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OAB DIR CONS AULAS 01 A 06

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OAB 1ª FASE XVII EXAME 
Direito Civil 
Cristiano Sobral 
1 
DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O direito das obrigações é o ramo do Direito 
Civil que se ocupa em estudar a relação 
jurídica que existe entre devedor e credor, 
onde este pode exigir daquele o cumprimento 
de uma prestação, 
que pode consistir em um dar, um fazer ou um 
não fazer. 
 
A obrigação tem, portanto, três elementos: 
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo 
jurídico é a ligação que existe entre o devedor 
e o credor, que é composta por dois 
elementos: débito e responsabilidade. 
Significa que há duas questões ligando 
devedor e credor: a existência de uma dívida 
(débito) e a possibilidade de cobrança judicial 
em caso de inadimplemento 
(responsabilidade). 
Tema importante diz respeito à obrigação 
natural. É a obrigação em que o vínculo 
jurídico é formado apenas pelo débito, não 
existindo responsabilidade. Existe uma dívida, 
mas, se não for cumprida a prestação, o credor 
não tem o poder de exigi-la judicialmente. 
No entanto, se adimplida espontaneamente ou 
até mesmo por engano, não se pode exigir 
devolução, pois o débito existe (art. 882 do 
CC). É o que chamamos de soluti retentio 
(retenção de pagamento). Exemplo de 
obrigação natural: dívida de jogo ou aposta. 
A obrigação propter rem (em razão da coisa), 
como o nome sinaliza, é direito obrigacional 
(confrontando devedor e credor) e não direito 
real. Todavia, tem uma especificidade: é a 
obrigação que surge em razão da aquisição de 
um direito real. Ao se adquirir um direito real, 
seu titular adquire algumas obrigações de 
devedor perante credor. 
Exemplos: obrigação de pagar condomínio 
quando se adquire o direito de propriedade de 
um apartamento ou o dever que o proprietário 
tem de indenizar o possuidor que realiza 
benfeitorias em seu imóvel, nos termos 
destacados em direitos reais neste livro. 
 
Como a obrigação propter rem surge por força 
da titularidade de um direito real, acompanha 
o bem se houver transferência dele, ou seja, o 
novo titular do direito real a assume. Exemplo: 
quem compra um apartamento assume as 
obrigações de pagar condomínio, até mesmo 
aquelas que estejam em atraso. 
 
Cuidado: a obrigação propter rem não se 
consubstancia apenas no pagamento de valor 
pecuniário. Deve ser uma obrigação 
devedor/credor, mas esta pode ser 
consubstanciada em um dar (dinheiro ou 
qualquer bem), um fazer ou um não fazer. 
Assim sendo, o respeito às limitações dos 
direitos de vizinhança são obrigações propter 
rem, pois consistem em obrigações de não 
fazer do proprietário para respeito a direito de 
vizinhos. 
 
2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES 
 
As modalidades de obrigações decorrem de 
dois tipos de classificações: básica e especial. 
Em uma classificação básica, a depender da 
natureza da prestação, a obrigação pode ser 
de três tipos: obrigação de dar, obrigação de 
fazer e obrigação de não fazer. 
Em uma classificação especial, o CC trata de 
mais três tipos de modalidades: obrigação 
alternativa, obrigação divisível ou indivisível e 
obrigação solidária. 
2.1. Obrigação de dar 
 
A obrigação de dar é aquela em que a 
prestação do devedor consiste na entrega de 
um bem. A obrigação de dar pode ser de dois 
tipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. Na 
obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a 
prestação de entregar um bem específico. 
Por exemplo, quando alguém vende o cavalo 
campeão de sua fazenda. Já a obrigação de 
dar coisa incerta é aquela em que o devedor 
assume a obrigação de dar um gênero em 
certa quantidade - por exemplo, quando 
alguém vende três cavalos de sua fazenda. 
2.1.1. Obrigação de dar coisa certa 
 
É a obrigação de dar um bem específico, não 
servindo outro de mesma espécie, como 
quando uma pessoa vende o cavalo campeão 
de sua fazenda. Na verdade, há dois tipos de 
obrigação de dar coisa certa: dar e restituir. 
A razão é que quando tenho a obrigação de 
devolver um bem que recebi, não posso impor 
a entrega de outro de mesma espécie. 
Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa 
 
 
 
 
 
 
 
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Direito Civil 
Cristiano Sobral 
2 
tanto quando tenho que entregar um cavalo 
que vendi quanto quando tenho que devolver 
um cavalo que me foi emprestado. 
 
O tema vem previsto entre os arts. 233 e 242 
do CC, onde um único tema é tratado: perda 
ou deterioração do bem depois que assumo a 
obrigação de dar, mas antes da efetiva 
entrega. Como é obrigação de dar coisa certa, 
não sendo possível a entrega de outro bem 
equivalente, qual é a consequência? Quem 
suporta o prejuízo? 
É isso que a prova exigirá de você saber e as 
possibilidades são muitas, pois pode ser com 
culpa ou sem culpa do devedor, pode ser um 
dar ou um restituir, pode ser perda ou 
deterioração ou até mesmo uma melhora no 
bem. 
 
Questão recorrente em certames, apresento 
um macete para que você, caro leitor, conheça 
todos os casos previstos nos citados artigos. 
Basta conhecer uma regra básica, à qual 
somamos duas regras acessórias lógicas: 
 
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa na 
perda do bem, a regra sempre será a mesma: 
deverá pagar ao credor o equivalente 
acrescido de perdas e danos. Se o devedor 
não teve culpa na perda do bem, a regra será 
sempre a mesma: res perit domino (a coisa 
perece para o dono), será dele o prejuízo. E 
quem é o dono? Depende se a obrigação é de 
dar ou de restituir. 
Na obrigação de dar, antes da entrega o dono 
é o devedor, pois a aquisição da propriedade 
só se dá com a entrega do bem. Na obrigação 
de restituir, o dono é o credor, pois ele sempre 
foi o dono, uma vez só ter emprestado para o 
devedor. 
 
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de perda, 
houver apenas deterioração do bem, a 
solução é a mesma, mas com uma diferença: 
ele poderá optar entre a solução da perda 
supramencionada ou receber o bem 
deteriorado, abatendo-se o valor da 
deterioração. 
 
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece 
para o dono, a coisa também melhora para o 
dono, ou seja, se, ao invés da perda ou 
deterioração, houver uma melhora no bem 
antes da entrega, quem dela se beneficiará 
será o dono. 
 
Vamos analisar, com base no macete 
apresentado, as regras dos arts. 234 a 242 do 
CC. Qual a consequência da perda, 
deterioração ou melhora do bem antes da 
tradição, no caso da prestação de dar e no 
caso da prestação de restituir? 
a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa 
do devedor (art. 234): Devedor de um carro por 
tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega 
o destrói porque provoca um acidente com 
perda total do carro por dirigir embriagado. 
Será devedor no equivalente (devolve o valor 
recebido ou não o recebe) acrescido de perdas 
e danos. 
 
b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa 
do devedor (art. 234): Devedor de um carro por 
tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega 
o carro cai em uma ribanceira por ser levado 
pela correnteza da inundação provocada por 
violenta tempestade. Consequência: resolve-
se a obrigação, o que significa desfazer o 
negócio. Veja que o dono (devedor do carro) 
sofreu a perda, pois ficou sem o carro e sem o 
dinheiro. 
 
c) Prestação de dar, deterioração do bem, com 
culpa do devedor (art. 236): Devedor de um 
carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes da 
entrega o amassa ao bater por dirigir 
embriagado. O credor poderá escolher entre 
receber o equivalente mais perdas e danos ou 
aceitar o bem no estado em que se acha 
acrescido de perdas e danos, incluindo o 
abatimento do valor em razão da deterioração. 
d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem 
culpa do devedor (art. 235): Devedor de um 
carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes da 
entrega o carro é amassado por bater em um 
poste ao serlevado pela correnteza da 
inundação provocada por violenta tempestade. 
Consequência: credor poderá optar em 
resolver a obrigação (desfazer o negócio) ou 
aceitar o carro amassado, abatendo do seu 
preço o valor perdido pela deterioração. Note 
que é o dono (devedor do carro) que sofre a 
perda, pois ficou sem dinheiro e com o carro 
amassado ou sem o carro pagando pela 
deterioração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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e) Prestação de dar, melhora do bem (art. 
237): Devedor de uma fazenda por tê-la 
vendido ao credor, mas antes da entrega o 
bem se valoriza em razão do acréscimo de 
terra trazido pela correnteza das águas 
(fenômeno chamado de avulsão). O vendedor 
poderá pedir aumento de preço, pois é o dono 
e ele se beneficia com a vantagem. 
Se o comprador não aceitar pagar o 
acréscimo, poderá o vendedor resolver a 
obrigação, ou seja, desfazer a venda. E se, ao 
invés de melhoramento ou acrescido, o bem 
deu frutos? Os frutos percebidos ou colhidos 
antes da tradição são do devedor, pois ele 
ainda é dono do bem, mas se pendente 
quando da tradição, será do credor, pois o bem 
acessório segue a sorte do bem principal. 
Assim, se o devedor vende uma cadela para 
entregar tempo depois e antes da entrega fica 
prenha, se na época da entrega o filhote já 
nasceu será do vendedor, mas se estiver na 
barriga da cadela na época da entrega, será do 
comprador. 
 
f) Prestação de restituir, perda do bem, com 
culpa do devedor (art. 239): Devedor de um 
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, 
mas antes da entrega o destrói porque provoca 
um acidente de perda total do carro por dirigir 
embriagado. Será devedor no equivalente 
(indeniza o valor do carro) acrescido de perdas 
e danos. 
 
g) Prestação de restituir, perda do bem, sem 
culpa do devedor (art. 238): Devedor de um 
carro por tê-lo em empréstimo do credor, mas 
antes da entrega o carro cai em ribanceira 
levado pela correnteza da inundação 
provocada por tempestade. O dono é o credor 
e ele sofre a perda, ou seja, o devedor não terá 
que indenizá-lo da perda do carro. 
 
