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109 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa Unidade IV Nesta unidade, trataremos do período composto – também chamadas de orações complexas por alguns gramáticos – levando em conta que você, caro aluno, já obteve informações necessárias e importantes nas unidades anteriores. Ressaltamos, então, que os conceitos tratados anteriormente serão base de conhecimento para entender os próximos conteúdos, por isso insistimos na necessidade de consultar as fontes indicadas para aprimorar seu aprendizado. 7 Hierarquia gramatical Lembrando a hierarquia gramatical enquanto descrição da língua que, do menor para o maior elemento, varia do morfema ao texto (morfema – palavra – sintagma – oração/período – texto), veremos o período composto nesta unidade. Como já vimos também, cada verbo pressupõe a existência de uma oração. Portanto, a partir de dois ou mais verbos, temos um período composto. Este pode ser articulado por dois processos: a coordenação e a subordinação. O processo de coordenação diz respeito à organização em que as orações têm uma equivalência, isto é, há um paralelismo e não uma hierarquia de informações veiculadas pelas orações que compõem o período. Evanildo Bechara classifica esse processo como parataxe: Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar‑se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical (BECHARA, 2001, p. 48). Já no processo de subordinação, há uma hierarquia na qual existe sobreposição de uma oração em relação à outra, daí o conceito de oração subordinada em relação à principal. É o que Bechara denomina hipotaxe: A hipotaxe (...) consiste na possibilidade de uma unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como “membro” de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática (BECHARA, 2001, p. 47). 110 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Ressaltamos, ainda, que os limites do período são estabelecidos por pontuações finais (., !, ?,...). Assim, podemos verificar, antes, o número de orações e de períodos no exemplo a seguir. (1) Havia harmonia no ambiente. Os quadros estavam bem colocados, a mesa foi bem arrumada pela mulher e um perfume agradável dominava o ambiente. Podemos dizer que há dois períodos no parágrafo, e este é composto por quatro orações ao todo, sendo uma no primeiro período e três no segundo. Os períodos encontram‑se delimitados pelos pontos finais, enquanto as orações podem ser localizadas pelos verbos “havia”, “estavam”, “foi” e “dominava”. Esse é o método mais simples para se identificar períodos e orações. Quanto aos processos de coordenação (parataxe) ou subordinação (hipotaxe), em um texto podemos encontrá‑los mistos na organização dos parágrafos. Por isso, o que interessa é compreender como esses mecanismos funcionam, além de saber identificá‑los para a descrição linguística do texto. Vejamos um exemplo: Quando eu entrei no quarto /, abri a gaveta / e descobri / que o meu anel sumiu. Nesse período, que já se encontra segmentado pelas barras, vamos verificar a relação sintática entre as orações. Para efeito de descrição, chamemos de (a) a primeira, de (b) a segunda, (c) a terceira e (d) a quarta oração. Entre as orações (a) e (b), há uma relação de subordinação, em que a oração (b) é principal em relação à (a), e esta equivale a uma circunstância de tempo, então se classifica como subordinada adverbial. A oração (c) é coordenada em relação à (b), introduzida pela conjunção aditiva “e”, daí sua classificação em oração coordenada sindética (aditiva). Já a oração (d) corresponde a um sintagma que complementa a oração anterior, (c), e equivale ao objeto direto da oração anterior, portanto é uma oração subordinada substantiva. Isto posto, passaremos a tratar separadamente de cada tipo de processo de organização sintática – coordenação e subordinação – para efeitos didáticos de compreensão, lembrando que em um texto esses mecanismos diversificam‑se, havendo períodos, parágrafos em que ambos se encontram. 8 Períodos comPostos 8.1 Período composto por coordenação No período composto por coordenação, há uma independência entre as orações pelo fato de elas apresentarem‑se completas, isto é, terem todos os termos sintáticos previstos na relação predicativa (ao contrário das orações complexas ou período composto por subordinação). 