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Língua Portuguesa Língua Portuguesa Telma Ardoim 2ª e di çã o Língua Portuguesa DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Marcio Barros Dutra DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Diretora Claudia Antunes Ruas Guimarães Assessora Andrea Jardim Coordenadora Geral de Pós-Graduação Maria Alice Correa Ribeiro FICHA TÉCNICA Texto: Telma Ardoim Revisão: Livia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, An tonia Machado, Edu ardo Bordoni e Fabrício Ramos Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus Ilustração: Leonardo Siebra, Tatiana Galliac e Eduardo Bordoni Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃ O GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói Bibliotecária: An a Marta Toledo Piza Viana – CRB 7/2224 © Departamento de Ensino a D istância - Universid ade Salgado de Oliveira Todos os d ireitos reservados. Nenhuma p arte desta publ icação pode ser reproduzi da, arqu ivada ou tran smitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Sa lgado de O liveira de Educação e Cultura , mantenedora da Universidade Salga do de Ol iveira (UNIVERSO). A6771m Ardoim, Telma. Língua Portuguesa / Telma Ardoim. 2.ed – Niterói, RJ: Universo. 2010. 149. p . 1. Língua Portuguesa – Estudo ensino. 2. Lingüística. 3. Linguagem e línguas. Comunicação não- verbal. 5. Semântica. I . – Título. CDD 469 Língua Portuguesa Informações sobre a disciplina Ementa A disciplina trata dos princípios básicos da língua escrita e falada e das estruturas das diversas modalidades textuais com a intenção de desenvolver a compreensão dos mecanismos da comunicação e de sua utilização como forma de expressão. Língua Portuguesa Palavra da Reit ora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIV ERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora Língua Portuguesa Sumário 1. Apresentação da disciplina................................ ................................ .......................... 06 2. Plano da disciplina................................ ................................ ................................ ....... 08 3. Unidade 1 – A linguagem verbal e a linguagem não verbal................................ ...... 11 4 Unidade 2 – Os signos linguísticos ................................ ................................ ............. 21 5. Unidade 3 – Os elementos da comunicação humana................................ ................ 29 6. Unidade 4 – As funções da linguagem ................................ ................................ ....... 44 7. Unidade 5 – As diversidades do uso da língua – Os níveis da linguagem................. 60 8. Unidade 6 – Os mecanismos de combinação e seleção................................ ............. 80 9. Unidade 7 – Elementos coesivos – O controle de “nós” linguísticos através dos mecanismos coesivos ................................ ................................ ...... 98 10. Unidade 8 – A semântica: o sentidos das palavras................................ ..................... 109 11. Unidade 9 – A construção do texto – Os gêneros textuais - Reconhecimento......... 120 9. Considerações finais ................................ ................................ ................................ .... 141 10. Conhecendo o autor ................................ ................................ ................................ .... 142 11. Referências ................................ ................................ ................................ ................... 143 12. Anexos ................................ ................................ ................................ .......................... 144 Língua Portuguesa Apr esentaçã o da Di sci plina Encontramos em Bechara (1991:15-6)1, a seguinte explicação: “Cada falante é um poliglota na sua própria língua, à medida que dispõe da sua modalidade linguística e está à altura de decodificar algumas outras modalidades linguísticas com as quais entra em contato (....)”. Em termos estruturais, uma língua pode ser concebida como um sistema que, associando os dois planos – falado e escrito – transforma o seu usuário em um falante / ouvinte e/ou um leitor / escritor, capaz de integrar-se no meio em que vive, como um cidadão que, além de ter o domínio de seu idioma, consegue interagir com a língua, cujo código linguístico se insere em algo muito maior – A LINGUAGEM – sistema de signos que permite a comunicação. Para melhor entendermos essa noção, citamos o linguista dinamarquês Louis Hjelmslev2 ( In. Terra, 2002:12 ) que reitera; A linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos, o instrumentograças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana. Em função daquilo que foi dito acima, o nosso objetivo é levá-lo a compreender os mecanismos linguísticos que garantem a coesão e a coerência do texto oral e escrito, não nos desviando nunca de que o contato com a língua é um processo natural, isto é, deriva do que chamamos de processo internalizado, próprio da natureza humana. 1 Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. 2 Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997. 6 Língua Portuguesa Ao optar por fazer a disciplina Língua Portuguesa no método de Ensino a Distância, você terá uma grande flexibilidade em efetuar o seu trabalho. O tempo, por exemplo, será definido por você. Prevemos um prazo para que você termine as atividades propostas, portanto, não deixe para o último momento a realização delas. Siga sempre as instruções de como proceder. No mais... Bom trabalho. Esperamos que você tenha um ótimo desempenho e um excelente aproveitamento. 7 Língua Portuguesa Plan o Da Di sci plina Dividimos a disciplina em nove unidades, sendo que algumas se subdividem, por sua vez, em alguns tópicos para melhor compreensão. Todas as unidades têm como base objetivos claros, baseados nas competências e habilidades necessárias para o seu enriquecimento enquanto usuário da língua materna. São eles: — Aplicar correta e fluentemente a língua, tanto escrita como falada, produzindo textos claros e coerentes; — Construir meios de expressão oral e escrita através das várias modalidades do uso da língua materna atendendo, sempre que necessário, à norma culta da língua; — Inferir as diversas representações das palavras e das imagens no discurso do cotidiano; — Aplicar a língua em sua relação com o contexto real da fala, propiciando a inter-relação idiomática da sociedade; — Consolidar uma reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno psicológico, social, educacional, histórico, cultural, político e ideológico. Faremos, então, um pequeno resumo acerca de cada unidade para que você possa ter uma visão global daquilo que irá estudar. UNIDADE 1 – A LINGUAGEM VERBAL E A LINGUAGEM NÃO-VERBAL Sendo a linguagem um sistema de signos utilizados para a sua produç ão, podemos fazer uso da palavra (escrita ou falada) ou de outras formas de comunicação (sons, gestos, desenhos, cores, etc.). Quando utilizamos a palavra, estamos diante da LINGUAGEM VERBAL. No outro caso, temos a LINGUAGEM NÃO- VERBAL. 8 Língua Portuguesa UNIDADE 2 – OS SIGNOS LINGUÍSTICOS A Linguística – ciência que estuda as mútuas relações e princípios da língua – nos apresenta o signo lingü ístico como o código verbal necessário para a comunicação. É a língua a mais concreta manifestação de identidade de um povo. UNIDADE 3 – OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA Para que, realmente, a comunicação aconteça se fazem necessários alguns elementos que estabeleçam vínculos fundamentais, visando o envio e a recepção da mensagem. UNIDADE 4 – AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM Sempre que nos comunicamos, temos uma razão para fazê-lo. Assim, para cada tipo de mensagem que enviamos (ou recebemos) há uma função específica que está intrinsecamente ligada aos elementos da comunicação (conteúdo da Unidade III). UNIDADE 5 - AS DIVERSIDADES DO USO DA LÍNGUA – OS NÍVEIS DA LINGUAGEM Do mesmo modo que temos funções diferentes para cada de tipo de comunicação, também temos o uso diversificado da língua em diferentes situações, ambientes, faixa etária, culturas, etc. É sob esses aspectos que podemos caracterizar o dinamismo da língua. UNIDADE VI - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÂO: A COERÊNCIA – A ARTICULAÇÂO DE SENTIDOS A Coerência – a articulação de sentido. Todo texto – independente do seu tamanho – necessita de uma estruturação lógica que faz com que palavr as e frases componham um todo significativo para seus interlocutores. Não só o texto em si deve ser coerente, mas também as idéias terão que estar articuladas entre si. UNIDADE VII – ELEMENTOS COESIVOS – O CONTROLE DO ‘NÓS’ LINGUÍSTICOS ATRAVÉS DOS MECANISMOS COESIVOS Se em um texto deve haver coerência de idéias; há de haver também uma conexão gramatical capaz de fazer as articulações entre as palavras, orações, períodos e parágrafos. 