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Resumo Contratos - Teoria Geral

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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
Conceito:
Contrato é o negócio jurídico, estabelecido através da união de vontades de duas ou mais pessoas, que convencionam entre si a criação, modificação, transferência ou extinção de direitos de cunho patrimonial. As partes possuem obrigações recíprocas e o contrato deve atingir o seu fim social, não podendo ser mais oneroso para uma das partes que para a outra.
O art. 107, CC não exige forma especial para sua celebração, exceto se a lei assim exigir. Com isso o simples acordo de vontades entre as partes já se faz suficiente para sua celebração, podendo existir na forma verbal, consensual, etc.
As partes convencionam entre si os efeitos que desejam que o contrato gere, o que difere os contratos do ato jurídico stricto sensu.
Elementos Constitutivos e de Validade dos Contratos:
 
Os elementos constitutivos e de validade dos contratos são os mesmos do Negócio Jurídico.
Partes capazes. Quando se tratar de absolutamente incapazes esses devem estar representados, relativamente capazes devem estar assistidos.
Pessoas jurídicas devem ser representadas por seu representante legal capaz.
Obs 1.: A capacidade das partes em algumas situações não é o suficiente, dependendo assim da legitimidade para realizar alguns negócios jurídicos. Ex: Negócio jurídico em que o bem objeto do contrato pertence ao regime de comunhão do casamento. Depende da autorização uxória (da esposa) ou marital para que o cônjuge seja autorizado a realizar o negócio. Em negócio jurídico de ascendente para descendente, depende de autorização dos demais descendentes e do cônjuge. 
Obs 2: De acordo com a Teoria da Incapacidade ou do Ato fato jurídico, deve-se observar se o relativamente capaz tinha atributos psicológicos para realizar determinado negócio jurídico sozinho. Se possuir o negócio é válido. Ex: Adolescente compra um habúguer na escola.
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
Um objeto pode ser faticamente impossível. Ex: Terreno na lua.
Ou juridicamente impossível. Ex: Herança de pessoa viva. Art. 426, CC.
A impossibilidade jurídica não se confunde com ilicitude. Naquela o objeto é lícito mas está juridicamente impedido de ser utilizado em um contrato. Nessa o objeto é ilícito, ou seja, proibido por lei. Ex: Drogas , órgãos humanos.
Forma prescrita ou não defesa por lei.
Quando a lei não exigir uma forma específica, em regra pode ser usada qualquer uma que a lei não proíba.
Vontade livre de vícios de consentimento (erro, dolo, coação, lesão ou estado de perigo) ou vícios sociais (fraude contra credores e simulação).
Para a vontade ser válida, esta deve ser expressada por livre e espontânea vontade das partes e com objetivos lícitos, seguindo os princípios da boa-fé objetiva e da socialidade dos contratos. 
PRINCÍPIOS:
Autonomia da vontade: 
As partes são livres para contratarem sobre o que quiserem e com quem quiserem, porém para tal contrato existir e ser válido deve-se observar sempre os elementos formadores e de validade. Além deste contrato não ir de encontro aos princípios gerais do Código Civil e da Constituição brasileira.
Princípio do consensualismo:
Em regra, tem-se formado o contrato no momento da consensualidade das partes, no momento em que elas acordam sobre o contrato. 
Exceções: Contratos reais e contratos formados apenas na hora da entrega do objeto. Ex: Contrato de comodato e contrato de mútuo.
Princípio da Relatividade: 
O contrato cria lei entre as partes e em regra produz efeitos apenas entre elas, não atingindo a terceiros.
Exceções: Estipulação em favor de terceiros e Promessa de fato de terceiro.
Princípio da Obrigatoriedade “Pacta sunt servanda”:
Em regra, o contrato após formado deve ser cumprido. Tal princípio expressa a força vinculante da manifestação da vontade. Garante a segurança jurídica destes e a sua imutabilidade.
Vale ressaltar que tal princípio não é absoluto, existindo situações em que levará a modificação e até ao desfazimento do contrato. São as ocasiões de caso fortuito ou força maior, onde uma das partes, sem culpa, é impossibilitada de realizar o acordado. 
Onerosidade excessiva – Art. 478.