111 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa Todavia, embora não aparente, a coordenação é um processo mais complexo, tendo em vista que muitas vezes envolve fatores semânticos e cognitivos. Analise, por exemplo, dois enunciados semelhantes: (2) Estudei bastante e fui aprovada. (3) Estudei bastante e fui reprovada. Temos dois exemplos que apresentam a mesma estrutura sintática. São duas orações, havendo na segunda um conector “e” como ligação entre cada uma delas. No entanto, observando‑as semanticamente, no exemplo (2), a segunda oração tem um valor positivo em relação à primeira, ao passo que no exemplo (3) a segunda tem valor negativo em relação à primeira. Para Bechara (2001), entretanto, essa conclusão não está no uso do conector “e”, que, do ponto de vista sintático, tem por função adicionar uma informação à outra. É esse o papel que exerce em ambos os exemplos, portanto podemos entender que essa conjunção (= conector) é aditiva. observação A gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que têm conjunção, pois esta recebe também o nome de síndeton, daí a denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação para as orações. De acordo com Bechara (2001), são três as relações estabelecidas pelas conjunções coordenativas (ou conectores): 1. Aditiva: adiciona orações. Exemplo: Entrou e sentou‑se no sofá. Em orações negativas, a conjunção “e” pode ser substituída por “nem”. Exemplo: João não comeu nem bebeu em casa. 2. Adversativa: contrapõe o conteúdo de uma oração em relação à outra. Exemplo: Procurei o meu brinco, mas não o encontrei. As conjunções adversativas mais comuns são “mas”, “porém”, “senão” (após conteúdo negativo). 3. Alternativa: contrapõe o conteúdo de uma oração ao de outra, com a ideia de exclusão de um em relação ao outro, ou seja, de escolha, de alternativa. Exemplo: 112 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Entra ou sai da porta. A gramática tradicional relaciona, ainda, orações coordenadas que apresentam conjunções conclusivas, explicativas e causais. Para Bechara (2001), entretanto, esses valores estabelecidos por essas conjunções têm semelhança com as orações subordinadas e encontram‑se no nível do sentido do texto, ultrapassando os limites de fronteira da oração. Assim como há orações coordenadas introduzidas por conjunções, há períodos em que elas se justapõem, ou seja, em que elas encontram‑se ligadas sem marcas linguísticas, apenas distintas pela pontuação. É o que a gramática tradicional denomina oração coordenada assindética (= sem conjunção). Esse procedimento de enlace das orações pode ser chamado de justaposição. Exemplificando: Dirigiu‑se à porta, abriu‑a, saiu. Ninguém na rua. Voltou para casa.8.2 Período composto por subordinação O período composto por subordinação é também visto como uma oração e/ou sintagma complexo, como define Perini (2005, p. 148): “Chamaremos sintagma complexo um sintagma que encerra, como um de seus constituintes imediatos ou mediatos, uma oração”. Se retomarmos o conceito de oração e seus constituintes que vimos no estudo do período simples, verificaremos que em um período desse tipo as orações que correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas representados por substantivos, adjetivos e advérbios. Nesse sentido, afirma Perini: Em princípio, um sintagma complexo pode ocupar as mesmas funções que um sintagma simples da mesma classe. (...) Assim, um SN simples pode ser sujeito, objeto direto etc., e um SN complexo pode desempenhar exatamente as mesmas funções (PERINI, 2005, p. 149). Assim, a partir dessa noção de sintagma, podemos relacionar os grupos de orações subordinadas às funções dos sintagmas que representam. As orações substantivas têm funções exercidas pelo sintagma nominal, as adjetivas, pelo sintagma adjetival e as adverbiais, pelo sintagma adverbial. A primeira classificação de uma oração subordinada refere‑se à função exercida por ela na oração principal. Se exercer função de um substantivo (sujeito, objeto, predicativo, complemento nominal, aposto, agente da passiva), será chamada de substantiva. Se exercer função de adjunto adnominal, será chamada de adjetiva. Se exercer a função de adjunto adverbial, será chamada de adverbial. 113 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa É com base nesse critério que veremos a classificação das orações subordinadas em cada grupo. saiba mais Leia os sermões de Padre Antonio Vieira e verifique o emprego de períodos longos, característico da época literária barroca. 8.2.1 Orações subordinadas substantivas Se a oração substantiva equivale a um sintagma nominal, ela exercerá a função que este teria na oração complexa (ou período composto por subordinação) em que se encontra. Por exemplo: (4) Esperamos que você venha. Ao dividirmos o período, temos a oração principal “Esperamos” e a subordinada “(que) você venha”. Se substituíssemos a oração por um sintagma nominal, poderíamos obter “Esperamos sua vinda”. Tornando‑se um período simples, neste poderíamos identificar seus elementos: sujeito oculto (nós); verbo transitivo direto – “esperamos”; objeto direto – “sua vinda”. O sintagma nominal que equivale à oração subordinada no período tem a função de objeto, por isso ela recebe a classificação de oração subordinada substantiva objetiva direta. A partir das funções que podem exercer o sintagma nominal, elaboramos, a seguir, um quadro para a classificação das orações subordinadas substantivas. Quadro 11 – Classificação das orações subordinadas substantivas Função Classificação Exemplo Sujeito Substantiva subjetiva É certo que eu irei. Objeto direto Substantiva objetiva direta Ela não viu que eu cheguei. Objeto indireto