Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Licenciatura em História - EAD UNIRIO/CEDERJ PRIMEIRA AVALIAÇÃO PRESENCIAL 2016-1 GABARITO DISCIPLINA: PATRIMÔNIO CULTURAL COORDENAÇÃO: MÁRCIA CHUVA QUESTÃO 1 (4,0) Silvana Rubino (em O mapa do Brasil Passado. In Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1996) e Maria Cecilia Londres Fonseca (em Referências Culturais: Base para novas políticas de patrimônio) abordam diferentes momentos das políticas de patrimônio cultural no Brasil implementadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Com base nas duas autoras e no material didático da disciplina, explique a noção de patrimônio nacional como uma categoria histórica, apresentando o contexto histórico analisado por elas e o que foi considerado como patrimônio nos respectivos períodos. Resposta: A institucionalização das práticas de preservação no Brasil, que teve início no final dos anos 30, passou por diferentes momentos. Ainda que tenha como marca o projeto de Mario de Andrade e o decreto Lei 25 de 1937 instituindo o tombamento como principal instrumento na defesa do patrimônio cultural, ao longo do século XX, houve críticas e alterações nas perspectivas do que se entende como patrimônio cultural e nas formas de se inventariar e preservar um bem. As duas autoras nos chamam a atenção para este fato. De um lado, Silvana Rubino demonstra como os tombamentos realizados pelo SPHAN podem ser interpretados como uma busca de “descobrimento” do Brasil, instituindo certa perspectiva de patrimônio hegemônica nos primeiros anos de atuação. Naquele momento em 1936, a tarefa de criar uma instituição moderna, com técnicos profissionais colocou- se como um desafio de definir objetivamente um sentido para a definição do passado no Brasil. De outro lado, Maria Cecília Londres Fonseca aponta para um momento de surgimento de críticas à forma então consagrada de se ver a preservação do patrimônio cultural. Surgindo ao final dos anos 70, a principal crítica pautava-se na possibilidade do instrumento do tombamento dar conta da amplitude de visões e interesses relativos aos bens culturais. A noção de referência cultural começa a ser debatida no sentido de aproximar as ações de patrimonialização no Brasil das novas reflexões sobre a cultura que a antropologia e a história já vinham incorporando. A ideia é valorizar os sujeitos e seus olhares para os bens, os entendendo como heterogêneos. É deixar de pensar o valor como sendo intrínseco ao bem, mas sim na relação destes bens com os sujeitos detentores destes bens. A noção de referência cultural, forjada nos idos dos anos 1970, pelo Centro nacional de Referência Cultural, será apropriada na criação do instrumento de registro, instituído pelo Decreto-Lei 3551/2000. Os textos propostos nos chamam a atenção para as transformações e a historicidade contida no conjunto de bens escolhidos como patrimônio cultural. QUESTÃO 2 (3,0) Simone Scifoni, (em A Unesco e os patrimônios da humanidade: valoração no contexto das relações internacionais), ao tratar dos critérios da UNESCO para escolha do patrimônio mundial, afirma que o processo de valoração dos bens tem, antes de qualquer coisa, um caráter político. Analise o processo e constituição do sistema internacional de patrimônio com base nessa afirmativa e no material didático da disciplina. Resposta: Cabe a UNESCO a inscrição de um bem na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade. Nascida no final do anos 1970, a lista é definida pelo Comitê do Patrimônio Mundial. Como demonstra Scifoni, os parâmetros que nortearam a escolha dos bens variaram. Se a lista surge num momento de Guerra Fria com forte presença da política externa dos EUA, hoje temos a emergência de novos países no jogo político com capacidade de exigir alterações nas formas de reconhecimento e assim novos bens foram alçados à lista. Entretanto, como salienta a autora, ainda é perceptível uma concentração dos bens em países tidos como desenvolvidos, europeus. Scifoni demonstra que um dos motivos por esse concentração se deve à perspectiva dominante de patrimônio cultural seguindo um padrão ocidental. Isso na área da cultura, seguindo a tradição francesa, e natural seguindo padrões norte-americanos. Uma questão importante para o argumento da autora recai nas possibilidades de realização das políticas para o patrimônio por parte dos países. Pois cabe a cada país o pedido de reconhecimento de seus bens, e ações de salvaguarda. O reconhecimento da UNESCO se dá no sentido de fortalecer políticas já em curso nos países de origem dos bens, e não se volta para ações pontuais. Entende-se também que com a alteração dos parâmetros que definem o que deve ser um patrimônio em função de pressões políticas, observou-se uma mudança para valorizar-se não apenas o patrimônio edificado ou natural, mas também as tradições e manifestações culturais, destacando-se ainda as potencialidades do turismo no processo de intercambio cultural. QUESTÃO 3 (3,0) Descreva alguns elementos centrais da história da institucionalização da preservação do patrimônio cultural no Brasil, que se concretiza com a criação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico), em 1937, considerando a relação entre revolucionários de novas formas artísticas e zeladores do passado cultural que configurou a equipe de arquitetos do IPHAN no período. Resposta: A institucionalização da preservação do patrimônio cultural no Brasil ocorre na década de 1930, entretanto ela é fortemente influenciada pelo contexto de modernização da década de 1920 e pela concepção de modernidade de então. Estas ideias permeiam o pensamento nacionalista, presente nos intelectuais que buscavam entender o Brasil. Ainda que nos anos 1930, o barroco mineiro tenha sido hegemônico nas ações de tombamento do patrimônio cultural do Brasil, na década anterior já percebia-se um debate sobre que Brasil deveria ser valorizado. Os primeiros intelectuais que participaram das ações do SPHAN foram influenciados por ideias nacionalistas, presentes entre intelectuais que buscavam entender o Brasil a partir de suas especificidades ainda visíveis nas tradições da sociedade brasileira. Buscava-se uma feição própria para o Brasil em oposição às influências estrangeiras dominantes na primeira República. O grupo de intelectuais que participou da fundação do SPHAN, em especial Mário de Andrade, esteve ativamente presente nesse debate, e passa a compor os quadros das agências do Estado Novo, no governo Vargas. Neste sentido as raízes portuguesas coloniais foram privilegiadas e uma noção de patrimônio fortemente marcada pela arquitetura ganhou destaque, fato que percebemos na descrição acima. Notabilizou-se a expressão “pedra e cal” para caracterizar este momento do processo de preservação do patrimônio no Brasil, na representação de uma nacionalidade.
Compartilhar