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Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 43 AAUULLAA 0033 EEFFEEIITTOO EELLEETTRROOLLÍÍTTIICCOO SSOOBBRREE OO EEQQUUIILLÍÍBBRRIIOO IIÔÔNNIICCOO –– TTRRAATTAAMMEENNTTOO CCIINNÉÉTTIICCOO EE TTEERRMMOODDIINNÂÂMMIICCOO DDOO EEQQUUIILLÍÍBBRRIIOO A CONSTANTE DE EQUILÍBRIO O princípio básico do estudo quantitativo dos sistemas de equilíbrio é baseado na existência da constante de equilíbrio. Guldberg e Waage em 1865 afirmaram em sua “Lei de Ação das massas” que uma reação em equilíbrio estava sujeita às leis quantitativas e esta lei foi generalizada para vários sistemas durante os 30 anos subsequentes, por diversos pesquisadores, sendo os mais notáveis Van’t Hoff, Ostwald, Arrhenius, Nernst e Gibbs. Estudos posteriores evidenciaram que a constante de equilíbrio medida em concentração molar e a medida termodinamicamente eram diferentes e que o conceito de constante (K) só é aproximadamente válido para soluções diluídas (quanto mais diluídas as soluções, maior a aproximação dos resultados) e absolutamente incorreto para soluções mais concentradas. Para superar essas dificuldades e ainda assim utilizar as mesmas expressões derivadas para essas grandezas, Gilbert Newton Lewis introduziu um novo conceito, denominado atividade de uma espécie química (em mol/L), uma grandeza termodinâmica, que permite contabilizar os efeitos de eletrólitos sobre os equilíbrios químicos, e que substitui a concentração molar dessas espécies nas funções termodinâmicas e oferecem resultados perfeitamente concordantes com os dados experimentais. Assim, resumindo, o equilíbrio químico pode ser observado sob dois aspectos, cinético e termodinâmico, e que podem ser empregados para derivar a relação fundamental do estado de equilíbrio: (a) O primeiro aspecto é baseado no conceito de cinética (velocidade) das reações – Lei da ação das massas, em que a velocidade de uma reação é dependente da concentração dos reagentes (e produtos). (b) O segundo aspecto é baseado nos conceitos termodinâmicos (energia), em que uma reação para acontecer deve vencer uma barreira (energia de ativação) para que o sistema passe de um estado de não equilíbrio para um estado de equilíbrio, e a energia livre do sistema até o estado de equilíbrio é dependente da atividade dos reagentes (e produtos). Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 44 TRATAMENTO CINÉTICO DE UMA REAÇÃO EM EQUILÍBRIO A cinética química é uma área da Química que estuda a velocidade das reações químicas e os fatores que alteram esta velocidade. Em síntese, para uma reação química poder acontecer depende de dois fatores: o número total de colisões entre os reagentes/unidade de tempo e o número de colisões efetivas entre os reagentes/unidade de tempo. A fração de colisões que têm sucesso em promover a reação é dependente tanto da temperatura do sistema quanto de catalisadores. Quando essas condições são mantidas constantes, a reação é simplesmente função do número total de colisões/unidade de tempo entre os reagentes. Observação: Se o número de colisões dobra a formação de produto (reação) dobra; ou se o número de colisões diminui por um fator de 10, a razão de colisões diminui também por um fator de 10. Assim, considerando a reação: aA+bBcC+dD Onde, pela Lei de ação das massas, a velocidade de uma reação é proporcional à concentração de reagentes. Daí quando se mistura A e B, a reação começa dando C e D; à medida que C e D vão se formando eles reagem entre si reformando os reagentes A e B. Quando a velocidade de formação de C e D é igual à velocidade de formação de A e B, diz- se que a reação está em equilíbrio. Assim: Reação para direita (formação de