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2 Este material de apoio foi especialmente preparado por monitores capacitados com base na aula ministrada. No entanto, não se trata de uma transcrição da aula e não isenta o aluno de complementar seus estudos com livros e pesquisas de jurisprudência. MÓDULO IV Aula 02 (Apelação) Professor Bruno Garcia Redondo Esclarecimentos introdutórios: o Professor irá abordar o recurso de apelação, analisando detidamente as significativas e profundas modificações promovidas pelo NCPC em relação a esse instrumento processual de impugnação de decisões judiciais. De acordo com o CPC/73, a apelação era o recurso cabível contra sentença (CPC/73, art. 513). CPC/73, art. 513. Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269). A doutrina, por sua vez, reconhecia algumas decisões judiciais como sentenças contra as quais, no entanto, o CPC/73 estabelecia não ser cabível o recurso de apelação, mas o de agravo de instrumento ou outro recurso. Em outras palavras, em que pese algumas decisões judiciais tivessem natureza jurídica de sentença, a lei processual civil dispunha que, para impugná-las, outro recurso, que não a apelação, seria o adequado. Ademais, valendo-se de um critério legislativo de cabimento de recurso, o CPC/73, em algumas hipóteses, estabelecia que o recurso cabível contra decisões judiciais que não tinham natureza jurídica de sentença era a apelação. Além disso, nos termos do CPC/73, o recurso de apelação, como regra geral, era dotado de efeito suspensivo automático, ou seja, a previsão legal de que a apelação seria recebida com efeito suspensivo fazia com que a decisão judicial impugnável por tal recurso já surgisse sem eficácia no mundo jurídico. Todavia, o CPC/73 previa algumas exceções em que a apelação era recebida apenas no efeito devolutivo, caso em que a sentença, uma vez publicada, gerava efeitos imediatamente (CPC/73, art. 520). 3 CPC/73, art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: I – homologar a divisão ou demarcação; II – condenar à prestação de alimentos; III – (Revogado pela Lei Federal nº 11.232, de 22-12-2005.) IV – decidir o processo cautelar; V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI – julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela. Nesse ínterim, oportuno mencionar que, nas hipóteses em que o efeito suspensivo não era concedido ope legis, o recorrente podia requerer que tal efeito fosse atribuído ao recurso por ele interposto, desde que preenchidos determinados requisitos, caso em que o efeito suspensivo era chamado de impróprio (CPC/73, art. 558). CPC/73, art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil, adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou câmara. Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo às hipóteses do art. 520. Por seu turno, o Novo Código imprimiu profundas modificações ao recurso de apelação no que diz respeito às hipóteses de cabimento, ao juízo de admissibilidade, ao meio pelo qual deve ser requerido o efeito suspensivo nos casos em que a apelação é recebida apenas no efeito devolutivo, ao procedimento aplicável quando o recurso vem a ser interposto contra as novas decisões que se transformaram em objeto de apelação, à apelação adesiva e a outros temas periféricos. Temas referentes ao recurso de apelação que foram ponto de debate durante a tramitação legislativa do Novo Código: na derradeira fase legislativa, o projeto do Novo Código passou por inúmeras mudanças nas Casas do Congresso Nacional. Dependendo do momento legislativo em que se encontrava a tramitação do projeto de lei, é possível perceber que, em cada um deles, o recurso de apelação passou por regulamentações distintas. E, até 4 mesmo o modelo originário concebido pela comissão de juristas que elaborou o anteprojeto do NCPC sofreu significativas transformações. Enfim, nos bastidores do Poder Legislativo, basicamente três grandes pontos tiveram que ser decididos pelos legisladores e, depois, pelo Poder Executivo, por meio da sanção ou do veto, chegando-se ao texto final do NCPC. Nesse ínterim, mostra-se relevante apontar quais foram esses três temas, bem como a redação final do NCPC em relação a eles. Um dos escopos da comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do NCPC consistia na simplificação do procedimento recursal e, para tanto, os juristas procederam à supressão do agravo retido. Deveras, na sistemática processual civil anterior, o agravo retido, em regra, era o recurso cabível contra as decisões interlocutórias prolatadas em primeiro grau de jurisdição, exceto em três hipóteses, quando seria cabível o agravo na modalidade de instrumento: i) decisão que fosse suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação; ii) decisão que não recebesse a apelação; iii) decisão que determinasse os efeitos em que a apelação seria recebida (CPC/73, art. 522, caput). CPC/73, art. 522, caput. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo. Em adição, contra decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução e julgamento, o agravo retido deveria ser interposto imediatamente, na forma oral, constando, do termo de audiência, as razões do agravante, sob pena de preclusão (CPC/73, art. 523, §3º). Por outro lado, admitia-se a interposição do agravo retido, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, contra as decisões interlocutórias proferidas em outras audiências, como a preliminar. CPC/73, art. 523, §3º Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, 5 bem como constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante. Ademais, o agravante deveria requerer, de forma expressa e em preliminar de apelação ou de contrarrazões, o julgamento do agravo retido, sob pena de o recurso perder o objeto (CPC/73, art. 523, caput, e §1º). CPC/73, art. 523, caput. Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o Tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. §1º Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal. Ao extinguir o agravo retido como modalidade recursal, primando pela simplificação do procedimento no âmbito recursal, o Novo Código alterou as hipóteses de cabimento da apelação, que passou a ser o recurso adequado para refutar as decisões interlocutórias não impugnáveis por agravo de instrumento. Dessa forma, o NCPC consagrou a possibilidade de cabimento do recurso de apelação não só contra sentença, mas, também, contra as decisões interlocutórias não gravosas, isto é, não passíveis de serem impugnadas por agravo de instrumento. Com efeito, as decisões interlocutórias não sujeitas ao recurso de agravo de instrumento podem ser ventiladas em preliminar de apelação, de modo que o apelante poderá recorrer da sentença e das decisões interlocutórias não gravosas, ampliando-se, assim, o objeto do recurso em apreço. Cuida-se de uma mudança substancial, pois haverá recursos de apelação que poderão impugnar não só aquilo que foi decidido na sentença e em seus capítulos, mas também inúmeras decisões interlocutórias não gravosas. Outrossim, as decisões interlocutórias contra as quais não cabe agravo de instrumento, poderão ser suscitadas em contrarrazões de apelação. Nessa hipótese, as contrarrazões recursais assumem natureza jurídica de defesa contra a apelação interposta e de ataque contra as decisões interlocutórias não gravosas que forem desfavoráveis ao apelado, veiculando, ao mesmo tempo, defesa e pedido recursal de anulação ou reforma das decisões interlocutórias não gravosas. A parte recorrida, portanto, somente poderá propugnar contra as decisões interlocutórias não sujeitas a agravo de instrumento que lhe causaram prejuízo nas contrarrazões de apelação. Perceba-se que, quando o recurso 6 contra as decisões interlocutórias não gravosas vier no bojo de contrarrazões, provavelmente não será exigido preparo, custas e despesas processuais. Além disso, havendo recurso contra as decisões interlocutórias não gravosas nas contrarrazões recursais, deve o apelante ser intimado para exercer o contraditório, no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.009, caput, e §§1º e 2º). Art. 1.009, caput. Da sentença cabe apelação. §1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. §2º Se as questões referidas no §1º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. O segundo ponto interessante sobre o qual se debateu quando da tramitação legislativa do Novo Código diz respeito à supressão ou não do efeito suspensivo automático do recurso de apelação. Alguns processualistas civis estudiosos do direito estrangeiro defenderam, com veemência, que o efeito suspensivo do recurso de apelação deveria ser ope judicis, competindo ao juiz, no caso concreto, desde que preenchidos os requisitos legais, a concessão de tal efeito à apelação, uma vez que a sentença é prolatada com base em uma cognição exauriente e após o exercício do contraditório pleno. Todavia, a tese acima espraiada não teve prevalência e o NCPC manteve a previsão legal de que o recurso de apelação, em regra, será recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo, ressalvadas as hipóteses elencadas nos incisos do artigo 1.012, §1º (art. 1.012, caput, e §1º). Art. 1.012, caput. A apelação terá efeito suspensivo. § 1.º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I – homologa a divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos; III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V – confirma, concede ou revoga tutela provisória; 7 VI – decreta a interdição. O último tema que suscitou ferrenha discussão quando da elaboração do Novo Código se refere ao juízo de admissibilidade da apelação. Nos moldes do CPC/73, o juízo de admissibilidade do instrumento processual de impugnação de decisões judiciais em testilha era feito em dois momentos: pelo órgão a quo e pelo órgão ad quem. Ao ser interposta a apelação, o juízo de primeiro grau realizava o juízo prévio de admissibilidade, verificando se os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal se faziam presentes. Se o juízo de admissibilidade fosse positivo, o juízo a quo recebia a apelação, declarava os efeitos em que a admitia e mandava dar vista ao apelado para apresentar contrarrazões. Com o oferecimento da resposta ao recurso de apelação, facultava-se ao juiz que prolatou a sentença impugnada a realização de novo juízo de admissibilidade (CPC/73, art. 518, caput, e §2º). CPC/73, art. 518. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder. §1º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. §2º Apresentada a resposta, é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame dos pressupostos de admissibilidade do recurso. Superado o exame dos pressupostos recursais, com a admissão do recurso de apelação, o juízo de primeira instância encaminhava a apelação ao juízo ad quem, que, antes de examinar a pretensão recursal, efetuava novo juízo de admissibilidade. Se, nesse momento, o tribunal concluísse que os pressupostos recursais estavam preenchidos, conhecia do recurso de apelação, caso em que poderia lhe dar ou negar provimento, conforme acolhesse ou não o pedido recursal. O Novo Código, na busca pela simplificação procedimental, extinguiu o juízo de admissibilidade recursal efetuado pelo órgão a quo. De fato, conquanto a apelação continue a ser interposta perante o juízo de primeiro grau, este se limitará a ordenar a intimação do apelado para o oferecimento de contrarrazões recursais e, cumpridas as formalidades legais, remeterá os autos, de imediato, ao tribunal, independentemente de juízo de admissibilidade. Assim, a exame do 8 preenchimento dos pressupostos recursais caberá, de forma exclusiva, ao juízo ad quem, não havendo mais o duplo juízo de admissibilidade na apelação (art. 1.010). Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão. §1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. §2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. §3º Após as formalidades previstas nos §§1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. Hipóteses de cabimento do recurso da apelação: à semelhança do artigo 513 do CPC/73, o artigo 1.009, caput, do Novo Código, é explícito ao dispor que a apelação é o recurso cabível contra sentença. Desse modo, a apelação continua a ser o recurso adequado para refutar sentença. CPC/73, art. 513. Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269). NCPC, art. 1.009, caput. Da sentença cabe apelação. Destaque-se, contudo, que o NCPC excepcionou a regra esculpida no mencionado artigo 1.009, caput, estabelecendo ser cabível o recurso de agravo de instrumento contra algumas decisões judiciais que possuem natureza jurídica de sentença. Vejamos. A nova legislação processual civil estatui que, nas hipóteses previstas nos artigos 485 e 487, incisos II e III, o magistrado proferirá sentença, que poderá ser parcial, caso em que tal decisão judicial é chamada pela doutrina de sentença parcial ou interlocutória. 