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Daniele Longo TENÍASE E CISTICERCOSE 1 Didaticamente, a teníase e a cisticercose são duas entidades mórbidas distintas, causadas pela mesma espécie, porém com fase de vida diferente. A teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da T. saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo, os humanos; já a cisticercose é a alteração provocada pela presença da larva (vulgarmente denominada canjiquinha) nos tecidos de hospedeiros intermediários normais, respectivamente suínos e bovinos. MORFOLOGIA: Verme adulto: A T saginata e T solium apresentam corpo achatado, dorsoventralmente em forma de fita, dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo. São de cor branca leitosa com a extremidade anterior bastante afilada de difícil visualização. Escólex: situada na extremidade anterior, funcionando como órgão de fixação do cestódeo à mucosa do intestino delgado humano. Apresenta quatro ventosas formadas de tecido muscular, arredondadas e proeminentes. A T solium possui o escólex globuloso com um rostelo ou rostro situado em posição central, entre as ventosas, armado com dupla fileira de acúleos. A T. saginata tem o escólex inerme, sem rostelo e acúleos. Colo: porção mais delgada do corpo onde as células do parênquima estão em intensa atividade de multiplicação, é a zona de crescimento do parasito ou de formação das proglotes. Estróbilo: é o restante do corpo do parasito. Inicia-se logo após o colo, observando-se diferenciação tissular Daniele Longo TENÍASE E CISTICERCOSE 2 que permite o reconhecimento de órgãos internos, ou da segmentação do estróbilo. Cada segmento formado denomina-se proglote ou anel. Quanto mais afastado do escólex, mais evoluídas são as proglotes. As proglotes são subdivididas em jovens, maduras e grávidas e têm a sua individualidade reprodutiva e alimentar. As jovens são mais curtas do que largas e já apresentam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos que se formam mais rapidamente que os femininos. A proglote madura possui os órgãos reprodutores completos e aptos para a fecundação. As situadas mais distantes do escólex, as proglotes grávidas, são mais compridas do que largas e internamente os órgãos reprodutores vão sofrendo involução enquanto o útero se ramifica cada vez mais, ficando repleto de ovos. OVOS: esféricos, morfologicamente indistinguíveis. São constituídos por uma casca protetora, embrióforo, que é formado por blocos piramidais de quitina unidos entre si por uma substância provavelmente protéica) cementante que lhe confere resistência no ambiente. Internamente, encontra-se o embrião hexacanto ou oncosfera, provido de três pares de acúleos e dupla membrana. CISTICERCO: o cisticerco da T solium é constituído de uma vesícula translúcida com líquido claro, contendo invaginado no seu interior um escólex com quatro ventosas, rostelo e colo. O cisticerco da T saginata apresenta a mesma morfologia diferindo apenas pela ausência do rostelo. A parede da vesícula dos cisticercos é composta por três membranas: cuticular ou externa, uma celular ou intermediária e uma reticular ou interna. No sistema nervoso central humano, o cisticerco pode se manter viável por vários anos. Daniele Longo TENÍASE E CISTICERCOSE 3 HABITAT: Tanto a T solium como a T saginata, na fase adulta ou reprodutiva, vivem no intestino delgado humano; já o cisticerco da T solium é encontrado no tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e no olho de suínos e acidentalmente em humanos e cães. O cisticerco da T saginata é encontrado nos tecidos dos bovinos. CICLO BIOLOGICO: Os humanos parasitados eliminam as proglotes grávidas cheias de ovos para o exterior. No ambiente úmido e protegido de luz solar intensa os ovos têm grande longevidade mantendo-se infectantes por meses. Um hospedeiro intermediário próprio (suíno para T. solium e bovino para T saginata) ingere os ovos, e os embrióforos (casca de ovo) no estômago sofrem a ação da pepsina. No intestino, as oncosferas sofrem a ação dos sais biliares. Uma vez ativadas, as oncosferas liberam-se do embrióforo e movimentam-se no sentido da vilosidade, onde penetram com auxílio dos acúleos. Permanecem nesse local durante cerca de quatro dias para adaptarem-se as condições fisiológicas do novo hospedeiro. Em seguida, penetram nas vênulas e atingem as veias e os linfáticos mesentéricos. Através da acorrente circulatória, são transportadas por via sanguínea a todos os órgãos e tecidos do organismo até atingirem o local de implantação por bloqueio do capilar. Posteriormente, atravessam a parede do vaso, instalando-se nos tecidos circunvizinhos. As oncosferas desenvolvem-se para cisticercos em qualquer tecido mole (pele, músculos esqueléticos e cardíacos, olhos, cérebro etc.), mas preferem os músculos de maior movimentação e com maior oxigenação (masseter, língua, coração e cérebro). A infecção humana ocorre pela ingestão de carne crua ou malcozida de porco ou de boi infectado. O cisticerco ingerido sofre a ação do suco gástrico, evagina-se e fixa-se, através do escólex, na mucosa do intestino delgado, transformando-se em uma tênia adulta. Três meses após a ingestão do cisticerco, inicia-se a eliminação de proglotes grávidas. TRANSMISSAO: Teníase: o hospedeiro definitivo (humanos) infecta-se ao ingerir carne suína ou bovina, crua ou malcozida, infetada, respectivamente, pelo cisticerco de cada espécie de Taenia. A cisticercose humana é adquirida pela ingestão acidental de ovos viáveis da T solium que foram eliminados nas fezes de portadores de teníase. Autoinfecção externa: ocorre em portadores de T solium quando eliminam proglotes e Daniele Longo TENÍASE E CISTICERCOSE 4 ovos de sua própria