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Universidade Federal do Paraná 				
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Linguística, Letras Clássicas e Vernáculas
Curso de Graduação em Letras
Linguística II – HL223
Classificação dos Morfemas (Texto 3)
Estudamos nas aulas anteriores a definição de morfema:
O morfema é a menor unidade linguística com forma e conteúdo; ele não pode se decomposto em unidades menores com essas mesmas propriedades.
Os morfemas satisfazem os seguintes requisitos:
a) são unidades portadoras de sentido (tem um traço semântico recorrente – trazem uma informação gramatical ou lexical que se repete em outras estruturas)
b) são unidades mínimas – não podem ser divididas em formas menores.
Devemos notar que várias palavras da língua não podem ser decompostas em unidades menores: mar, sol, mulher, etc. Elas são chamadas palavras primitivas (ou palavras simples). As palavras primitivas são formas que constituem ao mesmo tempo palavras (unidade livre mínima da frase) e morfemas (unidade mínima que contém informação). Por contraste, temos as palavras derivadas, que se formam de outras palavras e não constituem morfemas: elas contêm morfemas.
Assim, podemos dizer que certos morfemas são também palavras, enquanto outros não. Esse conceito nos mostra que existem diferentes tipos de morfemas. Podemos classificá-los de diversas formas, conforme consideremos um ou outro aspecto de suas propriedades.
1. Classificação relativa à autonomia sintática do morfema
1.1 O morfema livre
Um morfema que pode aparecer de forma autônoma em uma frase é um morfema livre. Em outras palavras, dado que a palavra é a unidade livre da frase, um morfema livre é um morfema que é também uma palavra. As formas mar e sol são morfemas livres visto que são ao mesmo tempo morfemas (não podem ser decompostas) e palavras (são autônomas). Já as formas mares, solar e enluarado não são morfemas livres, porque não são na verdade morfemas (elas podem ser decompostas: mar-es; sol-ar; en-lu(a)-ar-ado).
1.2 O morfema preso
Um morfema que não pode aparecer de forma autônoma em uma sentença é um morfema preso. Se um morfema não constituir também uma palavra, ele deve necessariamente estar preso a um outro morfema antes de poder aparecer em uma sentença. As formas como –es (em mares); ​-ar (em solar) e –ado (em enluarado) são morfemas presos.
2. Classificação relativa ao papel que os morfemas representam nas palavras
2.1 Raiz, radical e base
Considere as séries de palavras que seguem:
(1) 	a. plant-ar, plant-ação, plant-ador, trans-plant-ar
b. ferr-o, ferr-eiro, ferr-ugem, ferr-amenta, ferr-agem
c. velh-o, en-velh-ecer, velh-inho, velh-ice
Cada lista em (1) constitui uma família de palavras, ou seja uma série de palavras agrupadas em torno de um conceito comum. Esse conceito comum é expresso por um morfema comum (plant-, ferr-, velh-). Este morfema comum a uma família de palavras é chamado raiz : o “elemento irredutível e comum às palavras de uma mesma família” (Saussure, p. 216 - este conceito de raiz é condizente com o ponto de vista sincrônico). Radical, segundo Rocha (1998), “é a parte da palavra que está presente em todas as formas de uma mesma palavra”, ou seja, é a parte da palavra que é comum às suas formas flexionadas. Por exemplo, o radical de estudioso é estudios-, a parte da palavra comum às variações de flexão: estudioso, estudiosa, estudiosos, estudiosas. A base é “uma sequência fônica recorrente, a partir da qual se forma uma nova palavra. A partir da base apelidar é possível formar apelidador, e em formigueiro, constatamos que a base é formiga” (Rocha, 1998). Observando-se a sequência centro, central, centralizar, descentralizar e descentralização, podemos afirmar que descentralização tem como base descentralizar, que por sua vez, tem como base centralizar. Já a base de centralizar é central, e a de central é centro. Resumindo, o conceito de raiz está ligado a um grupo lexical, enquanto o conceito de radical está ligado às diversas formas de uma mesma palavra. Por outro lado, o conceito base está ligado ao processo de formação das palavras. A raiz de terra é terr-, o elemento irredutível e comum às palavras do grupo lexical ao qual pertence o item lexical terra: terreiro, terreno, térreo, enterrar, subterrâneo, etc. O radical de terra é terra, a parte da palavra comum a todas as formas flexionadas desse item lexical: terra, terras. Como terra é uma palavra primitiva (simples, não derivada), ela não possui uma base; essa palavra é constituída dos morfemas terr- (raiz) e –a (vogal temática nominal).
2.2 Afixos: prefixos, sufixos, infixos, circunfixos
Os morfemas que se combinam com uma base para formar uma nova palavra (ou uma forma nova da mesma palavra) são os afixos. Por exemplo, a lista de palavras em (1a) contém os afixos –ar, -ação, -ador, trans-. 
O estatuto de raiz ou de afixo de um morfema é uma propriedade própria ao morfema. Independentemente da palavra em que aparecem, -ador e trans- são por natureza afixos e ferr- e plant- são por natureza raízes. Por contraste, quando falamos de base, falamos de uma forma definida de maneira relacional. A base de uma palavra é uma sequência fônica que serve de base para o processo de afixação, ou seja para a adição de um afixo. A relação base-afixo é uma relação binária: uma palavra contém sempre uma única base e um único afixo. Consideramos então que a afixação é um processo iterativo que consiste na anexação de um afixo a uma base. Uma vez combinados a base e o afixo para formar uma palavra, o processo pode ser repetido, e utilizamos essa palavra como base para a adição de um outro afixo. A palavra formada na primeira etapa torna-se a base da palavra formada na segunda etapa: musica-al ( musical; musical-idade ( musicalidade.