Substantiva objetiva indireta Eu necessito de que alguém me ajude. Complemento nominal Substantiva completiva nominal Tenho necessidade de que alguém me ajude. Predicativo Substantiva predicativa O fato foi que tudo terminou. Aposto Substantiva apositiva Tenho uma certeza: que tudo terminou bem. A fim de facilitar a classificação das orações subordinadas substantivas, apresentamos um método prático, proposto por alguns estudiosos da gramática. Trata‑se de substituir a oração subordinada pelo pronome “isso” e, a partir da substituição, observar que função assumiria em um período simples. Vejamos: 114 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 (5) Convém que você venha. Substituindo a oração subordinada: Convém isso. Se colocarmos a oração transformada na ordem direta (SVC), obtemos: Isso convém. Assim, observamos que a oração equivale a um sintagma que tem a função de sujeito da oração. Portanto, essa oração deve ser classificada como subordinada substantiva subjetiva. É importante ressaltar que as orações substantivas são introduzidas normalmente pela conjunção integrante “que”. Quando indica uma incerteza, um questionamento, o “que” pode ser substituído por “se”: Não sei se ela virá. Bechara chama essa conjunção integrante de “transpositor”: Na realidade essa conjunção não tem por missão precípua juntar duas orações – como fazem as conjunções coordenativas –, mas, tão somente, marcar o processo porque se transpôs uma unidade de camada superior (uma oração independente) para funcionar, numa camada inferior, como membro de outra oração. (...) Só haverá orações ou períodos compostos quando houver coordenação. Dizemos que esse “que” é um transpositor (BECHARA, 2001, p. 464). Daí também a preferência de Bechara, assim como a de Perini, por chamar de orações complexas orações que integram um período composto por subordinação. No caso das orações substantivas, o autor chama‑as de “orações complexas de transposição substantiva”. 8.2.1.1 Orações subordinadas substantivas subjetivas Exemplos: É sabido que o universo apresenta muitas galáxias. (É sabido isso). É claro que a tecnologia evolui rápido demais. (É claro isso). 115 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa Diz‑se que os políticos brasileiros são corruptos, mas há exceções. (Diz‑se isso). Convém que o candidato estude bastante para a prova. (Convém isso) É importante que todos contribuam para a festa. (É importante isso). lembrete Função sintática da oração substantiva subjetiva: sujeito. 8.2.1.2 Oração subordinada substantiva objetiva direta Exemplos: O professor deseja que os alunos fiquem em silêncio (O professor deseja isso). A pátria espera que todos colaborem. (A pátria espera isso) Espero que você venha à festa amanhã. (Espero isso). lembrete Função sintática da oração substantiva objetiva direta: objeto direto. 8.2.1.3 Oração subordinada substantiva objetiva indireta Exemplos: A sua convocação depende de que haja vagas. (A sua convocação depende disso). 116 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Necessito de que ele devolva meus livros. (Necessito disso). Insisto em que o trabalho seja feito depressa. (Insisto nisso). lembrete A função sintática da oração objetiva indireta é: objeto indireto. observação A preposição que introduz a objetiva indireta é exigida pelo verbo principal. 8.2.1.4 Oração subordinada substantiva predicativa Exemplos A verdade é que aqueles alunos estudam muito. (A verdade é essa). Sua resposta foi que nos retirássemos da sala. (Sua resposta foi essa). Os meus votos são que triunfes. (Os meus votos são esses). lembrete A função sintática da oração predicativa é: predicativo do sujeito. 8.2.1.5 Oração subordinada substantiva completiva nominal Exemplos: O professor tem confiança em que nós façamos a pesquisa. (O professor tem confiança nisso). 117 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa Tivemos a impressão de que a tempestade viria logo. (Tivemos a impressão disso). Paulo fez referência a que eu o acompanhasse. (Paulo fez referência a isso). lembrete A função sintática da oração completiva nominal é: complemento nominal. observação A preposição que introduza completiva nominal é exigida pelo nome que, na principal, pede complemento. 8.2.1.6 Oração subordinada substantiva apositiva Exemplos: Peço‑lhe um favor: que me guarde essa carta. (Peço‑lhe um favor: isso). Intrigava‑me um fato: ele nem tinha sido convidado. (Intrigava‑me um fato: isso). O pai disse‑lhe algo: estude, meu filho. (O pai disse‑lhe algo: isso). lembrete A função sintática da oração substantiva apositiva é: aposto. 8.2.2 Orações subordinadas adjetivas Seguindo o critério apresentado inicialmente de relacionar as orações subordinadas às funções exercidas pelos sintagmas que as representam, segundo propõe Sautchuk (2004), uma oração adjetiva tem a função que um sintagma adjetival teria em um período simples, as quais são de predicativo ou de adjunto adnominal. 