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www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM - 2ª Fase Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 1 MEMORIAIS INTRODUÇÃO O artigo 403 do CPP, objetivando dotar de maior celeridade processual, estabelece que, no pro- cedimento comum de rito ordinário, na regra ge- ral, as alegações finais da acusação e da defesa serão orais. Todavia, quando o juiz entender que o caso é complexo ou possui um grande número de acu- sados ou há pedido de diligência de uma das partes cuja necessidade se origine de circuns- tâncias ou fatos apurados na instrução criminal, poderá determinar a apresentação das alega- ções finais por escrito, também chamada de me- moriais. PROCEDIMENTO Encerrada a instrução, o procedimento para ale- gações finais orais será o seguinte: 1º) A acusação tem 20 minutos, por acusado, podendo esse tempo ser prorrogável por mais 10 minutos para oferecer alegações finais orais, tendo o assistente de acusação, caso exista, 10 minutos, para oferecer essas alegações finais (art. 403, caput e § 2º, do CPP). Destaca-se que a legislação processual penal não prevê a possibilidade de prorrogação do tempo do assistente de acusação. 2º) A defesa tem 20 minutos, também por acu- sado, podendo ser prorrogável por mais 10 mi- nutos para oferecer alegações finais orais. No caso de ter existido manifestação do assis- tente de acusação, a defesa terá mais 10 minu- tos para suas alegações finais orais (art. 403, caput e § 2º, do CPP). OBSERVAÇÃO Havendo mais de um acusado, o tempo será computado individualmente, nos exatos ter- mos do art. 403, § 1º, do CPP. Ou seja, em havendo, por exemplo, dois acusados, cada um dos acusados terá o prazo de defesa de 20 minutos podendo ser prorrogável por mais 10 minutos para as alegações finais orais. MEMORIAIS Alegações finais por escrito, também chamada de memoriais, na verdade é uma exceção, tendo em vista que ela somente poderá ser apresen- tada de forma escrita, como já mencionado, quando o juiz entender que o caso: - é complexo; - possui um grande número de acusados; - tem pedido de diligência de uma das partes cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução criminal. O juiz poderá conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresenta- ção dos memoriais. Além disso, o juiz terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença, como bem elucida o art. 403, § 3º e art. 404, parágrafo único, ambos do Código de Processo Penal. PRAZO O prazo é sucessivo de 5 (cinco) dias. A abertura dos prazos dos memoriais é SUCES- SIVO, ou seja, primeiro há apresentação dos memoriais pela acusação, depois é que haverá os memoriais por parte da defesa, no prazo de 5 dias. OBSERVAÇÃO Ministério Público e advogado do réu tem sempre o prazo de 5 dias, já o defensor pú- blico terá o prazo de 10 dias. Vale ressaltar que em relação ao defensor no- meado (dativo) a jurisprudência entende que ele será intimado pessoalmente, mas que o prazo permanecerá de 05 dias, não sendo contado em dobro. OBRIGATORIEDADE DE CONCEDER MEMO- RIAIS O juiz NÃO está obrigado a conceder a apresen- tação dos memoriais, cabendo ao magistrado, em ocorrendo as situações acima apresentadas, decidir se concederá ou não a apresentação dos memoriais. Ou seja, os memoriais são uma determinação do juiz, a parte não escolhe se as alegações fi- nais serão na forma escrita ou oral, é o juiz que determina se será cabível ou não as alegações finais na forma escrita, cabendo a parte tão so- mente requerer. MOMENTO DE APRESENTAÇÃO DOS ME- MORIAIS www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM - 2ª Fase Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 2 A apresentação dos memoriais será SEMPRE ao final da instrução probatória. Por esta razão, dificilmente é possível errar uma peça de memoriais, tendo em vista que a ques- tão prática mencionará que houve o término da instrução probatória, com a apresentação de memoriais por parte da acusação, sendo a de- fesa intimada para apresentar a peça proces- sual cabível, que só poderá ser as alegações fi- nais na forma escrita. MEMORIAIS E RITOS PROCESSUAIS Vale lembrar que no rito comum ordinário existe previsão legal expressa de cabimento de memo- riais no art. 403, § 