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RESUMO DE ABDOME AGUDO

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ABDOME AGUDO = sinais e sintomas de dor e sensibilidade abdominal aguda, de intensidade variada, associada ou não 
a outros sintomas. Geralmente com duração de horas a 4 dias, não ultrapassando 7 dias. Num geral, a dor abd é causada 
pela distensão de uma víscera oca. A febre, quando presente, geralmente é baixa, pois há o bloqueio intra abd do 
processo inflamatório. 
O diagnostico de apendicite é mais comum em jovens, enquanto a doença biliar, a obstrução intestinal, a isquemia e o 
infarto intestinal e a diverticulite são mais comuns em pacientes idosos. 
 
 Abdome agudo inflamatório = dor de inicio insidioso, com agravamento e localização com o tempo. O paciente 
apresenta sinais sistêmicos, como febre e taquicardia. As doenças mais comuns são: apendicite aguda, colecistite 
aguda, diverticulite aguda e pancreatite. 
 Abdome agudo perfurativo = dor súbita e intensa, com defesa abdominal e irritação peritoneal. Há derrame do 
conteúdo de víscera oca no peritoneo, geralmente secundário a ulcera gastroduodenal, diverticulite e neoplasias 
 Abdome agudo obstrutivo = dor em cólica, geralmente periumbilical, que geralmente esta associada a náuseas, 
vômitos, distensão abdominal, parada na eliminação de flatos e fezes. Acontece na oclusao mecânica por bridas, 
hérnias, neoplasias e invaginação (mecânica e funcional). 
Para tentar identificar a causa do abd agudo é necessário investigar alguns pontos que podem nos auxiliar: 
DURAÇÃO DA DOR: 
└ Mais de 6h ou aumenta = maior probabilidade cirúrgica 
└ Diminui ou cessa = menor probabilidade cirúrgica, mas não exclui a possibilidade 
LOCALIZAÇÃO DA DOR: 
└ Dor mal localizada = dor visceral (distensão, inflamação, isquemia) 
└ Dor bem localizada = dor parietal (peritonite / geralmente em um único quadrante) 
└ Dor referida 
COMO SE INICIA A DOR: 
└ Dor súbita = perfuração ou isquemia 
└ Dor progressiva = obstrução de delgado, inflamação 
CARACTERISTICAS DA DOR: 
└ Pacientes com inflamação peritoneal evitam qualquer movimento que estique ou empurre o abdome 
EXAMES laboratoriais solicitados: 
└ Hemograma completo (infecção? Anemia?) 
└ Glicemia (esta aumentada na inflamação da infecção aguda e diminuída na inflamação da infecção crônica, por 
consumo) 
└ Ureia e creatinina em quadros mais crônicos ou possível desidratação 
└ Amilase e lipase na suspeita de pancreatite 
└ Eletrólitos se desidratado 
ROTINA RADIOLOGICA DE ABD AGUDO: 
└ RX de tórax em PA 
└ RX de abd em decúbito dorsal 
└ RX de abd em posição ortostática 
DIVERTICULOSE INTESTINAL – os divertículos podem ser congênitos (herniações de todas as camadas da parede cólica) ou 
adquiridos (pseudodivertículos, herniação somente da mucosa pela camada muscular, em pontos de menor resistência, 
como o local da entrada das artérias retas colonicas) 
 DIVERTICULOSE DO DELGADO = Os locais mais acometidos são duodeno e jejuno (com exceção dos divertículos de 
Meckel). A maioria dos casos é assintomática. Os jejunais e ileais são causados provavelmente por disfunção motora 
do musculo liso, que resulta em aumento da pressão dentro do lúmen, causando o divertículo. 
 
Os DIVERTICULOS DE MECKEL são os mais frequentes congênitos. É causado pelo fechamento incompleto do saco 
vitelino (localizado no íleo) e pode variar de um pequeno abaulamento até uma projeção longa que se comunica com 
o umbigo. A manifestação habitual é um divertículo com uma boca relativamente larga, medindo cerca de 5cm de 
comprimento e com um diâmetro de mais de 2cm. 
As células que revestem o ducto vitelino são pluripotentes, por isso há tecido heterotopico dentro do divertículo, 
geralmente gástrico, que secreta HCl podendo causar úlcera e sangramento - anemia ferropriva inexplicada ou 
hemorragia digestiva baixa. 
A maioria é benigna e descoberta acidentalmente. 
 