118 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Para exemplificarmos, vamos iniciar por um período simples e depois faremos sua correspondência a um período composto. (6) O pedestre, muito tranquilo, atravessou a rua tumultuada. No exemplo (6), temos dois sintagmas de natureza adjetiva. O primeiro é um sintagma autônomo, “muito tranquilo”, e o segundo é um sintagma adjetival interno ao sintagma nominal, “a rua tumultuada”. Observemos que uma forma de diferenciar o predicativo do adjunto adnominal é essa característica de o sintagma ser autônomo ou interno. Ambos os sintagmas adjetivais têm a função de modificadores do substantivo, mas um constitui um sintagma independente e o outro se encontra dentro de outro sintagma. Essa característica diferenciadora assegura‑nos a classificação de predicativo do sujeito para o sintagma autônomo “muito tranquilo” e de adjunto adnominal para “tumultuada” no sintagma “a rua tumultuada”. Esse mesmo período poderia ser transformado em um período composto: O pedestre, que estava tranquilo, atravessou a rua que era tumultuada. Apesar da nova construção do período, manteve‑se seu sentido, e a classificação para as orações é de subordinada adjetiva explicativa para a primeira e de subordinada adjetiva restritiva para a segunda. A primeira oração, adjetiva explicativa, assim como o predicativo do sujeito, corresponde a um sintagma autônomo, de natureza adjetiva. Já a segunda, adjetiva restritiva, corresponde a um sintagma adjetival interno. Do ponto de vista semântico, como afirma Sautchuk: Tanto no período simples como no composto, o predicativo do sujeito e a oração adjetiva explicativa indicam um estado ou uma característica acidental do núcleo (...); o adjunto adnominal e a oração restritiva indicam uma característica intrínseca ao núcleo (SAUTCHUK, 2004, p. 123). Como o sintagma que corresponde ao predicativo é independente, autônomo, da mesma forma a oração adjetiva explicativa destaca‑se na oração pelo seu isolamento, e isso é marcado pela pontuação, como o uso de vírgulas, por exemplo. Já a oração adjetiva restritiva, como o sintagma equivalente (adjunto adnominal) não se apresenta isolada, ao contrário, está diretamente ligada a um núcleo substantivo. Por isso, não se coloca entre vírgulas (ou outro tipo de pontuação que a isole). 119 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa As orações explicativas são separadas da oração principal, na escrita, pelo uso da vírgula. Veja os exemplos a seguir: As casas que são novas podem ser vendidas. As casas, que são novas, devem ser desapropriadas. A primeira delas trata‑se de uma oração restritiva. Entende‑se que apenas algumas casas são novas. Já na segunda, que é explicativa, entende‑se que todas as casa são novas. Alguns gramáticos até denominam as orações adjetivas de relativas, pelo fato de elas serem introduzidas por um pronome relativo (que, quem, o(a) qual, os(as) quais, cujo(a), cujos(as), onde). O pronome relativo, por sua característica anafórica, ou seja, de retomada de um termo antecedente, exerce sempre uma função sintática na oração que introduz. (7) Encontrei o vídeo que procurava. No exemplo (7), “que” é o pronome relativo que introduz a oração adjetiva restritiva “que procurava”. Esse pronome pode, inclusive, ser substituído por “o qual”. Além disso, está retomando “o vídeo”, sintagma da oração anterior que tem a função de objeto direto. Então, se substituíssemos o pronome relativo pelo sintagma anterior, como se fosse um período simples, a oração ficaria assim: Procurava o vídeo. Nessa oração transformada, “o vídeo” complementa o verbo “procurava”, para o qual o sujeito está oculto (eu). Portanto, “que” na oração tem a função de objeto direto. saiba mais Verifique, em artigos jornalísticos, como se usam as orações adjetivas e explicativas para organizar as reflexões. 8.2.3 Orações subordinadas adverbiais As orações adverbiais, assim como os sintagmas adverbiais, têm a função de modificar o verbo, indicando‑lhe uma circunstância. Dessa forma, essas orações classificam‑se de acordo com a circunstância que indicarem em relação à oração principal. Por exemplo, se tivéssemos a seguinte oração: O cão dorme tranquilo. Poderíamos acrescentar‑lhe circunstâncias em forma de orações: 120 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 (8) Enquanto varro a sala, o cão dorme tranquilo. (9) O cão dorme tranquilo onde há uma cama. (10) O cão dorme tranquilo porque está cansado. (11) Apesar de ser dia, o cão dorme tranquilo. Observando cada exemplo, vejamos as circunstâncias que cada oração acrescentada (que forma com a principal um período composto) indica para classificá‑las. No exemplo (8), a oração “enquanto varro a sala” indica uma circunstância de tempo em relação à principal, por isso a sua classificação é de subordinada adverbial temporal. Da mesma forma, no exemplo (9), a oração “onde há uma cama” indica o local da ação da oração principal, daí sua classificação em subordinada adverbial locativa. Já no exemplo (10), a circunstância indicada pela oração subordinada é de causa em relação à informação