h) Prestação de restituir, deterioração do bem, 
com culpa do devedor (art. 240): Devedor de 
um carro por tê-lo recebido emprestado do 
credor, mas antes da entrega o amassa ao 
bater por dirigir embriagado. O credor poderá 
escolher entre receber o equivalente mais 
perdas e danos ou aceitar o bem no estado em 
que se acha acrescido de perdas e danos, 
incluindo o abatimento do valor em razão da 
deterioração. 
 
i) Prestação de restituir, deterioração do bem, 
sem culpa do devedor (art. 240): Devedor de 
um carro por tê-lo recebido emprestado do 
credor, mas antes da entrega o carro é 
amassado por bater em um poste ao ser 
levado pela correnteza da inundação 
provocada por violenta tempestade. O dono é 
o credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz que 
ele receberá o bem deteriorado sem direito de 
indenização. 
 
j) Prestação de restituir, melhora do bem (art. 
241 e 242): Devedor de uma fazenda por tê-la 
recebida emprestada do credor, mas antes da 
entrega o bem se valoriza em razão do 
acréscimo de terra trazido pela correnteza das 
águas (fenômeno chamado de avulsão). Por 
evidente, será do credor o ganho, pois ele é o 
dono do bem, recebendo-o de volta valorizado, 
desobrigado de indenizar. 
Se para o melhoramento ou acréscimo houve 
trabalho do devedor, é benfeitoria, razão pela 
qual o art. 242 do CC determina aplicar as 
regras do direito de indenização que o 
possuidor de boa-fé e de má-fé tem em razão 
das benfeitorias que faz no bem (sobre isso, 
ver o capítulo próprio na parte de direitos reais 
neste livro, quando da abordagem dos efeitos 
da posse). 
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta 
 
É a obrigação de dar um gênero em certa 
quantidade, como na venda de três cavalos de 
uma fazenda. Em dado momento, os bens a 
serem entregues deverão ser escolhidos, o 
que chamamos de concentração da prestação. 
A quem cabe a escolha? A quem definido no 
contrato. 
Se nada for dito, a escolha caberá ao devedor, 
que não poderá escolher o pior nem ser 
obrigado a escolher o melhor. 
 
Feita a escolha, a obrigação de dar coisa 
incerta se transforma em obrigação de dar 
coisa certa, aplicando-se as regras que lhe são 
próprias. 
No entanto, se antes da escolha o bem se 
perder ou se deteriorar, mesmo que por caso 
fortuito ou motivo de força maior, o devedor 
não se exime de cumprir a prestação, pois o 
gênero não perece, podendo o bem ser 
substituído por outro da mesma espécie para 
ser entregue ao credor. 
 
 
 
 
 
 
 
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2.2. Obrigação de fazer 
 
A obrigação de fazer é aquela em que a 
prestação do devedor consiste na realização 
de uma atividade, como na contratação da 
prestação de um serviço. A obrigação de fazer 
pode ser de dois tipos: personalíssima 
(infungível) ou não personalíssima (fungível). 
Será personalíssima quando só o devedor 
puder cumprir a prestação, como na 
contratação de um pintor famoso para pintura 
do retrato do credor em um quadro. Será não 
personalíssima quando não só o devedor, mas 
outra pessoa também puder cumprir a 
prestação, como a contratação de um pintor 
para pintura das paredes de uma casa. 
 
Por que diferenciar? Se for obrigação 
personalíssima e o devedor se recusa a 
cumpri-la ou por sua culpa se tornou 
impossível, responde por perdas e danos. Se 
for obrigação não personalíssima, poderá o 
credor optar em reclamar indenização por 
perdas e danos ou mandar executar às custas 
do devedor. 
Como isso é feito? Ajuizamento de ação com 
orçamento do serviço, pedindo condenação do 
devedor do fazer a pagar. Todavia, se for 
urgente, poderá o credor mandar executar o 
fato independente de prévia autorização 
judicial, buscando em juízo depois o 
ressarcimento do que foi gasto. 
 
As obrigações de fazer podem ser 
classificadas em obrigação de meio e de 
resultado ou de fim. Nas obrigações de 
resultado, o devedor se vincula a atingir 
determinado resultado, sob pena de 
inadimplemento e, consequentemente, dever 
de indenizar perdas e danos. 
Já na obrigação de meio, o devedor não se 
vincula a atingir determinado resultado, mas 
sim a corresponder no meio para atingi-lo, ou 
seja, a empregar a diligência na busca do 
resultado. Não responde se o resultado não for 
atingido, apenas se não empregou a diligência 
necessária. 
Um advogado ou um médico tem obrigação de 
meio, enquanto que, segundo a jurisprudência 
do STJ, o cirurgião plástico, embora seja um 
médico, tem obrigação de resultado, quando 
se tratar de intervenção meramente estética ou 
embelezadora. 
2.3. Obrigação de não fazer 
 
A obrigação de não fazer é uma obrigação a 
uma abstenção, por exemplo, não levantar um 
muro divisório. Se o devedor descumprir a 
obrigação, fazendo o que se obrigou a não 
fazer, deverá indenizar o credor em perdas e 
danos? 
Nem sempre, pois às vezes se tornou 
impossível, sem culpa do devedor, abster-se 
do ato. Nesse caso, apenas se resolve a 
obrigação (volta ao estado anterior do 
negócio), não tendo que indenizar perdas e 
danos. Exemplo: a pessoa se viu obrigada a 
levantar o muro para impedir que a água 
invadisse sua casa. 
Se, porém, simplesmente decidiu fazer o que 
se obrigara a não fazer, será condenado a 
indenizar perdas e danos e, se o fizer, consistir 
em uma obra, poderá o credor pedir 
judicialmente para desfazê-la. Se for urgente, 
poderá mandar desfazer independente de 
autorização judicial, buscando em juízo o 
ressarcimento. 
2.4. Obrigações alternativas 
 
A obrigação alternativa é aquela que 
compreende duas ou mais prestações, mas se 
extingue com a realizaçãode apenas uma 
delas. Exemplo: obrigação de dar um carro ou 
uma moto. 
A quem cabe a escolha de que prestação 
cumprir? Em regra ao devedor, pois a 
obrigação se extingue com ele cumprindo uma 
ou outra prestação. Todavia, o contrato pode 
prever que a escolha cabe ao credor. É o que 
diz o art. 252 do CC, que completa: não pode 
o devedor obrigar o credor a receber parte em 
uma prestação e parte em outra. 
 
Importante: o que ocorre quando uma ou todas 
as prestações não puderem ser cumpridas? A 
resposta irá variar se a escolha cabia ao 
devedor ou ao credor. 
 
a) Impossibilidade de uma das prestações: Se 
a escolha couber ao devedor, subsiste a 
obrigação com a outra prestação (art. 253 do 
CC). 
Mesma solução, se a escolha couber ao credor 
e a impossibilidade se deu sem culpa do 
 
 
 
 
 
 
 
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devedor. Todavia, se por culpa dele, o credor 
poderá exigir a prestação subsistente ou o 
valor em dinheiro da prestação impossibilitada, 
acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC). 
Exemplo: devedor de um carro ou uma moto 
destrói a moto ao dirigir embriagado. 
Consequência: se a escolha cabe ao devedor, 
obrigação simples de dar o carro; se cabe ao 
credor, pode cobrar o carro ou o valor em 
dinheiro da moto mais perdas e danos. Se a 
moto foi destruída acidentalmente, mesmo 
cabendo a escolha ao credor, obrigação 
simples de dar o carro. 
 
b) Impossibilidade de ambas as prestações: 
Se a escolha couber ao devedor e este tiver 
culpa, ficará obrigado a pagar o valor da 
prestação que se impossibilitou por último, 
acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC). 
Se a escolha couber ao credor e o devedor 
culpado, poderá reclamar o valor de qualquer 
uma delas acrescido de perdas e danos (art. 
255 do CC, in fine). 
No entanto, se ambas as prestações tornaram-
se impossível sem culpa do devedor, 
independe de quem cabe a escolha: extinta 
estará a obrigação, ou seja, desfeito o negócio 
jurídico (art. 256 do CC). 
2.5. Obrigações divisíveis e indivisíveis 
 
Obrigação divisível é aquela em que pode ser 
fracionado o objeto da prestação, o que não é 
possível na obrigação indivisível. Como 
exemplo, a obrigação de dar dinheiro é 
obrigação divisível e a obrigação de dar um 
cavalo é obrigação indivisível. 
 
Só há importância em determinar o tipo de 
obrigação quando houver pluralidade de 
devedores e/ou credores. Sendo obrigação 
divisível, não há problema, pois cada um cobra 
ou é cobrado em sua parte (se não for 
determinada a parte que cabe a cada um, 
presume-se dividida em partes iguais). 
Entretanto, sendo obrigação indivisível, como 
cada um cobrará ou será cobrado em sua 
parte, já que o objeto não pode ser dividido? 
 
Havendo mais de um devedor em obrigação 
indivisível, cada um responde por toda a 
dívida, pois não há como fracionar a cobrança. 
Agora, aquele que pagar a dívida, sub-roga-se 
nos direitos do credor perante os demais 
coobrigados (art. 259 do CC). Exemplo: se 
duas pessoas devem um cavalo, qualquer um 
deles pode ser cobrado, mas quem pagar 
poderá cobrar do outro, em dinheiro, metade 
do valor do animal. 
 
Havendo mais de um credor em obrigação 
indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a 
dívida por inteiro, tornando-se devedor perante 
os demais credores nas suas respectivas 
partes em dinheiro (art. 261 do CC). 
 
2.6. Obrigações solidárias 
 
Na pluralidade de credores ou devedores em 
obrigação indivisível, todos são obrigados ou 
têm direito a toda dívida por ser fisicamente 
impossível dividir o objeto da prestação. 
Todavia, é possível haver obrigação divisível 
em que todos são obrigados ou têm direito a 
toda a dívida por determinação da lei ou da 
vontade das partes: é a obrigação solidária. 
 