3º do Código de Processo Pe- nal. Já em relação ao rito sumário, sumaríssimo (Ju- izados Especiais) ou do Tribunal do Júri NÃO existe previsão legal expressa de cabimento dos memoriais. Todavia, entende a doutrina e a jurisprudência ser este procedimento perfeitamente cabível, somente o que vai mudar é a indicação da auto- ridade competente, devendo os memoriais se- rem fundamentados também no art. 403, pará- grafo 3º do Código de Processo Penal por ana- logia. ENDEREÇAMENTO O endereçamento dos memoriais é bastante simples, tendo em vista que ele sempre será en- dereçado para o juiz que determina o feito. PEDIDO PRINCIPAL O que se pede nos memoriais como pedido prin- cipal é a absolvição, com fundamento no art. 386 do Código de Processo Penal, existindo apenas uma diferenciação no rito do Tribunal do Júri que será abordado posteriormente. PEDISOS SUBSIDIÁRIOS Sempre se deve fazer pedidos subsidiários, como de aplicação da pena mínima prevista em lei, ou pela aplicação de atenuante, se for o caso. ARROLAMENTO DE TESTEMUNHAS É de suma importância esclarecer que nos me- moriais NÃO se faz o pedido de arrolamento de testemunhas, pois já houve a instrução probató- ria e este foi o momento oportuno para fazer tal pedido de arrolamento. DICAS As partes devem fazer a fundamentação de mérito mais completa possível nos memoriais, pois esta será a última oportunidade de con- vencer o magistrado sobre seu pleito. DIFERENÇAS ENTRE OS PEDIDOS NOS ME- MORIAIS DO RITO COMUM OU SUMÁRIO E OS DO TRIBUNAL DO JÚRI MEMORIAIS NO RITO COMUM ORDINÁRIO E SUMÁRIO - Será pedida a absolvição com base no art. 386 do Código de Processo Penal. Va- mos à análise do artigo. Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reco- nheça: I – estar provada a inexistência do fato; Neste caso, no decorrer da instrução criminal, prova-se que o fato imputado NÃO ocorreu. Ex. Estão acusando o réu do cometimento de le- são corporal gravíssima, mas a vítima aparece na instrução de julgamento sem nenhum sinal de lesão. Ex. Réu é acusado de furtar relógio da vítima, na instrução criminal a própria vítima aparece com o suposto relógio subtraído. Ex. Sujeito está sendo acusado de cometer ex- torsão mediante sequestro, mas, no curso da instrução probatória, aparece a vítima, com boa saúde, alegando que na verdade tinha viajado. II – não haver prova da existência do fato; Neste caso, o Ministério Público não tem ele- mentos de materialidade para provar que o fato existiu. Não se consegue provar se o fato ocor- reu ou não. Ex. A vítima afirma que foi furtada pelo réu. Mas, no decorrer do processo, a acusação NÃO con- segue provar que houve efetivamente um furto. III – não constituir o fato infração penal; Ocorre quando o fato é atípico, não sendo pre- visto como crime pela legislação pátria. Ou seja, não existe um tipo penal para a conduta narrada nos autos. Até pode ter ocorrido o fato, entretanto, ele não constitui crime. www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM - 2ª Fase Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 3 Ex. Ocorrência de induzimento ao suicídio em que resultam apenas lesões leves, neste caso a conduta é atípica, já que só existe crime se, ao menos, resultar em lesão corporal de natureza grave. IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;Neste caso, no decorrer da instrução criminal, fica claro que houve o crime, mas está provado que o acusado NÃO concorreu para o cometi- mento do delito, ou seja, resta provado que o réu não foi autor ou partícipe do crime. Ex. O réu foi acusado de praticar o crime de le- são corporal praticado no dia 12/01/2010, mas neste mesmo dia o réu não estava no local do crime, estava viajando, sendo acostadas aos autos a passagem e a hospedagem em nome do réu. V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; No decorrer da instrução criminal fica reconhe- cido que o crime ocorreu, mas neste caso a acu- sação NÃO consegue demonstrar que o réu co- meteu o crime como autor ou partícipe. Ou seja, a acusação não consegue provar de forma ine- quívoca o vínculo do réu com o fato criminoso. VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; Se tiver tratando de qualquer circunstância que exclui o crime ou isenta de pena será este o in- ciso a ser