9 Língua Portuguesa UNIDADE VIII – A SEMÂNTICA: O SENTIDO DAS PALAVRAS Parte da gramática que se dedica ao estudo dos aspectos relacionados aos sentidos de palavras e enunciados. A Semântica se detém ao contexto em que essas palavras estão empregadas. UNIDADE IX – A CONSTRUÇÃ O DO TEXTO – OS GÊNEROS TEXTUAIS – RECONHE CIMENTO Ao construirmos um texto, teremos que atentar para o tipo de texto que queremos redigir. Sendo assim, reconhecer os gêneros textuais e suas características específicas é fundamental para a sua elaboração. 10 Língua Portuguesa A linguagem verbal e a linguagem não verbal Linguagem e Sociedade. A Linguagem e o Processo de Comunicação. Conceitos de Linguagem, língua, Fala e Discurso. 1 Língua Portuguesa 12 O presente material faz parte da Unidade I do conteúdo da disciplina Língua Portuguesa I. É importante que você atente para o fato de que, como ser social que é, “usa e abusa” da linguagem para se comunicar. Imagine-se num mundo sem as diversas formas de comunicação encontradas. Seria possível algo assim? Já dizia o comunicador Chacrinh a que ‘quem não se comunica, se trumbica’. Portanto, vamos começar a nossa primeira comunicação, digo, a nossa primeira aula. TEXTO 1: Língua e Sociedade O caráter social de uma língua já parece ter sido fartamente demonstrado. Entendida como um sistema de signos convencionais que faculta aos membros de uma comunidade a possibilidade de comunicação, acredita-se, hoje, que seu papel seja cada vez mais importante nas relações humanas, razão pela qual seu estudo já envolve modernos processos científicos de pesquisa, interligados às mais novas ciências e técnicas, como, por exemplo, a própria Cibernética. Entre sociedade e língua, de fato, não há uma relação de mera casualidade. Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca e suas inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que, pela imitação e associação , começamos a formular nossas mensagens. E toda Língua Portuguesa 13 a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal. Sons, gestos, imagens, diversos e imprevistos, cercam a vida do homem moderno, compondo mensagens de toda ordem (Henri Lefèbvre diria poeticamente que “niágaras de mensagens caem sobre pessoas mais ou menos interessadas e contagiadas”), transmitidas pelos mais diferentes canais, como a televisão, o cinema, a imprensa, o rádio, o telefone, o telégrafo, os cartazes de propaganda, os desenhos, a música e tantos outros. Em todos, a língua desempenha um papel preponderante, seja em sua forma oral, seja através de seu código substitutivo escrito. E, através dela, o contato com um mundo que nos cerca é permanentemente atualizado. Nas grandes civilizações, a língua é o suporte de uma dinâmica social, que compromete não só as relações diárias entre os membros da comunidade, como também uma atividade intelectual, que vai desde o fluxo informativodos meios de comunicação de massa até a vida cultural, científica ou literária. PRETI, Dino. Sociolingüística: os níveis da fala. São Paulo, Editora Nacional, 1974. P. 7 ATIVIDADE 1 PARA VOCÊ PENSAR Depois da leitura do texto que abre essa unidade, procure pensar nas seguintes questões: Como podemos definir Língua, baseado na leitura do 1º parágrafo do texto? Língua Portuguesa 14 O 2º parágrafo nos mostra que a relação entre sociedade e língua não é mera casualidade. Por quê? O que Henri Lefèbre quis dizer ao enunciar que “niágaras de mensagens caem sobre pessoas mais ou menos interessadas e contagiadas”, no 3º parágrafo? A língua, sendo “suporte de uma dinâmica social” (4º parágrafo) tem uma abrangência que vai além de nossas expectativas. Em que níveis isso acontece? A linguagem e o processo de comunicação: Muitas vezes não observamos algo que é tão normal para nós que não damos a devida atenção: a nossa volt a, a lingu agem está presente em todas as suas manifestações o tempo todo, fazendo parte do nosso cotidiano. Para isso, faz-se necessário conceituarmos o que é LINGUAGEM, LÍNGUA, FALA e DISCURSO – vocábulos que iremos usar com bastante constância em nossas aulas: LINGUAGEM: é a representação do pensamento humano através de sina is que garantem a comunicação e a interação entre as pessoas. LÍNGUA: é um código formado por palavras e combinações de leis por meio do qual as pessoas se comunicam entre si. FALA: é a ação ou a faculdade de utilização da língua. A opos ição língua X fala separa o social do indiv idual. DISCURSO: é a utilização individual da língua. Ass im sendo, como a cada um é dado um modo próprio de se expressar, essa marca própria, recebe o nome de estilo. Língua Portuguesa 15 Inúmeras linguagens aparecem nos atos de comunicação. Entre elas fazemos uso da linguagem verbal (que utiliza a língua oral ou escrita) e a linguagem não- verbal (faz uso de qualquer código que não seja a palavr a – sinais, símbolos, cores, gestos, expressões fisionômicas, sons, etc.). Podemos citar como exemplo do uso da linguagem verbal uma carta, um out- door anunciando grandes promoções de uma loja, um pedido de socorro, um grupo de alunos cantando o Hino Nacional. Já, o semáforo, o apito de um guarda, o som da sirena de uma ambulância pedindo passagem e um cartaz com a foto de uma mulher vestida de enfermeira pedindo silêncio apenas com gesto, ao colocar o dedo indicador sobre a boc a, são exemplos da linguagem não-verbal. Comece a perceber o ambiente que o cerca e a “ouvir” os múltiplos sons que existem a sua volta e você terá numerosos exemplos dessa fantástica “máquina” de sinais convencionais que se chama LINGUAGEM. Língua Portuguesa 16 EXERCÍCIOS – UNIDADE 1 1- O conceito de língua pode ser apresentado como: a) um conjunto de signos convencionais que faculta aos membros de uma comunidade a possibilidade de uma comunicação; b) uma união de símbolos verbais ou não usados para a comunicação; c) signos unidos não-convencionais que facilitam a comunicação entre os membros de uma comunidade; d) um conjunto de significantes convencionais que faculta aos membros de uma comunidade a possibilidade de uma comunicação; e) uma união de signos convencionais ou não que possibilita a comunicação entre os membros de uma comunidade. 2 - Pode-se definir a linguagem como: a) a utilização individual da l íngua; b) a ação ou a faculdade de utilização da l íngua; c) a marca própria, individu al, que recebe o nome de estilo; d) a representação do pensamento humano através de sinais que garantem a comunicação e a interação entre as pessoas; e) um código formado por palavras e combinações de leis por meio do qual as pessoas se comunicam entre si. Língua Portuguesa 17 3-A fala tem por definição: a) a comunicação coletiva por meio de palavras e combinações de leis; b) a ação ou a faculdade de utilização da l íngua; c) o estilo de cada um; d) é a representação do pensamento humano; e) um conjunto de sinais que permitem a comunicação. 4 - É correto afirmar que discurso é: a) a combinação das palavras por meio de leis; b) a representação do pensamento humano através de sinais utilizados na comunicação; c) a utilização individual da l íngua; d) a ação ou a faculdade de utilização da l íngua; e) a utilização coletiva da língua. 