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Arthur Antunes Nascimento Costa Juliana Sousa Terada Nascimento Vanessa Michelly Bortoluzzi COCCIDIOIDOMICOSE Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação, referente ao sexto período do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Federal de Rondônia. Prof. Dr. Igor Mansur. ROLIM DE MOURA 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA-CAMPUS ROLIM DE MOURA Arthur Antunes Nascimento Costa Juliana Terada Nascimento Vanessa Michelly Bortoluzzi COCCIDIOIDOMICOSE ROLIM DE MOURA 2016 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 2. AGENTE INFECCIOSO ....................................................................................... 2 2.1 CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA ........................................................ 2 2.2 MORFOLOGIA ......................................................................................... 2 2.3 CULTURA IN VITRO ............................................................................... 3 2.4 FATORES DE VIRULÊNCIA .................................................................. 3 3. EPIDEMIOLOGIA ...................................................................................................... 4 4. PATOGENIA .............................................................................................................. 5 4.1. QUADROS CLÍNICOS ............................................................................. 6 5. DIAGNÓSTICO .......................................................................................................... 7 5.1. DIAGNOSTICO LABORATORIAL ........................................................ 7 5.2. TECNICAS HISTOPATOLOGICAS ....................................................... 8 5.3. TECNICAS SOROLOGICAS ................................................................... 9 5.4. TECNICAS MOLECULARES ................................................................. 9 6. TRATAMENTO ........................................................................................................ 10 7. PROFILAXIA ........................................................................................................... 10 8. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 11 9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................................... 12 1 1. INTRODUÇÃO A coccidioidomicose, também conhecida por doença de Posadas-Wernicke, reumatismo do deserto, febre do Vale de São Joaquim e granuloma coccidióidico, é uma micose sistêmica causada pelo C. immitis, fungo prevalente em regiões áridas e semiáridas do continente americano, sendo o sudoeste dos Estados Unidos e o norte do México a maior área contígua conhecida com grande prevalência. Ocorre também em áreas endêmicas da América Central e da América do Sul. É uma doença causada pelo fungo dimórfico geofílico Coccidioides immitis e C. posadassi, acomete humanos e várias espécies de animais (DEUS-FILHO, 2009). Coccidioides spp. são da Ordem Onygenales, Classe Eurotimycetes, Filo Ascomycota e Reino Fungi. Crescem como micélio vegetativo hialino, formando colônias esbranquiçadas de aspecto algodonoso. Apresenta 3 a 4 dias de incubação, observa-se abundante crescimento, formando hifas hialinas, septadas e ramificadas, de 2 a 4 µm de diâmetro. A partir do quinto dia de cultivo formam-se artroconídios. Quando se destacam das hifas, os artroconídios apresentam paredes espessadas com formato em barril, medindo de 2 a 4 µm, e geralmente são multinucleados. Em parasitismo nos tecidos de animais e em condições especiais de crescimento in vitro, apresentam-se em forma esferular endosporulante. A forma parasitária característica é a esférula, observada em preparações de espécimes clínicos com potassa ou em cortes histológicos de tecidos corados com HE. A infecção é considerada benigna, adquirida através da inalação de artroconídias, entretanto, é considerada de maior importância em imunossuprimidos, pois os sinais clínicos são mais acentuados (KAHN E et al., 2008). 