da oração principal, por isso trata‑se de uma adverbial causal. Finalmente, no exemplo (11), há ideia de concessão (ou contradição na lógica) introduzida pela oração. Esta se classifica como oração subordinada adverbial concessiva. Assim, é a ideia circunstancial que determinará a classificação desse tipo de oração, como pudemos observar em cada exemplo. Essa ideia, se estivesse expressa em período simples, seria estabelecida pela relação sintática de um adjunto adverbial na oração. É por esse motivo que as orações desse grupo são denominadas adverbiais. Para facilitar a classificação, apresentamos, a seguir, um quadro referente aos tipos de oração subordinada adverbial, de acordo com a classificação de Abreu (2003). Quadro 12 – Orações subordinadas adverbiais Classificação Relação Exemplo Causal Exprime a causa, o motivo, a razão, relacionada à oração principal. Chegamos atrasados porque saímos tarde de casa. Condicional Exprime uma condição necessária para que se efetive a informação declarada na principal. Se eu estudasse, seria aprovado no concurso. Consecutiva Exprime o efeito, a consequência do que está expresso na principal. Falou tanto que perdeu a voz. Conformativa Exprime uma informação em conformidade com a que está expressa na principal. Fez o trabalho conforme o professor orientou. Temporal Exprime tempo em relação à informação expressa na principal. Assim que todos chegarem, avise‑me. 121 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe dalíngua portuguesa Classificação Relação Exemplo Comparativa Exprime o elemento com que se compara outro elemento da oração principal. A comparação pode ser de igualdade, superioridade ou inferioridade. a. Igualdade: Você é teimoso como sua irmã (é teimosa). b. Superioridade: Você fala mais que uma rádio (fala). c. Inferioridade: Esse garoto fez menos arte que aquele (fez). Concessiva Exprime um obstáculo, uma contradição em relação ao que se encontra declarado na principal. A concessão está na lógica. Não fui aprovado no vestibular, embora tenha alcançado boa nota. Final Exprime finalidade, intenção, objetivo em relação à oração principal. Esforçou‑se muito para que fosse promovido no trabalho. Proporcional Exprime uma informação que aumenta ou diminui na mesma proporção ao que se enuncia na oração principal. À medida que chovia, formavam‑se novos pontos de alagamento na cidade. Modal Exprime circunstância de modo em relação à informação expressa na principal. Saiu sem que desse nenhuma satisfação. Locativa Exprime lugar em relação ao que está expresso na oração principal. Normalmente é iniciada por “onde”, sem referência a antecedentes. Não há harmonia onde não existe amor. Adaptado de: ABREU, 2003. p. 141‑154. observação As orações modais e locativas não são reconhecidas pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). 8.2.3.1 Oração subordinada adverbial causal Veja alguns conectores que introduzem as orações causais: porque, pois, como, porquanto, por que, uma vez que, visto que, visto como, por isso que, já que. Exemplos: Como não estudou, foi reprovado. Não fui à festa, uma vez que choveu. lembrete Causal: exprime a causa, o motivo, a razão, relacionada à oração principal. 122 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 8.2.3.2 Oração subordinada adverbial condicional Veja alguns conectores que introduzem as orações condicionais: se, salvo se, exceto se, desde que, a menos que, a não ser que, caso. Exemplos: O passeio será realizado, a menos que surja um temporal. Se as pesquisas estiverem certas, o partido do governo será o vencedor. Caso você queira, encontraremo‑nos amanhã. lembrete Condicional: exprime uma condição necessária para que se efetive a informação declarada na principal. 8.2.3.3 Oração subordinada adverbial consecutiva Veja alguns conectores que introduzem as orações consecutivas: que, de forma que, de modo que, tanto que. Exemplos: Tal era sua valentia, que todos tinham medo dele. lembrete Consecutiva: exprime o efeito, a consequência do que está expresso na principal. 8.2.3.4 Oração subordinada adverbial conformativa Veja alguns conectores que introduzem as orações conformativas: segundo, conforme, como, consoante. Exemplos: Segundo pensava Platão, havia um mundo das ideias que era imutável. Conforme ele disse, deveremos iniciar o projeto amanhã. 123 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa lembrete Conformativa: exprime uma informação em conformidade com a que está expressa na principal. 8.2.3.5 Oração subordinada adverbial temporal Veja alguns conectores que introduzem orações temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, desde que, logo que, assim que, até que, cada vez que, todas as vezes que, agora que, sempre que, apenas. Exemplos: Quando você chegar, já teremos saído. Carlos chegou depois que você saiu. Conheço Maria desde que moro nesta cidade. lembrete Temporal: exprime tempo em relação na informação expressa na oração principal. 