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Doença do refluxo gastroesofá2 Pontos essenciais: -Indicações dos exames; -Indicações de tratamento cirúrgico; - Esôfago de Barrett - definição e tratamento. 1. Definição Afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adja- centes, acarretando variável espectro de sintomas esofágicos ou extra-esofágicos, associados ou não a lesões teciduais. O refluxo gastroesofágico é um evento fisiológico e assin- tomático; porém, quando é persistente, determina alterações inflamatórias que se iniciam na lâmina própria para, posterior- mente, alcançar a mucosa e pode ser detectado ao exame en- doscópico como anormal. 2. Etiopatogenia O desequilíbrio entre fatores de agressão e de proteção do esôfago associado a alterações dos mecanismos de con- tenção do refluxo determina a DRGE.Tanto o refluxo ácido do estômago quanto o refluxo alcalino proveniente do pâncreas e da bile são lesivos ao esôfago. Os episódios de refluxo serão tanto mais danosos quanto mais prolongados forem. Fatores protetores do esôfago são a saliva, com poder de neutralização; o clareamento esofágico (processo pelo qual restaura-se o pH normal do esôfago após a ocorrência de re- fluxo), dado pela atividade motora; a ação da gravidade; e a resistência da própria mucosa esofágica. Já os mecanismos de barreira anti-refluxo são: entrada oblíqua do esôfago no estômago, ângulo de Hiss, pinçamento esofágico pelo hiato diafragmático, presença de esôfago na cavidade abdominal, membrana frenoesofágica, e presença do esfíncter inferior do esôfago (ElE - principal mecanismo de contenção). .. O ElE tem extensão de 2 a 4cm e se relaxa durante a de- glutição. A sua caracterização anatômica é difícil, de modo que parece ser mais uma área funcionalmente especializada, um esfíncter fisiológico. Existe um fenômeno denominado relaxamento transitó- rio (RT) ou relaxamento espontâneo, que é responsável por 60 a 70% dos episódios de refluxo (normal ou anormal). Nos pacientes com refluxo patológico, a freqüência de RTé maior. Esse fenômeno é estimulado, principalmente, pela distensão gástrica e é a principal alteração fisiopatológica do ElE na DRGE. A pressão do ElE sofre influência de diversos hormô- nios, alimentos e fármacos. 3. Etiologia As principais causas da DRGEsão: A - Hérnia hiatal por deslizamento É a causa mais freqüente de DRGE. No entanto, existem pacientes com hérnia de hiato sem sintomas e portadores da doença do refluxo sem hérnia de hiato. A hérnia hiatal determina o refluxo pela perda do segmento esofágico ab- dominal e por alterações no ângulo esôfago-gástrico. Existe relação direta entre a dimensão da hérnia hiatal e a intensi- dade do refluxo. O diagnóstico da hérnia de hiato pode ser feito por meio de endoscopia digestiva alta (EDA), de exame con- trastado esôfago-estômago-duodeno (EED) ou de estudo manométrico. B - Esclerose sistêmica progressiva Essa afecção acomete a musculatura lisa do esôfago cau- sando atrofia, e, como conseqüência, surgem alterações mo- toras no corpo esofágico e relacionadas ao ElE, como menor pressão de repouso e acalásia. Causa esofagite de refluxo de difícil controle. MEDCEL - PRINCIPAIS TEMAS EM GASTROENTEROLOGIA -- - ~ ~ ~ c -Sondagem nasogástrica (SNG) prolongada A presença da sonda nasogástrica dificulta o clareamento esofágico e pode causar esofagite (de forma infreqüente). Po- rém, quando esta se instala, evolui mais precocemente com estenose. São medidas preventivas manter decúbito elevado e utilizar drogas antiácidas administradas pela via enteral ou parenteral. Pacientes com tempo de sondagem maior do que semanas devem, preferencialmente, ser submetidos a proce- dimentos derivativos, como a gastrostomia, a fim de evitar, além da DRGE, outras complicações, como sinusite e infecção respiratória inferior. D - Após intervenções na transição esôfago-gástrica Dilatação forçada junto à cárdia, cardiomiectomia, vago- temias, gastrectomias totais ou parciais e operações de res- secção do trato esôfago-gástrico (TEG). E - Condições que aumentam a pressão intra-ab- dominal Exercício físico, tosse, esforço evacuatório, gravidez, obe- sidade e presença de ascite. F - Diminuição de motilidade gástrica Atonia ou estase gástrica que podem ser conseqüentes a diabetes, vagotomias, alterações neuromusculares, disfun- ções motoras pilóricas ou do duodeno, e estenoses. 