embasado. Neste caso o próprio inciso traz as hipóteses de exclusão do crime ou de isenção de pena, que são as seguintes: • Erro de Tipo (art. 20 do CP) – exclui o crime. • Descriminante putativa por Erro de tipo (art. 20, § 1º, do CP) – isenta de pena. • Erro de proibição (art. 21 do CP) – isenta de pena. • Coação irresistível e obediência hierárquica (art. 22 do CP) – isenta de pena. • Excludentes da ilicitude do fato (art. 23 do CP) – exclui o crime. • Inimputabilidade (art. 26 do CP) – isenta de pena • Embriaguez completa, proveniente de caso for- tuito ou força maior, quando o sujeito era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente in- capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendi- mento (art. 28, § 1º, do CP) – isenção de pena. VII – não existir prova suficiente para a con- denação. Esta é uma manifestação do in dúbio pro reo. No caso, a acusação não consegue demonstrar peremptoriamente que o réu cometeu crime. Esta hipótese tem uma natureza eminentemente residual. MEMORIAIS NO RITO DO TRIBUNAL DO JÚRI Neste caso, é possível fazer os seguintes pedi- dos: 1º) Absolvição Sumária – art. 415 do Código de Processo Penal. As hipóteses de absolvição sumária no rito do tribunal do júri estão previstas no art. 415 Có- digo de Processo Penal e esta absolvição sumá- ria é ao final da instrução probatória e vai ser pedida em MEMORIAIS. Cuidado que a absolvição sumária do art. 415 do Código de Processo Penal difere da absolvi- ção sumária prevista no art. 397 do mesmo di- ploma legal que também é aplicada no rito do tribunal do júri de forma analógica, mas para a resposta à acusação. Vamos a análise de cada inciso deste disposi- tivo. Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: I – provada a inexistência do fato; Neste caso fica provado que o fato NÃO existiu. Ex. Sujeito é acusado de homicídio, mas no de- correr do processo a suposta vítima aparece viva. II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; Admite-se que houve o fato, restando este pro- vado, mas provou-se que o réu NÃO foi nem au- tor nem partícipe do fato. Ex. Mataram um sujeito, restando provado este fato. O réu foi acusado de ter matado o sujeito, entretanto, provou-se no curso da instrução cri- minal que o réu estava em outra cidade na hora do crime. III – o fato não constituir infração penal; Demonstra-se que o fato NÃO é crime, não pos- suindo tipificação legal respectiva. www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM - 2ª Fase Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 4 Ex. Sujeito é acusado de cometer o crime de sui- cídio, crime inexistente no ordenamento jurídico, tendo em vista que somente existe o crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. Caso fique demonstrado que o réu está ampa- rado por uma causa de exclusão de ilicitude ou de culpabilidade será alegado este inciso. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. A inimputabilidade é uma exceção, pois neste caso deve ser proferida uma sentença absolutó- ria imprópria, sendo o agente inocentado, mas submetido a uma medida de segurança. Porém, desta exceção, caberá outra exceção, no caso de se configurar tese única de defesa. Nesse sentido, pode haver a absolvição sumária mesmo se tratando de inimputabilidade. Vale ressaltar que pode haver a absolvição su- mária com base no inciso IV do art. 415 do CPP em decorrência de obediência hierárquica ou embriaguez involuntária proveniente de caso fortuito ou forca maior, pois estas causas isen- tam de pena do acusado e conduzem à exclusão da culpabilidade. 2º) Impronúncia – art. 414 do CPP A impronúncia ocorrerá quando não há certeza quanto a prova da materialidade e os indícios suficientes de autoria. Ela é uma sentença que não resolve mérito, sendo chamada de sentença interlocutória e o processo fica em suspenso diante da ausência destes requisitos. Porém, se aparecer fato novo pode haver o prosseguimento do processo enquanto o crime ainda não estiver prescrito e poder o Estado pu- nir o agente. Destaca-se que a pronúncia ocorre quando o juiz, ao analisar o caso concreto, verificar que existem prova da materialidade do fato e de in- dícios suficientes de autoria. Ela é também cha- mada de sentença interlocutória, pois ela não pode