Em contratos de execução continuada onde as prestações são sucessivas ou diferidas onde a prestação é única mas futura, advindo uma situação posterior com casos extraordinários e imprevisíveis que traga uma grande desvantagem para uma parte e extrema vantagem para outra, poderá a parte lesada pedir a resolução do contrato. A resolução pode ser evitada se houver o ajuste das prestações pela parte beneficiada.
 
Logo, o “Pacta sunt servanda” ( Os contratos devem ser cumpridos), está diretamente ligado ao “Rebus sic standibus” = Como as coisas estão. Ou seja, os contratos devem ser cumpridos se a realidade fática na qual foram estabelecidos permanecerem as mesmas. Havendo mudança fática imprevisível e profunda, ocasionando o desequilíbrio de um contrato, este deve ser revisado ou até desfeito.
Princípio da Probidade:
No momento da formação, da execução e da conclusão do contrato, as partes devem ser probas (honestas, íntegras). Devem ter boa fé objetiva observando o cumprimento de seus deveres anexos, não objetivando enganar a outra parte contratante. 
Em um contrato existem os deveres nucleares (prazos, formas de pagamentos, etc) e os deveres anexos (respeitar os princípios da probidade, boa-fé).
Quando ocorre o descumprimento dos deveres nucleares, há uma VIOLAÇÃO NEGATIVA, que gera o inadimplemento do contrato. Ex: Não entregou a coisa, não pagou o preço.)
Quando ocorre o descumprimento dos deveres anexos, há uma VIOLAÇÃO POSITIVA, que também gera uma espécie de inadimplemento por não ter observado o princípio da boa-fé objetiva. (De acordo com o enunciado da CJF/STJ nº 24.). Ex: Não informar que o objeto possui defeitos ou deve ser reformado. Qualquer atitude de uma das partes que pretenda enganar a outra.
Outros princípios:
Proibição do Venire conrta factum próprio:
Vedação a um comportamento contraditório àquele de costume. 
Ex1: Em regra, os pagamentos devem ser feitos no domicílio do devedor (obrigação quesível). Salvo se as partes (obrigação portável), a lei, ou a natureza da obrigação estipularem outro local Em uma situação fática um locatário durante anos foi a casa do locador pagar os devidos aluguéis. A partir de determinado momento, sem avisar, deixou de efetuar os pagamentos. Ao ser acionado alegou que não o fez porque o locador não foi a sua residência receber.
 
Ex2: Durante anos uma loja compra mensalmente certa quantidade média de produtos sem realizar pedidos ao seu fornecedor. Em certo momento, a loja deixa de efetuar o pagamento por alegar não ter feito o pedido.
Ainda relacionado ao assunto, a Teoria dos atos próprios expressa que o comportamento anterior é suficiente para gerar o vínculo e não desobriga o devedor de isentar-se da dívida.
Supréssio:
Quando um contratante titular de um direito o perde por deixar de exercê-lo reiteradamente.
O Ex1 anteriormente dado expressa exatamente uma hipótese de supréssio.
Surrectio:
É o outro lado do supréssio. É quando um direito é adquirido por uma parte pela inércia, pela não execução reiterada do titular originário daquele direito. Ex: O credor passa a ter direito ao pagamento em outro local diferente do domicílio do devedor por inércia deste.
Obs.: A inércia pelo portador originário do direito deve ser suficiente para gerar uma legítima expectativa ao outro contratante. Deve ser reiterada, não eventual.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Os contratos podem ser
Unilateral: União de vontade de duas ou mais partes onde apenas uma possui prestação a ser cumprida. Ex.: Doação.
Bilateral ou Sinalagmático: União de vontade de duas ou mais partes onde todas as partes possuem prestações e contraprestações. Possuem relação de causalidade, sinalagma. Ou seja, a prestação de uma das partes é a causa da prestação daoutra parte. Ex.: Compra e venda. O vendedor só dá a coisa porque o comprador pagou o preço e vice-versa.
Obs.: A bilateralidade de um contrato se dá pela presença do sinalagma, ou seja, da causalidade entre as prestações (uma ser causa da outra). Sendo assim, mesmo em um contrato que há prestações para todas as partes, se estas não tiverem causalidade, não configura contrato bilateral. 