Imagine dois amigos devendo vinte mil reais a 
um credor. 
Em tese, cada um deve dez mil reais, mas, se 
for obrigação solidária, o credor pode cobrar 
toda a dívida de qualquer deles (quem paga se 
sub-roga nos direitos do credor perante os 
demais devedores). 
Por outro lado, se um devedor deve vinte mil 
reais a dois amigos, em tese, deve dez mil 
reais para cada um deles, mas, se for 
obrigação solidária, qualquer dos credores 
pode cobrar toda a dívida (quem recebe se 
torna devedor perante os demais credores). 
 
Portanto, haverá solidariedade quando houver 
mais de um devedor ou mais de um credor 
obrigados ou com direito à totalidade da dívida. 
A solidariedade não se presume, resultando 
apenas da lei ou da vontade das partes. A 
solidariedade pode ser ativa ou passiva, a 
depender se a pluralidade está no pólo ativo ou 
passivo da obrigação. 
 
2.6.1. Solidariedade ativa 
 
É a obrigação em que há mais de um credor, 
cada um deles com direito a toda a dívida. No 
vencimento, qualquer credor pode se antecipar 
e cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum 
 
 
 
 
 
 
 
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deles a cobrar, o devedor se libera pagando a 
qualquer deles. 
Quem receber, responde perante os demais 
credores, tornando-se devedor nas partes que 
lhes cabe. 
 
O mesmo ocorre se um dos credores remitir 
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil 
reais a três credores solidários e um deles 
perdoa toda a dívida. 
Este se tornará devedor de dez mil reais a 
cada um dos demais credores, como se ele 
tivesse se antecipado e cobrado o devedor 
(art. 272 do CC). Cuidado: é diferente quando 
credor solidário perdoa sua parte. Nesse caso, 
subsiste a solidariedade para os demais 
credores depois de sua parte ser descontada. 
No exemplo citado, o devedor continua a dever 
vinte mil reais a dois credores solidários. 
A solidariedade é personalíssima, ou seja, se 
um dos credores falecer e deixar herdeiros, 
estes não se tornarão credores solidários. 
Significa que cada um de seus herdeiros só 
poderá exigir e receber a quota que 
corresponder ao seu quinhão hereditário. 
Imagine um devedor devendo trinta mil reais a 
três credores solidários, sendo que um deles 
morre deixando dois filhos. 
Os filhos não poderão cobrar os trinta mil, pois 
não se tornam credores solidários. Cada um só 
poderá cobrar a parte que lhe cabe na 
herança, ou seja, cada um só pode cobrar 
cinco mil reais. 
 
Todavia, em dois casos, os herdeiros poderão 
cobrar a dívida toda: se a obrigação for 
indivisível (exemplo: o devedor deve um 
cavalo aos três credores solidários) ou, 
segundo jurisprudência do STJ, se os 
herdeiros cobrarem juntos através do espólio, 
pois no direito das sucessões aprendemos que 
o espólio se sub-roga nos direitos do de cujos. 
 
Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-se 
a prestação em perdas e danos, nelas 
subsistem a solidariedade. Imagine um 
devedor de um carro a três credores solidários, 
mas o destrói ao dirigir embriagado. Trata-se 
de obrigação de dar coisa certa com perda do 
bem por culpa do devedor. 
Conforme visto, torna-se devedor no 
equivalente acrescido em perdas e danos, no 
que permanecerá havendo a solidariedade. 
2.6.2. Solidariedade passiva 
 
É a obrigação em que há mais de um devedor, 
cada um deles obrigados a toda a dívida. 
Significa que o credor tem direito de exigir de 
qualquer deles o valor total da dívida, mas 
quem pagar se tornará credor dos demais 
devedores nas suas respectivas partes 
(internamente não há solidariedade). 
Se o credor optar cobrar apenas parcialmente 
de um dos devedores solidários, os demais 
continuam obrigados solidariamente pelo 
resto. 
 
Se um dos devedores solidários falecer, a 
solidariedade é transferida aos seus 
herdeiros? Não, pois, como visto, a 
solidariedade é personalíssima. 
Significa que os herdeiros só podem ser 
cobrados na quota que correspondeao seu 
quinhão hereditário. Todavia, há duas 
exceções: se a obrigação for indivisível (ex: 
devedores solidários devem um cavalo) ou se 
os herdeiros forem cobrados juntos através do 
espólio, pois o direito das sucessões preceitua 
que o espólio se sub-roga nos deveres do de 
cujos. 
 
Atenção: a lei dá tratamento diferente quanto à 
manutenção da solidariedade no que se refere 
ao pagamento de perdas e danos e de juros 
que podem ser irradiados da obrigação, pois 
nas perdas e danos não subsiste a 
solidariedade. Mas nos juros, sim. 
 
Se devedores solidários têm obrigação de dar 
um carro e, por culpa de um deles, este é 
destruído, a obrigação se converte no 
pagamento do valor equivalente acrescido de 
perdas e danos. No valor equivalente, todos 
continuam devedores solidários, mas pelas 
perdas e danos só responde o culpado (art. 
279 do CC). 
Todavia, se um dos devedores solidários dá 
causa a acréscimo de juros ao valor devido, 
todos respondem solidariamente pelo valor 
dos juros, pois o pagamento de juros é uma 
obrigação acessória e o acessório segue a 
sorte do principal (art. 280 do CC). 
 
Importante (art. 285 do CC): Conforme vimos, 
o devedor solidário que paga a dívida pode 
cobrar dos demais devedores a parte que lhes 
 
 
 
 
 
 
 
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cabe (se nada for dito, presume-se dividida em 
partes iguais). Todavia, se a dívida solidária 
interessar exclusivamente a um dos devedores 
solidários, responderá este por toda a dívida 
quando da ação regressiva aos demais 
credores. 
O exemplo típico é o contrato de fiança. 
Quando há renúncia ao benefício de ordem, 
devedor principal e fiador são devedores 
solidários. Se o fiador for cobrado, poderá 
cobrar em regresso do devedor principal não 
só a metade da dívida, mas sim sua totalidade, 
pois é uma dívida contraída no seu exclusivo 
interesse. 
Da mesma forma, sendo caso de mais de um 
fiador e um deles sendo cobrado pela dívida, 
só terá ação regressiva contra o devedor 
principal na totalidade da dívida, não tendo 
ação contra os demais co-fiadores. 
3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES 
 
Haverá transmissão da obrigação quando 
houver uma substituição subjetiva em seus 
polos, ou seja, uma troca de devedor ou de 
credor. São dois os tipos de transmissão das 
obrigações: cessão de crédito e assunção de 
dívida. 
Na cessão de crédito há uma substituição no 
polo ativo, ou seja, há uma troca de credores, 
pois o credor cede a um terceiro o seu crédito. 
Na assunção de dívida há uma substituição no 
polo passivo, ou seja, uma troca de devedores, 
pois um terceiro assume a obrigação do 
devedor. 
3.1. Cessão de crédito 
 
A cessão de crédito se caracteriza pela 
substituição no polo ativo da obrigação, 
havendo uma troca de credores em razão da 
alienação, gratuita ou onerosa, de um crédito 
a um terceiro, que se tornará o novo credor da 
obrigação. 
A lei permite a cessão do crédito quando a isso 
não se opuser a natureza da obrigação, a lei 
ou o acordo das partes. Quem cede o crédito 
é chamado de cedente e quem o recebe é 
chamado de cessionário. 
 
A cessão do crédito independe da 
concordância do devedor. 
A lei exige apenas a notificação da cessão, 
para que ele não pague à pessoa errada. Caso 
o devedor não seja notificado e pague de boa-
fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só 
restando ao verdadeiro credor cobrar do 
cedente, que indevidamente recebeu o 
pagamento. 
 
Em regra, o cedente não responde pela 
solvência do devedor, ou seja, caso o 
cessionário não consiga receber o crédito em 
razão da insolvência do devedor, não poderá 
cobrar a dívida do cedente. No entanto, ele 
responderá se vier expresso no contrato. 
Quando o cedente não responde pela 
solvência do devedor, a cessão é chamada de 
cessão de crédito pro soluto; quando o cedente 
responde pela solvência do devedor, é 
chamada de cessão de crédito pro solvendo. 
 
Embora o cedente, em regra, não responda 
pela solvência do devedor, ele responde pela 
existência do crédito, ou seja, se ceder um 
crédito que não existe, aí sim poderá ser 
cobrado pelo cessionário. O cedente 
responderá pela existência do crédito tendo o 
cedido gratuita ou onerosamente. 
Se ceder de forma onerosa, responderá tendo 
agido de má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois 
recebeu pela cessão, devolvendo o valor 
auferido. No entanto, na cessão gratuita, 
como nada recebeu em troca, só responderá 
se tiver procedido de má-fé, ou seja, se sabia 
da inexistência do credito que cedeu. 
 
Por fim, na cessão de crédito vigora o princípio 
da oponibilidade das exceções pessoais 
contra terceiros. O que significa isso? Quando 
o cessionário cobrar a dívida do devedor, este 
poderá se defender alegando as defesas 
pessoais que cabiam contra o cedente (art. 
294 do CC). 
Exemplo: o devedor comprou um carro usado 
do credor, mas não vai pagar porque 
apresentou vício redibitório. Só que o credor 
cedeu o crédito a um terceiro, que é quem 
cobra a dívida. O devedor poderá se defender 
contra o cessionário alegando o vício 
redibitório, mesmo sendo uma defesa pessoal 
contra o cedente. 
3.2. Assunção de dívida 
 
A assunção de dívida se caracteriza pela 
substituição no polo passivo da obrigação, 
havendo uma troca de devedores. A lei permite 
 
 
 
 
 
 
 
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que terceiro assuma a dívida do devedor, mas 
exige a concordância expressa do credor. 
No entanto, independe de consentimento do 
devedor, podendo a assunção de dívida ser 
por delegação (com consentimento do 
devedor) ou por expromissão (sem 
consentimento do devedor). 
 
