Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Congrueˆncia e ane´is zn Rodrigo Carlos Silva de Lima ‡ rodrigo.uff.math@gmail.com ‡ 1 Suma´rio 1 Congrueˆncia e ane´is zn. 3 1.1 Congrueˆncias mo´dulo n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2 Propriedades ba´sicas de congrueˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Pequeno teorema de Fermat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.4 Ane´is zn. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.4.1 Teorema de Wilson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1.5 Aplicac¸o˜es de congrueˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.6 Congrueˆncia e divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2 Capı´tulo 1 Congrueˆncia e ane´is zn. Esse texto ainda na˜o se encontra na sua versa˜o final, sendo, por enquanto, cons- tituı´do apenas de anotac¸o˜es informais. Sugesto˜es para melhoria do texto, correc¸o˜es da parte matema´tica ou gramatical eu agradeceria que fossem enviadas para meu Email rodrigo.uff.math@gmail.com. 1.1 Congrueˆncias mo´dulo n m Definic¸a˜o 1. Sejam n ≥ 2, a, b ∈ Z, dizemos que a e´ congruente a b mo´dulo n se n|(a − b) e denotamos por a ≡ b mod n. Caso a na˜o seja congruente a` b mod n escrevemos a 6≡ b mod n. Se fizermos n = 1 enta˜o para quaisquer a, b inteiros valeria a ≡ b mod 1 pois 1|a− b, por isso a restric¸a˜o de tomar n > 1. b Propriedade 1. A congrueˆncia e´ uma relac¸a˜o de equivaleˆncia em Z. ê Demonstrac¸a˜o. • A congrueˆncia mo´dulo n e´ reflexiva, a ≡ a mod n, pois n|(a− a) = 0. 3 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 4 • A congrueˆncia mo´dulo n e´ sime´trica, se a ≡ b mod n enta˜o b ≡ a mod n, pois se a ≡ b mod n, temos n|(a−b) implicando n|(b−a) logo b ≡ a mod n. • A congrueˆncia mo´dulo n e´ transitiva, se a ≡ b mod n e b ≡ c mod n enta˜o a ≡ c mod n. Se a ≡ b mod n temos n|(a − b) e com b ≡ c mod n segue n|(b− c) de onde segue que n|(a− b+ b− c = a− c) logo n|(a− c) implicando a ≡ c mod n. b Propriedade 2. a ≡ b mod n ⇔ a e b possuem o mesmo resto na divisa˜o euclidiana por n. ê Demonstrac¸a˜o. ⇒. Supondo a ≡ b mod n , tem-se n|a−b. Podemos escrever que a = qn + r e b = q ′n + r ′ , suponha por absurdo que r 6= r ′, daı´ um deles e´ maior, supondo sem perda de generalidade que r ′ > r tem-se 0 < r ′ − r < n a− b = q(n− n ′) + r− r ′ ⇒ r ′ − r = q(n− n ′) + (b− a) enta˜o n|(r ′ − r) o que e´ absurdo .⇐ . Se a e b possuem o mesmo resto enta˜o a = qn + r e b = q ′n + r, logo a− b = (q− q ′)n de onde segue que n|a− b daı´ a ≡ b mod n. Classe residual mo´dulo n Vimos que a congrueˆncia mo´dulo n e´ uma relac¸a˜o de equivaleˆncia em Z, vamos ver agora qual a classe de um inteiro a na congrueˆncia mo´dulo n a = {x ∈ Z |x ≡ a mod n} = {x ∈ Z | n|(x− a)} logo e´ o conjunto dos elementos x de Z tais que x e a deixam o mesmo resto na