Ex: Doação com encargo. Apesar de haver duas prestações, uma não é causa da outra. Quem doou não o fez por causa do encargo, tendo em vista o caráter liberal das doações.
Unilateral imperfeito: Quando há duas prestações onde uma não é causa da outra.
Plurilateral: União de duas ou mais vontades onde há mais de três prestações sem sinalagma entre elas, direcionadas a um benefício comum. Ex.: Sociedades contratuais. As prestações das partes são direcionadas a Pessoa Jurídica que tal Sociedade fundou. 
Efeitos dos contratos Unilaterais e Bilaterais.
Exceção de contrato não cumprido – Art. 476, C.C:
O não cumprimento da prestação de uma das partes no contrato bilateral, desobriga a outra.
Cláusula Resolutória Tácita:
A parte lesada por inadimplemento da outra em contrato bilateral, pode pedir sua resolução mesmo não tendo sido estipulada cláusula resolutória.
Equivalência Econômica:
Deve haver equilíbrio, equivalência entre as prestações de um contrato bilateral.
Ex. Se A possui um imóvel de R$ 100.000,00, este deve ser vendido por esse valor ou próximo a ele. Temos aqui mais um motivo que exclui a bilateralidade das doações com encargo, pois não pode ter o encargo um custo aproximado do bem doado, deve ser muito inferior. Se não perde o caráter gratuito e caracteriza compra e venda. 
Contratos Onerosos: Aquele que possui equilíbrio econômico entre as prestações, ou seja, ambas partes perdem e ganham na mesma proporção. Ex. Compra e venda. O vendedor perde o objeto, mas recebe seu preço. O comprador perde a quantia paga, mas ganha o objeto.
Possibilita flexibilização contratual.
Há responsabilidade do alienante por evicção ou vício redibitório;
Não são anuláveis havendo fraude contra credores se o comprador agiu de boa-fé.
Todo contrato bilateral é oneroso. (Máxima de Orlando Gomes).
Contrato Gratuito: Não há equilíbrio econômico pois só uma das partes obtém benefícios daquele contrato. Deve ser interpretado estritamente Ex: Doação
Não há responsabilidade por evicção ou vício redibitório;
São anuláveis havendo fraude contra credores independente de culpa do receptor da doação.
Todo contrato unilateral é em regra ou presumidamente gratuito. (Máxima de Orlando Gomes). Exceção: Empréstimo de dinheiro a juros.
Contratos Comutativos: Aqueles em que as partes podem antever seus efeitos.
Contratos Aleatórios: Aqueles em que as partes não conseguem antever seus efeitos por ser tratar de coisa futura.
Naturalmente aleatórios: Da própria natureza ser aleatório. Ex: Contrato de aposta.
Acidentalmente aleatórios: Aquele que naturalmente é comutativo, mas por uma circunstância específica tornou-se aleatório. Ex: Compra e venda de coisa futura ou coisa exposta a risco.
Nos contratos acidentalmente aleatórios o comprador pode assumir um risco total ou parcial do negócio jurídico.
Risco total: Quando o comprador assume o risco da existência do objeto. Ex: Em um ano uma plantação de soja produz 1 tonelada do grão, que vale R$ 100.000,00. Um comprador oferece ao produtor R$ 25.000,00 pela quantidade que produzir no ano, mesmo que não produza nada.
Não vindo a existir a coisa, não tendo culpa o vendedor, o comprador deverá pagar o preço acordado. Art. 458.
Risco parcial: Quando o comprador assume o risco pela quantidade do objeto. Ex: Em um ano uma plantação de soja produz 1 tonelada do grão, que vale R$ 100.000,00. Um comprador oferece ao produtor R$ 50.000,00 pela quantidade produzida no próximo ano, desde que produza algo.
Existindo em qualquer quantidade acima de zero, não havendo culpa do vendedor, o comprador deverá pagar o preço acordado.
Não existindo, não haverá alienação e o vendedor deverá devolver a quantia paga. Art. 459, parágrafo único. 
Contrato consensual: Aquele que é formado pelo acordo de vontade das partes. Ex: Compra e venda.
Contrato real: Aquele que é formado com a entrega, tradição do bem e não com o acordo de vontades. Ex: Contrato de mútuo (empréstimo de bem infungível), comodato (empréstimo de bem fungível) ou depósito (deixar o carro no estacionamento), contrato com cláusula de reserva do domínio.