produto): (a) Vdireita=kdireita[A] a[B]b Reação para esquerda (reformação de reagente): (b) Vesquerda=kesquerda [C] c[D]d Quando Vdireita=Vesquerda, diz-se que o sistema atingiu o estado de equilíbrio. A e B estão reagindo à mesma razão que estão sendo formados, enquanto C e D, da mesma forma, são consumidos na mesma razão que estão sendo formados. Então, igualando as equações (a) e (b): kdireita[A] ax[B]b= kesquerda[C] cx[D]d Obtém-se uma razão de concentração (mol/L) entre produtos e reagentes (equação 1), denominada constante de equilíbrio, K (observar que em alguns livros representa-se esta constante por K’). Esta constante de equilíbrio, obtida em função das concentrações analíticas (mol/L) de reagentes e produtos é denominada CONSTANTE DE EQUILÍBRIO CINÉTICA (equação 1). ba dc esquerda direita BA DC k k K ][][ ][][ (1) Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 45 A convenção internacional para o valor numérico de K refere-se à razão nas quais as concentrações dos produtos da reação aparecem no numerador e as concentrações de reagentes aparecem no denominador. Com esta convenção em mente, somente pela grandeza de K pode-se saber a tendência da reação ocorrer, se para a direita ou para esquerda até atingir o equilíbrio. No tratamento cinético é preciso enfatizar que o equilíbrio não diz absolutamente nada sobre como o estado de equilíbrio foi alcançado. A cinética trata de velocidade de reação, que é função da concentração, e no equilíbrio a expressão da constante de equilíbrio sempre é escrita a partir da equação química balanceada. TRATAMENTO TERMODINÂMICO DE UMA REAÇÃO EM EQUILÍBRIO Assim, considerando a reação: aA+bBcC+dD Uma das leis fundamentais da natureza é que um sistema físico ou químico sempre tende a sofrer mudanças espontâneas e irreversíveis, a partir de um estado inicial, de não equilíbrio, até um estado final, de equilíbrio. Uma vez atingido o equilíbrio, nenhuma mudança ocorre, a menos que o sistema seja submetido a um estresse. Em termos termodinâmicos, um sistema químico que está inicialmente em um estado de não equilíbrio tem a tendência de mudar espontaneamente até que a Variação da Energia Livre de Gibbs (G) seja mínima (G=0), ou seja, atingiu o estado de equilíbrio. A variação de energia livre é definida como G=H-TS, onde H é variação de entalpia, T temperatura absoluta e S é variação da entropia do sistema. A mudança de energia livre que ocorre no sistema durante um processo a T e p constante é o negativo do trabalho máximo que o sistema pode fazer para chegar ao equilíbrio. A termodinâmica não oferece informação sobre a velocidade do processo de reação, mas pode medir a força que o sistema faz para passar do estado inicial de não equilíbrio para o estado final de equilíbrio pela variação de energia livre durante o processo. Por exemplo, a variação de energia livre da substância (A) pode ser expressa como uma função de sua atividade pela relação: Para A: (a) GA=G o A+RTLn{A} a O mesmo raciocínio pode ser feito para B, C e D. Para B: (b) GB=G o B+RTLn{B} b Para C: (c) GC=G o C+RTLn{C} c Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 46 Para D: (d) GD=G o D+RTLn{D} d Assim, para a reação hipotética: aA+bBcC+dD Pode-se escrever que a variação de energia livre é a diferença entre a energia livre do estado final (somatório da variação de energia livre dos produtos) menos a energia livre do estado inicial (somatório da variação de energia livre dos reagentes). (e) G=G(produtos)–G(reagentes) Introduzindo as equações (a) a (d) em (e) tem-se: (f) GT=G o T+RTLn [{C}c{D}d/{A}a{B}b] A razão obtida na equação (f) entre atividade de produtos e reagentes é denominada de CONSTANTE DE EQUILÍBRIO TERMODINÂMICA, Ko. (g) GT=G