adentrar no mérito. O juiz simplesmente não poderá condenar, será o tribunal do júri que poderá fazê-lo. 3º) Desclassificação – art. 419 do CPP No caso o juiz diz que houve o crime, com indí- cios suficientes de autoria e materialidade, o acusado é responsável pelo crime, mas o crime simplesmente NÃO é da competência do Tribu- nal do Júri. Com isso, o juiz desclassifica o crime e remete para o juiz competente, ela é chamada de des- classificação própria. Ex. Ao final da instrução probatória percebe-se que houve o crime de latrocínio e NÃO de homi- cídio. A desclassificação NÃO gera nulidade dos atos anteriores praticados, NÃO zera o processo, tudo que foi feito será aproveitado pelo juízo competente. Este é que proferirá sentença. OBSERVAÇÃO Na desclassificação imprópria, o juiz diz que houve o crime, o acusado é o autor do delito, mas o problema é que o crime NÃO é o que foi imputado ao agente, embora continue sendo de competência do tribunal do júri. Neste caso deve o juiz adotar o procedimento do art. 384 do Código de Processo Penal. Este artigo traz o instituto da mutatio libelli, esta ocorre quando o juiz entender que o crime que efetivamente ocorreu é diferente do narrado na peça acusatória. Como o réu de- fende-se dos FATOS apresentados, deve o juiz mandar que o Ministério Público proceda ao aditamento da denúncia, da peça acusató- ria. Caso não haja esse aditamento o juiz irá adotar o procedimento previsto ao art. 28 do Código de Processo Penal, remetendo o pro- cesso ao Procurador Geral de Justiça. Ex. Mulher é acusada do crime de infanticídio, mas no curso da instrução probatória ficou provado através de perícia que a mulher NÃO estava em estado puerperal. Logo, ela deverá responder pelo crime de homicídio, havendo uma desclassificação imprópria. Pode-se fazer a seguinte diferenciação: ► Desclassificação própria – o processo SAI da competência do Júri www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM - 2ª FaseDireito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 5 ► Desclassificação imprópria – o processo NÃO sai da competência do Tribunal do Júri, mas deverá adotar o procedimento da mutatio libelli do art. 384 do Código de Processo Penal. DICA! Deve-se pedir: 1º) Absolvição Sumária 2ª) Subsidiariamente se for o caso – Impronún- cia 3ª) Subsidiariamente se for o caso – Desclassi- ficação. MEMORIAIS E CRIMES PREVISTOS NA LEI DE LICITAÇÃO São cabíveis, ainda, os memoriais, de acordo com a Lei 8.666/93, em seu art. 105 que prevê também o prazo de 05 dias para a sua proposi- tura. Destaca-se que o prazo será sucessivo de 5 dias a cada parte. Assim sendo, os memoriais para os crimes pre- vistos na lei de Licitação terá a fundamentação no artigo 105 da Lei 8.666/93. MEMORIAIS E CRIMES PREVISTOS NO CÓ- DIGO ELEITORAL São cabíveis memoriais para os crimes previs- tos no Código Eleitoral – Lei nº 4.737/65. Em seu artigo 360, o CE prevê o prazo de 5 dias para cada uma das partes - acusação e defesa - para a propositura de alegações finais. Assim sendo, a fundamentação dos memoriais quando se referir a crimes eleitorais será com base no artigo 360 do Código Eleitoral. RESUMINDO... FUNDAMENTAÇÃO DOS MEMORIAIS RITO / PROCEDIMENTO FUNDAMENTAÇÃO Rito Ordinário Art. 403, §3º, CPP Rito Sumário Art. 403, §3º, CPP Rito Sumaríssimo Art. 403, §3º, CPP Tribunal do Júri Art. 403, §3º, CPP Crimes previstos na lei de licitações Art. 105, da Lei 8.666/93 Crimes previstos no Código Eleitoral Art. 360, do Código Eleitoral www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 6 ESTRUTURA DOS MEMORIAIS Endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE __________ (Regra Geral) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICI- ÁRIA DE __________ (Crimes da Competência da Justiça Federal) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE ________ (Regra geral) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE _________________ (Crimes da Competência da Justiça Federal) Porém, se a comarca for a CAPITAL do Estado coloque: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ____ CAPITAL DO ESTADO DE __ EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE __________ (Juizado Especial Criminal – excepcional) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ ZONA