5-As palavras nunca estão sozinhas. E qualquer discussão sobre a linguagem, seu sentido e sua natureza deverá, obrigatoriamente, discutir também as condições reais em que ela existe. (Faraco & Cristóvão Tezza) Baseado no trecho acima, podemos afirmar que: a) Os conceitos de erro e acerto não são relativos. b) A diversidade linguística da oralidade está inegavelmente associada à ignorância do falante. c) A linguagem é uma realidade exclusivamente escrita. Língua Portuguesa 18 d) Toda língua é um conjunto de variedades que devem ser consideradas. e) Não há diferença entre a língua falada e a língua escrita. 6 -São exemplos de linguagem verbal: a) gestos e cores das bandeiras; b) discursos políticos; c) desenhos que distinguem os banheiros femininos dos masculinos; d) cartões apresentados pelo juiz durante uma partida de futebol a um jogador que tenha cometido uma infração; e) discursos políticos e cores das bandeiras. 7 - São exemplos de linguagem não-verbal: a) sinais de trânsito e uma conversa informal entre alunos e professores; b) cores das bandeiras e sinais de trânsito; c) cantigas infantis; d) discursos políticos; e) apitos e discursos políticos. Língua Portuguesa 19 8 - Pode-se dizer que: a) há dicotomia entre língua e fala; b) não há dicotomia entre língua e fala; c) tanto a língua quanto a fala são bens públicos e individuais; d) todas as afirmativas anteriores são corretas; e) todas as afirmativas anteriores são incorretas. TEXTO PARA AS QUESTÕES 9 e 10: Tanto que tenho falado, t anto que tenho escrito – como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta. Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa. Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento – e depois esqueci. Alguma coisa que eu disse distraído – talvez palavras de algum poeta antigo – foi despertar melodias: esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito Língua Portuguesa 20 triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças. (Rubem Braga) 9 - A linguagem possui um papel de grande importância como forma de “transmitir” informações do emissor ao receptor. O texto nos fala ainda de um outro “poder” que tem a palavra. Que “pode r” é esse? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________10 - Na frase “deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento”, que características da fala foram destacadas? Explique. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Língua Portuguesa 21 Os signos Linguísticos 2 Conceito de signo. O significante e o significado – conceituação. A relação significante X significado. Língua Portuguesa 22 Como vimos na aula anterior, a comunicação se dá pela linguagem verbal e pela linguagem não-verbal. Agora, vamos tratar da linguagem verbal e de todos os mecanismos que a envolvem. Você terá contato com o s igno linguístico, isto é, com todo o processo que envolve a língua. Vamos lá, então? Ao introduzirmos essa aula com a definição de signo, queremos ressaltar que signo é, antes de mais nada, sinal, símbolo e, portanto, refere-se a alguma coisa. Sempre que tentamos representar a realidade por meio da palavra, estamos falando de signo linguístico. Conceituamos signo, linguisticamente falando, como a menor unidade dotada de sentido. Compõe-se de um elemento material, de caráter linear, denominado significante e do conceito, da idéia, a imagem psíquica que temos, - estamos falando do significado. Veja o verbete tirado do dicionário Eletrônico Michaelis – UOL, 2002: signo s. m. 1. Astr. Cada uma das doze partes em que se divide o zodíaco e cada uma das constelações respectivas. 2. Linguíst. T udo aquilo que, sob ce rtos aspectos e em alguma medida, substitui alguma coisa, representando-a para alguém. — S. linguís tico: o que designa a combinação de conceito c om a imagem acústica, ou seja, a combinação de um significado com um signif icante. Em Língua Portuguesa 23 bola, por exemplo, a sequênc ia de sons b-o-l-a é o signif icante, e a idé ia do objeto é o signif icado. S.-de-salomão: emblema místico, símbolo da união do corpo e da alma, que consiste em dois triângulos entrelaçados formando uma estrela de seis pontas; signo salomão. Era usado, outrora, como amuleto contra a febre e outras doenças. S.-salomão: signo-de-salomão. A relação significante X significado é convencional, ou seja, há um acordo implícito e explícito entre os usuários da língua. Convencionou-se chamar de gato o animal mamífero, doméstico, da classe dos felídeos, por exemplo.. essa relação presente no signo linguístico é também arbitrária, visto que não h á qualquer propósito entre a representação gráfica “ g – a – t – o ” e a idéia que temos representada em nossas mentes desse animal. Também temos o significante “g – a – t – o” com outros significados, como: Ladrão, gatuno, larápio ou em expressões do tipo gato-pingado: cada um dos poucos assistentes de uma reunião ou espetáculo, ou de algum agrupamento e ainda gato e sapato: coisa desprezível. Sendo assim, signo é a associação de um significante (sons da fala, imagens gráficas, desenhos, etc.) e um significado (conceito, idéia ou imagem mental). O signo LIVRO se compõe, portanto de: Língua Portuguesa 24 Devemos ressaltar, ainda, que quando falamos em signo linguístico, referimo- nos a uma representação da realidade através da palavra. Acentuamos que palavra é criação humana, usada para representar algo que temos em mente. A palavra maçã não é a maçã (você não come a palavra maçã); mas ao dizermos ou lermos essa palavra, é claro que nos vem à mente a idéia da maçã (fruto da macieira). Mesmo que o objeto mencionado não esteja na nossa frente, ao evocá-lo, usamos a palavr a que o nomeia, a sua imagem surge em nossa mente de maneira instantânea. Língua Portuguesa 25 EXERCÍCIOS – UNIDADE 2 1 – Com relação ao conceito de signo linguístico, NÃO é correto afirmar que: a) É um conceito binário já que se compõe de dois elementos: o significante e o significado. b) A imagem acústica é o significado da palavr a. c) A imagem psíquica corresponde ao significado da palavra. d) /m/e/z/a/ corresponde ao significante fônico da palavra mesa. e) A palavra “mesa” corresponde ao significado da palavra. 2 – Com relação ao conceito de signo linguístico, é correto afirmar que: a) A imagem acústica corresponde ao significado da palavra. b) A forma gráfica corresponde ao significado da palavra. c) O conceito de signo se constitui de uma relação arbitrária ou convencionalizada entre significante e significado. d) A imagem psíquica corresponde ao significante da palavra. e) O elemento material corresponde ao significado da palavra. 3 – Escreva V (Verdadeiro) ou F (Falso) para as afirmativas abaixo. Depois, marque a alternativa correta: I – ( ) O significado é o conceito, a ideia, a imagem psíquica que temos dos elementos verbalizados. II – ( ) O signo linguístico é a fusão do elemento material e da imagem psíquica. III – ( ) O signo linguístico tem duas faces: o significante e o significado. a) F – V – F b) V – V – F Língua Portuguesa 26 c) F – F – V d) V – F – F e) V – V – V 4 – O elemento composto pelos sons da fala e pelas representações gráficas desses sons é: a) o signo linguístico. b) o significado. c) a fala. d) o significante. e) a arbitrariedade. 5 – Com relação ao conceito de signo linguístico, identifique a sequência correta: I – O signo linguístico corresponde a uma relação simbólica e arbitrária entre dois elementos: o significante e o significado. II – O significante corresponde à representação material da palavra, seja por recursos gráficos ou sonoros. III – O significante corresponde à representação conceitual da palavra. IV – O signo linguístico se constitui em uma relação binária entre elementos de natureza concreta e abstrata, respectivamente. a) V – V – F – F b) F – V – F – V c) V – F – V – F d) F – F – V – V e) V – V – F – V Língua Portuguesa 27 6 – Complete os espaços abaixo. Um _____________ compõe-se de um elemento material de caráter linear, denominado __________ e do conceito, da ideia, a imagem psíquica que temos, ou seja: ___________. A alternativa que preenche adequadamente o enunciado é: a) signo – significante – significado. b) signo – significado – significante. c) signo – significante – signo. d) significante – signo – significado. e) significado – significante – signo. 