 DIVERTICULOSE DO CÓLON = Os divertículos geralmente são múltiplos e predominam no sigmoide. Podem ser: 
└ Hipertônicos: causados pelo aumento da pressão dentro do cólon. 
└ Simples em massa: geralmente com divertículos distribuídos por todo o cólon, ocorre pela fraqueza da camada 
muscular pela alteração da composição das fibras colágenas. 
A maioria dos pacientes com diverticulose não complicada é assintomática, mas podem estar presentes dor ou 
desconforto abd em baixo ventre, algumas vezes associada à alteração do habito intestinal. 
- aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras 
- suplementação dietética de fibras: Metamucyl 
- aumentar ingestão hídrica TTO 
- antiespasmódicos / analgésicos. Não usar opiaceos pois aumentam a pressão no colon 
Duas complicações clássicas podem ocorrer: diverticulite (25%) e hemorragia digestiva baixa (15%). 
DIVERTICULITE AGUDA = É a perfuração de um divertículo, que ocorre pelo aprisionamento de uma artéria penetrante, o 
que aumenta a tração na estrutura diverticular, aumentando as chances de erosão da mucosa e rompimento da parede 
intestinal por causa mecânica, como trauma de um fecalito. 
Apesar de o curso ser normalmente benigno, a infecção e o processo inflamatório podem levar a: 
└ Microperfuraçãoes no divertículo, podendo gerar abcessos 
└ Macroperfurações que geram fístulas para órgãos adjacentes (ex colovesical) 
└ Peritonite generalizada pela abertura de um divertículo ou abcesso na cavidade peritoneal 
└ Obstrução por aumento da espessura da parede intestinal por inflamação repetida 
A diverticulite aguda não complicada tem quadro clínico semelhante a uma “apendicite do lado esquerdo” (QSD). Nos 
casos graves, se caracteriza por febre, leucocitose, dor abdominal baixa (sigmoide), que piora com a defecação e possui 
sinais de irritação peritoneal (defesa e dor à descompressão, podendo haver massa palpável. 
DG: TC de abd e pelve, que mostra sigmoide espessado e ate mesmo abcessos e fístulas. Clister opaco e da Endoscopia 
Digestiva Baixa na fase aguda pode levar a perfuração, devendo ser evitados. 
Conduta na diverticulite não complicada: 
 Pacientes com sintomas mínimos ou poucos sinais de inflamação: 
└ Tratados em domicilio 
└ Dieta liquida sem resíduos 
└ Antibioticoterapia oral de 7 a 10 dias com cipro + metro 
 Pacientes com sinais exuberantes de inflamação (febre, leucocitose com desvio, descompressão dolorosa em flanco e 
fossa ilíaca esquerda e região suprapúbica) 
└ Internação 
└ Dieta zero com repouso intestinal 
└ Hidratação venosa 
└ Antibioticoterapia parenteral (cefalosporina de 3ª + metro) 
└ Analgesia com Meperidina (relaxa musculatura lisa do colon) 
Conduta na diverticulite complicada: 
Baseada na escala de Hinchey: 
└ Estagio I: abcesso = interna + jejum + hidratação + antiespasmódicos + ATB + obs por 72h 
└ Estagio II: peritonite localizada ou abcesso à distancia = drenagem ou abordagem cirúrgica 
└ Estagio III: peritonite purulenta generalizada = cirurgia de Hartmann 
└ Estagio IV: peritonite fecal generalizada = cirurgia de Hartmann (colostomia terminal com fechamento do coto retal) 
Complicações: 
Obstrução intestinal por hipertrofia muscular ou pelo processo inflamatório – indica cirurgia 
Fístula colovesical, que gera pneumatúria, fecalúria e infecções recorrentes do trato urinário – TC com espessamento 
colonico + divertículos + ar na bexiga – indica cirurgia eletiva após controle do quadro infeccioso e preparo do sigmoide. 
Drenar a bexiga com um cateter de Foley. 
APENDICITE AGUDA = É a causa mais comum de abdome agudo não traumático. Ocorre mais comumente entre os 10 e 30 
anos de idade. 
O apêndice vermiforme é uma estrutura tubular, que tem origem na parede do ceco. Apresenta um mesoapendice (Prega 
peritoneal que liga o apêndice à parede posterior – fig1) onde encontramos a artéria e veia apendiculares. Embora sua 
base seja fixa, a pontado apêndice pode ser encontrada em diversas localizações (fig 2): anterior (pélvico ou pré-ileal), 
posterior (retrocecal – mais comum) ou retroileal, o que justifica as distintas manifestações clinicas. 
A apendicite ocorre quando há a obstrução do lumen apendicular, geralmente por um fecalito, o que evolui rapidamente 
para obstrução em alça fechada, com acúmulo de secreção luminal levando a estase e supercrescimento bacteriano. O 
aumento da pressão intraluminal e distensão do órgão comprometem o retorno venoso e suprimento arterial, levando à 
isquemia, que pode evoluir pra necrose e perfuração (fig 3). Todo esse processo ocorre em ate 48h. *o intestino delgado 
e o omento podem bloquear a perfuração do órgão formando um abcesso periapendicular , por isso é mais raro 
encontrarmos a perfuração livre para a cavidade, causando peritonite difusa com formação de múltiplos abcessos 
intraperitoneais. 
A dor, principal sintoma, é migratória: 
└ Na fase inicial, a distensão do órgão causa dor periumbilical ou epigástrica mal definida (dor visceral) 
└ Após 12h de evolução, a dor torna-se referida na fossa ilíaca direita – Ponto de McBurney 
└ Na fase tardia há dor BEM localizada no QID, intensa e acompanhada de descompressão dolorosa 
A dor pode vir acompanhada por alteração do habito intestinal (mais constipação), febre baixa, anorexia, náuseas e 
vômitos. Além da presença dos sinais:: 
. Blumberg: dor a descompressão no ponto de Mc Burney 
. Psoas: dor na elevação ou extensão da perna contra resistência 
. Obturador: dor em hipogástrico quando faz flexão e rotação externa da coxa direita 
. Rovsing: dor no Mc Burney quando comprime o abdome inferior esquerdo 
 