4. Fisiopatologia A - Alterações motoras Existe alguma anormalidade funcional do ElE na maioria dos pacientes com DRGE. As 3 principais anormalidades são relaxamento espontâneo do ElE, hipotonia esfincteriana (re- dução do tônus basal) e ausência ou encurtamento do seg- mento intra-abdominal do esfíncter. B - Alterações inflamatórias o exame endoscópico pode diagnosticar o processo inflamatório causado pelo refluxo. Em fases mais avança- das, até mesmo a EDA pode mostrar essas alterações. No entanto, há pacientes portadores de refluxo com exame endoscópico normal (cerca de 20%). Existem algumas al- terações causadas pelo processo inflamatório que podem ser diagnosticadas na DRGE, que vai desde o edema e enantema locais até erosões e ulcerações. As erosões ou úlceras rasas isoladas ou múltiplas geral- mente cicatrizam sem conseqüências morfofuncionais; po- rém, as úlceras maiores e mais profundas podem cicatrizar, iMedcel levando a retração e estenose. O processo de reparação pode ser dado a partir da migração de células cilíndricas dos dutos das glândulas submucosas do esôfago e glândulas submucosas, que acabam por revestir áreas de reparação com epitélio colunar. Tal processo é denominado esôfago de Barrett. Existem 3 tipos diferentes de epitélio cilíndrico que ca- racterizam o esôfago de Barrett: o fúndico, o pilórico e o intestinal. Este tipo de epitélio é o substrato para o desen- volvimento de adenocarcinoma esofágico, em especial o tipo intestinal. Por esse motivo, nos últimos anos, apenas a presença de metaplasia mucosa glandular do tipo intes- tinal tem sido considerada esôfago de Barrett. 5. Complicações Existem 3 complicações principais .relacionadas à DRGE: hemorragia, estenose e esôfago de Barrett. As úlceras pro- fundas com perfuração são extremamente raras. 1 - Hemorragia: em geral, de pequena monta e crônica, podendo levar a anemia. 2 - Estenose: pode ser precoce ou tardia e requer trata- mento específico. 3 - Esôfago de Barrett: tem uma relação de associação de 50% dos pacientes com DRGE e estenose/esofagite ul- cerativa. Esse termo só deve ser usado na presença de me- taplasia do tipo intestinal. 6. Diagnóstico A - Quadro clínico Os sintomas podem ser divididos em esofágicos típicos, como a pirose retroesternal; esofágicos atípicos, como a dor torácica de origem não-cardíaca e o globus; e os extra-esofá- gicos, que podem ser orais, otorrinolaringológicos e respira- tórios. Quadro 1-Manifestações atípicas da DRGE Manifestação I Tipo Esofágica Dor torácica sem evidência de enfermidade coro- nariana (dor torácica não-cardíaca); Globus Histericus (faringeus). Pulmonar Asma, tosse crônica, hemoptise, bronquite, bron- quiectasia e pneumonias de repetição. Otorrinolarin- Rouquidão; pigarro (clareamento da garganta); gológica laringite posterior crônica; sinusite crônica; otalgia. Oral Desgaste do esmalte dentário; halitose e aftas. A intensidade dos sintomas esofágicos típicos depende, basicamente, da intensidade das alterações esofágicas. edcel DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO A pirose retroesternal é o principal sintoma e se agrava m refeições volumosas ou com alimentos que relaxam o ':JE. Nesses pacientes, é comum que o decúbito dorsal hori- : ntal piore os sintomase possa desencadear regurgitação. le destacar que os pacientes portadores de esôfago de arrett apresentam melhora ou desaparecimento de sinto- as de pirose, devido à adaptação do epitélio para receber a secreção ácida. A disfagia, geralmente encontrada em casos de estenose, aode estar presente frente a alterações motoras específicas a DRGE. É sempre importante a detalhada caracterização do efluxo e da