o T+RTLn K 0 Pode-se, então, através de cálculos termodinâmicos, calcular Ko. - No equilíbrio, a variação da energia livre é mínima, ou seja, GT=0. - Assim: GoT=-RTLn[{C} c{D}d/{A}a{B}b] GoT=-RTLnK o GoT: é uma constante característica da reação a 25 oC (298K) e é chamada variação da energia livre padrão da reação e é dada por GoT=G o (produtos)–G o (reagentes). Assim: GoT(Kcal/mol)=1,987(cal/mol.K)x10 -3(Kcal/cal)x298(K)x2,303LogKo GoT=-1,364LogK o LogKo=-GoT/1,364 Ko=10-Gototal/1,364 Observação: Várias substâncias têm suas variações de energia livre (Go) tabelados (Butler, 1964; Peters-Hayes, 1974; Skoog, 2006). R é a constante dos gases (1,987cal/mol K), T é a Temperatura absoluta (K), GT é a variação da energia livre total do sistema reacional e GotT é a energia livre total da reação no estado hipotético padrão, a 25 oC (298K), onde todos os reagentes e produtos têm atividade igual a 1mol/L. Obtendo-se assim a constante de equilíbrio termodinâmica (equação 2): ba dc o BA DC K }{}{ }{}{ (2) Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 47 Concluindo: K(K’)= constante de equilíbrio cinética, baseada em unidades de concentração. Esta constante, obtida da concentração analítica e varia com a força iônica da solução. Ko(K)= constante de equilíbrio termodinâmica, baseada em unidades de atividade. Esta constante, obtida a partir da atividade e não varia com a força iônica da solução. Referência para estudo: Peters-Hayes, Chemical Separations and Measurements, 1974 Exemplo: Dada as seguintes energias livres de formação a 25oC, calcular o Koa para o ácido acético: Go (formação), kcal/mol H+ 0 (por definição) Ac- -87,32 HAc -93,80 A constante de equilíbrio Ka o está relacionada à reação: HAcH++Ac- Sabendo que para a reação em equilíbrio, G=0, pode-se utilizar a diferença entre a energia livre dos produtos de reação e a energia livre dos reagentes de reação, no estado padrão. Assim: GoT=G o(produtos)–Go(reagentes)=0-87,32+93,80=+6,48kcal/mol (espontânea) Usando a equação: GoT=-1,364LogKa o LogKa o=-6,48/1,364=-4,75 Ka o=1,75x10-5 Na Tabela 1 tem-se a constante de ionização do ácido acético, obtida a partir de diferentes soluções, incluindo as concentrações de equilíbrio de ácido não ionizado, próton e acetato medidos em várias condições (concentração do ácido em água pura, adicionando ácido clorídrico ou adicionando acetato de sódio ao ácido acético). A constante de equilíbrio para a ionização do ácido acético é definida pela equação abaixo: ][ ]][[ HAc ACH Ka , onde as concentrações entre parêntesis são dadas em mol/L. A concentração analítica (total) não entra na expressão da constante de equilíbrio, pois somente a concentração de íons ionizados e não ionizados são importantes na determinação da constante de equilíbrio da solução. Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 48 Tabela 1 – Constante de equilíbrio para a ionização do ácido acético (HAc). Ácido acético em água C (mol/L)* [HAc] [Ac-] [H3O +] Ka 1,00x10-5 2,9x10-6 7,1x10-6 7,1x10-6 1,74x10-5 1,00x10-4 6,6x10-5 3,4x10-5 3,4x10-5 1,75x10-5 1,00x10-3 8,73x10-4 1,27x10-4 1,27x10-4 1,85x10-5 1,00x10-2 9,65x10-3 4,5x10-4 4,5x10-4 2,10x10-5 Mistura de ácido acético e acetato de sódio (concentração analítica total 1,00x10-3mol/L) [HAc] [Ac-] [H3O +] Ka 9,0x10-4 1,0x10-4 1,7x10-4 1,89x10-5 7,0x10-4 3,0x10-4 4,4x10-5 1,89x10-5 5,0x10-4 5,0x10-4 1,8x10-5 1,80x10-5 4,0x10-4 6,0x10-4 1,3x10-5 1,95x10-5 Mistura de ácido acético e ácido clorídrico (concentração analítica total 1,00x10-3mol/L) [HAc] [Ac-] [H3O +] Ka 9,0x10-4 1,7x10-4 1,0x10-4 1,89x10-5 7,0x10-4 4,4x10-5 3,0x10-4 1,89x10-5 5,0x10-4 1,8x10-5 5,0x10-4 1,80x10-5 3,0x10-4 8,0x10-6 7,0x10-4 1,86x10-5 1,0x10-4 2,0x10-6 9,0x10-4 