divisa˜o por n. b Propriedade 3. Seja n ≥ 2. Para cada a ∈ Z existe um u´nico r ∈ Z com 0 ≤ r ≤ n − 1 tal que a = r, logo com a relac¸a˜o de equivaleˆncia mo´dulo n temos CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 5 n classes residuais distintas k com k ∈ [0, n− 1]N Z = n−1⋃ k=0 k. ê Demonstrac¸a˜o. Dado a ∈ Z, pela divisa˜o euclidiana por n temos um u´nico r ∈ Z com 0 ≤ r ≤ n− 1 e q ∈ Z tal que a = qn+ r, a− r = qn, n|a− r, a ≡ r mod n, a = r logo temos a existeˆncia, vamos mostrar agora a unicidade, sendo r e s inteiros tais que r = s ambos no intervalo [0, n − 1]N o ma´ximo da diferenc¸a possı´vel entre r e s e´ n − 1 (se s = 0 e r = n − 1) e o mı´nimo e´ −(n + 1) (se r = 0 e s = n − 1) logo −n− 1 ≤ r− s ≤ n− 1 e como temos que r = s temos que n|(r− s) pore´m no intervalo de valores que r− s assume apenas 0 e´ divisı´vel por n logo r− s = 0, r = s. $ Corola´rio 1. Se r e´ o resto da divisa˜o euclidiana de a por n enta˜o a ≡ r mod n , e r e´ o menor valor natural que satisfaz essa propriedade. m Definic¸a˜o 2 (Conjunto das classes residuais mo´dulo n). O conjunto quociente de Z pela congrueˆncia mo´dulo n e´ representado por Zn e e´ chamado de conjunto das classes residuais mo´dulo n Zn = {k, k ∈ In−1}. m Definic¸a˜o 3 (Sistema completo de resı´duos mo´dulo m). Um conjunto A ⊂ Z e´ dito ser um sistema completo de resı´duos mo´dulo m, quando o resto dos seus elementos na divisa˜o por n sa˜o os nu´meros [0, n− 1]N e |A| = n. b Propriedade 4. Dados n nu´meros inteiros consecutivos existe apenas um entre eles que e´ divisı´vel por n . ê Demonstrac¸a˜o. CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 6 Unicidade Dados n nu´meros consecutivos {y + 1, ..., y + n} a distaˆncia ma´xima entre eles e´ n− 1 que acontece quando tomamos os nu´meros extremos y+ n e y+ 1 y+ n− y− 1 = n− 1. Suponha por absurdo que existem 2 dois nu´meros y1 e y2 nesse conjunto que sejam mu´ltiplos de n com y2 > y1 , existe p natural tal que y2 = y1 + p, onde 0 < p < n, pelo fato de ambos serem mu´ltiplos de n, existem t1, t2 ∈ Z tais que y2 = n.t2 y1 = n.t1 daı´ n.t2 = nt1 + p ⇒ n(t2 − t1) = p portanto n|p o que e´ absurdo pois na˜o existe nu´mero entre 0 e n que seja mu´ltiplo de n. Existeˆncia. Temos y + 1 = nq + r onde 0 ≤ r < n, portanto existe p ∈ N tal que p < n e r+ p = n e daı´ y+ 1+ p = nq+ r+ p = nq+ n = n(q+ 1) < y+ 1+ n, y+ 1 ≤ y+ 1+ p ≤ y+ n o nu´mero y+ 1+ p pertence ao conjunto {y+ 1, ..., y+ n} e e´ divisı´vel por n. 1.2 Propriedades ba´sicas de congrueˆncia b Propriedade 5 (Soma). Se a ≡ b mod n e c ≡ d mod n enta˜o a+c ≡ b+d mod n. ê Demonstrac¸a˜o. a−b = qn, c−d = q ′.n logo a−b+c−d = (a+c)−(b+d) = (q+ q ′)n logo a+ c ≡ b+ d mod n. b Propriedade 6 (Produto por constante). Se a ≡ b mod n enta˜o a.c ≡ b.c mod n onde c ∈ Z. ê Demonstrac¸a˜o. Vale a − b = q.n daı´ ca − cb = cqn implicando a.c ≡ b.c mod n. CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 7 $ Corola´rio 2. Se a ≡ b mod n e c ≡ d mod n enta˜o t ′a + tc ≡ t ′b + td mod n onde t, t ′ sa˜o inteiros , pois t ′a ≡ t ′b mod n e tc ≡ td mod n, aplicando propriedade de soma segue o resultado, em especial temos que a− c ≡ b− d mod n. $ Corola´rio 3 (Produto de congrueˆncias). Se a ≡ b mod n e c ≡ d mod n enta˜o a.c ≡ b.d mod n. Vale a.c ≡ b.c mod n e b.c ≡ b.d mod n logo por transitividade a.c ≡ b.d mod n. b Propriedade 7 (Somato´rio de congrueˆncias). Se ak = bk mod n ∀ k ∈ In enta˜o n∑ k=1 ak = n∑ k=1 bk mod n. b Propriedade 8 (Produto´rio de congrueˆncias). Se ak = bk mod n ∀ k ∈ In enta˜o n∏ k=1 ak = n∏ k=1 bk mod n. ê Demonstrac¸a˜o. Por induc¸a˜o sobre n. $ Corola´rio 4. Se a = b mod m enta˜o an = bn mod m pois n∏ k=1 a = n∏ k=1 b mod m. b Propriedade 9. Se a+ c ≡ b+ c mod n enta˜o a ≡ b mod n ê Demonstrac¸a˜o. Pois a+ c− b− c = a− b = q.n. CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 8 b Propriedade 10. Se at ≡ bt mod n enta˜o a ≡ b mod n mdc(t, n) . ê Demonstrac¸a˜o. Vale t(a − b) = q.n podemos dividir em ambos lados por mdc(t, n) daı´ t mc(t, n) (a− b) = q. n mdc(t, n) como n mdc(t, n) 6 | t mc(t, n) enta˜o n mdc(t, n) |(a− b) de onde segue o resultado. $ Corola´rio 5. Se mdc(t, n) = 1 enta˜o at ≡ bt mod n implica a ≡ b mod n. $ Corola´rio 6. Seja mdc(t, n) = 1 . at ≡ bt mod n ⇔ a ≡ b mod n. A parte ⇒) vem do corola´rio anterior e ⇐) ja´ provamos. Z Exemplo 1. Se mdc(t, n) 6= 1 e at ≡ bt mod n podemos na˜o ter a ≡ b mod n. Como e´ o caso de 4.3 ≡ 2.3 mod 3 onde t = 3 = n, mdc(t, n) = 3 e na˜o vale 4 ≡ 2 mod 3 pois 3 6 |(4− 2) = 2. b Propriedade 11. Se a ≡ b mod m e n|m enta˜o a ≡ b mod n. ê Demonstrac¸a˜o. a − b = q.m e m = t.n daı´ a − b = q.t.n que implica a ≡ b mod n. b Propriedade 12 (Uma relac¸a˜o com mdc). Se a ≡ b mod m enta˜o mdc(a,m) = mdc(b,m). ê Demonstrac¸a˜o. Vale que a− b = qm, daı´ a = b+ q.m mdc(a,m) = mdc(b+ q.m,m) = mdc(b,m). CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA EANE´IS ZN. 9 b Propriedade 13 (Uma relac¸a˜o com mmc). Se a ≡ b mod mk ∀ k ∈ In enta˜o a ≡ b mod mmc(mk)n1 . ê Demonstrac¸a˜o. Vale a − b = qk.mk, a − b e´ mu´ltiplo de cada mk, logo o mı´nimo mu´ltiplo comum deve dividir ele, enta˜o mmc(mk)n1 |a− b implicando a ≡ b mod mmc(mk)n1 . b Propriedade 14. Se a ≡ b (mod m) enta˜o f(a) ≡ f(b) (mod m) para qualquer polinoˆmio f de coeficientes inteiros. ê Demonstrac¸a˜o. Seja f(x) = n∑ k=0 akx k com ak inteiro para todo k natural. Se a ≡ b (mod m) enta˜o ak ≡ bk (mod m) para todo k natural e ainda se para todo k natural ak e´ inteiro, enta˜o akak ≡ akbk (mod m), aplicamos a soma em ambos lados com k variando de 0 ate´ n, daı´ segue n∑ k=0 aka k ≡ n∑ k=0 akb k (mod m) logo f(a) ≡ f(b) (mod m) pois f(a) = n∑ k=0 aka k, f(b) = n∑ k=0 akb k. CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 