A perfuração pode ser bloqueada, com formação de abcesso periapendicular que gera desconforto em fossa ilíaca direita 
e possível massa palpável ou livre para o peritônio, com peritonite generalizada, dor difusa de grande intensidade, abd 
em tábua (rigidez generalizada), febre alta e pode evoluir para sepse. 
APENDICITE CRONICA OU RECORRENTE = É representada por surtos de dor abd em FID, recorrentes, sem presença de 
irritação peritoneal, causados pela obstrução parcial intermitente da luz apendicular. 
Critérios diagnósticos: 
└ Historia de mais de um mês de ataques recorrentes (3 ou mais) de dor abd em QID 
└ Sensibilidade à palpação em QID sem evidencias de irritação peritoneal 
└ Achados radiológicos que variam de preenchimento incompleto ate a não visualização do apêndice após 24h do 
uso do contraste 
Nos casos duvidosos, os exames de imagem podem ajudar, sendo indicada a US → apêndice não compressível, presença 
de apendicolito, massa ou liquido periapendicular. 
O tratamento consiste em reposição volêmica, ATB (aminoglicosídeo + metronidazol + ampicilina) e apendicectomia. 
OBSTRUÇÃO INTESTINAL = Ocorre sempre que o conteúdo do intestino é impedido de progredir de forma habitual. A 
obstrução do intestino delgado é a mais comum, podendo acometer qualquer faixa etária. As causas mais comuns de 
obstrução intestinal de tto cirúrgico são as aderências, seguidas de hérnias, tumores, volvos, divertículo de Meckel, dentre 
outras. 
As Bridas/aderências são decorrentes de manipulações cirúrgicas prévias, podendo obstruir a alça intestinal. 
Nessa obstrução sem sofrimento de alça, há distensão com acúmulo de líquido e gás, com posterior proliferação 
bacteriana, o que acentua tanto a produção de gás como a distensão (extravasamento de líquido), contribuindo para os 
sinais sistêmicos de resposta inflamatória. A presença de vômitos contribui para a desidratação e hipovolemia que 
acompanham o quadro. 
Já no Volvo, o intestino gira sobre si mesmo, provocando angulação e obstrução da alça fechada, levando ao 
comprometimento da vasculatura naquele segmento precocemente, o que se associa à trombose das veias da parede das 
alças, com intenso extravasamento de plasma e sangue. Pode acarretar hipovolemia e choque. O segmento gangrenado 
pode sangrar para o lúmen e para a cavidade peritoneal, podendo levar à perfuração e peritonite. Se os produtos da 
degradação da parede, da proliferação bacteriana e da coagulação chegarem a corrente sanguínea, instala-se toxemia e 
sepse. Pode ser feita a descompressão com a colocação de um tubo retal por meio de um protoscopio, proporcionando 
um jato súbito de gás e liquido, com uma redução na distensão abdominal. O tubo retal deve ser fixado na coxa e deixado 
no local por dois dias, o que permitira a descompressão continua e prevenirá a recorrência imediata do volvo. Se estiver 
estrangulada faz laparotomia (Hartmann). 
 