2 2. AGENTE INFECCIOSO 2.1 CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA A Ordem Onygenales, está contida na Classe Eurotimycetes uma das quais compõe o Filo Ascomycota, e pertence ao Reino Fungi, sendo que, atualmente apresentam apenas as espécies C. immitis e C. posadasii. Esta Ordem apresenta grande importância, pois inclui vários fungos patogênicos primários, os quais podem ocasionar a doença mesmo em hospedeiros imunocompetentes e apresentam aspectos bioquímicos e morfológicos que lhe permitem escapar das defesas do sistema imune. Com isso, o Coccidioides spp. é considerado um dos patógenos mais infectantes e virulentos do grupo dos fungos (UNTEREINER et al., 2004). 2.2 MORFOLOGIA O Coccidioides spp. é um fungo dimórfico, entretanto, alguns autores preferem descrever como bifásico e multimórfico, por apresentarem diferentes fases de desenvolvimento (DE HOOG, et. al., 2001). A temperatura ótima na natura e em meios de cultura artificiais, é de 25ºC a 30ºC, apresentam-se na forma filamentose, fase saprofítica ou infectante. Na fase parasitária, quando em contato com um hospedeiro ou quando cultivados, in vitro, em meios artificiais adequados, à temperatura próxima a 37ºC, estes agentes sofrem mudanças morfológicas, evoluindo para forma leveduriforme. Apresentam micélio formado por hifas finas, hialinas e septadas, que originam os artroconídios, estruturas de reprodução assexuada, que medem de 2-4 µm por 3-5 µm, intercalados por células estéreis, desprovidas de material citoplasmático, denominadas disjuntoras. Na maturação, os artroconídios infectantes são liberados e os restos das células disjuntoras são vistos nas extremidades dos artroconídios individuais, tal característica é responsável por sua fácil veiculação (HUNG et al., 2002). A forma levedura é denominada esférula, são grandes estruturas arredondadas de paredes espessadas, que medem 20 até 200 µm de diâmetro quando maduras. Cada esférula produz um grande número de pequenos endósporos em seu interior que medem de 2-4 µm de diâmetro (SABOULLE et al., 2007). 3 2.3 CULTURA IN VITRO Em culturas in vitro do Coccidioides spp. os fatores que são essenciais para a conversão de micélio em levedura são: temperatura, químico e físico, assim como, a presença de fatores nutricionais, aminoácidos, vitaminas, e condições apropriadas de oxigênio e dióxido de carbono. É considerado um processo difícil e laborioso, por necessitar de condições ambientais adequadas e meios de cultura específicos. Sendo utilizado meios sintéticos suplementados, com N-Tamol e aminoácidos aromáticos, como a fenilalanina, tirosina e triptofano, temperaturas próximas de 40ºC em atmosfera contendo 2% de CO2 (BRESLAU; KUBOTA, 1964). 2.4 FATORES DE VIRULÊNCIA O Coccidioides spp. possui fatores de virulência que lhe permite romper ativamente as defesas do hospedeiro que habitualmente bloqueiam o crescimento invasivo de outros microrganismos (MURRAY, 2010). Um dos fatores de virulência é o dimorfismo, caracterizando um dos mais importantes, em sua patogenicidade, pois o estabelecimento destes patógenos no hospedeiro depende diretamente da conversão da fase filamentosa paraa fase parasitária leveduriforme. Essa transição de fases, resulta em uma alteração na composição da parede celular, nas moléculas antigênicas, bem como, na expressão de genes relacionados a mecanismos de virulência. Assim, em resposta a altas temperaturas e outras condições adversar que encontram no ambiente do hospedeiro, estes patógenos expressam vários genes específicos da fase leveduriforme (KLEIN, TEBBETS, 2007). Um dos principais fatores de virulência especifico de Coccidioides spp. é a produção de um antígeno imunodominante, uma glicoproteína denominada SOWgp que é depositada na parede externa das esférulas. A resposta imune é modulada através da exposição do hospedeiro à SOWgp, na via Th2. A persistência de uma resposta imune à infecção, oferece uma vantagem para o patógeno por gerar o comprometimento da imunidade celular do hospedeiro (HUNG; XUE; COLE, 2007). Por outro lado, a metaloproteinase (Mep1) secretada durante o processo de diferenciação dos endósporos, digere a superfície celular da esférula levando a uma depleção do antígeno imunodominate (SOWgp), visando impedir o reconhecimento de endósporos livres pelo sistema imune do hospedeiro, quando estão mais vulneráveis as células fagocíticas, isso 4 explica a capacidade do Coccidioides spp. “fugir” do sistema imunológico do hospedeiro (HUNG, et al., 2005). Outros fatores de virulência em Coccidioides spp., incluem a indução da produção