1,80x10-5 Medidas diretas de todas as concentrações não são possíveis experimentalmente. Na prática faz-se a medida da concentração de íons hidrogênio, e calcula-se a concentração dos outros íons, a partir da concentração analítica conhecida. Butler, 1964, página 8. * C – Concentração molar analítica é o número total de números de mol de substância dissolvida em 1,0L de solução. Por exemplo, em uma solução de ácido acético, C=1,0x10 -4 mol/L. C=[HAC]+[Ac - ] Se [H3O + ]=3,4x10 -5 mol/L, tem-se que no equilíbrio[H + ]=[Ac - ] Tem-se então: [HAc]=C-[Ac - ]=0,66x10 -4 mol/L. A constante de equilíbrio em concentração, Ka (Tabela 1) varia ligeiramente com a variação das concentrações de cada solução, ou melhor Ka aumenta com o aumento da concentração analítica da solução. Essa variação é proveniente das interações eletrostáticas dos íons, que é distinta das interações químicas. Observar que em diferentes composições envolvendo o ácido acético, mas mantendo a concentração analítica Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 49 constante, há variação no valor da constante Ka e isto é devido à variação da força iônica da solução. Porém, quando a concentração analítica do HAc é menor que 0,001 mol/L, a constante de ionização ácida, Ka, varia somente 5%, tendendo a ser um valor constante, independente da variação da força iônica da solução, o que é concordante com a constante de equilíbrio termodinâmica, Ka 0=1,75x10-5 (ver exemplo acima). Lei-Limite/ Valor-Limite Na Figura 1 tem-se um gráfico com três curvas que mostram a variação das constantes de equilíbrio calculadas em termos de concentração (constantes de equilíbrio cinéticas) com a variação da concentração molar de NaCl (força iônica da solução). Figura 1 – O efeito da concentração do eletrólito NaCl (mol/L) na constante de equilíbrio cinética (baseada na concentração). Onde: A – água (Kow=1,0X10 -14); B – BaSO4 (K o ps=1,1X10 -10; C – CH3COOH (K o a=1,75X10 -5). SKOOG, Fundamentos de Química Analítica, 2004 Tomando como exemplo a curva A da Figura 1, que representa a variação do produto iônico cinético da água (x1014) com a variação da concentração de cloreto de sódio. Em [NaCl] <10-4mol/L, o valor da constante cinética do produto iônico da água (Kw) é constante. Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 50 Significa que em concentrações molares de NaCl menores que 10-4mol/L, o Kw torna-se independente da concentração de eletrólito NaCl. Assim, por extrapolação pode-se retirar da Figura 1 o valor do produto iônico à diluição infinita, ou seja, em uma “solução ideal” com força iônica zero. Então, por extrapolação tem-se que é Kow=1,0x10 -14, que é a constante termodinâmica do produto iônico da água, Kow. A relação que se aproxima de um valor constante à medida que a concentração de NaCl (força iônica) se aproxima de zero é chamada Lei-Limite, e o valor numérico constante observado nesse limite é denominado valor-limite. Este valor limite constante é a CONSTANTE DE EQUILÍBRIO TERMODINÂMICA, obtida a partir das condições experimentais em que a força iônica não afeta o valor da constante. Esta constante assim obtida se correlaciona com os resultados obtidos termodinamicamente.Na Figura 1 as linhas tracejadas representam o comportamento ideal dos solutos. Observa- se que os desvios da idealidade (em forças iônicas mais altas) podem ser significativos. Em NaCl 0,1 mol/L: Água: Kw=1,5x10 -14 (aumento de 50% em relação à água pura). Casa: O que acontece com as linhas B e C na Figura 1, que representam a variação das constantes de equilíbrio cinéticas para um ácido fraco e um composto iônico pouco solúvel com a variação da força iônica. Tire uma conclusão sobre os valores encontrados