Quadro clínico / Ex. Físico: 
- Cólica intestinal demonstra esforço das alças para vencer a obstrução 
- Dor visceral localizada em região periumbilical 
- Os vômitos surgem após crise de dor e são progressivos, na tentativa de aliviar a distensão das alças. 
Obstrução alta → amarelo-esverdeados e menor distenção Obstrução baixa → aspecto fecalóide e maior distenção 
- Peristaltismo de luta → ruídos metálicos 
- íleo adinâmico → interrupção funcional dos movimentos peristálticos 
- Febre não está presente 
- Desidratação acentuada, associada a taquicardia e hipotensão nos casos avançados. 
- Toque retal → sinal de Hochemberg (ampola livre de fezes, aumenta a suspeita). 
 
Laboratório/Imagem da obstrução: 
- Leucocitose (com desvio se tiver infecção) 
- Radiografia simples → gás no intestino delgado com níveis hidroaéreos e dilatação de alças (obstrução); sinal do 
‘empilhamento de moedas’; Volvo de sigmoide aparece o ‘bico de pássaro’ ou imagem de ‘U invertido’; Aerobilia é 
sugestivo de Íleo biliar. 
- TC abdome → útil nas obstruções em volvo, alça fechada e neoplasias. 
 
Os quadros de obstrução parcial devem ser tratados de maneira conservadora, geralmente apresenta melhora dentro de 
24h com tto clínico (se não melhorar em 48h, indica cirurgia), que inclui: reposição hídrica e restabelecimento do 
equilíbrio hidroeletrolítico, controle da diurese, jejum, descompressão gástrica (sonda nasogástrica), ATB de largo 
espectro (gram-negativo e anaeróbio). Os casos de obstrução completa, prepara-se o paciente com o tto clínico para 
realizar a cirurgia imediatamente. 
 
 Obstruções funcionais 
o Íleo paralitico: é uma condição caracterizada pela parada de eliminação de gases e fezes na ausência de 
obstrução intestinal mecânica. O íleo adinâmico pode ser provocado por uma infecção ou por um coágulo 
sanguíneo no interior do abdómen, por uma redução do fornecimento de sangue ao intestino devido à 
arteriosclerose ou pela lesão duma artéria ou de veias intestinais. Os ruídos hidroaéreos encontram-se 
diminuídos desde o inicio do quadro. O tto envolve jejum oral, drenagem nasogastrica, hidratação e correção 
de distúrbios eletrolíticos quando presentes. 
o A pseudo obstrução aguda (síndrome de Ogilvie), comum após cirurgias pélvicas e ortopédicas, apresenta 
uma dilatação marcante do colon na ausência de uma causa física real de obstrução. Seu tto envolve medidas 
de suporte e caso não haja melhora, colonoscopia descompressiva. Se bradiarritmia: atropina

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