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Artefatos têm política?

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FURB – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BLUMENAU
CCSA – Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Secretariado Executivo Bilíngue
Disciplina: Desafios Sociais Contemporâneos
Professor: Rafael Bennertz
Acadêmicas: Ana Beatriz P. M. Dal’Colli, Camila R. Felippi,
Jaqueline de Souza e Paula G. Soares
Blumenau, 06 de maio de 2016
ARTEFATOS TEM POLÍTICA?
2. No início do seu texto, Winner afirma que “é raro que surja uma nova invenção e que alguém não a proclame como a salvação de uma sociedade livre.” Você conhece alguma inovação que foi ‘propagandeada’ como capaz de solucionar vários problemas sociais e técnicos, mas cujas promessas não foram cem por cento cumpridas?
A Pílula do Câncer, fosfoetanolamina sintética, é uma substância que foi desenvolvida por Gilberto Chierice, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). Chierice afirma que a substância atua em diferentes tipos de câncer como uma forma de fazer o organismo identificar as células cancerígenas e eliminá-las como forma de defesa. Durante mais de 20 anos, a “fosfo” foi distribuída para pessoas através da Universidade, até que em junho de 2014 o Instituto de Química de São Carlos parou de distribuir o medicamento. A partir dali, várias pessoas passaram a procurar a Justiça para que o produto fosse liberado. 
“A fosfoetanolamina é um composto orgânico, presente no organismo de diversos mamíferos, que ajuda a formar as membranas celulares e possui ainda função sinalizadora, informando ao organismo processos e situações atravessadas pelas células.” (PAIVA, 2016). Em 2016 vários testes in vitro (testes realizados em vidro) foram realizados e apontaram pouca eficiência no tratamento do câncer. Internautas e diversos profissionais afirmam que os testes só funcionarão a partir do momento em que forem realizados in vivo (com organismos vivos). 
DEPOIMENTOS (via SOUZA): “Com muito prazer relato que fui curada com a fosfoetanolamina. Tive câncer de intestino. Cólicas terríveis, já evacuando sangue. Com 3 meses de tratamento não tinha mais cólicas. Em 8 meses o tumor tinha necrosado e começou a se desfazer”. (Maria Alexandrina Santos Clemente)
“Faço o acompanhamento de um senhor aqui na minha cidade, acontece que ele foi diagnosticado com CA no pâncreas há 1 ano atrás e faz o uso da fosfo desde que descobriu a doença, os médicos disseram que ele só tinha dois meses de vida, e hoje sua esposa me ligou muito emocionada, pois ele precisou passar por uma cirurgia para retirar um aparelho que colocaram nele... Ela disse que realizaram todos os exames, e que o câncer tinha “secado”. (Pompéia Prestes)
“Moro na Alemanha, sou paraplégica e em junho/2015 fui diagnosticada com câncer de ovário estágio IIIB (...). Recebi doação da fosfo da USP, usei do dia 09/08 até 14/10 e para total espanto dos médicos daqui, o tumor regrediu 3cm e eu me sentia melhor do que nunca. (...) Infelizmente não tive mais como receber a fosfoetanolamina e ao que os últimos exames mostraram o tumor voltou a crescer. (Simone Weber)
11. O que você acha da afirmação, que Winner atribui à Engels, de que uma autoridade forte é uma condição necessária à indústria moderna?
Existem dois pontos a serem considerados pela necessidade de uma autoridade forte. O primeiro caso é dentro de uma grande indústria com alto número de empregados que trabalham durante diferentes turnos em máquinas que exigem supervisão durante o tempo todo. Neste contexto é necessário uma autoridade forte para supervisionar os empregados que estão monitorando as máquinas, como é o caso dos supervisores dentro das empresas. “Está sob as responsabilidades de um Supervisor de Produção analisar criticamente a desempenho da área de produção, monitorando, garantindo seu desempenho, disponibilidade e confiabilidade.” (INFOJOBS, 2016).
Já em empresas como, por exemplo, de publicidade, permitem demandas mais flexíveis. Cargos que remetem à criatividade geralmente necessitam de um espaço mais aberto, opiniões diferentes e visões amplas. Ou seja, se existir uma autoridade forte tomando decisões rígidas centralizadas se correrá o risco de afetar o bom desempenho do funcionário que deve instigar sua capacidade criadora. 
