fórmula Ce)x(fey dx)x(adx)x(a C)xln(cosdx xcos senx tgxdxdx)x(a (Podemos fazer C = 0 nesta integração ) xcosee )xln(cos dx)x(a C 2 xsen xdxcossenxdxe)x(f 2 dx)x(a . A solução é portanto: Ce)x(fey dx)x(adx)x(a = xcos C xcos2 xsen yC 2 xsen xcos 1 C 2 xsen eC 2 xsen e 222 1)xln(cos 2 )xln(cos 2) 22 x2xyyx Solução: Reescrevemos a equação na forma 1 x 2 y x 1 y 2 . Identificamos então: 1 x 2 f(x) e x 1 )x(a 2 Vamos aplicar a fórmula Ce)x(fey dx)x(adx)x(a Cxlnx dx dx)x(a (Podemos fazer C = 0 nesta integração ) xee xln dx)x(a C 2 x xln2dxx x 2 dx)1 x 2 (xdxe)x(f 2 2 dx)x(a . A solução é portanto: Ce)x(fey dx)x(adx)x(a = x C 2 x x xln2 yC 2 x xln2 x 1 C 2 x xln2eC 2 x xln2e 22 1xln 2 xln Referências Bibliográficas Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno – William E. Boyce e Richard C. DiPrima – LTC Editora Equações Diferenciais vol 1– Dennis G. Zill e Michael R. Cullen – Makron Books Matemática Superior vol 1 – Erwin Kreyszig LTC Editora
Compartilhar