levando em conta a força iônica do eletrólito NaCl na solução igual a 0,1 mol/L. Concluindo, Lei-limite é uma maneira operacional de determinar a constante de equilíbrio termodinâmica (K0): K0= Lim K I0 Onde K é a constante em concentração molar analítica para o mesmo equilíbrio. EEFFEEIITTOO EELLEETTRROOLLÍÍTTIICCOO SSOOBBRREE OO EEQQUUIILLÍÍBBRRIIOO IIÔÔNNIICCOO –– AABBOORRDDAAGGEEMM MMAATTEEMMÁÁTTIICCAA O ponto de partida é assumir que a constante de equilíbrio deve ser expressa em termos de atividade, referida ao equilíbrio do ponto de vista termodinâmico, ou seja, em temperatura e pressão constantes. As constantes de equilíbrio tabeladas nos livros são as constantes de equilíbrio termodinâmicas extrapoladas à força iônica zero. Assim referida, esta constante de equilíbrio não se altera com a presença de outros eletrólitos. Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 51 RELAÇÃO ENTRE CONSTANTE TERMODINÂMICA E CINÉTICA Assim, para a reação hipotética: aA+bBcC+dD - Pode-se escrever a constante de equilíbrio cinética (1), em concentração: (1) ba dc BA DC K ][][ ][][ , - Pode-se escrever a constante de equilíbrio termodinâmica (2), em atividade: (2) ba dc BA DC K }{}{ }{}{0 , - E desde que sabe-se que: (3) fxCa - Pode-se reescrever a equação da constante termodinâmica, substituindo (3) em (2), e substituindo (1), tem-se a equação (4): bab B a A dcd D c Co BxAxxff DxCxxff K ][][ ][][ (4) b B a A d D c Co xff xff KxK Exemplo: (a) Uma solução aquosa bem diluída contendo somente o precipitado AgCl em equilíbrio com íons Cl- e Ag+. Dado: Ks o (AgCl)=1,75x10-10 - Dado o equilíbrio: AgCl(s) Ag ++Cl- Neste tipo de equilíbrio, como AgCl é pouco solúvel, haverá poucos íons na solução. Esses poucos íons só têm a camada de água ao seu redor, ou seja, e Ag+ e Cl- estão distribuídos aleatoriamente e podem se mover livremente. Assim, pode se considerar que em soluções muito diluídas as interações de um íon com sua vizinhança são desprezíveis e por isso pode-se considerar que cada íon, não afeta o outro íon, ou seja, a solução comporta-se idealmente. Nesse caso, a aproximação em que a atividade é substituída por concentração é válida. Em uma abordagem matemática o raciocínio será: - Dado o equilíbrio: AgCl(s) Ag ++Cl- - Constante de quilíbrio expressa em atividade dada por: Ks o={Ag+}x{Cl-} Neste exemplo como a força iônica é praticamente zero, o coeficiente da atividade de cada íon é tende a 1. Quando f=1, tem-se que a=f, e a partir da relação entre a constante de equilíbrio termodinâmica e a cinética (equação 4) tem-se: Kos=fAg+[Ag +]xfCl-[Cl -] Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 52 Kos=fAg+xfCl-xKs - Como: fAg+=fCl-1, - Tem-se que: KsKs o - Como a solubilidade é dada por: s= (Ks o)1/2=(Ks) 1/2 s=1,32x10-5mol/L Observação: Como o cloreto de prata é pouco solúvel, ele pouco contribui para a força iônica da solução (I~0). Quando não há força iônica, não há necessidade de correção da constante do produto de solubilidade. Na presença de eletrólitos fortes, há necessidade de correção da constante??????? Para verificar é necessário diferenciar constante de equilíbrio termodinâmica de constante de equilíbrio cinética. Vejamos o exemplo abaixo. Exemplo: (b) Uma solução saturada de AgCl em equilíbrio com uma solução de KNO3 0,1 mol/L. - O equilíbrio é dado por: AgCl(s)Ag ++Cl- KNO3K ++NO3 - - A constante de equilíbrio é dada por: Ks o={Ag+}x{Cl-} Qualitativamente, nesta solução a atmosfera iônica na solução aumenta, pois a população total de íons na solução aumenta. Com isso, os íons ficam mais próximos e não estão mais distribuídos aleatoriamente devido às forças eletrostáticas (atração entre espécies de cargas opostas, repulsão entre