O terceiro que assume a obrigação é chamado 
de assuntor. 
Quando ele assume a obrigação, o devedor 
primitivo está exonerado, pois deixou de ser o 
devedor. Todavia, há um caso em que o 
devedor primitivo não estará exonerado, 
podendo ser cobrado pelo credor: se a cessão 
foi feita a quem insolvente e o credor a aceitou 
por não saber do fato. 
 
Com a assunção de dívida, salvo 
consentimento expresso do devedor primitivo, 
estarão extintas as garantias dadas por ele, 
afinal ele não é mais o devedor. Se a 
substituição vier a ser anulada, restaura-se o 
débito do devedor primitivo, com todas as 
garantias que existiam. 
Exceção: não retornarão as garantias dadas 
por terceiros, por exemplo, hipoteca de um 
bem de terceiro. Exceção da exceção: a 
garantia dada por terceiro poderá retornar, 
caso ele soubesse da causa que gerou 
anulação da substituição. 
 
O assuntor, como novo devedor, poderá alegar 
que tipo de defesa ao ser cobrado pelo 
credor? Com efeito, a defesa pode ser de dois 
tipos: comum ou pessoal. Será comum quando 
for defesa de qualquer pessoa que venha a ser 
cobrado pelo credor (ex. prescrição da dívida). 
Por outro lado, será defesa pessoal quando for 
exclusiva de uma pessoa (ex. compensação 
de dívida). 
O assuntor, ao ser cobrado, poderá se valer 
das defesas comuns ou das suas pessoais, 
não podendo se valer das defesas pessoais 
que cabiam ao devedor primitivo (art. 302 do 
CC). 
4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS 
OBRIGAÇÕES 
 
O meio normal de extinção da obrigação é o 
devedor cumprir a prestação, o que 
chamamos de pagamento. Note que o sentido 
técnico de pagamento difere do seu sentido 
leigo, pois pagamento é coloquialmente usado 
no sentido de dar dinheiro. 
Pagamento em sentido técnico é cumprir a 
prestação, seja um dar (dinheiro ou qualquer 
outro bem), um fazer ou até um não fazer. 
 
No entanto, a obrigação pode ser extinta por 
meios anormais, havendo extinção da 
obrigação de uma forma alternativa, de uma 
forma diferente do que o cumprimento da 
prestação. 
São as formas anormaisde extinção da 
obrigação: pagamento em consignação, 
pagamento com sub-rogação, imputação de 
pagamento, dação em pagamento, novação, 
compensação, confusão e remissão. 
 
4.1. Pagamento 
 
Pagamento é o meio normal de extinção da 
obrigação, ou seja, o cumprimento da 
prestação (dar, fazer ou não fazer). O CC inicia 
o tema abordando quem deve pagar (chamado 
de solvens) e a quem se deve pagar (chamado 
de accipiens). 
 
O CC trata de quem deve pagar, mas, na 
verdade, o que se estabelece são regras 
sobre quem pode pagar. A obrigação pode ser 
paga por qualquer pessoa que tenha algum 
tipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou por 
um terceiro. A lei, no entanto, estabelece 
consequências diferentes para o pagamento 
sendo feito pelo devedor, por terceiro 
interessado ou por terceiro não interessado. 
Quando se fala em terceiro interessado ou não 
interessado, fala-se em interesse jurídico, pois, 
se o terceiro paga, algum tipo de interesse ele 
tem. O terceiro será interessado quando puder 
ser cobrado pela dívida. 
Assim, um fiador que paga a dívida do 
afiançado é um terceiro interessado, mas o pai 
que paga a dívida de um filho maior de idade, 
embora tenha um interesse sentimental, é 
considerado um terceiro não interessado. 
 
Se o devedor efetuar o pagamento, extinta 
estará a obrigação e ele estará exonerado. 
Se um terceiro pagar, também estará extinta, 
mas ele poderá reaver o valor pago, embora 
de forma diferente a depender de quem pagou: 
se terceiro interessado, sub-roga-se nos 
direitos do credor; se terceiro não interessado, 
 
 
 
 
 
 
 
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apenas tem direito de reembolso, não se sub-
rogando nos direitos do credor. 
Em ambos os casos, o terceiro cobra do 
devedor o que pagou por ele, mas diferem 
porque, ao se sub-rogar nos direitos do credor, 
terá as garantias especiais dadas a ele, o que 
não ocorre no mero direito de reembolso. 
Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar em 
seu nome, pois se pagar em nome do devedor, 
é considerado uma mera ajuda, não tendo 
direito de reaver o que pagou. 
A quem se deve pagar? O pagamento deve ser 
feito ao credor ou a quem de direito o 
represente. Se o pagamento foi feito à pessoa 
errada, pagou-se mal e quem paga mal, paga 
duas vezes, pois o verdadeiro credor poderá 
cobrá-lo. 
No entanto, em dois casos, o pagamento feito 
a um terceiro libera o devedor: se o credor 
confirmar o pagamento ou tanto quanto provar 
ter se revertido ao credor. 
 
Há um caso em que o pagamento é feito a um 
terceiro e o devedor está liberado, mesmo que 
o credor não confirme nem se prove a reversão 
em seu benefício. 
É o caso do pagamento feito ao chamado 
credor putativo. Putativo vem de putare, que 
significa crer, acreditar. Haverá credor putativo 
quando se paga de boa-fé a quem não é o 
credor, ou seja, se pagou à pessoa errada, 
mas havia motivos para acreditar ser ele o 
credor. Um exemplo já foi visto quando da 
abordagem do tema cessão de crédito. 
Vimos que o devedor não precisa concordar, 
mas deve ser notificado da cessão de crédito 
para saber que o credor mudou. Vimos que se 
não for notificado e de boa-fé pagar ao 
cedente, ele está exonerado e a razão é 
simples: pagou a credor putativo. 
 
No que se refere ao objeto do pagamento, este 
será o cumprimento da prestação. O credor 
não é obrigado a aceitar prestação diversa da 
que lhe é devida, ainda que mais valiosa, 
afirma o art. 313 do CC. Ainda que a obrigação 
seja divisível, como dever dinheiro, não pode o 
credor ser obrigado a receber nem o devedor 
ser obrigado a pagar por partes, se assim não 
se ajustou. 
 
Quem paga tem direito de receber uma prova 
de que pagou. É o que chamamos de 
quitação. O instrumento da quitação é o recibo, 
que sempre pode ser por instrumento 
particular. Se o credor se recusar a dar 
quitação, o devedor pode legitimamente reter 
o pagamento enquanto não lhe for dada. 
 
Assim sendo, em regra, quem prova o 
pagamento é o devedor, apresentando o 
recibo recebido como instrumento da quitação. 
No entanto, em três casos haverá presunção 
de pagamento, dispensando o devedor de 
provar que pagou. Ocorre que é uma 
presunção relativa, ou seja, aquela que admite 
prova em contrário. 
Desta forma, sendo um dos casos de 
presunção de pagamento, não se fixa uma 
verdade absoluta de que existiu pagamento, 
mas sim uma inversão do ônus da prova, pois 
o devedor não precisa provar que pagou, mas 
o credor pode provar que o devedor não 
pagou. 
São os três casos de presunção de 
pagamento: 
 
a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em 
quotas periódicas, a quitação da última 
estabelece, até em prova em contrário, a 
presunção de estarem solvidas as anteriores; 
 
b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital 
sem fazer reserva que os juros não foram 
pagos, estes se presumem pagos; e 
 
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma 
presunção do pagamento, presunção que 
pode ser elidida no prazo de sessenta dias. 
 
Para se efetuar o pagamento, importa saber o 
lugar do cumprimento da obrigação. É nesse 
lugar que se devem reunir credor e devedor na 
data marcada, não podendo o devedor 
oferecer nem o credor exigir o cumprimento em 
lugar diverso. 
 
No direito comparado, há dois tipos de 
obrigação: quérable ou portable. A obrigação 
quérable (chamada no Brasil de quesível) é 
aquela que deve ser cumprida no domicílio do 
devedor e obrigação portable (chamada no 
Brasil de portável) é aquela que deve ser 
cumprida no domicílio do credor. 
No Brasil, conforme previsão do art. 327 do 
CC, em regra as obrigações devem ser 
 
 
 
 
 
 
 
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cumpridas no domicílio do devedor, ou seja, 
são quesíveis ou quérable. Poderá ser portável 
ou até em outro local a depender da vontade 
das partes, da lei, da natureza da obrigação ou 
das circunstâncias. 
Como exemplo, o art. 328 do CC determina 
que se o pagamento consistir na entrega de 
um imóvel ou de prestações relativas a ele 
deverá ser cumprido onde situado o bem. 
 
4.2. Pagamento em consignação 
 
Consignação de pagamento significa o 
depósito judicial ou em estabelecimento 
bancário da coisa devida, o que a lei equipara 
a pagamento, extinguindo a obrigação. O 
devedor tem não só o dever de pagar, mas 
também o direito de fazê-lo para evitar as 
consequências de sua mora. 
A consignação em pagamento é, portanto, um 
valioso instrumento para o devedor não 
suportar os encargos moratórios. 
 
Poderá o devedor consignar pagamento 
basicamente quando houver mora do credor 
ou algum risco para o devedor na realização 
do pagamento direto. 
Nesse sentido, o art. 335 do CC arrola casos 
de cabimento da consignação em pagamento: 
se o credor se recusar sem justa causa a 
receber o pagamento ou não puder recebê-lo, 
se o devedor tiver dúvida sobre quem é o 
verdadeiro credor ou se o credor for 
desconhecido, entre outros. 
 
Feito o depósito, a princípio, suspende a 
incidência dos encargos moratórios, mas o 
devedor deverá propor ação judicial para 
discussão da matéria, podendo o credor 
impugnar o pagamento, pois só exonera o 
devedor se observados os mesmos requisitos 
exigidos para validade do pagamento. 
Se julgado improcedente, o depósito não terá 
efeito. O processo tem procedimento especial 
previsto no CPC. 
 