ELEITORAL DA COMARCA DE ____ (crimes eleitorais) Processo número: Coloque 4 dedos ou 3 dedos de espaçamento. Qualificação: (Fazer parágrafo) Nome, já qualificado nos autos do processo às folhas ( ), por seu advogado e bastante procurador que a esta subscreve, conforme procuração em anexo, vem, muito respeitosamente à pre- sença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 403, parágrafo 3º do Código de Processo Penal (não colocar abreviatura) apresentar (sem saltar linhas) MEMORIAIS pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. (Pula-se uma linha) 1. Dos Fatos O candidato deve externar os fatos de forma sucinta. Não copie igual aos fatos, se a questão deu 20 linhas para os fatos devem-se usar menos linhas, umas 10, por exemplo. Deve-se fazer uma síntese, trazer os fatos de forma resumida. Os períodos devem ser sempre curtos, 5 ou 6 linhas. Recomenda-se primeiro narrar os fatos e depois arguir as preliminares no próximo ponto, tendo em vista que é melhor primeiro mencionar os fatos para depois se arguir eventuais defeitos decorrentes dos fatos. 2. Das Preliminares Buscam-se falhas, defeitos que possam inviabilizar a defesa. NÃO se deve entrar no MÉRITO. Nas alegações das preliminares basta fazer um parágrafo apontando a preliminar, esta é uma indicação inicial de um erro, de um equívoco existente no processo. Ela é uma indicação de ordem técnica, devendo mencionar o fundamento legal. Como já foi explicado existe uma sequência a ser seguida. Abra os artigos na seguinte sequência: www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 7 1º) Art. 107 CP – Causas extintivas de punibilidade. 2º) Art. 109 CP – Prescrição 3º) Art. 564 CPP – Nulidades 4º) Art. 23 CP Causas de exclusão de ilicitude. 5º) Deve-se buscar todo e qualquer outro defeito que levaria a ocorrência rejeição liminar da peça acusa- tória. OBS.: Com já foi dito, as preliminares são apenas mencionadas, no mérito e que se poderá apro- fundar alguma tese das preliminares, como no caso da preliminar de exclusão da ilicitude. 3. Do Mérito Deve-se alegar o que mais salta aos olhos, devendo demonstrar conhecimento. Se nas prelimi- nares citou-se o instituto jurídico, por exemplo, da legitima defesa, deve discorrer sobre os requisitos da legitima defesa. Deve-se discorrer sobre os institutos demonstrando os requisitos do instituto. Não se deve discorrer sobre temas controversos, deve-se falar o que todo mundo sabe. Use ideias fáceis, simples e que todos conhecem. Lembre-se também que toda vez que se mencionar uma preliminar, deve-se falar no mérito sobre ela em um parágrafo. OBS.: Ao elaborar sua tese de defesa tente sempre demonstrar a necessidade de absolvição do réu. 4. Dos Pedidos Pedido de Absolvição = Pedido Principal No pedido de memoriais a regra é o de absolvição, no caso do rito comum ordinário, sumário ou sumaríssimo pede-se a absolvição com base no art. 386 do Código de Processo Penal. Já nos casos do rito do tribunal do júri pede-se a absolvição sumária com base no art. 415 do mesmo diploma legal. Pedidos Secundários. Deve-se atentar para a possibilidade de alegação dos pedidos secundários, lembrando que tam- bém é necessário discuti-los no mérito. Podendo haver, por exemplo, os seguintes pedidos subsidiários: • Desclassificação do Crime; • Afastamento de qualificadora; • Reconhecimento da atenuação da pena; • Reconhecimento de causa de diminuição de pena no momento; • Se o juiz entender pela condenação que seja aplicada a pena mínima ou que seja aplicada pena restritiva de direito. OBS.: Cuidado que, como já abordado, os pedidos secundários no caso de rito do júri será o de impronúncia ou desclassificação, conforme o caso concreto, além da possibilidade do pedido de anulação da instrução probatória em virtude de alguma preliminar arguida. Após terminar os pedidos pula 1 linha e coloque: Nestes termos, (no canto da página) Pede deferimento. (em outra linha sem saltar) Após salte 2 ou três linhas, vá para o meio da página e coloque Comarca, data (Centralizado) Advogado, OAB www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 8 CASO PRÁTICO RESOLVIDO Ronaldo, residente e domiciliado em São Paulo, casado com Jessica, foi acusado pela prática de cárcere privado, nos termos do art. 148, § 1º, I do