Contrato de adesão: Aquele em que as cláusulas contratuais não são discutidas entre as partes, são definidas por apenas uma delas e a outra apenas aceita. 
Nesses contratos, as cláusulas de interpretação dúbia são sempre interpretadas em favorecimento do aderente.
FORMAÇÃO DOS CONTRATOS:
Os contratos se formam com o acordo de vontades. 
Em regra os contratos são celebrados quando, mediante uma proposta, segue uma aceitação.
Proponente: Quem faz a proposta, conhecido também como policitante.
Aceitante: Quem aceita a proposta, conhecido também como oblato.
1ª Fase – Negociações preliminares:
Fase não vinculativa, onde as partes conversam sobre um possível contrato.
Mas a parte que sair lesada por desistência da outra poderá ser indenizado por perdas e danos.
2ª Fase – Proposta:
Declaração de vontade receptícia direcionada a pessoa determinada ou determinável.
Vontade receptícia: Depende da aceitação do receptor para produzir efeitos jurídicos.
Proposta entre presentes: Aquela em que há uma interlocução imediata, onde a proposta e a aceitação se dão em tempo real. Deve ter aceitação imediata para vincular. Ex: presencial, mensageiro instantâneo (chats), telefone.
Proposta entre ausentes: Aquela em que não há interlocução imediata, onde a proposta é realizada em um tempo e a aceitação e dá em outro. Ex: Carta, E-mail.
Em regra, a proposta obriga o proponente, é vinculante.
Exceções:
Não vinculação expressa na proposta;
A depender da natureza do negócio. Ex: Venda de estoque limitado, desde que expresso que a proposta é enquanto durar o estoque.
A depender das circunstâncias (proposta entre presentes ou entre ausentes):
Proposta entre presentes, sem prazo, que não teve aceitação imediata;
Proposta entre ausentes, sem prazo, corrido tempo suficiente para o receptor ter tido conhecimento e emitido sua resposta. Obs.: O juiz deverá analisar o tempo razoável.
Proposta entre ausentes, com prazo, tendo este sido ultrapassado sem expedição da resposta.
Proposta entre ausentes, onde o proponente desiste da proposta e sua retratação/desistência, chegue a conhecimento do destinatário antes ou junto com a proposta.
Obs.: Se o proponente recebe a aceitação dentro do prazo, mas a aceitação possui modificações, esta tem caráter de contraproposta e não vincula o proponente. Porém o emissor da contraproposta está agora vinculado a ela, pois modificações em proposta, configura uma nova proposta.
3ª Fases – Aceitação:
Momento em que o destinatário da proposta externa sua vontade aceitando-a.
O contrato é formado no momento da aceitação, neste momento acontece o consenso, a união de vontades entre o proponente que emitiu a proposta e o aceitante, aquele contra quem a proposta foi emitida. 
Em regra, no momento da expedição da vontade o contrato está perfeito, mesmo não tendo o proponente recebido a aceitação, tomado conhecimento dela. 
Exceção: Art. 434, CC. 
Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos no momento da expedição da aceitação, exceto quando:
A retratação do proponente chegar antes ou junto com a proposta; (Exceção 4)
Se o proponente houver se comprometido a esperar a resposta;
Se o proponente não houver se comprometido (nas propostas com prazo) e a resposta não chegar no prazo estipulado. 
PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE:
Como já dito antes, em regra os contratos afetam apenas as partes, mas existem algumas exceções.
Estipulação em favorde terceiros, art. 436 ss: É o contrato em que as partes (estipulante e promitente) manifestam sua vontade para que um direito seja gerado a um terceiro beneficiário. Ex: Contrato de seguro.
O terceiro não é parte, mas é afetado pela celebração daquele contrato.
O estipulante, ou seja, aquele que estipulou um direito em favor de terceiro, pode exigir o cumprimento do contrato. Mas se ele deixar o direito de reclamar ao terceiro beneficiário, não poderá mais influir de maneira alguma naquele contrato. 
O terceiro beneficiado, mesmo não sendo parte, pode exigir o cumprimento do contrato em seu favor, desde que: 
Tenha anuído(aceitado) com as cláusulas do contrato.