8.2.3.6 Oração subordinada adverbial comparativa a) Comparativa de igualdade Veja alguns conectores que introduzem as orações comparativas de igualdade: como, tal como, tal qual, assim como. Exemplos: Aquela menina é linda como (assim como) uma flor. b) Comparativa de inferioridade Veja alguns conectores que introduzem as orações comparativas de inferioridade: que, do que, em correlação, na oração principal, com as palavras menos ou menor: Exemplos: 124 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 A festa durou menos do que os organizadores prometeram. A economia do país cresceu menos do que seria desejável. c) Comparativa de superioridade Veja alguns conectores que introduzem as orações adverbiais comparativas de superioridade: que, do que, em correlação, na oração principal, com a palavra mais ou maior. Exemplos: Carlos é mais preparado para ocupar o cargo que André. Aquela casa é mais bonita do que a minha. lembrete Comparativas: equivalem a um adjunto adverbial de comparação. Apresentam‑se sempre em orações desenvolvidas. Podem exprimir igualdade, superioridade ou inferioridade. 8.2.3.7 Oração subordinada adverbial concessiva Veja alguns conectores que introduzem as orações adverbiais concessivas: embora, ainda que, ainda quando, mesmo que, conquanto, se bem que, posto que, sem que, apesar de que. Exemplos: Por mais que ele tenha melhorado, tem muita dificuldade em matemática. Mesmo que chova, viajaremos amanhã. lembrete Concessivas: apresentam um obstáculo à execução da ação da oração principal. 8.2.3.8 Oração subordinada adverbial final Veja alguns conectores que introduzem as orações adverbiais finais: que, para que, a fim de que. Exemplos: Faremos várias reuniões para que (a fim de que) o projeto se desenvolva bem. 125 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa lembrete Final: exprime finalidade em relação à ideia apresentada na oração principal. 8.2.3.9 Oração subordinada adverbial proporcional Veja alguns conectores que introduzem as orações proporcionais: à proporção que, à medida que. Exemplos: Ele se cansava, à medida que (à proporção que) andava. lembrete Proporcional: exprime uma informação que aumenta ou diminui na mesma proporção que se enuncia na oração principal. 8.2.3.10 Oração subordinada adverbial modal Veja alguns conectores que introduzem as orações adverbiais modais: sem que, como. Exemplo: Não se pode viver sem que se sinta dor. lembrete Modal: exprime o modo, a maneira pelo qual acontece algo contido na oração principal. 8.2.3.11 Oração subordinada adverbial locativa As orações locativas são equivalentes a um adjunto adverbial de lugar. Veja o conector que introduz as orações adverbiais locativas: onde. 8.2.4 Orações reduzidas Chamamos a atenção, ainda, para o fato de que as orações subordinadas podem ocorrer no período sob a forma reduzida. O que significa isso? 126 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Vimos que há sempre um conectivo introduzindo as orações, tornando‑se, inclusive, uma característica importante para identificarmos esse tipo de oração. No entanto, em períodos mais extensos, essas orações podem apresentar‑se sem o conectivo, apenas com verbos na forma nominal, isto é, nas formas do infinitivo, gerúndio ou particípio. Observe a diferença nos exemplos seguintes. (12) Quando completar a ligação, avise‑me. (13) Completada a ligação, avise‑me. No exemplo (12), a oração subordinada é introduzida por “quando” e o verbo encontra‑se no futuro do subjuntivo, “completar”. Trata‑se de uma oração desenvolvida nesse caso. Já no exemplo (13), não há nenhum conectivo ligando a oração subordinada à principal, além deo verbo encontrar‑se na forma particípio, “completada”. Nesse caso, a classificação da oração subordinada passa a ser adverbial temporal reduzida de particípio. Veja mais alguns exemplos de orações subordinadas substantivas reduzidas. Convém observar sempre a cor das hortaliças. (subjetiva) Oração desenvolvida: Convém que se observe sempre a cor das hortaliças. Tive a sensação de estar sendo seguido. (completiva nominal) Oração desenvolvida: Tive a sensação de que estava sendo seguido. Mais um exemplo Veja alguns exemplos de subordinadas adjetivas reduzidas Havia um cliente reclamando do atendimento. (restritiva) Oração desenvolvida: Havia um cliente que reclamava do atendimento. Os produtos a serem exportados deverão pagar menos impostos. Oração desenvolvida: Os produtos que vão ser exportados deverão pagar menos impostos. Veja um exemplo de oração subordinada adverbial reduzida: Comprando a prazo, não se esqueça de verificar a taxa de juros. (condicional) Oração desenvolvida: se comprar a prazo, não se esqueça de verificar a taxa de juros. Se retomarmos o conceito de oração e seus constituintes que vimos no estudo do período simples, verificaremos que em um período desse tipo as orações que correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas representados por substantivos, adjetivos e advérbios. 