de níveis elevados de arginase I pelo hospedeiro e uréase; que gera uma alta concentração de ureia e resulta na produção de amônia contribuindo para a alcalinização, e com isso aumentam a sobrevivência do patógeno no hospedeiro; que contribuem causando danos nos tecidos do local de infecção. A arginase I concorre nos macrófagos com INOS (inducible Nitric Oxide Synthase) por um substrato em comum, (L-arginina) e reduz a concentração de oxido nítrico, levando ao aumento da síntese de ornitina e ureia no hospedeiro. Os derivados de L-ornitina promovem o crescimento e a proliferação do patógeno, pois gera um pool de monoaminas, que podem ser incorporadas e utilizadas pelas células parasíticas para a síntese de poliaminas (HUNG;XUE;COLE, 2007). No hospedeiro o biofilme tem demonstrado um papel critico no desenvolvimento de uma infecção, sendo considerado um fator importante de virulência (PHILLIPS; SCHULTZ et al., 2012). 3. EPIDEMIOLOGIA Coccidioides spp. são fungos geofílicos que se desenvolvem em solos com elevada salinidade e pH alcalino, sendo habitualmente encontrados a uma profundidade entre 10 e 50 centímetros abaixo da superfície (LANIADO-LABORÍN, 2007). O tatu (Dasypus novemcinctus) desempenha um fator importante na ecologia do C. posadasii no Brasil (EULÁLIO et al., 2001). O tatu é uma espécie de mamífero de hábitos fossoriais, bastante apreciado no Nordeste como alimento, os caçadores, a fim de capturar o animal em suas tocas, escavam o solo, ficando suscetíveis a inalação da dos artroconídios, produzidos durante a fase saprofítica de Coccidioides spp. (PEREIRA JUNIOR; JORGE; BAGAGLI, 2003). Além disso, nos Estados Unidos, há relatos de casos de coccidioidomicose associado ao contato com tocas de roedores (DRUTZ; CATANZARO, 1978). As espécies de Coccidioides são endêmicas das Américas, encontradas em uma faixa delimitada entre 40º de latitude norte e sul. A espécie C. imittis é restrita a região da Califórnia, Estados Unidos, enquanto a espécie C. pasadasii apresenta maior distribuição, com ocorrência nas demais zonas endêmicas, incluindo outras cidades dos Estados Unidos, México, América Central e do Sul (LANIADO-LABORÍN, 2007). 5 Muitas espécies podem ser acometidas, entre elas estão: humanos; sendo que os caninos são significantemente afetados; equinos, onde ocorrem infecção placentária induzindo aborto e osteomielite; ruminantes e suínos, apresentam infecções subclínicas e lesões restritas aos focos nos pulmões e aos linfonodos torácicos. A maior parte das infecções em bovinos é contraída nos rebanhos de engorda onde existe muita poeira (KAHN et al., 2008). 4. PATOGENIA A coccidioidomicose é contraída por cães e gatos mediante a inalação de conídios infectantes produzidos na fase filamentosa saprofítica dos fungos Coccidioides spp (BICHARD; SHERDING, 1998). No solo, os conídios desses patógenos, podem facilmente serem dispersos no ar e seguir por um dos caminhos: germinar e perpetuar o ciclo sapróbio ou serem inalados por um hospedeiro suscetível e iniciar o ciclo parasitário, convertendo para fase leveduriforme (LANIADO-LABORÍN, 2007). A infecção do SNC pode se instalar mediante a disseminação local proveniente do seio nasal/frontal ou por via hematógena. A meningoencefalite fúngica freqüentemente caracteriza-se por evolução lenta da disfunção neurológica (semanas a meses), geralmente, precedida por um período de doença inespecífica acompanhada de letargia e anorexia (BICHARD; SHERDING, 1998). Nesta patologia, a resposta do hospedeiro tem como alvo o artroconídio e se caracteriza por influxo de leucócitos polimorfonucleares, que respondem a substâncias quimiotáxicas geradas em resposta a ativação do sistema complemento. Dentro das primeiras 72 horas, os artroconídios são convertidos para esférulas e estas sofrem um processo de espessamento da parede e compartimentação do citoplasma para formar múltiplos minúsculos endósporos em seu interior. A resposta inflamatória muda para uma infiltração de células mononucleares, que persiste em toda infecção acarretando a formação de granulomas (DICAUDO, 2006). As esférulas quando madura sofrem ruptura, liberando os endósporos, que por sua vez, sofrem crescimento isotrópico e maturam progressivamente. Assim, cada um dos endósporos atua como um novo agente infectante, crescendo e se diferenciando em uma