9 Embora a decisão judicial proferida nos termos dos artigos 485 e 487, incisos II e III, seja definida, pelo próprio texto legal, como sentença, o Novo Código determina que, quando se tratar de sentença parcial, será impugnável via agravo de instrumento, em clara exceção ao artigo 1.009, caput, que estabelece ser a apelação o recurso adequado contra sentença. Para melhor elucidação, cite-se como exemplo a hipótese em que o juiz decida pela falta de legitimidade passiva em relação a apenas um dos réus, extinguindo o processo sem resolução do mérito somente em relação a essa parcela, caso em que, apesar de se tratar de sentença, por ser ela parcial, será cabível o recurso de agravo de instrumento (arts. 354, 485 e 487). CAPÍTULO X DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO SEÇÃO I DA EXTINÇÃO DO PROCESSO Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. CAPÍTULO XIII DA SENTENÇA E DA COISA JULGADA SEÇÃO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 485, caput. O juiz não resolverá o mérito quando: I – indeferir a petição inicial; II – o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III – por não promover os atos e diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV – verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V – reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI – verificar a ausência de legitimidade ou de interesse processual; 10 VII – acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII – homologar a desistência da ação; IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X – nos demais casos prescritos neste Código. (...) Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I – acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II – decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III – homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do §1º do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se. Da mesma forma, as sentenças de procedência e de improcedência do pedido, que estão disciplinadas no artigo 487, inciso I, do Novo Código, podem ser objeto de sentença parcial, com supedâneo no artigo 356, que não encontra correspondência no CPC/73. Em que pese se trate de sentença de procedência ou de improcedência do objeto formulado na exordial, o NCPC determina que, sendo parcial, será impugnável através da interposição do recurso de agravo de instrumento, e não de apelação. O Professor exemplifica, trazendo a lume a hipótese em que um dos pedidos formulados pelo autor tenha sido contestado e o outro tenha restado incontroverso, razão pela qual o juiz extingue o processo com resolução de mérito apenas em relação ao pedido incontroverso. Cuidando-se de sentença parcial, deverá ser interposto contra ela, em exceção ao artigo 1.009, caput, o recurso de agravo de instrumento (arts. 356 e 487, inciso I). 11 CAPÍTULO X DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO SEÇÃO III DO JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I – mostrar-se incontroverso; II – estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355; §1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. §2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. §3º Na hipótese do §2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. §4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. §5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. (...) Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I – acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção. (...) Por derradeiro, o novo diploma processual civil estabelece que, em determinadas circunstâncias, deverá ser interposto recurso de apelação contra decisão judicial que, a princípio, seria impugnada via agravo de instrumento, em virtude da questão abordada. Senão vejamos. O artigo 1.015 do NCPC estabelece ser cabível agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre as matérias elencadas em seus incisos e parágrafo único. Assim, o Novo Código, de forma inovadora, previu um rol concernente ao cabimento do recurso de agravo de instrumento, de 12 modo que, se não houver previsão legal, o recurso será inadmissível. Todavia, se o juiz, na sentença, e não em decisão interlocutória, decidir a respeito de alguma questão disposta no aludido artigo 1.015, não será cabível agravo de instrumento e, sim, apelação. Em outras palavras, caso uma das questões constantes do artigo 1.015 não seja resolvida por meio da prolação de decisão interlocutória, no curso do procedimento, vindo a integrar o corpo formal da sentença, será cabível o recurso de apelação (art. 1.009, §3º). Art. 1.009 (...) §3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença. TÍTULO II DOS RECURSOS CAPÍTULO III DO AGRAVO DE INSTRUMENTO Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §1º; XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação 13 de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. Ainda, o §5º, do artigo 1.013, do Novo Código, introduz mais uma hipótese de decisão judicial contra a qual cabe recurso de apelação, embora, a priori, seria impugnável via agravo de instrumento, em razão da questão sobre a qual se decide. Com efeito, é cediço que, nos termos do inciso I, do artigo 1.015, cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que versar sobre a tutela provisória, gênero do qual são espécies as tutelas de urgência e de evidência. Cumpre recordar, no entanto, que a tutela provisória pode ser concedida no início ou no meio do procedimento e vir a ser confirmada na sentença, ou, até mesmo, mostra-se possível que o juiz defira a tutela provisória, pela primeira vez, na sentença, verificando que estejam presentes os requisitos para que o autor, de imediato, possa usufruir o bem da vida almejado. Se a tutela provisória for confirmada ou concedida quando da prolação de sentença, deverá ser interposto recurso de apelação, e não agravo de instrumento, contra tal decisão judicial. Art. 1.013 A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. §1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. §2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. §3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. §4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. §5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação. 14 Portanto, conclui-se que, se qualquer das questões enumeradas no artigo 1.015 integrarem capítulo de sentença, o recurso de apelação terá cabimento, afastando-se o agravo de instrumento, razão pela qual se mostra necessário o cotejo entre os artigos 1.015, 1.009, §3º, e 1.013, §5º, todos do Novo Código, e analisar, por conseguinte, se as questões estão contempladas em sentença ou em decisão interlocutória para que seja interposto o recurso correto. Cumpre