10 Z Exemplo 2. Calcular o valor de x tal que n∑ k=1 k! ≡ x mod 10 com n ≥ 5. n∑ k=1 k! = 1+ 2+ 6+ 24+ n∑ k=5 k! ≡ 3 mod 10. b Propriedade 15. Sejam m,n tais que mdc(m,n) = 1 . Se a ≡ b mod m e a ≡ b mod n enta˜o a ≡ b mod m.n. ê Demonstrac¸a˜o. Se mdc(m,n) = 1 enta˜o existem x0, y0 ∈ Z tais que mx0 + ny0 = 1 multiplicando por a− b segue mx0 (a− b)︸ ︷︷ ︸ t1n +ny0 (a− b)︸ ︷︷ ︸ t2m = (a− b) isso implica que m.n|(a− b). b Propriedade 16. Duas pessoas X e Y tem idades x e y, com x > y, existe idade em que a pessoa X tera´ u vezes a idade de Y ⇔ x ≡ y mod u− 1. ê Demonstrac¸a˜o. Z Exemplo 3. Duas pessoas X e Y tem idades x e y, com x > y, queremos saber se existe alguma idade em que a pessoa X tera´ u vezes a idade de y e se sim, qual e´ essa idade. ⇒). Supondo que exista uma idade em que a pessoa X tem u vezes a idade de Y enta˜o, existe p natural tal que u(y+ p) = x+ p⇒ uy− x = p(1− u)⇒ p = x− uy u− 1 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 11 vale que x + p, y + p > 0 pois u > 0 por hipo´tese, agora x + p e y + p devem ser inteiros x+ p = x+ x− uy u− 1 = xu− x+ x− uy u− 1 = xu− uy u− 1 = u(x− y) u− 1 da mesma maneira y+ p = y+ x− uy u− 1 = yu− y+ x− uy u− 1 = x− y u− 1 portanto u − 1|(x − y), o fato de y + p ser inteiro, implica que p e´ inteiro pois y + p = n ∈ Z ⇒ p = n − y ∈ Z enta˜o se o problema e´ solu´vel vale que x ≡ y mod u− 1. ⇐). Se vale x ≡ y mod u− 1 enta˜o o problema e´ solu´vel, pois existe t > 0 ∈ Z tal que x− y = t(u− 1), tomamos p = t− y daı´ u(y+ p) = ut = u (x− y) u− 1 e x+p = x−y+t = x−y+ (x− y) u− 1 = ux− uy− x+ y(x− y) u− 1 = u(x− y) u− 1 = u(y+p) enta˜o temos a soluc¸a˜o do problema. 1.3 Pequeno teorema de Fermat F Teorema 1 (Pequeno Teorema de Fermat). Sejam, p um nu´mero primo e a um nu´mero inteiro. Enta˜o, ap ≡ a mod p. ê Demonstrac¸a˜o. Vamos demonstrar primeiro para a natural por induc¸a˜o, para a = 0 temos 0p = 0 ≡ 0 mod p. Considerando agora va´lido para a ap ≡ a mod p CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 12 , vamos demonstrar para a+ 1 temos (a+ 1)p = p∑ k=0 ( p k ) ak = ( p 0 ) a0 + p−1∑ k=1 ( p k ) ak + ( p p ) ap ≡ 1+ ap mod p onde abrimos o limite inferior e superior do somato´rio e usamos que P| ( p k ) para 1 ≤ k ≤ p− 1 usando a hipo´tese temos (a+ 1)p ≡ 1+ ap ≡ 1+ a mod p logo (a+ 1)p ≡ 1+ a mod p . Agora se a e´ um inteiro negativo e p primo ı´mpar, temos a < 0, −a > 0, temos (−a)p = −ap ≡ −a mod p que e´ equivalente a ap ≡ a mod p , agora se a e´ inteiro negativo e p = 2 o u´nico primo par, temos a ≡ 0 mod 2 ou a ≡ 1 mod 2, no primeiro caso a2 ≡ 0 ≡ amod p, no segundo a2 ≡ 1 ≡ a mod p em ambos temos a2 ≡ a mod 2 logo a demonstrac¸a˜o esta´ completa. Z Exemplo 4. Mostre que 42|a7 − a. Pelo pequeno teorema de fermat temos que 7|a7 − a, temos tambe´m que 2|a7 − a, falta mostrar que 3|a7 − a, mas a7 − a = a(a6 − 1) = a(a3 − 1)(a3 + 1) = a(a− 1)(a+ 1)(a2 + a+ 1)(a2 − a+ 1) como temos 3 consecutivos, enta˜o seu produto e´ divisı´vel por 6 . b Propriedade 17. Seja p primo. Se ap ≡ bp mod p enta˜o ap ≡ bp mod p2. ê Demonstrac¸a˜o. Pelo pequeno teorema de fermat temos que ap ≡ a mod p , bp ≡ b mod p e da hipo´tese ap ≡ bp mod p logo a ≡ b mod p ⇒ ak ≡ bk mod p ∀ k daı´ bp − ap = (b− a) p−1∑ k=0 akbp−1−k CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 13 p−1∑ k=0 akbp−1−k ≡ p−1∑ k=0 akap−1−k ≡ pap−1 ≡ 0 mod p daı´ segue que p|(a− b) e p| p−1∑ k=0 akbp−1−k logo p2|(bp − ap). Logo ap ≡ bp mod p2. b Propriedade 18. Se mdc(a, p) = 1 enta˜o ap−1 ≡ 1 mod p com p primo. ê Demonstrac¸a˜o. Se mdc(a, p) = 1 enta˜o existem x0, y0 ∈ Z tais que ax0 + py0 = 1 olhando mod p tem-se ax0 ≡ 1. Do pequeno teorema de Fermat temos que ap ≡ a mod p multiplicando por x0 em ambos lados segue ap−1ax0 ≡ ax0 mod p, isto e´, ap−1 ≡ 1 mod p. Z Exemplo 5. Calcule o resto da divisa˜o de 1458333 por 11. Aplicaremos congrueˆncia, primeiro verificamos que 1458 = 11.132 + 6 daı´ 1458 ≡ 6 mod 11 o que implica 1458333 ≡ 6333 mod 11 agora aplicamos o pequeno teorema de Fermat de onde sabemos que 610 ≡ 1 mod 11, pois 11 e´ primo e mdc(6, 11) = 1, escrevemos 333 = 330 + 3 = 10.33 + 3 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 14 logo 6333 ≡ (610)33.63 = 36.6 mod 11 pore´m 36 ≡ 3 mod 11 e daı´ 3.6 ≡ 18 ≡ 7 mod 11 e concluı´mos que 1458333 ≡ 7 mod 11 e por isso deixa resto 7 na divisa˜o por 11. Z Exemplo 6. Calcule o resto da divisa˜o de 7158 por 13 . Usamos que mdc(7, 13) = 1, podemos usar que ap−1 ≡ 1 mod p com p = 13 e a = 7, logo 712 ≡ 1 mod 13 158 = 12.13+ 2 logo 7158 ≡ ( 712︸︷︷︸ ≡1 )13.72 = 49 = 3.13+ 10 ≡ 10 mod 13, logo o resto da divisa˜o e´ 13 . Z Exemplo 7. Descobrir N 6= 0 um nu´mero de treˆs dı´gitos tal que N2 = N+ b.103, sendo que N e´ um nu´mero par . Tomamos N = a2a1a0 = a2102 + a1.10+ a0 logo (a2102 + a1.10+ a0)2 = a2102 + a1.10+ a0 + b.103 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 15 tomando a congrueˆncia mod 10, tem-se a20 ≡ a0 mod 10 com a0 par podemos verificar que a0 = 0 ou a0 = 6, se a0 = 0 podemos concluir tomando congrueˆncias mod 102 e mod 103 que a1 = a2 = 0 logo N = 0 o que na˜o queremos. Enta˜o a0 = 6, tomando congrueˆncia mod 102 segue N2 ≡ (a1.10+ 6)2 = a1.10+ 6 mod 102 daı´ expandindo o termo ao quadrado e anulando termos mu´ltiplos de 102 segue 2.6.a1.10+ 62 ≡ 2a1.10+ 62 ≡ a1.10+ 6 mod 102 ⇒ a1.10 ≡ −30 ≡ 70 mod 102 o que implica a1 = 7 . Agora analisando mod 103 segue N2 ≡ (a2.102 + 76)2 = a2102 + 76 ≡ expandindo o quadrado e usando mod 103, tem-se ≡ 2a2.102. 76︸︷︷︸ 70+6 +762 ≡ 6.2︸︷︷︸ 10+2 a2.102 + 762 ≡ 2.a2.102 + 762 ≡ a2102 + 76⇒ a2102 ≡ 76− 762 = −5700 ≡ −700 ≡ 300 mod 102 por isso a2 = 3 e temos portanto que N = 376 , seu quadrado e´ N2 = 141 376. 