Código Penal. Na fase inquisitorial, Ronaldo prestou esclarecimentos no sentido de que não praticou a conduta. As testemunhas ouvidas na Delegacia, nada souberam informar sobre o caso, apenas citaram que Ronaldo e Jessica não mantinham um bom relaci- onamento e que pretendiam se separar há mais de 01 ano, não fazendo isso porque tinham um filho de 03 anos. Diante das informações colhidas no Inquérito, o representante do Ministério Público denunciou Ronaldo pelo crime supracitado, tendo o Juiz de Direito da 5ª Vara Criminal da Comarcade São Paulo recebido a denúncia e mandado citar o réu. Apresentada a defesa, o Juiz designou audiência de instrução e julgamento para o dia 12 de agosto de 2014, terça-feira. Na referida audiência, ouvidas as testemunhas de acusação, estas nada souberam informar acerca do delito, negando, todavia, a parte de suas oitivas na Delegacia no sentido de que acusado e vítima não possuíam um bom relacionamento. Passada à oitiva das testemunhas de defesa, que nada de relevante trouxeram ao caso concreto, Jessica prestou esclarecimentos no sentido de que o seu marido não a deixou trancada dentro de casa, apenas fechou saindo do domicílio com a chave e esquecido de deixá-la na casa do vizinho, para que este pudesse abrir a porta no horário em que a depoente sairia de casa, já que só possuíam uma chave e Ronaldo sempre saía mais cedo de casa por conta do trabalho. Ronaldo, em seu interrogatório, confirmou a história contada pela vítima, informando ainda que jamais teve a intenção de privar a liberdade da sua esposa e que isso só ocorreu por um esquecimento da sua parte. Encerrada a instrução criminal, o juiz abriu prazo, intimando as partes, para o oferecimento da peça, tendo o Ministério Público oferecido a peça processual cabível, sendo intimada a defesa para ofe- recê-la em 21 de agosto de 2014, quinta-feira. Na qualidade de advogado de Ronaldo, apresente a peça processual cabível, desenvolvendo as teses defensivas que podem ser extraídas ao enunciado, datando no último dia do prazo para protocolo. www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 9 RESPOSTA DO CASO PRÁTICO RESOLVIDO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Processo número: Ronaldo, já qualificado nos autos do processo às folhas ( ), por seu advogado e bastante pro- curador que a esta subscreve, conforme procuração em anexo, vem, muito respeitosamente a presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 403, § 3º do Código de Processo Penal apresentar os seus MEMORIAIS pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. 1. Dos Fatos Consta na inicial acusatória que o agente teria supostamente privado a liberdade da sua es- posa, visto ter deixado-a trancada em casa, levando a chave, impedindo, assim que ela saísse. Em sede de inquérito, as testemunhas nada souberam informar, apenas sustentando que o acusado não mantinha um bom relacionamento com a esposa, testemunho esse modificado em juízo. Recebida a denúncia pelo juiz foi apresentada resposta e marcada audiência de instrução e julgamento, ocasião em que a vítima foi ouvida negando toda acusação, informando ter o réu apenas esquecido de deixar a chave com o vizinho, não tendo a intenção de privar a sua liberdade, depoimento confirmado pelo acusado em seu interrogatório. 2. Das Preliminares Preliminarmente, cumpre esclarecer a falta de pressuposto ou condição para o exercício da ação, em virtude da inexistência do crime na sua modalidade culposa, com fundamento no art. 395, II do Código de Processo Penal. Ainda em sede de preliminar, é imperioso elucidar que não há justa causa para o exercício da ação penal, razão pela qual a denúncia sequer deveria ter sido recebida, nos termos do artigo 395, III do Código de Processo Penal. 