disfagia, pois ambos podem estar presentes con- omitantemente a outras doenças, tais como megaesôfago e esclerose sistêmica progressiva. A dor torácica é desencadeada por' estímulo de termina- ções nervosas do próprio esôfago pelo ácido ou pelas contra- ções incoordenadas (alteração motora do esôfago). O globus é a sensação de "bola que sobe e desce" na região retroesternal, antigamente considerada um sintoma psicológico e denominado de globus hystericosi, hoje sablda- mente relacionado à DRGE. Os sintomas respiratórios podem aparecer devido à as- piração do conteúdo gástrico refluído ou por ação indireta desencadeada por refluxo vagal. A hemorragia digestiva alta (HDA) é rara, e são mais co- muns quadros de anemia crônica, principalmente em casos de grandes herniações gástricas. Nestes, a isquemia da mu- cosa também desempenha um papel importante. B - Exames complementares São exames com a finalidade de detectar 3 problemas: o refluxo propriamente dito, as repercussões da DRGEe as con- dições desencadeantes e afecções associadas. a) EEO: o exame contrastado pode caracterizar o refluxo; porém, muitas vezes, depende de manobras específicas du- rante sua realização (decúbito dorsal horizontal e manobras de Valsalva, por exemplo). Pode mostrar alterações anatômi- cas, como a perda do ângulo de Hiss e a presença de hérnias de hiato que podem contribuir para o refluxo. É pouco sen- sível para a detecção da esofagite, exceto em casos graves, em que se encontram ulcerações ou estenose. Contudo, é o melhor exame para a caracterização da hérnia de hiato, po- dendo evidenciar alterações funcionais esofágicas que sugi- ram a concomitância de megaesôfago ou esclerose sistêmica progressiva, além de permitir a caracterização de distúrbios de esvaziamento gástrico. Figura 1-EED - Grande hérnia hiatal mista (tipo IV) b) Endoscopia digestiva alta (EOA): pode diagnosticar o refluxo por meio da visualização da cárdia incompetente, porém é mais importante para o diagnóstico da esofagite (permite a visualização da mucosa com possibilidade de biópsia e gradua o nível de esofagite permitindo exames comparativos). Nas fases precoces da DRGE, a mucosa pode estar preservada, pois a reação inflamatória tem início na submucosa. Entretanto, a biópsia pode diagnosticar a cha- mada esofagite microscópica. À medida que a esofagite se instala, ela pode ser graduada pelas classificações endoscó- picas de Savary-Miller ou de Los Angeles (Quadros 2 e 3). Além disso, a endoscopia é fundamental para a caracteriza- ção e a complementação diagnóstica das doenças associadas ou das complicações da DRGE. Quadro 2 - Classificação endoscópica de Savary-Miller modificada Grau de aspecto endoscópico - Esofagite O Normal I Uma ou mais erosões lineares ou ovaladas em uma única prega longitudinal 11 Várias erosões situadas em mais de 1 prega longitudinal, con- fluente ou não, não envolvendo toda a circunferência do esô- fago 111 Erosões corifluentes e envolvendo toda a circunferência do esôfago IV Lesões crônicas: úlceras e estenose, isoladas ou associadas às lesões de graus 1 e 3 Epitélio colunar em continuidade com a linha Z, circunferencial V ou não, de extensão variável, associado ou não às lesões de 1 a4 ~------------~-- MEDCEL- PRINCIPAISTEMASEMGASTROENTEROLOGIA - - - iMedcel Quadro 3 - Classificação endoscópica da DRGE de Los Angeles Grau I Achado A Uma ou mais erosões menores do que 5mm B Uma ou maiserosõesmaiores do que 5mm em suamaior ex- tensão, não contínuas entre os ápicesde 2 pregasesofágicas C Erosõescontínuas (ou convergentes)entre os ápicesde, pelo menos, 2 pregas,envolvendo menos do que 75%do órgão O Erosões ocupando pelo menos 75% da circunferência do órgão c) Manometria esofágica: tem como objetivo a avaliação das pressões e a posição dos esfíncteres superior e inferior do esôfago, assim como a função desses esfíncteres e o padrão das ondas peristálticas no corpo esofágico. A manometria é fundamental no diagnóstico da DRGE, principalmente quan- do se suspeita de outras afecções