1.4 Ane´is zn. m Definic¸a˜o 4 (Adic¸a˜o e multiplicac¸a˜o em Zn). Sejam n ≥ 2, a, b ∈ Z, definimos a adic¸a˜o + como a operac¸a˜o que faz a+ b = a+ b CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 16 e a multiplicac¸a˜o . como a.b = a.b. Caso fique claro que estamos operando em Zn algumas vezes iremos omitir a barra sobre o elemento b, escrevendo apenas b. b Propriedade 19. A adic¸a˜o e multiplicac¸a˜o na˜o dependem dos representantes das classes residuais. ê Demonstrac¸a˜o. Se a ≡ a ′ mod n e b ≡ b ′ mod n enta˜o a+ b ≡ a ′ + b ′ mod n⇔ a+ b = a ′ + b ′ ⇔ a+ b = a+ b = a ′ + b ′ = a ′ + b ′. O mesmo para o produto. Simbolizaremos a estrutura (Zn,+, .), isto e´, o conjunto Zn munido das operac¸o˜es definidas acima apenas como Zn. Denotaremos Tal conjunto por Zn ou zn . b Propriedade 20. Zn e´ um anel comutativo com unidade. ê Demonstrac¸a˜o. Propriedades da adic¸a˜o • Existe elemento neutro 0, tal que 0+m = m pois 0+m = 0+m = m. • Existeˆncia do sime´trico. Para a existe −atal que a + −a = 0. Se se a ≤ n enta˜o existe t ∈ N tal que a + t = n e daı´ a+ t = 0 = a + t, portanto −a = t, se a > n , a e´ representado por b onde b < n e aplicamos o mesmo processo anterior. • Comutatividade a+ b = a+ b = b+ a = b+ a. • Associatividade (a+ b) + c = (a+ b) + c = a+ (b+ c) = a+ (b+ c) = a+ (b+ c). Temos com isso um grupo abeliano (Zn,+). Vejamos agora as propriedades da multiplicac¸a˜o • Existe elemento neutro 1, tal que 1.m = m pois 1.m = 1.m = m. CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 17 • Comutatividade a.b = a.b = b.a = b.a. • Associatividade (a.b).c = (a.b).c = a.(b.c) = a.(b.c) = a.(b.c). Agora a propriedade que relaciona a adic¸a˜o e multiplicac¸a˜o, a distributividade. • (a+ b)c = (a+ b)c = ac+ bc = ac+ bc = a.c+ b.c b Propriedade 21. Um elemento a ∈ Zn e´ invertı´vel ⇔ mdc(a, n) = 1. ê Demonstrac¸a˜o. ⇒). Se a ∈ Zn e´ invertı´vel enta˜o existe b ∈ Zn tal que ab = 1, daı´ a.b ≡ 1 mod n⇒ n|ab− 1⇒ tn = ab− 1 para algum t ∈ Z, (−t)n+ ab = 1 daı´ mdc(a, n) = 1.⇐). Se mdc(a, n) = 1, enta˜o existem x, y ∈ Z tais que ax + ny = 1, olhando em zn, ax = 1 portanto a e´ invertı´vel. b Propriedade 22. m gera Zn ⇔ m e´ invertı´vel em Zn. ê Demonstrac¸a˜o.⇒). Se m gera Zn enta˜o existe n ∈ N tal que n.m = 1, portanto m e´ invertı´vel.⇐). Se m e´ invertı´vel enta˜o mdc(m,n) = 1 daı´ existem x0, y0 ∈ Z tais que x0m+ y0n = 1, sendo t um elemento arbitra´rio de Z tem-se tx0m+ ty0n = t olhando sobre a congrueˆncia mod n tem-se (tx0)m = t, portanto m gera Zn. b Propriedade 23. Zn e´ corpo ⇔ n e´ primo. ê Demonstrac¸a˜o. ⇒). Vamos usar a contrapositiva de zn e´ corpo enta˜o n e´ primo que e´: se n na˜o e´ primo enta˜o zn na˜o e´ corpo. Se n na˜o e´ primo enta˜o existem a, b ∈ Z tais que a.b = n com 1 < a, b < n, daı´ ab = n = 0 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 18 com a, b fora da classe do 0, daı´ Zn na˜o e´ domı´nio , na˜o vale a lei do corte, portanto Zn na˜o e´ corpo.