íons de mesma carga – interação íon-íon). Os íons Ag+ irão atrair íons NO3 -, os íons Cl- irão atrair íons K+, os íons K+ irão repelir íons Ag+ e os íons NO3 - irão repelir íons Cl-. Com essa atmosfera iônica em volta dos íons Cl- e Ag+ (“blindagem”), há uma diminuição da interação entre os íons Cl- e Ag+ com o AgCl sólido, e para compensar esse efeito o AgCl sólido se dissocia para restabelecer o equilíbrio, com o conseqüente aumento da solubilidade, ou seja mais Ag+ e Cl- dissociado. Matematicamente pode-se escrever que: - Constante de equilíbrio expressa em atividade dada por: Ks o={Ag+}x{Cl-} - Sabendo-se que a=fxC, pode-se ter uma relação entre a constante de equilíbrio termodinâmica e a cinética (equação 4): - Kos=fAg+[Ag +]x fCl-[Cl -] ou Kos=fAg+.fCl-.Ks - Como a presença de KNO3 aumenta a força iônica, e quanto maior I, menor o coeficiente de atividade (f<1), ou seja, os coeficientes de atividade de Ag+ e Cl- diminuem (f<1), implicando que Ks é maior que Ks o. Ks>Ks o , porque C>a Como: a=fC f<1 Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 53 Então, o que acontece qualitativamente em relação ao aumento de solubilidade com o aumento da força iônica, é que em uma determinada força iônica, a constante de equilíbrio cinética aumenta, necessitando assim ser corrigida porque a concentração de íons na solução é maior (a atividade não muda). - Resolvendo o problema: Ks o(AgCl)=1,75x10-10 KNO3 0,1 mol/L Força Iônica: I=C=0,1 (Tabela de Kielland): fAg+=0,755 fCl-=0,755 Kos=fAg+xfCl-xKs 1,75x10-10=0,755x0,755xKs Ks=3,07x10 -10 - Como a solubilidade é dada por: s=Ks 1/2 s=1,75x10-5mol/L - Como a solubilidade sem correção da constante é dada por: s=Kos 1/2 s=1,32x10-5mol/L - Pode-se calcular o erro relativo quando não se corrige a constante de equilíbrio. Em relação à solubilidade tem-se um erro de mais ou menos 25% na solubilidade, e em relação à constante tem-se um erro relativo em torno de 40%. - Solubilidade: ER=(1,75x10-5-1,32x10-5)x100/1,75x10-5=24,6%. - Constante de equilíbrio: ER=(3,07x10-10-1,75x10-10)x100/3,07x10-10=43%. Desta forma, após a correção da constante de equilíbrio termodinâmica para constante de equilíbrio cinética em uma determinada força iônica, os cálculos de equilíbrio podem ser feitos, usando as concentrações e são ditos cálculos corrigidos ou reais. Para efeito de análise das constantes de equilíbrio corrigidas, quando aumenta a força iônica, sabe-se que, pela Lei empírica de Debye-Hückel, os coeficientes de atividade diminuem e são menores do que 1. Assim, o aumento da força iônica, normalmente aumenta a ionização do ácido e aumenta a solubilidade de um precipitado. No caso da correção de constantes de formação de complexos, o valor pode aumentar ou diminuir, conforme a equação química. De um modo geral, o aumento da força iônica, irá favorecer o deslocamento do equilíbrio no sentido de formação do maior número de cargas, sempre em meio aquosodiluído, desde que não haja desvio positivo dos coeficientes de atividade. Resumindo: A correção dos cálculos de equilíbrio será feita de acordo com o valor tabelado da constante de equilíbrio, corrigindo-se este valor para a força iônica do meio reacional. Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 54 EXERCÍCIOS ENVOLVENDO CORREÇÕES DA CONSTANTE DE EQUILÍBRIO Exercício 1: Encontrar o erro relativo quando se desconsidera a força iônica da solução no cálculo de solubilidade do Ba(IO3)2 em uma solução de Mg(IO3)2 0,033 mol/L. Destacar as observações quanto à constante de equilíbrio cinética e à solubilidade. O produto de solubilidade termodinâmico (Ks o) para o Ba(IO3)2 é 1,57 x 10 -9 (ver apêndice SKOOG, 2004). Ks o={Ba2+}{IO3 -}2 =1,57x10-9 Ks o=[Ba2+][IO3 -]2 xfBa2+xf2IO3-=1,57x10-9 Ks=Ks o/fBa2+xfIO3-2 - Cálculo da força iônica: I = ½ {[Mg2+]x(+2)2+[IO3 -]x(-1)2}=½[0,033x(+2)2+0,066x(-1)2]=0,1mol/L Pela Tabela de Kielland (cálculo também pode ser feito utilizando e ELDH, observando o raio hidratado de cada íon estimado por Kielland), têm-se os coeficientes de atividade dos íons que participam do equilíbrio de solubilidade. - Em I= 0,1 tem-se: p/ Ba2+ a=5 angstrons, assim fBa2+=0,38 p/ IO3- a=4angstrons fIO3-= 0,77 - Correção da constante (em I=0,1): Ks =1,57x10 -9/(0,38x0,772) Ks=6,97x10 -9 -Cálculo da solubilidade: Ks=[Ba 2+]x[IO3 -]2 - Como: s=[Ba2+] e [IO3 -]Mg(IO3)2+2s[IO3 -]Mg(IO3)2 -Tem-se: Ks= 6,97x10 -9=[Ba2+]x[0,066]2 [Ba2+]=s=1,60 x 10-6 mol/L - Desconsiderando a força iônica da solução: Ks=[Ba 2+][IO3 -]2 s=[Ba2+] [IO3 -]Mg(IO3)2+2s[IO3 -]Mg(IO3) Ks=1,57x10 -9=[Ba2+]x[0,066]2 [Ba2+]=s=3,60 x 10-7mol/L - Solubilidade: ER=(1,6x10-6-3,6x10-7)x100/1,6x10-6=77,5% - Constante de equilíbrio: ER=(6,97x10-9-1,57x10-9)x100/6,97x10-9=77,5% Exercício 2: Calcular a concentração molar de íons hidroxônio e o pH potenciométrico de uma solução contendo 0,12 mol de HNO2 e 0,05 mol de NaCl por Litro de solução. Calcular o erro percentual relativo no cálculo da [H3O +] por desconsiderar as correções de atividade. Dado: Koa(HNO2)=7,1x10 -4 pH potenciométrico: pH=Log1/{H3O +}=-Log{H3O +} NaCl – eletrólito forte – responsável pela força iônica da solução. Assim: I=½[0,05x(+1)2+0,05x(-1)2]=0,05 mol/L Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 55 Nessa força iônica, I=0,05, retira-se da Tabela de Kielland ou por cálculo usando a ELDH, os coeficientes de atividade envolvidos no equilíbrio: fH3O+=0,860 fNO2-=0,805 fHNO2=1,0 HNO2+H2ONO2 -+H3O + Koa={NO2 -}{H3O +}/{HNO2}=[NO2 -][H3O +]/[HNO2] fH3O+xfNO2-/fHNO2 Koa=Ka(fH3O+x fNO2-/fHNO2) Ka=K o a(fHNO2/fH3O+xfNO2-) Ka=7,1x10 -4x1,0/0,860x0,805=1,03x10-3 (constante de equilíbrio cinética em I=0,05) - Utilizando a fórmula aproximada para o cálculo de [H3O +] do ácido fraco: [H3O +]=√KaCa [H3O +]=√(1,03x10-3x0,120) [H3O +]=1,11x10-2mol/L - pH potenciométrico: pH=Log1/{H3O +}=-Log{H3O +}=-Log([H3O +]xfH3O+)=-Log(1,11x10 -2x0,860)=2,02 - Desconsiderando a força iônica (significa que está se considerando que f=1): Cálculo: [H3O +]=√KaCa [H3O +]=√(7,1x10-4x0,12) [H3O +]=9,2x10-3mol/L - Erro relativo no cálculo da [H3O +]: ER(%)=(1,11x10-2-9,2x10-3)x100/1,11x10-2=17% Exercício 3: A constante de equilíbrio termodinâmica da segunda ionização do H3PO4 é pKoa2=7,18, em força iônica zero. Qual o valor desta constante em uma solução tampão de fosfato equimolar (C=0,05 mol/L) composta pelos respectivos sais dissódico 0,025 mol/L e monopotássico 0,025 mol/L? Calcular o pH potenciométrico da solução tampão levando em conta a correção da constante. H2PO4 -+H2OHPO4 =+H3O + Eletrólitos fortes: Na2HPO4 e KH2PO4. Então, se dissociam completamente. Na2HPO42Na ++HPO4 2- 0,05 0,025 KH2PO4K ++H2PO4 - 0,025 0,025 Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Química Analítica II – IC610/2016-II – Prof.Cristina Maria Barra 56 I=½([K+]x(+1)2+[HPO4 =]x(-2)2+[Na+]x(+1)2+[H2PO4 -]x(-1)2] I=½[0,025x(+1)2+0,025x(+2)2+0,025x(+1)2+0,025x(-1)2] I=½ [0,025+0,1+0,050+0,025]=0,1 mol/L - Coeficientes de atividade: ver Tabela de Kielland: f==0,355 f+=0,830 f-=0,770 - Sabendo que: Ka2 o={H3O +}{HPO4 =}/{H2PO4 -} Koa2=10 -7,18=[HPO4 =][H3O +]/[H2PO4 -]x f= x f+/f- 10-7,18=Ka2x0,355x0,830/0,770 Ka2=1,7266x10 -7 pKa2=6,76 (constante de equilíbrio cinética) - Para o cálculo de uma solução tem-se que: [H3O +]=Ka2Ca/Cs - E, como na solução tampão: Ca=Cs=0,025mol/L - Tem-se que: [H3O +]=Ka2=1,7266x10 -7mol/L pH=-Log{H3O +}=-Log([H3O +]x f+)=-Log[H3O +]-Logf+ pH=6,76–Log0,830=6,76+0,081 pH=6,85