Os afixos são sempre morfemas presos e modificam ou o sentido de uma base ou sua categoria lexical. Uma distinção pode ser estabelecida entre os afixos segundo a posição em que eles ocorrem com relação à base: chamamos de prefixo o afixo anteposto à base (des-leal, in-feliz), de sufixo, o afixo posposto à base (cruel-dade, firme-mente), de infixo, o afixo que se inserem no interior da palavra (em tagalog (Filipinas): sulat (escrever) ( s-um-ulat (escrito)), e de circunfixo, o afixo que se aplica a uma base no início e no fim – afixo descontínuo (em Chickasaw, língua indígena norte-americana: chokma ‘ele é bom’ ( ik+chokm+o ‘ele não é bom’). 
2.2.1 Função dos afixos na formação das palavras
2.2.1.1 Derivar uma nova palavra
Uma das funções que pode ter um afixo é derivar uma palavra nova, ou seja, uma palavra cujo sentido é diferente do sentido da base. Um afixo que permite derivar uma palavra nova é um afixo derivacional. Tanto o prefixo como o sufixo podem apresentar essa função. No entanto, enquanto o acréscimo de prefixos derivacionais não contribui para a mudança de categoria gramatical das palavras (2), o acréscimo de um sufixo derivacional pode ou não provocar essa mudança (3).
(2)	a.	gelar (verbo) ( congelar (verbo) ( descongelar (verbo)
(3)	a.	triste+eza ( 	tristeza
		(adj.)		(subst.)
	b.	papel+aria ( 	papelaria
		(subst.)		(subst.)
2.2.1.2 Dar uma nova forma à palavra
A segunda função que pode ter um afixo é a de dar uma nova forma a uma palavra, sem mudar seu sentido, apenas acrescentando-lhe certas informações de ordem gramatical. Um afixo que modifica a forma de uma palavra conferindo-lhe propriedades gramaticais é um afixo flexional. Somente os sufixos apresentam essa função. Um sufixo flexional confere à palavra da qual ele faz parte informações como gênero e número (nomes e adjetivos), pessoa e número (verbos), tempo, modo e aspecto (verbos). Assim, as diferentes formas das palavras obtidas através do acréscimo de um sufixo flexional têm o mesmo sentido e se distinguem apenas por meio de certos traços gramaticais. Por exemplo, cantar, cantamos, cantaram, cantasse se distinguem com relação aos traços de pessoa, modo e tempo; brasileiro, brasileira, brasileirosse distinguem com relação aos traços de gênero e número. O acréscimo de sufixos flexionais conserva as palavras dentro de uma mesma classe. Os sufixos flexionais são também chamados de desinências.
A distinção entre afixos derivacionais e flexionais é importante: ela delimita as duas grandes áreas da Morfologia: a Derivação e a Flexão.
3. Classificação relativa à forma do morfema (ligada ao processo de formação da palavra)
3.1 Morfema Aditivo (processo de afixação)
É o morfema que é acrescentado a uma base: trans - formar / transformar - ção
3.2 Morfema Reduplicativo (processo de reduplicação)
É o morfema que participa de um tipo especial de afixação, que repete fonemas da base, com ou sem modificações; o morfema reduplicativo não é um afixo com formas variadas, mas uma modificação na raiz, que consiste na repetição de toda ela ou de parte dela.
pidgin da Nova Guiné: 		lapun “velho” 		lapunpun “muito velho”
crioulo da Ilha Ano Bom: 	gavu “bom” 		gagavu “muito bom”
				dosy “dois” 		dodosy “ambos”
tagalo (língua austronésia falada nas Filipinas): 	
dalawá “dois” 		dadalawá “só dois”
				tatló “três” 		tatatló “só três”
3.3 Morfema Subtrativo (processo de subtração)
Segmentos da base que são eliminados para expressar um valor gramatical. No português, alguns femininos são formados pela subtração do morfema do masculino, como em: orfão/orfã; anão/anã; campeão/campeã; irmão/irmã.
Em francês, o masculino é resultado da subtração do morfema do feminino:
fem.		masc.
(		(	"gato"
			"feio"
			"mau"
			"fresco"
(		((	"bom"
3.4 Morfema Alternativo (processo de substituição)
Quando alguns segmentos da base são substituídos por outros, de forma não arbitrária (alguns traços se alternam com outros) : 
pus/pôs; fiz/fez; fui/foi (oposições número-pessoais); 
pude/pôde; pode/pôde (oposições modo-temporais) em português
foot/feet; man/men (oposição numérica). 
Em português os morfemas alternativos são normalmente redundantes com relação aos morfemas segmentais. Nos pares olho/olhos; povo/povos; formoso; formosa, a oposição de número é marcada pelo –s, com redundância fonética.
Exceção: avô/avó
Exercícios 
1) Observe atentamente os seguintes dados (samoan, língua falada na Polinésia)
manao		ele quer	mananao	eles querem
mate		ele morre	mamate	eles morrem
nofo		ele fica		nonofo		eles ficam
galue		ele trabalha	galulue		eles trabalham
tanu		ele enterra	tatanu		eles enterram
malosi		ele é forte	malolosi	eles são fortes
taoto		ele mente	taooto		eles mentem
1.1) De que maneira é obtida a forma plural dos verbos na terceira pessoa? Descreva o processo.
1.2) Se em samoan “ele ama” se diz alofa, como se diria “eles amam”? E se “eles cantam” se diz pepese, como se diria “ele canta”?
2) Identifique os processos morfológicos envolvidos na formação das seguintes palavras:
a. mouse – mice 		d. sogro – sogra		g. bisavô – bisavó 
b. goose – geese 		e. mão – mãos		h. porco – porca 
c. cirurgião – cirugiã 		f. o pires – os pires
3) Observe atentamente os dados que seguem (papago):
	nkoton
	minha camisa
	gemnonowi
	tua mão
	wopnam
	chapéu
	kotonay
	camisa dela/dele
	gemwenag
	tua irmã
	wenag
	irmã
	wenagay
	irmã dela/dele
	nkakio
	minha perna
	koton
	camisa
	gogohana
	nosso livro
	momomi
	nossa cabeça
	gohana
	livro
	wowopnam
	nosso chapéu
	gemkakio
	tua perna
	momi
	cabeça
	