observar, ainda, que, nas hipóteses em que o legislador foi claro em estabelecer o cabimento do recurso de agravo de instrumento, como no caso de sentença parcial de mérito, não caberá apelação, vedando-se a aplicação do princípio da fungibilidade, uma vez que, quando a lei é explícita acerca do cabimento de determinado recurso, desaparece o requisito da dúvida objetiva ou fundada para que possa ser aplicado o princípio em tela. O princípio da fungibilidade preconiza que a parte não pode ser prejudicada pela interposição de um recurso por outro, desde que presentes alguns requisitos a seguir expostos, de modo que o julgador deverá receber o recurso que não se entende cabível no caso concreto por aquele que teria cabimento. Para a sua aplicação, conforme destacado, são exigidos os seguintes requisitos: i) dúvida objetiva ou fundada; e ii) inexistência de erro grosseiro. Alguns doutrinadores prescrevem, também, que é preciso que inexista má-fé por parte do recorrente, aplicando-se a teoria do prazo menor para aferir a existência de má-fé na interposição do recurso, caso em que se afastaria a incidência do princípio em comento. Nessa ambiência, ressalte-se que o NCPC acolheu a técnica do CPC/73 de não dispor expressamente sobre o princípio da fungibilidade, inobstante contenha duas previsões específicas nesse sentido, hipóteses nas quais o recorrente dispõe do direito de adaptar o recurso interposto: i) embargos de declaração e agravo interno (artigo 1.024, §3º); e ii) recursos especial e extraordinário (artigo 1.033). CAPÍTULO V DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias. §1º Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo voto, e, não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em pauta automaticamente. §2º Quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á monocraticamente. 15 §3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, §1º. §4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de declaração. §5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de ratificação. (...) Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial. Por derradeiro, não se pode olvidar que existirá calorosa discussão a respeito da possibilidade ou não de impetração de mandado de segurança para impugnar as decisões interlocutórias que não puderem ser recorríveis por agravo de instrumento, por não versarem sobre as questões constantes do rol do artigo 1.015. De acordo com o artigo 5º, II, da Lei do Mandado de Segurança (Lei Federal nº 12.016/09), é cabível a impetração da ação autônoma de impugnação em tela quando se tratar de decisão judicial contra a qual não caiba recurso com efeito suspensivo. Do mesmo modo, o Enunciado nº 267 da Súmula do Supremo Tribunal Federal autoriza a impetração de mandado de segurança contra ato judicial que não seja passível de recurso ou correição. Lei Federal nº 12.016/09, art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: I – de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; 16 II – de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; III – de decisão judicial transitada em julgado. STF, Súmula 267. Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição. Por seu turno, em que pese o Novo Código tenha suprimido a modalidade de agravo retido, é sabido que, conforme acima explanado, as decisões interlocutórias não passíveis de serem refutadas por agravo de instrumento não se tornaram irrecorríveis, podendo ser impugnadas em preliminar de apelação ou em contrarrazões recursais, motivo pelo qual muitos autores defenderão que não se fará possível o manejo de mandado de segurança nessa hipótese. Inobstante, para o Professor, apesar de o Novo Código ter estabelecido que as decisões interlocutórias não recorríveis por agravo de instrumento podem ser refutadas em preliminar de apelação ou em contrarrazões recursais, se o risco de dano for imediato, caberá a impetração de mandado de segurança, conforme aponta o artigo 5º, II, da Lei Federal nº 12.016/09, já que a lei processual civil não prevê um remédio recursal que possa ser empregado de forma imediata a fim de afastar a ocorrência do dano. Interesse recursal na apelação: no novo diploma processual civil, o interesse recursal na apelação sofreu significativa ampliação, assim como ocorreu com as hipóteses de seu cabimento, consoante acima estudado. Inicialmente, revela-se oportuno explicar que o interesse recursal (ou interesse em recorrer) consiste em um dos requisitos intrínsecos de admissibilidade dos recursos. Na esteira do CPC/73, o recurso de apelação somente podia ser interposto pela parte que sofreu sucumbência, a qual estava presente quando não se tivesse obtido o melhor resultado possível no processo. Dessa forma, se a parte tivesse se sagrado vitoriosa no processo, não poderia interpor apelação com a pretensão de que fosse alterada a motivação da sentença, pois lhe faltaria interesse em recorrer. O Novo Código, no entanto, promoveu a ampliação do interesse recursal em, pelo menos, três situações. Vejamos. 17 Primeiramente, pode ocorrer que a sentença seja favorável a uma das partes, mas, no curso do procedimento, tenham sido prolatadas decisões interlocutórias que lhe causaram prejuízo, contra as quais, todavia, não era cabível o recurso de agravo de instrumento, por tais decisões não versarem sobre nenhuma das questões descritas no artigo 1.015. De acordo com o Professor, embora a parte tenha obtido a vitória no processo, poderá interpor apelação não para impugnar a sentença, mas apenas para refutar as decisões interlocutórias não gravosas que lhe tenham sido desfavoráveis, por força do artigo 1.009, §1º, conforme acima já aduzido. Art. 1.009, caput (...) §1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. A segunda situação em que há ampliação do interesse recursal na apelação concerne à hipótese em que, embora tenha sido proferida sentença de total procedência quanto ao pedido principal, a resolução da questão prejudicial tenha sido desfavorável ao autor, caso em que, também, estará presente o interesse em recorrer apenas contra o capítulo da sentença que resolve a questão incidental. Nessa ambiência, cumpre realçar que, sem precedentes no CPC/73, o Novo Código estendeu os limites objetivos da coisa julgada à resolução da questão prejudicial, desde que preenchidos os requisitos constantes dos incisos I a III, do §1º, do art. 503. Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. §1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I – dessa resolução depender o julgamento do mérito; II – a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III – o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. §2º A hipótese do §1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial. 18 Frise-se que a questão prejudicial é resolvida na fundamentação da sentença e, com a ampliação do interesse recursal, revela-se possível que a parte, em que pese tenha obtido o melhor resultado possível no processo, interponha recurso de apelação com o único propósito de opugnar a resolução da questão prejudicial que lhe tenha sido desfavorável. Por demais, a terceira hipótese em que a nova lei processual civil ampliou o interesse em recorrer na apelação diz respeito aos precedentes judiciais. O Novo Código introduziu importantes mecanismos de aperfeiçoamento do sistema de precedentes judiciais, atribuindo-lhes força vinculante, com o desiderato de uniformizar e estabilizar a jurisprudência, conferindo maior segurança jurídica aos jurisdicionados. Nessa senda, o artigo 926, caput, do NCPC, ordena que os tribunais uniformizem sua jurisprudência e a mantenham estável, íntegra e coerente, enquanto os incisos do artigo 927 apontam as decisões judiciais que podem ser consideradas precedentes dotados de força vinculante. LIVRO III DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS TÍTULO I DA ORDEM DOS PROCESSOS E DOS PROCESSOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. §1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante. §2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater- se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação. Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; 19 III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. §1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, §1º, quando decidirem com fundamento neste artigo. §2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese. §3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. §4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. §5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores. Ainda, o Novo Código criou mecanismos de pacificação social em massa, atribuindo-lhes, também, força vinculante, quais sejam: i) recursos especiais e extraordinários repetitivos (artigos 1.036 a 1.041); ii) incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR (artigos 976 a 987); e iii) incidente de assunção de competência – IAC (art. 947). Além disso, a nova sistemática processual civil cuidou do fortalecimento de outros institutos que têm o mesmo escopo já conhecidos no ordenamento pátrio, como as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade e as súmulas vinculantes. Portanto, conclui-se que, com o Novo Código, a teoria dos precedentes restou fortalecida, competindo ao operador do direito buscar, nas decisões judiciais, a chamada ratio decidendi. De fato, não são os motivos anexos da decisão, mas 20 os determinantes (sem os quais o juiz não teria chegado àquele dispositivo) que formam os precedentes a serem observados nas decisões futuras, pois são esses motivos determinantes que formam o núcleo do entendimento do julgador sobre o qual recai o caráter vinculante da decisão. Depreende-se do exposto que será possível a interposição do recurso de apelação para modificar somente a ratio decidendi da sentença, mesmo que seu dispositivo tenha sido favorável ao recorrente. Imagine a situação em que tenha sido proferida sentença de improcedência com resolução do mérito, em virtude do reconhecimento da prescrição, mas, na fundamentação, tenha sido fixada uma ratio decidendi desfavorável ao réu, reconhecendo-se que determinado ato por ele praticado é considerado abusivo. Em razão de a ratio decidendi fixada na motivação da sentença ter sido contrária ao réu, este dispõe de interesse recursal na interposição da apelação para refutar somente esse capítulo da sentença, em que pese tenha sido prolatada sentença de improcedência, favorável a ele. Interposição do recurso de apelação na forma adesiva: a nova sistemática processual civil manteve a previsão do chamado recurso adesivo. Insta mencionar que o recurso adesivo não é uma espécie recursal, mas uma forma diferenciada de interposição de alguns recursos. Os requisitos para o cabimento do recurso adesivo também não sofreram modificações no Novo Código, que repetiu aqueles previstos no CPC/73, quais sejam: i) sucumbência recíproca, de modo que ambas as partes não tenham obtido no processo o melhor desfecho possível, motivo pelo qual possuem interesse recursal; ii) interposição de recurso independente ou principal por somente uma das partes, já que o recurso adesivo é destinado para aquele que, a princípio, não queria recorrer. Ademais, uma vez interposto o recurso independente, o recorrido, no prazo legal para apresentar as contrarrazões recursais, poderá apresentar seu recurso pela via adesiva. A única novidade no Novo Código, no que concerne ao recurso adesivo, refere- se à alteração de suas hipóteses de cabimento. No CPC/73, os recursos de apelação, embargos infringentes, especial e extraordinário admitiam a interposição na forma adesiva, enquanto, no NCPC, somente a apelação e os recursos extraordinários admitem essa forma de interposição (CPC/73, art. 500, e NCPC, arts. 997 e 1.010, §2º). 21 CPC/73, art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes: I – será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder; II – será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial; III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto. Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior. NCPC, art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais. §1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro. §2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: I – será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II – será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial; III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inadmissível. (...) NCPC, art. 1.010 (...) §2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. 