nova esférula, que é novamente capaz de produzir de 200-300 endósporos, reiniciando o ciclo parasitário (HUNG; XUE; COLE, 2007). As esférulas maduras podem facilmente se evadir da fagocitose porque são grandes demais para serem inseridas por neutrófilos, 6 macrófagos e células dendríticas. Já os endósporos recém-liberados, esférulas imaturas são suscetíveis a fagocitose. Embora, os estudos in vitro das interações patógeno- hospedeiro sugiram que muitos sobrevivem a participação as células T é efetiva na defesa frente a Coccidioides spp. Portanto, pode-se afirmar que os quadros clínicos de coccidioidomicose dependem diretamente da resposta imune do hospedeiro, embora a quantidade de inóculo e a virulência fúngica das cepas também sejam relevantes. A resposta imune via Th1, onde há a produção de interleucinas (IL-2, IL-12), TNF-α e IFN-γ mostra-se essencial para a defesa do hospedeiro frente Coccidioides spp, traçando um perfil de resistência a infecção por estes patógenos. Enquanto, a resposta imune via Th2, com liberação de IL- 4, IL-5, IL-6 e IL-10 pode ser correlacionada a um perfil de susceptibilidade ao desenvolvimento das referidas micoses (HATTON; WEAVER, 2003). 4.1 QUADROS CLÍNICOS A coccidioidomicose é uma doença primariamente pulmonar, mas que pode apresentar várias manifestações clinicas. A gravidade e evolução dessas micoses serão determinadas pela quantidade de partículas inaladas, estado imunológico do hospedeiro e virulência da cepa infectante. Portanto, a infecção pode ser assintomática ou apresentar- se como uma infecção respiratória aguda e autolimitada, na maioria dos hospedeiros expostos, porém, em indivíduos susceptíveis também pode progredir em uma doença crônica e levar a disseminação atingindo outros órgãos e sistemas (COX; MAGEE, 2004). A coccidioidomicose apresenta-sesob três formas clinicas: forma pulmonar primária, forma pulmonar progressiva e forma disseminada (DEUS-FILHO, 2009). A manifestação pulmonar aguda, a intensidade dos sintomas é variada, desde um estado gripal até um quadro de uma grave infecção respiratória inespecífica. Os sintomas são caracterizados por febre, tosse, dispneia, dor torácica e quadros inespecíficos de gripe. Essa forma geralmente é autolimitante em 30-60 dias (DEUS-FILHO, 2009). Em casos de imunocomprometidos, a coccidioidomicose pulmonar aguda não regride, evoluindo para uma pneumonia crônica. Portanto, a forma pulmonar progressiva é geralmente crônica e evolui a partir de infecções cujo sintomas não regrediram após dois meses. Podendo manifestar-se como lesões nodulares ou cavitárias; doença pulmonar fibrocavitária; disseminação miliar pulmonar, com manifestações clínicas e radiológicas inespecíficas (DEUS-FILHO, 2009). A forma disseminada é a mais grave, pois pode 7 rapidamente atingir inúmeros órgãos e sistemas, evoluindo de forma fatal quando não diagnosticada e tratada a tempo. Porém, apenas 1-5% dos pacientes com a forma pulmonar primária evoluem com disseminação, sendo as lesões cutâneas a localização extrapulmonar mais comum. Lesões de disseminação também são usualmente observadas em ossos, articulações, sistema nervoso central, e no aparelho gênito-urinário (COX, MAGEE, 2004). Os cães com a forma disseminada podem apresentar tosse crônica, anorexia, caquexia, claudicação, articulações dilatadas, febre e diarreia intermitente. Pode ocorrer disseminação para a pele com ulceração drenante, mas a infecção primária através da pele é rara. Gatos infectados com C. immitis apresentam frequentemente problemas dermatológicos (lesões cutâneas drenantes, massas granulomatosas subcutâneas, abscessos), febre, inapetência e perda de peso, e os sinais clínicos menos comuns são: anormalidades respiratórias, musculoesqueléticas, neurológicas e oftálmicas (KAHN. et al., 2008). As lesões macroscópicas são representadas por nódulos discretos e de tamanho variável, com uma superfície de corte branco-acinzentada e firme, e se assemelham às da tuberculose. Sendo que os nódulos são piogranulomas compostos de células gigantes e epitelióides, e o centro de alguns focos pode conter exsudato purulento e microrganismos fúngicos (KAHN et al., 2008). Dessa forma, o uso de exames específicos que determinem o diagnóstico correto destas micoses é essencial para direcionar a terapia antifúngica adequada, principalmente em locais onde estas micoses e a tuberculose, são prevalentes (KAHN et al.,2008). 