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GABARITO - AD2 – Literatura Brasileira III
 
De acordo com o que você estudou nas Unidades 7 e 8 sobre a Formação cultural brasileira, a Belle Époque e o Modernismo, responda as questões abaixo de modo dissertativo. Não copie respostas de sites da Internet nem do seu material de estudo. Você deve pesquisar sobre o tema e escrever com suas palavras.
Questão 1
Com a reorganização do espaço urbano da cidade, a sociedade fluminense procura apagar as marcas locais que ainda identificam o Rio de Janeiro com o Império escravocrata recém-extinto. A obra de João do Rio está intimamente ligada a este momento de mudanças e euforia, além de dialogar com os clássicos da literatura universal, com ênfase na literatura francesa. 
Comente a respeito da visão de João do Rio sobre as drásticas mudanças ocorridas na configuração do espaço urbano do Rio de Janeiro e, a partir do fragmento abaixo, do livro Dentro da noite, destaque a busca da elite fluminense pelos prazeres alienantes da sociedade.
História de gente alegre
 O terraço era admirável. A casa toda parecia mesmo ali pousada à beira dos horizontes sem fim, como para admirá-los, e a luz dos pavimentos térreos, a iluminação dos salões de cima contrastava violenta com o macio esmaecer da tarde. Estávamos no Smart-Club, estávamos ambos no terraço do Smart-Club, esse maravilhoso terraço de vila do Estoril, dominando um lindo sítio da praia do Russel — as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que tinha luminosidades polidas de faiança persa. Eram sete horas. Com o ardente verão ninguém tinha vontade de jantar. Tomava-se um aperitivo qualquer, embebendo os olhos na beleza confusa das cores do ocaso e no banho víride de todo aquele verde em de redor. As salas lá em cima estavam vazias; a grande mesa de baccarat, onde algumas pequenas e alguns pequenos derretiam notas do banco — a descansar. O soalho envernizado brilhava. Os divãs modorravam em fila encostados às paredes — os divãs que nesses clubes não têm muito trabalho. Os criados, vindos todos de Buenos-Aires e de S. Paulo, criados italianos marca registrada como a melhor em Londres, no Cairo, em New-York, empertigavam-se. E a viração era tão macia, um cheiro de salsugem polvilhava a atmosfera tão levemente, que a vontade era de ficar ali muito tempo, sem fazer nada. (...) Que curioso aspecto! Havia franceses condecorados, de gestos vulgares, ingleses de smoking e parasita à lapela, americanos de casaca e também de brim branco com sapatos de jogar o foot-ball e o lawn-tennis, os elegantes cariocas com risos artificiais, risos postiços, gestos a contragosto do corpo, todos bonecos vítimas da diversão (...) .
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Glossário: 
Baccarat – bacará: jogo de cartas de origem francesa, em que tomam parte vários jogadores, ganhando o grupo que, com duas ou mais cartas, perfizer o total de pontos mais próximo de nove;
Divã - espécie de sofá ou canapé de origem persa, sem encosto ou braço;
Faiança persa - cerâmica persa brilhante, com efeitos metálicos;
Foot-ball – futebol, em inglês;
Lawn-tennis - tênis de gramado, em inglês;
Modorrar– ficar sonolento (em sentido figurado no texto, significa que os caficar abandonado;
Salsugem- maresia;
Viração - vento suave e fresco, espécie de brisa que sopra do mar para a terra; aragem;
Víride – de cor verde ou esverdeada.
Questão 2: Leia o poema a seguir:
Os Sapos
Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 
Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 
O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 
Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 
O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 
Vai por cinquenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 
Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 
Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 
Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 
Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 
Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 
Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 
Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 
Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...
 (BANDEIRA, 1980, p. 15)
No poema de Manuel Bandeira, é possível verificar uma sátira em relação às escolas anteriores ao Modernismo. A partir da leitura do poema, fale sobre a crítica ao Parnasianismo presente nos versos e sobre os objetivos do Modernismo, levando em consideração a desconstrução dos parâmetros literários e sociais de até então.
Questão 3
Pode-se dizer que o Modernismo brasileiro esforçou-se em atacar duas frentes: a atualização da inteligência brasileira, que deveria se esforçar para estar no mesmo patamar que a europeia; o mergulho no ser brasileiro, com suas particularidades, crenças e mitos. Comente de que maneira Macunaíma, de Mário de Andrade conseguiu representar essas duas frentes.