motoras concomitantes, tais como a esclerose sistêmica progressiva e o megaesôfago. Nesse sentido, ajuda muito na decisão adequada de trata- mento. Sempre que disponível, deve ser realizada antes do tratamento cirúrgico para que sejam diagnosticadas doenças motoras que possam modificar a conduta. d) Impedanciometria, impedanciomanometria e impedan- ciopHmetria esofágicas: são exames novos que estão entrando na prática médica e têm potencial para se tornarem o padrão- ouro no diagnóstico da DRGE. Possibilita o acompanhamento do movimento anterógrado (transporte do bolo alimentar) e do movimento retrógrado do conteúdo intraluminar (refluxo gas- troesofágico). A associação com a medida do pH, na impedan- ciopHmetria, possibilita a correlação dos sintomas e dos episó- dios de refluxo com alterações de pH. Quadro 4 - Vantagens e desvantagens dos principais métodos diag- nósticos Método I Vantagens I Desvantagens EDA Avalia presença e Ausência de grau de esofagite, achados não exclui o complicações e diagnóstico afecções associadas pHmetria Avalia presença, Não identifica esofágica intensidade e padrão esofagite nem do refluxo complicações do Correlaciona refluxo refluxo com a queixa Não avalia a ocorrência de refluxo "não-ácido" EED Avaliação morfológica Não identifica do esôfago esofagite Avaliação de estenoses, ulcerações e hérnia hiatal Manometria esofágica Parâmetro de predição Não avalia a de evolução da doença capacidade real Diagnóstico de de transporte do distúrbios motores conteúdo alimentar específicos do esôfago Identificação do ElE para pHmetria Impedanciometria esofágica Acompanhamento do movimento anterógrado e retrógrado do conteúdo alimentar Poucosestudos clínicos 7. Tratamento clínico Divide-se em medidas comportamentais e tratamento farmacológico. Ambos devem ser rigorosa e simultaneamen- te efetuados. Dentre as medidas comporta mentais, as principais são decúbito da cama elevado, não usar roupas ou fazer exercí- cios que elevem de maneira acentuada a pressão intra-abdo- minal. É importante, também, estimular a perda de peso e o tratamento de constipação intestinal. Evitar gordura, cafeína, chocolate (contém xantina), nicoti- na e álcool, pois essas substâncias diminuem a pressão do ElE. Alimentos muito quentes ou temperados, cítricos, molho de tomate e álcool são também irritantes da mucosa esofágica e devem ser evitados. Os excessos alimentares devem ser evi- tados com fracionamento da dieta. Os pacientes não devem se alimentar logo antes de dormir nem ingerir alimentos de digestão lenta, como frituras, à noite. Para o tratamento farmacológico, é importante saber que os inibidores de bomba de prótons (IBP) são superiores aos antagonistas de H2. As doses diárias de IBP indicadas são omeprazol (40mg), lansoprazol (30mg), pantoprazol (40mg) e rabeprazol (20mg). Os pacientes devem ser tratados em dose plena por 6 a 12 semanas, associados ou não a pró-cinéticos (bromoprida, cisaprida). Frente a pacientes que necessitam tratamento farmacoló- gico para manterem-se assintomáticos, o tratamento cirúrgi- co deve ser cogitado. Quadro 5 -Medidas comportamentais no tratamento da DRGE Elevaçãoda cabeceira da cama (15cm); Moderar a ingestão dos seguintes alimentos,na dependência da correlação com os sintomas: gordurosos, cítricos, café, bebidas al- coólicas, bebidas gasosas,menta, hortelã, produtos de tomate; Cuidados especiais para medicamentos potencialmente "de risco": anticolinérgicos, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueado- res de canais de cálcio, agonistas beta-adrenérgicos, alendronato; Evitar deitar-se nas 2 horas seguintes às refeições; ----------------~ Evitar refeições copiosas; Reduçãodrástica ou cessaçãodo fumo; Reduzir o peso corporal (emagrecimento). , iMedcel DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 8. Tratamento cirúrgico a) Indicações do procedimento cirúrgico: -Falha do tratamento clínico (principal indicação): carac- terizada pela manutenção dos sintomas, mesmo com o uso correto das