O estipulante não tenha exercido seu direito potestativo de troca de beneficiário previsto no art. 438 e parágrafo único.
 Obs.: O bem objeto da estipulação não pertencerá ao inventário do estipulante, pois a quantia foi estipulada a terceiro e nunca pertenceu ao patrimônio do estipulante. Pertencerá ao inventário do beneficiário.
Promessa de fato de terceiros, art. 439 ss:
É o contrato celebrado mediante promessa de uma das partes em prestação realizada por um terceiro. 
Caso o terceiro não cumpra a prestação, a parte promitente deverá arcar com as perdas e danos.
Se o terceiro toma ciência e assume a obrigação de fazer, não fazendo, deverá arcar com as perdas e danos, desobrigando o promitente.
Exclusão de responsabilidade – art. 439, parágrafo único:
Caso o terceiro seja cônjuge do promitente e a indenização pelo não cumprimento do terceiro afete o patrimônio do casal, não haverá responsabilidade alguma. Mas se o promitente possuir bens anteriores ou não vinculados ao regime de comunhão, estes poderão ser afetados.
Contrato com pessoa a declarar:
É o contrato em que as partes celebram com cláusula estipulando um terceiro a ser declarado no momento da conclusão do contrato para substituir uma das partes. O terceiro estipulado torna-se parte. Ex: Compra e venda em que o vendedor se recusa a celebra o contrato com determinada pessoa e esta pede a alguém pra celebrar por ela com cláusula de pessoa a declarar.
EFEITOS INDESEJADOS DO CONTRATO:
Vícios redibitórios (defeito material): São os defeitos não aparentes no momento da entrega do bem (oculto) e que lhe diminua o valor ou o torne impróprio para o fim a que se destina.
Havendo no bem vício redibitório, poderá o comprador ingressar com dois tipos distintos de ações, chamadas de AÇÕES EDILÍCIAS.
Ação redibitória: A parte compradora pede para o juiz redibir o contrato, ou seja, extingui-lo .
Ação “Quanti Minoris”: A parte compradora pede a manutenção do contrato através do abatimento do preço. Princípio da conservação dos contratos.
O alienante responderá pelos vícios redibitórios independente de ter agido de boa ou má-fé e mesmo que tal possibilidade não esteja prevista no contrato, pois decorrem da lei. Mas as consequências serão diferentes para cada caso.
Boa-fé: Tendo agido de boa-fé, caso o comprador ingresse com ação redibitória (pedindo a resolução do contrato), o alienante deverá devolver os valores já pagos acrescidos das custas contratuais se houver.
Má-fé: Tendo agido de má-fé, caso o comprador ingresse com ação redibitória (pedindo a resolução do contrato), o alienante devolverá os valores já pagos acrescidos de perdas e danos.
Obs: Doações onerosas são passíveis de ação redibitória ou “quanti minoris”.
Prazos decadenciais para reclamar vícios redibitórios - art. 445 e §1º:
Bem móvel, 30 dias a partir da entrega efetiva (tradição);
Bem imóvel, 1 ano a partir da entrega efetiva (registro em cartório de imóveis)
Se o bem já estiver na posse do comprador os prazos caem pela metade a partir da alienação (compra).
§1º – Se o vício por sua natureza for de difícil constatação e só vier a conhecimento mais tarde, o prazo será contato do momento em que tiver ciência, até o prazo máximo de 180 dias para bens móveis e 1 ano para imóveis.
Existem diversas correntes doutrinárias para interpretação deste parágrafo, no entanto esta mostrou-se ser a majoritária:
Bem móvel, vício de difícil constatação: 180 dias para descobrir. Após a descoberto mais 30 dias para reclamar.
Bem imóvel, vício de difícil constatação: 1 ano para descobrir. Após descoberto mais 1 anos para reclamação. 
Obs.: A garantia contratual dada pelo alienante é somada a garantia legal, ou seja, se o alienante de bem móvel dá um prazo de 15 dias, o prazo legal de 30 dias só será contado a partir dos 15 dias da garantia contratual.
Evicção (defeito jurídico):
Evicção é a perda ou o desapossamento de um bem, judicial ou excepcionalmente administrativa, em razão de um defeito jurídico anterior a alienação.
