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Artigo - Aspectos Clínicos das Leishmanioses no Brasil - Fábio Nogueira

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LEISHMANIOSE :
Colaboração:
Aspectos Clínicos das Leishmanioses no Brasil
Fábio dos Santos
Nogueira
(nogueiracan@uol.com.br)
Mestre e Doutor pela
Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia -
UNESP Botucatu, SP
Professor de Clínica
Médica e Cirúrgica da
Fundação Educacional de
Andradina, SP
Sócio Fundador do
BRASILEISH
As leishmanioses são enfermidades infecciosas, não
contagiosas, causadas por diferentes espécies de proto-
zoários do gênero Leishmania, e que dependendo da
apresentação clínica e dos diferentes agentes etiológi-
cos, podem apresentar-se sob várias formas: leishmani-
ose tegumentar (LT), que se divide nas formas cutânea,
mucocutânea, e cutânea difusa; leishmaniose visceral
(LV), e leishmaniose dérmica pós-calazar.
A principal e a mais aceita forma de transmissão do
parasito para o homem e outros hospedeiros mamíferos
é através da picada de fêmeas de artrópodes, dípteros
da família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gêne-
ro Phlebotomus (Europa) e Lutzomyia (América), infecta-
dos e conhecidos genericamente por flebotomíneos.
Na LV, o cão doméstico, é apontado como a principal
fonte de infecção para os flebotomíneos em ambiente
urbano, quer pela alta prevalência da doença nesta es-
pécie ou pela grande quantidade de parasitos presentes
na pele, tornando-os alvo principal para o controle da
doença. A leishmaniose em felinos também tem sido re-
gistrada nos últimos anos no Brasil e em diversas partes
do Mundo.
O tipo de resposta imunológica apresentada pelo
animal após a infecção, celular ou humoral, associada a
outros fatores, como genética, idade, sexo, nutrição, co-
infecções, condições imunossupressivas, presença de
ecto ou endoparasitas, e virulência da Leishmania, po-
dem contribuir para maior susceptibilidade ou resistên-
cia à LV ou mesmo a intensidade das manifestações clí-
nicas. Algumas raças de cães, como Pastor Alemão, Bo-
xer, Rottweiler e Cocker Spaniel, parecem ser mais sus-
ceptíveis, enquanto outras como Ibizan Hound, Faraón
Hound e Podenco Canário, apresentam resposta do tipo
celular predominante, e, consequentemente, resistên-
cia natural à infecção. A idade dos animais parece ser
fator importante na susceptibilidade e desenvolvimento
da doença, sendo que animais jovens de até dois anos
de idade ou idosos com mais de oito anos, apresentam
maior predisposição à enfermidade. Alguns estudos de-
monstraram maior predisposição quanto ao sexo, sendo
os machos mais acometidos.
É descrita na literatura uma
lesão denominada de “cancro
de inoculação” ou leishmanio-
ma (figura anexa), localizada
preferencialmente na região da
pina e nariz, que representa o
sítio da picada do flebótomo,
sendo evidenciada uma respos-
ta inflamatória local com a pre-
sença de formas parasitárias,
neutrófilos, linfócitos, e macró-
fagos.
As alterações dermatológicas estão presentes na mai-
oria dos casos em animais infectados por LV e demons-
tram o comprometimento da epiderme, derme e hipo-
derme em associação aos anexos cutâneos, refletindo
não só a ação espoliativa sistêmica parasitária como tam-
bém local. As alterações cutâneas que podem estar pre-
sentes na maioria dos casos são dermatite esfoliativa não
pruriginosa com ou sem alopecia, generalizada ou locali-
zada principalmente em região periocular, de orelhas, e
membros; dermatite ulcerativa com localização predo-
minante em saliências ósseas, junção mucocutânea, fo-
cinho, região interdigital e margem interna da pina; ne-
crose isquêmica; dermatite nodular multifocal; dermati-
te papular; lesões que apresentam dificuldade de cicatri-
zação; além de quadros cutâneos atípicos como hiper-
queratose nasal e digital, despigmentação e pelos opa-
cos. A onicogrifose está entre as características mais mar-
cantes e é considerado sinal patognomônico por alguns
autores. Os principais aspectos clínicos da doença devem
ser registrados, e o clínico precisa estar atento para ani-
mais com trânsito ou que habitam em áreas endêmicas.
Sem dúvida alguma, a prevenção da enfermidade ca-
nina, torna-se a ferramenta mais importante para o con-
trole da doença em humanos, devendo ser prioritária
na política de Saúde Pública. Estudos atuais baseados
em modelagens matemáticas apontam que o controle
dos vetores e a vacinação de cães seriam mais eficazes
do que as intervenções tendo como alvo cães infecta-
dos. O desenvolvimento de vacinas também tem sido
apontado pela OMS como importante ferramenta para
efetivo controle da doença, pela redução na oferta de
parasitos ao vetor e consequentemente redução da in-
fecção humana.
No Brasil, uma vacina registrada no Ministério da Agri-
cultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2004, tor-
nou-se comercialmente disponível sob o nome de Leish-
mune® e titulada como a primeira vacina contra a LVC no
mundo. Composta por fração purificada chamada fucose
manose ligante (FML), isolada de promastigotas da L.
donovani, trata-se de complexo que inibe fortemente a
penetração de promastigotas e amastigotas em macró-
fagos murinos “in vitro” de forma espécie específica . Uti-
liza como adjuvante de imunidade a saponina, que por
sua vez tem capacidade de estimular a resposta imune
ao antígeno, promovendo aumento na síntese de várias
citocinas, como IFN-γ, IL2, IL-4 e IL-10.
A imunização com o antígeno A2 associado à saponi-
na foi capaz de induzir proteção significativa contra a in-
fecção por L. donovani, L. amazonensis e L. infantum em
camundongos e em cães. Assim, em 2008, outra vacina
foi registrada no MAPA e comercializada com o nome de
Leish-tec® pelo laboratório Hertape-Calier, utilizando este
antígeno recombinante.
No cão a LV é uma doença multissistêmica com ma-
nifestações clínicas variadas o que dificulta seu diagnós-
tico, especialmente em áreas onde a doença não é endê-
mica. Assim, métodos de prevenção que impeçam o con-
tato do vetor com o reservatório, ou que estimule uma
resposta imunológica capaz de promover uma resistên-
cia parasitária, poderiam ser ótimas ferramentas para o
controle da doença.
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Cancro de inoculação
em cães

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