22 Impende destacar que a apelação adesiva deve se restringir ao capítulo da sentença que foi objeto de impugnação no recurso de apelação independente. Como exemplo, pode-se citar o caso em que o juiz, ao julgar uma ação de indenização na qual sejam veiculados pedidos de dano material e moral, prolate sentença de parcial procedência e somente uma das partes interponha recurso de apelação contra o capítulo relativo ao dano moral, pretendendo majorar o valor fixado. Se o apelado, no prazo para contrarrazões recursais, interpuser apelação na forma adesiva, não poderá desbordar do capítulo da sentença que foi objeto da apelação independente, podendo pedir, por exemplo, para que seja minorado o valor relativo ao dano moral. Não tendo sido interposto recurso contra o capítulo da sentença concernente ao dano material, opera-se imediato trânsito em julgado em relação a essa parcela da sentença (trânsito em julgado parcial), motivo pelo qual é defeso ao apelado interpor apelação pela via adesiva para opugná-la. No mesmo sentido, se a parte interpõe recurso de apelação de forma independente para refutar apenas as decisões interlocutórias não recorríveis por agravo de instrumento que lhe causaram prejuízo, o apelado não poderá valer-se da apelação pela via adesiva para propugnar contra a sentença, pois, com a transcrição in albis do prazo recursal para impugná-la, ela se torna imutável. Ao recorrido, então, restará o oferecimento de contrarrazões recursais e, talvez, por reflexo do julgamento da apelação contra as decisões interlocutórias não gravosas, a sentença venha a ser objeto de anulação. Ainda, de acordo com o entendimento do Professor, o apelado não poderá se valer da apelação adesiva para opugnar as decisões interlocutórias não sujeitas a agravo de instrumento que lhe foram desfavoráveis. O apelado somente poderá refutar tais decisões interlocutórias em contrarrazões recursais, ou, então, que tivesse interposto apelação e as suscitasse em preliminar de recurso. Nesse diapasão, cabe a seguinte indagação: se a parte sucumbente não interpõe recurso de apelação contra a sentença, a parte vencedora, no tocante ao pedido principal, pode recorrer apenas contra as decisões interlocutórias não gravosas, proferidas ao longo do procedimento, que lhe foram desfavoráveis? Alguns doutrinadores afirmam que tal hipótese não seria possível, pois, na ausência de interposição de recurso para impugná-la, a sentença transita em julgado de imediato, inviabilizando, assim, a impugnação das decisões interlocutórias anteriores (Fredie Didier Jr.). Já para o Professor, a parte que se sagrou vencedora na sentença poderá interpor apelação apenas para refutar as decisões interlocutórias não gravosas que lhe causaram prejuízo, uma vez que o artigo 1.009, §1º, é explícito ao 23 estatuir que, se a decisão interlocutória não comportar impugnação pela via do recurso de agravo de instrumento, por não versar sobre matéria elencada no artigo 1.015, poderá ser recorrível em preliminar de apelação ou em contrarrazões recursais. Art. 1.009, caput (...) §1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. Procedimento do recurso de apelação: de acordo com o artigo 1.010, caput, do Novo Código, a apelação continua a ser interposta e processada em primeiro grau de jurisdição. Os incisos do artigo 1.010 elencam os elementos da peça de apelação, com a repetição daqueles exigidos pelos incisos do artigo 514 do CPC/73, acrescentando, porém, a exigência de que a peça contenha as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade, que não encontra correspondência no CPC/73. Por óbvio, a peça de apelação deve expor os motivos do pedido de reforma ou de decretação de nulidade, em observância ao princípio da dialeticidade recursal, segundo o qual o recurso deve ser discursivo, competindo ao recorrente apontar, precisamente, o motivo do pedido de reexame da decisão judicial recorrida, bem como os fundamentos de fato e de direito que sustentam a sua irresignação. CPC/73, art. 514. A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz, conterá: I - os nomes e a qualificação das partes; II – os fundamentos de fato e de direito; III – o pedido de nova decisão. NCPC, art. 1.010, caput. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; 24 III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão. Quanto às contrarrazões recursais, o §1º, do artigo 1.010, do NCPC, manteve as regras e o prazo esculpidos pelo CPC/73, de modo que o apelado será intimado para o oferecimento de resposta ao recurso de apelação no prazo de 15 (quinze) dias (CPC/73, artigos 508 e 518, caput). NCPC, art. 1.010, §1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. CPC/73, art. 508. Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso especial, no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para interpor e para responder é de 15 (quinze) dias. (...) CPC/73, art. 518, caput. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder. Uma vez protocolado o recurso de apelação e transcorrido o prazo para que o recorrido apresente contrarrazões, com ou sem o seu oferecimento, o juiz remeterá os autos ao tribunal, independentemente de juízo de admissibilidade, conforme acima sobejamente espraiado (1.010, §3º). Art. 1.010 (...) §3º Após as formalidades previstas nos §§1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. Por conseguinte, recebido e distribuído o recurso de apelação no tribunal, o relator proferirá decisão, de forma monocrática, nas hipóteses elencadas no artigo 932, incisos III a V, que guardam certa semelhança com o artigo 557, caput, do CPC/73 (NCPC, art. 1.011, inciso I). 25 CPC/73, art. 557, caput. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. NCPC, art. 932. Incumbe ao relator: I - dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como, quando for o caso, homologar autocomposição das partes; II - apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal; III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente perante o tribunal; VII - determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso; VIII - exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do tribunal. Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. 26 NCPC, art. 1.011. Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído imediatamente, o relator: I – decidi-lo-á monocraticamente apenas nas hipóteses do art. 932, incisos III a V. (...) Além disso, o relator pode negar provimento a recurso, monocraticamente, nas hipóteses dispostas nas alíneas do inciso V do artigo 932, que se assemelham ao artigo 557, §1º-A, do CPC/73. CPC/73, art. 557 (...) §1º-A. Se decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. NCPC, art. 932. Incumbe ao relator: (...) V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; Entretanto, não sendo caso de decisão monocrática, ao relator competirá a elaboração de seu voto para o julgamento do recurso pelo órgão colegiado (1.011, inciso II). Art. 1.011. Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído imediatamente, o relator: (...) II – se não for o caso de decisão monocrática, elaborará seu voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado. 27 Consoante acima já estudado, o artigo 1.012, caput, do Novo Código, manteve a regra do recebimento da apelação no efeito suspensivo, que continua a ser, portanto, ope legis, isto é, decorrente de previsão legal. À semelhança dos incisos do artigo 520 do CPC/73, os incisos do §1º do artigo 1.012 do NCPC elencam as hipóteses nas quais a apelação será recebida apenas no efeito devolutivo. Os incisos I, II e IV, do §1º, do artigo 1.012, repetem a redação dos incisos I, II e VI, do artigo 520, do CPC/73, enquanto o inciso III, do §1º, do artigo 1.012, melhora a redação do inciso V, do artigo 520, do CPC/73, ao estabelecer que a sentença que extingue sem resolução de mérito ou julga improcedentes os embargos do executado, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação. A redação do inciso V, do §1º, do artigo 1.012 foi ampliada em relação à do inciso VII, do artigo 520, do CPC/73, pois prevê que a apelação não terá efeito suspensivo quando interposta contra sentença que confirma, concede ou revoga tutela provisória. Por fim, o inciso VI, do §1º, do artigo 1.012, traz matéria estranha aos incisos do artigo 520, mas não ao CPC/73, que disciplina tal exceção em seu artigo 1.184. CPC/73, art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: I – homologar a divisão ou demarcação; II – condenar à prestação de alimentos; III – (Revogado pela Lei n.º 11.232, de 22-12-2005); IV – decidir o processo cautelar; V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI – julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela. CPC/73, art. 1.184. A sentença de interdição produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação. Será inscrita no Registro de Pessoas Naturais e publicada pela imprensa local e pelo órgão oficial por três vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição e os limites da curatela. 28 NCPC, art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. §1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I – homologa divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos; III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V – confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI – decreta a interdição. Perceba-se, contudo, que o aludido artigo 1.012 não menciona os efeitos do recurso de apelação interposto contra decisão interlocutória não sujeita a agravo de instrumento. Para o Professor, a apelação interposta contra as decisões interlocutórias não gravosas não dispõe de efeito suspensivo ope legis, até mesmo porque as decisões interlocutórias, uma vez proferidas, produziram efeito, normalmente, durante o curso do procedimento. Por demais, o artigo 1.012, §2º, do Novo Código, permite o cumprimento provisório imediato da sentença refutada por recurso de apelação que não disponha de efeito suspensivo previsto pela própria lei. Art. 1.012. (...) §2º Nos casos do §1º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença. Insta salientar que, mesmo nas hipóteses em que o recurso de apelação seja recebido apenas no efeito devolutivo, a nova sistemática processual civil autoriza a concessão de efeito suspensivo ope judicis, cabendo ao relator, no caso concreto, desde que preenchidos os requisitos legais, suspender a eficácia da sentença impugnada. O apelante deve formular pedido de concessão de efeito suspensivo, mediante requerimento, que deverá ser dirigido ao tribunal caso a apelação por ele interposta ainda não tenha sido distribuída, hipótese em que o relator designado para o exame do requerimento ficará prevento para o julgamento do 29 recurso. Por outro lado, se a apelação já tiver sido distribuída, o requerimento de pedido de concessão de efeito suspensivo será dirigido ao relator. Ainda, para que o relator possa conceder efeito suspensivo ao recurso de apelação, o recorrente deve demonstrar a probabilidade de provimento do recurso, ou, sendo relevante a motivação, haja risco de dano grave ou de difícil reparação (art. 1.012, §§3º e 4º). NCPC, art. 1.012 (...) §3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do §1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I – tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II – relator, se já distribuída a apelação. §4º Nas hipóteses do §1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. Em adição, é cediço que o efeito devolutivo consiste na aptidão que todo recurso detém de transferir ao órgão ad quem o conhecimento da matéria propugnada, sendo analisado sob dois aspectos ou duas dimensões: i) aspecto da extensão ou dimensão horizontal; e ii) aspecto da profundidade ou dimensão vertical. O artigo 1.013, caput, do Novo Código, repetindo a regra consagrada no artigo 515, caput, do CPC/73, disciplina o efeito devolutivo no recurso de apelação sob o aspecto da extensão, preconizando que a apelação devolverá ao órgão ad quem apenas a apreciação da matéria impugnada: tantum devolutum quantum appellatum. Assim, é o apelante quem delimita as matérias que serão devolvidas ao tribunal que, por sua vez, não poderá ir além do objeto da pretensão recursal, de modo que, se o recurso for parcial, somente reexaminará a parte recorrida. CPC/73, art. 515, caput. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. NCPC, art. 1.013, caput. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. 30 Por seu turno, o aspecto da profundidade ou a dimensão vertical do efeito devolutivo no recurso de apelação foi abordado pelos §§1º e 2º, do artigo 1.013, do Novo Código. O aspecto da profundidade do efeito devolutivo se refere aos fundamentos que embasam as pretensões formuladas e, para compreendê-lo, é necessário recordar que o juiz, ao proferir sentença, não precisa analisar todos os fundamentos trazidos pelas partes, mas somente aqueles que forem suficientes para o acolhimento ou rejeição do pedido. O §1º, do artigo 1.013, do NCPC, é explícito ao estatuir que todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença tenha sido omissa em relação a elas, serão devolvidas ao tribunal, desde que relativas ao capítulo impugnado no recurso, uma vez que, havendo recurso parcial, é certo que se opera o trânsito em julgado da parcela da sentença que não foi objeto de recurso, de modo que as questões relativas a essa parcela não poderão ser analisadas pelo órgão ad quem. Frise-se que, nesse ponto, a nova sistemática processual civil inovou, pois o §1º, do artigo 515, do CPC/73, não estabelece que a profundidade da devolução