Quem alienou o bem não podia ter alienado, quem comprou perde o bem.
Evicção total: Quando o alienante era totalmente ilegítimo proprietário do bem alienado.
Evicção parcial: Quando o alienante era dono de parte do bem e o alienou totalmente.
Se a evicção for parcial, mas de quantidade considerável, o evicto opta entre a rescisão do contrato e a restituição da quantia equivalente ao decréscimo sofrido. Ex: Aliena-se 100 cabeças de gado e 80 sofrem evicção.
Não sendo considerável a quantidade o evicto tem direito somente ao direito de indenização pelo decréscimo. Ex: Aliena-se 100 cabeças de gado por 100 mil reais. Apenas 5 sofrem evicção. O evicto tem direito a devolução de 5 mil reais equivalentes as 5 cabeças devolvidas.
Perda Judicial: É a regra. Quando por sentença judicial é constatada a evicção e determinada a reintegração ou reivindicação de posse. Necessita de denunciação da lide ao alienante.
Perda Administrativa: Exceção. Quando um bem fruto de ação criminosa é alienado para outra pessoa e é recuperado e devolvido ao proprietário original pela autoridade policial. Não necessita de denunciação da lide ao alienante.
Direitos do evicto (quem perde o bem pela evicção total). Art. 450, CC:
Restituição dos valores pagos;
Restituição dos frutos já percebidos que foram devolvidos ao evictor (proprietário original);
Indenização pelas despesas contratuais e pelos prejuízos da evicção;
Pagamento das custas judiciais e honorários advocatícios pelo alienante.
Art. 448, CC:
As partes podem reforçar ou diminuir e até excluir a responsabilidade pela evicção. 
Ex: Se um bem é objeto de um contrato com condição suspensiva pode o alienante eximir-se de responsabilidade da evicção se for alcançada a condição. Um pai doa ao seu filho sua casa de praia e subordina o efeito dessa doação a sua aprovação no exame da OAB de primeira. O filho ainda está no 5º período e o pai decide alienar a mesma casa que prometeu doar ao filho pela metade do preço, porque precisa de dinheiro e acha que o filho não passará. No entanto, exime-se de qualquer responsabilidade pela evicção se o filho passar. Caso consiga efetuar a venda e depois de concluído o curso o filho passe de primeira no exame, terá direito ao imóvel (art. 126, CC) e o pai estará livre de qualquer responsabilidade pela evicção. 
Art. 456 a 457, CC: 
Para usufruir desses direitos, o evicto deve fazer a denunciação da lide ao alienante imediato ou a qualquer alienante. Assim fazendo, a mesma sentença que decretar a evicção, condenará o alienante notificado a indenizar o evicto se este ao tomar conhecimento da lide, não se manifesta.
Art. 457, CC: O adquirente (evicto) não pode demandar pela evicção se sabia que a coisa era litigiosa ou alheia.
ALIENAÇÃO:
Alienar um bem é transferir sua propriedade. Esta transferência pode ser onerosa (venda) ou gratuita (doação). 
Os alienantes só respondem por vício redibitório ou por evicção nos contratos comutativos – que as partes podem prever seus efeitos – e nos contratos onerosos – que ambas as partes perdem e ganham, possuem prestações e contraprestações mesmo que não sinalagmáticas.
Nos contratos aleatórios e gratuitos não há responsabilidade por estes defeitos.
EXTINÇÃODOS CONTRATOS.
Via de regra, os contratos extinguem-se pelo cumprimento das obrigações e a consequente quitação(art. 320, CC). Mas também podem extinguir-se por causas anteriores, concomitantes ou posteriores a celebração do contrato.
Causas anteriores e concomitantes: Tais causas estão relacionadas aos elementos de existência e validade dos contratos. Partes – capazes ou devidamente representadas-, objeto – lícito, possível, determinado ou determinável –, forma – prescrita ou não defesa por lei – vontade – livre de vícios de consentimento ou vícios sociais. 
Causas posteriores: 
As causas posteriores podem surgir do direito de arrependimento, onerosidade excessiva ou inadimplemento. 