medicações; - Presença de complicações da DRGE (ulceração, Barrett, estenose); - Sintomas respiratórios importantes: pneumonites ou bron- coespasmos de repetição devido ao refluxo; - Dificuldade para tratamento clínico: por dificuldade fi- nanceira de adquirir medicações ou por atividades pro- fissionais que impedem o tratamento adequado; - Refluxo desencadeado por outra cirurgia no trato esôfago- gástrico (TEG): geralmente não se consegue controlar clini- camente o refluxo nessas situações. Quadro 6 - Indicações de tratamento cirúrgico na DRGE não com- plicada - Pacientes que não respondem satisfatoriamente ao tratamento clínico, inclusive aqueles com manifestações atípicas cujo reflu- xo foi devidamente comprovado; - Pacientes dos quais é exigido tratamento de manutenção com IBP,especialmente aqueles com menos de 40 anos de idade; - Casosem que não é possívela continuidade do tratamento de ma- nutenção, por exemplo, a impossibilidade de arcar financeiramente com os custos do tratamento clínico a longo prazo. b) Objetivos: atuar sobre os 3 principais fatores etiopatogênicos da DRGE: 1 - Relaxamento espontâneo do ElE: valvuloplastias, por alterarem o relaxamento receptivo do fundo gástrico. 2 - Tônus pressórico do ElE. 3 - Posicionamento do ElE: abdominal (objetivo cumprido com a hiatoplastia). c) Técnica operatória: O procedimento cirúrgico envolve 2 tempos principais. 1 - Hiatoplastia: consiste na aproximação dos braços do pilar diafragmático através de sutura com fio inabsorvível, evitando a tensão e o garroteamento do esôfago distal; 2 - Valvuloplastia: consiste no envolvimento circunferen- cial do esôfago distal, em diferentes graus, pelo fundo gás- trico; As técnicas mais comumente utilizadas são a fundoplica- tura tipo Nissen (total - 360°) ou parcial tipo Toupet-Lind (180 a 270°). Figura 2 - Hiatoplastia e fundoplicatura pela técnica de Toupet-Lind Figura 3 -Hiatoplostia e fundoplicatura pela técnica de Nissen Figura 4 - Aspecto intra-operatório da hiatoplastia: na foto à direi- ta, vemos o esôfago abdominal isolado e, à esquerda, a hiatoplastia realizada com pontos separados de algodão 2~Oem cirurgia conven- cional d) Comentários A principal complicação pós-operatória é a disfagia deter- minada pela hiatoplastia e pela válvula anti-refluxo. Portanto, é fundamental que se diagnostique outro motivo para que o 41 MEDCEL - PRINCIPAIS TEMAS EM GASTROENTEROLOGIA doente apresente disfagia antes de se empregar o tratamen- to cirúrgico. Nesse sentido, a manometria esofágica é funda- mental. Em casos nos quais são notadas alterações motoras do corpo esofágico, pode-se optar pela técnica de Lind, ten- do em vista que essa técnica representa uma barreira menor para a passagem de alimentos. Em termos de contenção do refluxo (controle por pHme- tria), tanto a fundoplicatura parcial quanto a total são equi- valentes. A via laparoscópica é a mais indicada para a realização das fundoplicaturas, e importantes detalhes técnicos devem ser sempre respeitados, como manter uma certa folga de 1,5 a 2cm, fundoplicatura "frouxa", liberação do fundo gástrico (para que não determine obstrução extrínseca do esôfago distal nem desvio do eixo esõfago-gástrico), nós sem tensão (evitando isquemia tecidual). O tratamento cirúrgico é mais efetivo que o tratamento clínico no controle do refluxo, tendo bons resultados em mais de 90% dos casos. A litíase biliar também deve ser tratada no mesmo proce- dimento cirúrgico, quando presente em pacientes que serão submetidos a procedimentos cirúrgicos para DRGE. 9. Esôfago de Barrett A - Conceito o esôfago de Barrett (EB) é uma complicação da DRGE caracterizada pela ocorrência de metaplasia intestinal, ou seja, substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago distal por epitélio colunar contendo células intes- tinalizadas, em qualquer extensão. É denominado "Barret curto" quando sua extensão é menor que 3cm, e "barrett longo" quando é maior que 3cm. Esse epitélio metaplásico é considerado como substrato para a instalação de