	
	
	
	nonowi
	mão
	
	
	
	
	gogi
	pai
�
a) Forneça os morfemas que significam:
perna ___________________________________
possessivo 1a pessoa sing. ___________________
possessivo 2 a pessoa sing. ____________________
possessivo 3a pessoa sing. _____________________
b) Como você diria o que segue em papago?
i) meu pai ____________________________	
ii) nossa camisa _______________________
iii) cabeça dele/dela _____________________	
iv) teu livro ___________________________
�
c) Qual a diferença existente entre o morfema possessivo que indica a 1a pessoa do plural e os outros morfemas possessivos?
_______________________________________________________________________________________________
4) Observe os dados do Murle (Etiópia) e explique o processo de formação do plural.
nyoon		carneiro		nyoo		carneiros
wawoc		garça branca		wawo		garças brancas
onyiit		costela			onyii		costelas
rottin		guerreiro		rotti		guerreiros
5) Observe os dados do Ponapean (Micronésia) em (a) e do Mangap-Mbula (Papua Nova Guiné) em (b) e descreva o processo de formação da forma progressiva dos verbos.
(a)	
	duhp
	mergulhar
	du-duhp
	mergulhando
	mihk
	mamar
	mi-mihk
	mamando
	wehk
	confessar
	we-wehk
	confessando
(b)
	kuk
	latir
	kuk-uk
	latindo
	kel
	cavar
	kel-el
	cavando
	kan
	comer
	kan-na
	comendo
Bibliografia
HASPELMATH, Martin. Understanding morphology. Londres: Arnold, 2002. 
KEHDI, Valter. Morfemas do português. 6. ed. São Paulo: Ática, 1990. 
LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Manual de morfologia do português. Campinas: Pontes, 2003.
PETTER, Margarida M. Taddoni. “Morfologia”. In Fiorin, José Luiz (org.), Introdução à Linguística. São Paulo: Contexto, p. 59-79, 2003.
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas Morfológicas do Português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

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