tênia levando-os a boca pelas mãos contaminadas ou pela coprofagia. Autoinfecção interna: poderá ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, possibilitando presença de proglotes grávidas ou ovos de T solium no estômago. Estes depois da ação do suco gástrico e posterior ativação das oncosferas voltariam ao intestino delgado, desenvolvendo o ciclo auto-infectante. Heteroinfecção: ocorre quando os humanos ingerem alimentos ou água contaminados com os ovos da T solium disseminados no ambiente através das dejeções de outro paciente. PATOGENIA – teníase: Devido ao longo período em que a T. solium ou T. saginata parasita o homem, elas podem causar fenômenos tóxicos alérgicos, através de substâncias excretadas, provocar hemorragias através da fixação na mucosa, destruir o epitélio e produzir inflamação com infiltrado celular com hipo ou hipersecreção de muco. Tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do abdômen, dores de vários graus de intensidade em diferentes regiões do abdômen e perda de peso são alguns dos sintomas observados em decorrência da infecção. Obstrução intestinal provocada pelo estróbilo, ou ainda a penetração de uma proglote no apêndice, apesar de raras, já foram relatadas. DIAGNOSTICO: o diagnostico parasitológico é feito pela pesquisa de proglotes e, mais raramente, de ovos de tênia nas fezes pelos métodos rotineiros ou pelo método da fita gomada. Para o diagnóstico específico, há necessidade de se fazer a "tamização" (lavagem em peneira fina) de todo o bolo fecal, recolher as proglotes existentes e identifica-las pela morfologia da ramificação uterina. O diagnóstico laboratorialtem como base a pesquisa do parasito, através de observações anatomopatológicas das biopsias, necropsias e cirurgias. O cisticerco pode ser identificado por meio direto, através do exame oftalmoscópico de fundo de olho ou ainda pela presença de nódulos subcutâneos no exame físico. O teste imunoenzimático (ELISA) passou a ser recomendado após a melhora na qualidade e preparo de antígenos. EPIDEMIOLOGIA: As tênias são encontradas em todas as partes do mundo em que a população tem o hábito de comer carne de porco ou de boi, crua ou malcozida. PROFILAXIA: Sendo o porco coprófago por natureza, medidas de controle dirigidas no sentido de impedir o contato destes animais com fezes do único hospedeiro definitivo (os humanos) são extremamente desejáveis. O parasito possui várias características que parecem torna-lo passível de erradicação: o ciclo biológico requer seres humanos como hospedeiros definitivos; infecções por tênias em seres humanos são a única fonte de infecção para bovinos e suínos, e, inexistência de reservatórios para a infecção na natureza. Logo, os programas de intervenção dos órgãos de saúde devem ser direcionados ao tratamento dos portadores de teníase, a construção de redes de esgoto ou fossas sépticas, ao tratamento de esgotos, para não contaminarem rios que fornecem águas aos animais; a educação em saúde; ao incentivo e apoio de modernização da suinocultura, ao combate ao abate clandestino e a inspeção rigorosa em abatedouros e sequestro de carcaças parasitadas. Mas as medidas definitivas que permitem a profilaxia desses parasitos são: impedir o acesso do suíno e do bovino as fezes humanas; melhoramento do sistema dos serviços de água, esgoto ou fossa; tratamento em massa dos casos humanos nas populações- alvo; instituir um serviço regular de educação em saúde, envolvendo as professoras primárias e líderes comunitários; orientar a população a não comer carne crua ou mal- Daniele Longo TENÍASE E CISTICERCOSE 5 cozida; estimular a melhoria do sistema de criação de animais; inspeção rigorosa da carne e fiscalização dos matadouros. TRATAMENTO: As drogas mais recomendadas para o tratamento da teníase por Taenia solium ou por saginata são a niclosamida ou o praziquantel. A niclosamida atua no sistema nervoso da tênia, levando a imobilização da mesma, facilitando a sua eliminação com as fezes. O praziquantel não deve ser empregado para o tratamento da teníase em pacientes com as duas formas da doença, ou seja, a teníase e a cisticercose. Cisticercose Larvas Cysticercus cellulosae (T. solium) nos tecidos do homem. Maior ocorrência: África, Ásia e Américas. MANIFESTACOES: número, tamanho, localização, fase evolutiva e reação do tecido hospedeiro. FASES EVOLUTIVAS DAS LARVAS: estágio vesicular - membrana delgada, líquido translúcido, escolex normal; estágio coloidal – líquido turvo, escolex em degeneração; estágio granular – membrana espessa, líquido (Ca2+), escolex granulado; estagio granular calcificado – tamanho reduzido; Cysticercus racemosus - inviável. ACAO PATOGENICA: compressão mecânica e desorganização do tecido – obstruções SNC; processo inflamatório - necrose, fibrose - membrana adventícia; ação tóxica e irritativa – produtos parasitários; reação granulomatosa. Daniele Longo TENÍASE E CISTICERCOSE 6 DIAGNOSTICO: clínico: anamnese do paciente procedência do indivíduo, hábitos alimentares, presença de teníase → EPF; neurocisticercose diagnóstico diferencial com distúrbios psiquiátricos e neurológicos (epilepsias, tumores, etc.); laboratorial: testes imunológicos: Elisa, imunofluorescência anatomopatológico: biópsia de tecidos identificação da larva); por imagem: raios X cisticercos calcificados. Tomografia computadorizada. PROFILAXIA: Saneamento básico, redes de esgotos, tratamento do esgoto; educação sanitária não adubação do solo com fezes humanas; cuidado e proteção dos alimentos; higiene pessoal; diagnóstico dos indivíduos parasitados e tratamento; criação de suínos em boas condições higiênicas; inspeção sanitária de matadouros.
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