4.3. Pagamento com sub-rogação 
 
Pagamento com sub-rogação é a operação 
pela qual o crédito se transfere com todos os 
seus acessórios a um terceiro que paga dívida 
alheia. Sub-rogar é substituir, o que significa 
que haverá aqui uma substituição de credor, 
extinguindo a obrigação com relação ao credor 
originário. 
A ideiaé: A deve a B e um terceiro C paga essa 
dívida e agora A deve a C, pois este se sub-
rogou nos direitos de B. 
 
Como é uma simples substituição no polo 
ativo, o vínculo se mantém e o novo credor 
tem todos os privilégios e garantias que tinha 
o credor originário (art. 349 do CC). 
No entanto, é possível que um terceiro pague 
dívida alheia e não se sub-rogue nos direitos 
do credor, caso em que terá mero direito de 
reembolso contra o devedor, por não ser um 
dos casos de pagamento com sub-rogação. 
A diferença é que poderá cobrar dele o que 
pagou, mas sem ter os privilégios e garantias 
do credor originário, pois surge um novo 
vínculo, uma nova obrigação (de reembolso), 
extinguindo a obrigação primitiva. 
 
A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal ou 
convencional, a depender se decorre de lei ou 
da vontade das partes. 
O CC prevê, em art. 346, os casos em que a 
sub-rogação se opera de pleno direito, ou seja, 
se um terceiro paga a dívida, ele se sub-roga 
automaticamente nos direitos do credor 
primitivo, independente da vontade das partes. 
Se a lei não prevê como caso de sub-rogação, 
teria o terceiro mero direito de reembolso, mas 
as partes poderão prever a sub-rogação, 
passando o terceiro a ter os privilégios e 
garantias do credor primitivo, o que não 
existiria no mero direito de reembolso. 
 
Como exemplo, trago um caso visto no estudo 
do pagamento. Se terceiro interessado paga a 
dívida do devedor, sub-roga-se 
automaticamente nos direitos do credor, 
mantendo-se os privilégios e as garantias (art. 
346, III, do CC). 
Se terceiro não interessado paga a dívida do 
devedor, apenas terá direito de reembolso, 
não se sub-rogando nos direitos do credor 
(sem os privilégios e garantias do credor 
originário). 
No entanto, se o terceiro não interessado 
pagar a dívida do devedor condicionado a sub-
rogar-se nos direitos do credor, haverá 
pagamento com sub-rogação convencional e 
terá o novo credor os privilégios e garantias do 
credor primitivo (art.347, II, do CC). 
 
 
 
 
 
 
 
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4.4. Novação 
 
Novação é o meio de extinção da obrigação 
pelo surgimento de uma nova obrigação. A 
novação pode ser de dois tipos: objetiva ou 
subjetiva. 
A novação é objetiva quando a nova obrigação 
difere da obrigação anterior pela substituição 
da prestação (ex. obrigação de dar dinheiro 
transformada em obrigação de fazer ou 
obrigação veiculada em cheque substituída 
por obrigação veiculada em nota promissória). 
A novação será subjetiva quando a nova 
obrigação difere da obrigação anterior pela 
substituição do credor (novação subjetiva 
ativa) ou do devedor (novação subjetiva 
passiva). 
 
Importante: qual a diferença entre pagamento 
com sub-rogação e novação subjetiva ativa? 
Em ambos os casos, há troca do credor, mas 
diferem porque no pagamento com sub-
rogação o vínculo se mantém, havendo 
apenas a troca de credor, enquanto que na 
novação, extingue-se o vínculo anterior, 
surgindo uma nova obrigação com um novo 
vínculo. 
Consequência: no pagamento com sub-
rogação se mantém para o novo credor os 
privilégios e garantias do credor primitivo, 
enquanto que na novação, extinguem-se os 
privilégios e garantias do credor primitivo, não 
as tendo o novo credor. 
 
Do exposto acerca da sub-rogação e novação, 
podemos chegar a uma conclusão: quando o 
pagamento é efetuado por um terceiro, seja 
interessado ou não interessado, ele poderá 
reaver do devedor primitivo o que por ele 
pagou. 
A diferença é que quando o pagamento é feito 
por terceiro interessado, há pagamento com 
sub-rogação, enquanto que no pagamento 
feito por terceiro não interessado, há novação, 
pois se extingue o vínculo anterior, surgindo 
uma nova obrigação com um novo vínculo (a 
obrigação de reembolso). 
Por isso, o terceiro interessado terá os 
privilégios e garantias do credor primitivo, mas 
o terceiro não interessado não, a não ser que 
se valha do pagamento com sub-rogação 
convencional, ou seja, condicionando o 
pagamento a sub-rogar-se nos direitos do 
credor. 
4.5. Imputação ao pagamento 
 
Se um devedor tem várias dívidas diferentes 
com um credor, mas não lhe entrega valor 
suficiente para pagamento de todas, é preciso 
identificar quais as dívidas foram extintas. 
 
Imputação ao pagamento é a indicação da 
dívida a ser paga quando uma pessoa se 
encontra obrigada por dois ou mais débitos 
com o mesmo credor, sem poder pagar todos 
eles. Note que imputação ao pagamento não é 
bem um meio de extinção da obrigação, mas 
sim a determinação de que obrigação está 
extinta quando nem todas forem pagas. 
 
Antes de a lei definir quais obrigações estão 
extintas (imputação legal), as partes têm o 
direto de definir (imputação convencional). 
Assim, em primeiro lugar, quem define é o 
devedor. No seu silêncio, o credor define em 
quais dá quitação. 
Se nenhum deles definir, a lei definirá, 
estabelecendo a seguinte ordem: (i) primeiro 
se pagam os juros vencidos e só depois o 
capital; (ii) pagamento imputado às dívidas 
vencidas há mais tempo; (iii) se todas vencidas 
no mesmo tempo, a imputação será na mais 
onerosa (maiores juros ou multas); 
(iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus, 
a lei não dá solução, mas jurisprudência diz ser 
de forma proporcional em cada uma das 
obrigações. 
4.6. Dação em pagamento 
 
Dação em pagamento é a forma de extinção 
da obrigação através da qual o credor aceita 
receber prestação diversa da que lhe é devida. 
Conforme visto, nos termos do art. 313 do CC, 
o credor não é obrigado a aceitar prestação 
diversa da contratada, ainda que mais valiosa. 
Porém, nada impede que o credor aceite 
prestação diversa, caso em que haverá 
extinção da obrigação de uma forma anormal, 
que não pelo pagamento, chamada de dação 
em pagamento. 
 
Conforme será visto em contratos neste livro, 
evicção é a perda judicial ou até administrativa 
de um bem em razão de vício jurídico anterior 
à alienação. Quem vende não poderia ter 
 
 
 
 
 
 
 
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vendido e quem compra perde para um 
terceiro, buscando do alienante uma 
indenização. 
Se o devedor dá coisa diversa em pagamento 
e o credor a perde pela evicção, restabelece-
se a obrigação primitiva, ficando sem efeito a 
quitação dada, ressalvados os direitos de 
terceiro (art. 359 do CC). 
 
4.7. Compensação 
 
Compensação é a forma de extinção das 
obrigações entre duas pessoas que são, ao 
mesmo tempo, credora e devedora uma da 
outra. O meio normal de extinção da obrigação 
é o pagamento, ou seja, o cumprimento da 
prestação. 
Todavia, quando duas pessoas são devedoras 
e credoras uma da outra, não há sentido que 
os pagamentos sejam feitos para extinção das 
obrigações. Compensam-se as dívidas e 
extintas estão as obrigações até onde se 
compensarem. 
 
A compensação pode ser de dois tipos: legal 
ou convencional, a depender se decorre da lei 
ou da vontade das partes. A compensação 
legal se dará automaticamente, bastando 
presentes os requisitos legais, quais sejam: 
reciprocidade das obrigações (um deve ao 
outro e vice versa), liquidez e vencimento das 
prestações e envolverem bens fungíveis entre 
si (não basta serem bens fungíveis, 
devem ser substituíveis entre si, ou seja, 
homogêneos, por exemplo, dinheiro por 
dinheiro ou saca de café por saca de café, não 
podendo ser dinheiro por saca de café). 
Mesmo ausentes tais requisitos, ainda sim 
poderá haver compensação, mas será 
convencional, por depender da vontade das 
partes. 
Nada impede, portanto, haver compensação 
de uma dívida vencida com outra a termo, com 
bens infungíveis ou de natureza diferente 
(dinheiro porsaca de café), mas será 
compensação convencional, onde o que 
importa é a vontade das partes. 
 
A reciprocidade é um requisito para a 
compensação legal, ou seja, devedor deve ao 
credor e vice-versa, mas há uma exceção: 
quando envolver o fiador. O devedor somente 
compensa sua dívida para o credor com a 
dívida do credor contra ele, mas o fiador pode 
compensar sua dívida para o credor (é dele 
devedor porque é fiador) com a dívida que o 
credor tem com o afiançado, ou seja, 
não com ele, pois o fiador não é devedor em 
causa própria, mas mero garantidor de uma 
dívida do afiançado (art. 371 do CC). 
4.8. Confusão e Remissão 
 
Confusão é a forma de extinção das 
obrigações por reunirem na mesma pessoa a 
qualidade de credor e devedor. Imagine um pai 
que deve uma quantia em dinheiro a seu filho, 
que é seu único herdeiro. 
Com a morte do pai, o filho assume o débito, 
mas ele próprio é o credor, gerando extinção 
da obrigação pela confusão. A confusão pode 
se verificar a respeito de toda a dívida (total) 
ou só de parte dela (parcial). No exemplo 
citado, se são dois filhos, tendo o credor um 
irmão, só haverá extinção da obrigação 
relativa à metade da dívida (espólio é devedor 
de metade do valor para o filho credor). 
 
Remissão é a forma de extinção da obrigação 
com o perdão da dívida pelo credor. Cuidado: 
não confunda remissão com remição. A causa 
de extinção da obrigação é a remissão, é o ato 
de remitir, que significa perdão, perdoar. 
Remição ou ato de remir não é causa de 
extinção da obrigação, pois significa resgate, 
resgatar. 
Tanto na confusão quanto na remissão há um 
aspecto importante para você saber sobre 
obrigações solidárias. Confusão ou remissão 
entre credor e um dos devedores solidários ou 
entre o devedor e um dos credores solidários: 
mantém-se a solidariedade entre os demais, 
descontada a parte remitida ou da confusão 
parcial. 
 