⇐). Se n e´ primo, enta˜o vale mdc(a, n) = 1 para todo 0 < a < n em Z, portanto pela propriedade anterior a invertı´vel para todo elemento na˜o nulo, portanto Zn e´ corpo. b Propriedade 24. O quadrado de um nu´mero inteiro tem um dos seguintes algarismos de unidade {0, 1,4, 5, 6, 9}. ê Demonstrac¸a˜o. Analisamos em Z10 a a2 0 0 1 1 2 4 3 9 4 16 = 6 5 25 = 5 6 36 = 6 7 49 = 9 8 64 = 4 9 81 = 1 Z Exemplo 8. Pelo lema de Euclides mdc(a, b) = mdc(a, b − ta), tomamos a = k, b = n e t = 1 daı´ mdc(k, n) = mdc(k, n− k) = 1 tal fato pode ser usado em problemas para determinar inversos em um anel Zn. b Propriedade 25. Em zp com p primo, os u´nicos nu´meros que sa˜o inversos de si mesmos sa˜o p− 1 e 1 . CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 19 ê Demonstrac¸a˜o. Seja x2 = 1, enta˜o (x − 1)(x + 1) = 0, o que implica x = 1 ou x = −1 ≡ p− 1. $ Corola´rio 7. Em Zp com p > 2 primo, o u´nico elemento que possui ordem 2 e´ p− 1, ja´ vimos que (p− 1)(p− 1) = 1 o elemento 1 possui ordem 1. Z Exemplo 9. Quando n na˜o e´ primo, em Zn podem existir outros elementos que na˜o sa˜o 1 e n−1 que satisfazem x2 = 1.Por exemplo em Z4k+4 vale (2k+2)2 = 1. (2k+ 2)2 = 4k2 + 4k+ 1 = 4k (4k+ 4)︸ ︷︷ ︸ =0 +1 = 1. 1.4.1 Teorema de Wilson b Propriedade 26 (Teorema de Wilson). p e´ primo ⇔ (p− 1)! ≡ −1 mod p. ê Demonstrac¸a˜o. ⇒). Para p = 2 a propriedade vale, suponha enta˜o p > 2, p primo. Tome A = {2 ≤ k ≤ p− 2, k ∈ N}, vale p−2∏ k=1 k ≡ 1 mod p pois para cada k ∈ A existe k ′ 6= k ∈ A tal que k.k ′ ≡ 1 mod p, daı´ p−1∏ k=1 k ≡ p− 1 ≡ −1 mod p enta˜o (p− 1)! ≡ −1 mod p. ⇐). Se n = st e´ composto enta˜o vale (n − 1)! ≡ 0 mod n pois s e t aparecem como fatores (se sa˜o distintos), caso sejam fatores iguais , inicialmente para n = 4 temos CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 20 3! = 3.2 = 6 ≡ 2 mod 4 e para s > 2 vale s2−1 > 2s logo (s2−1)! ≡ 0 mod s2, pois s e 2s aparecem como fator, em qualquer caso se n e´ composto na˜o vale (n−1)! ≡ −1 mod n. $ Corola´rio 8. Vale que n∏ s=0 (s+1)p−1∏ k=sp+1 k ≡ (−1)n+1 mod p onde p e´ primo . n∏ s=0 p−1∏ k=1 (k+ sp) ≡ n∏ s=0 p−1∏ k=1 (k) ≡ n∏ s=0 (−1) ≡ (−1)n+1 mod p Z Exemplo 10. Z24 possui ϕ(24) = ϕ(8.3) = ϕ(8)ϕ(3) = (23−22)(3−1) = 4.2 = 8 elementos, que sa˜o os elementos n, tais que mdc(n, 21) = 1, 0 < n < 24, n ∈ N. Sendo 1, 5, 7, 11, 13, 17, 19, , 23 Todos elementos diferentes da identidade tem ordem 2, pois 52 = 25 = 24+1, 72 = 49 = 2.24+1, 112 = 121 = 5.24+1, 132 = 169 = 7.24+1, 172 = 289 = 12.24+1, 192 = 361 = 15.24+1 e 23 sabemos que tem ordem 2. Z Exemplo 11. Z∗10 e´ um grupo cı´clico. Z∗10 , possui ϕ(10) = 4 elementos, eles sa˜o 1, 3, 7, 9 pois 1.1 = 1, 3.7 = 21 ≡ 1 e 9.9 = 81 ≡ 1. O grupo e´ gerado por 3, pois • 32 = 9. • 33 = 9.3 = 27 ≡ 7 • 34 = 33.3 = 7.3 = 21 ≡ 1 