Existem, porém, limites para que esse sistema mais flexível realmente funcione e que mantenha ou, ainda, aumente a produtividade dos funcionários. Empresas mais informais, com funcionários mais jovens, adotam com tranquilidade esse modelo. Já as empresas com uma cultura mais formal não sentem essa necessidade e trabalham com outros diferenciais, conforme a demanda de seus funcionários. (FARAH, 2014).
Desta forma, a necessidade de uma autoridade forte dependerá das condições de trabalho e em alguns casos, do tipo de atividade que os empregados fazem. Isso não significa que uma empresa de publicidade não terá um chefe dando ordens, mas é mais flexível se comparado à produção em grande escala.
No mundo atual os trabalhadores estão vivendo em uma alienação, na qual suas atividades no trabalho não permitem criar visões mais amplas. Uma solução seria promover a solidariedade entre as pessoas a partir da motivação, porém se tudo continuar como está, em meio de autoridades e mecanização, os trabalhadores continuarão desmotivados e alienados. 
14. Quais são os riscos que assumimos quando apoiamos a ideia de que a mesma democracia que não funciona na firma não serve para gerir os interesses da nação ou do estado? Isso tem alguma coisa a ver com ciência e tecnologia?
O Congresso Nacional é formado pela Câmara dos Deputados e o Senado Federal. De acordo com a Constituição Federal, a Câmara dos Deputados se compõe de representantes do povo, e o Senado Federal se compõe de representantes dos Estados e do Distrito Federal. Ou seja, a Constituição deveria ser favorável para todos os brasileiros (pessoas e governos).
No caso do Brasil essa não é a realidade. O povo não tem participação nas decisões tomadas na política. Os deputados que deveriam representar os interesses do povo, na verdade só representam seus próprios interesses (politicamente e economicamente mais viável para si próprios). Mesmo havendo a alternância de poderes através do voto livre, a administração pública não acontece de forma correta. A administração pública na prática é rodeada de políticos que representam a classe da elite e que não levam em conta as necessidades do povo, somente em época de eleições para obterem os seus votos (nada democrático). 
Buscamos pela democracia para que o cidadão tenha liberdade em um governo que busque atender as necessidades da sociedade – o que de fato não funciona. “A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente”. (SHAW apud RIBEIRO, 2014). Estamos vivendo em nosso país um autoritarismo disfarçado de democracia. 
De acordo com CUADRA (2014), a partir do momento em que os valores e mecanismos reciprocamente compartilhados dentro da própria esfera democrática adquirem um “descomedimento”, ou seja, se tornam excessivos e distorcidos, passam a ocorrer riscos. Outro problema é quando ocorre a “perda do equilíbrio que deveria existir entre o poder consagrado ao povo e a liberdade dos indivíduos.” (TODOROV apud CUADRA, 2014). A liberdade individual é fundamental na democracia, mas se torna uma ameaça quando torna a vontade do indivíduo acima da coletividade. Segundo TODOROV (apud CUADRA, 2014), "a liberdade torna-se tirania, o povo se transforma em massa manipulável, o desejo de promover o progresso se converte em espírito de cruzada. A economia, o Estado e o direito deixam de ser meios destinados ao florescimento de todos e participam agora de um processo de desumanização".
De fato, o povo não escolhe os políticos que irão representa-los, mas são obrigados a validar uma lista de possibilidades de representantes (cujos buscam seu interesse financeiro). Em 2014 ocorreram as eleições presidenciais no Brasil, colocando a oposição lado a lado. Após os resultados serem divulgados, os Petistas comemoraram sua vitória, enquanto outra parte do país lamentava. Ao longo do mandato, essa “outraparte” passou a se rebelar contra os acontecimentos na economia brasileira. Nas mídias sociais, principalmente no Facebook, movimentos como “Vem pra rua” foram criados, convidando pessoas a participarem de passeatas contra o governo pedindo o impeachment da presente. 
A questão é, em uma sociedade comprometida com a democracia e que se recusa se enveredar pelas trevas de uma guerra ou de um golpe, o que fortalece mais (ou enfraquece menos) as instituições democráticas: tolerar e sofrer as consequências de suas próprias escolhas democráticas, ou rever tais escolhas? Democracia é uma maratona e nessa maratona sentimos uma dor, é melhor pararmos para evitar um dano maior ou é melhor continuarmos porque caso contrário nunca correremos a distância total? (FOLHA UOL, 2015).