Exemplo: Imagine três devedores solidários 
em trinta mil reais ao pai de um deles 
(solidariedade passiva). Com a morte do pai ou 
do filho ou se o pai perdoar só a dívida do filho, 
os outros dois devedores serão solidários em 
vinte mil reais. Da mesma forma, imagine que 
um devedor deve trinta mil reais a três 
credores solidários, sendo um deles o pai do 
devedor (solidariedade ativa). 
Com a morte do pai ou do filho ou se o pai 
perdoar só a dívida do filho, os outros dois 
credores serão solidários em vinte mil reais. 
 
 
 
 
 
 
 
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5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 
 
5.1. Diferença entre inadimplemento e mora 
 
Quando o devedor não cumpre a prestação, 
estamos diante do inadimplemento, que pode 
ser de dois os tipos: absoluto ou relativo. 
O inadimplemento é absoluto quando a 
prestação não é cumprida e não é mais útil ao 
credor que o devedor a cumpra - por exemplo, 
contratação de cantor para cantar em um 
casamento que não comparece à cerimônia. 
O inadimplemento é relativo quando a 
prestação não é cumprida, mas ainda é útil ao 
credor que o devedor a cumpra, por exemplo, 
não pagamento de uma dívida em dinheiro no 
dia do vencimento. O inadimplemento absoluto 
é chamado simplesmente de inadimplemento 
e o inadimplemento relativo é chamado de 
mora. 
 
Note que a diferença entre inadimplemento e 
mora reside no critério de utilidade para o 
credor. Em ambos os casos, a prestação não 
é cumprida, sendo inadimplemento se a 
prestação não é mais útil ao credor e mora se 
a prestação ainda é útil ao credor. 
 
Por que diferenciar mora e inadimplemento? 
Se o caso é de inadimplemento, como a 
prestação não é mais útil ao credor, a única 
solução é o pagamento de indenização por 
perdas e danos (ar. 389 do CC). Por outro lado, 
se o caso é de mora, cabe o que chamamos 
de purgação ou emenda da mora. O que é 
isso? É cumprir a obrigação, porque ainda útil 
para o credor, acrescido dos encargos 
moratórios. 
Purga-se a mora pagando-se com retardo, 
acrescido de: correção monetária, juros de 
mora, perdas e danos decorrentes da mora e 
eventual honorários de advogado (art. 395 do 
CC). 
5.2. Mora 
 
O art. 394 do CC diz que se considera em mora 
o devedor que não efetuar o pagamento e o 
credor que não quiser recebê-lo no tempo, 
lugar e forma que a lei ou a convenção 
estabelecer. 
Note haver mora não apenas quando não se 
paga no tempo devido, mas também se não se 
paga no lugar e na forma devida. Note ainda 
não haver mora só do devedor, mas também 
do credor, que ocorre quando este não quiser 
injustificadamente receber o pagamento, 
sendo o pagamento em consignação a solução 
para o devedor se livrar dos encargos da mora. 
 
Segundo art. 395 do CC, configurada a mora, 
o devedor pode purgá-la, cumprindo a 
prestação acrescida dos encargos moratórios. 
Todavia, se a prestação tornar-se inútil ao 
credor, este poderá enjeitá-la e pedir perdas e 
danos. A razão é simples: se inútil ao credor, 
deixou de ser mora e se transformou em 
inadimplemento absoluto. 
 
Como exemplo, imagine uma costureira que 
deixa de entregar o vestido de noiva no prazo 
estipulado. É caso de mora ou 
inadimplemento? Depende. Se ainda não 
houve a cerimônia, em razão de a data 
marcada lhe ser bastante anterior, o caso é de 
mora; 
se já houve a cerimônia, em razão da data 
marcada ter sido na véspera do casamento, o 
caso é de inadimplemento, caso em que o 
credor poderá rejeitar a coisa e pedir perdas e 
danos, pois ao se tornar inútil a ela, a mora se 
transformou em inadimplemento absoluto. 
 
Completa a ideia de mora o art. 396 do CC, 
que preceitua não incorrer em mora o devedor 
quando não haja fato ou omissão imposta a 
ele. Significa que a mora é o não cumprimento 
culposo da obrigação. Se não há culpa, não há 
mora. 
Se uma conta do devedor só pode ser paga no 
banco e o vencimento cai em um domingo, ao 
se pagar no dia seguinte, não há de se falar em 
mora, tanto que se paga sem encargos 
moratórios. 
 
O art. 397 do CC nos faz perceber haver dois 
tipos de mora: ex re e ex persona. 
A mora ex re é automática, ou seja, é aquela 
que independe de ato do credor para o 
devedor ser constituído em mora (interpelação 
judicial ou extrajudicial, notificação, protesto ou 
citação do devedor). Por sua vez, a mora ex 
persona é aquela que precisa de um dos 
citados atos do credor para o devedor ser 
constituído em mora. Quando a mora é ex re e 
quando é ex persona? 
 
 
 
 
 
 
 
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Há dois tipos de obrigações: com dia certo de 
vencimento e sem dia certo de vencimento. 
Quando a obrigação tem um dia certo de 
vencimento, o devedor não precisa ser 
constituído em mora por ato do credor, pois o 
simples não pagamento no vencimento o 
constitui em mora (dies interpellat pro homine, 
ou seja, o próprio dia interpela o devedor). 
Por outro lado, quando a obrigação não tem 
dia certo de vencimento, o devedor só estará 
em mora se for constituído por ato do credor. 
Assim, quando a obrigação é com dia certo de 
vencimento, a mora é ex re e quando a 
obrigação é sem dia certo de vencimento, a 
mora é ex persona. 
 
O art. 398 do CC demonstra que a mora é ex 
re quando a obrigação não cumprida decorre 
de ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil é 
causar dano a alguém, gerando ao causador o 
dever de indenizá-lo. Poderíamos pensar ser 
caso de mora ex persona, pois o devedor deve 
ser constituído em mora por um ato do credor, 
propondo ação judicial (citação válida constitui 
o devedor em mora). 
No entanto, tal entendimento é equivocado, 
pois a lei diz que essa mora é automática, 
independendo de qualquer ato do credor. O 
art. neste momento em análise diz que nas 
obrigações provenientesde ato ilícito, 
considera-se o devedor em mora desde que o 
praticou (a responsabilidade de reparar o dano 
fixada na sentença judicial retroage à data do 
ato para aplicar os efeitos da mora). 
 
Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efeitos 
da mora, um para mora do devedor e outro 
para a mora do credor: 
 
a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): 
O devedor em mora responde pela 
impossibilidade da prestação, ainda que esta 
se dê por caso fortuito ou força maior. 
Se a prestação do devedor se torna impossível 
sem culpa do devedor, simplesmente se 
resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe 
ser imposto. Todavia, se a impossibilidade 
ocorrer durante seu atraso, o devedor ficará 
obrigado a indenizar o credor pela 
impossibilidade da prestação, mesmo que esta 
tenha se dado por caso fortuito ou por força 
maior. 
Apenas em dois casos, estará desobrigado de 
indenização: quando provar isenção de culpa 
no seu atraso (evidente, pois nesse caso não 
há mora, pois a mora é o não cumprimento 
culposo da obrigação) e se provar que o dano 
ocorreria mesmo se a prestação tivesse sido 
cumprida no tempo, lugar ou forma devida, ou 
seja, mesmo se não houvesse mora. 
 
b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A 
mora do credor, ou seja, se o credor se recusar 
injustificadamente a receber o pagamento, 
gera três efeitos: (i) retira do devedor isento de 
dolo a responsabilidade pela conservação da 
coisa (só indeniza perda ou deterioração do 
bem se teve dolo, não respondendo se teve 
culpa stricto sensu, ou seja, imprudência, 
negligência ou imperícia); 
(ii) obriga o credor a ressarcir o devedor das 
despesas que teve para conservar o bem; e (iii) 
sujeita o credor a receber o bem pela 
estimação mais favorável ao devedor se o seu 
valor oscilar entre o dia estabelecido para o 
pagamento e o da sua efetivação. 
5.3. Responsabilidade Civil Contratual 
 
Responsabilidade civil é o dever de indenizar 
um prejuízo causado. Há dois tipos de 
responsabilidade civil: contratual e 
extracontratual. 
A responsabilidade civil contratual é aquela em 
que há um contrato entre as partes, ou seja, 
um contratante não cumpre o contrato, 
causando prejuízo ao outro contratante, 
gerando dever de indenização. 
A responsabilidade civil extracontratual, 
também chamada de aquiliana, é aquela em 
que não existe um contrato entre quem causa 
e quem sofre o dano, como no caso de alguém 
bater no carro de outrem, tendo que indenizá-
lo. Responsabilidade civil extracontratual é 
tema do capítulo responsabilidade civil. 
Responsabilidade civil contratual é estudada 
aqui em obrigações, pois ocorre diante de 
mora e inadimplemento. 
 
O contratante que não cumpre o contrato será 
civilmente responsabilizado, mas apenas se 
isso gerar um dano ao outro contratante, pois 
responsabilidade civil é o dever de indenizar 
um dano causado. 
Conforme o art. 402 do CC, o inadimplente 
deverá indenizar não só o dano emergente, 
 
 
 
 
 
 
 
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mas também os lucros cessantes, que são os 
dois tipos de dano material. Dano emergente: 
prejuízo efetivamente experimentado; lucro 
cessante: o que se legitimamente se deixou de 
ganhar. A eles se acrescenta dano moral. 
 
Diante de inadimplemento, seja absoluto ou 
relativo, quem não cumpre o contrato 
causando dano ao outro contratante deverá 
indenizá-lo. A questão é: a responsabilidade 
civil contratual é subjetiva (depende de culpa) 
ou objetiva (independe de culpa)? 
 