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da coccidioidomicose é realizado através dos dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, sendo indispensável para um diagnóstico definitivo. Atualmente os testes laboratoriais tem por base as técnicas micológicas, histopatológicas, imunológicas e moleculares (BLAIR et al., 2006). 5.1. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico micológico da coccidioidomicose é realizado através do exame direto, o qual é realizado pela observação ao microscópio óptico diretamente de 8 espécimes, a fim de detectar estruturas parasitárias características dos fungos Coccidioides spp. O exame direto for positivo, pode fornecer um diagnóstico rápido e apresenta um risco muito menor comparado ao isolamento em cultura. Por apresentarem elevada virulência, todos os procedimentos devem ser realizados dentro de cabines de segurança biológica (SUTTON, 2007). Na coccidioidomicose, pode ser utilizado amostras de escarro fresco, lavado brônquico, aspirado de medula óssea, biópsia de lesões ósseas e de articulações, urina e linfonodos (LACAZ et al., 2002). O diagnóstico é considerado positivo quando esférulas intactas ou parcialmente intactas são observadas (KAHN et al., 2008). Pode ser realizada cultura de Coccidioides spp. não são considerados exigentes, geralmente são utilizados meios como: ágar BHI (Brain Heart Infusion), ágar batata dextrose e ágar sabourand dextrose com ou sem cicloeximida (SABOULLE, 2007). Os antibióticos adicionados aos meios de cultura para suprimir o crescimento bacteriano incluem cloranfenicol, gentamicina, estreptomicina e penicilina (ESPINEL-INGROFF; PFALLER, 2007). Geralmente são incubadas a 30ºC, no entanto em temperatura ambiente também é adequada. As colônias se desenvolvem rapidamente, em 3-5 dias (SUTTON, 2007). 5.2. TÉCNICAS HISTOPATOLÓGICAS Em exames histopatológicos é obtido através da identificação de fungos Coccidioides spp. em sua fase leveduriforme. Para a visualização adequada das preparações histológicas utiliza-se colorações próprias para fungos, como Gomori- Grocott e ácido periódico de Schiff (PAS), e outras colorações como hematoxilina-eosina (HE) e Giemsa, também podem ser utilizadas (AIDÉ, 2009). É realizada a partir de tecidos ou líquidos de biópsias de lesão tegumentar, pulmonar, osteoarticular, cerebral ou de outros materiais suspeitos e em necropsia. Nas amostras positivas são visualizadas esférulas em diferentes estágios de maturação, com endósporos em seu interior (SAUBOLLE; MCKELLAR; SUSSLAND, 2007). O tecido inflamatório é constituído de granulomas, com a presença de células gigantes tipo Langhans, plasmócitos e linfócitos (COX; MAGEE, 2004). 9 5.3. TÉCNICAS SOROLÓGICAS São ferramentas auxiliares ao diagnóstico da coccidioidomicose, sendo que as técnicas adotadas apresentam diferentes níveis de sensibilidade e especificidade (SAUBOLLE; MCKELLAR; SUSSLAND, 2007). As técnicas atualmente disponíveis para medir a resposta sorológica na coccidioidomicose incluem ensaios imunoenzimáticos (EIAs), imunodifusão (IMDF) e fixação do complemento (CF). A resposta sorológica inclui a produção de anticorpos IgM e IgG. Os anticorpos IgM tornam-se mensuráveis logo no início da fase aguda, entre 1 e 3ª semana de infecção. A classe de anticorpos IgG reage no final do processo infeccioso, tornando-se mensurável entre 2 e 28ª. Esta classe pode permanecer por vários meses e está relacionada ao prognóstico da infecção (SABOULLE, 2007). A técnica de fixação do complemento detecta anticorpos tardios do tipo IgG nas formas progressivas e disseminadas da coccidioidomicose, onde os títulos de anticorpos geralmente correlacionam-se diretamente com a gravidade do caso. A imunodifusão pode ser aplicada na detecção de anticorpos IgM e IgG, mas eles exigem longos períodos de incubaçãp (4 dias) para diminuir a ocorrência de falsos negativos (SABOULLE, 2007). Os ensaios imunoenzimáticos estão disponíveis para a detecção de IgM e IgG, e são aparentemente mais sensíveis do que os outros métodos, entretanto, podem apresentar menor especificidade de EIA, IMDF, e FC com soro de pacientes, com cultura positiva, durante a fase aguda da doença, mostrou que a sensibilidade global dos testes imunológicos é de apenas 82%. Portanto, a sorologia negativa não descarta a coccidioidomicose, especialmente na fase inicial da infecção (SAUBOLLE; MCKELLAR; SUSSLAND, 2007). 