A professora de direito Maira Mano (2016) acredita que “há um ódio à democracia – não como os generais, pior, pois é o sentimento maquiado sob os traços de direito.” Os protestos que estão ocorrendo nas ruas podem vir a dar sentido à invenção democrática, mas ao mesmo tempo podem se transformar em fragilidades, fracassos e contradições de um tipo de Estado que em um prazo curto justifique o sufocamento das liberdades, explica MANO (2016).
Em Blumenau ocorreu o plano de mobilidade da cidade. A prefeitura passou a verificar dados para a licitação do novo transporte público, e ao invés dos políticos ouvirem a opinião do povo, principalmente daqueles que utilizam o transporte, quem opinou foram os “representantes” de associações como ACIB, CDL e AMPE. Desta maneira criamos uma cultura de políticas e práticas, e a população deixa de ser ouvida de verdade.
A tecnologia permite a divulgação de informações para o povo e muitas vezes da maneira que não deveria ser – através da manipulação. Assim como também permite o conhecimento de tudo o que acontece ao redor do mundo. O maior risco que se pode correr, será se a sociedade desistir de lutar por seus direitos e de buscar pela verdadeira democracia brasileira. 
17. “As consequências sociais de construir sistemas de energia renovável certamente dependerão das específicas configurações tanto de hardware como das instituições sociais criadas para nos trazer esta energia. Pode ser que encontremos maneiras de transformar essa “bolsa de seda” numa “orelha de porco”. Esta frase me lembrou muito todo o debate em torno do Proálcool, que prometia acabar com o latifúndio através da construção de micro destilarias de etanol. Mas no entanto, a história nos mostrou que o arranjo econômico do setor sucro-alcooleiro foi forte o suficiente para tornar as micro destilarias ineficientes, excluindo-as dos projetos do governo na instalação e ordenação do Proálcool. Você conhece outro caso de uma tecnologia (dê preferência, dentro da sua área de atuação) altamente compatível com propostas mais democráticas e flexíveis que, no entanto, quando implementadas tiveram suas características democráticas deturpadas?
Uma tecnologia com propostas mais democráticas e flexíveis dentro de uma empresa de grande porte é a máquina para bater ponto. É mais democrático para os funcionários, porque a máquina permite tornar justa a remuneração da carga horária. Não seria justo se o funcionário que chegou uma hora atrasado ganhasse o mesmo que o funcionário que chegou no horário correto. Em algumas empresas, o funcionário que, por exemplo, precisará sair uma hora mais cedo para ir ao médico, poderá utilizar o banco de horas, ou repor este tempo em outro momento, de acordo com a política da empresa. É mais flexível também para o RH e as gerências para ter controle dos horários que os funcionários entram e saem da empresa. 
Porém, nem sempre esse sistema funciona corretamente. Muitas empresas encontram problemas com o sistema operacional da máquina. Alguns desses aparelhos não são integrados com o sistema da empresa, fazendo com que o RH necessite lançar manualmente os horários de cada funcionário para o fechamento da folha de pagamento. Em outros casos, a própria comunicação da máquina falha e acaba não registrando a entrada/saída do funcionário, fazendo com que seja necessário guardar todos os comprovantes do mês para se eventualmente necessite provar alguma coisa. Também existem casos do próprio RH alterar o horário de algum funcionário para que ele saia mais cedo, por exemplo, sem que essa “falta” fique registrada. 
18. Com base na leitura do texto, comente a seguinte afirmação: “nesses nossos tempos, as pessoas estão frequentemente dispostas a fazer mudanças drásticas na forma em que vivem para acomodar inovações tecnológicas enquanto ao mesmo tempo resistem a mudanças similares no terreno político”.
Pode ser simples ensinar uma criança a mexer em um aparato eletrônico como um celular ou um tablete. Provavelmente ela irá desenvolver técnicas rapidamente para acessar os diversos tipos de jogos. Da mesma forma será com um adolescente ou com adultos que já tenham alguma noção de tantas formas tecnológicas. Porém, não será tão fácil para uma pessoa mais velha que nunca sequer mexeu em um computador, usar um celular “touch”. É claro que com persistência e treino, as pessoas – mesmo com idade avançada – aprendem a utilizar as tecnologias. Hoje em dia diversas vovós estão utilizando o facebook para conversar com a família, pesquisas receitas, assistir vídeos, etc – realidade que vêm mudando e crescendo a cada dia. A modernidade faz com que o número de usuários conectados ao mundo se desenvolva cada vez mais. 