A responsabilidade civil contratual é subjetiva, 
pois só há mora se o não cumprimento da 
prestação for culposo. Significa que não há 
mora e, portanto, não há responsabilidade civil 
contratual, se não houver culpa do contratante 
em não cumprir a prestação. 
O mesmo ocorre com o inadimplemento 
absoluto, que pode ser culposo (com culpa do 
devedor) ou fortuito (sem culpa do devedor), 
mas, em regra, só haverá obrigação de 
indenizar se o devedor teve culpa no 
inadimplemento. 
Se um cantor é contratado para cantar no 
casamento e propositalmente não aparece na 
cerimônia, será responsabilizado em perdas e 
danos, mas se não cumpriu o contrato porque 
foi sequestrado na véspera, não há de se falar 
em dever indenizatório. 
 
Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o 
devedor não responde pelos prejuízos 
resultantes do caso fortuito ou de força maior, 
se expressamente não se houver por eles 
responsabilizado” Note que, conforme visto, a 
responsabilidade civil contratual é subjetiva, 
mas as partes podem expressamente prever 
no contrato que o inadimplente responderá 
mesmo que não tenha cumprido o contrato por 
caso fortuito ou motivo de força maior, ou seja, 
sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivo 
de força maior são situações inevitáveis, que o 
inadimplente não podia impedir, 
como no caso do cantor contratado para cantar 
em um casamento que não cumpre a 
obrigação por ter sido sequestrado na véspera. 
 
Qual a diferença, então, entre 
responsabilidade civil contratual e 
responsabilidade civil extracontratual 
subjetiva? 
Em ambos os casos só há responsabilidade 
civil diante da existência de culpa do devedor, 
mas na responsabilidade civil contratual, a 
culpa é presumida. Todavia, é uma presunção 
relativa, ou seja, aquela que admite prova em 
contrário, representando, assim, a inversão do 
ônus da prova. Na responsabilidade civil 
contratual, basta ao contratante provar que o 
outro não cumpriu o contrato. 
Se este não teve culpa no inadimplemento, ele 
que prove. Por outro lado, se é 
responsabilidade civil extracontratual 
subjetiva, a vítima do dano, ao cobrar perdas e 
danos, deverá provar que o agressor teve 
culpa ao causar o dano, pois esta não é 
presumida. 
 
Quando se diz que a responsabilidade 
subjetiva exige a culpa, usa-se o termo culpa 
em sentido amplo, ou seja, é o dolo ou a culpa 
em sentido restrito (imprudência, negligência 
ou imperícia). A princípio, não há diferença na 
responsabilidade civil contratual se o 
inadimplemento foi por dolo ou por culpa. 
O art. 404 do CC diz que não interfere no valor 
da indenização se por dolo ou culpa, pois o 
valor da indenização será o valor do dano 
sofrido. No entanto, a lei consagrou uma 
diferença entre inadimplemento doloso ou 
culposo no negócio jurídico benéfico, ou seja, 
no contrato gratuito. 
 
Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato é 
oneroso, o contratante inadimplente responde 
por não ter cumprido o contrato por dolo ou por 
culpa, mas, se for um contrato benéfico ou 
gratuito, a parte que não é favorecida (aquela 
que não recebe nada em troca) só responde 
pelo inadimplemento se agiu com dolo, ou 
seja, 
não será responsabilizado civilmente pelo não 
cumprimento do contrato por culpa em sentido 
estrito. 
 
Assim sendo, ao doar um bem, o doador só 
responde pela impossibilidade de entregar a 
coisa doada, caso tenha agido dolosamente, 
por exemplo, se destruiu intencionalmente 
esse bem. 
Não responderá o doador, se o bem se 
quebrou porque foi negligente ao usá-lo, caso 
em que simplesmente se resolverá a 
 
 
 
 
 
 
 
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obrigação, desfazendo a doação sem qualquer 
dever indenizatório ao doador. 
Se o contrato for de compra e venda e a coisa 
se perde com culpa do devedor, vimos que a 
solução é dar o equivalente acrescido de 
perdas e danos, que será devido tanto no caso 
de dolo quanto de culpa, ou seja, se quebrou 
propositalmente ou se por negligência, pois 
compra e venda é contrato oneroso. 
5.4. Cláusula Penal 
 
Conforme vimos, tanto o inadimplemento 
quanto a mora podem gerar responsabilidade 
civil contratual. Em caso de inadimplemento,o 
contratante deverá indenizar o outro em 
perdas e danos causados pelo não 
cumprimento do contrato e, em caso de mora, 
o devedor poderá purgá-la, 
cumprindo a prestação com retardado, 
acrescida de perdas e danos causados pela 
mora, correção monetária, juros de mora e 
honorários advocatícios. 
 
O grande problema na responsabilidade civil 
contratual é provar o valor da indenização, ou 
seja, a extensão do prejuízo causado pelo não 
cumprimento do contrato. 
Para resolver esse problema, a lei traz como 
solução a cláusula penal, que é uma multa 
prefixando o valor das perdas e danos em 
razão da mora ou do inadimplemento. 
 
Cláusula penal, portanto, é um pacto inserido 
no contrato, impondo multa ao devedor que 
não cumpre ou que retarda o cumprimento da 
prestação. 
Note que há multa tanto para o caso de mora 
quanto de inadimplemento. Assim, há dois 
tipos de cláusula penal: moratória e 
compensatória. A cláusula penal moratória é 
para prefixar perdas e danos em razão da 
mora, ou seja, pelo retardamento no 
cumprimento da obrigação, e a cláusula penal 
compensatória é para prefixar perdas e danos 
em caso de inadimplemento absoluto, ou seja, 
pelo não cumprimento da prestação. 
 
Como exemplo, imaginemos um contrato de 
locação, cuja prestação do locatário é pagar, 
durante três anos, mil reais por mês ao 
locador. Se no contrato houver uma multa no 
valor de três meses de aluguel para o caso do 
locatário devolver as chaves antes do fim do 
contrato, 
será uma cláusula penal compensatória, pois 
o locatário pagará uma multa por não ter 
cumprido sua prestação, pelo menos em parte. 
Por outro lado, se houver no contrato uma 
multa em razão do locatário atrasar o 
pagamento do aluguel por não pagar no dia do 
vencimento, será uma cláusula penal 
moratória, pois o pagamento da multa é para o 
retardamento no cumprimento da prestação. 
Note que há dois tipos de cláusula penal, cada 
uma com uma finalidade específica. A 
cláusula penal compensatória tem a função de 
compensar o contratante por não ter o outro 
contratante cumprido sua prestação. Já a 
cláusula penal moratória tem a função de 
intimidar, pois o contratante pagará uma multa 
se retardar o cumprimento da prestação. 
 
O art. 408 do CC demonstra que a cláusula 
penal é uma prefixação de perdas e danos e 
que a responsabilidade civil contratual é 
subjetiva, pois diz que incorre de pleno direito 
na cláusula penal o devedor que culposamente 
deixe de cumprir a obrigação ou que se 
constitua em mora. 
Significa que, em caso de inadimplemento, o 
outro contratante pode executar a multa, 
independente de provar a extensão do dano 
em ação de conhecimento. E a lei vai mais 
longe ainda com o art. 416 do CC, prevendo 
que sequer é necessário provar que houve 
dano, se este foi prefixado no contrato. 
 
Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo 
do contratante for maior do que o valor da 
multa, poderá ele cobrar a diferença? A 
princípio não, pois o parágrafo único do art. 
416 do CC diz que só poderá cobrar eventual 
valor a mais, se esta possibilidade estiver 
expressa no contrato. 
Se assim for, o valor da multa já é objeto de 
execução e o valor a mais deverá ser provado 
em ação de conhecimento para seguir a 
execução por título executivo judicial. Se não 
houver permissivo contratual, limita-se a 
executar a multa. 
 
Há importante diferença na cobrança da 
cláusula penal a depender se compensatória 
ou se moratória (arts. 410 e 411 do CC): no 
inadimplemento o credor cobra cláusula penal 
 
 
 
 
 
 
 
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compensatória ou o cumprimento da prestação 
enquanto que na mora o credor cobra 
cumprimento da prestação e cláusula penal 
moratória. 
 
No caso da cláusula penal compensatória, 
havendo inadimplemento, esta se converterá 
em alternativa a benefício do credor, ou seja, 
este poderá escolher entre cobrar do 
contratante inadimplente a multa ou o 
cumprimento da prestação. 
No exemplo do cantor contratado para cantar 
no casamento, diante do não comparecimento 
à cerimônia, o contratante poderá cobrar a 
multa ou pedir para cantar depois, por 
exemplo, no aniversário dele que será na 
semana seguinte. 
Sendo cláusula penal moratória, sobrevindo 
mora, o credor pode exigir o cumprimento da 
prestação acrescido da multa, pois, se não 
pagou a dívida no dia, o credor a cobrará 
acrescido da multa com os demais encargos 
moratórios. 
 
Para fechar o tema, é preciso saber que o juiz 
pode reduzir o valor da cláusula penal 
compensatória em dois casos previsto no art. 
413 do CC: 
 
a) Se o valor é manifestamente excessivo: O 
art. 412 do CC estipula um valor máximo da 
cláusula penal compensatória ao afirmar que 
ela não pode exceder o valor da obrigação 
principal. No entanto, mesmo dentro desse 
limite, o juiz poderá reduzi-la a pedido da parte 
se manifestamente excessivo segundo as 
circunstâncias do caso. 
 
b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte: 
a função da cláusula penal compensatória é 
compensar o contratante pelo fato do outro não 
ter cumprido a prestação. Assim, se este 
cumpre parte da prestação, a compensação 
deve ser apenas da parte não cumprida. 
Exemplo: se o contrato de locação diz que o 
locatário deve pagar multa de três meses de 
aluguel se devolver as chaves antes do fim do 
contrato, caso ele devolva tendo cumprido 
metade do contrato, não deverá arcar com 
toda a multa, mas apenas metade dela. 
 