7 – Um signo linguístico é a combinação de um elemento concreto com um elemento inteligível. Qual a denominação dada, respectivamente, a cada um desses elementos? a) Língua e Linguagem. b) Linguagem e Língua. c) Significante e Significado. d) Fala e Discurso. e) Língua e Fala. 8 – Signo = representação material (Significante) + conceito mental (Significado). É claro que um mesmo significante pode nos remeter a vários significados. Esse fato linguístico chama-se: a) sinônimo. b) antônimo. c) semântica. d) denotação. e) polissemia. Língua Portuguesa 28 TEXTO PARA A QUESTÃO 9: Marina, linda e loira, tinha quatro aninhos, as melenas já estavam nos ombros, quando a mãe resolveu dar um trato na cabeça da criança. Pegou uma tesoura grande e disse: – Mamãe só vai cortar dois dedinhos. Marina aos prantos, mostrando a mão para a mãezinha, pergunta: – Qual deles, mamãe? (ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica – brincando com a gramática) 9 - O humor desta piada surge da confusãoentre os signos e significados de algumas palavras. Qual a palavr a que gera confusão no texto lido? Quais os significados que esta palavra pode ter? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 10 – Observe o anúncio publicitário e explique as relações de significado exploradas pelo contexto no que diz respeito às palavras destacadas: SE SEU AMIGO USA DROGAS E VOCÊ NÃO FALA NADA, QUE DROGA DE AMIGO É VOCÊ? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Língua Portuguesa 29 Os elementos da comunicação humana 3 Esquematizando o Processo Comunicativo. Conceituando emissor, receptor, mensagem, canal, código e referente. O referente situacional e o referente textual. A comunicação unilateral e a comunicação bilateral. O ruído. A Intencionalidade Discursiva. Língua Portuguesa 30 Nessa aula, ainda falaremos dos processos da comunicação humana. Desta vez, vamos tratar dos componentes que formam todo esse processo. São, o que chamamos de ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO. Falaremos, também, da intencionalidade discursiva, ou seja, dos mecanismos utilizados por quem fala/escreve Mãos a obra! Para Francis Vanoye 1 “toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem”. Assim para que a comunicaç ão aconteça temos que ter alguém construindo um texto (verbal ou não-verbal) e enviando-o a alguém. Esse material enviado se utilizará de um sistema de sinais e de um meio ou contato para fazer chegar àquilo que se pretenda comunicar. O ato comunicativo, portanto, sendo um ato social, concretiza várias manifestações, tanto do ponto de vista cultural como no nosso cotidiano. Vale dizer: sempre estamos nos comunicando com alguém através de uma mensagem. Assim, podemos esquematizar esse processo comunicativo do seguinte modo: 1 Usos da Linguagem – problemas e técnicas na produção oral e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Língua Portuguesa 31 O emissor – ou destinador ou ainda remetente – é o que emite (envia) a mensagem. Essa mensagem pode ser transmitida de forma individual ou em grupo. O receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem. A mensagem é o que se denomina, ainda segundo Vanoye “objeto da comunicação”. Constitui-se no conteúdo daquilo que é transmitido. O canal comunicativo é definido como os meios utilizados pelo emissor a fim de enviar a mensagem ao receptor. Uma mensagem, por exemplo, que é transmitida por um órgão de controle de tráfego – uma placa do tipo “PERMITIDO ESTACIONAR” se dá através dos meios visuais de que o receptor é portador. Língua Portuguesa 32 O som do apito de um guarda, sinalizando algo, acontece através do meio sonoro (ondas sonoras, ouvido ...) É através do canal de comunicação que utilizamos é que podemos empreender a classificação das mensagens. Assim, teremos: As mensagens visuais, cuja base são as imagens (desenhos, fotos) e os símbolos (a escrita ortográfica). As mensagens tácteis – um aperto de mão, uma carícia.. As mensagens sonoras: os diversos sons significativos, as palavras faladas, as músicas, etc. As mensagens gustativas: uma comida, por exemplo, apimentada ou salgada demais. As mensagens olfativas: um perfume, um escapamento de gás de cozinha, etc. O código é um conjunto de signos combinados entre si, do qual o emissor se utiliza para elaborar a mensagem. Ao montá-la, o remetente estará operando a codificação; ao recebê-la, o destinatário – identificando o código utiliz ado – estará procedendo a decodificação. Os processos de codificação / decodificação se realizam de algumas maneiras, tais como: Língua Portuguesa 33 a) O emissor envia uma mensagem. O destinatário a recebe, mas não a compreende, porque não possuem signo em comum. Como exemplo poderíamos apontar uma tentativa de diálogo entre um brasileiro e um japonês. b) O emissor “tenta” manter um diálogo com um receptor que domina pouco o código utilizado. Neste caso, a comunicação é retrita, pois são poucos os signos em comum. Um americano recém- chegado ao Brasil, tentado se comunicar com um estudante que está estudando inglês há apenas um ano. Língua Portuguesa 34 c) A comunicação é mais abrangente; embora ainda não total – quando, por exemplo, um professor explica um determinado conteúdo, mas alguns alunos não dominaram ainda o anterior, que, por sua vez, seria pré-requisito do atual. d) Finalmente, temos a comunicação total. Todos os signos emitidos pelo emissor são do conhecimento do receptor e a figura assim representará esse caso: Língua Portuguesa 35 O referente é constituído pelo conteúdo ao qual a mensagem nos remete. Temos o referente situacional e o referente textual. O 1º diz respeito aos elementos da situação e das circunstâncias da transmissão da mensagem. Assim, quando uma professora pede aos alunos que abram o livro na página 80, supõe-se que ela esteja dentro de uma sala de aula e os alunos, além de possuírem o referido livro, saibam sobre o que ela está falando. Já, o referente textual é constituído pelos elementos do contexto linguístico. Num conto ou em um romance, por exemplo, todos os referentes são textuais, ou seja, têm como base o texto. Temos, ainda, dois tipos de comunicação: a comunicação unilateral e a comunicação bilateral. Quando se estabelece de um emissor para o receptor, sem qualquer reciprocidade, chama-se comunicação unilateral. Uma palestra, um anúncio em out-door ou uma placa de sinalização de trânsito transmitem mensagens sem precisar receber resposta, são bons exemplos. Língua Portuguesa 36 Já, em uma conversa, em um debate em sala de aula temos a comunicação bilateral, pois o emissor e o receptor “trocam” de papéis. Muitas vezes, a transmissão da mensagem é prejudicada por algo que denominamos ruído. Não podemos entendê-lo apenas como um problema de ordem sonora. Na verdade, para o processo de comunicação, ruído é tudo aquilo que pode atrapalh ar o receptor em receber a mensagem enviada pelo emissor. Podemos estabelecer, por exemplo, que ruído pode ser, entre outros: uma voz muito baixa, o barulho de uma britadeira funcionando perto de um “orelhão”, um defeito no sistema eletrônico de uma televisão; uma linha cruzada durante uma ligação telefônica, uma notícia cujo jornal apresenta uma das pontas rasgadas, não permitindo a leitura em seu todo; uma mancha borrada no papel de uma carta, etc. Como vimos, a comunicação humana está muito além de um simples ato mecânico de estímulo e resposta. Não haverá comunicação de fato se não houver interação entre emissor e receptor; isto é, sempre estamos nos relacionando com o outro ou outros, através da linguagem (verbal ou não-verbal) num processo contínuo. A intencionalidade discursiva A piadinha que se segue constitui uma situação comunicativa entre duas pessoas: Um amigo encontra o outro na rua: Onde você está morando, rapaz? Em Copacaban a. Em que altura ? No 7º andar. Língua Portuguesa 37 Nesse caso,a comunicação entre o emissor e o receptor não tem muito sucesso e é aí que o humor se faz presente; exatamente pelo fato de que os interlocutores não atenderem a um princípio básico da comunicação: a intencionalidade discursiva – intenções (explícitas ou implícitas ) existentes na linguagem dos membros que participam de uma determinada situação comunicativa. Ao interagir com outra pessoa através da linguagem, temos a “intenção” de modificar o pensamento ou o comportamento de nosso(s) interlocutor(es). O sucesso da comunicação está, portanto, em saber lidar com a intencionalidade. É através dela que o emissor impressiona, persuade, informa, pede, solicita, etc. o receptor. Língua Portuguesa 38 EXERCÍCIOS – UNIDADE 3 1) Para se obter uma comunicação efetiva, que elemento( s) da comunicação humana não pode(m) falhar: a) o código. b) o emissor e o receptor. c) o canal. d) o assunto. e) nenhum dos seis elementos. 