127 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa Geralmente as orações reduzidas de particípio e de gerúndio têm a função de adjetivas ou adverbiais, ao passo que é mais comum encontrarmos o infinitivo em orações subordinadas substantivas. Portanto, quando houver esse tipo de construção, ou seja, orações subordinadas com verbos na forma reduzida (de infinitivo, gerúndio ou particípio), devemos transformá‑las na forma desenvolvida para podermos classificar a oração, conforme exemplo a seguir: (14) É necessário contar a verdade. É necessário que conte a verdade. A oração subordinada “que conte a verdade” é substantiva subjetiva, reduzida de infinitivo no primeiro período. resumo Hierarquia gramatical: vai do menor para o maior elemento, varia do morfema ao texto (morfema – palavra – sintagma – oração/período – texto). Período simples: formado por apenas uma oração. Período composto: formado por duas ou mais orações. Pode ser articulado por dois processos: a coordenação e a subordinação. Período composto por coordenação ou parataxe: as orações têm uma equivalência, isto é, há um paralelismo e não há uma hierarquia das orações que compõem o período. No período composto por coordenação, há uma independência entre as orações pelo fato de elas apresentarem‑se completas. Orações coordenadas assindéticas: não apresentam conjunção. Orações coordenadas sindéticas: apresentam conjunção. 1. Aditiva: adiciona orações. 2. Adversativa: contrapõe o conteúdo de uma oração em relação à outra. 3. Alternativa: contrapõe o conteúdo de uma oração ao de outra, com a ideia de exclusão de um em relação ao outro. 128 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Período composto por subordinação: as orações que correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas representados por substantivos, adjetivos e advérbios. Podemos relacionar os grupos de orações subordinadas às funções dos sintagmas que representam. Orações subordinadas substantivas: têm funções exercidas pelo sintagma nominal. Se a oração substantiva equivale a um sintagma nominal, ela exercerá a função que este teria na oração complexa (ou período composto por subordinação) em que se encontra. Um método prático para reconhecer a oração substantiva é substituir a oração subordinada pelo pronome “isso”. 1. Subjetiva: exerce função de sujeito. 2. Objetiva direta: exerce função de objeto direto. 3. Objetiva indireta: exerce função de objeto indireto. 4. Completiva nominal: exerce função de complemento nominal. 5. Oração predicativa: exerce função de predicativo. 6. Oração apositiva: exerce função de aposto. Orações subordinadas adjetivas: têm funções exercidas pelo sintagma adjetival. Tem a função que um sintagma adjetival teria em um período simples: predicativo ou de adjunto adnominal. 1. Explicativa: sintagma autônomo. Destaca‑se na oração por seu isolamento, marcado pela pontuação, como o uso de vírgulas. 2. Restritiva: não se apresenta isolada. Está diretamente ligada a um núcleo substantivo e, por isso, não se coloca entre vírgulas ou outro tipo de pontuação. Orações subordinadas adverbiais: têm funções exercidas pelo sintagma adverbial. Têm a função de modificar o verbo, indicando‑lhe uma circunstância. É a ideia circunstancial que determinará a classificação desse tipo de oração. Essa ideia, se estivesse expressa em período simples, seria estabelecida pela relação sintática de um adjunto adverbial. 1. Causal: exprime a razão relacionada à oração principal. 2. Condicional: exprime uma condição para que seja realizado algo que é declarado na oração principal. 129 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa 3. Consecutiva: exprime a consequência do que está declarado na oração principal. 4. Conformativa: exprime algo em acordo com o que está expresso na oração principal. 5. Temporal: exprime tempo em relação ao que está declarado na oração principal. 6. Comparativa: exprime o elemento com que se compara a algo da oração principal. 7. Concessiva: exprime um obstáculo em relação ao que está declarado na oração principal. 8. Final: exprime um objetivo em relação à oração principal. 9. Proporcional: exprime uma informação que diminui ou aumenta em relação ao que se enuncia na oração principal. 10. Modal: exprime circunstância de modo em relação à oração principal. 11. Locativa: exprime lugar em relação à oração principal. Orações subordinadas reduzidas: em períodos mais extensos, as orações podem apresentar‑se sem o conectivo, apenas com verbos na forma nominal, isto é, nas formas do infinitivo, gerúndio ou particípio. exercícios Questão 1. Na oração “A lua deitava‑se pelo mundo. Era um mar de leite por cima das coisas”, o segundo período estabelece com o primeiro uma relação de: A) Contraste. B) Comparação. C) Conclusão. D) Condição. E) Explicação. 