A situação não é a mesma quando se fala de política. Principalmente no Brasil, temos o costume de acreditar profundamente que não podemos discutir religião, política e nem futebol. Essa frase repetitiva fez a maioria de nós acreditarmos que não devemos tocar nestes assuntos caso houver opiniões contrárias – e quando isso acontece geralmente termina em discussões. As pessoas têm medo de terem suas ideias rejeitadas e também têm dificuldade em aceitar os pontos de vistas opostos, mas afinal de contas, debater ideias não significa julgar mal a opinião do outro.
Saímos do silêncio da ditadura, passamos por uma fase de transição e com a democracia plenamente estabelecida estamos conquistando um nível de politização importante que nos faz cidadãos mais atuantes e participativos, antenados com os problemas do país. Mas o que temos visto nas redes sociais e em grupos de amigos são verdadeiros rachas de ideias e posicionamentos que têm culminado em brigas e até em rompimentos de amizade. Eis aí um bom exemplo da confusão que se instala entre discutir ideias e discutir pessoas. Ora, se não conseguimos silenciar porque o tema é sedutor, porque temos cada um nossas convicções e desejamos partilhá-las e chegamos à conclusão que política se discute também, como alcançar a serenidade num embate de ideias sem partir para ofensas ou sem desqualificar seu interlocutor? (LIMA, 2016)
O fato é que a maioria de nós pouco sabe sobre política e todas as notícias que envolvem a área. Não temos conhecimento o suficiente para discutir com ideias para desenvolver um ponto de vista construtivo. Vivemos em uma cultura de não se envolver com a política, de pensar que tudo está errado e que não adianta saber como as coisas acontecem de verdade. Tomar uma iniciativa para se inteirar dos acontecimentos, não só do país, mas dentro da própria comunidade, e dar uma opinião para implantar eventuais mudanças não é tão simples. Isso porque os resultados que a participação de cada um, seja em seu condomínio, bairro, cidade ou país demoram para aparecer. Diferente de aprender a mexer em um tablete: você aprende e o resultado já está ali! E pelo fato de seremos pessoas mais inteiradas na política demandar mais tempo e esforço, resistir a tudo se torna muito mais fácil. 
Ninguém irá entender de política sozinho e formar uma opinião adequada sem outros fatores. O ideal seria ler notícias na internet, nos jornais, ou assistir televisão. Assim como também participar das assembleias do condomínio, das reuniões do colegiado da faculdade, das reuniões do bairro,eventos da prefeitura, etc. Devemos ser menos acomodados e nos tornarmos cidadãos ativos, mesmo que os resultados demorem mais para aparecer! 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUADRA, Fernando M. de la. Os riscos da democracia no mundo contemporâneo. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21862014000100215>. Acesso em: 01 abr. 2016
FARAH, Carolina P. Flexibilidade no ambiente de trabalho: vantagens e limites. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Salario_Beneficio/Artigo/9212/flexibili dade-no-ambiente -de-trabalho-vantagens-e-limites.html#>. Acesso em: 31 mar. 2016
FOLHA UOL. Impeachment fortalece o enfraquece a democracia? Disponível em: < http://direito.folha.uol.com.br/blog/impeachment-fortalece-ou-enfraquece-a-democracia >. Acesso em: 01 abr. 2016
INFOJOBS. Supervisor de Produção. Disponível em: <http://www.infojobs.com.br/artigos/Supervisor_de_Produ%C3%A7%C3%A3o__2145.aspx>. Acesso em: 31 mar. 2016
LIMA, Celia. Futebol, política e religião se discutem? Disponível em: <http://www.personare.com.br/futebol-politica-e-religiao-se-discutem-m5151>. Acesso em: 28 abr. 2016
MANO, Maira K. Os fins justificam os meios no Estado Democrático de Direito? Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/no-estado-democratico-de-direito-os-fins-justificam-os-meios>. Acesso em: 01 abr. 2016
PAIVA, Vitor. Fosfoetanolamina: a droga brasileira que promete curar o câncer. Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2016/01/fosfoetanolamina-a-droga-brasileira-que-promete-curar-o-cancer/>. Acesso em: 31 mar. 2016
RIBEIRO, Fábio P. Democracia? Disponível em: < http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/brasil-no-mundo/2014/07/23/democracia/>. Acesso em: 31 mar. 2016
SOUZA, Cleibson. 30 depoimentos de pessoas que foram curadas com a fosfoetanolamina. Disponível em: <http://cleibsondesouza.blogspot.com.br/2015/11/ 30-depoimentos-de-pessoas-que-foram.html>. Acesso em: 31 mar. 2016

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