adenocarcinoma (por meio da seqüência rnetaplasla-displasia-carclnorna}, daí sua grande importância. Portanto, deve ser diagnosticado, tratado e acompanhado com bastante rigor. B - Etiologia A origem das células metaplásicas do esôfago de Barrett provém do estômago ou dos dutos das glândulas submuco- sas do esôfago. Tais células são totipotentes, ou seja, quando submetidas a estímulos diferentes, se especializam e se dife- renciam. Assim, as células que reepitelizam áreas sujeitas a processo inflamatório crônico podem se diferenciar em epi- télio de fundo gástrico, pilórico ou intestinal. iMedcel C - Incidência É subestimada, pois o diagnóstico adequado não é feito por muitos endoscopistas e pela ausência de sintomas em muitos doentes. Aproximadamente, 10% dos casos de DRGE apresentam esôfago de Barrett. D - Complicações As complicações mais freqüentes são a estenose e a úlce- ra em pequeno número de pacientes. Esôfago de Barrett e adenocarcinoma: aproximadamente, 2% ao ano dos casos de esôfago de Barrett desenvolvem cân- cer (incidência em estudos prospectivos). Porém, os pacien- tes com tal complicação apresentam riscos-30 a 125 vezes maior de desenvolverem adenocarcinoma de esôfago do que a população normal. Pacientes com Barrett longo e áreas de displasia estão em maior risco. O epitélio metaplásico intesti- nal é o que oferece o maior risco de degeneração maligna. E - Quadro clínico A idade média dos pacientes varia em torno de 50 anos, com pequeno predomínio do sexo masculino. O epitélio colu- nar por si só não causa sintomas, porém os doentes podem apresentar sintomas relacionados ao refluxo ou às complica- ções (estenose/úlcera/câncer). O principal sintoma é a pirose. Quanto mais freqüente, grave e prolongado for o refluxo (e os sintomas), maior será a chance de aparecimento do EB. F - Diagnóstico - EDA: mudança da cor do epitélio pálido escamoso para o róseo colunar bem acima da JEG. Devem ser feitas <, biópsias para confirmar o diagnóstico endoscópico. A presença de hérnia hiatal dificulta o diagnóstico. Nesses casos, o pinçamento diafragmático não corresponde a transição esôfago-gástrica e, portanto, devem ser iden- tificadas as pregas gástricas e a JEG. Atualmente, com a aceitação de que apenas a metaplasia intestinal deva ser denominada esôfago de Barrett, o diagnóstico só pode ser definido pelo estudo anatomopatológico. G - Tratamento Até o momento, o esôfago de Barrett não apresenta ne- nhum tratamento eficaz para regressão do epitélio meta plá- sico; tanto a terapêutica clínica como a cirúrgica são eficazes somente em controlar o refluxo, diminuindo o processo infla- matório e a progressão da doença. a) Clínico: obedece aos cuidados observados para DRGE, mas não é o tratamento mais aceito. Pode ser realizado em DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICOiMedcel pacientesque não desejam o tratamento cirúrgico, para os de alto risco. Diminui a incidência de complicações como es- tenose e úlceras, mas ainda não se sabe se altera a história natural, em caso de displasia. b) Cirúrgico: está indicado em todos os casos de esôfago de Barrett que não tenham contra-indicação clínica para tal. A hiatoplastia com fundoplicatura está indicada para pacientes com esôfago de Barrett sem complicações ou com estenose possível de dilatação. A esofagectomia está indicada para os casos de estenose impossível de ser dilatada, associação de esclerodermia e megaesôfago e na presença de câncer. c) Seguimento: mesmo após a correção do refluxo, é indicada endoscopia para o rastreamento de neoplasia. Há autores que indicam a endoscopia anual e outros a cada 3 anos, para os pacientes sem displasia ao estudo anatomopa- tológico. Entretanto, o consenso brasileiro de DRGE sugeriu uma EDA a cada 2 anos. Aqueles com displasia de baixo grau devem ser submetidos ao exame a cada 6 ou 3 meses. Os com displasia de alto grau devem ter o exame repetido e, caso haja confirmação, tratado como carcinoma in situo -
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