Direito de arrependimento:
As partes podem convencionar direito de arrependimento possibilitando que qualquer das partes desista do contrato antes do seu cumprimento. A simples manifestação da vontade torna o contrato extinto com a indenização apenas pelo arras (sinal), pois as próprias partes assim convencionaram. 
Inadimplemento: Não cumprimento de qualquer obrigação prestacional prevista em um contrato.
Inadimplemento absoluto: Quando o cumprimento da prestação não é mais útil ao credor. Ex: Fotógrafo contratado para um evento único e não comparece.
Inadimplemento relativo: Quando o cumprimento da obrigação ainda é útil para o credor. Ex: Atraso em parcelas de uma prestação continuada (aluguel, financiamento).
Inadimplemento voluntário: Quando a parte inadimplente deixa de cumprir a obrigação prestacional voluntariamente.
Inadimplemento involuntário: Quando o inadimplemento advém de caso fortuito ou força maior.
Resolução:
Extinção do contrato por inadimplemento de uma das partes.
Se o inadimplemento for absoluto, pede-se a resolução.
Sendo relativo, o credor pode escolher entre a resolução ou exigência do cumprimento. Além de poder cobrar pelas parcelas atrasadas, acrescido de mora.
A cláusula resolutiva tácita decorre da lei, a expressa as partes convencionam e incluem no contrato.
A cláusula resolutiva tácita depende de interpelação judicial, onde o juiz notificará o devedor para pagamento dos atrasos, caso não pague estará em mora “ex personae” e poderá o juiz rescindir o contrato com efeito ex nunc.
A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito, desde o momento do descumprimento da prestação o devedor já esta em mora “ex re”, com efeito ex tunc independente de interpelação judicial.
Sendo o inadimplemento voluntário a parte prejudicada poderá pedir a resolução do contrato acrescido de perdas e danos (emergente, moral e lucro cessante).
Sendo o inadimplemento involuntário a parte prejudicada poderá pedir a resolução do contrato, via de regra sem qualquer indenização
Exceção: Art. 399 – O devedor em mora responde pelas perdas e danos causadas mesmo em caso fortuito ou força maior, se ocorreram durante o atraso. Salvo se provar que não teve culpa pelo atraso ou se o dano ocorreria mesmo se tivesse cumprido sua obrigação em dia. 
Onerosidade excessiva – Art. 478.
Em contratos de execução continuada onde as prestações são sucessivas ou diferidas onde a prestação é única mas futura, advindo uma situação posterior com casos extraordinários e imprevisíveis que traga uma grande desvantagem para uma parte e extrema vantagem para outra, poderá a parte lesada pedir a resolução do contrato. A resolução pode ser evitada se houver o ajuste das prestações pela parte beneficiada.
Obs.: Os requisitos para configurar onerosidade excessiva são cumulativos, ou seja, contratos de execução continuada ou diferida + situação posterior geradora de uma enorme desvantagem para uma parte e extrema vantagem para outra.
Exceção de contrato não cumprido – Art. 476, C.C:
O não cumprimento da prestação de uma das partes no contrato bilateral, desobriga a outra.
Exceção de Integridade – Art. 477, C.C:
Após o contrato ser concluído (aceitação da proposta), uma das partes contratantes sofrer diminuição considerável do patrimônio a ponto de prejudicar ou comprometer o cumprimento das obrigações contratadas, pode a outra parte recusar-se ao cumprimento de sua obrigação até que a parte duvidosa satisfaça sua obrigação ou dê garantias suficientes que irá cumpri-la. 
Cláusula Resolutória Tácita:
A parte lesada por inadimplemento da outra em contrato bilateral, pode pedir sua resolução mesmo não tendo sido estipulada cláusula resolutória.
Resilição: 
Extinção do contrato por ambas ou uma parte sem que haja inadimplemento por qualquer uma delas.
Art. 472 e 473, CC:
Resilição bilateral é chamada de Distrato, e exige os mesmos requisitos de validade e a mesma forma utilizada para realização do contrato.
Obs.: Se a compra de um imóvel abaixo de 30 salários mínimos foi feita por escritura pública, o distrato poderá ser feito por instrumento particular, já que ambas as possibilidade são facultativas.
Resilição Unilateral opera mediante denúncia notificada a outra parte.
Morte dos contratantes: Extingue o contrato quando este for de natureza personalíssima.

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