3. Do Mérito Cumpre esclarecer ao douto julgador a inocorrência do crime capitulado no art. 148, § 1º, I do Código Penal. Entende a melhor doutrina que para a configuração do delito em análise, faz-se a ne- cessidade do dolo por parte do agente em querer privar a liberdade da vítima, tendo-se o elemento subjetivo do tipo o dolo, não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa. No caso concreto em análise, o agente saiu de casa para trabalhar e terminou se esquecendo de deixar a chave para que a sua mulher saísse posteriormente, já que apenas possuíam uma chave de entrada, inexistindo a figura do dolo por parte do suposto acusado, que agiu com culpa ao ter se esquecido de deixar a chave. É mister destacar, ainda, que o crime cárcere privado previsto no art. 148 do Código Penal apenas admite a modalidade dolosa, seja o dolo, sendo inadmissível como elemento subjetivo do tipo a culpa, por falta de previsão legal. Com isso, o juiz sequer deveria ter recebido a inicial acusatória, pois não há no ordenamento jurídico esse tipo penal, nos termos do artigo 395, II do Código de Pro- cesso Penal. Com isso, o processo penal não terá um fim útil, já que não será aplicada uma pena privativa de liberdade ao final do processo, devendo a denúncia ter sido rejeitada liminarmente. As testemunhas prestaram depoimentos perante a autoridade policial e ao juízo competente, nada sabendo informar acerca do crime questionado. Além disso, a vítima informou em juízo que o seu marido não a deixou trancada dentro de casa, apenas fechou saindo do domicílio com a chave e es- www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 10 quecido de deixá-la na casa do vizinho, para que este pudesse abrir a porta no horário em que a de- poente sairia de casa, já que só possuíam uma chave e Ronaldo sempre saía mais cedo de casa por conta do trabalho. Nesse caso, não há que se falar em justa causa para o exercício da ação penal porque, para a sua configuração, é necessário e imprescindível o binômio prova da materialidade do fato mais indí- cios suficientes de autoria. A ausência de qualquer um deles descaracteriza a justa causa, o que já deveria ter causado a rejeição da inicial acusatória. Ainda é necessário esclarecer, excelência, que não entendendo pela absolvição do agente, é possível a aplicação da pena mínima abstratamente prevista ao delito, qual seja, dois anos, podendo este ser beneficiado pela substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, já que preenchidos os requisitos previstos no artigo 44 do Código Penal. Apenas a título de esclarecimento, em caso de negativa da substituição da pena, seria possível o início do regime aberto como cumprimento de pena, já que a pena mínima cominada ao crime seria de dois anos de reclusão, conforme preceitua o artigo 33, § 2º, “c” do Código Penal. 4. Dos Pedidos Diante de todo exposto, requer-se a Vossa Excelência a absolvição do réu, com fundamento no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, visto o fato evidentemente não constituir infração penal. Apenas por cautela, não sendo acolhido o pedido de absolvição, o que não se espera, requer- se ao douto julgador seja decretada a anulação da instrução probatória em virtude da ocorrência ma- nifesta falta de pressuposto processual ou condição, bem como ausência de justa causa para o exer- cício da ação penal, nos termos do artigo 395, II e III, do Código de Processo Penal. Por fim, não sendo acolhidos os pedidos acima, seja aplicada a pena mínima cominada ao delito, sendo, nesse caso, substituída a pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, nos ter- mos do artigo 44 do Código Penal. Ainda, não aceitando Vossa Excelência na substituição dela pena restritiva de direitos, possa o agente iniciar no regime mais benéfico no cumprimento de pena, respeitando-se o artigo 33, § 2º, “c” do Código Penal. Termos em que, Pede deferimento. São Paulo, capital do Estado de São Paulo, 26 de agosto de 2014. Advogado, OAB www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça11 CASO PRÁTICO PROPOSTO Alberto, de 20 anos de idade, foi denunciado pelo representante do Ministério Público pelo crime de estupro de vulnerável, previsto no art. 217-A, § 1º do Código Penal, praticado contra Denise, também com 20 anos de idade. A peça acusatória informa que no dia 10 de maio de 2015, Alberto foi até a residência de Denise, onde estava ocorrendo uma festa com várias pessoas. Na ocasião, aproveitando- se do fato de ficar sozinho no quarto com Denise, o denunciado manteve com a vítima conjunção carnal, fato que ocasionou a gravidez desta. Embora não tenha se valido de violência real ou de grave ameaça para constranger Denise a manter conjunção carnal, o denunciando aproveitou-se do fato de Denise