2) Na frase “(... ) se eu não compusesse este capítulo, padeceria o leitor um forte abalo, assaz danoso ao efeito do livro” de Machado de Assis, os elementos sublinhados denotam referência, respectivamente, ao: a) canal, emissor, receptor. b) emissor, contato, canal. c) código, receptor, mensagem. d) código, receptor, canal. e) emissor, receptor, mensagem. Língua Portuguesa 39 Estudo de Texto Nem a Rosa, Nem o Cravo As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades? Já viste um loiro trigal balanç ando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. (...) Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como uma nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento. (...) Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo – desde o crepúsculo aos olhos da amada – sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca. Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Sobre toda beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra Língua Portuguesa 40 aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade! AMADO, Jorge. Folha da Manh ã. 22/04/1945) 3) O uso das palavras rosa e cravo é recusado pelo enunciador do texto de Jorge Amado. Essa recusa ocorre, pois essas palavras assumem, no texto, o sentido de: a) ameaça. b) alienação. c) infelicidade. d) cumplicidade. e) medo. 4) Para expressar um ponto de vista definido, o enunc iador de Nem a rosa, Nem o cravo emprega determinados recursos discurs ivos. Um desses recursos e a justificativa para seu uso estão presentes em: a) emprego da 1ª pessoa – discussão de um tema polêmico. b) resgate de práticas pessoais passadas – conservação de uma visão de mundo. c) interlocução direta com os possíveis leitores – fortalecimento de um pacto de omissão. d) presença de um interlocutor em 2ª pessoa - desenvolvimento de uma estratégia de confissão. e) presença de um narrador em 3ª pessoa – demonstração de pleno conhecimento dos fatos. 5) O enunciador do texto Nem a Rosa, nem o Cravo defende como modo de reação às crueldades referidas, a utilização das mesmas armas dos agressores. O trecho em que essa ideia se apresenta mais claramente é: a) “Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão.” Língua Portuguesa 41 b) “Houve um dia em que eu falei do amor encontrei para ele os mais doces vocábulos.” c) “Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo.” d) “Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança.” e) “Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima.” Leia o texto. “Meu coração estrala”... Que imagem sem verdade. Porém não tive ideia de mentir... Foram os nervos, a alma?... Que quer dizer estralo! Nem ao menos sou Padre Vieira... Oh dicionário pequitito!” (Mário de Andrade) 6) Este poema salienta um problema relacionado ao emissor, pois fala: a) da incomunicabilidade entre as pessoas. b) da ineficácia das palavras em transmitir sensações e estados d’alma. c) da falta de conhecimento de vocabulário. d) da solidão. e) da ausência de equilíbrio interior. Leia o trecho com atenção. “Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas e a cor que escorre dos meus dedos colore as areias desertas.” ( Cecília Meireles) Língua Portuguesa 42 7) A estrofe acima revela que o eu-poético ( a voz que fala no texto) desenvolve a percepção ................. do mundo. a) sentimental b) racional c) emotiva d) sensorial e) onírica Leia . “ O matuto foi fazer uma consulta médica. O médico pede: - Tire a calça. E começa em seguida a examiná-lo. - Mas o senhor está totalmente descalcificado! - Claro! Foi o senhor que mandou.” ( Ziraldo ) 8) Segundo Saussure, “a língua não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabe lecido entre os membros da comunidade.” No texto, o contexto contraria esse conceito porque houve: a) identificação da mensagem. b) decodificação da mensagem. c) diversificação no emprego do código. d) sistematização do emprego do código. e) identificação e decodificação entre emissor e receptor. Língua Portuguesa 43 Leia o texto abaixo e responda às questões 1 e 2. TRÊS APITOS “ Quando o apito Da fábrica de tecidos Vem ferir os meus ouvidos, Eu me lembro de você. Mas você anda, Sem dúvida bem zangada E está mesmo interessada Em fingir que não me vê. Você que atende ao apito De uma chaminé de barro Por que não atende ao grito, Tão aflito, Da buzina do meu carro? Você no inverno Sem meias vai para o trabalho, Não faz fé com agasalho, Nem no firo você crê. Mas você é mesmo Artigo quenão se imita, Quando a fábrica apita Faz reclame de você. Nos meus olhos você lê Que eu sofro cruelmente Com ciúmes do gerente Impertinente Que dá ordens a você. Sou do sereno, Poeta muito soturno Vou virar guarda-noturno E você sabe por quê. Mas você não sabe Língua Portuguesa 44 Que, enquanto você faz pano, Faço junto do piano Estes versos pra você.” Noel Rosa. 9) Em que pessoa está escrito o texto? Qual o elemento da comunicação em evidência? Justifique com palavras retiradas do próprio texto. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 10) Caracterize a segunda pessoa do discurso. A que elemento da comunicação se refere? Podemos afirmar que o texto está centrado exclusivamente na segunda pessoa do discurso? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Língua Portuguesa 45 As funções da linguagem 4 A função referencial. A função expressiva ou emotiva. A função conativa ou apelativa: a intenção do emissor e a organização da mensagem. A função poética. A função fática. A função metalingüística. Língua Portuguesa 46 Hoje estaremos falando de como toda mensagem tem uma finalidade predominante, quer seja transmitir uma informação, uma emoção, quer seja um pedido. Você perceberá, no decorrer da leitura, que nenhuma mensagem existe sem que haja uma intenção do emissor. A nossa, hoje, é lhe ensinar mais um conteúdo necessário para a sua formação acadêmica. Boa aula!!! Quando realizamos um ato de comunicação verbal, procuramos selecionar as palavras e depois de organizá-las, combiná-las entre si, temos que adequá-las de acordo com a intenção, com o sentido que queremos dar à mensagem que enviaremos ao receptor. Por ser o ato de falar algo bastante automático, raramente percebemos que essa organização e adequação das palavr as usadas estão ligadas a uma ou mais funções. Sendo assim, ao darmos ênfase a um dos elementos de comunicação, já estudados na aula anterior, estaremos priorizando uma das seis funções que a linguagem possui. Foi o linguista russo Roman Jakobson quem elaborou, em 1969, estudos acerca das funç ões das linguagem. Para cada um dos elementos da comunicação humana existe uma função estritamente ligada a c ada elemento, como veremos a seguir: Língua Portuguesa 47 Estudaremos uma a uma dessas funções: 1. Função referencial: Também chamada de função informativa é centrada no referente, isto é, naquilo que se fala. Cabe ao emissor a intenção de transmitir ao seu interlocutor, de modo direto e objetivo, dados estruturados, geralmente, na ordem direta. Essa função está presente em grande parte dos textos dissertativos, técnicos, jornalísticos, em receitas médicas, bulas de remédio, manuais de instrução, avisos institucionais, mapas, gráficos, etc. A função referencial é tratada por alguns autores como função denotativa, visto que no texto não há ambigüidades ou duplo sentido. Língua Portuguesa 48 2. Função expressiva ou emotiva: Centrada no emissor da mensagem, exprime a sua atitude em relação ao conteúdo da mensagem e da situação. Nesse caso, o emissor expressa seus sentimentos e emoções, resultando num texto subjetivo (diferente da objetividade da função referencial). A mensagem é estruturada com algumas marcas gramaticais que merecem registro: verbos e pronomes em 1ª pessoa, interjeições, adjetivos de valores, sinais de pontuação como as reticências, ponto de exclamação. O exemplo que lhe daremos é o famoso Soneto da Fidelidade, escrito por Vinícius de Moraes. Repare como o uso da 1ª pessoa é uma marca significativa para acentuar a subjetividade do eu-poético. SONETO DA FIDELIDADE De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. Língua Portuguesa 49 E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de que vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor ( que tive ): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. MORAES, Vinicius de. Obra Completa e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1998. 