5.4. TÉCNICAS MOLECULARES O teste de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é o mais utilizado, e muitas vezes está associado à hibridização de ácidos nucléicos. Diferentes alvos têm sido utilizados nas reações de PCR para a identificação de Coccidioides spp., dentre os mais utilizados podemos citas a região ITS (internal transcribed spacer) DNA ribossomal (DNAr) (EISENBERG et al., 2013). 10 6. TRATAMENTO Geralmente é uma doença autolimitante, mas se existirem sinais respiratórios crônicos ou doença multissistêmica, terapia antifúngica a longo prazo é necessária.Na infecção disseminada, o tratamento de 6 a 12 meses, é comum. Cetoconazol (10 a 30 mg/kg/dia) ou itraconazol (10 mg/kg/dia) é comumente utilizado no tratamento de cães com coccidioidomicose. Pode ser utilizado fluconazol (2 a 3 mg/kg/dia), mostrou-se eficaz em macacos. Em equinos, o tratamento da osteomielite coccidioidomicótica tem tido sucesso com a administração de itraconazol (2,6 mg/kg b.i.d., por 6 meses) e a anfotericina B é utilizada quando se trata de formas graves de coccidioidomicose ou quando se observa resistência aos demais fármacos (KAHN et al., 2008). A anfotericina B é o único representante de uma família de aproximadamente 200 antibióticos macrolídeos poliênicos que apresenta atividade clínica contra várias espécies patogênicas de fungos (MANDELL; PETRI, 2003). Sua atividade antifúngica depende da sua ligação ao ergosterol presente na membrana plasmática fúngica, formando poros na sua estrutura. Portanto, o mecanismo de ação da droga causa aumento na permeabilidade da membrana, levando ao extravasamento de vários compostos de baixo peso molecular do citoplasma (MANDELL; PETRI, 2003). Os antifúngicos azólicos agem inibindo uma enzima que faz parte do sistema enzimático do citocromo P450, a 14-α-demetilase, alterando a biossíntese do ergosterol da membrana plasmática fúngica e acúmulo de 14-α-metilesteróis (MANDELL; PETRI, 2003). Tais compostos podem alterar a estrutura das moléculas dos fosfolipídios e prejudicar as funções de alguns sistemas enzimáticos, tais como ATPases e a cadeia de transporte de elétrons (MANDELL; PETRI, 2003). Atualmente novas drogas têm demonstrado eficácia, in vitro e in vivo, no tratamento de coccidioidomicose, tais como, voriconazol e caspofunfina (PARK et al. 2006). 7. PROFILAXIA Embora existam vários estudos, ainda não há vacina eficaz. Atualmente, vem sendo testadas vacinas baseadas em extratos totais de esférulas, entretanto, não mostraram eficácia, e estudos mais recentes com antígenos recombinantes apresentaram resultados 11 experimentais promissores. A coccidioidomicose não é contagiosa, não havendo necessidade de isolar os pacientes (DEUS-FILHO, 2009). 8. CONCLUSÃO Neste contexto podemos concluir que o Coccidiodes spp., é um fungo de grande importância, pois é capaz de instalar a doença mesmo em pacientes imunocompetentes, pois apresenta fatores de virulência que o auxiliam a “enganar” o sistema imunológico do hospedeiro, impedindo assim, a ação das células fagocitárias. As espécies susceptíveis são os mamíferos em geral, sendo assim, pode infectar diversas espécies animais, e até o homem. Na veterinária, pode ocasionar casos leves que são assintomáticos; até quadros graves disseminados, comprometendo o sistema respiratório, neurológico e tegumentar. Os animais infectados podem apresentar diversos sinais clínicos, tais como, depressão, demência, ataxia, fraqueza, déficits nervosos, perda de peso e pneumonia crônica. Quanto ao tratamento, o Coccidioides spp. é sensível a fármacos como, fluconazil, itraconazol, cetoconazol, anfotericina, voriconazol e caspofunfina. Como se trata de uma micose, é necessário um tratamento prolongado e difícil de 6 a 12 meses. A profilaxia é difícil, pois trata-se de um fungo geofílico e não existe vacinação contra a coccidioidomicose. 12 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIDÉ, M. A. Histoplasmosis. J. Bras. Pneumol. 2009. BICHARD, S. J., SHERDING R.G. Clínica de Pequenos Animais. 1ed. São Paulo: Roca, 1998. BLAIR, J.E.; COAKLEY, B.; SANTELLI, A.C.; HENTZ, J.G.; WENGENACK, N.L. 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