130 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 RESPOSTA Alternativa correta: E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: A relação entre o segundo período “Era um mar de leite por cima das coisas” e o primeiro “A lua deitava‑se pelo mundo” não é de contraste. B) Alternativa incorreta. Justificativa: A relação entre o segundo período “Era um mar de leite por cima das coisas” e o primeiro “A lua deitava‑se pelo mundo” não é de comparação. C) Alternativa incorreta. Justificativa: A relação entre o segundo período “Era um mar de leite por cima das coisas” e o primeiro “A lua deitava‑se pelo mundo” não é de conclusão. D) Alternativa incorreta. Justificativa: A relação entre o segundo período “Era um mar de leite por cima das coisas” e o primeiro “A lua deitava‑se pelo mundo” não é de condição. E) Alternativa correta Justificativa: A relação entre o segundo período “Era um mar de leite por cima das coisas” e o primeiro “A lua deitava‑se pelo mundo” é de explicação. A segunda parte da oração explica o efeito causado pela lua ao deitar‑se pelo mundo. 131 Re vi sã o: J an andr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa Questão 2. Leia o texto: O prazer da vitória Todos nós sabemos bem o que é sentir vontade de vencer. É um instinto que ao longo de milhões de anos tem ajudado a manter viva a espécie humana. Mas você já parou para se perguntar por que é tão bom sair ganhando? E por que perder é tão ruim? Por que o gosto da derrota é tão amargo? A partir de hoje, e durante todo o mês de março, a série “Instinto Humano” vai tentar responder a essas perguntas. No mundo inteiro, desde o início dos tempos, estamos sempre lutando para evoluir. A vontade de vencer, evitando a derrota a qualquer custo, é um dos aspectos mais extraordinários da cultura humana. Essa característica é algo que surgiu cerca de 3 milhões de anos atrás, nas savanas da África. Foi lá que os nossos ancestrais deram seus primeiros passos. (...) Uma substância chamada dopamina toma conta de nossos cérebros, dando‑nos uma profunda sensação de bem‑estar. Em seguida, as endorfinas entram em cena. Elas são substâncias naturais capazes de anestesiar a dor do combate e aliviar a exaustão. Com a combinação das duas, sentimo‑nos eufóricos, é um barato natural. As endorfinas têm um efeito tão poderoso que mesmo se o boxeador tiver quebrado uma costela, ele nem vai sentir nada ali, no calor da luta. As endorfinas impedem que os sinais de dor cheguem ao cérebro. A adrenalina produzida pelas glândulas adrenais, junto aos rins, e a testosterona, o hormônio masculino, também fazem parte desse coquetel de drogas naturais: são elas que nos dão força para lutar com plena capacidade cardiovascular. A liberação de todas essas substâncias químicas nos nossos cérebros em momentos de vitória não deixa dúvidas: nossos corpos foram feitos para sentir o profundo prazer da conquista. (...) Para os nossos ancestrais que viviam nas savanas, perder uma batalha era fatal. Por isso, nos dias de hoje, temos esse luxo que é escolher os nossos adversários. Competir, apenas quando a chance de vencer é grande e evitar o conflito quando necessário. Mas na vida, se um rival parece maior, mais forte, maior, ou mais rápido, a gente às vezes é obrigado admitir que perdeu. Mas também tem aqueles momentos em que a gente sabe que não tem para ninguém, que a vitória é nossa e ninguém tasca. Geralmente acontece quando sabemos quem é o nosso adversário. Que pode ser um colega de trabalho, um vizinho, ou amigo. É um comportamento que evoluiu ao longo dos tempos. Nossos ancestrais das savanas aprenderam rapidinho a não entrar em briga que não dá para ganhar. Disponível em <http://procurase.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL694468‑15607,00.html> Acesso em 25 out. 2011. 132 Unidade IV Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Assinale a alternativa possível acerca do conector em destaque no fragmento abaixo retirado do texto: Por isso, nos dias de hoje, temos esse luxo que é escolher os nossos adversários. A) Estabelece uma relação de caráter adversativo para a afirmação anterior. B) Pode ser substituída por porque sem causar alteração semântica. C) Estabelece uma relação de caráter conclusivo em relação à afirmação anterior. D) Foi mal empregado, pois não estabelece a relação semântica pretendida. E) Caracteriza uma relação de temporalidade entre as passagens ligadas por ele. Resolução desta questão na Plataforma. 133 Re vi sã o: J an an dr éa – D ia gr am aç ão : E ve rt on – 1 9/ 12 /1 1 Morfossintaxe da língua portuguesa REFERêNCIAS Textuais ABREU, A. S. Gramática mínima: para o domínio da língua padrão. Cotia: Ateliê Editorial, 2003. ALVES, I. M. Neologismo: criação lexical. 2. ed. São Paulo, Ática, 1994. ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. ______. Nova reunião I e II. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. ______. Histórias para o rei. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. ______. A vida passada a limpo. Rio de Janeiro: Record, 2002. ANDRADE, O. Manifesto da Poesia Pau‑Brasil. In: _______. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA. Sobre a vírgula. Disponível em: <http://www.usinadeletras. com.br/exibelotexto.php?cod=50196&cat=Artigos&vinda=S>. Acesso em: 09 dez. 2011. AZEREDO, J. C. 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