3. Função conativa ou apelativa: O destaque está no receptor que, por sua vez, é estimulado pela mensagem. Os textos em que essa função predomina são marcados por verbos no imperativo, por vocativos, por pronomes de tratamento. Outro recurso utilizado pela imprensa para prender o receptor e que caracteriza muito bem a função CONATIVA é a argumentação, em que o emissor procura a adesão do receptor ao seu ponto de vista. Podemos traçar um paralelo entre a intenção do emissor da mensagem e a organização da mesma na função conativa. Perceba: Língua Portuguesa 50 INTENÇÃO DO EMISSOR influenciar, envolver, persuadir ORGANIZAÇÃO DA MENSAGEM apelo, súplica, ordem, chamamento, argumento. Numa mensagem publicitária, por exemplo, de um produto para limpeza, o texto parece falar com a mulher – dona-de-casa – a quem interessa vender o produto. Já, quando o objetivo é influenciar um jovem a comprar uma mochila, por exemplo, a intenção discursiva é outra e, consequentemente, o texto vai privilegiar palavr as do universo dos adolescentes, usando gírias do momento, termos centrados em seu linguajar. Assim, a função conativa ou apelativa da linguagem é predominantemente encontrada nos anúncios publicitários, nos discursos políticos, nos horóscopos, nos livros de auto-ajuda, nas preces religiosas, etc. 4. Função poética Acontece quando a comunicação dá ênfase à própria mensagem. Uma das características dessa função é o uso de recursos literários na construção da linguagem. Ao selecionar as palavras para compor um texto, o poeta escolhe as que realçam o sentido que ele quer dar ao seu texto e também a sua sonoridade e o ritmo; privilegiar as figuras de linguagem, os recursos fonológicos, a falta ou o excesso de sinais de pontuação. Língua Portuguesa 51 Nos textos em que predomina a função poética da linguagem, podemos encontrar, com muita frequência, o sentido conotativo das palavras. Tem tudo a ver A poesia tem tudo a ver com o sorriso da criança, o diálogo dos namorados, as lágrimas diante da morte, os olhos pedindo pão. A poesia – é só abrir os olhos e ver – tem tudo a ver com tudo. Elias José. Segredinhos de amor. São Paulo, Moderna, 1991 5. função fática Esta função se manifesta quando se percebe a preocupação do emissor em manter contato como receptor, sem deixar com que a comunicação se perca. Centrada no can al, ou c ontato como alguns autores preferem, a função fática acontece tanto na comunicação oral, através de sons do tipo “Hum ... hum ...”, “Hein? ...”, “Tá... tá ...”, “Sim ... sei ...”; de frases como “Está me ouvindo?”, “Estão me entendendo?” e de marcas sonoras como o famoso “plim ! plim!” da Rede Globo que chama o telespectador “distraído” para a retomada de comunicação. Língua Portuguesa 52 Como na comunicação escrita, encontramos a função fática da linguagem ao empregarmos marcadores linguísticos que se repetem, como os balões que você vê e lê no início e no fim de cada aula desse curso. 6. função metalinguística Acontece quando a ênfase está no código, isto é, quando o código é o tema da mensagem ou é usado para explicar o próprio código. Sabemos que, na linguagem verbal, o código é a língua; portanto, quando utilizamos a língua para explicar a própria l íngua, temos a metalinguagem ou seja, a função metalinguística. Língua Portuguesa 53 Um exemplo bem claro são os dicion ários e as gramátic as, pois utilizam palavr as para explicar as próprias palavras. fren.te s. f. 1. Parte superior do ros to, desde os cabelos até as sobrancelhas. 2. Parte anterior de qua lquer coisa. 3. Fachada de edifício. 4. Mil. Vanguarda. 5. Meteor. Superf ície que marca o contato de duas massas de ar convergentes e de temperaturas diferentes. Língua Portuguesa 54 EXERCÍCIOS – UNIDADE 4 TEXTO PARA AS QUESTÕES 1 e 2: O último poema Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação." (Manuel Bandeira, Libertinagens) 1. Qual a função predominante nessa poesia? a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função metalinguística. e) função conativa ou apelativa. Língua Portuguesa 55 2. Podemos detectar outra função, não predominante, mas presente ainda no poema. Marque o item em que ele se encontra. a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função metalinguística. e) função conativa ou apelativa. 3. Veja o texto abaixo – adaptado de um anúncio publicitário – e escolha o item correto quanto à função predominante: “CETIVA: Vitamina C sem cama. Adquira o hábito de tomar CETIVA regularmente e você terá mais saúde, dinamismo e resistência às infecções. Tome CETIVA todos os dias e vá para a cama só quando você bem entender.” a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função metalinguística. e) função conativa ou apelativa. Língua Portuguesa 56 4. Diga qual a função da lingu agem predominante em: Promover a recuperação de trabalhadores acidentados ou incapacitados física ou mentalmente para o trabalho, a nobre tarefa que o SESI realiza através da Subdivisão de Reabilitação. a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função metalinguística. e) função conativa ou apelativa. 5. A partir do texto abaixo, marque o item correto em relação à função predominante: Língua Portuguesa 57 a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função fática. e) função conativa ou apelativa. 6. Leia o texto abaixo e marque a função da linguagem que nele predomina: “CNBB aceita explicações de Arcoverde depois de um telefonema do Ministro Waldir Arcoverde que, segundo o secretário-geral da CNBB, D. Luciano Mendes, fez reparos ao Programa de Planejamento familiar, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou nota atribuindo a um ‘equívoco da imprensa’ a notícia de que o Governo está disposto a adotar a esterilização como método anticoncepcional.” (JB, 30/12/80) a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função metalinguística. e) função conativa ou apelativa. Língua Portuguesa 58 7. Numere os parênteses de acordo com a coluna da esquerda e depois escolha o item correto: 1. função conativa. 2. função fática. 3. função poética. 4. função emotiva. 5. função referencial. 6. função metalinguística. ( ) centrada no emissor. ( ) centrada no receptor. ( ) centrada no canal. ( ) centrada no referente. ( ) centrada no código. ( ) centrada na mensagem a) 2 – 5 – 6 – 4 – 1 – 3 b) 4 – 2 – 3 – 5 – 3 – 6 c) 6 – 2 – 4 – 1 – 2 – 5 d) 4 – 1 – 2 – 5 – 6 – 3 e) 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 8. Leia o texto de Millôr Fernandes e marque a alternativa que contém a função da linguagem predominante: “A ‘boite’ é um local em que o excesso de escuridão faz com que cada um dance com a mulher do outro. Desse engano constante nasce o infinito número de maridos enganados. É tão escura a ‘boite’ que nunca se sabe o que a orquestra está tocando. Nem o que se está comendo. Nem o que se está pagando. A ‘boite’ é o louvor da incógnita.” a) função referencial ou informativa. b) função poética. c) função emotiva ou expressiva. d) função metalinguística. e) função conativa ou apelativa. Língua Portuguesa 59 9. Dê a função da linguagem do seguinte anúncio vinculado nas tevês, revistas e jornais e depois, justificando a sua resposta. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 10. Leia a poesia que se segue e diga quais as du as funções da linguagem que podem caracterizar o texto. Qual das duas é a predominante? Por quê? “Que é Poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados.” (Cassiano Ricardo) _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Língua Portuguesa 60 5 As diversidades do uso da língua – os níveis da linguagem A modalidade escrita e falada. As variantes socioculturais – a norma culta e a norma coloquial; a gíria; a linguagem da Internet. As variantes regionais. As variantes de época. ·As variantes de estilo. Língua Portuguesa 61 Hoje, trataremos dos níveis da linguagem, ou seja, da diversidade lingüística, fato que ocorre, muitas vezes com bastante evidência; em outras, de forma pouco perceptível. Mas, de qualquer maneira, o estudo dessas variedades de uma língua implica em fatores de vital importância para o bom uso dela. Boa aula!!! TEXTO 1: “Uma das características mais evidentes das línguas é sua variedade. Entende-se por isso, fundamentalmente, que as línguas apresentam formas variáveis em determinada época, o que significa que não são faladas uniformemente por todos os falantes de uma sociedade. (....) Esta característica não é exclusivadas língua modernas. O latim e o grego antigo também tinham formas variáveis. O português, por exemplo, descende do chamado latim vulgar (popular), diferente em vários aspectos do latim dos escritores que chegou até nós.(...). Uma outra característica das línguas é que as diferenças que apresentam decorrem do fato de que os falantes de uma comunidade linguística não são considerados iguais pela própria sociedade. As diferenças de linguagem são uma espécie de distintivo ou emblema dos grupos, e, nesse sentido, colaboram para construir sua identidade. (...) As variedades (ou os dialetos) correspondem em grande parte a grupos sociais relativamente definidos: os que residem numa região ou em outra; os que pertencem a uma classe social ou a outra; os que são mais jovens ou mais velhos; os que são homens ou são mulheres; os que têm uma profissão ou outra etc.“ M.B.M. Abaurre e S. Possenti. Vestibular Unicamp: Língua Portuguesa. Língua Portuguesa 62 Apenas prestando atenção, percebemos intuitivamente que uma língua não é falada do mesmo modo por todos os seus falantes. Em particular, veremos o caso da Língua Portuguesa, falada em Portugal, no Brasil, em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe; em regiões asiáticas como Macau, Goa, Damão e Dio e em Timor Leste, na Oceania. Além do fator geográfico, temos também a variação de ordem social do falante, a situação em que ele deve falar ou escrever, etc. Sendo assim, podemos dizer que uma língua sofre variações de acordo com cinco eixos, criados pelo linguista romeno Eugenio Coseriu, que são: 1º EIXO: a modalidade escrita e falada. 2º EIXO: as variantes socioculturais – a norma culta e a norma coloquial. 3º EIXO: as variantes regionais. 4º EIXO: as variantes de época. 5º EIXO: as variantes de estilo. Não podemos esquecer de que, enquanto a linguagem em si mesma é um fenômeno universalmente igual para todos, a língua se manifesta de maneira diferente entre os falantes de uma mesma comunidade linguística, quer por fatores de ordem interna como externa. As línguas, portanto, manifestam a mesma capacidade humana de expressão, mas há, por exemplo, maneiras típicas de falar relacionadas às regiões de um país – principalmente o nosso, com essa dimensão continental, às faixas etárias, aos grupos e classes sociais, às situações em que nos encontramos, ao estilo Língua Portuguesa 63 individual e até mesmo ao sexo, visto que, em algumas situações, há palavras que contemplam mais o sexo masculino que o feminino. Para tanto, existem as normas linguísticas. Algumas são mais livres e espontâneas; outras mais rígidas, com “sansões” formais àqueles que infringem a norma culta ou formal. O gramático Adriano da Gama Kury (In. Novas lições de análise sintática. 2 ed. São Paulo: Ática, 1985.) tem uma frase que sintetiza todas essas variações de uma língua dinâmica e potencialmente rica: “O bom falante é um poliglota em sua própria língua.” Vamos, então, analisar um a um os cinco eixos dessas variantes linguísticas: 1º eixo: a modalidade escrita e falada: As diferenças entre o código escrito e o falado não podem ser ignoradas, visto que, ao contrário da modalidade escrita, a falada tem uma característica marcante que se fundamenta na profunda vinculação às situações em que é usada. Normalmente, o contato entre os interlocutores é direto e, ao conversarem sobre um determinado assunto, esses interlocutores elaboram mensagens marcadas por fatos da língua falada. O vocabulário utilizado é fortemente alusivo, pois usamos pronomes como eu, você, isso e advérbios como aqui, agora, cá, lá, etc. O código oral também conta com elementos expressivos que o código escrito não contempla. Nesse caso, aparece a entonação, capaz de modificar totalmente o significado de certas frases. Sabemos que nem todas as sociedades do mundo tem domínio sobre a modalidade escrita, mas todas as sociedades humanas fazem uso da modalidade Língua Portuguesa 64 oral. A essas sociedades – como muitas das comunidades indígenas do Brasil – damos o nome de sociedades ágrafas. Já, nas sociedades ditas letradas podemos classificar a linguagem em três categorias, que veremos mais adiante: temos a linguagem coloquial, a norma culta ou padrão e a linguagem literária. Mas, antes da classificação cit ada, vamos analisar, no quadro que se segue – tirado de MESQUITA, Melo Roberto. Gramática da Língua Portuguesa. 8 ed. ref. atual. São Paulo: Editor a Sar aiva, 1999 – as diferenças entre a língua falada e a língua escrita: LINGUA FALADA LÍNGUA ESCRITA Numa situação de comunicação, a mensagem é transmitida de forma imediata. Numa situação de comunicação, a mensagem é transmitida de forma imediata. Em geral, o emissor e o receptor devem conhecer bem a situação e as circunstâncias que os rodeiam. Se, por qualquer motivo, isso não acontecer, pode haver problemas de comunicação ou, simplesmente, não haver mensagem. O receptor não precisa conhecer de forma direta e situação do emissor nem o contexto da mensagem. Língua Portuguesa 65 A mensagem costuma ser transmitida de forma mais breve, notando-se nítida tentativa de economizar palavras. Com a presença de um interlocutor, que pode, a qualquer momento, interromper a conversa, é comum o emprego de construções mais simples, frases incompletas, com ênfase nas orações coordenadas, “mais espontâneas e mais livres, menos reflexivas”2 São empregadas construções mais complexas, mais planejadas, pois subtende-se que o emissor teve mais tempo para elaborar a mensagem, repensando-a, modificando-a. É, por isso, mais comum o uso de orações mais complexas, subordinadas, que exigem mais esforço de memória ou de raciocínio. Há elementos prosódicos, como entonação, pausa, ritmo e gestos, que enfatizam o significado dos vocábulos e das frases. Como não é possível, na língua escrita, a utilização dos elementos prosódicos da língua falada, o emprego dos sinais de pontuação tenta reconstruir alguns desses elementos. 2º eixo: as variantes socioculturais – a norma culta e a norma coloquial. Quanto à variaç ão da linguagem (quer falada, quer escrita), deparamo- nos com alguns registros que merecem a nossa atenção: 2 BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975. p. 262. Língua Portuguesa 66 LINGUAGEM COLOQUIAL ou norma popular: é a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, em determinadas situações que não exigem formalidade, com interlocutores que consideramos “iguais” a nós no que diz respeito ao domínio da língua. Nesse tipo de linguagem, não temos preocupação em falar “certo” ou “errado”, já que não somos obrigados a usar regras e o nosso objetivo é a transmissão da informação, dando prioridade à expressividade. 