não ter o necessário discerni- mento para a prática do ato libidinoso, não podendo dar validamente o seu consentimento, visto ser defi- ciente mental, incapaz de reger a si mesma. Foram acostados à peça acusatória o depoimento do pai da vítima, informando que Denise estava grávida e prova pericial comprovando a deficiência, bem como o estado gestacional. O juiz da 15ª Vara Criminal da Comarca Z do Estado Beta recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para se defender no prazo legal, tendo sido a citação efetivada e o réu apresentado defesa por intermédio de advogado. Na fase de instrução probatória, não houve a intimação do advogado do réu, bem como não houve a nomeação de um defensor público pelo juiz competente, no intuito de patrocinar a defesa deste durante a instrução. No decorrer da audiência de instrução e julgamento, foi colhido o depoimento da testemunha Le- onardo, amigo de Denise, informando este que nunca tivera o conhecimento de que sua amiga possuía alguma deficiência mental, ao longo desses 12 anos de amizade, até porque ela sempre tinha o costume de realizar festas e era muito simpática com todos. O réu, em seu interrogatório, informou que realmente praticou conjunção carnal com a vítima, com o consentimento desta, entretanto, desconhecia completamente que Denise possuía alguma deficiência mental, fato este desconhecido, inclusive, pelos amigos próximos da vítima. Finda a fase probatória, diante da complexidade dos fatos, o juiz concedeu prazo para que as partes apresentassem suas alegações finais por escrito. O Ministério Público apresentou suas alegações nos termos da acusação, requerendo a condenação do réu com base no artigo imputado na denúncia. Posteriormente, o réu foi intimado no dia 24 de julho de 2015, sexta-feira. Em face da situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado(a) constituído(a) pelo acusado Alberto, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à defesa de seu cliente. Em seu texto, não crie fatos novos, inclua a fundamentação legal e jurídica, explore as teses defensivas e date o documento no último dia do prazo para protocolo. www.cers.com.br OAB XIX EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 12 RESPOSTA DO CASO PRÁTICO PROPOSTO • Peça: MEMORIAIS, com fundamento no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal. • Competência: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 15ª VARA CRIMINAL DA COMARCA Z DO ESTADO BETA • Teses: Indicação da preliminar de nulidade por falta de intimação do advogado do réu para a audiência de instrução e falta de nomeação de defensor público ao réu presente, nos termos do art. 564, III, “c” e IV do Código de Processo Penal e art. 5º, LV, da Constituição Federal. Indicação da preliminar por falta de condição para o exercício da ação penal, nos termos do art. 395, II, do Código de Processo Penal. Desenvolvimento fundamentado acerca da existência do erro de tipo, art. 20, caput, do Código Penal. Desenvolvimento fundamentado acerca da nulidade por falta de intimação do advogado do réu para a audiência de instrução e falta de nomeação de um defensor público ao réu presente, nos termos do art. 564, III, “c” e IV do Código de Processo Penal e art. 5º, LV, da Constituição Federal. Desenvolvimento fundamentado acerca da falta de condição da ação para o exercício da ação penal, nos termos do art. 395, II, do Código de Processo Penal. • Pedidos: Pedido de absolvição com fundamento no art. 386, VI, do Código de Processo Penal. Pedido de anulação da instrução probatória em virtude da existência de nulidade por falta de inti- mação do advogado do réu para a audiência de instrução e falta de nomeação de defensor público ao réu presente, nos termos do art. 564, III, “c” e IV do Código de Processo Penal e art. 5º, LV, da Constituição Federal. Pedido de anulação da instrução probatória por falta de condição para o exercício da ação penal. Pedido de aplicação da pena do réu no mínimo legal e o regime inicial de cumprimento de pena no semiaberto. Não sendo acolhido o pleito de pena mínima, que seja reconhecida a atenuante prevista nos art. 65, I, do Código Penal, em virtude de o réu ser menor de 21 anos na data do fato.
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