quanto a todas as questões suscitadas e discutidas está restrita ao capítulo refutado. Já o §2º, do artigo 1.013, do NCPC, manteve a redação do §2º, do artigo 515, do CPC/73, dispondo que os fundamentos invocados pelas partes, ainda que não tenham sido analisados em primeira instância, também serão devolvidos ao tribunal, desde que, também, estejam relacionados ao capítulo da sentença que foi objeto de impugnação. Em outras palavras, quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles por ser suficiente ao julgamento do pedido, a apelação devolve ao tribunal o conhecimento dos demais fundamentos trazidos pelas partes, mesmo que não analisados na sentença, mas desde que restritos ao capítulo impugnado. Nesse diapasão, é oportuno realçar que, por força do efeito translativo, o órgão ad quem poderá apreciar matérias de ordem pública de ofício, mesmo que não tenham sido objeto do recurso. Ocorre que, levando-se em consideração que o efeito translativo pode ser compreendido a partir do aspecto da profundidade do efeito devolutivo, pode- se afirmar que o conhecimento das matérias de ordem pública pelo tribunal está limitado ao capítulo impugnado, nos termos do §1º, do artigo 1.013. Assim, o órgão ad quem somente poderá conhecer as matérias de ordem pública que estejam relacionadas ao capítulo da sentença contra o qual se 31 insurgiu o recorrente. E, vedada a prolação de decisões surpresas pelo Novo Código, o tribunal deverá respeitar o contraditório ao constatar a presença de matéria de ordem pública quando do julgamento do recurso (NCPC, artigo 10). CPC/73, art. 515. (...) §1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro. §2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. NCPC, art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. (...) Art. 1.013. (...) §1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. §2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. Por derradeiro, o novo diploma processual civil manteve a previsão da chamada teoria da causa madura, que possui o objetivo de aprimorar a prestação jurisdicional ao viabilizar o julgamento direto pelos tribunais, desde que presentes os requisitos legais (NCPC, artigo 1.013, §§3º e 4º). Em cotejo com o CPC/73, verifica-se que o Novo Código trouxe algumas inovações quanto à teoria da causa madura. Com efeito, o §3º do artigo 1.013, determina a aplicação da teoria em estudo se o processo estiver em condições de imediato julgamento, independentemente da natureza da questão, se de fato ou de direito. 32 Por outro lado, o §3º do artigo 515 do CPC/73, estabelecia que a aplicação da teoria da causa madura estava restrita à hipótese em que o processo versasse apenas sobre questão exclusivamente de direito e estivesse em condições de imediato julgamento. Destarte, o único requisito previsto pelo NCPC para a aplicação da teoria da causa madura consiste na exigência de que o processo esteja em condições de imediato julgamento, pouco importando se a causa versar sobre questão de direito ou de fato. Ademais, os incisos do §3º do artigo 1.013 do Novo Código ampliam as hipóteses de aplicação da teoria da causa madura, que não fica mais limitada à sentença terminativa, ou seja, de extinção do processo sem resolução do mérito, como ocorria no CPC/73. CPC/73, art. 515. (...) §3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento de mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. NCPC, art. 1.013. (...) §3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I – reformar sentença fundada no art. 485; II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. Nesse ínterim, mostra-se recomendável a análise de cada um dos incisos do §3º, do artigo 1.013, do NCPC. 33 No inciso I, o tribunal procede ao afastamento do vício processual e ingressa no mérito pela primeira vez, em razão de a causa já se encontrar madura, proferindo decisão acerca do provimento ou não do recurso. Já o inciso II consiste em uma novidade introduzida pela nova sistemática processual, autorizando o tribunal a decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir e a julgar desde logo o mérito recursal, com observância dos limites impostos pelo pedido ou pela causa de pedir. Desse modo, a teoria da causa madura passará a ser aplicada no caso de sentenças extra ou citra petita, lembrando que, quando se tratar de sentença ultra petita, basta a anulação da parcela excedente da decisão. O inciso III também consiste em uma novidade introduzida pelo NCPC e permite que o tribunal examine e julgue o pedido em relação ao qual a sentença foi omissa. Dessa forma, a aplicação da teoria em comento poderá ocorrer no caso de sentença citra petita. Por sua vez, o inciso IV determina ao tribunal que decrete a nulidade da sentença por ausência de motivação e, estando o processo em condições de imediato julgamento, decida o mérito, ao invés de baixar os autos para que o juízo de primeiro grau prolate nova sentença. O inciso IV não encontra correspondência no CPC/73. Ressalte-se que o §4º do artigo 1.013 do NCPC traz mais uma hipótese de aplicação da teoria da causa madura, ao prever que o tribunal, ao reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, julgue o mérito, se possível, abstendo-se de ordenar o retorno dos autos ao juízo de primeira instância. NCPC, art. 1.013 (...) §4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. Com o objetivo de findar essa exposição, cumpre mencionar que o artigo 1.014 do Novo Código repete a regra estabelecida no artigo 517, do CPC/73, no que diz respeito às novas questões de fato. 34 O recurso de apelação, no ordenamento pátrio, possui a finalidade de controle da sentença de primeiro grau. Porém, excepcionalmente, a lei processual civil permite que o apelante proceda à alegação de novas questões de fato, desde que prove que deixou de fazê-lo, no juízo inferior, por motivo de força maior. Registre-se que fatos novos são aqueles que não foram levados à apreciação do Poder Judiciário naquele processo, ainda que tenham se verificado antes de ser proferida sentença. Também, é indispensável que o recorrente prove que, por motivo de força maior, foi impedido de aduzir a questão de fato em primeira instância, como no caso, por exemplo, em que ignorava a existência do fato por um motivo objetivo e sério, bem como na hipótese em que o fato, simplesmente, ainda não tinha ocorrido. CPC/73, art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. NCPC, art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
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