1. Norma culta ou norma padrão: Leia o que nos fala Magda Soares, em Linguagem e escola: uma perspectiva social. 3 ed. São Paulo: Ática, 1986. “Dialeto padrão: também chamado norma padrão culta, ou simplesmente norma culta, é o dialeto a que se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é considerado o modelo – daí a designação de padrão, de norma – segundo o qual se avaliam os demais dialetos. É o dialeto falado pelas classes sociais privilegiadas, particularmente em situações de maior formalidade, usado nos meios decomunicação de massa (jornais, revistas, noticiários de televisão etc.), ensinado na escola, e codificado nas gramáticas escolares (por isso, é corrente a falsa idéia de que só o dialeto padrão pode ter uma gramática, quando qualquer variedade linguística pode ter a sua). É ainda, fundamentalmente, o dialeto usado quando se escreve (há, naturalmente, diferenças formais,. Que decorrem das condições específicas de produção da língua escrita, por exemplo, de sua descontextualização). Efetuadas Língua Portuguesa 67 diferenças de pronúncia e pequenas diferenças de vocabulário, o dialeto padrão sobrepõe-se aos dialetos regionais, e é o mesmo, em toda a extensão do país.” A) A gíria: Segundo William Cereja (In. Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Editor a Atual, 1999. p. 11) “a gíria é um dos dialetos de uma língua. Quase sempre criada por um grupo social, como o dos fãs de ‘rap’, de ‘heavy metal’, o dos que praticam certas lutas, como capoeira, jiu-jítsu, etc. quando ligada a profissões, a gíria é chamada de jargão. É o caso do jargão dos jornalistas, dos médicos, dos dentistas e de outras profissões.” Temos a gíria como uma contribuição da definição da identidade de um grupo que a utiliza, às vezes de caráter contestador, como a dos jovens de uma determinada geração, funcionando como uma espécie de meio de exclusão dos indivíduos externos ao grupo. Algumas,funcionam como transgressoras dos padrões sociais vigentes e, por conseqüência da própria língua. Para ilustrar, leia o texto que se segue: TRUS MOSTRAM VITALIDADE DA GÍRIA EM SP Termo derivado de truta (amigo, companheiro), é usual nas rodinhas de estudantes. Ficar na port a de uma escola paulistana na hora da saída de aula pode ser uma experiência única. Para quem não faz parte da turma, compreender o que se diz é tarefa pra lá de difícil. Meninos e meninas, com idade entre 13 e 17 anos, não economizam em gírias das mais variadas e engraçadas, num código indecifrável: Língua Portuguesa 68 E aí, tru?! Belê? Sussu Vô na minha goma. Ta na fita? Se pá eu vou lá. Cola lá. Falou? Trata-se do diálogo entre amigos. Um convida o outro para ir à sua casa. O que foi convidado diz que talvez vá, mas não tem certeza. O outro reafirma o convite e despede-se. As gírias paulistanas, que nem sempre pegam ou viram mania nacion al como as do Rio, onde recentemente nasceram sangue bom, sarado e o ah1 Eu tô maluco!, originam-se, segundo os jovens da capital, nos bailes funk e escolas e entre praticantes de skate e de surfe. Depois de criadas, elas podem ser ouvidas nas conversas de jovens de todas as regiões da cidade. Além das já imortalizadas mina e ô, meu, são incontáveis as expressões inventadas pela moçada. “Não sei explicar, mas minha goma é o mesmo que minha casa”, diz Jonas Spindell, de 16 anos, estudante do Colégio Equipe, em Pinheiros, zona oeste. Só para falar – Escrever o que se diz é uma dificuldade. “Acho que sussu se escreve assim, com dois esses”, arrisca Pedro Fiorino Barros, de 15 anos. “A gíria é para ser dita e não escrita”, define Spindell. Muitas vezes, elas têm dois ou mais significados ou são criadas a partir de outras. Tru, por exemplo, vem de truta, que significa companheiro, amigo. Nos últimos meses, os garotos têm pontuado suas frases com o tá ligado?. Usam a expressão no fim das frases para reafirmar uma idéia. “Tipo assim é outra coisa que a gente fala muito”, diz Gabriela Gehrke, de 15 anos. Língua Portuguesa 69 Colega de classe de Gabriela, Soraia Barbosa Cardoso, de 15 anos, é nova na escola, mas já ganhou um novo repertório de palavras. “No outro colégio não se falava tant a gíria”, diz. “É uma coisa que, quando a gente vê, já está falando.” Há divergências na hor a de empregar as palavras. Os meninos não saem mais para azarar, mas para c atar umas minas. “Acho muito feio dizer isso”, diz Luísa Werneck, de 17 anos, Sua colega Renata Lins Alves, de 15 anos, não se intimida em adaptar a expressão: “As meninas podem dizer que vão catar uns manos.” “Procedê” – Na escola Estadual Padre Manuel da Nóbrega, na Casa Verde, zona norte, são as meninas que mais usam termos esquisitos, “Quando um cara está interessado, mas não quero nada, digo: Ih! Parei com as drogas”, diz Gabriela Novaes do Amaral, de 15 anos. “Surfar é o mesmo que transar, trocar um procedê é quando o cara quer ficar com uma menina”, ensina Jaqueline de Oliveira Santos, de 14 anos. “Pá e tal, derrepentemente também serve para dizer que a pessoa está a fim de ficar”, completa Diana Chaves da Silva de 15. ( Cláudia Fontoura. O Estado de S. Paulo, 5 out. 1997.) Lendo e respondendo sobre o texto 1) O uso de gíria por parte dos jovens estudantes tem algum propósito definido? Comente. 2) Qual a função do itálico no texto? Há coerência no seu emprego? 3) Explique por que é difícil escrever os termos de gírias. Língua Portuguesa 70 4) O texto está dividido em três partes. Essa divisão corresponde ao esquema de idéias adotado pelo redator para desenvolver seu texto? Explique. 5) Você usa gíria? Os textos que lê ou escreve apresentam termos de gíria?Comente. B) A linguagem da Internet: a natureza interativa da Internet, ao contrário da televisão, tenta estimular o intercâmbio entre as pessoas, como interlocutores das famosas “ salas de bate-papos”. É bom ressaltar, entretanto, que a língua escrita, na rede, assume uma forma peculiar, em que foi criado um código misto, que faz uso de sinais capazes de expressão alegria, tristeza, choro, dúvida, decepção, etc. Também lançam mão de abreviaturas, de início de palavras, de apenas uma letra para significar muitas palavras e até frases. É bom lembrar, porém, que essa linguagem serve apenas para incrementar a agilidade da conversação, mas nunca para responder a questionário, enviar curriculum, mandar mensagens de caráter formal, etc. 3º Eixo: variantes regionais Também chamadas de variação geográfica ou dialetos, esse tipo de variante, no Brasil, é bastante grande e facilmente notada. Caracteriza-se pela diferenciação do acento linguístico – conjunto das qualidades fisiológicas do som no que tange à altura, ao timbre, à intensidade – e por isso é um tipo de variante cujas marcas se notam basicamente na pronúncia. Língua Portuguesa 71 Também percebemos essa variaç ão geográfica no vocabulár io, em certas frases estruturadas de modo diferente e no sentido que algumas palavras assumem em diversas regiões do país. Também chamadas de dialetos, essas variantes regionais podem ser bem distintas, quer no falar nordestino, pela abertura das vogais pré-tônicas; quer na pronúncia dos gaúchos, que se caracteriza por uma entonação particular; quer na maneira peculiar de se pronunciar o fonema “s” final das palavras (normalmente, de modo chiado). Ainda, chamamos atenção para as variações geográficas encontradas no vocabulário. Basta percebermos o uso de expressões encontradas nas diferentes regiões geográficas brasileiras, com toda a sua peculariedade e distinção. Da mesma maneira, as regiões urbanas e rurais possuem vocabulário e pronúncias diferentes, além das expressões típicas que encontramos em cada uma dessas localidades. 4º eixo: as variantes de época: Sabemos que as línguas não são fixas, estáticas. Esse caráter dinâmico, mutável é que nos apresenta palavras cujo uso está defasado, perderam o seu sentido original, deram lugar a outras palavras; enfim, houve uma mudança significativa que é registrada
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