5.5. Arras 
 
Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que é 
entregue por um dos contratantes ao outro 
como princípio de pagamento quando da 
celebração do contrato para confirmação do 
acordo. 
A vantagem do adiantamento de um sinal é 
confirmar o negócio, pois se houver 
desistência, aquele que desistiu perderá o 
valor das arras para compensar os prejuízos. 
Se quem deu o sinal desistir, não poderá 
cobrá-lo de volta; se quem o recebeu desistir, 
devolverá o valor em dobro (como recebeu 
arras, a perda efetiva será no valor das arras) 
 
São dois os tipos de arras: confirmatória e 
penitenciais. A diferença decorre se no 
contrato existe ou não cláusula de 
arrependimento. 
 
a) Arras confirmatórias: As arras serão 
confirmatórias quando não houver previsão no 
contrato de direito de arrependimento. 
É o normal, pois as partes celebram um 
contrato não esperando que a outra parte 
desista. Assim, estipulam um valor de sinal a 
ser pago imediatamente para confirmar o 
negócio. Se quem deu arras desistir, perderá o 
sinal dado, mas se quem desistir foi quem 
recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. 
 
b) Arras penitenciais: As arras serão 
penitenciais quando houver previsão no 
contrato de direito de arrependimento. 
Qualquer das partes terá direito de se 
arrepender, mas tem um preço para isso, ou 
seja, o valor das arras. Se quem desiste deu 
arras, perderá o sinal dado, mas se quem 
desistir foi quem recebeu o sinal, devolverá o 
dobro do valor. 
 
Ora, tanto nas arras confirmatórias como 
penitenciais, a consequência é a mesma: se 
quem desiste deu arras, perderá o sinal dado, 
mas se quem desiste foi quem recebeu o sinal, 
devolverá o dobro do valor. Então, pergunto: 
para que diferenciar uma da outra? 
 
Para o caso do prejuízo com a desistência ser 
maior que o valor fixado a título de arras. Se 
forem arras confirmatórias, não há previsão de 
direito de arrependimento e posso cobrar o 
prejuízo que a desistência me acarretar. Como 
 
 
 
 
 
 
 
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já me beneficiei do valor das arras, cobro 
apenas o prejuízo que tive a mais. 
No entanto, se forem arras penitenciais, há no 
contrato previsão de direito de 
arrependimento,sendo fixado um preço para 
isso, ou seja, o valor de arras, não podendo o 
prejudicado cobrar eventual valor a mais que 
tenha tido de prejuízo com a desistência do 
outro contratante. 
 
Diferença: nas arras confirmatórias (quando 
não há direito de arrependimento), o 
contratante pode cobrar indenização 
suplementar, enquanto que não poderá fazê-lo 
nas arras penitenciais (quando há direito de 
arrependimento), pois se fixou um preço para 
isso. 
2.2. Contrato oneroso e gratuito 
 
a) Contrato oneroso: é aquele em que as 
partes ganham algo equivalente à sua 
prestação, ou seja, há equilíbrio econômico 
entre as partes porque ambos perdem e 
ganham na mesma proporção econômica, por 
exemplo, contrato de compra e venda. 
 
b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte 
não ganha algo equivalente à sua prestação, 
ou seja, há desequilíbrio econômico, pois uma 
das partes só ganha e uma das partes só 
perde, por exemplo, contrato de doação. 
 
2.3. Contrato comutativo e aleatório 
 
a) Contrato comutativo: é aquele em que as 
partes podem antever os seus efeitos, ou seja, 
ao celebrar o contrato, já sabem os efeitos que 
serão produzidos. Exemplo: contrato de 
compra e venda, pois já se sabe que um 
entrega o bem e que outro entrega o preço. 
 
b) Contrato aleatório: é aquele em que as 
partes não podem antever os seus efeitos, ou 
seja, ao celebrar o contrato não há como saber 
os efeitos que serão produzidos. A razão é 
simples: contrato aleatório é o contrato de risco 
(álea significa risco). 
Exemplo: contrato de seguro, pois o segurado 
pode ou não receber a indenização, a 
depender se ocorre ou não o sinistro, o que 
não se sabe quando o contrato é celebrado. 
O contrato aleatório pode ser naturalmente 
aleatório (aleatório típico) ou acidentalmente 
aleatório (aleatório atípico). O contrato é 
naturalmente aleatório quando for da sua 
essência ser aleatório, por exemplo, contrato 
de seguro. O contrato é acidentalmente 
aleatório quando for da sua essência ser 
comutativo, mas é aleatório em razão de uma 
circunstância que lhe é específica. 
Exemplo: contrato de compra e venda é 
comutativo, mas o contrato de compra e venda 
de uma safra que está sendo plantada é 
aleatório, pois não se sabe qual será a 
quantidade da produção. 
 
Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos de 
contratos de compra e venda atipicamente 
aleatórios: compra e venda de coisa futura e 
de coisa exposta a risco. 
 
a) Compra e venda de coisa futura: O contrato 
de compra e venda de coisa futura é aleatório, 
pois não se sabe se a coisa virá a existir e em 
que quantidade. 
Pode o contratante assumir o risco da coisa 
não vir a existir, pagando mesmo assim o 
preço (chamado de contrato de compra e 
venda emptio spei) ou assumir o risco de vir a 
existir em qualquer quantidade, pagando o 
preço se vier a existir em quantidade inferior à 
esperada, mas não pagando se nada do 
avençado vier a existir (chamado contrato de 
compra e venda emptio rei speratae). 
Em ambos os casos, não pagará o preço se 
menos do esperado vier a existir por culpa ou 
dolo do contratante. Como exemplo, pense na 
compra de peixes que ainda serão pescados, 
em que se paga o preço mesmo que nenhum 
peixe seja pescado (emptio spei) ou se vier em 
qualquer quantidade, só não pagando se 
nenhum vier (emptio rei speratae). 
Em nenhum dos dois casos pagará, se o 
insucesso total ou parcial decorreu de dolo ou 
culpa do pescador. 
 
b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O 
contrato de compra e venda de coisa exposta 
a risco é de coisa que já existe, mas é 
atipicamente aleatório, pois o comprador 
assume o risco exposto. 
Exemplo: compra de cerâmica a ser 
transportada em navio, cujo risco de vir a se 
quebrar o comprador assuma. Deverá pagar 
todo o preço, mesmo que alguns venham 
quebrados, a menos que dolosamente o 
 
 
 
 
 
 
 
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Cristiano Sobral 
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vendedor se aproveite, colocando alguns já 
quebrados. 
2.4. Contrato consensual e real 
 
O contrato se forma, em regra, quando a uma 
proposta se seguir uma aceitação, ou seja, 
com o acordo de vontade das partes. Essa 
regra é quebrada em alguns casos, quando o 
acordo de vontades não é suficiente para a 
formação do contrato, 
o que só ocorre com a prática de um ato 
posterior: a entrega do bem objeto da 
prestação. 
 
a) Contrato consensual: é aquele que se forma 
com o acordo de vontades das partes. É a 
regra em matéria de contratos, por exemplo, o 
contrato de compra e venda. 
 
b) Contrato real: é aquele que se forma com a 
tradição, ou seja, com a entrega do bem, que 
se segue ao acordo de vontade das partes. 
São três os contratos reais: mútuo, comodato 
e depósito. 
2.5. Contrato de execução instantânea, 
continuada e diferida 
 
a) Contrato de execução instantânea: é aquele 
que é cumprido em uma só vez, no momento 
da celebração do contrato (exemplo: compra e 
venda com pagamento à vista). 
 
b) Contrato de execução continuada: é aquele 
em que a prestação é cumprida em cotas 
periódicas (exemplo: compra e venda com 
pagamento parcelado). 
 
c) Contrato de execução diferida: é aquele em 
que a prestação é cumprida em uma só vez, 
mas no futuro (exemplo: compra e venda com 
pagamento a prazo). 
2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes 
 
É uma classificação que se refere à formação 
do contrato. Pelos nomes, parece que 
depende se as partes estão ou não na 
presença física um do outro. 
Não é bem assim, pois há tecnologias que 
fazem com que uma conversa entre pessoas 
distantes seja como se estivessem fisicamente 
presentes, pois proposta e aceitação se dão 
em tempo real. 
 
a) Contrato entre presentes: é aquele em que 
proposta e aceitação se dão em tempo real, 
sendo firmado não só entre pessoas 
fisicamente presentes, mas também por 
telefone ou meio de comunicação semelhante 
(vídeo conferência, chats, entre outros). 
 
b) Contrato entre ausentes: é aquele em que 
proposta e aceitação não se dão em tempo 
real, cujos principais exemplos são aqueles 
formados por carta ou por e-mail. 
 
3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 
 
3.1. Princípio da autonomia da vontade 
 
As partes são livres para contratar, ou seja, 
contratam se quiserem, com quem quiserem 
e sobre o que quiserem. Isso decorre de 
simples razão: contrato é um acordo de 
vontades. 
O limite para suas atuações é a lei e, como 
veremos mais à frente, o interesse social e a 
boa-fé. 
3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria da 
imprevisão (pacta sunt servanda x cláusula 
rebus sic stantibus) 
 
As partes contratam se quiserem, mas, se 
contratarem, são obrigadas a cumprir o 
contrato. O contrato faz lei entre as partes, o 
que traduz o conhecido pacta sunt servanda, 
ou seja, os pactos devem ser cumpridos. 
Essa é a noção básica do princípio, mas o seu 
estudo pode e deve ser aprofundado. O atual 
CC adotou o princípio do pacta sunt servanda, 
mas não de forma absoluta, pois foi mitigado 
pela previsão da chamada cláusula rebus sic 
stantibus. 
Para entender essa cláusula, é necessária 
uma breve análise histórica. Desde a origem 
dos contratos, vigora o princípio do pacta sunt 
servanda, ou seja, o contrato sempre fez lei 
entre as partes. No entanto, a Idade Média foi 
uma época que ameaçou a sobrevivência 
desse princípio, pois foi um período marcado 
por constantes guerras e conflitos feudais, 
o que inviabilizava o cumprimento de um 
contrato. Por isso, naquela época, tornou-se 
comum vir nos contratos com prestação que se 
prolongava no tempo uma cláusula liberando o 
contratante em caso de ocorrer uma guerra ou 
conflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do 
 
 
 
 
 
 
 
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