Questão 4 - Os impasses da cultura brasileira entre os movimentos de cosmopolitismo e nacionalismo, ou seja, de diálogo com as culturas estrangeiras e tentativas de fixação de nossa cultura, são alvos de questionamento no Manifesto Antropófago (1928). O poeta Oswald de Andrade propõe uma nova relação nas trocas culturais, subvertendo o papel periférico ocupado pelo Brasil. Explique esta quebra de paradigma a partir do poema “Erro de Português”.
Erro de Português
Quando o português chegou 
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de Sol
O índio tinha despido
O português.
ANDRADE, Oswald. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
Gabarito
Questão 1.
João do Rio foi um cronista atento às mudanças ocorridas na Primeira República. Ao mesmo tempo que representava a modernização do espaço urbano (marcadamente influenciado pela arquitetura francesa), também esteve atento às consequências dessa modernização: a exclusão das classes mais baixas do ambiente público e a alienação da elite, sempre desejosa por mais prazeres.
No fragmento acima, é visível a presença de elementos elitistas na configuração do espaço: há um terraço que se constrói como um espaço de pessoas ricas e de paisagem límpida, com uma vista admirável, “dominando um lindo sítio da praia do Russel — as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que tinha luminosidades polidas de faiança persa”, ou seja, avenidas construídas após a reforma de Pereira Passos. A presença de elementos franceses se dá pela presença do divã e pela mesa de baccarat, jogo de origem francesa, além do vocabulário “em francês” utilizado pelo escritor. Percebe-se que a presença de nativos pobres não é aceita neste terraço idílico, visto que, mesmo os criados, não aparentam ser do Brasil, o que constituiria um ambiente cosmopolita, estruturado para não denotar nenhuma influência brasileira.
Questão 2
O Modernismo foi um movimento que, no Brasil, tentou dar paridade entre a produção artística nacional e as vanguardas europeias. Sabe-se que o beletrismo e o apego à tradição clássica, presentes no Parnasianismo, afastaram a literatura e os seus cultores dos problemas nacionais, desprezando a dimensão social do literário. O poema “Os sapos” faz uma crítica ao teor cerebrino do Parnasianismo e do Penumbrismo, que se distanciavam das necessidades advindas com a modernização crescente do Brasil. É notável no poema a comparação dos poetas parnasianosaos sapos, cada qual querendo ser mais ilustre que o outro e se orgulhando de suas “proezas” poéticas . Assim, o Modernismo tinha como objetivo captar o nacional pelo viés das vanguardas e da modernidade..
Questão 3 	
O Modernismo foi um movimento de renovação das artes brasileiras. Por um lado, os escritores procuraram atualizar a nossa produção literária, sintonizando-a com os movimentos das vanguardas europeias dos anos 1920. Essas renovações se deram no campo estético de forma a não serem mais aceitos parâmetros inflexíveis. A experimentação e a renovação tornam-se uma constante.
Por outro lado, o Modernismo no Brasil também fez um mergulho na história e na cultura brasileira, dando voz a cultura popular em consonância com a experimentação artística da época. 
Os romance Macunaíma congrega estes ideais no momento em que se abre para a experimentação estética (com uso de uma linguagem mais local, “da terra”) e demonstra as complexidades do ser brasileiro: suas idiossincrasias, suas crenças e lendas. 
O romance de Mário tem como personagem um ser totalmente brasileiro e, como tal, com uma trajetória que exalta a cultura popular, mesmo que incapaz de seguir algum projeto a longo prazo.
4- Resposta: Oswald de Andrade propõe que a força da cultura brasileira deve residir na capacidade de assimilação crítica de outras culturas, abandonando uma postura subserviente. Deste modo, ao lermos o poema “Erro de Português” observamos a inversão proposta pelo projeto antropófago. O título do poema traz uma dupla leitura: o erro de português remete tanto ao lugar comum de que o brasileiro não sabe falar a língua lusitana e promove a desautomatização desse preconceito ao valorizar a cultura nativa, propondo que a adoção dos hábitos indígenas teria sido mais interessante e que assimilar o padrão europeu foi um erro. Deste modo, conjuga-se no poema a valorização da figura indígena pré-idealização romântica e a expressão da alegria, através do humor, como originalidade dessa nova literatura.

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