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 21 Enta˜o < 3 >= Z∗10. O nu´mero de divisores de 4 e´ 3, que sa˜o os nu´meros 1, 2 e 4. Enta˜o ele possui apenas um grupo na˜o trivial com 2 elementos, que e´ < 9 >, daı´ segue tambe´m que < 3 >=< 7 >= Z∗10. Z Exemplo 12. Z∗8 na˜o e´ um grupo cı´clico. O nu´mero de elementos desse grupo e´ ϕ(8) = 4, enta˜o ele possui subgrupos com 1, 2,4 elementos. Os elementos do grupo sa˜o • Triviais 1 e 7. • Na˜o triviais: 3 pois 3.3 = 9 ≡ 1. • 5 pois 5.5 = 25 ≡ 1. • Logo o grupo e´ {1, 3, 5, 7} = Z∗8 na˜o e´ cı´clico. Z Exemplo 13. Z∗17 e´ um grupo cı´clico. Tal grupo possui ϕ(17) = 16 elementos, os divisores de 16 sa˜o 1, 2,4, 8, 16, ele possui enta˜o 5 subgrupos, com respectiva- mente 1, 2,4, 8, 16 elementos. • < 1 >= {1} e´ subgrupo trivial • 3 gera o grupo pois 32 = 9 33 = 10 34 = 13 35 = 5 36 = 15 37 = 11 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 22 38 = 16 39 = 14 310 = 8 311 = 7 312 = 4 313 = 12 314 = 2 315 = 6 • Possui ϕ2(17) = 8 geradores. Que sa˜o dados por 3s com mdc(16, s) = 1. 33 = 10 35 = 5 37 = 11 39 = 14 311 = 7 313 = 12 315 = 6 • Subgrupos de ordem 8, temos que saber s tal que mdc(16, s) = 2, tais valores sa˜o 2, 6, 10, 14 32 = 9 36 = 15 310 = 11 314 = 2. CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 23 • Subgrupos de ordem 4, temos que saber os valores de s tais que mdc(16, s) = 4, tais valores sa˜o 4 e 12 os elementos sa˜o 34 = 13 312 = 4. • Subgrupos de ordem 2, mdc(16, s) = 8, apenas para s = 8 e o elemento e´ 38 = 16. 1.5 Aplicac¸o˜es de congrueˆncias 1.6 Congrueˆncia e divisibilidade Z Exemplo 14. o quadrado de um nu´mero deixa sempre resto 0, 1 ou 4 na divisa˜o por 5. Analisamos pela seguinte tabela, usando congrueˆncia mod 5 . a 0 1 2 3 4 a2 0 1 4 4 1 Z Exemplo 15. Descobrir os valores de n tais que n∑ k=1 k! e´ quadrado perfeito . Por inspec¸a˜o podemos observar que n = 0, 1, 3 resultam tem 0, 1, 9 e os valores com n = 2,4 na˜o geram quadrados perfeitos, se n ≥ 5 temos n∑ k=1 k! = 4∑ k=1 k! + n∑ k=5 k! ≡ 4∑ k=1 k! mod 5 logo para os valores n ≥ 5 na˜o temos quadrados perfeitos. Z Exemplo 16. Mostrar que 9|9|(10n+ 3.4n+2 + 5) para todo n natural. Em Z9 CAPI´TULO 1. CONGRUEˆNCIA E ANE´IS ZN. 24 val que 10n = 1, daı´ temos 10n + 3.4n+2 + 5 = 1+ 34n + 5 = 6+ 3.4n = 3(2+ 4n) como 2 + 4n ≡ 2 + 1 = 3 mod 3 enta˜o a expressa˜o entre parentheses e´ divisı´vel por 3 e a expressa˜o pedida e´ divisı´vel por 9. Z Exemplo 17. Mostrar que para n ı´mpar vale 7|(22n+1 + 3n+2). Substituindo n = 2s+ 1 ficamos com 24s+3 + 32s+3 = (24)s.8+ 9s9.3 ≡ 2s + (−1)2s ≡ 0 mod 7 onde usamos 16 ≡ 2 mod 7, 9 ≡ 2 mod 7, 8 ≡ 1 mod 7 e 6 ≡ −1 mod 7. Congruência e anéis zn. Congruências módulo n Propriedades básicas de congruência Pequeno teorema de Fermat Anéis zn. Teorema de Wilson Aplicações de congruências Congruência e divisibilidade
Compartilhar